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CULTURA ORGANIZACIONAL NO TÉCNICO?

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Academic year: 2021

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CULTURA ORGANIZACIONAL NO TÉCNICO ?

1. Fui desafiado pelo Prof. João Cunha Serra para apresentar uma comunicação às

“Jornadas sobre a Cultura Organizacional do Técnico” por ele organizadas na qualidade de Presidente da Assembleia de Escola. Não podia deixar de responder a este desafio, embora sob a forma de comunicação escrita já que me é impossível estar fisicamente presente nas sessões das jornadas por causa das minhas tarefas letivas.

Aproveito para dirigir publicamente ao Prof. João Cunha Serra, nesta hora da sua jubilação, a minha homenagem (não vem ao caso nesta ocasião o facto de as minhas posições não terem sido sempre coincidentes) pela sua dedicação e empenho, com muito trabalho produzido, no que se refere à “Cultura Organizacional do Técnico”

com destaque para a sua sucessiva participação nos Órgãos de Gestão da escola, para o trabalho desenvolvido na vertente sindical, pela defesa e aprofundamento dos direitos e condições de trabalho dos docentes (e não só no âmbito do IST), e, ainda na vertente pedagógica com especial ênfase nos contributos para a melhoria dos processos ensino/aprendizagem e da avaliação dos docentes e alunos.

2. O título das jornadas fez-me refletir sobre vários aspetos, em particular se existe ou não “cultura organizacional do técnico” como escola de Engenharia, e, no caso afirmativo, se ela é marcante no panorama nacional ou mesmo internacional. A resposta parece-me ser indubitavelmente afirmativa a todas aquelas questões. O texto que aqui apresento encontra-se assim dividido em duas partes: na primeira, esta secção, procura-se caraterizar o IST e a sua cultura com base na História do IST; na segunda, a secção seguinte, procura-se apontar os grandes problemas com que o IST se debate e que urge dar resposta. A História do IST comprova a existência de uma sólida “cultura organizacional”, começando logo com a formação do IST, em 1911 e com o contributo dinamizador e renovador do seu primeiro Diretor, Alfredo Bensaúde. Sem esquecer todo o percurso da resistência da escola perante as dificuldades impostas pela ditadura, onde movimentos de professores como o Núcleo de Estudos de Matemática, Física e Química do IST com ligações ao Movimento Matemático e onde os movimentos estudantis e suas lutas tiveram um papel de relevo, gostaria de dar ênfase ao período dos anos 70/80, eventualmente já com início

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na década de 60, onde teve lugar um período impulsionador de formação de professores e de investigação científica acompanhada pela obtenção de vários graus de Doutoramento, em particular no estrangeiro, e pela criação de vários centros de investigação. Foi durante este período que entrei como aluno no IST e que teve lugar uma profunda reestruturação curricular no ensino da Engenharia com a passagem de 6 anos para 5 anos nos cursos da licenciatura. Foi ainda neste período que o IST teve um papel fundamental de âmbito nacional no esforço de democratização do ensino dando resposta positiva às solicitações da revolução do 25 de Abril de 1974 que no caso do ensino superior público permitiu multiplicar por cerca de uma dezena a frequência estudantil. Este esforço de democratização do ensino levou a que o corpo docente aumentasse significativamente tendo o IST respondido através da sua organização com um eficaz programa de formação dos seus docentes caracterizado pela obtenção de graus de mestre e de doutoramento, muitos obtidos no âmbito de projetos de investigação da própria escola com orientadores científicos da própria escola. Para estes objetivos contribuiu também o financiamento do Estado através do INIC/JNICT/FCT. É nos anos 80, já no período de consolidação da democracia formal, que surge o Estatuto da Carreira Docente Universitária, obtidos com ampla participação dos docentes e do próprio IST, bem como os estatutos do próprio IST contemplando a implementação da gestão democrática com a formação dos Departamentos e Secções. É ainda nos anos 80 que surge no IST de forma organizada e generalizada a apelidada “transferência de tecnologia” através do estabelecimento de ligações com a indústria. O IST tem, neste âmbito, mais uma vez um papel precursor a nível nacional. É ainda no período dos anos 70/80 que se vêm a travar as grandes batalhas pela autonomia universitária com repercussões na organização estatutária, pedagógica, científica e financeira. Mais uma vez o IST intervém decididamente para este objetivo que hoje se encontra fortemente ameaçado, em particular na sua vertente financeira. Os anos 90 e a 1ª década do século XXI foram caracterizados pelo aumento significativo do financiamento da investigação científica (a nível nacional desde 0,5% do PIB no início dos anos 90 até 1,64% em 2009) com repercussões no número de investigadores (a nível nacional desde cerca de 8 mil ETI no início dos anos 90 até cerca de 46 mil em 2009) e na melhoria do nível quantitativo e qualitativo da investigação produzida e na melhoria do nível de internacionalização. A este ambiente correspondeu o IST como polo percursor, dinamizador e mobilizador, quer a nível nacional quer internacional, com

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repercussões no nível científico e técnico do ensino da Engenharia. Não gostaria de deixar de referir a inserção do IST na Universidade. Em 1930 é integrado na Universidade Técnica de Lisboa e em 2013 integra-se na Universidade de Lisboa através da fusão daquela com a Universidade (Clássica) de Lisboa. A importância da integração das escolas do ensino universitário em universidades é inerente ao facto do conhecimento ser pluri e transdisciplinar. São limitadas nos seus propósitos e nos seus métodos de ensino e investigação as escolas que não se integrem em conjuntos mais amplos de escolas organizadas em universidades. É assim a nível internacional.

Todavia, o IST tem tido também sempre uma postura de grande independência face às restantes escolas da universidade e face às próprias reitorias. Esta postura faz parte da História do IST verificando-se uma forte tendência para ser mantida. Sem pretender fazer aqui comentários ou juízos de valor, deve-se referir a propósito do tema que esta particularidade faz parte da cultura do IST com todos os aspetos positivos e negativos que tal postura acarreta. Finalmente, penso que hoje faz parte também da “cultura organizacional do técnico” a existência de um plano estratégico de desenvolvimento onde estão estabelecidas três direções estratégicas principais:

 Constituir-se o IST uma referência internacional no âmbito do ensino científico e técnico com inovações ao nível cultural, ambiental, metodológico e de resultados obtidos;

 Constituir-se o IST uma referência internacional na investigação científica;

 Constituir-se o IST uma referência internacional na “transferência de tecnologia”.

3. Existem aspetos que requerem atenção e melhoria entendendo-se a cultura organizacional de forma dinâmica e não estática. Esses aspetos prendem-se com as questões que no momento são mais preocupantes em relação ao nosso devir coletivo.

3.1 O financiamento do Estado ao ensino e, em particular, ao ensino superior é ridiculamente reduzido, mesmo insignificante, por comparação com as necessidades existentes. Em particular, o subfinanciamento do IST tem por consequência que cerca de 60% do seu orçamento global tem de ser suportado através de verbas próprias. Isto significa que o financiamento estatal nem sequer cobre os salários do seu pessoal obrigando que uma parte significativa

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das atividades de ensino/investigação/transferência de tecnologia sejam consumidas na angariação de verbas próprias. O IST não pode deixar de ser (continuar a ser) uma oposição ativa a este subfinanciamento estatal harmonizando os seus esforços e posições com outras entidades, nomeadamente a Universidade de Lisboa, o CRUP, sindicatos, etc.

3.2 O financiamento do Estado à investigação deve rapidamente voltar a ter um nível que permita retomar a atividade dos centros, institutos e laboratórios do Estado recuperando-se a sua continuidade e qualidade. A atual política tem-se caracterizado pela tentativa de exclusão do financiamento de um número significativo de centros e institutos de investigação, com rutura abrupta de atividades de investigação recentemente avaliadas como Muito Bom ou Excelente, e, pela redução para cerca de 1/3 das bolsas, tudo isto acompanhado por decisões em muitos casos mal justificadas ou com justificação incompreensível e com fundamentação pouco rigorosa. É ainda preocupante o facto da investigação científica ter sido conseguida à custa de um elevado número de investigadores em condições de elevada precariedade (bolsas e contratos a prazo). O IST deve contribuir para que os investigadores venham a ter contratos dentro das carreiras docente ou de investigação.

3.3 Sobre a política de valorização dos recursos humanos, o IST deve contribuir para a definição de uma justa política de prosseguimento das carreiras do seu pessoal, em particular dos seus docentes e investigadores, pugnando em primeiro lugar pelo descongelamento das carreiras. A este propósito é de destacar os esforços feitos pelo Conselho Científico no estabelecimento de planos para abertura de vagas estratégicas de professores, procurando otimizar todas as oportunidades que a escola vai usufruindo. Por outro lado, é de primordial importância o estabelecimento de uma política de renovação do seu pessoal docente. A não renovação levará à degradação dos grandes objetivos da escola, nomeadamente o de garantir um ensino e investigação de qualidade.

A não renovação do seu pessoal docente, em última análise, levará à destruição da própria escola. Tem sido um obstáculo à renovação a política de redução do corpo docente do IST. Esta diminuição tem sido feita à custa da aposentação dos docentes não acompanhada pela respetiva substituição. Esta orientação é de louvar pois deste modo se tem evitado o despedimento de docentes.

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Contudo, o caminho deverá ser a substituição dos docentes que se aposentem, sempre que possível, reduzindo-se, por isso, o ritmo com que o corpo docente da escola diminui.

I.S.T., 4 de Maio de 2015 Vitor Maló Machado Prof. Associado c/ Agregação do IST

Referências

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