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Sumário. Texto Integral

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 1835/04-1

Relator: ESPINHEIRA BALTAR Sessão: 19 Janeiro 2005

Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: AGRAVO Decisão: PROVIDO

COMPETÊNCIA MATERIAL

Sumário

1 – No domínio da concessão de crédito bonificado, a fiscalização sobre a venda anterior a cinco anos e a justificação da mesma para efeitos de

manutenção ou extinção das bonificações de juros, cabe à Direcção-Geral do Tesouro, como refere o artigo 12 n.º 4 al. b) do decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro e não à entidade financeira mutuante como estava expresso no artigo 11 n.º 4 al. b) do decreto-lei 328-B/86.

2 – A análise, ponderação e decisão das razões justificativas da manutenção ou extinção da bonificação do crédito concedido aos autores, por parte da

Direcção-Geral do Tesouro, é um acto de gestão pública, porque realizado por um organismo público, no exercício de funções que lhe foram conferidas e no desenvolvimento do interesse público.

Texto Integral

Acordam em Conferência na Secção Cível da Relação de Guimarães

Agravo 1835/04 - 1ª Acção Sumária 1316/03

2º Juízo Tribunal Judicial Esposende Relator Des. Espinheira Baltar

Adjuntos Des. Silva Rato Des. Carvalho Martins

"A" e mulher, residentes na Rua ..., Esposende, propuseram a presente acção com forma sumária contra Banco "B", Banco "C", e o Estado Português,

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pedindo que sejam condenados, solidariamente, a pagar-lhes a quantia de 8.056,31 €, referente ao montante que usufruíram de 20/11/96 a 30/04/2000, acrescido de 20%, assim como os juros de mora à taxa legal no montante de 1.771,49 €, tudo no montante de 9,827,80 €.

Fundamentaram o seu pedido no facto de terem celebrado um contrato de compra e venda de uma fracção autónoma a 20 de Novembro de 1996 no regime de crédito jovem bonificado, tendo-a vendido a 22 de Dezembro de 1999, por questões de saúde do seu filho, e no acto da venda, o réu "C", ter recebido o montante global da transacção e retido as bonificações e entregue ao Estado Português.

O Estado Português na sua contestação suscitou a excepção dilatória da incompetência do tribunal em razão da matéria, baseada no facto de que a causa de pedir e pedido, pressupõem a impugnação dum acto de gestão pública.

O primeiro e segundo réus defenderam-se por impugnação.

No despacho saneador, foi julgada improcedente a excepção dilatória

deduzida, pelo simples facto de que o que estava em discussão era saber se foram cumpridas as formalidades legais para a retenção das bonificações, o que se não traduz num acto de gestão pública.

Inconformado com o decidido, o Estado Português interpôs recurso de agravo, formulando conclusões, em que se destaca a seguinte questão:

A análise, ponderação e decisão das razões justificativas da manutenção ou extinção da bonificação do crédito concedido aos autores, por parte da Direcção Geral do Tesouro, é um acto de gestão pública?

Houve contra alegações que pugnaram pelo decidido.

O juiz recorrido sustentou o despacho.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

Factos com interesse para a decisão do recurso:

1 – No dia 20 de Novembro de 1996, os autores adquiriram uma fracção

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autónoma designada pela letra “J”, que tinha por fim exclusivo a sua residência permanente, pelo preço de 13.000.000$00.

2 – Para tal aquisição, celebraram um contrato de mútuo com hipoteca com o

"B", no valor de 13.000.000$00, ao abrigo do regime de crédito jovem bonificado, sendo-lhe aplicável a taxa de juros de 12,13%.

3 – O filho menor dos autores, em virtude das humidades que a fracção

adquirida foi ganhando, adoeceu de forma grave, pelo que, a 22 de Dezembro de 1999, venderam a mesma e a 25 de Agosto de 2000 compraram outra.

3 – Aquando da venda, o réu "C" recebeu do comprador, em Abril de 2000, a totalidade do preço e cobrando-se da totalidade do crédito dos autores, fundamentando-se no disposto no n.º 3 do artigo 12 do decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro, reteve o montante das bonificações entretanto usufruídas pelos autores, acrescidas de 20%, no total de 8.056,31 € ( 1.615.146$00), entregando tal valor ao réu Estado Português, a título de reembolso.

4 – Os autores venderam a fracção e adquiram outra sem humidades por causa da doença do filho, e por não disporem de meios económicos para o fazerem sem a sua alienação.

Iremos agora decidir a questão enunciada.

A questão conforme foi delineada pelo agravante nas suas conclusões, pressupõe a aplicação, para a resolução do caso, do artigo 12 n.º 4 al. b) do decreto-lei 349/98, de 11 de Novembro, vigente à data da alienação da

fracção, por parte dos autores, com as alterações introduzidas pelo decreto-lei 137-B/99 de 22 de Abril.

E segundo esta norma, compete à Direcção-Geral do Tesouro avaliar as razões ponderosas, que levem os beneficiários do sistema de crédito bonificado a alienar a sua propriedade antes dos cinco anos, após a concessão do

empréstimo, com vista a justificar ou não a alienação, de molde a manter-se ou a extinguir-se a bonificação concedida. A valoração destas situações, segundo este normativo, compete a um organismo público.

Porém, confrontamo-nos com a aplicação de normas no tempo, uma vez que, aquando da celebração do contrato de mútuo com hipoteca por parte dos autores, estava em vigor o artigo 11 n.º 4 al. b) do decreto-lei 328-B/86 de 30

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de Setembro, que conferia essa competência à instituição de crédito mutuante.

Assim, é necessário saber qual das normas é a aplicável ao caso, isto é, qual delas é que regula a situação jurídica. Segundo o artigo 12 n.º 1 do C.Civil as normas são de aplicação futura, excepto se a própria lei referir a aplicação retroactiva. E mesmo, quando a lei nova dispõe sobre as condições de validade formal ou substancial de factos ou dos seus efeitos, aplica-se a casos novos, isto é, para o futuro e não a situações jurídicas existentes à data da entrada em vigor de nova lei. Só quando dispuser directamente sobre o conteúdo de certas relações jurídicas, abstraindo-se dos factos que lhes deram origem, é que se aplica às situações jurídicas já existentes – artigo 12 n.º 2 do C.Civil.

Em face disto, temos de saber se o decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro, que revogou expressamente o decreto-lei 328-B/86 de 30 de Setembro, e definiu os termos de aplicação do decreto-lei 137/98 de 16 de Maio e regulou,

transitoriamente, a entrada em vigor dos artigos 8, 11 n.º 1, 3, e 8, e 16, conforme o disposto, respectivamente, nos artigos 33, 34 e 35, é aplicável ao caso, ou será o diploma revogado, como decidiu o juiz recorrido.

Os artigos 33 e 35 do decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro, regulam situações de concessão de crédito, cujos contratos de mútuo tenham de ser concluídos no prazo de 90 dias após a autorização por parte da entidade financeira, tendo em conta a data da entrada em vigor dos respectivos

diplomas, decreto-lei 137/98 de 16 de Maio e decreto-lei 349/98 de 11/11. Em face disto, poderemos concluir que estes normativos não contemplam a

situação em apreço, porque se referem a pressupostos de concessão de crédito bonificado num determinado período de tempo muito curto, e não a situação de incumprimento da condição de não alienação do imóvel em prazo inferior a 5 anos.

Assim, resta-nos ponderar se a nova lei dispõe sobre o conteúdo das relações jurídicas, abstraindo-se dos factos ou se sobre as condições de validade destes e seus efeitos.

O decreto-lei 328-B/86 de 30 de Setembro, no seguimento do 499/83 de 30 de Dezembro, desenvolveu o regime de acesso ao crédito para a aquisição,

construção, beneficiação, recuperação ou ampliação de habitação própria permanente, secundária ou para arrendamento, assim como aquisição de terreno para construção de habitação própria. Definiu e regulou o regime

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geral de crédito, bonificado e jovem bonificado. Determinou o prazo de vigência máximo do contrato de mútuo, formas de amortização e cálculo de juros.

No que respeita ao regime bonificado e jovem bonificado criou as condições necessárias para o seu acesso e o prazo mínimo de manutenção da

propriedade do imóvel na esfera jurídica do mutuário, sem penalizações. E conferiu competência de fiscalização às entidades financeiras ou mutuantes.

O mesmo se passou com o decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro, em que alterou alguns pressupostos de acesso e tornou-se mais rigoroso na

fiscalização.

Analisando os dois diplomas é de concluir que os mesmos regulam as relações jurídicas existentes e a constituir-se no futuro. Dispõem directamente sobre o conteúdo das relações jurídicas existentes, independentemente dos factos que lhe deram origem. Pois incentivam a constituição de contratos de mútuo para desenvolverem um determinado sector da economia e a política da habitação.

O que, através destes instrumentos jurídicos, se celebram e celebrarão vários contratos de mútuo dentro dos regimes contemplados.

Daí que tenham aplicação directa sobre as relações jurídicas existentes, salvaguardando-se os efeitos jurídicos produzidos, à luz de cada norma, de cada diploma vigente no momento da sua produção.

Assim é de concluir que a situação sub judice, deverá ser regulada pela norma vigente à data da alienação da fracção autónoma por parte dos autores, e não pela norma revogada. E isto, porque aquela é de aplicação imediata como o já referimos. Daí que a fiscalização sobre a venda anterior a cinco anos e a

justificação da mesma para efeitos da manutenção ou extinção das

bonificações de juros caiba à Direcção-Geral do Tesouro, como o refere o artigo 12 n.º 4 al. b) do decreto-lei 349/98 de 11 de Novembro e não à

entidade financeira mutuante como estava expresso no artigo 11 n.º 4 al. b) do decreto-lei 328-B/86.

Determinada a norma aplicável, teremos de saber se a actividade da Direcção- Geral do Tesouro, na análise, ponderação e decisão sobre as condições de venda do imóvel por parte do mutuário, com regime de crédito jovem bonificado, antes do prazo de cinco anos, se integra na gestão pública ou privada.

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Esse acto de controle ou fiscalização, que lhe é conferido pelo respectivo normativo, insere-se na política económica e habitacional do Estado. Visa satisfazer um interesse de ordem pública. E sendo desempenhado por organismo público, no exercício de funções que lhe são conferidas e no

desenvolvimento do interesse público, teremos de concluir que se enquadra no conceito de gestão pública e não privada. Pois o que se pretende é que o

sistema funcione de acordo com o legislado, e no caso de haver

incumprimento, seja a Administração Pública, através dos seus órgãos competentes, a fiscalizar o incumprimento e a julgar as situações. Será a Direcção-Geral do Tesouro que avaliará se os factos que levaram à alienação são ou não ponderosos, se justificam ou não a manutenção do regime

bonificado. Este acto de avaliação, de ponderação, é da competência exclusiva do órgão administrativo e só poderá ser sancionado, por via de recurso, pelos Tribunais Administrativos e Fiscais, por serem os competentes. Pois é um acto administrativo. E, como tal, vincula a entidade mutuante, isto é, esta só pode reter as bonificações, nestas circunstâncias, se não tiver sido apresentada qualquer decisão do órgão competente, ou esta for desfavorável.

O que quer dizer que a retenção das bonificações é legítima ou não conforme haja prova de decisão do órgão administrativo competente, no sentido de julgar ponderosas as razões que levaram o mutuário a alienar o imóvel antes do prazo.

Daí que esta situação não possa ser colocada ao tribunal comum, para decidir se as razões que motivaram a vendo do imóvel pelos autores são ponderosas, se se justificam ou não, para efeitos de legitimar ou não a retenção das

bonificações por parte do 2º réu.

Pois o caso a resolver pelo tribunal não se resume ao facto de verificar se foram ou não cumpridas determinadas formalidades legais, como o refere o despacho recorrido, na sua última parte, para justificar a competência do tribunal para julgar o pleito. Na verdade, de acordo com a matéria alegada e descrita na Matéria de Facto Assente e Base instrutória, o tribunal recorrido terá de fazer um juízo de valor sobre os factos e concluir se as humidades surgidas na fracção vendida causaram ou agravaram a doença do filho dos autores, que os condicionou a fazer a transacção. E este julgamento não é mais do que avaliar das razões ponderosas do caso, para declarar a

legitimidade ou ilegitimidade da retenção das bonificações, por parte do 2º réu, de que resultará a procedência ou não da acção. Este juízo ou julgamento

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é da competência exclusiva da Direcção-Geral do Tesouro. Daí que a grande questão a julgar tenha a ver com matéria exclusiva da competência dos órgãos administrativos e não dos tribunais comuns.

Só seria admissível a intervenção do tribunal recorrido, se apenas fosse levada à base instrutória matéria que integrasse a decisão da Direcção-Geral do

Tesouro no sentido favorável, que fosse apresentada à instituição financeira mutuante. Em face desta matéria, o tribunal apenas teria uma função

fiscalizadora das formalidades exigidas, que se compadeciam com os seus poderes jurisdicionais. Pois não se debruçaria sobre a avaliação ou julgamento de nenhuma questão ponderosa, que tinha sido objecto de decisão por parte da entidade administrativa competente.

Apenas verificava se a entidade mutuante cumpriu a decisão emanada da entidade administrativa. E daí concluiria pela legitimidade ou não da retenção das bonificações.

Mas pelo que consta da matéria levada à base instrutória, o tribunal terá de se debruçar sobre matéria da exclusiva competência do órgão administrativo, pelo que não tem competência para o fazer.

Em face disto, é de concluir que o tribunal comum é incompetente em razão da matéria para conhecer das questões que lhe foram submetidas, que são da competência do órgão administrativo, cuja decisão só pode ser sindicada pelos Tribunais Administrativos e Fiscais.

Decisão

Pelo exposto, acordam os juizes da Relação em dar provimento ao recurso, e consequentemente, revogam o despacho recorrido e declaram o tribunal recorrido incompetente em razão da matéria e absolvem os réus da instância.

Custas a cargo dos autores.

Guimarães,

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