Ficha de Avaliação Sumativa de Língua Portuguesa
Avaliação:
Ano: 6.º Turma: _____ N.º _____
Data:
Professor:
Nome: Enc.º de Educação:
ADRIAN MOLE
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Terça-feira, 6 de Janeiro EPIFANIA. LUA NOVA
O cão está metido em sarilhos!
Atirou um carteiro da bicicleta abaixo e sujou as cartas todas. Agora, acho que vamos acabar todos no tribunal. Um polícia disse que devíamos manter o cão sob controle e perguntou há quanto tempo é que ele andava a coxear. A minha mãe disse que ele não coxeava e examinou-lhe a pata. Tinha um pirata em miniatura cravado na pata da frente do lado esquerdo.
O cão ficou todo satisfeito quando a minha mãe tirou o pirata. Tão contente que saltou para cima da farda do polícia com as patas todas enlameadas. A minha mãe foi logo buscar um pano à cozinha que tinha geleia no sítio onde eu tinha limpo a faca e a farda ficou mais suja do que antes. Então, o polícia foi-se embora. Tenho a certeza que disse um palavrão. Podia fazer queixa dele por causa disso.
Vou ver «Epifania
1» no meu dicionário novo.
Quarta-feira, 7 de Janeiro
O Nigel veio cá hoje com a bicicleta nova. Tem uma garrafa para água, conta--quilómetros, velocímetro, selim amarelo e rodas de corrida finas. É um desperdício ser o Nigel quem a tem. Ele só vai às compras com ela e volta para casa. Se eu tivesse uma bicicleta daquelas, andava pelo país todo e tinha uma experiência.
A minha borbulha, ou furúnculo
2, atingiu hoje o auge. Não posso acreditar que ainda fique maior!
Descobri uma palavra no meu dicionário que serve para descrever o meu pai. É madraço
3. Ainda está na cama a beber vitamina C o dia inteiro.
1 Dia de Reis.
2 Uma doença de pele causada pela inflamação dos folículos pilosos, resultando numa acumulação localizada de pus e tecido morto.
O cão está fechado na arrecadação.
Epifania tem alguma coisa a ver com os três Reis Magos. Grande coisa!
Quinta-feira, 8 de Janeiro
Agora é a minha mãe quem está com gripe. Isto quer dizer que sou eu que tenho de tomar conta dos dois. Que sorte a minha!
Passei o dia todo a subir e a descer as escadas. Cozinhei-lhes um jantar impecável esta noite: dois ovos estrelados com feijão e pudim de sêmola, de lata. (Ainda bem que usei o avental de plástico, porque os ovos estrelados caíram da frigideira mesmo para cima de mim.) Quase que não consegui ficar calado quando vi que não tinham comido nada. Não podem estar assim tão doentes. Dei tudo ao cão, na arrecadação. A minha avó vem cá para casa amanhã, por isso tive de limpar os tachos todos e levar o cão a passear. Eram onze e meia quando me fui deitar. Não admira que seja baixinho para a minha idade.
Decidi-me contra a Medicina como carreira.
Sexta-feira, 9 de Janeiro
Foi a noite toda: cof, cof, cof. Quando não era um era o outro. Pensava que iriam mostrar alguma consideração pelo dia tão árduo que eu tive.
A minha avó chegou e ficou transtornada pelo estado em que estava a casa.
Mostrei-lhe o meu quarto, que está sempre limpo e arrumado, e ela deu-me cinquenta pence. Mostrei-lhe as garrafas vazias no caixote de lixo e ela ficou enjoada.
A minha avó deixou o cão sair da arrecadação. Disse que a minha mãe era muito cruel por o deixar assim fechado tanto tempo. O cão vomitou no chão da cozinha. A minha avó voltou a trancá-lo na arrecadação.
Espremeu a borbulha do meu queixo. Foi pior. Contei à minha avó do avental verde, e ela disse que todos os Natais oferece à minha mãe um casaco cem por cento acrílico e ela nunca usou nenhum deles.”
TOWNSEND, Sue, O diário secreto de Adrian Mole aos 13 anos e 3/4, Difel, Lisboa, 26.ª edição, 2008.