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Psicologia do Desenvolvimento

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Academic year: 2022

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Unidade 1

A evolução da ciência psicológica

Tainá Thies

Psicologia do Desenvolvimento

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Gerente Editorial

CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico

TIAGO DA ROCHA Autoria TAINÁ THIES

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AUTORIA

Tainá Thies

Olá! Meu nome é Tainá Thies. Sou formada em Letras, com especialização em Linguística, mestrado em Teoria da Literatura e, atualmente, cursando Psicologia, com uma experiência técnico- profissional na área de Educação e Aprendizagem de mais de 10 anos.

Atuei em empresas que me colocaram em contato com a diversidade do povo brasileiro e me fizeram amar ainda mais a Educação, a Psicologia e a Língua Portuguesa. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando suas profissões.

Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

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ICONOGRÁFICOS

Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO:

para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência;

DEFINIÇÃO:

houver necessidade de se apresentar um novo conceito;

NOTA:

quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento;

IMPORTANTE:

as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você;

EXPLICANDO MELHOR:

algo precisa ser melhor explicado ou detalhado;

VOCÊ SABIA?

curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias;

SAIBA MAIS:

textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento;

REFLITA:

se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre;

ACESSE:

se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast;

RESUMINDO:

quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens;

ATIVIDADES:

quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada;

TESTANDO:

quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas;

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SUMÁRIO

História da Psicologia ...10

Principais influências filosóficas na Psicologia ...11

Idade Antiga ...12

Idade Média...15

Origem da Psicologia Moderna ...16

Descoberta da subjetividade privada ...18

Crise da subjetividade privada ...21

Objeto de estudo da Psicologia... 24

Escolas Psicológicas ... 30

Estruturalismo ...30

Funcionalismo ...33

Associacionismo ...38

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UNIDADE

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INTRODUÇÃO

A Psicologia do Desenvolvimento é uma área fascinante! Ao estudarmos a sua história, podemos perceber o quão antigo é o interesse por entender o ser humano. Com esta disciplina, você poderá ter maior compreensão do que nos torna humanos e da trajetória de desenvolvimento cognitivo de uma pessoa. Ao entendermos como funcionamos, podemos perceber mais facilmente situações que requeiram nossa intervenção no processo de aprendizagem, como transtornos, dificuldades escolares e de comportamento. Estudar o desenvolvimento, da psicologia e dos indivíduos, aguça nossos sentidos para a aceitação daquele que é diferente de mim e possibilita uma maior compreensão do processo de ensino-aprendizagem e da educação integral, que visa formar um sujeito capaz de tomar suas próprias decisões. Vamos começar?

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OBJETIVOS

Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos:

1. Compreender a importância do histórico da psicologia;

2. Identificar o surgimento da Psicologia enquanto ciência;

3. Reconhecer a evolução do objeto de estudo da Psicologia;

4. Esquematizar as principais escolas fundadoras da Psicologia.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?

Ao trabalho!

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História da Psicologia

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender a história e a sua importância para a Psicologia. Você já se perguntou o porquê de estudarmos a história de alguma coisa? Por que não começamos a estudar o que a Psicologia diz hoje e pronto? E então? Será que conhecer a história da disciplina irá auxiliar a compreender como chegamos até aqui? Então, vamos lá!

Para você, qual a importância de saber o seu passado para compreender o que está sentindo?

A Psicologia é constituída de muitas visões acerca do homem e do mundo, porém, o que liga todas estas visões é a história desta ciência.

Somente a exploração das origens da psicologia e o estudo do seu desenvolvimento é que proporcionam uma visão clara da natureza da psicologia atual. O conhecimento histórico organiza a desordem e estabelece um significado ao que parece ser um caos, colocando o passado em perspectiva para explicar o presente (SCHULTZ, 2012, p. 2).

Além disso, pode-se dizer que olhar para o passado constitui um método de várias linhas psicoterapêuticas, como a Psicanálise, que tenta compreender o passado do paciente, ou como nas abordagens cognitivo- comportamental e gestáltica, que tentam entender como o passado afeta o presente.

E de que ponto começamos o estudo da Psicologia? 1900? 1800?

1700?

Não senhoras e senhores! A Psicologia remonta à antiguidade, embora ainda não fosse conhecida como “Psicologia”. Porém, suas bases podem ser encontradas em Platão e Aristóteles, no século V a.C.

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Você sabia? Que a palavra “Psicologia” vem da junção das palavras gregas “Psyché” (alma ou espírito) e “logos” (estudo, compreensão). Assim, Psicologia significaria “o estudo da alma”.

Os filósofos antigos, apesar de serem bem filósofos, já se questionavam quanto ao comportamento humano. E eles continuaram a investigar o ser humano, suas motivações e pensamentos, emoções, sensações, memória e aprendizagem até o século XVIII. A partir desta época, pesquisadores das ciências médicas e biológicas também passaram a se interessar pelo estudo da mente humana. Tal aproximação das ciências naturais possibilitou que, a partir do século XIX, a Psicologia se estabelecesse enquanto ciência.

Assim, talvez não devamos chamar de “história da Psicologia” o que veio antes do século XIX, porém, também não podemos fingir que os acontecimentos anteriores não sejam de suma importância para nos trazer até o ponto em que a Psicologia se torna ciência.

Vamos, então, ver um resumo das principais influências, em especial filosóficas, que antecederam a constituição dessa ciência.

Nota: “A Psicologia tem um longo passado, mas uma curta história.”

Hermann Ebbinghaus.

Principais influências filosóficas na Psicologia

Para entendermos melhor os períodos que influenciam a Psicologia moderna, vejamos abaixo uma linha do tempo das eras pré-histórica e histórica, bem como os principais eventos em cada Idade.

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Figura 1: Linha do tempo dos principais eventos históricos

Fonte: Adaptado pelo autor

Idade Antiga

O período definido como idade Antiga, ou Antiguidade, apresenta 4 grandes períodos de pensamento filosófico, em sua maioria marcado pelo grande pensador Sócrates.

Vamos, então, aos períodos do pensamento filosófico, seus representantes e suas ideias:

1. Período pré-socrático (séculos VII-V a.C.)

Neste período, os pensadores se preocupavam com problemas cosmológicos, isto é, com problemas relativos à origem do universo. Os pré-socráticos acreditavam que o universo tinha se originado a partir de um único elemento ou fenômeno.

Partiam da observação para estudar a realidade, buscando a origem natural das coisas, sua essência, por meio de explicações lógicas provindas das observações naturalistas.

Os pré-socráticos buscavam o que chamavam de arché, ou seja, a essência das coisas.

2. Período socrático (séculos V-IV a.C.)

Neste período, também chamado de clássico, os filósofos se preocupavam com problemas metafísicos, isto é, que transcendem a realidade objetiva do mundo físico. Assim, o interesse pela natureza se integra ao interesse pelo espírito. Sócrates, Platão e Aristóteles são os maiores representantes deste período:

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Figura 2: Sócrates 469 a.C.

Fonte: Wikimedia

Sócrates propõe um exame de si mesmo enquanto um método filosófico, buscando, assim, o estudo do homem. Porém, homem não enquanto indivíduo, mas, sim, enquanto ser possuidor de uma alma (psyché), a qual é constituída de virtudes. Assim, o homem nasceria para ser virtuoso, diferenciando-se dos animais por sua inteligência.

Figura 3: Platão 428 a.C.

Fonte: Wikimedia

Para Platão, o conhecimento empírico, por meio de experiências, deveria ser substituído pelo conhecimento intelectual, pois este seria

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universal e absoluto, enquanto as experiências seriam relativas, muito pessoais.

O filósofo acreditava que a alma humana derivava de uma alma universal, e esta alma universal pertenceria ao mundo das ideias, logo, da intelectualidade. Sendo a alma a inteligência pura, Platão acreditava que tudo que é criado no mundo físico vem antes deste mundo das ideias, de onde vêm as almas dos homens.

ACESSE:

Para saber um pouco mais sobre os filósofos apresentados aqui e mais alguns, recomendamos assistir a videoaula

“Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes e Rosseau”, produzida pela Unesp. Disponível em: https://cutt.ly/rfPrK8s. Acesso em:

18 jan. 2019.

Figura 4: Aristóteles 384 a.C.

Fonte: Wikimedia

Para Aristóteles, a alma seria um princípio da vida, e o mundo físico não seria criado primeiramente nas ideias, como pensava Platão. O filósofo se colocava de forma mais realista, estudando os seres vivos em si, e não a ideia do ser vivo, como o seu antecessor.

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3. Período Pós-socrático (320 a.C. até o começo da Era Cristã)

Neste período, os filósofos se separaram em duas linhas – estoicos e epicuristas –, ambas buscando a discussão de problemas morais. Os filósofos discutiam a ética e a conduta moral dos homens.

SAIBA MAIS:

Quer saber mais sobre os epicuristas e os estoicos e sua busca pela ética? Recomendamos a leitura do artigo: “Filosofia: Epicurismo e Etoicismo”. Disponível em: https://cutt.ly/8fPtxqY. Acesso em: 14 set. 2020.

Idade Média

Com o advento da Era Cristã, os valores da antiguidade modificaram- se. Enquanto o pensamento grego atestava que o homem era subordinado ao universo e exaltava a inteligência, os cristãos pregavam a subordinação do universo ao homem e a obediência a Deus.

Na Idade Média, há uma ordem superior que ampara os homens e que dita as regras da vida. A vida é compartilhada, não privada, pois nem mesmo há cômodos separados nas casas. Assim, há a coletividade que vive em função dos senhores feudais e da Igreja.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a Psicologia teve a influência de vários filósofos em sua história. Você aprendeu que o período definido como Idade Antiga, ou Antiguidade, apresenta 4 grandes períodos de pensamento filosófico, em sua maioria marcado pelo grande pensador Sócrates. E na Idade Média, com o surgimento da Era Cristã, os valores mudaram.

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Origem da Psicologia Moderna

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender o surgimento da Psicologia enquanto ciência. A Idade Moderna, mais precisamente a partir do século XVI, começa a erigir os primórdios de uma disciplina chamada de Psicologia. É neste período que o Renascimento e o Iluminismo surgem.

E então? Será que conhecer a origem da disciplina o auxilia a compreender como chegamos até aqui? Então, vamos lá!

Renascimento (entre os séculos XIV e XVI) – período de transição entre o feudalismo da Idade Média e o capitalismo dos séculos posteriores, com evolução em todos os campos da vida e retomada de valores da antiguidade.

Figura 5: Renascimento (entre os séculos XIV e XVI)

Fonte: Pixabay

Definição: Iluminismo (século XVIII) – conhecido como “século das luzes” por apresentar ideais embasados na razão, como liberdade e progresso.

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Figura 6: Iluminismo (século XVIII)

Fonte: Pixabay

No século XVI, o ser humano tem a necessidade de obter um conhecimento de si mesmo, de identificar sua individualidade e de ter novas experiências. Desta busca por uma individualidade, surgem outras discussões, das quais apenas mencionaremos neste material por considerar de menor importância à compreensão do surgimento da Psicologia. Tais discussões giram em torno:

da distinção entre o corpo e a mente;

do reconhecimento da loucura como uma doença ligada à mente;

da distinção entre infância e vida adulta, sendo que a criança era antes vista como um mini adulto, sem necessidades cognitivas ou físicas distintas da de um adulto.

Exemplo: O filme “Nise: O coração da loucura” (2015) retrata a história de uma psiquiatra brasileira que se recusa a tratar os pacientes internados no manicômio onde trabalha da mesma forma que sempre foram tratados, com crueldade. Inicia, então, um lindo trabalho de terapia ocupacional e psicoterapia com os internos, revolucionando o tratamento dado às pessoas com transtornos mentais. Assista! É um filme que retrata a condição das pessoas com doenças mentais e o tratamento que, muitas vezes, utilizava choques e cirurgias.

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Esta necessidade de busca por si mesmo foi o germe para toda uma ciência, o qual deu origem a dois pontos muito importantes para o delineamento da Psicologia:

a descoberta da subjetividade privada;

a crise da subjetividade privada.

Descoberta da subjetividade privada

Se pensarmos no homem enquanto um indivíduo que tem consciência de ser um “eu”, com experiências próprias e subjetivas, entendemos que hoje todos nos reconheceremos como este indivíduo, correto?

Ter uma experiência da subjetividade privatizada bem nítida é para nós muito fácil e natural: todos sentem que parte de suas experiências é íntima, que mais ninguém tem acesso a ela. É possível, por exemplo, ficar um longo tempo pensando se vamos ou não fazer uma coisa, quase decidir por uma e, no final, acabar fazendo a outra, sem que ninguém fique sabendo de nada. Com frequência sentimos alegrias e tristezas intensas e procuramos escondê-las. A possibilidade de mantermos nossa privacidade é altamente valorizada por nós e relacionada ao nosso desejo de sermos livres para decidir nosso destino. A experiência da solidão, ansiada ou temida, é também altamente expressiva daquilo que acreditamos ser nossa individualidade (FIGUEIREDO; SANTI, 1997, p. 19).

Assim, de acordo com Figueiredo e Santi, para nós, seres da Idade Contemporânea, é fácil compreendermos que somos sujeitos (subjetividade) que possuem pensamentos, emoções, planos e sensações que sejam privadas, somente nossas.

Porém, nem sempre foi assim.

Na Antiguidade, como vimos, buscava-se uma vida que refletisse um autogoverno do corpo e da alma (psyché). Não havia uma busca por autoconhecimento, a qual sempre tentamos cultivar nos dias de hoje.

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Você sabia? Que há um conto grego que retrata a história de amor entre Eros (deus do amor) e uma mortal, Psyché? O conto é de fácil acesso e tem uma leitura muito agradável.

Figura 7: Eros

Fonte: Pixabay

Os antigos buscavam uma vida que se assemelhasse a uma obra de arte a partir de ensinamentos e da natureza, não buscavam verdades internas como fazemos hoje.

A cristandade voltou-se para o interior, mas não para encontrar a si, e sim para encontrar Deus dentro de si. Assim, os cristãos se diferenciaram dos antigos por buscarem verdades interiores, porém não verdades individuais, mas advindas de um ser superior a eles próprios.

Por fim, a partir da modernidade passou-se a olhar para dentro de si, como nos dizem Vilela, Ferreira e Portugal:

Na passagem para o cuidado de si moderno há, pois, uma mudança de finalidade: não se busca mais uma purificação da alma para atingir Deus, mas uma pura afirmação de si. E também, o exame de si, outrora exercido através de instrumentos religiosos e jurídicos (como a confissão), cede aos aparatos científicos modernos (a anamnese, a entrevista

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clínica, os testes mentais). Portanto, mudam igualmente as técnicas desse novo cuidado de si (2005, p. 16).

E a busca por esta afirmação de que dizem os autores acontece quando há situações de crise social, isto é, quando aquilo que temos estabelecido enquanto valores ou costumes são questionados, produzindo novas formas de se viver. Quando há este questionamento daquilo que temos como verdade, precisamos nos interiorizar, nos voltar para dentro de nós mesmos para tomar as decisões, uma vez que não há apoio da sociedade para nos dizer o que devemos ou não fazer.

Quais atos as minorias, como mulheres, negros, indígenas e comunidade LGBT, realizam para que suas vozes e seus anseios sejam ouvidos? Você crê que a sociedade tem condições de prover tais grupos com os direitos que lhe são devidos sem que haja pressão popular? De que forma? Reflita e busque mais informações sobre a representatividade das minorias.

Ao colocar em debate o que estava estabelecido socialmente, surge uma perda de referências, as quais antes eram coletivas, partilhadas por quase toda a sociedade (referências como gênero, raça, família, leis, entre outras).

Portanto, o ser humano se vê na necessidade de encontrar suas próprias respostas. Nesta busca, muitas vezes há questionamentos como:

quem sou? O que quero para mim? O que é correto? O que desenvolve a habilidade de reflexão moral?

Figura 8: Reflexão dos questionamentos – Quem sou? O que quero para mim?

Fonte: Pixabay

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Estes questionamentos se refletem em outros setores, como as artes.

Quando começamos a perceber que poderíamos ter uma subjetividade privada, pudemos nos expressar de forma diferente. Assim, surgiram o romance, a poesia lírica (que fala do eu) e pinturas que traduzem o mundo interior do artista.

A subjetividade privada foi possível, também, graças à criação da imprensa e da possibilidade de impressão de livros e jornais. Antes da imprensa, pouquíssimas pessoas possuíam livros, pois eles eram copiados à mão. Mas, também, poucas eram as que sabiam ler.

Assim, a imprensa possibilitou que a leitura se ampliasse e que ela se tornasse silenciosa, dentro da mente de cada um.

A partir do Renascimento, as autoridades que governavam a vida dos indivíduos e ditavam a conduta do povo perderam a força ou mudaram de função. A forma de governo foi lentamente se modificando e os reis não mais ditavam o que seus súditos deveriam ou não fazer com suas vidas.

Da mesma forma, a Reforma e Contra-Reforma da Igreja diminuíram dos padres, cardeais e bispos o posto de governantes da vida privada de seus fiéis. Assim como Deus se distanciou, pois não era mais o guardador dos passos individuais, sendo agora o criador, cabendo ao homem escolher seus caminhos.

Mas não apenas de alegrias viveu o homem do século XIX. Há alguns dissabores no caminho! Vejamos quais:

Crise da subjetividade privada

Definimos até aqui que a subjetividade privada não é algo que a humanidade sempre teve, mas que foi construída quando questionamos valores e crenças e passamos a refletir para tomar nossas decisões, criando, assim, uma ideia de que o homem é livre para escolher seus caminhos.

Entretanto, a ideia de liberdade passou a ser questionada no século XIX, uma vez que liberdades e interesses individuais se colocaram a

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favor de alguns poucos e resultaram em problemas, como nos dizem Figueiredo e Santi:

Os interesses particulares levam a conflitos; a liberdade para cada um tratar de seu negócio desencadeou crises, lutas e guerras.

Os trabalhadores no século XIX foram aos poucos descobrindo que se defenderiam melhor unidos em sindicatos e partidos do que sozinhos.

O Estado, a administração pública não ficou inertes. Para combater os movimentos operários reivindicatórios, para pôr um pouco de ordem na vida social – em que cada um defendia o que era seu sem pensar nas consequências para todos – e para defender os interesses dos produtores de uma nação contra os das outras, a administração pública cresceu, cresceram o Estado, a burocracia, cresceram as forças armadas. A partir daí, como ficava aquela ideia de liberdade individual? Ainda no século XIX, conjuntamente com as burocracias, cresce a grande indústria baseada na produção padronizada e mecanizada, cresce o consumo de massa para os produtos industriais. Onde ficava, então, aquela ideia de que cada um é único e diferente dos demais? (1997, pp. 49-50).

Com o questionamento acerca da real liberdade individual, muitos conflitos tomam forma ao redor do mundo e, em especial, na Europa.

Dessa forma, o campo para o surgimento da Psicologia enquanto ciência está pronto. É preciso uma ciência que dê conta da angústia do indivíduo, gerada pela compreensão de que possui uma subjetividade, mas que sua liberdade é, em certo grau, ilusória. Também é necessária uma nova ciência que auxilie o Estado a governar e controlar sujeitos que agora tiram suas próprias conclusões.

Exemplo: Para compreender um pouco mais sobre a crise da subjetividade privada, assista ao filme “Os Miseráveis”, baseado na obra do escritor francês Victor Hugo. O filme conta a história de um povo tolhido entre sonhos e desilusões, culminando na Revolução Francesa. É possível perceber bem o quanto a miséria leva o povo a entrar em crise, assim como as estruturas sociais.

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Figura 9: Revolução Francesa

Fonte: Pixabay

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que na Idade Moderna, mais precisamente a partir do século XVI, começa a surgir uma disciplina chamada de Psicologia. Você aprendeu que neste período surgem, também, o Renascimento e o Iluminismo, que contribuíram para o seu desenvolvimento.

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Objeto de estudo da Psicologia

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender a evolução do objeto de estudo da Psicologia. E então? Será que conhecer o objeto de estudo da disciplina o auxilia a compreender como chegamos até aqui? Então, vamos lá!

Ao tentar se estabelecer como ciência, a Psicologia apresenta inicialmente um problema: seu objeto de estudo – a psiquê, ou a mente humana.

O que restaria para uma psicologia como ciência independente?

Nada! Embora, à primeira vista, possa parecer surpreendente, esta foi exatamente a resposta de um importante filósofo francês do século XIX, Auguste Comte (1798-1857). No seu sistema de ciências não cabe uma “psicologia” entre as

“ciências biológicas” e as “sociais” (FIGUEIREDO; SANTI, 1997, p. 15).

Para Comte, as ciências biológicas e as ciências sociais já dariam conta de estudar o ser humano. A primeira, a biologia, já a segunda, a sua inserção na sociedade. Porém, era preciso que alguém estudasse a subjetividade do ser humano, a sua mente.

Conceito: A mente seria, para os psicólogos iniciais, uma entidade separada do corpo, a qual seria responsável pelos processos cognitivos.

Este conceito foi contestado por linhas futuras, em especial pelo behaviorismo, que não utiliza tal conceito em sua teoria.

Todavia, para estudar a mente eram necessários métodos, e os séculos XVIII e XIV providenciaram diversos deles para compreender o mundo e seus seres. Veja abaixo os principais métodos de pesquisa tanto do homem quanto do mundo que o rodeia:

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Figura 10: Principais métodos de pesquisa e seus pensadores

Fonte: Elaborada pela autora com base em Schultz & Schultz (2012).

Esses métodos foram (e ainda são) utilizados nas mais diversas disciplinas. Da mesma forma que os filósofos os utilizavam para estudar a mente e a sociedade, os pesquisadores das ciências biológicas do século XIX também os utilizavam para entender a fisiologia humana.

Fisiologia – é o estudo do funcionamento dos seres vivos e dos processos físicos e químicos que se passam nos organismos.

Desta forma, os fisiologistas se encarregavam de estudar a ligação entre os nervos e as sensações no corpo humano, mapeando as funções do cérebro. Com tais pesquisas, inicia-se a Psicologia Experimental, que tinha por objetivo estudar a mente por meio de experimentos.

Os primeiros estudos na área da Psicologia Experimental foram realizados por Hermann von Helmholtz, Ernst Webber, Gustav Theodor Fechner e Wilhelm Wundt. Este último é considerado, ainda hoje, o pai da Psicologia Moderna.

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Figura 11: Wilhelm Wundt (1832-1920)

Fonte: Wikimedia

Até este ponto, a Psicologia já tinha conseguido se tornar uma disciplina dentro dos cursos de graduação e pós-graduação, porém, ainda não era uma ciência de fato, oficial, capaz de gerar uma profissão.

Wilhelm Wundt foi o fundador da psicologia como disciplina acadêmica formal. Instalou o primeiro laboratório, lançou a primeira revista especializada e deu início à psicologia experimental como ciência. Os temas de suas pesquisas, como sensação e percepção, atenção, sentimento, reação e associação, tornaram-se capítulos básicos de livros didáticos e são até hoje fontes inesgotáveis de estudo. Tanto que a maior parte da história da psicologia pós-wundtiana é caracterizada pela contestação ao seu ponto de vista da psicologia, fato que não desvaloriza sua importância nem seus feitos como seu fundador (SCHULTZ; SCHULTZ, 2010, pp. 78-79).

Wundt criou o primeiro laboratório de psicologia experimental na Universidade de Leipzig, na Alemanha. Ele estudava a consciência, a qual

“incluía várias partes diferentes e podia ser estudada pelo método de análise ou da redução” (idem, ibidem, p. 84).

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Para conseguir estudar a consciência, Wundt utilizou o método da introspecção, pois, para ele, somente o sujeito que passa pela experiência pode fazer observações sobre o que se passa em sua mente.

Método introspectivo – método de autoanálise para o estudo dos pensamentos e sentimentos.

Utilizando-se do método introspectivo para vasculhar a mente humana, Wundt chegou às seguintes teorizações:

Figura 12: Conceitos da teoria de Wilhelm Wundt

Fonte: Adaptado de Schultz & Schultz (2012, pp. 84-88).

Exemplo: Alguns exemplos de processos cognitivos são: linguagem, percepção, reflexão e pensamento.

Obviamente seu método de introspecção foi muito criticado. Afinal, se cada indivíduo observar sua própria mente e trouxer as suas respostas, diferindo das respostas dos outros indivíduos, como saber o que é correto, não é mesmo?

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Apesar de ter suas ideias criticadas, Wundt conseguiu eliminar da pauta da Psicologia a discussão sobre a separação corpo e alma presente desde a Antiguidade, concentrando-se na experiência consciente.

Além disso, fundou sua revista científica e formou diversos alunos que continuaram ou modificaram seu legado, tornando a Psicologia uma ciência moderna.

Já que no início da Psicologia o objeto de estudo era a mente e, depois, para Wundt, a consciência, qual será o objeto de estudo da Psicologia atual? Vamos analisar a definição proposta por Myers e DeWall:

Para englobar a preocupação da psicologia com o comportamento observável e com os pensamentos e sentimentos internos, atualmente definimos psicologia como a ciência do comportamento e dos processos mentais. Vamos esclarecer essa definição. Comportamento é tudo o que um organismo faz – toda ação que podemos observar e registrar.

Gritar, sorrir, piscar, suar, falar e responder a um questionário são todos comportamentos observáveis. Processos mentais são as experiências internas e subjetivas que inferimos a partir do comportamento – sensações, percepções, sonhos, pensamentos, crenças e sentimentos (2017, p. 6).

Vemos, então, que hoje a Psicologia enquanto uma ciência se interessa tanto pelos comportamentos humanos, aquilo que podemos observar externamente, mesmo que muito sutilmente, quanto pelos processos mentais, as experiências que não conseguimos observar apenas ao olhar para o outro, que podemos chamar, também, de subjetividade privada.

O que faz alguém ser reconhecido como fundador de uma ciência?

Veja o que nos dizem Schultz & Schultz acerca de Wundt:

A contribuição de Wundt para a fundação da psicologia moderna é devida não tanto a uma única descoberta científica quanto à promoção vigorosa da experimentação sistemática realizada por ele. Portanto, fundação não é sinônimo de criação, embora essa distinção não tenha a intenção de ser depreciativa (2012, p. 79).

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RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a origem da psicologia teve a influência de vários filósofos em sua história. Você aprendeu que o período definido como Idade Antiga, ou Antiguidade, apresenta 4 grandes períodos de pensamento filosófico, em sua maioria marcado pelo grande pensador Sócrates. E na Idade Média, com o surgimento da Era Cristã, os valores mudaram.

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Escolas Psicológicas

INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender a contribuição das escolas psicológicas na Psicologia. E então?

Como dissemos anteriormente, a Psicologia derivou-se de experiências pessoais e eventos sociais. Esta confluência possibilitou que a nova ciência tentasse compreender o comportamento e os processos mentais por diversos ângulos, formando diversas escolas psicológicas. Então, vamos lá!

As primeiras escolas foram surgindo mais ou menos junto com as pesquisas de Wundt, e as principais escolas derivadas dos primeiros anos da Psicologia Experimental são: o Estruturalismo, o Funcionalismo e o Associacionismo. Embora não sejam escolas que tenham expressividade hoje, elas certamente possibilitaram o desenvolvimento de diversas abordagens atuais.

Estruturalismo

Figura 13: Edward B. Titchener (1867-1827)

Fonte: Wikimedia

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O estruturalismo foi pensado e fundado por Edward B. Titchener (1867-1827), um britânico que se interessou pela psicologia de Wundt e foi até Leipzig para estudar diretamente com o pai da psicologia moderna.

Ao se formar, Titchener e suas ideias não foram bem recebidas em sua terra natal. Por isso, mudou-se para os Estados Unidos para lecionar e abrir seu laboratório de psicologia experimental.

Embora tenha estudado com Wundt e levado as ideias do alemão para os Estados Unidos, a sua escola diferia muito da psicologia experimental de seu mestre.

Para Wundt, como vimos anteriormente, a Psicologia deveria estudar os elementos da consciência e, mais especificamente, a organização destes elementos (processos cognitivos) por meio da apercepção. Isto é, a mente possuiria uma capacidade peculiar de “decidir” qual a melhor forma de organizar os processos cognitivos.

Porém:

Titchener se concentrava nos elementos ou conteúdos mentais, assim como na conexão mecânica mediante o processo de associação, mas descartava a doutrina da apercepção de Wundt. O seu enfoque estava nos elementos propriamente ditos e, na sua opinião, a principal tarefa da psicologia consistia na descoberta da natureza das experiências conscientes elementares – a determinação da estrutura da consciência mediante a análise das suas partes componentes (SCHULTZ;

SCHULTZ, 2012, p. 106).

Como podemos ver, Titchener acreditava que o que deveria ser estudado não era a organização dos processos cognitivos superiores, mas, sim, as partes que constituíam tais processos. Para isso, como o método ainda era a introspecção, Titchener pedia a seus alunos que realizassem alguns experimentos.

Um destes experimentos era o do tubo de borracha. Os alunos engoliam um tubo de borracha, mas deixavam a sua extremidade na boca. Ao longo do dia, eram alternados água quente e água gelada e os alunos deveriam relatar as sensações que sentiam.

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Outros experimentos pediam que os alunos anotassem suas sensações ao urinar, defecar ou, até mesmo, durante a relação sexual, utilizando inclusive alguns dispositivos amarrados ao corpo para medir as respostas fisiológicas, como suor ou batimentos cardíacos.

Você conseguiria participar de testes como estes descritos acima?

Muitas vezes, a ciência necessita de pessoas que passem por experimentos para que se chegue a respostas, como no caso de testagem de medicamentos. Mas será que você entregaria seu corpo e sua mente para o auxílio da ciência?

SAIBA MAIS:

A Psicologia produziu diversos experimentos que ficaram famosos. Recomendamos a leitura do artigo “25 experimentos psicológicos intrigantes (e polêmicos) das últimas décadas”.

Disponível em: https://cutt.ly/jfPfElt. Acesso em: 14 set. 2020.

Uma vez que os processos cognitivos superiores como o pensamento são inconscientes, isto é, produzidos pela mente sem que nos demos conta, para Titchener o objeto de estudo da Psicologia deveria ser os processos conscientes. Por isso, usava como medida as sensações (tubo de borracha, eliminação de urina e fezes, sensações na relação sexual), as imagens e a afetividade.

As imagens, para o estruturalismo, seriam as lembranças do passado, as quais produziriam imagens que poderiam ser descritas. Da mesma forma, também se estudou a afetividade, experiências como amor, ódio ou tristeza, emoções que podem ser observadas e descritas por meio da introspecção.

Claramente, podemos perceber que esta escola não seguiu após a morte de seu fundador por diversas críticas. A primeira delas foi em relação ao método da introspecção, crítica que também alcançou Wundt anos antes. O filósofo Auguste Comte levantou a questão se deveria haver duas mentes, uma que observasse e uma que fosse observado, o que obviamente não é possível:

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A mente é capaz de observar todos os fenômenos, exceto os próprios. […] O órgão observador e observado neste caso é o mesmo e a sua ação não pode ser pura e natural. Para realizar uma observação, o intelecto deve fazer uma pausa na sua atividade; no entanto, essa é exatamente a atividade que se deseja observar. Se uma pausa não for possível, será impossível realizar a observação; e, se for possível, não haverá objeto a ser observado. Os resultados desse método são igualmente proporcionais ao seu absurdo (COMTE, 1830/1896 apud SCHULTZ; SCHULTZ, 2012, p. 117).

Ao mesmo tempo em que as críticas recaíam sobre o método introspectivo, também recaíam sobre a figura de Titchener, que teimava em não alterar sua pesquisa ou seu método quando a psicologia já vinha avançando a passos largos.

Assim, suas teorias aos poucos foram sendo excluídas dos cursos de Psicologia e morreram com seu fundador. Ao mesmo tempo, seu método introspectivo contribuiu para o desenvolvimento do que chamamos de relato oral de experiência, usado por diversas abordagens atualmente, tanto na resposta de questionários, como testes de inteligência, quanto em relatórios que requerem relatos de experiências pessoais.

A partir das críticas e contestações ao método de Titchener, outras escolas foram se aperfeiçoando para dar as bases para as abordagens contemporâneas da Psicologia.

Exemplo: Para compreender melhor como acontecem os relatos orais, recomendamos a leitura do artigo “As Técnicas de Relatos Orais e o Estudo das Representações Sociais em Saúde”, de Raquel Maria Rigotto, da UFCE. Disponível em: https://cutt.ly/ffPf7Mn. Acesso em: 14 set. 2020.

Funcionalismo

Qualquer nova teoria não nasce de forma aleatória e em uma data específica. Ela vai se moldando ao longo do tempo e em concomitância com as teorias que estão em voga no momento. Para que o funcionalismo

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passasse a existir enquanto uma escola de pensamento da Psicologia, foram necessárias algumas influências, as quais veremos a seguir.

Figura 14: Herbet Spencer (1820-1903)

Fonte: Wikimedia

A primeira influência foi a do filósofo americano Herbert Spencer (1820-1903). Spencer tivera contato com a teoria da evolução de Charles Darwin e nomeou sua própria teoria de Darwinismo Social. Tal teoria previa que tudo no universo atua em evolução conforme a sobrevivência do mais apto. Assim, o próprio caráter humano e as instituições sociais deveriam seguir a “lei do mais apto”.

Na visão utópica de Spencer, se o princípio da sobrevivência do mais apto operasse com liberdade, apenas os melhores sobreviveriam. Portanto, a perfeição humana seria inevitável, desde que nenhuma ação interferisse na ordem natural das coisas (SCHULTZ; SCHULTZ, 2012, p. 153).

Para se atingir a “perfeição humana”, Spencer acreditava que o governo não deveria interferir e nem ajudar seus cidadãos (sem educação, saúde ou moradia aos mais pobres). Tais ideias eram compatíveis com o pensamento da sociedade americana, voltada ao individualismo e ao útil

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e funcional. Ou seja, a sociedade só seria perfeita caso somente os mais aptos sobrevivessem.

Sabemos bem o quanto estas ideais são perigosas. Elas criam um clima de “sobrevivência do mais forte” que desconsidera qualquer diferença entre os indivíduos e de pensamento.

Exemplo: Recomendamos a leitura do artigo de Costa, Costa e Gomes, intitulado “Teorias fascistas: discutindo o fascismo em sala de aula”, apresenta ligações entre o Darwinismo Social e regimes que não respeitam as diferenças. Disponível em: https://cutt.ly/BfPgyon. Acesso em: 14 set. 2020.

Além das ideias de Spencer sobre o Darwinismo Social, um médico americano, William James (1842-1910), possibilitou o florescimento do funcionalismo. Formado em medicina e com interesse pela Psicologia, ele cunhou alguns princípios para o novo campo de estudos.

Figura 15: William James (1842-1910)

Fonte: Wikimedia

James concluiu que o objeto de estudo da Psicologia deveria ser a adaptação dos seres humanos no meio ambiente em que estão inseridos, revelando a ligação de sua teoria com o Darwinismo Social de Spencer.

O pesquisador também acreditava que o físico afetava as condições psicológicas do sujeito, bem como “que fatores emocionais determinavam

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as crenças e que as necessidades e os desejos humanos influenciavam a formação da razão e dos conceitos” (SCHULTZ; SCHULTZ, 2010, p. 161).

Assim, a Psicologia deveria buscar explicar os fenômenos – experiências imediatas – e as condições da vida mental – corpo e cérebro.

A consciência, para James, não poderia ser reduzida a processos, pois ela é um fluxo constante e não há como dividi-la.

Os cientistas que iniciaram o funcionalismo não estavam, inicialmente, em busca de criar uma nova teoria, mas, sim ,de combater as duas escolas vigentes: a de Wundt e a de Titchener. Entretanto, logo as ideias foram se delineando enquanto uma nova escola de pensamento.

Em verdade, quem acabou nomeando a nova escola foi, sem querer, o próprio Titchener. Sim! Em um de seus artigos – “Os postulados da psicologia estrutural” –, Titchener fez uma oposição entre o estruturalismo e o funcionalismo de seus opositores, dando uma identidade à nova escola sem mesmo perceber.

Outros pesquisadores muito importantes para o funcionalismo foram John Dewey (1859-1952) e James R. Angell (1869-1949). O primeiro postulou a teoria do Arco reflexo, que é a ligação entre um estímulo sensorial e uma resposta motora, ou seja, quando batemos com o martelinho no joelho (estímulo sensorial) a perna dá um leve chute no ar (resposta motora).

Exemplo: Assista ao vídeo sobre os reflexos para entender melhor sobre o ato reflexo. Disponível em: https://cutt.ly/rfPgpB2. Acesso em: 14 set. 2020.

Angell descreveu os principais temas do movimento funcionalista, moldando o movimento:

o funcionalismo deveria descobrir como os processos mentais ocorrem e sob quais condições;

a consciência é um instrumento e, como tal, tem um uso, que é o de mediar o que o organismo necessita e o que o ambiente disponibiliza, gerando adaptação;

é uma psicologia da relação entre a mente e o corpo e o ambiente.

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Os estruturalistas criticaram muito o movimento funcionalista mesmo antes de ele se estabelecer como uma escola de pensamento. A principal crítica vinha em relação ao nome, os cientistas nunca explicaram de forma veemente o porquê do termo função.

Para os críticos, também era necessário rever a necessidade de se trabalhar questões práticas, uma vez que os estruturalistas não se interessavam por aplicar nada, diferentemente dos funcionalistas.

Porém, mesmo com as críticas, o funcionalismo possibilitou o desenvolvimento da psicologia contemporânea, em especial nos Estados Unidos. Entre seus métodos estavam: pesquisa fisiológica, descrições objetivas, testes mentais e questionários.

O funcionalismo abriu as portas para as pesquisas de comportamento animal, bebês, crianças e adultos com dificuldades mentais.

O que você acha das pesquisas que utilizam animais? Acesse duas matérias que apresentam seus pontos de vista e reflita sobre isso. Uma da da Fiocruz, disponível em https://cutt.ly/hfPgjhQ, e a entrevista com o médico americano sobre o assunto, disponível em https://cutt.ly/pfPglin. Acessos em: 14 set. 2020.

SAIBA MAIS:

Hoje, sabemos que o maior contingente de trabalhadores da psicologia é composto por mulheres. Porém, ao longo deste material, você verá que não há menção a mulheres nos primórdios da Psicologia. Embora em número inferior, havia muitas mulheres trabalhando e pesquisando nos bastidores.

Entretanto, raras vezes, durante o desenvolvimento da Psicologia como ciência, elas puderam aparecer, visto que, na maior parte das vezes, foram impedidas pelos próprios professores de seguirem pesquisando. Mas algumas conseguiram se sobressair em meio à repressão! Acesse a matéria “10 grandes mulheres da ciência” e veja algumas das cientistas extraordinárias que fizeram grandes descobertas!

Disponível em: https://cutt.ly/gfPgvHR. Acesso em: 14 set.

2020.

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Associacionismo

As escolas que vêm após o funcionalismo nos Estados Unidos não ficaram conhecidas como Associacionismo, mas, sim, como Teorias da Aprendizagem. Porém, seu início é difuso, dividido entre diferentes países e pesquisadores, com influência da teoria associacionista de John Locke.

Por isso, podemos chamar o início das Teorias da Aprendizagem de Associacionismo.

Para entendermos, teremos que voltar um pouco na nossa linha de raciocínio da evolução da psicologia para falarmos de Locke.

John Locke foi um filósofo inglês que viveu no século XVII. Em 1690, publicou um livro intitulado “Um ensaio sobre a compreensão humana”, o qual marcou o início do empirismo inglês.

O filósofo se interessava em saber como a mente aprende, uma vez que considerava que o ser humano nascia sem conhecimento algum, como afirmara Aristóteles na Antiguidade (o homem é uma tábula rasa).

Ele se opunha a Descartes, que acreditava na existência das ideias inatas, como na crença do homem em Deus. Porém, Locke explica que, embora seja plausível para um adulto que a crença em Deus seja inata, ela é, na verdade, ensinada desde a tenra infância.

Para entender melhor a ligação entre o Empirismo britânico e o Associacionismo, com exemplos, recomendamos assistir ao vídeo de John Locke, disponível em: https://cutt.ly/rfPgmCg. Acesso em: 14 set. 2020.

Logo, a mente era capaz de adquirir conhecimento por meio da experiência, dividida por ele em dois tipos:

sensação: “derivadas da experiência sensorial direta com os objetos físicos presentes no ambiente, são simples impressões do sentido”

(SCHULTZ; SCHULTZ, 2012, p. 42);

reflexão: as sensações geram uma operação na mente, que, por sua vez, age sobre as sensações, formando ideias por meio da reflexão.

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Essa função cognitiva ou mental da reflexão como fonte de conceitos depende da experiência sensorial, já que as ideias produzidas pela reflexão da mente têm como base as impressões anteriormente percebidas pelos sentidos. […]

Durante a reflexão, resgatamos as impressões sensoriais passadas, combinando-as para formar abstrações e outras ideias de nível superior (idem, ibidem, p. 42).

Estas ideias de que nos falam Schultz e Schultz foram divididas por Locke em simples e complexas, sendo que as simples provêm das sensações e as complexas derivam da reflexão, por meio da associação de várias ideias.

Assim, as ideias simples podem ser transformadas em complexas associando--se a outras ideias simples ou mesmo complexas. A associação de Locke é o que hoje chamamos de aprendizagem.

Agora que compreendemos de onde vem o nome dado às escolas iniciais das Teorias da Aprendizagem, ou associacionistas, podemos entrar no ramo da Psicologia que deu origem ao que hoje conhecemos como Behaviorismo, ou Ciência do Comportamento. Veremos o Behaviorismo e suas aplicações na Unidade 4, quando analisaremos a aprendizagem nas diversas fases da vida.

Aqui, faremos um levantamento breve das influências do Behaviorismo, dando continuidade ao nosso levantamento histórico.

Vamos lá?

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Figura 16: Edward Lee Thorndike (1874-1949)

Fonte: Wikimedia

Você percebeu que até aqui a maioria dos pesquisadores era formada em Medicina ou Ciências Biológicas? Pois então, podemos dizer que Thorndike é um dos primeiros psicólogos enquanto profissão, embora seus antecessores tivessem doutorados na área, muitas vezes não eram reconhecidos como tal.

Assista ao vídeo sobre o experimento da caixa problema de Thorndike para compreender melhor suas teorias, disponível em:

https://cutt.ly/PfPgPwr. Acesso em: 14 set. 2020.

Thorndike focou no comportamento que poderia ser observado, e não na experiência consciente ou nos elementos mentais, como muitos antes dele. Compreendia a aprendizagem como conexões entre o estímulo apresentado e a resposta.

Exemplo: Estou te apresentando um estímulo, que são as palavras e imagens neste e-book, e você está emitindo uma resposta, que é a de ler!

Thorndike também descreveu o aprendizado por tentativa e erro, embora chamasse de tentativa e sucesso acidental.

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Figura 17: Ivan Petrovitch Pavlov (1849-1936)

Fonte: Wikimedia

Concomitante a Thorndike, o russo Pavlov também desenvolvia teorias sobre aprendizagem. O médico e fisiologista, primeiramente, estudou a função dos nervos cardíacos e as glândulas digestivas, este último lhe rendendo o Prêmio Nobel em 1904. Por fim, seus estudos se voltaram para os reflexos condicionados, área que o efetivou como um influenciador das teorias da aprendizagem.

Para explicar o que é um reflexo condicionado, vamos dividi-lo em algumas etapas!

Em primeiro lugar, devemos saber que todos os seres humanos possuem reflexos inatos, isto é, que nascem conosco. Como exemplos de reflexos inatos podemos citar: o ato de sugar do bebê quando o seio da mãe é apresentado, a capacidade de salivar quando ingerimos alimento, lacrimejar quando há um cisco no olho e assim por diante.

Como você pode ver pelos exemplos acima, para que haja um reflexo é necessário um estímulo do ambiente. Vamos analisar um deles:

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Figura 18: Reflexos condicionados

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Ou seja, o reflexo inato nada mais é do que “uma ‘preparação mínima’

que os organismos têm para começar a interagir com seu ambiente e para ter chances de sobreviver” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 17).

Muito bem! Agora que você já compreendeu o que é um reflexo inato, vamos ver o reflexo condicionado.

Pavlov realizou uma pesquisa com cães para estudar suas glândulas digestivas, mas percebeu que o cão podia aprender novos reflexos. Como assim? Vamos ver de forma mais detalhada:

Para ver como era feito o experimento de Pavlov, recomendamos assistir ao vídeo “O cão de Pavlov”, disponível em https://cutt.ly/JfPgLZB. Acesso em: 14 set. 2020.

1. Em primeiro lugar, Pavlov inseriu um tubo de ensaio na boca dos cães para medir a salivação dos animais em relação com a quantidade e qualidade da comida apresentada;

2. Em seguida, Pavlov descobriu que havia outros estímulos que faziam com que o cão salivasse, e não apenas a comida. A mera visão da comida gerava uma resposta de salivar, e os passos do pesquisador para alimentar o cão faziam com ele salivasse. Não apenas isso, Pavlov percebeu que, chegando perto da hora em que os pesquisadores deveriam alimentar o cão, ele salivava;

3. Foi aí que o russo decidiu estudar com mais afinco estes reflexos que estavam sendo aprendidos pelos cães;

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4. Assim, Pavlov começou a emparelhar os estímulos, ou seja, apresentava a carne seguida do som de uma sineta. Em seguida, media a quantidade de saliva produzida;

5. Após mais ou menos 60 emparelhamentos (carne e sineta), o pesquisador apenas apresentou a sineta, sem a carne, e o cão produziu a mesma quantidade de saliva que produzia com a carne.

Podemos perceber, então, que Pavlov conseguiu demonstrar que, pela apresentação de estímulos, podemos ter diferentes respostas, bem como aprender novas respostas.

Que tal rever alguns conceitos e se preparar para as próximas unidades? Recomendamos assistir ao vídeo sobre Pavlov, Watson e Skinner, os três maiores pensadores da Teoria da Aprendizagem, disponível em https://cutt.ly/4fPg28a. Acesso em: 14 set. 2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a Psicologia teve a influência das escolas psicológicas: estruturalismo, funcionalismo e associacionismo. Aprendemos de onde veio as Teorias da Aprendizagem. E podemos compreender que a Psicologia deu origem ao que hoje conhecemos como Behaviorismo, ou Ciência do Comportamento.

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REFERÊNCIAS

CAMBAÚVA, L. G.; SILVA, L. C. da; FERREIRA, W. Reflexões sobre o estudo da História da Psicologia. In: Estudos de Psicologia. 3(2), 1998, 207-227.

FIGUEIREDO, L. C. M. Matrizes do pensamento psicológico. Rio de Janeiro: Vozes, 2014.

FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. de. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: Educ, 1997.

GOODWIN, C. J. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2010.

JACÓ-VILELA, A. M., FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (eds.).

História da Psicologia: rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau, 2005.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MYERS, D. G.; DEWALL, C. N. Psicologia. 11. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019.

SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna.

trad. Suely Sonoe Murai Cuccio. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

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Tainá Thies

Desenvolvimento

Referências

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