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Manejo de Doenças em Fruteiras Tropicais

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Manejo de Doenças em Fruteiras Tropicais

Sami J. Michereff

1

e Kamila C. Correia

2

1. Introdução

O mundo produz, anualmente, mais de 800 milhões de toneladas de frutas frescas. O Brasil é o terceiro colocado entre as principais nações produtoras, com cerca de 40 milhões de toneladas/ano, estando atrás da China (220 milhões de toneladas) e da Índia (83 milhões de toneladas), segundo o Anuário Brasileiro de Fruticultura (2015). A posição brasileira no cenário mundial da produção de frutas frescas tem como ponto de partida as condições favoráveis de clima, solo e disponibilidade de área.

A fruticultura é atividade com elevado efeito multiplicador de renda e, portanto, com força suficiente para dinamizar economias locais estagnadas e com poucas opções de desenvolvimento. Contudo, a plena realização do potencial produtivo e social da fruticultura nacional depende de melhor organização do setor, da modernização da comercialização e de incentivos para inovação tecnológica e agregação de valor (BUAINAIN;

BATALHA, 2007).

A evolução da produção de frutas frescas no Brasil tem assegurado o abastecimento da crescente demanda do mercado interno e, ao mesmo tempo, propiciado expressiva e crescente participação na pauta de exportações do agronegócio. Apesar da sua capacidade produtiva, a exportação brasileira de frutas frescas não alcança 2% do mercado mundial (BUAINAIN; BATALHA, 2007), enquanto o mercado interno absorve cerca de 60% da produção (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015), apresentando excedente considerável que poderia ser destinado à exportação.

1

Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Agronomia, 52171-900 Recife, PE, Brasil (e-mail: sami@depa.ufrpe.br)

2

Universidade Federal do Cariri, Centro de Ciências Agrárias e da Biodiversidade 63133-

610 Crato, CE, Brasil (e-mail: kamilacorreia@ufca.edu.br)

(2)

O aumento das exigências dos consumidores europeus e norte- americanos quanto à segurança dos alimentos provocou mudanças no ambiente institucional e organizacional do Brasil, dado que esses mercados são os principais importadores das nossas frutas. Entre essas mudanças, destaca-se a implementação da Produção Integrada de Frutas (PIF). A PIF surgiu a partir das demandas reais de satisfazer as necessidades da sociedade, no que se refere à produção de alimentos de qualidade, à geração de empregos no campo para a população de baixa renda, à escolaridade e à redução do êxodo rural para as cidades grandes. A PIF procura refletir a gestão ambiental das atividades agrárias de forma sustentável, estabelecendo normas que assegurem cuidadosa utilização dos recursos naturais, minimizando o uso de agrotóxicos e demais insumos. Propõe o acompanhamento da cadeia produtiva e da pós-colheita, orientados para a produção agrícola de qualidade internacional e que atenda às necessidades e exigências do consumidor final, propondo um conjunto de boas práticas agrícolas a serem estabelecidas em normas e procedimentos (BUAINAIN;

BATALHA, 2007).

Na cadeia produtiva da fruticultura, a produção de frutas tropicais constitui importante alicerce do mercado interno e das exportações brasileiras. Nesse contexto, a Região Nordeste produz grande parte das frutas tropicais consumidas no mercado interno e exportadas, ocupando o primeiro lugar na produção de abacaxi, banana, caju, coco, mamão, manga, maracujá e melão (AGRIANUAL, 2015). As principais áreas produtoras de frutas tropicais no Nordeste localizam-se no Vale do São Francisco (PE e BA), nos polos de Mossoró (RN) e Baixo Jaguaribe (CE), na Zona da Mata paraibana (PB) e no Sul da Bahia (BA) (BUAINAIN; BATALHA, 2007).

Entre as frutas tropicais produzidas no Brasil, quatro espécies podem ser destacadas pela representatividade em área plantada, produção e receita: banana, mamão, manga e melão (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015).

A banana é a segunda fruta mais produzida no Brasil, superada

apenas pela laranja. Grande parte da oferta da espécie, que fica próximo

dos sete milhões de toneladas/ano, é consumida pelos próprios brasileiros,

uma vez que o país exporta menos de 90 mil toneladas e as perdas na

pós-colheita ficam acima de 30%. A safra de 2013 foi de 6,892 milhões

(3)

de toneladas, estimando-se uma oferta de 7,138 milhões de toneladas para o ano seguinte (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015). O Nordeste é responsável por 36,3% da produção nacional de banana, e o Estado da Bahia teve o maior volume colhido (1,195 milhão de toneladas) pelos números estimados para 2014 (AGRIANUAL, 2015).

O polo de Mossoró, no Rio Grande do Norte (RN), está investindo no aumento da produção da banana Prata Anã para abastecer o mercado doméstico. A produção da variedade do tipo Cavendish está sendo fortalecida para a exportação nos polos do Rio Grande do Norte e do Ceará. A exportação total de bananas foi de 83,461 mil toneladas em 2014, com receita de US$ 31,6 milhões. Os principais destinos da banana nacional são a União Europeia e a América do Sul (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015).

O cultivo de mamão no Brasil gera renda de R$ 1,2 bilhão anualmente. A Região Nordeste é responsável por 60,4% da produção de mamão, e o Estado da Bahia obteve a maior produção, com 683 mil toneladas em 2014 (AGRIANUAL, 2015). O produto registrou problemas de qualidade, por interferência do clima, e, em consequência, menor remuneração, o que determinou lentidão no mercado doméstico.

Em contrapartida, o mercado externo foi favorável, absorvendo as melhores frutas colhidas no Brasil e apresentando aumento próximo de 18% no volume exportado, em 2014, em relação ao ano anterior. O maior exportador nacional, o Espírito Santo, vendeu 12.911 toneladas e a Bahia, 6.966. O principal mercado no exterior é a União Europeia, mas, com a nova situação cambial, o Brasil voltou a exportar mamão Formosa para os Estados Unidos (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015).

A manga tornou-se, em 2014, a fruta número 1 das exportações nacionais em receita, sendo a Região Nordeste responsável por 66,5%

da produção brasileira de manga (AGRIANUAL, 2015). No Brasil, a área comercial da fruta é estimada em 70 mil hectares, sendo 30 mil hectares somente no Vale do São Francisco. As variáveis climáticas - em especial a seca - vêm afetando a produtividade e qualidade dos frutos nessa região de Minas Gerais, tal qual ocorre em outras áreas produtoras da Bahia, de São Paulo e de Minas, mais dirigidas para o mercado interno.

Porém, em 2014, a limitação climática também afetou os países

concorrentes do país no comércio internacional, o que propiciou a entrada

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da fruta brasileira com preços bem superiores aos da temporada de 2013.

O Vale do São Francisco manteve o patamar de cerca de 85% do volume exportado por ano pelo Brasil, sendo o principal destino a União Europeia, seguida dos Estados Unidos (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015).

Em 2014, o Brasil produziu 575,4 mil toneladas de melão, em pouco mais de 22 mil hectares. A Região Nordeste destaca-se como principal produtora da fruta (95,1%), principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte (260,8 mil toneladas) e do Ceará (219,3 mil toneladas) (AGRIANUAL, 2015). A região sofreu, nas últimas três temporadas, com a pior seca dos últimos 50 anos, assim considerada pelos institutos meteorológicos. Mesmo assim, as empresas exportadoras aproveitaram a quebra de safra dos concorrentes internacionais, e o melão teve avanço de 2,87% no faturamento, saltando para US$ 163,7 milhões. Em volume, os 16 tipos de melão exportados continuaram imbatíveis e apresentaram crescimento de 2,84%, com 196,8 mil toneladas. A valorização do dólar ajudou o setor a ampliar a receita, já no final do ano (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015).

Há vários fatores que influem diretamente na produção e comercialização de frutas frescas que, se não forem devidamente considerados, irão reduzir a competitividade das frutas no mercado interno e diante dos outros países produtores. Entre outros, destacam-se a gestão da propriedade rural, a adoção de tecnologias pelo produtor de frutas, o controle fitossanitário do pomar e a qualidade e segurança do produto (BUAINAIN; BATALHA, 2007). Esses fatores são muito relevantes para a cadeia produtiva da fruticultura tropical, assim como a necessidade da minimização das perdas durante as etapas de produção e pós-colheita.

No Brasil são estimadas perdas anuais de 26% do abacaxi, 42% da banana, 28% da manga e 32% do mamão (ANUÁRIO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2015). Esses prejuízos são ocasionados por vários fatores, incluindo os de naturezas biótica e abiótica.

2. Doenças das Fruteiras Tropicais

A expansão dos cultivos de fruteiras tropicais, aliada às condições

ambientais favoráveis e ao uso de variedades/cultivares suscetíveis, tem

propiciado o aumento do número e intensidade das doenças nos polos de

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produção do Nordeste brasileiro. Nesse contexto, são destacadas as doenças-chave e as doenças secundárias das principais fruteiras tropicais cultivadas (Tabela 1). A definição dessas duas categorias de doenças é baseada na frequência com que ocorrem nos pomares e nas perdas de produção ocasionadas, muitas vezes, pelas condições ambientais predominantes e pelas variedades/cultivares utilizadas.

Fruteira Doenças-chave Doenças secundárias Abacaxizeiro Fusariose Podridão da base da muda

Podridão-negra do fruto Fitonematoses Podridão-do-olho

Podridão das raízes

Bananeira Sigatoka-amarela Podridão-da-coroa

Sigatoka-negra Moko

Mal-do-panamá Estria-da-folha

Antracnose Mosaico

Fitonematoses

Cajueiro Antracnose Mancha-angular

Resinose Crestamento-foliar

Mofo-preto Fitonematoses

Oídio

Coqueiro Mancha-foliar Queima-das-folhas

Lixa-pequena Podridão-do-olho

Lixa-grande Anel-vermelho

Gravioleira Antracnose Mancha-de-alga

Podridão-seca Podridão-parda

Mamoeiro Meleira Amarelo-letal

Mancha-anelar Mancha bacteriana

Varíola Podridão-preta

Oídio Podridão-do-pé

Antracnose Fitonematoses

Podridão peduncular

Tabela 1 - Doenças-chave e doenças secundárias das principais fruteiras cultivadas no Nordeste do Brasil

Continua...

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Fruteira Doenças-chave Doenças secundárias

Mangueira Antracnose Mancha-angular

Oídio Verrugose

Malformação floral e vegetativa Podridão-radicular Podridão-peduncular

Morte-descendente Seca-da-mangueira Maracujazeiro Antracnose Podridão-do-colo

Verrugose Fitonematoses

Crestamento bacteriano Endurecimento dos frutos Podridão-cinzenta

Meloeiro Crestamento gomoso Míldio

Podridão-cinzenta Podridão-de-fusário Declínio das ramas Podridão-de-cratera OídioPodridão-aquosa Meloidoginose

Pinheira Antracnose Mancha-de-alga

Podridão-seca Podridão-parda

Videira Míldio Pé-preto

Oídio Antracnose

Ferrugem Mancha-angular

Morte-descendente Mofo-cinzento Doença-de-petri Enrolamento da folha Cancro-bacteriano Meloidoginose Tabela 1 - Cont.

Para o desenvolvimento de estratégias eficazes de manejo de

doenças de plantas, é fundamental o conhecimento aprofundado sobre a

biologia e ecologia dos agentes fitopatogênicos e a epidemiologia da

doença. Como exemplo do desenvolvimento de estratégias de manejo de

doenças em fruteiras tropicais baseado no conhecimento aprofundado

do patossistema, a seguir são abordadas as doenças-chave da bananeira,

com ênfase nos agentes causais, distribuição, danos e perdas, condições

predisponentes e medidas de controle. A utilização da bananeira como

modelo se justifica pela sua grande expressão em área plantada, produção

e receita, bem como pelo conhecimento científico acumulado em relação

às doenças.

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3. Doenças-chave da bananeira 3.1. Sigatoka-amarela

l

Agente causal

- Pseudocercospora musae (Zimm.) Deighton (forma assexual) - Mycosphaerella musicola R. Leach (forma sexual)

l

Distribuição

- Doença de distribuição endêmica, pois ocorre em todo o país. Não é problema na região semiárida devido ao clima seco, mas muito importante no clima subúmido do litoral do Nordeste.

l

Sintomas

- Ocorrem nas folhas jovens da planta, incluindo geralmente as folhas de números 0 (vela), 1, 2 e 3. Desenvolvimento das lesões dividido em números de cinco estádios: estádio I – fase de ponto, ou risca de no máximo 1 mm de comprimento, com leve descoloração; estádio II – a risca já apresenta vários milímetros de comprimento e um processo de descoloração mais acentuado; estádio III – mancha nova, tem forma oval alongada e coloração levemente parda, de contornos mal definidos;

estádio IV – paralisação de crescimento do micélio, pelo aparecimento de um halo amarelo em volta da mancha e pelo início de esporulação do patógeno; estádio V – fase final da mancha, cuja forma oval alongada se expande, atingindo de 12 a 15 mm de comprimento por 2 a 5 mm de largura, centro totalmente deprimido, de tecido seco e coloração cinza.

l

Danos

- Redução da área foliar fotossintetizante, morte prematura das folhas, diminuição do número de pencas por cacho, redução do tamanho dos frutos, maturação precoce dos frutos, diminuição da produtividade e enfraquecimento do rizoma.

l

Perdas

- Redução, em média, de 50% da produção.

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l

Inóculo

- Consiste de conídios (dispersos pela água) e ascósporos (dispersos pelo vento). Conídios aparecem primeiramente na lesão madura, sendo mais de 30.000 deles por lesão; não são liberados pelo vento. Ascósporos maduros produzidos quatro semanas após o aparecimento das estrias.

l

Fontes de inóculo

- Plantios vizinhos doentes.

l

Disseminação do inóculo

- Vento e chuva, material propagativo, folhas infectadas e frutos contendo esporos.

l

Infecção

- Infecção em folhas mais jovens (posição 0 a 3). Germinação de esporos: 2-6 horas. Formação de apressórios: até seis dias. Penetração por estômatos.

l

Condições predisponentes

- Temperaturas entre 25 e 28

o

C, elevada precipitação pluviométrica, alta umidade relativa do ar (>90%), água livre na superfície do hospedeiro, solos mal drenados, plantas desequilibradas nutricionalmente, manutenção de folhas velas, plantas invasoras.

l

Medidas de controle

- Métodos culturais: drenagem, adubação equilibrada, desfolha sanitária, controle de plantas invasoras.

- Método genético: cultivares resistentes são disponíveis: Mysore, Nanicão IAC 2001, Terra, Caipira, Thap Maeo, Pacovan Ken, Preciosa, Prata Caprichosa, Prata Garantida, Zulu, Japira, Vitória.

- Método químico: aplicação de fungicidas no início do período chuvoso;

indicação de controle baseada no sistema de pré-aviso – acompanhamento

semanal, amostragem de 10 plantas previamente marcadas e avaliação dos

estádios das lesões nas folhas 2, 3 e 4. Fungicidas recomendados –

protetores: mancozeb, maneb, oxicloreto de cobre, óleo mineral; e

sistêmicos: triadimenon, tiofanato-metílico, tebuconazol, azoxistrobina.

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3.2. Sigatoka-negra

l

Agente causal

- Paracercospora fijiensis (M. Morelet) Deighton (forma assexual) - Mycosphaerella fijiensis M. Morelet (forma sexual)

l

Distribuição

- Doença mais grave e temida da bananeira no mundo. Foi constatada no Brasil em 1998, no Amazonas. Não ocorre nas regiões semiáridas e no litoral do Nordeste. Devido ao grande potencial destrutivo e à proximidade de regiões endêmicas, deve constituir preocupação como doença-chave.

l

Sintomas

- Ocorrem nas folhas jovens da planta, incluindo as folhas de números 0 (vela), 1, 2 e 3. Desenvolvimento das lesões dividido em seis estádios: estádio I – pequena descoloração ou despigmentação observada somente na face inferior da folha. Inclui pequena estria de cor café dentro da área descolorida. Não é visível através da luz; estádio II – pequena estria de cor café visível nas faces superior e inferior da folha; estádio III – a estria aumenta em diâmetro e comprimento, mantendo-se com a cor café; estádio IV – a estria muda de café para preto, sendo considerada como mancha; estádio V – a mancha-negra está rodeada por um halo amarelo; estádio VI – a mancha muda novamente de cor, deprime-se e, nas áreas mais claras (cinza-claro), são observados pontos negros (peritécios). É marcante a agressividade da sigatoka-negra, caracterizada por massiva infecção, visível, principalmente na face inferior da folha na fase de estrias jovens, ocorrendo o coalescimento das lesões antes de atingirem o estádio final de mancha, o que caracteriza o seu efeito mais drástico, que é a morte prematura das folhas.

l

Danos

- Redução da área foliar fotossintetizante, morte prematura das

folhas, diminuição do número de pencas por cacho, redução do tamanho

dos frutos, maturação precoce dos frutos, redução da produtividade e

enfraquecimento do rizoma.

(10)

l

Perdas

- Redução, em média, de 70 a 100% da produção.

l

Inóculo

- Ascósporos levados pelo vento são o inóculo mais importante.

Conídios aparecem nos estádios iniciais da estria. Produz cerca de 1.200 conídios por lesão, os quais são liberados pela água e pelo vento. Ascósporos maduros produzidos duas semanas após o aparecimento das estrias.

l

Fontes de inóculo

- Plantios vizinhos doentes.

l

Disseminação do inóculo

- Vento e chuva, material propagativo, folhas infectadas e frutos contendo esporos.

l

Infecção

- Infecção em folhas mais jovens (posição 0 a 3). Germinação de esporos: 2-6 horas. Formação de apressórios: até seis dias. Penetração por estômatos.

l

Condições predisponentes

· Temperaturas entre 25 e 28

o

C, elevada precipitação pluviométrica, alta umidade relativa do ar (>90%), água livre na superfície do hospedeiro, solos mal drenados, plantas desequilibradas nutricionalmente, manutenção de folhas velas, plantas invasoras.

l

Medidas de controle

- Métodos culturais: drenagem, adubação equilibrada, desfolha sanitária, controle de plantas invasoras.

- Método genético: cultivares resistentes são disponíveis – Mysore, Caipira, Thap Maeo, Fhia 18, Pacovan Ken, Preciosa, Fhia Maravilha, Prata Caprichosa, Prata Garantida, Zulu, Japira, Vitória.

- Método químico: exige número de aplicações de fungicidas muito

superior ao utilizado contra a sigatoka-amarela; aplicação de fungicidas

no início do período chuvoso; indicação de controle baseada no sistema

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de pré-aviso – acompanhamento semanal, amostragem de 10 plantas previamente marcadas e avaliação dos estádios nas lesões das folhas 2, 3 e 4. Fungicidas recomendados – Protetores: mancozeb, maneb, oxicloreto de cobre, óleo mineral; sistêmicos: triadimenon, tiofanato- metílico, tebuconazol, azoxistrobina.

3.3. Mal-do-panamá

l

Agente causal

- Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E.F. Sm.) W.C. Snyder &

H.N. Hansen

- Quatro raças: raças 1, 2 e 4 – atacam bananeira (raça 1 – infecta a variedade Gros Michel; raça 2 – infecta variedade Bluggoe; e raça 4 – infecta variedades do subgrupo Cavendish); e raça 3 – ataca somente Heliconia.

l

Distribuição

- Constatada no Brasil em 1930, em São Paulo. Destruição de 1.000.000 de árvores da cultivar Maçã (1938). Está presente em todas as regiões produtoras do mundo. Doença de distribuição endêmica que ocorre em todo o Brasil.

l

Sintomas

- Externamente, há um amarelecimento progressivo das folhas mais velhas, começando pelos bordos do limbo foliar em direção à nervura principal; rachaduras no pseudocaule próximo ao solo, murcha e quebra das folhas no pseudocaule. Em alguns casos, ocorre estreitamento de limbo das folhas mais novas e, internamente, descoloração do sistema vascular das raízes, rizoma, pseudocaule e nervura principal das folhas;

descoloração vascular no pseudocaule se concentra mais perifericamente, mantendo-se o centro claro. No rizoma, a descoloração é mais pronunciada na área de densa vascularização, em que o estelo se junta ao córtex, podendo observar a evolução dos sintomas do rizoma para as brotações a ele aderidas.

l

Danos

- Morte prematura da planta e redução da produtividade.

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l

Perdas

- Cultivar Maçã: perdas de 100%; cultivares tipo Prata: perdas de 20%.

l

Fontes de inóculo

- Estruturas de sobrevivência no solo (clamidósporos), plantas invasoras e material propagativo infectado.

l

Disseminação do inóculo

- Material propagativo infectado, movimentação de solo infestado, máquinas e implementos, água de irrigação e contato entre raízes.

l

Infecção

- Penetração pela extremidade das raízes, colonização do xilema e formação de tiloses.

l

Condições predisponentes

- Ferimentos por nematoides e pragas, monocultura, solos com pH ácido, deficiência de cálcio e magnésio, baixos teores de matéria orgânica, plantas desequilibradas nutricionalmente, solos mal drenados, plantas invasoras.

l

Medidas de controle

- Métodos culturais: evitar plantio em áreas com histórico de incidência da doença e em solos mal drenados; correção do pH e dos teores de cálcio e magnésio no solo, adubação equilibrada, suplementação do solo com matéria orgânica, uso de material propagativo sadio, erradicação de plantas com sintomas, controle de plantas invasoras.

- Método genético: cultivares resistentes são disponíveis: Mysore, Nanica, Nanicão IAC 2001, Grand Naine, Terra, D´Angola, Caipira, Thap Maeo, Prata Baby, Pacovan Ken, Preciosa, Fhia Maravilha, Prata Garantida, Japira, Vitória.

3.4. Antracnose

l

Agentes causais

- Colletotrichum musae (Berk. & M.A. Curtis) Arx.

- Outras espécies de Colletotrichum.

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l

Distribuição

- Problema importante na pós-colheita. Presente em todas as regiões produtoras do mundo. Doença de distribuição endêmica e ocorre em todo o Brasil.

l

Sintomas

- Ocorrem em frutos verdes e maduros. Os sintomas nos frutos verdes são geralmente lesões castanho-escuras a pretas com margem pálida, levemente encharcada e dimensão de vários centímetros. Nos frutos maduros, os sintomas típicos são lesões circulares, escuras e deprimidas, que aumentam, coalescem e tornam-se encharcadas; em condições de alta umidade, aparece uma massa de esporos rosada sobre as lesões.

l

Danos

- Aceleração do processo de maturação, redução da vida pós- colheita, podridão de frutos e frutos sem qualidade para comercialização.

l

Perdas

- Até 100%, caso medidas de controle não sejam adotadas.

l

Fontes de inóculo

- Partes florais e brácteas infectadas; água de lavagem contaminada.

l

Disseminação do inóculo - Chuva e vento.

l

Infecção

- Ocorre no campo, em frutos com ou sem ferimentos. Quiescente até o início da maturação.

l

Condições predisponentes

- Temperatura entre 25 e 30

o

C, elevada precipitação pluviométrica,

alta umidade relativa do ar (>90%), água livre na superfície do hospedeiro,

restos florais remanescentes na planta, ferimentos nos frutos, água do

tanque de despencamento contaminada.

(14)

l

Medidas de controle

- Métodos culturais: eliminação de folhas velhas, brácteas e restos florais remanescentes; cobertura do cacho com saco de polietileno perfurado, preferencialmente antes da abertura das pencas; evitar ferimentos nos frutos na pré-colheita; limpeza e desinfestação do tanque de despencamento após o uso; renovação periódica da água do tanque de despencamento.

- Método genético: cultivares resistentes não são disponíveis.

- Método químico: imersão ou pulverização dos frutos com suspensão fungicida protetor: mancozeb, sistêmico; tiabendazol, imazalil.

3.5. Fitonematoses

l

Agentes causais

- Radopholus similis (Cobb) Thorne (nematoide cavernícola).

- Helicotylenchus multicinctus (nematoide espiralado).

- Pratylenchus coffeae (Cobb) Golden (nematoide das lesões radiculares).

- Meloidogyne javanica (Treub) Chitwood (nematoide das galhas).

- Meloidogyne incognita (Kofoid & White) Chitwood (nematoide das galhas).

l

Distribuição

- Ampla distribuição nas principais regiões produtoras.

l

Sintomas

- Os sintomas causados pelo nematoide cavernícola caracterizam-

se pela necrose do córtex das raízes e rizomas, resultado do

endoparasitismo migratório, com a formação de extensas áreas necróticas

de coloração avermelhada em torno das lesões. As raízes tornam-se

necrosadas, reduzindo a capacidade de absorção e sustentação, com

frequentes casos de tombamento de plantas pela ação do vento ou pelo

peso do próprio cacho. Os sintomas causados pelo nematoide espiralado

consistem de pequenas lesões acastanhadas com aparência de pequenas

pontuações superficiais, principalmente nas raízes mais grossas. Em

(15)

condições de ataque muito intenso, podem coalescer, dando às raízes aspecto necrosado semelhante ao parasitismo pelo nematoide cavernícola, mas atinge apenas a superfície das raízes. O parasitismo do nematoide das lesões radiculares é semelhante ao do nematoide cavernícola, mas as lesões se apresentam menos extensas e evoluem de maneira mais lenta que as originadas pelo nematoide cavernícola. Os nematoides das galhas causam formação de galhas no sistema radicular, resultado da hipertrofia e hiperplasia das células do parênquima vascular da raiz.

l

Danos

- Entrada de fungos e bactérias fitopatogênicas, redução da capacidade de absorção e sustentação, destruição de raízes e rizomas, tombamento de plantas.

l

Perdas

- Até 100% em bananeiras do grupo Cavendish.

l

Fontes de inóculo

- Material propagativo infestado, solo infestado, hospedeiros alternativos.

l

Disseminação do inóculo

- Material propagativo infestado, implementos agrícolas com partículas de solo infestado, trânsito de homens e animais nas áreas de plantio, escoamento de águas da chuva e de irrigação em áreas de declive.

l

Infecção

- Qualquer estádio da cultura.

l

Condições predisponentes

- Solos arenosos, temperaturas elevadas, implementos infestados, monocultura, baixos teores de matéria orgânica no solo.

l

Medidas de controle

- Métodos culturais: plantio de material propagativo sadio em local

não infestado; descortinamento de mudas, associado a tratamento com

nematicida; alqueive por seis meses a um ano; aplicação de matéria

(16)

orgânica na cova de plantio, com esterco bem curtido e livre de nematoide;

aplicação de torta de mamona; rotação de culturas.

- Método genético: cultivares resistentes estão disponíveis – Prata, Pacovan, Prata Anã, Thap Maeo.

- Método químico: aplicação de nematicida (carbofuran ou terbufós) na cova de plantio.

3.5. Fatores predisponentes às doenças e medidas de manejo Os fatores predisponentes à ocorrência das doenças devem ser conhecidos com profundidade, uma vez que constituem os alicerces do manejo integrado. Na Tabela 2 são apresentados os fatores predisponentes à ocorrência das doenças-chave da bananeira, enquanto na Tabela 3 são listadas as medidas de controle aplicáveis a cada doença, baseadas nos fatores predisponentes.

Fator predisponente Doença*

SA SN MP AN FN

Água livre na superfície do hospedeiro

l l l

Alta umidade relativa do ar (>90%)

l l l

Elevada precipitação pluviométrica

l l l

Temperaturas de 25-30

o

C

l l l l l

Deficiência de cálcio

l

Deficiência de magnésio

l

Plantas desequilibradas nutricionalmente

l l l

Baixos teores de matéria orgânica no solo

l l

Solos ácidos

l

Solos arenosos

l

Solos mal drenados

l l l

Solos infestados

l l

Implementos infestados

l

Incidência de insetos

l

Monocultura

l l

Plantas invasoras

l

Tabela 2 - Fatores predisponentes à ocorrência das doenças-chave da bananeira

*SA = sigatoka-amarela, SN = sigatoka-negra, MP = mal-do-panamá, AN = antracnose e FN = fitonematoses.

(17)

Medida de controle Doença*

SA SN MP AN FN Evitar plantio em áreas com risco da doença

l

X Plantio em terrenos com boa drenagem

l l l

Adubação equilibrada

l l l

Correção do pH do solo

l

Correção dos teores de cálcio

l

Correção dos teores de magnésio

l

Suplementação do solo com matéria orgânica

l l

Aplicação de torta de mamona

l

Uso de material propagativo sadio

l l

Uso de cultivares resistentes

l l l

Desfolha sanitária

l l

Eliminação de folhas velhas, brácteas

e restos florais remanescentes

l

Erradicação de plantas com sintomas

l

Controle de plantas invasoras

l l l

Controle de insetos

l

Evitar ferimentos nos frutos

l

Cobertura do cacho com saco

de polietileno perfurado

l

Limpeza de implementos

l

Aplicação de nematicida na cova de plantio

l

Tratamento de mudas com nematicidas

l

Aplicação de fungicidas protetores

l l

Aplicação de fungicida na pós-colheita

l

Limpeza e desinfestação do tanque

de despencamento

l

Renovação periódica da água do tanque

de despencamento

l

Rotação de culturas

l

Alqueive por seis meses a um ano

l

Tabela 3 - Medidas de controle aplicáveis às deonças-chave da bananeira, baseadas nos fatores predisponentes

*SA = sigatoka-amarela, SN = sigatoka-negra, MP = mal-do-panamá, AN = antracnose e FN = fitonematoses.

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4. Conclusões

O manejo das doenças-chave das fruteiras tropicais constitui desafio constante, pois as modificações nos sistemas de produção exercidas pelo homem interferem na manifestação e intensidade das doenças, havendo, muitas vezes, necessidade de mudanças nas estratégias de manejo. A predominância do tipo climático também influencia significativamente a prevalência e intensidade das doenças em fruteiras tropicais. Como exemplo, nas condições de umidade elevada predominantes em boa parte do litoral do Nordeste brasileiro a ocorrência de doenças foliares é muito séria, como pode ser observada em relação à sigatoka-amarela da bananeira, antracnose do mamoeiro e podridão-negra do abacaxi.

Entretanto, em condições semiáridas as doenças relacionadas a estresse da planta se destacam em importância, como o declínio das ramas do meloeiro, o oídio do mamoeiro e a morte descendente da videira. Outro aspecto a considerar é a grande diversidade de espécies de agentes fitopatogênicos, principalmente de fungos e causam um mesmo tipo de doença, o que até recentemente era atribuído a somente uma espécie.

Como exemplo dessa situação, destacam-se as oito diferentes espécies de Lasiodiplodia causadoras de morte descendente da videira no Vale do São Francisco e as 12 espécies de Colletotrichum causando antracnose à mangueira no Nordeste brasileiro, o que foi recentemente constatado. Portanto, a busca do conhecimento da biologia e ecologia dos agentes patogênicos, bem como a compreensão dos fatores predisponentes e da epidemiologia das doenças, deve ser o foco das investigações, uma vez que o esclarecimento desses aspectos é fundamental para o sucesso no manejo das doenças em fruteiras tropicais.

5. Referências

AGRIANUAL 2015. Anuário da agricultura brasileira. São Paulo:

Informa Economics South America FNP, 2015. 504 p.

ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA 2015. Santa Cruz do Sul, SC: Gazeta Santa Cruz, 2015. 104 p.

BUAINAIN, A. M.; BATALHA, M. O. (Coord.). Cadeia produtiva

de frutas. Brasília: IICA-MAPA/SPA, 2007. v. 7, 102 p.

Referências

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