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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

JOELMA PINTO DE SOUSA

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL INDÍGENA: Os Tapuia Paiacu do município de Apodi/RN

MOSSORÓ-RN

2019

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JOELMA PINTO DE SOUSA

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL INDÍGENA: Os Tapuia Paiacu do município de Apodi/RN

Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) como requisito para obtenção do título de Licenciada em Educação do Campo com Habilitação em Ciências Humanas.

Orientadora: Prof.ª. Dr.ª. Gerciane Maria da Costa Oliveira.

MOSSORÓ-RN

2019

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© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n° 9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam

devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da

Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado

às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.

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JOELMA PINTO DE SOUSA

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL INDÍGENA: Os Tapuia Paiacu do município de Apodi/RN

Monografia apresentada a Universidade

Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA)

como requisito para obtenção do título de

Licenciada em Educação do Campo com

Habilitação em Ciências Humanas.

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AGRADECIMENTOS

Com a conclusão desta monografia, não posso deixar de agradecer a algumas pessoas que me ajudaram direta ou indiretamente nesta jornada tão importante para minha vida.

Primeiramente quero agradecer a Deus, por estar presente em todos os momentos da minha vida, por ter me dado sabedoria, saúde e disposição para alcançar os meus objetivos.

Agradeço a minha família meu pai Sebastião Francisco, minha mãe Maria Raimunda, meu esposo Francisco das Chagas e meus irmãos, por estarem sempre ao meu lado me dando apoio e força.

A minha professora e orientadora Drª. Gerciane Maria da Costa Oliveira pelo apoio, orientação no período dessa trajetória.

Aqui presto também o meu agradecimento à família LEDOC (Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo), a todos docentes do curso, aos colegas de turma, os funcionários da UFERSA e os amigos que fiz ao longo da minha vida acadêmica, por me proporcionado momentos de lutas, desafios e conquistas, pelas experiências e conhecimentos adquiridos ao longo dessa jornada e pelo crescimento pessoal e acadêmico.

Ao professor Dr. Emerson Augusto de Medeiros, pelo incentivo e motivação que dava em sala de aula, estava sempre nos apoiando nas dificuldades a não desistir de buscar os nossos sonhos.

As minhas amigas Jocasta Maia e Silva e Marcia Gabriela Costa, que ajudaram e contribuíram para desenvolvimento desse trabalho.

À Lúcia Maria Tavares, pela sua contribuição.

Aos docentes da banca examinadora Ms. Maria Mônica de Freitas e Drª. Janaiky Pereira de Almeida, pelas colaborações e informações, foram fundamentais para minha pesquisa.

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Agradeço ainda ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), considerando que este estudo que se inscreve no projeto “Para além das fazendas em pedra e cal: um estudo sobre o patrimônio rural (ambiental e cultural) no Semiárido Nordestino (CNPq/Universal 2016)".

Durante a minha vida acadêmica, muitas pessoas se fizeram presente em minha vida, e

foram essenciais para eu ter chegado até o fim. A palavra é GRATIDÃO a todos.

(7)

“Patrimônio é tudo o que criamos, valorizamos e queremos preservar: são os monumentos e obras de arte, e também as festas, músicas e danças, os folguedos e as comidas, os saberes, fazeres e falares. Tudo enfim que produzimos com as mãos, as ideias e a fantasia”.

Cecília Londres (2001).

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RESUMO

O presente trabalho se propõe a trazer uma análise sobre o patrimônio cultural imaterial indígena dos Tapuia Paiacu do Município de Apodi, estado do Rio Grande do Norte. Os Tapuia Paiacu são originários do grupo Tarairiú, disseminados por todo o Sertão Nordestino, no período do Brasil Colonial. Foram estes índios os primeiros habitantes do Vale do Apodi, vivendo as margens da lagoa, nos rios e na chapada (PACHECO; BAUMANN, 2006).

Entende-se por patrimônio cultural imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – assim como, os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como fazendo parte integrante de seu patrimônio cultural” (IEPÉ, 2006 p.10). Na pesquisa em questão verificou-se como espaço fundamental de observação o Centro Histórico – Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi e o Museu do Índio Luiza Cantofa, no qual é possível encontrar peças líticas e um acervo histórico de informações que mostram as manifestações culturais e os modos de vida da comunidade Indígena Tapuias Paiacus no município de Apodi. Para a composição de dados da pesquisa foram empregadas pesquisas bibliográficas, pesquisa de campo por meio de roteiros de observação e entrevista semiestruturada.

Palavras-chave: Patrimônio imaterial. Histórico-cultural. Indígena. Tapuia Paiacu.

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ABSTRACT

The present work proposes to bring an analysis on the indigenous intangible cultural heritage of the Tapuia Paiacu of the Municipality of Apodi, state of Rio Grande do Norte. The Tapuia Paiacu originate from the Tarairiú group, spread throughout the Northeastern Sertão, in the period of Colonial Brazil. These Indians were the first inhabitants of the Apodi Valley, living on the banks of the lagoon, in the rivers and on the plateau (PACHECO; BAUMANN, 2006).

Intangible cultural heritage is understood as “the practices, representations, expressions, knowledge and techniques - as well as the instruments, objects, artifacts and cultural spaces associated with them - that communities, groups and, in some cases, individuals recognize as being an integral part of their cultural heritage ”(IEPÉ, 2006 p.10). In the research in question, the Historical Center - Cultural Tapuias Paiacus of Lagoa do Apodi and the Museu do Índio Luiza Cantofa were found as a fundamental observation space, in which it is possible to find lithic pieces and a historical collection of information that show cultural and cultural manifestations. the ways of life of the Tapuias Paiacus Indigenous community in the municipality of Apodi. For the composition of the research data, bibliographic researches, field research through observation scripts and semi-structured interviews were used.

Keywords: Intangible Heritage. Historical-cultural. Indigenous. Tapuia Paiacu.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Noção de patrimônio cultural ... 17

Figura 2 – Arte dos índios Tupi. ... 28

Figura 3 – Arte dos índios Tapuia. ... 29

Figura 4 – Dança Tapuia arte do holandês Albert Eckhout ... 30

Figura 5 – Representação da abordagem do quadro 2. ... 34

Figura 6 – Localização geográfica da tribo dos Paiacu no RN. ... 35

Figura 7 – Pinturas rupestres do Lajedo de Soledade. ... 36

Figura 8 – Mapa da localização do município de Apodi/RN. ... 45

Figura 9 – Centro Histórico-Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi. ... 46

Figura 10 – Novo local do CHCTPLA. ... 46

Figura 11 – Mulher guerreira indígena Lúcia Tavares. ... 51

Figura 12 – Peças expostas na “Feira de Artesanato – Divinas Mãos” em Apodi/RN. ... 52

Figura 13 – Desfile 7 de Setembro (étnicos do Apodi/RN). ... 53

Figura 14 – Autoafirmação dos Tapuia Paiacu de Apodi/RN. ... 54

Figura 15 – Famílias indígenas auto afirmadas. ... 55

(11)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Localização geográfica onde aparecem citações bibliográficas das nações

Potiguares nos atuais municípios. ... 33

Quadro 2 – Localização geográfica onde aparecem citações bibliográficas das nações Tapuia nos atuais municípios. ... 33

Quadro 3 – Diversidade cultural dos Tapuia Paiacu. ... 42

Quadro 4 – Informações sobre os artefatos do Centro Histórico. ... 48

Quadro 5 – Acervos de peças artesanais do Centro Histórico. ... 49

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CE – Ceará

CHCTPLA – Centro Histórico – Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi CIMI – Conselho Indígena Missionário

FUNAI – Fundação Nacional do Índio

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONGs – Organizações não Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PB – Paraíba

PNPI – Programa Nacional do Patrimônio Imaterial RN – Rio Grande do Norte

SPI – Serviço de Proteção ao Índio

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL INDÍGENA: QUESTÕES TEÓRICAS . 16 1.1 Conceitos e definições ... 16

1.2 Proteções e valorizações ... 20

1.3 Contextualização histórica do povo indígena no Brasil: Tupi e Tapuia ... 23

1.3.1 Cenário indígena do Rio Grande do Norte e Apodi ... 30

1.3.2 Diversidade Cultural Indígena: Tapuia Paiacu do município de Apodi/RN ... 38

2 PERCURSO METODOLÓGICO ... 43

3 ANÁLISE DO ESTUDO: UM OLHAR SOBRE O CENTRO HISTÓRICO- CULTURAL TAPUIAS PAIACUS DA LAGOA DO APODI (CHCTPLA) ... 45

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 57

REFERÊNCIAS BIIBLIOGRÁFICAS ... 59

APÊNDICE A ... 63

ANEXO A ... 65

ANEXO B ... 69

(14)

INTRODUÇÃO

Este trabalho de pesquisa objetiva pensar sobre o conjunto de expressões que caracterizam o patrimônio cultural imaterial indígena da comunidade Tapuia Paiacu do município de Apodi, estado do Rio Grande do Norte, olhando principalmente para a sua dimensão imaterial e sua representação no município. Como objetivos secundários, procurou- se compreender de que modo se deu a participação da população indígena Tapuia Paiacu na formação do município de Apodi/RN, analisando os dados históricos que tratam da cultura indígena Tapuia Paiacu local, entendendo o papel do Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi – CHCTPLA e do museu do Índio Luiza Cantofa, trabalhando no reconhecimento e valorização do patrimônio cultural imaterial indígena dos Tapuia Paiacu.

Como problemática, procurou-se compreender como o patrimônio cultural imaterial dos Tapuia Paiacu se apresenta no município de Apodi.

O patrimônio cultural imaterial é definido pelas tradições e expressões orais, inserindo a língua como veículo do patrimônio cultural imaterial, dança, música e artes da interpretação convencionais, os hábitos sociais, os rituais e comemorações festivas, os conhecimentos e os usos relacionados à natureza e ao mundo, e os métodos artesanais tradicionais (IEPÉ, 2006).

Esta foi uma das razões que colaboraram para que despertasse na pesquisadora o interesse pelos aspectos simbólicos do lugar, principalmente quanto as suas questões imateriais.

A começar disto, se teve um aprofundamento da temática “patrimônio cultural imaterial indígena dos Tapuia Paiacu”, focando principalmente o Município de Apodi/RN no sentido de descobrir os motivos e a relevância da permanência de algumas expressões culturais como costumes, características físicas, saúde, linguagem, alimentação, e crenças que marcam as tribos indígenas que habitavam o território Potiguar, em evidência a comunidade local, podendo contribuir para o fortalecimento e a valorização de sua identidade. Destacando a importância do Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi (CHCTPLA), como espaço de afirmação da cultura indígena.

Baseando-se em Cavignac (2003), os traços indígenas se apresentam na nossa cultura cotidiana de modo frequente, e encontramos ferramentas que faz alusão a existência indígena, na linguagem, na vida diária e mesmo na designação dos norte-rio-grandenses que, quando não são chamados de “PapaJerimum”, adquirem a nomenclatura de “Potiguara” 1 , relembrando os primeiros habitantes da costa.

1

Cavignac (2003, p.70) "Potiguara", de origem tupi designa o comedor de camarão (Ferreira s.d.: 1123).

(15)

No município de Apodi, também não se pode negar a forte ligação que há entre o próprio nome do lugar com o nome “Pody”, associado justamente ao nome do rio na língua falada pela tribo que habitava às suas margens. Palavras cotidianas que têm herança cultural bastante associada ao contexto do Tapuia Paiacu, como a palavra que identifica um pássaro da região: o pacu. Também se tem nomes de peixes, como: o piau, o cará, a traíra e a curimatã. Palavras estas que têm um vínculo muito estreito com as origens indígenas (FREITAS, 2018, p.117).

Diante deste contexto, tem-se em Apodi, o CHCTPLA, um espaço que representa a identidade e a memória indígena. O mesmo possui um conjunto expressivo de peças líticas de populações que povoaram a região do município. Ou seja, o local é uma boa opção para os estudiosos que buscam mais aprofundamento quanto aos conhecimentos acerca do patrimônio material/imaterial e histórico que expressa fatores da formação cultural dos povos que se constituiu no semiárido do Nordeste, onde hoje é a região do médio e alto oeste potiguar.

Quanto aos recursos metodológicos, utilizamos pesquisas bibliográficas, descritiva, qualitativa e pesquisas de campo, através de uma entrevista semiestruturada e visita de observação ao Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi – CHCTPLA e ao museu do Índio Luiza Cantofa. Na ocasião, foi possível coletar dados por imagens e conhecer objetos pertencentes a essa cultura, possibilitando uma maior compreensão do contexto histórico-cultural dos povos indígenas Tapuia Paiacu.

O trabalho escrito se inicia com a introdução, na qual mostra a temática abordada acerca da compreensão do contexto histórico-cultural dos povos indígenas Tapuia Paiacu, e na sequência, se divide em três capítulos. O primeiro capítulo é composto pelo referencial teórico, no qual apresenta: as reflexões sobre os conceitos e definições acerca do assunto abordado; a proteção e valorização do tema; e a contextualização histórica do povo indígena no Brasil. Em seguida, o segundo capítulo trata do desenvolvimento metodológico, expondo os instrumentos empregados para a execução do trabalho de pesquisa. O terceiro capítulo segue com as análises e interpretação dos dados coletados, se tratando das reflexões acerca dos resultados. Logo após, são apresentadas as considerações finais, as referências utilizadas como apoio, os anexos e apêndices da pesquisa.

Nessa perspectiva, a pesquisa propõe, por fim, uma reflexão sobre a importância do

reconhecimento e valorização da cultura desses povos, na sua própria representação simbólica

da sua identidade, cultura, história e memória na sociedade apodiense.

(16)

1 PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL INDÍGENA: QUESTÕES TEÓRICAS

O primeiro capítulo tem a finalidade de abordar um breve contexto histórico, mostrando os principais conceitos e definições; as instituições de proteção e valorização, relacionadas ao patrimônio cultural imaterial indígena; e apresentando um contexto histórico dos primeiros habitantes do Brasil, os indígenas das nações Tupi e Tapuia, assim como, fazendo relação dos europeus que chegaram ao Brasil com os povos que aqui já viviam, neste caso, os índios das nações Tupi e Tapuia.

1.1 Conceitos e definições

A concepção de patrimônio cultural, para Pereira (2012), refere-se à riqueza produzida e repassada de geração para geração, como uma herança que influencia a identidade dos sujeitos e conjuntos sociais, porém, esse pensamento pode ser equivalente à compreensão que se deseja valorizar. “As definições podem partir de diferentes relações, por exemplo, a relação afetiva, a econômica, a ambiental, a cultural, entre outras” (PEREIRA, 2012, p. 7).

Na França, no início da década de 1980, surge o conceito de patrimônio cultural (CALCO, 1995 apud PÉREZ, 2009) e que redefine as concepções de cultura popular, cultura tradicional e folclore. De acordo com Paiva e Cunha (2018, p. 21), os patrimônios culturais, foram fruto da Revolução Francesa, com a finalidade de

Construir referenciais comuns a todos que habitava um mesmo território, unir as pessoas em torno de pretensos interesses e tradições comuns, e facilitando o processo de dominação a partir da imposição de uma língua nacional, de costumes nacionais, de uma história nacional, que se sobrepõe às memórias particulares e regionais.

Podemos definir o patrimônio cultural como uma herança do passado e como uma

representação simbólica das identidades dos grupos sociais. Transmitido através de um povo

formado pelo conjunto dos fazeres, saberes, expressões, práticas e seus produtos, que

remetem à história, à memória e à identidade desse povo (BRAYNER, 2007). Na visão

antropológica (Figura 1), a noção de patrimônio cultural não é bem a noção de patrimônio e

nem a de cultura.

(17)

Figura 1 – Noção de patrimônio cultural

Fonte: PÉREZ (2009, p. 152).

O “patrimônio” é uma noção que define todos os recursos que se herdam bens mobiliários e imobiliários, capitais e outros (PÉREZ, 2009, p. 140). O principal objetivo do patrimônio é garantir a sobrevivência dos grupos humanos e também ligar as gerações com as próximas. Assim, pode-se considerar que o patrimônio, pode ser acumulado, modificado ou desaparecido de uma geração a outra (Rodríguez Becerra, 1997, apud PÉREZ, 2009).

O termo patrimônio supõe, portanto, uma relação com o tempo e seu transcurso. Em outras palavras, refletir sobre o patrimônio significa, igualmente, pensar nas formas sociais de culturalização do tempo, próprias a toda e qualquer sociedade humana (GUIMARÃES, 2012, p. 99, apud NOGUEIRA, 2014, p.51).

O termo patrimônio é compreendido conforme Uzeda (2010) como tudo seja uma herança que nos ficou espolia por gerações passadas, e que seja vista com importância de conservar para transmitir às futuras gerações.

No campo cultural define-se “linguagem, a produção artística e científica, a música, o sistema de crenças, a culinária, as festas, o vestuário, as normas sociais e de comportamento”

(UZEDA, 2010, p.15). Desta forma, a cultura é vista como um conjunto de conhecimentos, práticas, costumes, valores espirituais, praticados e aprimorados pelos sujeitos de um mesmo grupo, no qual, tem uma relação de identidade e memória entre eles.

Na concepção antropológica, a cultura apresenta dois pontos de vista: no primeiro, a

cultura não deve ser entendida como um modelo sólido de conduta-usos, hábitos e

comportamentos, mas sim, como um composto sistema de domínio-plano, receitas, regras e

instruções. Já no segundo, a ideia consiste devido o homem ser o animal que depende mais do

comando extragenéticos que determina as suas atitudes (GEERTZ, 1989 apud NUNES,

2011).

(18)

Pode-se notar que o aspecto originário da significação do termo cultura diz respeito á intervenção do homem para modificar o ambiente natural, sendo que, já nos tempos clássicos, foi agregada a este a compreensão de refinamento progressivo de dita intervenção, incluindo aí o interesse pelas artes, pela ciência, filosofia, ética, enfim, por tudo o que o homem vem produzindo e que o induz ao aprimoramento integral, a partir de práticas vinculadas a elevados valores, o que era sintetizado pela expressão paidéia, cuja intelecção aproximada resulta do somatório depurado dos conceitos de civilização, cultura, tradição, literatura e educação. Mas a paideia não era um fim em si, saliente-se; buscava atingir a areté, suja tradução seria ‘virtude, na sua acepção não atenuada pelo uso puramente moral, e como expressão do mais alto ideal cavaleiresco unido a uma conduta cortês e distinta e ao heroísmo guerreiro (CUNHA FILHO, 2004, p. 49 apud RABELO, 2010, p.12-13)

No decorrer da história, todavia, estes elementos que fundamentavam o conceito de cultura, encontram-se envolvidos em princípios sociais, e se modificaram de maneira que os antropólogos passaram a considera-la, puramente verdadeira, como instrumento da ação humana (RABELO, 2010). Conforme Cunha (2009, p.273) apud Konig; Becker (2017, p. 8)

As culturas constituem para a humanidade um patrimônio de diversidade, no sentido de apresentarem soluções de organização do pensamento e de exploração de um meio que é, ao mesmo tempo, social e natural. (...). Quando se fala do valor da sociodiversidade, não se está falando de traços culturais e sim de processos. Para mantê-los em andamento, o que se tem de garantir é a sobrevivência das sociedades que os produzem.

Para Nunes (2011), a cultura pode ser entendida como um conjunto de representações simbólicas com significações partilhadas por sujeitos de determinado agrupamento do meio social, onde as razões e as significâncias estão inseridas nas suas atitudes e na relação entre elas.

A cultura como espelho de símbolos e códigos do indivíduo e/ou do grupo está propensa a todas as influências e adaptações desse contexto, é possível observar que comportamentos, hábitos, costumes, crenças, modo de vida e necessidades variam e adaptam se às demandas; constata-se, com isso, a dinamicidade da cultura como reflexo das alterações do meio. Acrescenta-se ainda que exista contemporaneamente determinado aceleramento desse processo de alteração que é provocado pelos meios de comunicação, tecnologias e globalização (NUNES, 2011, p. 92).

Neste sentido, a cultura pode ser compreendida como um conjunto de elementos simbólicos com significados e representações inerentes a um grupo social que pode ou não passar por modificações ao longo do tempo, dependendo da valorização dada pelas gerações em preservar ou deixar a serviço do tempo.

Cultura abrange a língua e as diferentes formas de linguagem e de comunicação, os

usos e costumes quotidianos, a religião, os símbolos comunitários, as formas de

apreensão e de transmissão de conhecimentos, as formas de cultivo da terra e do mar

(19)

e as formas de transformação dos produtos daí extraídos, as formas de organização política, o meio ambiente enquanto alvo de ação humanizadora. Cultura significa humanidade, assim como cada homem ou mulher é, antes do mais, conformado pela cultura em que nasce e se desenvolve (JORGE MIRANDA, 2006, p. 1 apud RABELO, 2010, P.13).

Entende-se que os indivíduos fazem parte de grupos sociais diferentes, onde, pode ou não ser do mesmo lugar, como grupo das mulheres, da igreja, arte, dos músicos, dos comerciantes e outros. Portanto, cada indivíduo no decorrer da sua vida constrói sua própria representação simbólica da sua identidade, da sua cultura e da sua história. Ou seja, são os valores, os significados atribuídos pelas pessoas a objetos, lugares ou práticas culturais que os tornam patrimônio de uma coletividade (ou patrimônio coletivo) (BRAYNER, 2007).

A cultura e a memória são elementos que fazem com que as pessoas se identifiquem umas com as outras, ou seja, reconheçam que têm e partilham vários traços em comum. Nesse sentido, pode-se falar da identidade cultural de um grupo social (BRAYNER, 2007, p. 07).

Para Brayner (2007), a identidade do indivíduo é construída baseada em vários aspectos como “sua história de vida, a história de sua família, o lugar de onde veio e onde mora, o jeito como cria seus filhos, fala e se expressa, enfim, tudo aquilo que a torna única e diferente das demais” (BRAYNER, 2007, p. 06).

A ideia de patrimônio cultural, segundo Rabelo (2010, p. 17) “está ligada à identidade dos povos, vinculada ao sentido de pertença e multiplicidade de elementos formadores da sociedade humana e à preservação de sua memória”. Segundo Iepé (2006, p. 10) o patrimônio cultural imaterial é definido como

As práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas – assim como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, indivíduos reconhecem como fazendo parte integrante de seu patrimônio cultural. Esse patrimônio cultural imaterial – que se transmite de geração em geração – é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu entorno, de sua interação com a natureza e sua história, e lhes fornece um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo assim a promover o respeito pela diversidade cultural e a criatividade humana.

É definido também pelas tradições e expressões orais, inserindo a língua como veículo

do patrimônio cultural imaterial, dança, música e artes da interpretação convencionais, os

hábitos sociais, os rituais e comemorações festivas, os conhecimentos e os usos relacionados à

natureza e ao mundo, e os métodos artesanais tradicionais (IEPÉ, 2006).

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Os povos indígenas trazem uma importante contribuição ao incremento da diversidade cultural brasileira. A população indígena no Brasil é de aproximadamente 817 mil pessoas (IBGE, 2010), organizadas em 270 etnias falantes de 180 línguas indígenas distintas.

Grupos indígenas no Brasil, sobretudo os de contato mais antigo com a população neobrasileira, foram induzidos a falar línguas novas, primeiro a língua geral, derivada do tupi e propagada pelos jesuítas, mais tarde o português por imposição expressa do Direito dos Índios Pombalino. Processos de discriminação contra as línguas indígenas foram usados nas escolas salesianas contemporâneas. São conhecidas ainda as situações, impostas pelo desprezo dos regionais pelos

‘caboclos’ ou ‘bugres’, em que os índios se envergonhavam do uso de suas línguas.

A interferência nas culturas tradicionais atingiu também a religião, os costumes matrimoniais, a organização política, a tecnologia, os hábitos alimentares, estes já afetados pela de pauperização dos territórios de caça e pesca. A resistência indígena a essa interferência manifestou-se no apego a alguns traços culturais que, enfatizados, preservavam a identidade do grupo (CUNHA, 2009, p. 251 apud KONIG; BECKER, 2017, p. 8).

Há uma diferença de caraterísticas entre os grupos indígenas no Brasil, ou seja, o povo indígena tem o jeito de falar, o hábito de pinturas no corpo ou adereços, a maneira de construir sua moradia 2 , as formas de festejarem (danças, cantos, jogos e entre outros), e narrações de seus mitos, destinadas aos jovens mais novos.

1.2 Proteções e valorizações

Na Conferência do México, no ano de 1985, as políticas culturais, foram baseadas no conceito amplo de cultura. Paiva e Cunha (2018, p. 22) “esboça o princípio de uma política cultural fundada no reconhecimento da diversidade cultural e das identidades culturais”.

Segundo os mesmos autores, “a Convenção de Paris sobre a Salvaguarda do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, datada de 1972, foi um importante marco na legislação internacional sobre o patrimônio cultural” (PAIVA e CUNHA, 2018, p. 22).

Quanto ao patrimônio cultural imaterial, em 2003, foi aprovada a Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial e cujo objeto é a proteção da sociodiversidade, entendida por ela como diversidade cultural. A citada convenção conceitua patrimônio imaterial como as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas - junto com os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhe são inerentes - que as comunidades, os grupos, e em alguns casos os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.

(PAIVA e CUNHA, 2018, p. 22).

2

As moradias dos índios podem ser construídas de palhas (ocas) e de alvenaria (casas).

(21)

O reconhecimento e a valorização através de uma política efetiva voltada também para a salvaguarda de práticas e manifestações culturais de povos indígenas fazem parte da história recente da política federal de patrimônio cultural brasileira (AMARAL, 2017).

Desta Forma, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN gera uma política que passou a ser chamada de “patrimônio imaterial”. Então surge, como marco legal de uma nova política do patrimônio cultural imaterial o Decreto nº 3551, de 04 de agosto de 2000. Por meio deste Decreto foi criado o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial – PNPI. Este programa é uma forma do governo federal dar suporte e incentivar, através da formação de parcerias, “projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção do patrimônio cultural brasileiro” BRAYNER (2007, p. 23).

Os objetivos do PNPI são o de implementar uma política nacional de inventário, registro e salvaguarda de bens culturais de natureza imaterial; contribuir para a preservação da diversidade cultural do país e para a divulgação de informações sobre o patrimônio cultural brasileiro para toda a sociedade (BRAYNER, 2007, p.

23).

Outra ferramenta de que se utiliza para a proteção do patrimônio cultural é o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. Segundo Pereira (2012, p. 13), o principal ponto desse registro é a inscrição do bem em um dos quatro Livros estabelecidos:

Livro de Registro dos Saberes – para a inscrição de conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades; Livro de Registro das Celebrações – para rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; Livro de Registro das Formas de Expressão – para o registro das manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; e Livro de Registro dos Lugares – destinado à inscrição de espaços como mercados, feiras, praças e santuários, onde se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas (PEREIRA, 2012, p. 13-14).

A inscrição de bens nos livros de registro do IPHAN colaborou desta forma, para a valorização e o reconhecimento da função de certa expressão cultural na composição da cultura no Brasil. Esse feito colaborou ainda para incentivar o comprometimento da sociedade na obrigação de proteger essas riquezas, de modo a, gerar situações com finalidade de dar suporte real na sua proteção por parte de entidades públicas e privadas, em âmbito federal, estadual e municipal, de organizações internacionais e, mais ainda, de cada pessoa (BRAYNER, 2007).

A Constituição Federal de 1988, através do artigo 216, apresenta o patrimônio material

e imaterial brasileiro, no qual relata sobre os bens de natureza material e imaterial, tomados

(22)

individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, onde se incluem:

I – as formas de expressão;

II – os modos de criar, fazer e viver;

III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;

IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;

V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988, art. 216).

Na mesma legislação, a definição de patrimônio engloba construções arquitetônicas, urbanísticas e artísticas de alto valor (patrimônio material), assim como, as expressões de natureza imaterial. Deste modo, o patrimônio imaterial refere-se às expressões culturais incluindo visões de mundo, saberes, costumes, relações sociais e representativas, e experiências referentes às identidades dos grupos sociais que constituem a sociedade brasileira (VIEIRA, 2016).

A carta constitucional brasileira de 1988 propõe o reconhecimento e uma recompensação histórica a que as comunidades têm direito, respeitando deste modo, o lugar do outro. Assegurou ainda que as expressões indígenas sejam respeitadas de acordo com as atribuições de valores e expressões singulares de cada sujeito e grupo social (XXVII simpósio Nacional de História, 2013).

Segundo Baniwa (2006), a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), reconhece a diversidade cultural do mundo como patrimônio comum da humanidade. Com relação à diversidade cultural indígena ou das populações tradicionais, ou tribais, a mesma é vista como patrimônio da humanidade pela “Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ratificada (reconhecida como Lei do país) pelo Brasil em 2003” (BANIWA, 2006, p. 49).

Com isto, a UNESCO impulsionou os estados nacionais a exercerem práxis mais respeitosas com as populações indígenas que habitam em seus locais. Desta forma, a UNESCO estabeleceu algumas metas:

A salvaguarda do patrimônio material e imaterial, a promoção da educação

multilingüe e multicultural, tanto formal como informal assim como a promoção dos

direitos culturais, a definição de mecanismos de mediação que facilitem a

participação dos povos indígenas nos processos de tomada de decisão, a valorização

dos sistemas de conhecimento locais e indígenas e sua transmissão entre gerações, o

(23)

fortalecimento dos povos indígenas através de parcerias eqüitativas com parceiros não-indígenas, o suporte à criação de corpos consultivos nacionais e de redes de intercâmbio entre e com povos indígenas (IEPÉ, 2006, p. 61-62).

Essas metas têm como objetivo melhorar a qualidade das políticas públicas já criadas pelos estados nacionais que estão relacionadas aos grupos indígenas. A recente estratégia da UNESCO aconselha, em contrapartida, para garantir o fortalecimento das populações indígenas, os estados têm que, estabelecer trabalhos em parcerias com instituições não governamentais (ONGs) e com instituições representativas das populações indígenas (IEPÉ, 2006) . Com o decorrer dos anos, a política indigenista 3 no Brasil foi se fortalecendo, e, depois da proclamação da República, teve importantes marcos, como:

A criação do Serviço de Proteção aos Índios – SPI; a constitucionalização do direito indígena; a criação da Fundação Nacional do Índio – FUNAI; a elaboração do Estatuto do Índio e o rompimento com a política integracionista na Constituição Federal de 1988 (LEDESMA; RODRIGUES, 2016, p. 116).

Segundo Ledesma e Rodrigues (2016, p. 116), “a FUNAI, pessoa jurídica de direito público, constituída sob forma de autarquia federal, foi criada com a finalidade de atender os interesses dos indígenas e tutelá-los”. A FUNAI foi criada no lugar do Serviço de Proteção aos Índios. A mesma é uma entidade do governo brasileiro tem como função executar a política indigenista no território nacional; proteger o patrimônio indígena; estudar as populações indígenas que vivem no território brasileiro; assegurar, zelar e delimitar as terras historicamente povoadas pelos indígenas (LEDESMA; RODRIGUES, 2016).

1.3 Contextualização histórica do povo indígena no Brasil: Tupi e Tapuia

Compreender a organização social, cultural, política e econômica dos Tupi e Tapuia é essencial para se estabelecer um cenário histórico desses povos indígenas, principalmente quando se trata dos registros, relatos histórico-culturais e diversidade cultural dos indígenas Tapuia Paiacu no Rio Grande do Norte. Segundo Baniwa (2006, p. 47), os povos indígenas que:

Representam culturas, línguas, conhecimentos e crenças únicas, e sua contribuição ao patrimônio mundial – na arte, na música, nas tecnologias, nas medicinas e em outras riquezas culturais – é incalculável. Eles configuram uma enorme diversidade

3

Chamamos de política indigenista as iniciativas formuladas pelas diferentes esferas do Estado a respeito das

populações indígenas. A política indigenista é orientada pelo indígenismo, conjunto de princípios estabelecidos a

partir do contato dos povos indígenas com a sociedade nacional (MONTANARI JÚNIOR, 2013, p. 33).

(24)

cultural, uma vez que vivem em espaços geográficos, sociais e políticos sumamente diferentes. A sua diversidade, a história de cada um e o contexto em que vivem criam dificuldades para enquadrá-los em uma definição única. Eles mesmos, em geral, não aceitam as tentativas exteriores de retratá-los e defendem como um princípio fundamental o direito de se auto definirem.

Do ponto de vista histórico, os indígenas foram os primeiros habitantes no Brasil. Eles foram encontrados no litoral pela frota comandada pelo navegador português Pedro Alvares Cabral, no ano 1500, com a intenção de explorar a terra brasileira.

Nesses anos iniciais, entre 1500 e 1535, a principal atividade econômica foi à extração do pau-brasil, obtida principalmente mediante troca com os índios. As árvores não cresciam juntas, em grandes áreas, mas encontravam-se dispersas. À medida que a madeira foi-se esgotando no litoral, os europeus passaram a recorrer aos índios para obtê-la. O trabalho coletivo, especialmente a derrubada de árvores, era uma tarefa comum na sociedade tupinambá. Assim, o corte do pau-brasil podia integrar-se com relativa facilidade aos padrões tradicionais da vida indígena. Os índios forneciam a madeira e, em menor escala, farinha de mandioca, trocadas por peças de tecido, facas, canivetes e quinquilharias, objetos de pouco valor para os portugueses (FAUSTO. 1996. p. 23).

Para Melatti (1980) quando os europeus chegaram ao litoral brasileiro, encontraram uma nação um tanto semelhante nas definições linguísticas e culturais. Os linguistas organizam as línguas indígenas do Brasil em três troncos: Tupi, Macro-Jê e Aruaque. Porém, existem algumas línguas que não se enquadram em nenhum desses troncos linguísticos (BANIWA, 2006, p. 43). Os Tupi-Guarani apresentam cultura e linguagem semelhantes.

Apesar da unidade linguística e cultural que permite classifica-los numa só macroetnia, oposta globalmente aos outros povos designados pelos portugueses como Tapuias (ou inimigos), os índios do tronco tupi não puderam jamais unificar- se numa organização política que lhes permitisse atuar conjugadamente (RIBEIRO, 1995, p. 32).

Neste caso, os povos indígenas foram divididos em dois grandes grupos que

subdividem essa população: os Tupi-Guarani e os tapuias (SANTOS JÚNIOR, 2008). De

acordo com Fausto (1996), os tupis-guaranis expandiam-se por uma boa parte da costa

brasileira, tinham domínio à faixa litorânea, do Norte até Cananéia, no Sul do atual Estado de

São Paulo (encontrado no interior da região sul). Além dessa localização geográfica

diversificada dos Tupi e dos Guarani, pronunciamos simultaneamente Tupi-Guarani, dada a

homogeneidade cultural e linguística (SANTOS JÚNIOR, 2008). E já, os Tapuia, segundo

Santos Júnior (2008, p. 7), os índios do interior (abrangia desde a margem oeste do Rio São

Francisco, na Bahia, até os sertões de vários estados nordestinos). Eram tidos ainda por alguns

(25)

cronistas como "bárbaros", por causa do repúdio sentido pelo colonizador português diante dos costumes culturais dos índios do interior.

Essa visão do índio cruel, bárbaro, canibal, animal selvagem, preguiçoso, traiçoeiro e tantos outros adjetivos e denominações negativos, surgiu desde a chegada dos portugueses, através principalmente do seguimento econômico, que queria ver os índios totalmente extintos para se apossarem de suas terras para fins econômicos. As denominações e os adjetivos eram para justificar suas práticas de massacre, como autodefesa e defesa dos interesses da Coroa. Ainda hoje essa visão continua sendo sustentada por grupos econômicos que têm interesse pelas terras indígenas e pelos recursos naturais nelas existentes. Os índios são taxados por esses grupos como empecilhos ao desenvolvimento econômico do país, pelo simples fato de não aceitarem se submeter à exploração injusta do mercado capitalista, uma vez que são de culturas igualitárias e não cumulativistas. Dessa visão resulta todo o tipo de perseguição e violência contra os povos indígenas, principalmente contra suas lideranças que atuam na defesa de seus direitos. (BANIWA, 2006, p. 35-36).

Dessa maneira, existiam grupos indígenas que povoavam os sertões brasileiros e eram nomeados de Tapuia (pois, tinham uma linguagem diferente do Tupi). Essa diferenciação entre as tribos indígenas não tivera como alicerce apenas a questão geográfica (interior e litoral) de localização dos grupos, mas especialmente a distinção da linguagem entre os indígenas que falavam a língua tupi (ou dialetos semelhares) e os indígenas que não falavam essa língua, gerando um suporte de divisão prévia pelo colonizador entre às duas nações indígenas definidas pela igreja católica (SANTOS JÚNIOR, 2008).

Segundo Baniwa (2006), com relação ao modo de vida, cada grupo indígena tem uma maneira particular de sistematizar suas relações sociais, políticas e econômicas, internas ao grupo e àquelas com outros grupos com os quais tem convivência. “Todos esses saberes se transformam dinamicamente, sendo objeto de experiência e de atualização constantes” (IEPÉ, 2006, p. 27). De modo geral, o alicerce da organização social de um grupo indígena é a família grande, compreendida como um elemento social estruturado em volta de um patriarca ou uma matriarca mediante, relações de parentesco, afinidade política ou econômica (BANIWA, 2006). Conforme Iepé (2006), as expressões culturais mais conhecidas dos grupos indígenas como os “mitos” e “rituais”, precisam ser entendidos de maneira organizada aos outros elementos de sua vida social e política.

Toda organização social, cultural e econômica de um povo indígena está relacionada

a uma concepção de mundo e de vida, isto é, a uma determinada cosmologia

organizada e expressa por meio dos mitos e dos ritos. As mitologias e os

conhecimentos tradicionais acerca do mundo natural e sobrenatural orientam a vida

social, os casamentos, o uso de extratos vegetais, minerais ou animais na cura de

doenças, além de muitos hábitos cotidianos (BANIWA, 2006, p. 43-44).

(26)

Na percepção indígena, os conhecimentos em relação às plantas e aos animais não são somente importantes para a subsistência, mas também estão relacionadas às maneiras de reconhecer indivíduos e povos, as maneiras de organizar rituais, aos modos de curar, entre outros. (IEPÉ, 2006). Já para Baniwa (2006), a organização política de um grupo indígena comumente, se baseia na organização social realizada através de grupos sociais hierárquicos chamados sibs, fratrias ou tribos.

Fratria ou sib é uma espécie de linhagem social dentro do grupo étnico, que está relacionada direta ou indiretamente à origem do povo ou à origem do mundo, quando os grupos humanos receberam as condições e os meios de sobrevivência. Da mesma maneira, os nomes dados aos indivíduos indígenas estão diretamente relacionados ao sib ou à fratria a que pertencem, ou seja, à posição hierárquica que cada indivíduo ocupa dentro do grupo (BANIWA, 2006, p. 44).

Essa multiplicidade cultural das nações indígenas mostra a diversidade de nações e das suas relações com o meio ambiente, com o meio mítico religioso e a variedade de padrões sociais, políticos e econômicos, de elaboração de instrumentos e de costumes diários (BANIWA, 2006).

A organização indígena é a maneira que cada comunidade ou nação indígena ordena seus afazeres, sua luta e sua vida em grupo. Desta forma, toda comunidade indígena tem sua organização ou organizações (BANIWA, 2006). Tradicionalmente a organização do trabalho para a própria sobrevivência não existe especialização, apenas a separação das atividades entre homens e mulheres, velhos e jovens (MELATTI, 1980).

A forma de divisão varia, de um povo para outro. De modo geral, cabe aos homens a derrubada da mata para preparar a roça, a busca de materiais e a construção de casas, a caça, a pesca, a coleta de materiais e a confecção de artefatos. As mulheres, além dos cuidados com a família e a casa, costumam assumir o plantio e a colheita nas roças. Em certos casos também participam das atividades de coleta, pesca e produção de artefatos. As crianças, por sua vez, começam a aprender na prática, desde pequenas, as atividades que irão desenvolver na vida adulta, acompanhando os pais nas tarefas cotidianas (MELATTI, 1980, p. 81-82).

Entre os indígenas não existem esferas sociais como a do homem branco. Todos

possuem direitos iguais e recebem o referido tratamento. Tendo como exemplo à terra, que

pertence a todos e no momento em que um índio caça, tem o hábito de compartilhar com o

povo de sua tribo. Somente as ferramentas de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são

de domínio próprio. As tarefas na tribo são realizadas por todos, todavia tem uma separação

por idade e sexo (BARBOSA, 2006). Quem organiza as tribos são o pajé e o cacique, segundo

Barbosa (2006, p. 26–27),

(27)

O pajé e o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também e o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz a ritual da pajelança, onde evoca as deusas da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.

Isto demonstra que cada um tem seu dever e compromisso bem determinados, conhecidos e ordenados por todos. Visto que, uma aldeia de índios é uma organização tradicional. Na mesma, os chefes realizam suas tarefas em conformidade com os ensinamentos dos costumes deixados por seus antepassados (BANIWA, 2006).

A educação indígena e bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprendem desde pequenos e de forma pratica. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprenda. Portanto a educação indígena e bem prática e vinculada à realidade da vida da tribo. Quando atingem os 13 ou 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta (BARBOSA, 2006, p. 27).

No período que antecedeu a colonização, cada tribo indígena tinha valores e cerimônias religiosas diferenciadas. No entanto, todas as tribos confiavam nos poderes da natureza e nos espíritos dos ancestrais. Os indígenas realizavam rituais, festas e cerimônias para estes deuses e espíritos. O pajé era o incumbido por passar estes saberes aos sujeitos da tribo. Existiam tribos que enterravam a carcaça dos índios em enormes vasos de cerâmica, no qual, além do corpo permaneciam os itens pessoais. Portanto, isto demonstra que estes povos acreditavam numa vida posterior à morte (BARBOSA, 2006).

Segundo Nóbrega (2018, p. 33), “o tronco Tupi dividia-se em sete famílias, sendo elas: Tupi-Guarani, Aarikém, Jurúna, Mondé, Mundurukú, Ramaramá e Tupari”. Compondo uma enorme família, a Tupi-Guarani, essas nações eram vistas como o povo mais “sociável”

(índios pacíficos, por serem mais acolhedores ao colonizador). Essas outras tribos Tupiniquim, Tamoio, Tupinambá, Carijó, Potiguares, Tape e Amoipira ocupavam as praias brasileiras de norte a sul (NÓBREGA, 2018).

Os Tupinambás constituíam o povo Tupi por excelência - pai de todos, por assim dizer. As demais tribos Tupi eram, de certa forma, suas descendentes embora o que de fato os unisse fosse a teia, da margem direita do rio são Francisco até o Recôncavo Baiano. Seriam mais de 100 mil. De todos os povos litorâneos era o mais conhecido. (BUENO, 2012, p. 19 apud NÓBREGA, 2018, p. 33).

Os grupos Tupi exerciam a caça, a pesca, a coleta de frutas e a agricultura. Passava a

cultivar a mandioca, o milho, a batata-doce, o feijão, o tabaco, entre outras plantas,

(28)

principalmente as árvores frutíferas, como o pequi, o caju, etc. De acordo com Ribeiro (1995, p.32), os Tupi praticavam, para isto, “grandes roçados na mata, derrubando as árvores com seus machados de pedra e limpando o terreno com queimadas”. Eram denominados por

“índios civilizados”. Na Figura 2, podemos observar a Índia Tupi (1641) e índio Tupi (1643), na arte do holandês Albert Eckhout do século XVII.

Figura 2 – Arte dos índios Tupi.

Fonte: Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague.

A ilustração nos permite observar uma índia vestida de saia de tecido drapeada

(pregueada), com uma espécie de cesto de palha na cabeça com alguns objetos artesanais

dentro, com uma cabaça pendurada no braço, com uma fazenda ao fundo da tela e uma

bananeira, planta não nativa ao seu lado. Ao seu lado, observamos um índio Tupi com uma

vestimenta de tecido, aparentemente de algodão, estilo europeu e suas ferramentas de trabalho

(arco-flechas e uma faca europeia) (DOMINGUES, 2015). Já na Figura 3, podemos apreciar a

imagem da índia e do índio Tapuia retratada pelo pintor Holandês Albert Eckhout.

(29)

Figura 3 - Arte dos índios Tapuia.

Fonte: Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague.

As telas retratam os índios Tapuia. Segundo Silva e Puff (2013) apud Freitas (2018, p.

58), os Tapuias tinham expressão de “semblante ameaçador”. As feições desses indígenas indicam exatamente à descrição de um povo que era muito mais visto pelo aspecto selvagem (FREITAS, 2018, p. 58).

Esses Tapuias, como alguns outros indígenas do Brasil, costumavam depilar todo o corpo e o rosto. Todos, inclusive as crianças, costumavam pintar o corpo, utilizando- se de tinta preta, extraída do jenipapo, e vermelha, do urucu. Andavam nus, porém com os genitais cobertos: as mulheres usavam uma espécie de avental, confeccionado com folhas preso à cintura e os homens usavam um cendal (véu), também vegetal. Os homens perfuravam bochechas, lábios, orelhas e nariz, por onde traspassavam ossos, pedras coloridas ou madeira. Também utilizavam penas de aves diversas, que prendiam nos cabelos e corpo, colando-as com cera de abelha ou atando-as com fios de algodão para fazer cordões, pulseiras e tornozeleiras. Usavam também sandálias feitas com fibras vegetais (LOPES, 2003, p. 280).

Portanto, essas telas além de mostrar a imagem que os europeus tinham dos Tapuia,

representam também alguns aspectos culturais dos mesmos, como o modo deles se vestirem e

algumas ferramentas de trabalho e de guerrear que os índios usavam. Na figura 4 podemos

observar uma expressão de dança realizada por esses povos.

(30)

Figura 4 – Dança Tapuia arte do holandês Albert Eckhout

Fonte: Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague.

Os Tapuias corriam iguais às feras, por isso eram muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de serem levados a fazer o mal. Eram fortes, carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para guerra, marchavam em silêncio, mas no embate faziam bastante alarido, jogando setas envenenadas das quais os feridos jamais escapavam (SILVA;

PUFF, 2013, p. 1898 apud FREITAS, 2018, p. 57).

Alguns cronistas descreviam os “Tapuias” como povos bárbaros, porém, existe quem diverge dessa definição. A justificativa para tal caracterização ocorre por serem apresentados como seres bastante selvagens, com histórias de culturas demasiadamente rudimentares e de ferozes conflitos em combate com o colonizador. O que se conhece sobre os “Tapuias” é que os sertões nordestinos foram às regiões que acolheram estas nações indígenas. A região do Nordeste serviu de abrigo no momento em que eles escapavam da perseguição dos colonizadores portugueses, dos índios Tupis, dos seus coligados e de alguns grupos de afrodescendentes, que por causa do transcorrer da escravidão vinham em enormes quantidades (PIRES, 2002, apud FREITAS, 2018).

1.3.1 Cenário indígena do Rio Grande do Norte e Apodi

Para Monteiro (2015) em junho de 1625, os holandeses tiveram contato pela primeira

vez com a Capitania do Rio Grande. Nesse ano, uma esquadra, vinda da Bahia e comanda por

Edam Boudewinj Hendrikszoom, aportou na Baía da Traição, para abastecer-se de água e

alimentos, de onde saiu uma patrulha terrestre de observação. Segundo Mariz; Suassuna

(2002) apud Pacheco; Baumann (2006), nessa ocasião, encontraram vários índios

amedrontados com os visitantes e conseguiram fazer observações das terras, e, sobretudo

conseguiram a adesão de muitos índios potiguares que partiram para a Holanda, de onde

(31)

retornaram, anos depois para o Brasil, conhecendo a cultura holandesa ao que se refere à língua, a religião e as ideologias (políticas, econômicas e sociais).

A invasão do Rio Grande ocorreu na maior parte pela sua localização geográfica, que serviu desta forma, como um local estratégico para fortalecer a dominação holandesa no Brasil e pelo abastecimento da carne bovina aos habitantes pernambucanos do que por sua produção de açúcar ou, até inclusive, pelas demais atividades econômicas, como a extração do ouro que também tinham interesse. Além disso, a invasão consistiu, especialmente, em conseguir informações acerca do poder de força Português na Capitania, e em segundo plano, realizar o reconhecimento da faixa litorânea potiguar e ainda buscar se articular com os indígenas (PACHECO; BAUMANN, 2006).

As tropas holandesas, ajudadas pelos índios que viajaram á Holanda em 1625, avançaram sobre a Capitania sem encontrar resistência. Chegando em Natal, partiram rumo ao Forte dos Reis Magos para combater as forças portuguesas (MONTEIRO, 2000 apud PACHECO; BAUMANN, 2006).

Conforme os historiadores, após três dias de combate, os portugueses se renderam, mesmo sem o consentimento do Capitão-mor do Forte, Pero Mendes Gouveia, que se encontrava bastante ferido. Com isso, os holandeses tomaram posse do Forte no mesmo dia, tendo como comandante o Capitão Joris Gardtzman. Estes ainda, modificaram o nome da fortaleza para “Castelo de Keulen”, e o da cidade de Natal para “Nova Amsterdã” e iniciaram um período de dominação absoluta.

Os holandeses, na verdade, sempre negaram uma acolhida especial aos indígenas, os quais denominavam de brasileiros. Os indígenas eram grandes coligados nas batalhas em combate aos portugueses, que constantemente buscaram escravizá-los (CASCUDO, 1955, apud PACHECO; BAUMANN, 2006). Porém, isso não quer dizer que os holandeses eram grandes “amigos” dos índios, visto que, o seu principal objetivo era expulsar os portugueses do território Potiguar, para então assumirem o controle e o domínio das terras potiguares.

Para os escritores, o que marcou a história do Rio Grande do Norte durante o período

de soberania holandês, foram os confrontos que envolveram os índios e os estrangeiros

invasores, bem antes da Guerra dos Bárbaros. Como exemplo, se pode citar os massacres

sanguinários que ocorreram nos Engenhos de Cunhaú e de Uruaçu. Esses massacres foram

apontados por várias narrativas históricas como acontecimentos bastante intensos e violentos.

(32)

Os Tapuia do Rio Grande do Norte enfrentaram vários confrontos, como por exemplo, a Guerra dos Bárbaros, assim como outros acontecimentos que resultaram em inumeráveis genocídios, isto tudo, por serem vistos como uma nação guerreira (FREITAS, 2018).

A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série heterogênea de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que de um movimento unificado de resistência.

Resultado de diversas situações criadas ao longo da segunda metade do século XVII, com o avanço da fronteira da pecuária e a necessidade de conquistar e “limpar” as terras para a criação de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e sociedades indígenas contra moradores, soldados, missionários e agentes da coroa portuguesa (PUNTONI, 1999, p. 196).

Segundo os historiadores, no município de Apodi, um dos confrontos que envolveram os Tapuias, especialmente os Paiacu de Apodi, foi à chegada dos irmãos Nogueira e suas famílias, às margens da Lagoa do Itaú, que hoje se chama Lagoa de Apodi. Ao mesmo tempo, seus coligados se instalaram nos limites do rio Apodi, local exato no qual estava localizado o povoado dos indígenas que dispunham como chefe o Cacique Itaú.

Na visão de Santos Júnior (2008) que se baseia nas pesquisas do professor Thomaz Pompeu Sobrinho, a Capitania do Rio Grande durante os séculos XVI a XVIII, os Tapuias se dividiam em dois grupos: Os Tarairius e os Cariris, os quais apresentavam algumas diferenças étnico-culturais entre ambos os grupos.

Os Tarairiús possuíam características somáticas, representadas por uma elevada estatura, dolicocefalia, hipsicrania, possuindo, ademais, o tipo australóide.

Culturalmente, encontravam-se no estágio do Paleolítico Superior, grau primário.

Possuíam uma economia coletora. Como armas usavam a lança de arremesso, em que era colocada uma pedra pontiaguda. Também portavam o machado tosco.

Os Cariris apresentavam características somáticas representadas por uma baixa estatura, braquicefalia, mesorrinia, o tipo mongolóide. Culturalmente, estavam na fase Neolítica média, praticando a agricultura, cuidando da cerâmica e da confecção de tecidos. Seguiam o direito matrilinear e avunculato. Praticavam a navegação, com canoas monóxilas. Como armas, usavam arco e flecha, além de zarabatana (MEDEIROS FILHO, 1984, p. 25, apud SANTOS JÚNIOR, 2008, p.12).

Essa divisão dos Tapuia está relacionada com à localização geográfica no sertão

nordestino, onde os Cariris habitavam principalmente o sertão de dentro e as margens do rio

São Francisco. Já os Tarairiu, eram nativos do sertão de fora, especialmente nas capitanias do

Rio Grande e Ceará. Eles estavam divididos em várias tribos, em competição mutuamente,

que carregavam os nomes de seus chefes (ou líderes), como os Janduís, Paiacus,

Jenipapoaçus, Icós, Caborés, Capelas, entre outros. Essas etnias Cariris e Tarairius, são as que

temos de maiores e melhores informações no tocante à sua maneira de vida, hábitos, cultura

(33)

material e crenças religiosas (PUNTONI, 1998, apud SANTOS JÚNIOR, 2008). Os quadros 01 e 02 a seguir, apresentam os locais das nações indígenas Tupi e Tapuia atualmente nos municípios do Estado do Rio Grande do Norte.

Quadro 1 – Localização geográfica onde aparecem citações bibliográficas das nações Potiguares nos atuais municípios.

Nação Potiguar/ Tupi-Guarani

Tribos Municípios

Paiaguá Vila Flor, Canguaretama, Pedro Velho, Várzea e Espirito Santo.

Judiá Lagoa Salgada, Vera Cruz e Bom Jesus.

Guaraíra Arêz, Nísia Floresta, São José do Mipibú, Parnamirim e Macaíba.

Igapó ou Aldeia Velha Natal (Redinha), Extremoz- Jenipabú e Ceará-Mirim.

Ibirapi Natal (Redinha), Extremoz- Jenipabú e Ceará-Mirim.

Fonte: Suassuna e Mariz (2005, p. 53) apud Nóbrega (2018, p. 35).

Quadro 2 – Localização geográfica onde aparecem citações bibliográficas das nações Tapuia nos atuais municípios.

Tapuia

Nação Cariri Municípios

Caicó Cidade de Caicó/ Boqueirão de Curema/ Ipueira/ São João do Sabugi/Serra Negra do Norte.

Curema ou Corema Cidade de Caicó/ Boqueirão de Curema/ Ipueira/ São João do Sabugi/Serra Negra do Norte.

Icós pequeno Luiz Gomes, José da Penha, Marcelino Viera, Pilões e Alexandria.

Monxoró ou Mouxoró Vagavam as margens do Rio Mossoró e Upanema. Campo Grande e Porto Alegre.

Pain Mossoró e Apodi.

Caboré Mossoró e Apodi.

Icozinho Mossoró e Apodi.

Nação Tarairiú Municípios

Jandui Território Norte da atual cidade de Açu.

Ariú ou Pega Origem: Paraíba - PB. Fixaram: Equador, Carnaúba dos Dantas, Santana, Acari, Augusto Severo. Transferidos posteriormente para São José de Mipibú.

Sucuru Luiz Gomes, José da Penha, Marcelino Vieira, Pilões e Alexandria.

Canindé Vagavam as margens do Rio Mossoró e Upanema. Campo Grande e Porto Alegre.

Jenipapo Açu

Paiacu Serra do Apodi e várzea do Rio Açu.

(34)

Panati Pau dos ferros, Encanto, Dr. Severiano, São Miguel e Rafael Fernandes.

Jovo Serra do Apodi e Margens do Rio Açu

Camaçú -

Tacuriju Ararrirú -

Fonte: Suassuna e Mariz (2005, p. 53) apud Nóbrega (2018, p. 36).

Para melhor exemplificar os dados do quadro anterior, a figura 5 dispõe de uma representação das tribos e suas respectivas localizações no estado do Rio Grande do Norte.

Figura 5 – Representação da abordagem do quadro 2.

Fonte: Autoria própria (2019)

Voltando-se especificamente para os índios da nação Tapuia Paiacu de Apodi, Santos Júnior (2008, p. 19) expressa que esses índios

Habitavam entre a zona geográfica do vale do Jaguaribe (Estado do Ceará) e o vale

do Açu (Rio Grande do Norte), compreendendo a chapada do Apodi e boa parte da

bacia hidrográfica dos rios Apodi Mossoró. Eram considerados os mais temíveis

gentios pela sua ferocidade em campo de batalha. Dominaram boa parte do Oeste

potiguar, descendo pelos rios Apodi-Mossoró até as imediações do Alto Oeste do

Rio Grande do Norte (habitaram também na ribeira do Patu-RN e Catolé do Rocha-

PB.

(35)

A figura 6 a seguir mostra a localização geográfica da tribo dos Paiacu no estado Rio Grande do Norte.

Figura 6 – Localização geográfica da tribo dos Paiacu no RN.

Fonte: Santos Júnior (2008, p.19).

Segundo Santos Júnior (2008), os índios Paiacu povoaram vários acampamentos, como, por exemplo: as Aldeias dos Paiacu (Aquiraz no Ceará), Guajiru (Extremoz no Rio Grande do Norte), Apodi (no Córrego das missões, município de Apodi/RN) e na Missão de Nossa Senhora da Incarnação (antiga aldeia de Igramació (no atual município de Vila flor/RN) e na Ribeira do Cunhaú/RN). A maioria dos povos indígenas Paiacu, povoaram próximo ao vale do rio Jaguaribe, no Ceará (Nossa Senhora da Anunciação) e na região da Chapada do Apodi/RN. No ano de 1818, se tiveram o registro das últimas informações sobre parcela desse povo são de povoamento em Monte-mor-o-novo-d‘américa (atual município de Baturité/CE). E no ano de 1825 foram transferidos para Messejana/CE. Hoje em dia, ainda se podem encontrar alguns descendentes dos Paiacu na Lagoa Encantada, município de Aquiraz/CE, sendo nomeados de Jenipapo Kanindé.

Reportando-se especialmente para o município de Apodi. O mesmo é conhecido como

à terra dos índios Tapuia Paiacu da lagoa do Apodi. Segundo relatos de Guerra (1982) e

Pacheco e Baumann (2006), eles foram os primeiros que povoaram o território apodiense e

viviam em nossas terras em absoluto entendimento com o meio ambiente. Isto, antes da

chegada dos invasores homens brancos que vieram com o intuito de explorar as terras que

pertenciam aos índios nativos dessa região, os Paiacu. A começar dessa conjuntura os índios

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