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O individualismo, a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

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Academic year: 2022

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* Estudantes de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará

O individualismo, a Ética Protestante e o

Espírito do Capitalismo ”.

Dielly Castro*

Ednei Santos Loide Melo Sumy Menezes Vilson Ferreira Vanessa Dantas Thays Cardoso

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O Individualismo, a Ética Protestante e o

Espírito do Capitalism o”

“The Individualism, the protestant ethic and “The Spirit of Capitalism”

RESUMO: Este artigo pretende discutir sobre o sistema capitalista abordando simultaneamente sua “historicidade” - os fatores que contribuíram para o seu surgimento-, as doutrinas individualistas - que constituem sua grande base -, a teologia protestante (sua contribuição para o desenvolvimento do sistema) e finalmente sua “consolidação" com a derrocada da ética paternalista cristã e a deflagração da revolução industrial.

Palavras-chave: ética paternalista cristã, protestantismo, individualismo, capitalismo.

RESUME: This article intend discuss about the capitalism system bringing up in simutanious way his “historicity” – the motivations that contributed for his rising up -, the “individualist doctrine” - that foment his basis -, the “protestant theology”

(and it contributions to develop this system ), and finally his “consolidation” with the derrocade of christian partenalist ethic and the assumption of industrial revolution.

Key-words: christian partenalist ethic, protestatism, individualism, capitalism.

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3 Capitalismo é um sistema socioeconômico adotado por vários países, onde possuem propriedades privada dos meios de produção, como máquinas matérias primas, instalações, etc. A sua produção e a distribuição das riquezas são regidas pelo mercado, no qual, os preços são determinados pelo livre jogo da oferta e da procura.

Neste sistema o capitalista (proprietário dos meios de produção) compra a força de trabalho de terceiros para produzir bens, que após serem vendidos, lhe permitem recuperar o capital investido e obter lucro. O objetivo principal dos capitalistas é obter lucro, que leva a acumulação de capital e ao crescimento das suas propriedades.

Este modelo econômico teve início na Europa e começou a emergir no século XV com a decadência do sistema feudal, toma seu grande impulso na segunda metade do século XVIII, com a revolução industrial.

Em linhas gerais esse sistema caracteriza-se pela propriedade privada dos meios de produção, trabalho assalariado, acumulação do capital, livre concorrência, produção de mercadorias orientadas pelo mercado.

O modo de produção da idade média já não era suficiente para os anseios da época. O feudalismo definhava, as técnicas de produção aceleravam em grande escala a produtividade, o modelo de produzir em pequena escala (típico da idade media) constituía-se cada vez mais inadequado. A necessidade de expandir a produção e a busca por mercados consumidores tornava-se necessária ao novo sistema que estava surgindo. Para Marx, o germe do próprio sistema feudal era a pequena burguesia emergente, que necessitava de mercado consumidor e matérias-primas, este é o embrião do capitalismo (tese do materialismo histórico dialético).

“Os ingleses foram os que mais evoluíram em três coisas: na

religião, no comércio e na

liberdade.”

Mostesquieu

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4 Com o renascimento comercial e posteriormente a grande explosão demográfica e os feudos auto-suficientes, o trabalho assalariado ganha grandes proporções, como conseqüência disso temos um aumento no volume da produção considerável à medida que as técnicas mais sofisticadas de produção entram neste mundo feudal. As terras começam a ser arrendadas, daí surgem aqueles que viviam às margens dos feudos, vivendo nos burgos (comerciantes e artesões).

Neste momento, valor de uso começa a ser mudado pela burguesia para o valor de troca, as mercadorias adquirem um valor monetário. Com esse processo de monetarização, o comerciante passou a visar o lucro e a obtenção do capital. Para Marx, a base do capitalismo é a busca do lucro sendo este último, sendo explicado pela conjugação de duas teorias: a teoria do valor do salário e a teoria da mais-valia.

Surge a necessidade da formação dos Estados Nacionais. A autonomia dos Estados cedeu lugar a centralização do poder nas mãos do rei. Deu-se a construção do governo aliada a burguesia, onde o burguês tinha o poder econômico, mas não tinha poder político, todavia, a construção de um Estado Nação era primordial para a padronização da moeda e estabelecer as fronteiras. O poder político e militar foi usado para subjugar outros povos e dominar mercados e regular os impostos. Somente a burguesia -“a priori”- não tinha poder de expandir o mercado e de ir à busca de matéria-prima como ouro, prata e madeira, que na Europa não se encontrava mais. Deste modo, percebe-se o Estado como sine qua non para a expansão do capital e a criação de uma mentalidade burguesa extremamente individualista. Para Hobbes, o Estado seria um mal necessário, desta afirmação surge, a idéia de nacionalidade.

“Nação: é uma comunidade política imaginada e imaginada como implicitamente limitada e soberana”1

A criação da Nação foi salutar para que os burgueses aliados com o poder dos nobres, colocando-se mais firmemente com poder militar, comercial e político

1Benedict Anderson. Nação e Consciência Nacional, p.36.

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5 daquela época, onde culminou com o nascimento do capitalismo mercantil, e a Era das Grandes Navegações.

A imagem do príncipe foi construída e agora o rei é absoluto.

“(...) o príncipe não deve se desviar do bem, se possível, mas deve star pronto a fazer o mal, se necessário”2

A nobreza e a burguesia iniciam as buscas atrás de especiarias e áreas de exploração econômica. A descoberta do novo mundo e a invasão européia do continente africano possibilitará um impressionante acúmulo de riquezas. Apesar de todos esses acontecimentos, o privilégio da nobreza tornou-se um empecilho ao desenvolvimento burguês. Nesse período surge a filosofia iluminista que defendia uma maior autonomia das instituições políticas, criticando o autoritarismo da nobreza. Nesse contexto, iniciam as revoluções liberais.

Não obstante, a igreja teve papel fundamental na legitimação de poder real.

A característica da igreja e da nobreza era antítese do pensamento liberal. A atitude paternalista da igreja católica estava em conflito com os interesses dos comerciantes, e agrava-se à medida que crescia o comércio de mercadorias. Com a reforma protestante, a nova classe média desejava libertar-se, não apenas das restrições econômicas, que atribuíam o desenvolvimento da manufatura e do comércio, como também da própria moral que a igreja católica lançara sobre as suas motivações e atividades.

A negação dessa política paternalista e o momento histórico vivido fez brotar o protestantismo onde seu principio básico é o fundamento de concepções religiosas, que viriam a santificar as práticas econômicas da classe média, doutrina onde os homens se justificam não mais pelas obras e sim pela fé.

2 Maquiavel. O Príncipe, p.49

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“Onde quer que tenha assumido o poder, a burguesia pôs fim a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Destruiu impiedosamente os vários laços feudais que ligavam o homem a seus “superiores naturais”, deixando como única forma de relação de homem a homem o laço do frio interesse, o insensível „pagamento à vista‟. Afogou os êxtases sagrados do fervor religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimento pequeno-burguês nas águas gélidas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca... ”3

As filosofias individuais, resumidamente, vêm como ideologia, justificar as pretensões do capitalismo. O individualismo, a ganância, o desejo de acumular riquezas e a busca de lucro são características constituintes desse modo econômico.

Então, para a consolidação de tal sistema econômico se faz necessário a elaboração de concepções filosóficas e ideológicas que legitima moralmente os objetivos do sistema.

Sendo assim, o protestantismo e sua doutrina filosófica individualista terá um papel relevante na contribuição ideológica das motivações capitalistas. A nova classe burguesa ansiava libertar-se das restrições econômicas, que impediam o desenvolvimento do comércio, como também das regras de conduta imposta pela a Igreja.

Há um estudo clássico sobre a relação existente entre o protestantismo e o capitalismo- o qual se limita a ser discutido aqui. É o estudo do sociólogo alemão Max Weber "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo". Nessa obra Weber relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do

capitalismo ocidental moderno.

Convém antes, da análise da relação do movimento protestante com o capitalismo. Fazer um breve comentário da sociologia weberiana. O pensamento de Weber recai sobre os fatores sociais e suas ações. Ou seja, a sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas.

Essa análise dá uma orientação compreensiva às ações individuais, algo

característico da sociologia weberiana.

Contudo, o ponto de partida da análise de Weber em relação ao protestantismo e

3 Marx e Engels, O Manifesto Comunista, p.96.

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7 o capitalismo, é a percepção da concepção global da existência humana. O sociólogo alemão demonstra que “a conduta dentro do quadro da concepção geral que esses homens têm da existência” (Aron, 1983, PP.474). Assim, há uma correlação entre as concepções religiosas com o campo econômico. Na medida em que o homem atribui significado a sua existência isso automaticamente correlaciona-se com o nível social do qual ele está inserido. No campo social, político e econômico percebe- se pequenos nuances da idéia que este homem dá a sua existência. O capitalismo precisava fazer parte do contexto existencial do homem.

Uma vez que o capitalismo visa o lucro através de uma organização burocrática- entende-se por burocracia em Weber como conjunto de indivíduos que realizam determinadas tarefas. Logo, “chamaremos de ação econômica capitalista a que se fundamenta na expectativa de lucro, pela exploração das possibilidades de troca (...)”

(Weber, 1967). E essa tendência ou motivação ao acumulo de mais lucros, por meio do mercado, para a burguesia é uma característica do sistema capitalista ocidental.

Que necessariamente devia estar nas mentes dos homens naquele período. E para que isso acontecesse, o modo de produção capitalista devia renova-se constantemente por motivações e desejos de busca de maximizar os lucros. Daí temos, as doutrinas protestantes como um modelo de motivação.

Sendo assim, os valores do protestantismo- como as práticas de devoção e penitência, a poupança, a severidade, a rigidez, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho, atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. Weber compreende isso nas doutrinas de João Calvino.

É determinado por Weber o conceito de “espírito” do capitalismo as máximas:

tempo é dinheiro e o crédito como credibilidade de caráter. Exatamente esse é pensamento que a burguesia tentava incutir nos trabalhadores naquele momento de desenvolvimento do capitalismo.

Na análise de Patrick Diggins sobre a obra e a vida de Weber, fica esclarecido que para o sociólogo alemão a cobiça, a avareza, a agressão e o impulso aquisitivo haviam existido desde que a espécie humana desceu das árvores. Por aí, justifica-se o capitalismo.

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8 A concepção calvinista torna natural ou sacramental a idéia de ações individualista e egoístas. Por considerá-las como um comprimento da vontade divina.

Ou seja, o pré-ordenamento divino do destino de todos. O puritanismo condenava o ócio, o luxo, a perda de tempo. Daí, é que o trabalho torna-se, portanto um valor em si mesmo. A dedicação religiosa ao trabalho Weber chamou de vocação.

Por efeito, o problema aqui não é a riqueza em si, mas o uso que se faz dela:

“De acordo com Weber, a riqueza era um sinal não de prazer, mas de abstinência, o resultado do trabalho árduo, frugalidade e autonegação, exatamente aquilo que é necessário para se acumular capital. Weber citou o puritano inglês Richard Baxter: „podes trabalhar para ficares rico perante Deus, mas não para a carne e o pecado” 4.

Assim a dedicação do individuo ao trabalho se deve pela batalha de superar a incerteza da salvação. Raymond Aron expõe isso de forma clara quando cita Weber elucidando as cinco proposições doutrinas escritas em sua obra, e uma delas é: O homem, que será salvo ou condenado, tem o dever de trabalhar para a glória de Deus, e de criar seu reino sobre a terra.

Como visto, o trabalho é, digamos, o super aveti do sistema capitalista, pois proporciona uma mercadoria que por sua vez dará ao capitalista uma devida acumulação. Acumulai, acumulai; está é lei e os profetas, nas palavras de Marx em O Capital.

Há uma toda relação entre riqueza e trabalho que pela compreensão das doutrinas calvinistas, revela a necessidade dos homens trabalharem na terra na busca de um lugar no céu. Mais ainda, a teoria de Weber demonstra que cada individuo tem seus interesses influenciado pela sua própria visão de mundo. Isto é percebido na análise das várias religiões no mundo feito pelo o teórico, o confucionismo, taoísmo, judaísmo e entre outras. Mas Weber somente ver que as religiões ocidentais influenciaram o comportamento econômico.

4 Diggins.Max Weber – A política e o espírito da tragédia, p.62

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9 Verifica-se que a religião protestante é racional no que tange ao trabalho e o desenvolvimento econômico. Diferentemente das outras religiões, no caso as orientais e sua intensa pregação voltado a rituais. O protestantismo, por assim dizer, é mais utilitário.

Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, dos novos valores éticos instituídos com e para o capitalismo, em oposição ao despojamento da vida material e a atitude contemplativa do catolicismo voltada para a oração, sacrifício e renúncia da vida prática. Portanto, a teologia protestante por sua utilidade saiu vitoriosa junto com o liberalismo clássico. Eliminando, assim os últimos vestígios da ética paternalista cristã. Mais lá na frente tem-se a formulação de novas ideologias que de certa forma retifiquem as pretensões do capitalismo. É um verdadeiro ciclo vicioso.

Revolução industrial, derrocada da ética paternalista cristã, e a consolidação do capitalismo

Após termos conhecimento dos fatores que confluíram para o surgimento do capitalismo enquanto sistema econômico, da doutrina individualista como principal base do sistema e a teologia protestante como importante aliada, ingenuamente ou não, do processo de desenvolvimento do capitalismo. Finalmente vamos entender como s e deu a consolidação deste sistema, para isso nos reportemos ao século XIII,precisamente no período da revolução industrial.

O capitalismo toma seu grande impulso a partir da segunda metade do século XVIII com a revolução industrial iniciada na Inglaterra, depois se estendendo para os países da Europa ocidental e posteriormente aos estados unidos. A revolução industrial desencadeou um processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acumulo de capital.

Na Europa ocidental, a burguesia assumiu o controle econômico e político. As sociedades vão superando os tradicionais critérios da aristocracia, acabando com o privilégio do nascimento. a força do capital se impõe e começam a surgir as primeiras teorias econômicas.

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10 Uma delas, política econômica de caráter individualista, foi o Liberalismo clássico. Esta política defendia a livre iniciativa e a não interferência do estado nas questões econômicas além da propriedade privada, reformas sociais graduais, as liberdades civis e de mercado.

Adam Smith é um dos nomes de referencia ao se tratar de liberalismo econômico, foi o primeiro teórico da escola clássica de economia ,estudou a fundo as leis que a regem ,é autor de uma obra de total relevância para o desenvolvimento do pensamento econômico, A riqueza das nações, publicado em 1776. Na obra, seguindo os preceitos de Hobbes, Smith defende que os homens são individualistas e egoístas, por essa razão cada um procura aquilo que é melhor para si, pouco se importando com os outros.

Porém isso não é ruim, afirma Adam Smith, pois se cada homem busca o melhor para seu beneficio próprio acaba beneficiando a sociedade inteira. Por exemplo, diz ele: - não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro, do padeiro, que esperamos nosso jantar, mas da preocupação deles com seus próprios interesses-.

Os capitalistas sempre procuraram lucrar, assim farão produtos melhores e mais baratos para que possam vender mais. Em fim, concluiu Smith,o melhor seria deixar o mercado funcionar livremente, sem a intervenção do estado, pois acreditava que as forças do mercado agiam como uma mão invisível a regular a economia

O liberalismo se assentava sobre três credos. O primeiro, o credo psicológico, segundo este o homem é de natureza fria, egoísta e calculista, essencialmente inerte e atomista. Ou seja, vive em busca do prazer e da maximização desse prazer, consegue isso fugindo da dor. O segundo é o credo político que rejeita a intervenção estatal. Para Hunt e Sherman existem razões históricas que explicam a oposição dos liberais ao Estado, pois nas monarquias europeus era corrente as praticas de corrupção e tirania por parte das monarquias.

Por fim terceiro credo, o econômico, este prega a liberdade individual e a centralidade do livre mercado e do livre comercio.

Uma vez entendido os fundamentos do liberalismo, voltemos à revolução industrial, condição propulsora do sistema capitalista.

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