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A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PROCESSOS HUMANIZADORES

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A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: PROCESSOS HUMANIZADORES

BARROS, Flávia Cristina Oliveira Murbach de – UNESP – Marília - SP flaviacro@ig.com.br RAIZER, Cassiana Magalhães – UNESP – Marília - SP cassiana@uel.br SINGULANI, Renata Aparecida Dezo – S.M.E – Santa Cruz do Rio Pardo -SP rsingulani@bol.com.br Eixo Temático: Educação da Infância Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O presente texto é fruto das nossas experiências de pesquisa1 em nível de mestrado na escola da infância. Atuando em diferentes cidades, culturas, saberes e contextos, percebemos que nossas inquietações sobre a organização do espaço e sobre as práticas pedagógicas estavam muito próximas. Entendemos que cada criança é única e que suas ações dependem diretamente do lugar onde estão inseridas assim como das vivencias que são oferecidas a elas.

Partindo dessas inquietações nos questionamos: Como organizar o espaço enquanto elemento mediador da criança com a cultura? E ainda, quais práticas pedagógicas podem contribuir para uma educação humanizadora? Como o educador pode fazer parte desse processo? Para tentar responder tais questionamentos, o presente texto buscará por meio da soma de nossas experiências educacionais e a Teoria-Historico-cultural, refletir sobre a organização do espaço da escola da infância assim como as práticas pedagógicas ali inseridas, a fim de repensar propostas que visam uma educação humanizadora. O espaço da Educação Infantil, desde que planejado intencionalmente, pode ser um grande aliado da educadora no seu fazer pedagógico e pode contribuir para que as crianças se apropriem das formas mais elaboradas da cultura, desenvolvendo as qualidades humanas. Pensar no espaço para a criança pequena significa colocá-la como protagonista do processo educativo, como um sujeito de direitos e de desejos, que se apropria e constrói cultura. Nesse sentido, o estudo evidenciou a importância da organização do espaço como elemento mediador da criança com a cultura, bem como a

1 Ver in: Cadê o brincar? Da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. BARROS, F. C. O. M. de.

Dissertação de Mestrado, 2008 – UNESP- Assis; As crianças gostam de “tudo-o-que-não-pode”: crianças em novas relações com a monitora e a cultura no espaço da creche. SINGULANI, R. A. D. Dissertação de Mestrado, 2009 – UNESP - Marília; RAIZER, C. M. Portfólio na Educação Infantil: Desvelando possibilidades para a avaliação formativa. Dissertação de Mestrado, 2007 -UEL – Londrina.

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relevância do professor como aquele que organiza intencionalmente o espaço, promovendo o máximo desenvolvimento das crianças.

Palavras-chave: Educação infantil. Espaço. Práticas pedagógicas. Teoria histórico-cultural.

Introdução

Atualmente muito se tem discutido sobre Educação Infantil e práticas pedagógicas, assim como as próprias questões do desenvolvimento infantil. Segundo a Teoria Histórico- Cultural, o espaço atua como mediador no processo de aquisição dos bens culturais e, sua reorganização nas escolas de educação infantil significa criar possibilidades de ampliação da cultura, como também estreitar a relação criança-educador e criança-criança. Mas, cabe questionar: Como organizar o espaço enquanto elemento mediador da criança com a cultura?

E ainda, quais práticas pedagógicas podem contribuir para uma educação humanizadora?

Para tentar responder a estes questionamentos o presente texto busca oferecer atributos teóricos e metodológicos para a reorganização do espaço da escola da infância priorizando a criança, suas necessidades e redirecionando as práticas pedagógicas para uma educação humanizadora. Para que a educação seja instrumento do processo de humanização, o trabalho educativo é

[...] o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. (SAVIANI, 1997, p.17).

O que desenvolvemos na escola da infância é resultado de nossos saberes sobre criança, por isso reflete a cultura do educador e o modo como a concebe. Nesse sentido, Mello esclarece:

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Se as concepções que temos são essenciais na definição do modo como atuamos, parece que temos aí uma forte razão para refletir sobre como nós, educadores, percebemos a criança, como entendemos suas possibilidades e capacidades, a forma como pensamos que ela aprende. Tais concepções – a concepção de criança, de processo de conhecimento – e maneira como entendemos a relação desenvolvimento-aprendizagem e a relação aprendizagem-ensino orientam nossa atitude ao organizar a prática pedagógica que desenvolvemos. Uma análise do que estamos fazendo verdadeiramente pode começar então, por aí: perguntando-nos que conceito de criança tem orientado nossa prática ou orienta as práticas de um modo geral, e como isso tem determinado as práticas da educação da infância (2000, p.84).

Assim, a nossa concepção sobre o espaço precisa também ser revisitada. Ao falar da questão do espaço na Educação Infantil, parece que fixamos as discussões apenas na estrutura física ou arquitetônica. Quando na realidade a discussão se pauta em um ambiente que possa oferecer a criança, condições para seu desenvolvimento físico, social e cultural. De acordo com Barros (2008, p.66)

O espaço para a Educação Infantil deve contemplar as necessidades e interesses sociais, e os profissionais da área devem ter o cuidado de observar a cultura, as diversidades, as condições de vida das crianças, adequando-as ás suas especificidades [...].

Para que isso ocorra, é necessário que o ambiente educativo que recebe a criança pequena seja elaborado, assim como os próprios objetivos pedagógicos, por meio de um olhar sobre as verdadeiras necessidades infantis. Rinaldi (2002, p. 77) aponta que:

O ambiente escolar deve ser um lugar que acolha o indivíduo e o grupo, que propicie a ação e a reflexão. Uma escola ou uma creche é antes de mais nada, um sistema de relações em que as crianças e os adultos não são apenas formalmente apresentados a organizações, que são uma forma da nossa cultura, mas também a possibilidade de criar uma cultura. [...] É essencial criar uma escola ou creche em que todos os integrantes sintam-se acolhidos, um lugar que abra espaço às relações.

Compreendemos que essa seja uma questão relevante a ser estudada, pois muitas escolas de Educação Infantil têm seus espaços organizados sob uma concepção tradicional da criança, onde é considerada como um sujeito incapaz, frágil, dependente e que precisa da proteção constante dos adultos. Outras, ainda, apresentam-se organizadas sem considerar as especificidades das crianças pequenininhas. Nesse sentido:

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As instituições de educação infantil deverão ser espaços que garantam o imprevisto (e não a improvisação) e que possibilitarão o convívio das mais variadas diferenças, apontando para a arbitrariedade as regras (daí o jogo e a brincadeira serem tão importantes, iniciando o exercício da contradição, da provisoriedade e da necessidade de transformações). (FARIA 2000, p. 70)

Entendemos que seja fundamental organizar esses espaços os de modo a possibilitar às crianças pequenininhas um amplo contato com os objetos da cultura, bem como fazer dele um local onde as crianças tenham-nos disponíveis para serem manipulados a qualquer momento, onde possam fazer suas escolhas, realizar várias experiências e atividades que sejam significativas para elas.

Nesse sentido, quanto mais às educadoras disponibilizarem a cultura para as crianças, mais enriquecedoras serão suas experiências e mais condições elas terão de se desenvolver como ser humano. Para isso, torna-se necessário haver a preocupação com a organização do espaço para propiciar a ampliação das vivências sociais pelas crianças. De fato “[...] como organizadora, a educadora é responsável pelo uso do espaço, pela disposição dos móveis, pelo conforto dos lugares para sentar, pela aparência da sala e por manter coisas limpas e em bom estado, em cooperação com demais funcionarias” (GOLDSCHMIED e JACKSON 2006, p.38).

Essas são as condições básicas que favorecem um melhor aproveitamento do espaço e dos bens culturais que a educadora, em consonância com as crianças, pode oferecer a toda a turma e “sair do confinamento de um espaço que muitas vezes continua doméstico e transformar-se em espaço voltado para a vida, o mundo, a apropriação da cultura”.

(OLIVEIRA, et al, 2008, p. 86).

Um espaço organizado de forma a disponibilizar às crianças pequenininhas uma variedade de objetos da cultura, permite a elas enriquecer suas experiências, realizar atividades mais interessantes e significativas, e estabelecer com os adultos uma nova relação, além de possibilitar a formação das funções psicológicas superiores, tais como memória, atenção, a linguagem , pensamento, imaginação, que buscam organizar a vida psíquica e conseqüentemente o desenvolvimento do individuo.

O PAPEL DO ESPAÇO NA EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Para Vigotski (1995), que tem nos seus estudos os fundamentos teóricos de Marx, as qualidades humanas não são dadas ao homem ao nascer, ou seja, não são transmitidas

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biologicamente, mas são adquiridas através do convívio com os outros seres humanos. A apropriação das qualidades humanas ocorre pela interação do sujeito com outros humanos e pela apropriação da cultura criada historicamente. Compreendemos por cultura o conjunto de toda a produção humana, material e não-material, presente na sociedade.

De acordo com os estudiosos da Teoria Histórico-Cultural, para que o ser humano se aproprie das qualidades humanas presentes na sociedade, visto que elas não são inerentes ao nascer, faz-se necessário a mediação do outro mais experiente para lhe ensinar a função social dos objetos da cultura. Para Duarte (1993), o que possibilita o desenvolvimento histórico é a relação entre apropriação e objetivação, na qual o homem se apropria das forças naturais, transforma-a pela objetivação e atividade humana, criando, assim, novas necessidades, e que [...] as aptidões e caracteres especificamente humanos não se transmitem de modo algum por hereditariedade biológica, mas adquirem-se no decurso da vida por um processo de apropriação da cultura criada pelas gerações precedentes (LEONTIEV, 1978, p. 267).

Portanto, para a teoria histórico-cultural, o homem se torna humano através das relações que estabelece com outros humanos, pelas suas reais condições de vida e pela sua atividade sobre os objetos da cultura, reproduzindo para si as qualidades humanas presentes na sociedade e criadas ao longo da história. Trazendo essas questões para a Educação Infantil, compreendemos que, quando planejado intencionalmente, o espaço da Educação Infantil pode ser um aliado do educador no seu trabalho com as crianças, garantindo a elas um amplo contato com os bens culturais e o enriquecimento de suas experiências.

Pensar a organização do espaço requer, também, considerar as relações que são ali estabelecidas, envolvendo as crianças e os adultos. Para a Teoria Histórico-Cultural, não basta que os objetos da cultura estejam presentes no espaço, mas é fundamental a mediação do adulto, ou parceiro mais experiente, para ensinar aos menores a função social dos mesmos.

Com as crianças pequenininhas, a educadora pode exercer o papel de mediadora da relação da criança com a cultura, organizando intencionalmente o espaço, a fim de favorecer uma experiência cultural mais rica e estabelecer com elas uma relação humanizadora, de modo a potencializar as qualidades humanas. Entendemos que a organização dos espaços da creche ou da pré-escola pode ser um espelho da concepção de criança dos profissionais que nela atuam.

A partir da leitura de alguns pesquisadores da infância citados nesse trabalho, foi possível compreender a criança como um sujeito de direitos, com característica própria e

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portadora de um modo de aprender que lhe é peculiar a sua pouca idade. Para Tonucci (2005) a criança de hoje é competente, ativa, curiosa, e com uma capacidade ilimitada para aprender, que merece ser vista e respeitada pelo que é e não pelo que virá a ser.

Essas leituras deram embasamento para se pensar na organização de espaços para crianças de zero a seis anos que contemple a diversidade cultural, as suas várias linguagens - afetiva, lúdica, oral, artística, musical entre outras - que lhes possibilitem realizar atividades significativas e estabelecer com as pessoas, adultos ou crianças, uma nova relação.

Algumas pesquisas demonstram2 o quanto, por meio de um trabalho de formação continuada efetivo e de um acompanhamento constante da direção em relação ao trabalho das educadoras, é possível transformar o espaço que atenda crianças pequenas em um lugar aconchegante, interessante, provocador, que respeite as características próprias das crianças, que lhes possibilite estabelecerem um amplo contato com os bens culturais, assim como uma nova relação com as educadoras e seus pares, levando-as a realizar atividades mais interessantes.

Portanto, o modo pelo qual as educadoras organizam e dispõem os objetos e brinquedos no espaço, é fundamental para ampliar ou limitar o contato das crianças com a cultura.

Algumas intervenções planejadas pelas educadoras são fundamentais para ampliar esse contato das crianças com os objetos da cultura, entre elas: prateleiras baixas, cesta dos tesouros, instalações com material reciclado, painel de fotos e figuras, construção e confecção de almofadões de espuma, centopéias e livros de plástico.

Tais intervenções, pensadas intencionalmente e em conjunto pelas profissionais, contribuem para que as crianças estabeleçam um contato mais direto com os objetos que foram disponibilizados pelas educadoras, podendo pegar, manusear e experimentar sem o controle constante do adulto, possibilitando ainda, o desenvolvimento da atenção, da percepção, do autocontrole da vontade, da habilidade de manipulação e coordenação dos movimentos corporais, passando a ter a liberdade de brincar com os brinquedos do seu interesse, podendo inclusive trocar quando sentissem vontade.

Para enriquecer o espaço, alguns brinquedos podem ser confeccionados pelas educadoras, como: as caixas de papietagem, os almofadões, as centopéias, as garrafas e os

2 Ver in: As crianças gostam de “tudo-o-que-não-pode”: crianças em novas relações com a monitora e a cultura no espaço da creche. Singulani, R. A. D. Dissertação de Mestrado, 2009.

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pneus encapados. Esses objetos enriquecem as experiências das crianças, na medida em que permitem uma maior liberdade de ação com eles, com os quais podem inventar novos usos.

Além da acessibilidade aos brinquedos, é de grande importância a quantidade de objetos oferecidos, que possibilita as crianças brincarem juntas, sem disputa.

É fundamental que o espaço constitua uma identidade para a criança. Por isso, a relevância da sua participação na escolha dos nomes dos espaços, na organização dos objetos e pertences. As marcas da criança vão deixando cada vez mais dela aquele espaço. Algumas maneiras de organizar o espaço: (a) colar fotos das crianças no espaço da escola; (b) escolher juntamente com as crianças um nome para a turma – selecionar um desenho que represente esse nome; (c) brinquedos e materiais organizados em cantos de interesse: canto da fantasia, artes, música e casinha; (d) materiais acessíveis à altura das crianças; (e) exposição dos seus desenhos; (f) pesquisas que as crianças ou o professor realizaram; (g) ganchos de sacolas ao alcance das mãos das crianças; (h) espaço com almofadas e livros; (i) espaço com cadeiras e mesas; (j) espelho; (k) espaços esconderijos (lençóis, caixas); (l) elementos naturais e outros.

O espaço da sala agora mais rico de objetos e brinquedos, além de propiciar às crianças a realização de experiências mais interessantes, traz maior tranqüilidade ao ambiente.

Nesse sentido, “O ambiente contemplará processos e produtos, que deverão ser planejados pelas (os) professoras (es) e por todos os profissionais que atuam direta ou indiretamente com as crianças, organizando o espaço e o tempo”. (FARIA, 2000, p. 71), o que valoriza o ambiente como algo que também educa.

A reorganização do espaço, além de garantir o contato da criança com a cultura reflete em outras mudanças, que se referem à nova relação da educadora com a criança e a melhor utilização do tempo. Essa nova relação estabelecida entre a educadora e a criança inicia-se no momento em que a profissional se dedica a planejar intencionalmente o espaço, a selecionar os brinquedos e materiais, a organizá-los nas prateleiras, a construir os cantos, a expor as fotos e trabalhos da turma na altura dos pequenos, enfim, a organizar o espaço pensando nas crianças. O envolvimento da educadora com as crianças amplia, quando ela passa a participar junto com as crianças das brincadeiras. Essa atitude, além de demonstrar um maior envolvimento das educadoras nas atividades e brincadeiras das crianças, faz com que elas substituem sua postura de expectadoras pela de envolvimento e parceria.

A organização do espaço nessas perspectivas faz com que educadores e crianças, possam brincar juntos, estabelecendo entre si um vínculo maior. As crianças, na maioria das

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vezes, mostram-se satisfeitas por terem as educadoras brincando junto a elas e, querem cada vez mais compartilhar essa rica troca de experiências.

Além de participar das brincadeiras das crianças, as educadoras passam a envolvê-las mais no guardar e cuidar dos brinquedos, não os guardando sozinhas, mas convidando as crianças para participarem com ela dessa atividade. Também não os deixam misturados, mas no momento de guardar orientam as crianças a classificá-los, para mantê-los em ordem. Essa atitude de cuidado das educadoras, além de ser um bom modelo para as crianças, também contribui para aumentar a quantidade de brinquedos na instituição, pois eles não ficarão jogados e misturados, mas guardados em ordem para serem reutilizados.

Ao organizar o espaço de maneira adequada, o educador está contribuindo também para uma melhor utilização do tempo da criança na creche. Pois, com os brinquedos dispostos em locais acessíveis para as crianças, elas podem se relacionar com eles no momento em que sentir vontade, sem precisar esperar que a educadora lhe ofereça algum objeto para brincar.

Além da oportunidade de estabelecer uma relação direta com os objetos e materiais, as crianças poderão escolher o brinquedo que mais lhe interessa, não sendo obrigadas a brincar com que a educadora escolhe e lhe oferece. Assim, a criança passa a substituir o tempo de espera pelo de ação, escolha e aprendizagem.

O olhar mais atento das educadoras para com as crianças contribui para que possam planejar e ao mesmo tempo reorganizar um espaço, de forma a atender as necessidades e desejos dos pequenininhos. Esse novo lugar em que as crianças são consideradas sujeitos capazes, inteligentes e ativos, contribui também para o desenvolvimento da sua autodisciplina.

Em várias situações, as educadoras ao não realizar as ações pelas crianças, mas permitirem que elas as realizem sozinhas; passaram a dar oportunidade para que as crianças se tornassem independentes e capazes.

Outra situação que demonstra o novo lugar ocupado pelas crianças é a atividade de higiene pessoal, que muitas vezes é feita pela educadora. É fundamental que seja propiciado um ambiente em que a criança realize essas atividades de forma autônoma, não realizando para ela e sim com ela. Essa atitude requer que a educadora respeite o tempo da criança, ao realizar a atividade de higiene, pois como aprendizes, possuem outro ritmo que precisa ser respeitado pelos adultos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espaço da Educação Infantil, desde que planejado intencionalmente, pode ser um grande aliado da educadora no seu fazer pedagógico e pode contribuir para que as crianças se apropriem das formas mais elaboradas da cultura, desenvolvendo as qualidades humanas.

Pensar no espaço para a criança pequena significa colocá-la como protagonista do processo educativo, como um sujeito de direitos e de desejos, que se apropria e constrói cultura.

Mesmo vivendo experiências em cidades diferentes, as angústias e inquietações são muito próximas. Resgatamos os diferentes olhares e ampliamos nosso referencial partindo da constatação da importância de uma teoria que subsidie a prática. Somente com reflexões constantes, leituras e aprimoramento, as práticas pedagógicas na escola da infância poderão tornar-se humanizadoras.

Considerando a necessidade de rever a concepção de criança presente nas creches e escolas de Educação Infantil, assim como a forma de organização dos espaços para as crianças, buscou-se contribuir para orientar o planejamento intencional dos espaços, possibilitando um novo olhar, bem como uma nova concepção de educação de crianças de zero a seis anos.

Repensar espaço na Educação Infantil é repensar o desenvolvimento infantil em uma perspectiva direcionada a apropriação dos objetos da cultura construídos historicamente, em um movimento em que as habilidades humanas vão sendo construídas de forma dialógica entre o homem e social. Sendo um processo social a necessidade de mediadores é fundamental, o que incumbe educadores como peça chave.

Assim, a escola de Educação Infantil como espaço de múltiplas dimensões, sentimentos, afetos e culturas, precisa se organizar em consonância com as necessidades das crianças possibilitando a abertura de outros “espaços” em que as múltiplas linguagens infantis ali se desenvolvam.

Evidenciamos, portanto, a importância da organização do espaço como elemento mediador da criança com a cultura, bem como a relevância do professor como aquele que organiza intencionalmente o espaço, promovendo o máximo desenvolvimento das crianças.

REFERÊNCIAS

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BARROS, F. C. O. M. de. Cadê o brincar? Da Educação Infantil para o Ensino

Fundamental. 2008. 220f. Dissertação (mestrado em Psicologia) – Faculdade de Ciências e letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, SP, 2008.

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LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Tradução Manuel Dias Duarte. 3 ed.

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SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 6. ed. Campinas:

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(mestrado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, SP, 2009

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Artmed, 2005.

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