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DAS CONTRIBUIÇÕES LEXICOGRÁFICAS DO PORTUGUÊS DO CEARÁ

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I

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o C e a r á

GFEDCBA

D IM E N S IO N A M E N T O

D A S

C O N T R IB U IÇ Õ E S

L E X IC O G R Á F IC A S

D O P O R T U G U Ê S D O C E A R Á

R e s u m o

C o n s t i t u i o p r e s e n t e a r t i g o u m a r e s e n h a a n a -l í t i c a d o s p r i n c i p a i s l e v a n t a m e n t o s v o c a b u l a r e s l e -v a d o s a e f e i t o p o r a u t o r e s c e a r e n s e s a p a r t i r d a s e

-g u n d a m e t a d e d o s é c u l o p a s s a d o a t é a o s n o s s o s d i a s .

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Os t r a b a l h o s r e s e n h a d o s a p r e s e n t a m , n a

-t u r a l m e n -t e , d i f e r e n ç a s d e n í v e l , c o m p r e e n d e n d o , d e s d e s i m p l e s g l o s s á r i o s ape n d i c u l a r e s o u a p o s i ç õ e s d e n o t a s , a t é c o p i o s o s v o c a b u l á r i o s o u d i c i o n á r i o s . F a z - s e , p o r f i m , b r e v e r e f e r ê n c i a a o

futuro A t l a s L i n g ü í s t i c o d o E s t a d o d o C e a r á -A L E C E - e m f a s e f i n a l d e c o m p o s i ç ã o .

P a l a v r a s - c h a v e : g l o s s á r i o ; v o c a b u l á r i o ; d i c i o -n á r i o ; l é x i c o .

A b s t r a c t

T h i s p a p e r i n t e n d s t o b e a f a i t h f u l a n a l y t i c a c c o u n t o f t h e c h i e f l e x i c a l r a i s i n g s m a d e b y c e a r e n s e a u t h o r s a b o u t r e g i o n a l s p e e c h w o r d s f r o m l h e f i r s t h a l f o f t h e m i n e t e e n t l i c e n t u r y t o t h e p r e s e n t l i m e . T h e i n c l u d e d w o r k s r e p o r t e d a r e , o f c o u r s e , o f u n e q u a l l e v e i , s i n c e s i m p l e a p p e n d i c u l a r v o c a b u -l a r i e s o r s h o r t g l o s s a r i e s t i l l l a r g e v o c a b u l a r i e s o r d i c t i o n a r i e s o r s h o r t g l o s s a r i e s t i l l l a r g e v o c a b u -f a r i e s o r d i c t i o n a r i e s . A s l i g h t r e f e r e n c e t o o i s m a d e t o l h efut u r e L i n g u i s t i c A t l a s o f C e a r a S t a t e - A L E C E i n t h e l a s t s t a g e o f c o m p o s i t i o n .

K e y w o r d s : g l o s s a r y ; v o c a b u l r y ; d i c t i o n a r y ; l e x i c o n .

Desde muito cedo revelou-se atenta entre os estudiosos e homens de letras do Ceará a

consciên-ia das peculconsciên-iaridades lingüísticas que conferem ao ecúmeno cearense os traços diferenciais do seu re-pertório lexical.

Com efeito, já a partir de Juvenal Galeno, po-eta de veia popular, com quem se inicia a literatura cearense propriamente dita, vamos encontrar a pre-ocupação com o registro dos nossos regionalismos lexicais, traduzida na aposição de notas ou glossári-os apendiculares, como forma de assegurar a inte-gral compreensão das suas produções de caráter

nativista ou de cunho marcadamente telúrico. Procuraremos, nesta breve comunicação, re-senhar os produtos dessa metodologia, culminando

com a etapa das coletas mais abrangentes, represen-tadas pelos Dicionários ou Vocabulários regionais de Florival Seraine (1958), Raimundo Girão (1967) e Tomé Cabral (Ia edição, 1972; 2aedição, 1982).

1. A primeira resenha constante da nossa exposição data de 1865 e consiste num total de 215 notas apensas às Lendas e Canções Populares de Juvenal Galeno, 190 das quais são de natureza lexicográfica, isto é, destinam-se ao esclarecimento da significa-ção de termos regionais ainda não inscritos nos di-cionários gerais da língua até por aquela altura.

2. A seguir, por ordem cronológica, mencionamos o texto de José de Alencar, O Nosso Cancioneiro, cujo estabelecimento foi feito pela primeira vez em 1960, pela Editora Aguilar. Servimo-nos, para esta resenha, da edição preparada pela Professora cearense Maria Eurides Pitombeira, publicada pela PONTES EDITO-RES, de Campinas - São Paulo, em 1993.

Nesse texto, José de Alencar, sempre atento e atila-do com relação aos problemas de ordem metalin-güística, tece comentários e aventa sugestões sobre a origem e significação de termos expressivos da nossa realidade regional cearense e nordestina, tais como: barbatão, famanaz, famaraz, oirama, poei-rama, espácio, aboiar, rabicho (adj.), bicó (grafado biquó), tropelão, todos de cunho popular e relati-vos ao universo rural da época batizada de "civili-zação do couro" por outro cearense ilustre e de fama nacional, o historiador maranguapense João Capistrano de Abreu.

3. No ano de 1878, sai a lume o romance de

costu-mes cearenses Luizinha, da autoria de Araripe Júnior, incisivamente marcado pela linguagem regional, re-alizando com notória fortuna a conjunção artística de fundo e forma de par com a simbiose lingüística das palavras e coisas preconizada pela escola das "Wõrter und Sachen", de inspiração germânica.

Ressalvando o particularismo da linguagem provinciana de que usava na feitura do seu romance, assim se refere o Autor, ao apresentar as suas

"No-tas aos Capítulos", em número de 84: "Usamos no texto deste trabalho expressões e frases acaso des-conhecidas a pessoas que nunca estiveram em

pro-• •

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víncias do norte, e que são peculiares à linguagem empregada pelo povo que habita aquelas regiões. Para melhor inteligência dos diálogos, registramos aqui as mais notáveis com a respectiva significação."

4. O ano de 1887 assinala o aparecimento do Voca-bulário Indígena em uso na Província do Ceará, de Paulino Nogueira Borges da Fonseca, operoso ho-mem de letras e desembargador, responsável por extenso elenco de colaborações na Revista do Insti-tuto do Ceará de 1869 a 1905, três anos antes do seu falecimento em 15 de junho de 1908.

O Vocabulário Indígena, de Paulino Nogueira, é o primeiro trabalho lexicográfico de fôlego, levado a cabo no Ceará. .Foi publicado na Revista Trimestral do Instituto do Ceará, Ano I, 4° Trimestre de 1877, p. 209-432. Consta de 575 verbetes de desenvolvi-mento amplo, alguns dos quais estendendo-se por várias páginas. Desse total, 113 são registros de no-mes próprios, a maioria topônimos, outros designa-ções de acidentes geográficos como rios, riachos, lagoas, serras, serrotes, etc.

5. Do ano de 1911, da autoria de João Brígido, jor-nalista e historiador, nascido em São João da Barra-Rio de Janeiro, mas radicado no Ceará desde a in-fância, possuímos um interessante trabalho, inti-tulado Glossário Cearense: Expressões, corruptela, gíria e tupi; accepções e phrases populares. Trata-se de um elenco de 422 verbetes, sucintamente defini-dos, dividido em duas partes. A primeira, com 388 itens, ordenados de A a Z, e a segunda, um suple-mento designado APPENDICE, em que são acres-centados mais 38 itens, obedecendo ao mesmo cri-tério de definições, reduzidas quase à pura aposição de sinônimos.

Remata-se o referido Glossário com um "Nota Bene", em que adverte o Autor: - "Excluímos todos os termos populares que já forão apanhados por Constancio, Lacerda e Aulete. Observamos que o populacho sempre pronuncia o1! por Q, oiporl:<e emprega sempre ox , nunca o ch.

6. 1912 é o ano da publicação de Terra de Sol, livro de estréia de Gustavo Barroso, obra emblemática da cul-tura cearense e que representa um marco miliário não

só da nossa literatura,

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s t r i c t o s e n s u , mas também da

própria sociologia nordestina, ao lado de Heróis e

Bandidos (1917) e de Almas de Lama l:<Aço (1930). Do ponto de vista lingüístico, desejamos acentuar a importância do materiallexicográfico iné-dito recolhido pelo Autor ao descrever a Natureza l:<

Costumes do Norte, subtítulo do seu famoso estudo de Sociologia sertaneja.

Ressaltemos que até à 5' edição, inclusive, o Autor se deu ao trabalho de sotopor ao seu texto, ao longo das suas 272 páginas (estou-me louvando na 3"

edição, de 1930) notas explicativas ou definições su-cintas, totalizando um contingente de 108 verbetes, a

maioria dos quais, com o tempo, se foram inscreven-do no registro inscreven-dos dicionários gerais da língua.

Não há dúvida de que inúmeros vocábulos da língua portuguesa do Brasil devem a sua carta de cidade ao escri tor cearense a cuja obra es-tamos aludindo.

Abramos o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguêsa, de Macedo Soares, edição de 1954, no verbete "Quandu", acepção n° 2: Nome que no

Cea-rá se dá ás palmeiras carnaúbas pouco desenvolvi-das. Cf. Terra de Sol, A(fonso) Taunay, Léxico de

Lacunas. No verbete "Pixuna" s.m., lê-se: Nome vulgar de um rato selvagem do Ceará. Cf. Gustavo

Barroso, Terra de Sol, p. 4. Leiamos a definição de "Mocozal"do chamado Dicionário Aurélio: "N.E. Lugar onde se vêem altas paredes de rochas cheias de buracos, nos quais vivem mocós." Trata-se clara-mente de uma definição retrabalhada sobre a nota de Gustavo Barroso na página 40 (3" edição) i n v e r b i s :

"Altas paredes de rocha, esburacadas, onde habitam mocós, que são uma espécie de preá".

Acrescente-se, a propósito, que grande

parte desse novo repertório lexical nordestino ou cearense, já começara a ser lexicografado, por volta de 1938, pelos co-autores do Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Hildebrando de Lima e Gustavo Barroso, os dois, nordestinos, Hildebrando de Alagoas e Gustavo Barroso do Ceará, com revisão de mais dois nordestinos, Manuel Ban-deira, pernambucano e José Batista da Luz, cearense.

Digamos, a bem da verdade, que este dicio-nário, de matriz essencialmente nordestina, foi o embrião fecundo, e talvez muito mais que embrião, daquilo que veio a se tornar, em nossos dias, o mais celebrado dos modernos dicionários da língua por-tuguesa, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, outro nor-destino de Alagoas.

7. 1913: É dada à luz a obra poética de Rodolfo Teófilo, Lira Rústica, com a paráfrase parentética "Cenas da Vida Sertaneja", publicada em Lisboa pela Typographia da "A Editora Limitada".

Fica mais uma vez evidenciada a moti vação da estratégia adotada pelos nossos autores regionais para salvaguardar a inteireza da compreensão da sua mensagem. Como as egurar a plena inteligibilidade da sua poesia ertaneja, traduzida pelo expoente do título Lira Rústica e reafirmada pela expressão subs-crita no parênte e "Cenas da vida sertaneja"? E no caso presente om a agravante de ser a obra editada em Portugal.

Ju tifi a- e. portanto, o recurso mais uma vez adot o: anexação de um Glossário apendi ular. composto de 143 verbetes de cons-tituição medi men e de envolvida e definições bem elabor

Tatu e Mané Xiquexique, o

tld:erCl:C-;C. bano ao escritor paulista m rupês, caricaturava o

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exal-tada que obscurecia a verdadeira natureza do proble-ma da miséria que reduz o homem de qualquer

latitu-de a um "urupê de pau podre que vegeta no sombrio

da mata"ou a um farrapo humano destituído da sua ondição humana.

Tomando a defesa do homem pobre do inte-nor inte-nordestino, do caboclo das zonas rurais do

Nor-de te, procura o criador Nor-de Mané Xiquexique

reve-lar entre nós uma outra realidade psíquica, capaz de

fazer-nos acreditar na existência de outra latitude

moral nas figuras do Mané lavrador, do Mané

vaquei-ro. do Mané jangadeiro e de tantos outros

surpreen-dentes Manés a constituir uma positiva geografia

humana deste outro lado do Brasil.

Mas o principal para o nosso intento é

acen-tuar a conformação do fundo e da' forma, a adaptação

da linguagem à mensagem, numa palavra, o emprego

dos regionalismos expressivos que caracterizam a

obra como a tradução fiel da maneira de pensar e agir dos seus personagens-tipos.

E mais uma vez, para garantir uma bem

su-edida comunicação aos leitores de outras latitudes

geográficas, políticas ou culturais, do imenso

uni-verso da língua portuguesa, apelou o Autor para o

expediente consuetudinário: apôs ao seu ensaio um

Glossário dos nossos termos regionais, como recur-so capaz de assegurar com plenitude a fidelidade do

eu discurso apologético.

Constava o referido Glossário, em I"

edi-ção, de 165 verbetes, reduzido na última (edição), a 3", de 1969, a 43 apenas. Razão pela qual assim nos

adverte o seu editor: "Do glossário organizado pelo

Autor foram excluídos os têrmos e expressões de

uso corrente nos dias atuais e os catalogados nos

di-cionários.

Na realidade, a comprovar a repercussão da

obra, em breve tempo já se disseminava pelos

dicio-nários da língua a consignação de termos cearenses

ou nordestinos chacelados pela abonação de Mané

Xiquexique de I1defonso Albano.

Como acabamos de ver, a obra data de 1919,

e já em 1923, o Novo Vocabulário Nacional, de

Carlos Teschauer, editado no Rio Grande do Sul,

registrava inúmeros verbetes com a indicação da

novíssima fonte objeto destes nossos

comentári-os. Somente na letra A, deparamos: Aboio, açude

badejo, adjitorar, afuleimado, aluá, amucambado,

animal sem fogo, aparro, aracambuz, arisco (s.m.),

arrastar

BA

( = derrubar o boi), arrocho (da linguagem

dos seringueiros), assuntar, aturar na vi vença,

ave-maria! E por aí além ...

9. De 1921 é o interessante opúsculo do Professor

José Gonçalves Dias Sobreira intitulado

Curiosida-des e Factos Notáveis do Ceará (128 páginas nume-radas), editado no Rio de Janeiro pela Typographia

Desembargador Lima Drummond. Quanto ao autor,

trata-se de um famoso professor primário e

telegra-fista, nascido no Crato, que cursou o seminário da

Prainha, em Fortaleza, até a altura dos estudos

teo-lógicos. É autor de várias obras didáticas, inclusive

de uma Simplificação da Grammatica Portugueza,

de 1885, aprovada pela Secretaria da Instrução

PÚ-blica do Ceará e de uma Geographia Especial do

Ceará, adotadas para servirem de compêndio pelas

escolas do Estado.

Quanto ao seu opúsculo, acima referido,

pu-demos anotar alguns registros significativos de

in-teresse para a abonação do vocabulário regional, tais como: oró, designação de uma leguminosa rasteira, que ele identifica com o jericó, embora se trate de

duas espécies botânicas diferentes; pombal e

avoante, dois itens que apresentam uma referência

cruzada. Com relação ao termo avoante, substitutivo

eufêmico de pomba ou pomba-de-bando (era

as-sim que se costumava chamá-Ias), traz-nos o Autor

esta curiosa observação: "Na grande seca de 1845,

a Câmara Municipal de Quixeramobim, vendo que o

nome dessas aves não lhes soava bem entendeu de

reunir-se em sessão especial, e determinou, sob

pena de prisão, que dali em diante fossem chama-das ... avoantes, nome pelo qual são elas hoje conhe-cidas, em todo (o) Ceará."

Seria interessante averiguar a veracidade

desta informação para estabelecer com precisão a

cronologia vocabular deste termo, cujo primeiro

registro, por nós colhido, encontra-se na obra de

Rodolfo Teófilo, História da Seca do Ceará, de

1883, e já constitui uma retrodatação do

Dicioná-rio Etimológico Nova Fronteira de A. G. Cunha,

que lhe assinala o século XX como data de

pri-meira ocorrência.

Prossigamos, no entanto, com a relação dos

nossos itens regionais inseridos pelo Autor:

gota-serena, p. 35; casa de oração, p. 41; cabeça d'água, p. 52; cachaci, p. 64 - termo até hoje não apanhado

pelos lexicógrafos e nitidamente cunhado por

ana-logia com cajuí e cuja definição nos fornece o au-tor no seguinte lanço: "Num Sábado os empregados

tendo recolhido aos depósitos toda a aguardente

destilada, deixaram um vaso ao pé do alambique,

operando o resto da destilação, a que chamam

cachaci ou aguardente fraca." E ainda: ranço, p. 68, na acepção de travo ou travo r acre de certas frutas

verdes, especialmente do caju. No Rio de Janeiro,

por exemplo, se diz cica e não ranço do caju. Ob-servamos,

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e n p a s s a n t , que o benemérito Tomé Cabral, ao consignar o termo com a exata

significa-ção que tem entre nós, oferece como abonasignifica-ção o

seguinte exemplo do Prof. J.G.Dias Sobreira: "Não tem (se, o cajuí) o ranço do caju comum; é, ao

con-trário, bastante doce e saboroso." Ocorre, porém,

que em Tomé Cabral, a citação, que vem entre as-pas, além de não exibir a autoria do exemplo, se

apre-senta bastante corrompida. Ali se lê: "O caju não

tem o ranço do caju comum; é, ao contrário,

bastan-te doce e saboroso." Isto, na 2" edição, pois na 1"

não se encontra registrado o termo. Merecem ainda

citados os vocábulos: banda-forra, p. 82; serrota, p.

92; caretas (os -), p. 124 e aluá, p. 128.

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10. Neste mesmo ano de 1921 inicia-se a seqüência

das exitosas obras regionais de Leonardo Mota que

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por mais de tO anos se empenhou na investigação da nossa cultura popular, do nosso folclore, da nossa paremiologia e da nossa linguagem regional, estudan-do-a, anotando-a e divulgando-a, não só em livros e artigos em revistas e jornais da terra, mas também em palestras e conferências pelo Brasil afora, merecen-do o honroso epíteto de caixeiro-viajante da cultura popular cearense, ou embaixador dos sertões.

A primeira das suas reveladoras produções foi Cantadores (Poesia e Linguagem do Sertão Cea-rense) , de retumbante êxito editorial no Rio de Ja-neiro, com tiragem de 10.000 exemplares, em pou-co tempo esgotada pelo públipou-co brasileiro.

Seguindo mais uma vez o procedimento ha-bitual dos seus predecessores, anexa Leonardo Moia, ao seu livro de estréia um alentado Elucidário de 733 verbetes, composto de lexias simples, com-postas e complexas, cuja finalidade assinala na ad-vertência de que faz preceder o seu rico repertó-rio: "Não foi intenção minha contribuir para a for-mação de um dicionário cacoépico, mas apenas

lem-brar, com abundância de exemplos, o 'dialeto cearense', ou 'fixar algum aspecto da dialetação portuguesa no Ceará' - como talvez preferisse

dizê-10

o Sr. Amadeu Amara\."

Tal qual acontecera com Mané Xiquexique, dois anos após a publicação da obra, já se transcre-vem nas páginas dos dicionários exemplos de

mo-dismos cearenses recolhidos e divulgados por Leo-nardo Mota. Sirvam-nos de prova: Abuso, na acepção de aborrecimento e abusar, igual a enjoar; a lexia agüentar tempo, significando: ser capaz de enfrentar sérias dificuldades; apariado, curruptela de "apare-lhado", arranjado, quase rico; arremediado, remedi-ado; arranjado, quase rico; arremediado, remediado; arrepunar, repugnar, para nos atermos unicamente à

letra A.

De 1925 é o aparecimento de Violeiros do Norte, a que o Autor, socorrendo-se da mesma metodologia, apendiculou um novo glossário sob a denominação de Modismos e Adagiário,

constituí-do de 552 verbetes ou itens em que avulta a presença das lexias compostas e complexas, preanunciadora da sua futura obra paremiológica.

Como prova de seu aproveitamento

lexicográfico apontamos a sua inserção na biblio-grafia referencial do novo Dicionário da Língua

Por-tuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, ao lado de A "Padaria Espiritual", Cantadores, No

Tem-llli de Lampião e Sertão Alegre.

Em 1928, é dado à estampa Sertão Alegre, na mesma linha de pesquisa e divulgaçào das palavras e coisas do Ceará, pondo sempre em alto relevo a "gaia ciência" dos nossos violeiros e poetas populares. Não

fugindo ao esquema das obras anteriores, encerra-se o livro com extenso rol constitutivo do apêndice intitulado: Linguagem Popular, que totaliza o mon-tante de 716 verbetes, em que predominam as lexias compostas.

Com o livro No Tempo de Lampião, de 1930, fecha-se o ciclo das obras de pesquisa e registro das

nossas peculiaridade regionais levadas a cabo pelo ilustre cearense, filho de Pedra Branca, "no coração geográfico do Ceará". Remata o trabalho final do nosso Autor um elenco de 86 verbetes, intitulado "Apelidos Sertanejos", constituído integralmente de lexias compostas, algumas dos quais mereceram a honra do registro lexicográfico, como: mão de gen-gibre, venta de bezerro novo, cara de bolacha doce, olho de vaca laçada, venta de telha emborcada, todas de notável precisão icástica e, por isso mesmo, con-sideradas dignas de consignação por parte do Dicio-nário AURÉLIO, que as inscreve com a indicação diatópica CE, i.e., privativa ou característica do Ce-ará. Porém, ainda não se exaure aqui, de todo, a

con-tribuição lexicográfica de Leonardo Mota, se con-siderarmos o estatuto de item lexical conferido hoje pela Lingüística moderna às configurações fixas re-presentadas pelos espécimes parerniológicos, a sa-ber, os adágios, os provérbios, as máximas. os anexins, os ditos e outras modalidades de "discurso

repetido", como os denomina Coseriu, em oposiçào à elaboração lingüística realizada pela técnica livre de composição discursiva.

Nessa conformidade, tem pertinência acres-centar aqui a obra paremiológica do folclorista cearense, intitulada Adagiário Brasileiro, de publi-cação póstuma, que reúne milhares de provérbios, ditados, parêmias, expressões idiomáticas,

colo-quialismos e modismos regionais, como mais um título representativo da sua atividade no campo da lexicografia cearense.

E como temos procedido em todo o decor-rer desta exposição, vamos, uma vez mais, assinalar. a título de encarecimento do valor do trabalho cita-do, a sua repercussão em outras obras, como atesta-do da sua importância no universo das produções

lexicográficas. Com efeito o reconhecimento do

valor documental da obra do nosso ilustre

conterrâneo comprova-se pela inclusão do seu nome no índice de autores que compõem o elenco biblio-gráfico do Dicionário de Sentenças Gregas e Lati-nas, de Renzo Tosi, um dos maiores e mais autoriza-dos repositórios da paremiologia clássica produzi-dos na atualidade. A obra foi editada no Brasil pela Martins Fontes, com tradução de Ivone Castilho Benedetti.

11. Chegamos ao ano de 1931, em que se assinala a

publicação de Português da Europa e Português da América, da autoria de Clóvis Monteiro glória filológica do Brasil e do Ceará, ao lado dos nomes igualmente gloriosos de Heráclito Graça e de Fausto Barreto, expoentes máximos, à sua época, da com-petência e da dedicação no campo dos estudos da língua portuguesa.

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destacan-do-se particularmente alguns que apresentam senti-do especial, ou revestem forma distinta na geografia lingüística do Ceará. São eles: Biboca - cuja signifi-cação genérica é "buraco, escavação feita no terreno pelas enxurradas, mas que, no Ceará, segundo o re-paro do Autor, significa "morada humilde, casebre." Em seguida apresenta a etimologia indígena da pala-vra: yby . terra, boca, fenda, rasgão; Cará - A propó-sito da variante Acará informa: não é corrente no Ceará; Cuité ou Coité - Esclarece que "no Ceará é a cúia polida e pintada." A restrição é pertinente, por-quanto, nas demais regiões do Brasil o termo é sinô-nimo de "cuieira", que é o nome da planta produtora das cuias; Imbuá - Considera corruptela de ambuá e define-a: Nome dado, no Ceará, a um miriápode quilognata (sic), que tem a particularidade de

enros-car-se e ficar imóvel, por algum tempo, quando se lhe toca. Definição perfeita que, infelizmente, não foi reproduzida pelos dicionários e que descreve com perfeição esse tipo de centopéia; Tapioca - Particu-lariza a significação do termo entre nós, anotando: "No Ceará, espécie de beiju feito dessa massa (i.e. de mandioca); Umari - Planta legumisosa (Geofroya spinosa). ( ...) Entre o povo, no Ceará, também se diz manzeira.

No ano da graça de 1933 registra-se o famo-so concurfamo-so para a cátedra do Colégio Pedro

BA

I l ,em que Clóvis Monteiro comete a ousadia de apresentar a julgamento uma tese em que procura estudar um

"COI'PUS" representativo da linguagem popular do Nordeste, para desagrado e conseqüente atitude de impugnação e veemente manifestação de hostilida-de por parte hostilida-de um dos integrantes da banca exami-nadora, o celebrado mestre José Oiticica, de tempe-ramento ouriçado, a quem Clóvis Monteiro teria de vencer e convencer de que o tema do seu estudo era também merecedor da atenção despreconceituosa dos verdadeiros estudiosos da ciência da linguagem.

Na verdade, A Linguagem dos Cantadores, fruto da análise serena e competente do material bateado pela atividade incansável de Leonardo Mota, veio fortalecer o respeito devido aos estudos dialetais no Brasil, cujos primeiros passos haviam sido auspiciosamente dados com a bem sucedida estréia representada, alguns anos antes, pelo notá-vel ensaio de Amadeu Amaral, O Dialeto Caipira, dado à luz em 1920.

Para o nosso objetivo estrito, levamos em consideração o teor do capítulo intitulado " À mar-gem do Vocabulário", composto de 50 verbetes cons-tituídos pelas formas e expressões que representam aspectos marginais em relação ao "uso literário do Brasil e de Portugal". Ou mais precisamente, como acentua o Autor da obra: "o que se me antolha

pecu-liar ao português falado no nordeste."

Mencionemos ainda, da produção de Clóvis Monteiro, a sua obra de 1958, Fundamentos Clássi-cos do Português do Brasil, cujo capítulo V, deno-minado Apêndice, se constitui de um estudo sob a rubrica "Regionalismos Lexicais" em que o Autor arrola 126 verbetes propiciadores de um estudo

contrastivo entre termos cearenses e sul-rio-grandenses de significação idêntica ou coincidente, algumas vezes com pequenas diferenças de forma ou de aplicação.

Lembremos, a propósito, que as charqueadas do Rio Grande do Sul resultaram de uma transu-mância de criadores de gado cearenses para aquelas plagas. Recordemos também que a conquista do Acre pelos cearenses foi comandada pelo gaúcho Pláci-do de Castro e que o Ceará já foi administraPláci-do por um filho dos pampas (Em 1888, era o Ceará gover-nado pelo segover-nador Gaúcho Henrique d'Ávila - cf. L. Mota, Violeiros do Norte, 2. ed., p. 181)

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12. Retomemos agora a 1934 para assinalar a psença marcante de Martinz de Aguiar no que se

re-fere ao estudo do vocabulário. Com efeito, data des-se ano a contribuição do filólogo cearendes-se intitulada Os Sinais de Galvão, inserta na Revista do Instituto do Ceará, tomo XLVII, p. 29-37. Consta a referida contribuição de uma seqüência de 16 itens em que estuda a nomenclatura popular das características hipológicas, positivas ou negativas, ou seja, os

fa-mosos sinais de Galvão.

Em Notas e Estudos de Português, de 1942, trata o saudoso mestre, em 11 dos 30 tópicos que compõem o sumário da obra, de tecer considera-ções em torno de particularidades do léxico diale-tal cearense. Mereceram sua especial atenção os termos: Parabenizar, cauã ou cõã, pezunho, aciolino, ensolarado, a locução corrio sem falta, milhar (s.f.), teimoso (s.m.) ou mané-teimoso equivalente ao ter-mo de origem chinesa "pussá", segundo o Mestre, e

que não se encontra consignado por nenhum dicio-nário da língua, com tal acepção. Ao mané-teimoso do Ceará corresponde hoje a designação de joão-teimoso ou simplesmente teimoso (s.m.) e joão-paulino, dependendo da região do país. Trata ainda dos topônimos Russas, Juazeiro e Ceará.

E por fim, em Notas de Português de Filinto e Odorico, de 1955, volta o ilustre filólogo a inse-rir no seu trabalho referências especiais ao nosso vocabulário popular. São 11 anotações pontuais em torno dos itens: Pichano ou Bichano, patota ou batota, p. 94; capado ( s .r n ., p. 55); bisaco, p. 62; mangofar, p. 146; mascara (paroxítona), p. 169; bebemoração, p. 188; lubim, p. 189; calculo/me-dida calculada, p. 230; cloretilo, p. 354; babau (s.m.), p. 423.

13. Gostaríamos de citar também, imprimindo a esta citação, igualmente, um caráter de homenagem, ao distinto folclorista Ctarlos) Nery Camelo, o seu

interessante trabalho, Alma do Nordeste, fruto de

extensa peregrinação por mais de 300 municípios da região, taquigrafando a linguagem popular.

Encerra o livro um elenco de 31 verbetes elucidativos das nossas peculiaridades regionais.

14.À margem da literatura propriamente dita ou dos textos paraliterários, houvemos por bem referir aqui

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nesta resenha dois trabalhos de natureza científica

no campo da botânica.

O primeiro, de 1863, é de autoria de Thomaz Pompeo de Sousa Brasil. Trata-se do Capítulo 1 1 ,do seu monumental Ensaio Estatístico da Província do Ceará, dedicado ao Reino Vegetal. Nesse capítulo, o Autor apresenta um estudo sobre cerca de4 0 0 plan-tas da região nordestina, particularizando 225 espé-cimes de "plantas medicinais, de marcenaria, de construção naval e civil, de cordoaria, tinturaria, floríferas, alimentícias" que "nascem e crescem es-pontaneamente, ou são facilmente aclimatadas nesta província", segundo suas próprias palavras. Cumpre assinalar que inúmeros itens que integram o referi-do elenco ainda não mereceram a contemplação dos dicionários ou vocabulários gerais da língua.

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15. Noventa anos mais tarde, na esteira de Tomás Pompeu, o botânico e agrônomo cearense, Prof.

"Renato Braga, publica o seu notável dicionário de Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará, Ia. edição, 1953 enriquecendo sobremaneira a lexi-cografia botânica da nossa terra e de toda a região nordestina.

Vale ressaltar, de maneira especial, a perma-nente atenção dada pelo Autor às denominações po-pulares dos espécimes estudados e a sua preocupa-ção constante com a onomasiologia diatópica, ofe-recendo as variantes designativas das plantas nos

di-versos locais por onde se extende o seuZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAh a b i t a t . Sir-va-nos de exemplo, o que nos informa a respeito da

planta herbácea Canudo: "Cresce em toda a América tropical. Da Amazônia ao Espírito Santo, Minas Ge-rais e Mato Grosso. Mata--cabra e

Canudo-de-la-glli!são outras denominações cearenses desta

plan-ta. Algodão-bravo, no Pará; Algodão-do-pantanal, em Mato Grosso.

Consta o aludido Dicionário de 1433 lemas, devendo-se considerar, como acabamos de enfatizar, a amplificação de itens lexicais, por meio da qual pro-cura o seu Autor dar-nos conta das designações alter-nativas de cunho popular ou de interesse diatópico. Alguns lemas chegam a apresentar até uma dezena dessas variantes sinonímicas. Para Viuvinha, v.g. o

úl-timo verbete da obra, encontram-se anotados os se-guintes sinônimos populares: Capela-de-viúva, cho-rão-de-viúva, coroa-de-viúva, toucado-de -viúva, cipó-azul, flor-azul, flor-de-são-rniguel, flor-de-viúva, grinalda-de-flor-de-viúva, toucado e cinamomo.

Chegamos, finalmente, à etapa de maturação da consciência da nossa identidade lingüística, em

cuja decorrência foram bateados e explorados os nossos grandes e pequenos textos, anteriormente comentados e resenhados, com vista à elaboração exaustiva do nosso léxico regional.

16. O reconhecimento dessa necessidade se confi-gura pela primeira vez na obra pioneira de Florival Seraine, de 1958, o seu prestantíssimo Dicionário de Termos Populares (Registrados no Ceará), cuja Nota Preliminar confirma a nossa assertiva: "As

obras de que mais nos servimos foram Cantadores, Sertão Alegre, Cancioneiro do Norte (corrija-se: Violeiros do Norte), No Tempo de Lampião, da

au-toria de Leonardo Mota; D. Guidinha do Poço, de Oliveira Paiva; Terra de Sol e Ao Som da Viola, de Gustavo Barroso; ( ...) Plantas do Nordeste, especi-almente do Ceará, da lavra de Renato Braga, etc."

Deixamos de incluir na nossa resenha a re-ferência ao Glossário de D. Guidinha do Poço, por ter sido este organizado tardiamente, dadas as pe-ripécias que envolveram a publicação póstuma do famoso romance de Oliveira Paiva. O referido ro-mance, como se sabe, foi escrito por volta de 1892, tendo sido dado à estampa somente em 1952. O Glossário que o acompanha foi organizado por Américo Facó, e consta de 516 verbetes ampla-mente desenvolvidos.

O Dicionário de Florival Seraine, na Ia

edi-ção, consta de 4524 verbetes, muitos dos quais com subentradas de termos compostos ou expressões fraseológicas que concorrem, evidentemente, para uma apreciável amplificação dos itens lexicais com-putados apenas pelo lema ou entrada principal.

Em 1991, em 2a edição, revista, ampliada e

melhorada pelo Autor, como se lê na respectiva fo-lha de rosto, reaparece a obra com a informação pres-tada pela Nota Preliminar de que "Na presente tira-gem deste livro ocorre o averbamento de inúmeros termos que não constam da Ia edição, bem assim, o acréscimo de algumas definições e modos expres-sivos a verbetes que já aí se encontravam.

A maior novidade, porém, introduzida pelo Autor foi a inclusão de pequenos textos exern-plificativos do lema definido, grafado em transcri-ção fonética própria, seguindo o que talvez se

pu-desse chamar de "método fonotípico", segundo se costumava proceder por volta de fins do século pas-sado e inícios deste, antes da invenção e aplicação do Alfabético Fonético Internacional.

Não creio que tenha sido feliz esta inovação acrescida ao trabalho lexicográfico do nosso dicionarista.

Com respeito às expressões fraseológicas apresentadas no corpo dos verbetes, gostaria de cha-mar a atenção para o fato de que a grande maioria co-incide quase perfeitamente na forma e na definição com as que foram inventariadas por Antenor Nascen-tes no seu "corpus" constitutivo do Tesouro da Fraseologia Brasileira, cuja Ia edição data de 1944.

17. A Florival Seraine segue-se Raimundo Girão, grande polígrafo cearense, que nos deu em 1967, o seu prestimoso Vocabulário popular cearense, cons-tituído de 3065 verbetes.

Trata-se de obra bastante diferente da de seu antecessor, tanto na orientação como na execução. Descarta a inclusão de termos pertinentes à flora e à

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Adota a prática de abonações, citando, com

precisão, autor, obra, página e edição, privilegiando os grandes textos representativos da literatura regio-nal, de que já fizemos reiterada menção. Fornece ain-da a etimologia ain-da maioria dos termos inventariados, como último elemento de composição dos verbetes.

18.Chegamos, por fim, a 1972 com a obra mais

alen-tada da lexicografia cearense: O Dicionário de

Ter-mos e Expressões Populares, de Tomé Cabral, gran-de benemérito dos estudos da linguagem popular do Ceará, no campo da pesquisa dialetológica.

Mesmo não sendo possuidor de uma forma-ção lingüística especializada, conseguiu realizar uma obra magistral, dotando a nossa bibliografia lexicográfica do mais importante e mais abrangente trabalho de coleta vocabular até hoje realizado no Brasil. A primeira edição da obra se compõe de um

repertório de 10.876 verbetes que incluem a

categorização gramatical do termo, a definição, for-mas variantes e, na grande maioria dos casos, abona-ção precisa e fiel, para cuja consulta nos fornece rica bibliografia de apoio, composta de 147 títulos, re-duzidos, para comodidade dos consulentes, a um sis-tema de siglas trilíteras (ou quadrilíteras, em alguns pouquíssimos casos).

Dez anos depois da I" edição, ressurge a obra em 1982, em 2" edição, com o título Novo Dicioná-rio de Termos e Expressões Populares, com plena justificativa para o acréscimo do adjetivo Novo.

Na verdade, reaparece o dicionário locupleta-do com mais cerca de 8.000 verbetes, enriquecenlocupleta-do- enriquecendo-se também a bibliografia com mais 178 novos títulos.

Outro dado importante que veio contribuir para a configuração do novo perfil do Dicionário foi a adjunção de material abonatório extraído da litera-tura de cordel, em referência à qual organizou tam-bém o Autor uma bem cuidada bibliografia que totaliza 292 exemplares de livretos de cordel,

repre-sentados, para efeito de consulta, por um cômodo sistema de siglas lí~ero-numéricas, à semelhança do que adotara para a I" edição da obra.

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E p ílogo

Queremos, finalmente, para concluir a nossa resenha, dando plena conta e satisfação do que anun-ciamos no nosso resumo, mencionar dois trabalho, representativos da nova metodologia de pesquisa, implantada com o advento do ensino da Lingüística nos cursos de letras das Universidades brasileiras.

O primeiro, de pequeno tomo, constitutivo de uma Dissertação de Mestrado, é da autoria do Prof. Antônio Luciano Pontes, e intitula-se O Léxico da Cultura e Insdustrialização do Caju em Pacajus-CE.

Trata-se de trabalho realizado sob a orientação da Ora. Maria Auxiliadora Bezerra, do Centro de Ciên-cias Humanas, Letras e Artes da Universidade da Paraíba, no ano de 1985.

O produto final, em termos de material lexi-cográfico, materializou-se na elaboração de um

glos-sário constituído pelo total de 335 termos referen-tes ao campo e subcampos lexicais objeto da pes-quisa projetada. Seria de desejar que trabalhos se-melhantes continuassem a ser feitos em outras áreas de atividades características da vida econômi-ca e social do Estado, v.g., a cultura da econômi-carnaúba, do algodão, da oiticica, a exploração da pesca da lagos-ta e de lagos-tantos outros aspectos do nosso universo cultural ainda não abordados, ou não tematizados de maneira plenamente satisfatória.

O segundo trabalho, este de grande enverga-dura, é o Atlas Lingüístico do Estado do Ceará, pro-jetado e elaborado por uma equipe de pesquisado-res do Núcleo de Pesquisa Lingüística do Departa-mento de Letras Vernáculas da UFC - NUPEL - e que, ao fim de doze anos de paciente dedicação dos seus colaboradores bem como do meritório patro-cínio de órgãos e entidades comprometidos, encon-tra-se hoje em fase final de elaboração.

Com efeito, projetado, em última delibera-ção, para ser editado em três volumes pela Impren-sa Universitária do Ceará, estamos procedendo à revisão do último volume da obra, constituído pelo Glossário, seguindo a sistemática adotada pelos de-mais Atlas Lingüísticos.

Queremos ressaltar que o nosso Glossário será o mais rico dos que até hoje se fizeram como expressão demonstrativa dos diversos "corpora" lexicais levantados pelas obras congêneres publi-cadas no Brasil. Totaliza 936 verbetes que instru-mentalizam os seguintes dados informativos: (1) A inscrição do lema; (2) A transcrição fonética; (3) A categorização gramatical; (4) O número do quesito, que remete ao questionário utilizado para elicitação das respostas; (5) O número da carta lexical e da carta fonética; (6) A classificação dos informantes, identificados como informante Q,a saber, analfabeto, e informante

BA

1 ,igual a informante alfabetizado.

Defendemos a tese de que os Atlas Lin-güísticos, pela fidedignidade das informações traduzidas no registro dos dados carto.gráficos, de-vem funcionar como legítimas fontes subsidiárias da lexicografia, razão pela qual incluímos nesta re-senha das colaborações lexicográficas do Português do Ceará o nosso ansiosamente esperado ATLAS

LINGÜÍSTICO DO ESTÁDO DO CEARÁ, que

ha-verá de perfilar-se como um marco histórico dos estudos lingüísticos em nossa terra.

B ib liografia

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Referências

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