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A EDUCAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XVI: OS COLÉGIOS DA COMPANHIA DE JESUS E A UNIVERSIDADE DE ÉVORA

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Anais da

Semana de Pedagogia da UEM

ISSN Online: 2316-9435

XX Semana de Pedagogia da UEM

VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor

A EDUCAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XVI: OS COLÉGIOS DA COMPANHIA DE JESUS E A UNIVERSIDADE DE ÉVORA

BORTOLOSSI, Cíntia Mara Bogo cintia_bortolossi@hotmail.com COSTA, Célio Juvenal (orientador) célio_costa@terra.com.br

Universidade Estadual de Maringá (UEM)

História e historiografia da educação INTRODUÇÃO

A investigação realizada neste trabalho procura analisar o contexto da educação em Portugal no século XVI, especialmente, por meio dos colégios da Companhia de Jesus em Portugal e da Universidade de Évora. O presente século é marcado pelas ações da Companhia de Jesus em prol da propagação da fé cristã, em um momento de restruturação da Igreja Católica. Para tanto, acreditamos ser essencial o entendimento que se tem de educação nesse período da história de Portugal.

A educação em Portugal no século XVI estava diretamente ligada à religião.1Conforme o debate de que a sociedade educa de acordo com o tipo de homem que se quer formar, podemos afirmar que nesse período, os valores cristãos, e no caso, do catolicismo, eram o que o homem precisava exercer. Dessa forma, podemos dizer que a educação jesuítica não se restringia a educação escolar, mas sim, como um espaço de formação de valores.

Aos poucos a Companhia de Jesus foi se adentrando em Portugal, principalmente durante o reinado de Dom João III – o monarca benfeitor da Companhia. Foi em Portugal onde mais prosperou a nova ordem, tendo crescido de tal forma, que foi preciso abraçar institutos, casas e colégios, onde se formavam e exerciam os ministérios da profissão. Apesar de não ser seu objetivo inicial, a Companhia de Jesus passou a se dedicar à educação letrada e moral da juventude. Acreditava-se que isso traria benefícios para a sociedade como um todo.

Os jesuítas, por meio de sua rede de escolas públicas, obtiveram um papel decisivo no campo da educação. O ensino público da Companhia é solicitado por várias cidades de Portugal, sendo a primeira escola pública aberta na Casa de Santo Antão. Em 1553, os jesuítas inauguram um Colégio em Évora sendo que mais tarde assumem a direção da Universidade fundada pelo Cardeal D. Henrique.

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Em Évora, o cardeal D. Henrique, irmão de D. João III e futuro rei de Portugal de 1578 a 1580, manda edificar o Colégio do Espírito Santo, entregando a sua condução aos padres da Companhia de Jesus. Em pouco tempo, com o êxito que vinha tendo, o cardeal foi se objetivando a transformá-lo em universidade. Conseguiu a permissão que desejava no ano de 1559, ficando assim instituída a Universidade de Évora, ligada, desde o seu início, a Companhia de Jesus.

OS COLÉGIOS DA COMPANHIA DE JESUS

Inicialmente, as casas dos jesuítas eram os colégios onde os jovens poderiam residir para a sua formação. Podemos averiguar por meio da quarta parte das Constituições:

[...] a Companhia funda colégios e também algumas universidades, onde os que deram boa conta de si nas casas e foram recebidos sem os conhecimentos doutrinários necessários possam instruir-se neles e nos outros meios de ajudar as almas. (CONSTITUIÇÕES, 1997, p.117 )

O alargamento do ensino aos estudantes não religiosos foi o fator que contribuiu decisivamente para o crescimento dos colégios da Companhia de Jesus, principalmente em Portugal.

Conforme Sousa (2003), em Portugal, a primeira notícia referente à existência da Companhia é por meio de Diogo de Gouveia, Reitor do Colégio de Santa Bárbara, localizado em Paris e fundado em 1460. Apesar de existir outros colégios em Paris o de Santa Bárbara era o mais conhecido. O Reitor – que era português - desejou transformar o colégio em uma local de formação para futuros teólogos. Conseguiu despertar o interesse do Rei de Portugal, D. João III, por este projeto. Para tanto, o monarca acordou em conceder bolsas de estudo aos estudantes de Portugal que para lá se deslocassem.

Segundo a autora, o Colégio de Santa Bárbara teria sido, portanto, o berço da pedagogia jesuítica. Nele estudaram Loyola e três de seus primeiros companheiros: o português Simão Rodrigues de Azevedo, o saboiano Pedro Fabro e o navarro Francisco Xavier.

O primeiro Colégio da Companhia destinado a estudantes laicos foi o Colégio de Messina, em 1548. Entretanto, alguns autores afirmam que o mais ilustre foi o Colégio Romano (1550).

Mas o mais ilustre de todos os centros de saber fundados por Inácio foi o Colégio Romano (1550); podemos mesmo considerá-lo como um modelo de

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todas as instituições pedagógicas jesuíticas. A 22 de Fevereiro, os Romanos lêem à porta dum simples edifício junto ao Capitólio: Scuola di grammatica,

d’humanità e di dottrina cristiana, gratis (Escola de gramática, humanidades e doutrina cristã, gratuita). Este é o início do que Leonel Franca menciona como “uma espécie de Escola Normal Superior que preparava, de entre os estudantes da Ordem, os futuros professores, fornecendo-lhes os melhores métodos e pondoos em contacto com os melhores educadores. (SOUSA, 2003, P. 2)

Nos colégios, o método utilizado foi, portanto, o modus parisiensis, já sintetizado pelo padre Nadal por conta das experiências que teve no Colégio de Messina em 1551. Este, segundo Saviani (2008), seria o primeiro esboço do Ratio Studiorum2 do qual foi enviado de Roma para as instituições que iam sendo fundadas em diversos países, visando à uniformização e a organização no funcionamento dos Colégios. Anteriormente ao modus

parisiensis, ao longo da Idade Média até o final do século XV, prevaleceu no ensino o

chamado modus italicus – utilizado na região italiana. Entretanto, ele se caracterizava por não seguir um programa estruturado e nem vincular a assistência dos discípulos a determinada disciplina – podiam passar de uma disciplina a outra sem preencher os requisitos.

A partir do início do século XVI, o modus italicus foi sendo aos poucos substituído pelo modus parisiensis3, sendo a data de referência, segundo Saviani (2008) a de 1509. Diferentemente do italicus, o modus parisiensis comportava a distribuição dos alunos em classe, realização de exercícios escolares pelos alunos e mecanismos de incentivo ao trabalho escolar.

Baseando-se na escolástica, o modus parisiensis tinha como pilares a lectio, isto é, a preleção dos assuntos que deviam ser estudados, o que podia ser feito literalmente por meio de leitura; a disputatio, nas quais os alunos, geralmente em pequenos grupos, repetiam as lições explanadas pelo professor diante dele ou de um aluno mais adiantado. Os mecanismos de incentivo ao estudo implicavam castigos corporais e prêmios, louvores e condecorações, além da prática da denúncia ou delação. (SAVIANI, 2008, p. 52)

Dessa forma, os jesuítas adotaram o modus parisiensis desde o primeiro colégio fundado em Messina e, posteriormente, o consagraram no Ratio Studiorum. Para Saviani (2008), pode-se considerar que as origens do Ratio Studiorum remontam às Constituições da Companhia de Jesus elaboradas pelo seu fundador. Intitulada “Como instruir nas letras e em

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Plano de estudos da Companhia que significou a institucionalização das atividades. 3

Nome devido ao fato de ter sido um método adotado na capital da França, tornando-semarca da Universidade de Paris.

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outros meios de ajudar o próximo os que permanecem na Companhia”, a IV parte das Constituições direciona a organização didática e o espírito que deveria animar toda a atividade pedagógica.

Jesus Maria Sousa (2003) também nos informa sobre tal parte das Constituições. Para o autor, é descrito na parte citada as ideias sobre a formação de escolásticos e a educação dos estudantes seculares, visando homens cultivados, de visão católica, participantes na vida civil, cultural e religiosa da sociedade atual. Para isso, era preciso elaborar em detalhes as instruções relativas às disciplinas e ao método de estudos nos colégios e faculdades.

Segundo Rodrigues (1931) os admitidos nos colégios deveriam ser obedientes aos mestres em relação aos estudos, se confessar ao menos uma vez a cada mês, participar da missa aos domingos, guardar modéstia e ter compostura nas palavras e ações. Para quem se desviasse, seriam aplicados castigos, entretanto, sem contato físico.

Nos colégios, os menos favorecidos tinha a oportunidade de encontrar de forma gratuita o que teriam que pagar em outro. Dos estudos colheriam bons frutos dos quais poderiam retribuir ao serviço de Deus. Existia quem defendesse que não fossem admitidos quaisquer filhos do povo, mas sim, que fosse destinado à formação dos filhos da nobreza4. Entretanto, os religiosos da Companhia não concordaram com tal argumentação e abriram as portas dos colégios para todos, sem estabelecer diferença. Objetivava-se que os estudantes saíssem de lá como pregadores, governadores do povo, administradores de justiça e homens aptos para outros cargos, se alargando cada vez mais o rendimento de toda a educação e ensino.

No ano de 1553, portanto, foram abertas as primeiras escolas públicas da Companhia de Jesus em Portugal, sendo a cidade de Lisboa escolhida para inaugurar esta empresa. De início, devido às circunstâncias, as normas prescritas por Inácio não puderam ser todas atendidas. Não conseguiram edificar o colégio em edifício separado, assim, foi instalado na mesma casa de S. Antão em Lisboa.

O número de estudantes do Colégio de S. Antão crescia rapidamente, tendo que se redobrar o número de aulas. Com este crescimento, foi sendo necessário um novo edifício para acomodar os numerosos estudantes que frequentavam o espaço. Decidiu-se pela construção de escolas por meio de ajuda da cidade, o que causou um entusiasmo no povo de Lisboa, que passou a realizar as ofertas. Com toda complacência que estava ocorrendo, os

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Justificavam-se, afirmando, que se os mais pobres provassem o gosto das letras e se aperfeiçoassem nos estudos, poderia faltar mão de obra para ofícios mais humildes. (RODRIGUES,1931)

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padres confiavam no empreendimento. O próprio D. João III começou a fornecer ajuda com dinheiro, trigo, água, lenha e plantas de sua fazenda.

O colégio continuou crescendo em número de estudantes e a fama do primeiro colégio da Companhia de Jesus se espalhou em Portugal. Devido a este crescimento, foi-se criando a necessidade de se aumentar o número de escolas, pois se isso não acontecesse, não seria possível admitir mais nenhum aluno.

O MÉTODO DE ENSINO DOS COLÉGIOS

Em 1599 a Companhia inaugura um documento pedagógico educacional, conhecido como Ratio Studiorum, resultado de um extenso processo de estudos ao longo do século XVI. Conforme Costa (2004), este modelo de estudo compôs, juntamente com os demais estudados pelos próprios padres da Companhia de Jesus, os fundamentos teóricos-pedagógicos do Ratio

Studiorum. Existiam nos colégios outras práticas pedagógicas. Nos cursos de Artes e na

faculdade de Teologia, por exemplo, existiam as chamadas disputas científicas. Nelas, tanto os alunos como os mestres argumentavam entre si. Percebe-se dessa forma, que existia nas escolas da Companhia certa competição, utilizada pelos professores como forma de estimular seus discípulos.

Rodrigues (1931) nos diz que se tinha um desejo pelo recebimento das premiações. Os prêmios eram entregues pelo professor em sala ou por meio de solenidades. Consistiam geralmente em um lugar de honra entre os condiscípulos, num louvou maior dado pelo professor, ou mesmo um livro.

Outro instrumento pedagógico utilizado para a formação literária e para a educação moral da juventude eram as peças teatrais. Muitas vezes eram peças literárias, com diálogos e poesias, ou dramas e tragédias. Conforme Rodrigues (1931), além do teatro e de outras atividades escolares, a grande preocupação consistia na educação e moral dos estudantes. Em Portugal, percebe-se que se cumpria a regra do fundador, pois além do empenho de se formar espiritualmente os discípulos, existia a preocupação com o cumprimento da lei divina e com a prática da religião.

Existia, portanto, todo um cuidado com a disciplina e, dessa forma, se fazia necessário a vigilância e o zelo pela boa educação. Entretanto, havia uma vigilância mais atenta no que se refere às leituras. Segundo Rodrigues (1931), Inácio de Loiola estabeleceu nas

Constituições da Companhia de Jesus que se retirassem as palavras imorais das leituras e, se

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Além desses métodos, existiam também as punições. Nesse sentido, os religiosos da Companhia aplicavam correções e castigos para os infratores. E quando a punição não era suficiente, poderia chegar à expulsão.

Assim que, segundo a mente de Inácio, para a correcção dos estudantes se haviam gradualmente de empregar boas palavras, admoestações, pena corporal e expulsão; mas em qualquer dos casos “se devia proceder, conclui o Santo, com espírito de brandura e guardar com todos a paz e caridade”. Foram estas as normas de suave mansidão que nortearam os filhos de Inácio na sua faina pedagógica. (RODRIGUES, 1931, p. 455)

Entretanto, o Ratio Studiorum deixa bem claro que era preferível que se resolvessem os problemas por meio de palavras. Quando se tornasse necessário a punição, não era nem os professores e nem os religiosos da Companhia que o faziam, era o chamado corrector, pessoa da comunidade.

O COLÉGIO DO ESPÍRITO SANTO E A UNIVERSIDADE DE ÉVORA

Antes mesmo do cardeal D. Henrique receber de Portugal as instruções de Inácio de Loyola, o mesmo já havia discutido com os padres da Companhia uma forma de se iniciar tal empresa em Évora. Foi forçado, de início, a adiar pela falta de edifício preparado para tal objetivo. O cardeal infante D. Henrique (1578 – 1580) tinha como objetivo fundar um seminário em Évora, para clérigos, destinado à instrução literária e religiosa. Estabelece, assim, um colégio em Évora onde os religiosos da Companhia de Jesus se encontrassem juntamente com os seminaristas seculares que doutrinassem.

O cardeal havia iniciado a fundação de um colégio para a ilustração do clero da sua diocese, entretanto, diante do sucesso alcançado pelo Colégio de Santo Antão com sua pedagogia cristã, não quis mais adiar o bem que esperava para a sua cidade e arquidiocese. Com o objetivo de instituir obra semelhante na cidade de Évora, D. Henrique pediu a seu irmão D. João III que lhe concedesse os paços reais de Évora a fim de poder abrir as escolas, enquanto as obras do colégio estavam sendo concluídas.

Este novo edifício, que o cardeal à sua custa ia levantando, destinava-o ele não só para habitação dos religiosos da Companhia, mas também para nele viverem, como em seminário, alguns clérigos que, depois de bem instruídos, haviam de exercitar na arquidiocese o ofício de párocos. (RODRIGUES, 1931, p. 304)

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As obras, com a autorização do Rei, começaram com diligência, construindo-se, de início, quinze celas, que eram os aposentos. Depois de virem para Évora os primeiros religiosos da Companhia, D. Henrique ordena que se acrescentassem mais, ficando o edifício com trinta celas independentes.

D. Henrique desejava confiar à Companhia de Jesus a administração desse espaço. Simão Rodrigues aceita e nomeia nove religiosos para constituir a nova comunidade, vindos um de Lisboa e oito de Coimbra, os quais chegaram em 5 de outubro de 1551. “Foram eles o Padre Melchior Carneiro, nomeado reitor, o Padre João Cavillon, francês, natural de Lille, quatro estudantes de teologia, Afonso Barreto, Marçal Vaz, Miguel de Barros e Pedro da Fonseca e três irmãos coadjutores.” (CID, 1997, p. 396). Essa é, portanto, a comunidade que vai dar origem a nova fundação, que mais tarde seria conhecida pelo nome de Colégio do Espírito Santo e, depois, como Universidade de Évora.

O colégio finalmente é inaugurado em 28 de agosto de 1553, dia dedicado ao doutor da Igreja S. Agostinho. Segundo Rodrigues (1931), dias antes havia chegado de Coimbra os primeiros professores que lecionaram nas escolas públicas de Évora. Pedro Perpinhão de Letras Humanas na primeira classe, Marcos Nunes na segunda e Nuno Álvares na terceira; Casos de Moral com Marcos Jorge que ainda não era sacerdote.

Conforme Veloso (1949), o colégio é inaugurado antes do término das obras e a Companhia de Jesus assume antes desta finalização. Assim, as disciplinas Teologia Moral e Letras Humanas já estavam sendo realizadas a partir de 1553. Os jesuítas inauguram seus estudos começando por ensinar Humanidades, onde se lecionava grego e latim e Casos de Consciência, para a formação de clérigos. As aulas eram no Paço de S. Francisco5.

A fama dos estudos e a qualidade superior dos mestres começaram a atrair estudantes de muitas partes, inclusive alunos estrangeiros, fazendo com que o número deles aumentasse. Passado oito meses do início das disciplinas, a fama do Colégio em Évora se espalhou a ponto de suas aulas serem frequentadas por mais de trezentos estudantes. Por conseguinte, D. Henrique foi objetivando-se a ampliação do Instituto, desejoso de elevar a categoria de Universidade.

Para Isabel Cid (1997), a ideia de se criar uma nova Universidade em Portugal já vem de antes da ação de D. Henrique. Alguns autores consideram que D. Manuel, em 1520, já com a intenção de fundar uma Universidade em Évora compra um terreno que pertencia ao

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mor Francisco da Silveira e a sua mulher D. Margarida de Noronha. Em seguida, no reinado de Dom João III, nas cortes de 1535, a cidade pede ao rei que seja feito os planos de Évora dos quais já haviam começado.

O colégio era motivo de satisfação de todos. Ainda neste tempo foi inserido o curso de Artes, que se iniciou três anos após a atividade escolar. O mesmo veio a somar para o êxito das aulas, elevando o seu nível de instrução. Segundo Rodrigues (1931), com o curso de Artes começava a realização do desejo do cardeal de elevar o colégio à categoria de Universidade. Conseguiu, portanto, em 15596.

A criação do respectivo curso de Artes foi decisiva na História da Universidade de Évora, pois desde a criação do curso o Cardeal aspirou a elevar o seu Colégio do Espírito Santo à categoria de Universidade. Veloso (1949), entretanto, nos informa que esse desejo de D. Henrique começou a partir do momento em que ele se depara com o sucesso e crescimento do colégio. D. Henrique começou a discursar que eram poucos os mestres, em razão se ter crescido o número de estudantes. Assim, começou a traçar, em seu pensamento, a criação de uma Universidade, a qual fosse entregue à Companhia, para que nela se ensinasse todas as ciências necessárias para a formação de um bom pároco e de um pregador.

Como descreve Rodrigues (1931), D. Henrique rogava para que o Papa concedesse a permissão de se instituir a Universidade eborense. As razões desta rogativa se encontram em carta escrita ao embaixador português em Roma D. Afonso de Lecastre aos dezenove do mês de fevereiro do ano de 1558.

<<Vendo eu, explicava ele, a muita falta de há em estes reinos, de teólogos e pessoas que possam ensinar a doutrina cristã e palavra de Deus ao povo, e assim os muitos benefícios curados que nele há, que muitas vezes não são providos de pessoas tão doutas e suficientes como é necessário e se requere para o serviço de Nosso Senhor e salvação das almas (...) por suas pobrezas, como por serem lugares tão remotos da dita Universidade, o que parece se podia remediar com se instituir e criar em o meu colégio de Évora uma Universidadezinha em que sòmente se lessem línguas, artes, teologia e casos de consciência (...) vos agradecerei muito de minha parte o representardes a S. Santidade e lhe dizerdes quanto fruto e serviço a Nosso Senhor de pode com isso fazer , por a cidade de Évora estar em meio dos lugares mais remotos que em este reino há da Universidade de Coimbra.>> (apud RODRIGUES, 1931, p. 313)

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Entretanto, o rei D. Manuel em 1520, já pensava em fundar uma Universidade de Évora, e para isso, chegou a comprar um terreno que se estendia junto à porta do Moinho do Vento.

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Solicitava por intermédio de D. Afonso de Lencastre autorização papal justificando que era preciso uma Universidade em Évora, pois existia uma falta de teólogos para ensinar a palavra de Deus ao povo e a mesma se encontrava longe de Coimbra dificultando a possibilidade de as pessoas se locomoveram até lá para estudarem.

Alcançou o que desejava o cardeal D. Henrique

No ano seguinte a novas súplicas do infante confirmou Paulo IV pela bula de quinze de abril a erecção da Universidade com todas as concessões que se haviam feito nas letras da Penitenciaria. Chegaram estas a Portugal pelo mês de abril de 1559, e logo o cardeal se dispôs a executar sem demora o que elas lhe concediam. (Apud RODRIGUES, 1931, p.315)

Foi em dia de Todos os Santos do ano de 1559 que abriu solenemente a Universidade, com um dia e três noites de festas ruidosas e magníficas, iluminações, música, descantes7 e encamisadas8. (VELOSO, 1949, p.14) Na ausência de D. Henrique que estava em Lisboa, a cerimônia foi proferida pelo bispo de Targa, D. Fr. Manuel dos Santos. Estavam presentes bispos do alto clero regular e secular, membros do Senado e da nobreza da cidade. Estava assim, fundada e inaugurada a Universidade jesuítica de Évora.

De ano em ano aumentava o número de alunos, vindos de vários pontos da Península. Segundo Veloso (1949) tão grande era o número de alunos que não se poderia deixar de contribuir para a influência desta Universidade no ensino. Desta forma, seria incontestável que o instituto alcançou uma grande importância, chegando ao apogeu após a bula do papa Gregório XV, que confirmava e ampliava as regalias concedidas por Pio V, isentando de toda a sujeição a qualquer poder estranho à Companhia.

OBJETIVOS

- Pesquisar a educação em Portugal no século XVI, por meio dos Colégios da Companhia de Jesus e Universidade de Évora;

- Investigar as ações da Companhia de Jesus no campo educacional em prol da propagação da fé cristã;

METODOLOGIA

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Relacionado à música. No séc. XVI, a voz mais aguda em uma composição. Disponível em: http://aulete.uol.com.br/site.php?mdl=aulete_digital

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Para a pesquisa apresentada, realizamos a busca de materiais que discorram sobre o momento histórico tratado e sobre os Colégios da Companhia de Jesus e Universidade de Évora. Por meio das leituras pudemos compreender o contexto dessa educação do século XVI em Portugal, como também as ações da Companhia de Jesus em favor da religião católica. As leituras sobre o contexto do século XVI foram fundamentais para o entendimento do período em Portugal. Foram encontradas por meio da Biblioteca da Universidade Estadual de Maringá como também na Biblioteca do grupo de estudos LEIP-Laboratório de Estudos do Império Português e pela internet.

Uma leitura base em nosso estudo foi a obra “História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal”, escrita por Francisco Rodrigues, especialmente os dois primeiros volumes do tomo I. A leitura do material foi de grande valor, pois o autor aborda muitos aspectos decisivos para o entendimento do tema. Principalmente o livro segundo que retrata o ensino e educação, onde ele descreve sobre os primeiros colégios em Portugal, o que era preciso para poder ser admitido, o seu crescimento e a consequente fama da Companhia de Jesus em Portugal.

RESULTADOS

Podemos considerar por meio de nossa análise, que a abertura dos colégios e a edificação da Universidade de Évora são provas da força que tinha a Companhia de Jesus em terras portuguesas. Dessa forma, por meio do êxito dos Colégios e da instituição de Évora, se beneficiou não somente a arquidiocese eborense como a sociedade portuguesa como um todo.

A segunda Universidade de Portugal e primeira dos jesuítas, por exemplo, foi um local de grande influência nos séculos XVI e XVII, devido a ser um grande centro cultural em nível nacional e mundial. Pode-se dizer que é um período da história em que Portugal se destaca no campo educacional, por meio dos colégios jesuíticos e, por conseguinte, pela fundação da Universidade de Évora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante o século XVI a igreja católica sofre uma reformulação em Portugal, devido ao contexto de crise religiosa que afetou praticamente toda a Europa. A vida de muitos membros do alto clero estava longe do que se desejava, ocorrendo assim, uma crise moral. Para Dias (1960), a Companhia de Jesus é vista neste momento como um símbolo de reforma, devido aos seus objetivos, características e organização.

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Em razão disso, o estabelecimento dos colégios eram vistos como um meio de se combater esta crise presente no clero. Dessa forma, a fundação dos colégios e da escola eborense relaciona-se, de início, com as necessidades de restauração católica. Na Universidade de Évora, por exemplo, percebe-se a preocupação com o princípio da honra, do qual tinha muita importância na sociedade portuguesa desde o primeiro quartel do século XVI. Verificamos que os jesuítas, por meio da sua rede de escolas públicas espalhadas pelo mundo, ganharam um papel decisivo no campo da educação.

Por fim, acreditamos que compreender a história da educação portuguesa, especialmente no que se refere aos colégios e à Universidade de Évora, é também compreender uma parte da origem da história da educação brasileira.

REFERÊNCIAS

CID, Isabel. A fundação da Universidade de Évora. In: História da Universidade em Portugal. Fundação Calouste Gulbenkian, Volume I Tomo II, Coimbra, 1997.

CID, Isabel. A Universidade de Évora. In: História da Universidade em Portugal. Fundação Calouste Gulbenkian, Volume I Tomo II, Coimbra, 1997.

CONSTITUIÇÕES da Companhia de Jesus e NORMAS Complementares. São Paulo: Loyola, 1997.

COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599). Tese de doutoramento. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba, 2004.

DIAS, José Sebastião da Silva. Corrente de sentimento religioso em Portugal (séculos XVI a XVIII). Tomo I, Coimbra: Universidade de Coimbra, 1960.

FRANCA, Leonel. O método pedagógico dos jesuítas. Rio de Janeiro: Agir, 1952. (edição via internet)

RODRIGUES, Francisco. História da Companhia de Jesus na Assistência de Portugal. Porto: Apostolado da Imprensa, 1931-1950. Volume II, Tomo I.

SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 2ªed.Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

SOUSA, Jesus Maria. Os jesuítas e a Ratio Studiorum: As raízes da formação de

professores na Madeira. Islenha, 2003. Disponível em

http://www3.uma.pt/jesussousa/Publicacoes/31OsJesuitaseaRatioStudiorum.PDF. Acesso em 12.08.2013.

VELOSO, João M. Queiros. A Universidade de Évora - elementos para sua história. Lisboa, 1949.

Referências

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