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BRUNO ANDRADE AMARAL

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BRUNO ANDRADE AMARAL

EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO

ARTERIAL E AS CONDUTAS PRECONIZADAS ATUALMENTE:

UMA REVISAO DE LITERATURA

SALVADOR – BA 2011

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BRUNO ANDRADE AMARAL

EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO

ARTERIAL E AS CONDUTAS PRECONIZADAS ATUALMENTE:

UMA REVISAO DE LITERATURA

Artigo científico apresentado a Atualiza Pós-graduação como requisito para conclusão do curso de Pós-graduação em Farmacologia Clínica, sob orientação do Prof. MSc. Edimar Caetité Jr.

SALVADOR – BA 2011

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* Graduado em Farmácia pela Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia email: brunofarmaceutico@hotmail.com

** Professor Assistente da Universidade Federal da Bahia, Professor Auxiliar da Universidade Estadual de Feira de Santana. email: edimarcaetite@bol.com.br

EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E AS CONDUTAS PRECONIZADAS ATUALMENTE: UMA REVISAO DE LITERATURA

*Bruno Andrade Amaral ** Edmar Caetité Jr. RESUMO

O objetivo deste estudo foi apresentar uma atualização da literatura a respeito da evolução histórica do tratamento da hipertensão arterial e identificar as condutas baseadas em evidência científica preconizadas atualmente. A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi uma revisão da literatura científica. A HAS é uma condição de alta prevalência, apresentando freqüência maior nas camadas mais pobres da população, tornando-se um problema de saúde pública. O uso de medicamentos para o controle dos níveis pressóricos se faz necessário em muitos dos casos, a escolha adequada destes, torna-se indispensável para o sucesso do tratamento farmacoterapêutico. Atualmente o volume de pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos com perfis diferenciados de ação é crescente, aumentando cada vez mais o número de anti-hipertensivos disponíveis. Diante disto, a farmacoterapia para HAS deve ser individualizada e sempre baseada na melhor evidência científica.

Palavras-chave: Hipertensão; Farmacoterapia; Evidência Científica

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em uma revisão da literatura científica sobre a evolução histórica do tratamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e as condutas baseadas em evidência científica preconizadas atualmente. A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é definida como uma doença multifatorial e conceituada como uma síndrome caracterizada pela presença de níveis de pressão arterial diastólica e/ou sistólica permanentemente elevados (>140/ 90mmHg). Estas alterações conferem significativo aumento do risco de eventos cardiovasculares, tais como: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades. No Brasil, aproximadamente 20% da população adulta é acometida pela HAS e a prevalência sobe para cerca de 70% na população acima de 60 anos de idade (CHOBANIAN et al, 2003).

A HAS é uma condição de alta prevalência, atingindo cerca de 20% da população adulta brasileira e apresentando freqüência maior nas camadas mais pobres da população (AKASHI, 1998). No fim do século XIX, Mohamed descreveu a síndrome

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arterial hipertensiva. Em 1881, Riva-Rocci criou o primeiro esfigmomanômetro e em 1906, Korotkoff tornou prática a medida de pressão arterial (RAMOS, 1998).

As drogas existentes até a década de 1940 eram realmente pouco efetivas no que se refere ao controle da pressão arterial, constituindo-se, fundamentalmente, da mistura, em proporções diversas, de papaverina, aminofilina e barbitúricos leves administrados por via oral. Apesar de pouco efetivas, a aderência ao tratamento não era muito inferior à observada atualmente, com os eficientes hipotensores (FUCS; WANNMACHER, 2005).

A idéia de reduzir o sódio na dieta dos hipertensos permaneceu válida, ficando claro, hoje, que há indivíduos que são resistentes ao sódio e outros que são sensíveis ao sódio. O eficiente efeito da redução da ingestão de sódio trouxe a idéia de se tratar hipertensos utilizando diuréticos saluréticos. De fato, essa foi uma idéia vencedora, pois, até nossos dias, os diuréticos permanecem com papel relevante no tratamento da hipertensão, principalmente naqueles pacientes sensíveis ao sal (GOODMAN; GILMAN, 2006).

A eficiência das drogas existentes hoje para o tratamento da hipertensão induziria a pensar que a terapêutica dessa doença seria um problema totalmente resolvido. Tal fato não é verdadeiro devido às seguintes características da doença hipertensiva: embora sua prevalência seja alta (20% da população adulta), a doença é, em geral, assintomática, pelo menos no início; na maioria dos casos não há tratamento que induza a cura completa, exigindo que este se prolongue por toda a vida; os medicamentos utilizados muitas vezes provocam efeitos colaterais indesejáveis, o que explica por que apenas uma minoria (+ 25%) dos hipertensos recebe tratamento adequado (RAMOS, 1998).

Esse tratamento visa, fundamentalmente, à normalização da pressão, no sentido de proteger os órgãos-alvo, especificamente cérebro, rim, coração e vasos. Diante disto, é também importante que esse tratamento elimine os fatores de risco adicionais, tais como obesidade, diabete, hiperlipemia e hiperuricemia. (NOBRE, 2010).

Inquéritos de base populacional realizados em algumas cidades do Brasil mostram prevalência de hipertensão arterial (≥140/90 mmHg) de 22,3% a 43,9%, tornando-se

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um problema de saúde pública. O uso de medicamentos para o controle dos níveis pressóricos se faz necessário em muitos dos casos, a escolha adequada destes, torna-se indispensável para o sucesso do tratamento farmacoterapêutico, desta forma justificando a execução deste trabalho (MION, 2007).

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho foi unicamente a pesquisa bibliográfica, que é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. A pesquisa bibliográfica é elaborada tendo como fundamento o material já publicado de maneira especial os livros e artigos científicos, que auxilia o pesquisador na construção do tema a ser pesquisado. É essencialmente teórica e parte obrigatória nos trabalhos científicos, pois é através da pesquisa bibliográfica que se tem conhecimento das produções científicas existentes, e são esses dados que respaldam a elaboração desses trabalhos (GIL, 1996).

Atualmente o volume de pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos com perfis diferenciados de ação é crescente, aumentando cada vez mais o número de anti-hipertensivos disponíveis, e o uso destes medicamentos deve ser baseado em evidências científicas. Desta forma, este trabalho pretende apresentar uma atualização da literatura a respeito da evolução histórica do tratamento da hipertensão arterial e identificar quais são as condutas baseadas em evidência científica preconizadas atualmente.

2. FISIOPATOLOGIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

A fisiopatologia da elevação crônica da pressão arterial é uma temática complexa, até mesmo por não haver, ainda hoje, uma definição precisa de hipertensão arterial. Basicamente, a polêmica opõe duas grandes correntes: de um lado, os que propõem a existência, em hipertensos essenciais, de uma alteração do sistema nervoso central (Teoria Neurogênica), de modo a que o ponto de ajuste da pressão arterial, presumivelmente determinado pelo próprio SNC, está elevado em relação ao normal. De outro lado, existe os que defendem um papel preponderante, na gênese da hipertensão, de uma retenção de sal e água pelos rins (Teoria Renal) (HEIMANN, 2006).

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O desenvolvimento da hipertensão depende da interação entre predisposição genética e fatores ambientais. Sabe-se, no entanto, que a hipertensão é acompanhada por alterações funcionais do sistema nervoso autônomo simpático, renais, do sistema renina angiotensina, além de outros mecanismos humorais e disfunção endotelial. Assim a hipertensão resulta de várias alterações estruturais do sistema cardiovascular que tanto amplificam o estímulo hipertensivo, quanto causam dano cardiovascular (NOBRE, 2000). A seguir estão elencados os 5 principais fatores envolvidos na fisiopatologia da Hipertensão arterial.

2.1 Sistema nervoso autônomo (simpático)

O sistema simpático tem uma grande importância na gênese da hipertensão arterial e contribui para a hipertensão relacionada com o estado hiperdinâmico. Vários autores relataram concentrações aumentadas de noradrenalina no plasma em pacientes portadores de hipertensão essencial, particularmente em pacientes mais jovens. Estudos mais recentes sobre atividade simpática medida diretamente sobre nervos simpáticos de músculos superficiais de pacientes hipertensos confirmam esses achados (KAPLAN, 2001).

2.2 Adaptação cardiovascular

A sobrecarga do sistema cardiovascular causada pelo aumento da pressão arterial e pela ativação de fatores de crescimento leva a alterações estruturais de adaptação, com estreitamento do lúmen arteriolar e aumento da relação entre a espessura da média e da parede arterial. Isso aumenta a resistência ao fluxo e aumenta a resposta aos estímulos vasoconstrictores. Adaptações estruturais cardíacas consistem na hipertrofia da parede ventricular esquerda em resposta ao aumento na pós-carga (hipertrofia concêntrica), e no aumento do diâmetro da cavidade ventricular com aumento correspondente na espessura da parede ventricular (hipertrofia excêntrica), em resposta ao aumento da pré-carga (NOBRE, 2010). 2.3 Mecanismos Renais

Mecanismos renais estão envolvidos na patogênese da hipertensão, tanto através de uma natriurese alterada, levando à retenção de sódio e água, quanto pela

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liberação alterada de fatores que aumentam a PA (Pressão Arterial) como a renina (KAPLAN, 2001).

2.4 Sistema Renina-angiotensina

O sistema renina-angiotensina está envolvido no controle fisiológico da pressão arterial e no controle do sódio. Tem importantes implicações no desenvolvimento da hipertensão renal e deve estar envolvido na patogênese da hipertensão arterial essencial. O papel do sistema renina-angiotensina-aldosterona a nível cardíaco, vascular e renal é mediado pela produção ou ativação de diversos fatores de crescimento e substâncias vaso-ativas, induzindo vasoconstricção e hipertrofia celular (GIESTAS, 2010).

2.5 Disfunção Endotelial

Estudos demonstram o envolvimento do endotélio na conversão da angiotensina I em angiotensina II, na inativação de cininas e na produção do fator relaxante derivado do endotélio ou óxido nítrico. Além disso, o endotélio está envolvido no controle hormonal e neurogênico local do tônus vascular e dos processos homeostáticos. Também é responsável pela liberação de agentes vasoconstrictores, incluindo a endotelina, que está envolvida em algumas das complicações vasculares da hipertensão (GIESTAS, 2010).

Na presença de hipertensão ou aterosclerose, a função endotelial está alterada e as respostas pressóricas aos estímulos locais e endógenos passam a se tornar dominantes. Ainda é muito cedo para determinar se a hipertensão de uma forma geral está associada à disfunção endotelial. Também ainda não está claro se a disfunção endotelial seria secundária à hipertensão arterial ou se seria uma expressão primária de uma predisposição genética (KAPLAN, 2001).

Os componentes elásticos da aorta permitem que ela se expanda durante a sístole, desta forma armazenando parte da energia de cada batimento cardíaco. No intervalo entre as contrações cardíacas, durante a fase diastólica do ciclo cardíaco, a retraçao elástica da parede vascular impele o sangue através do sistema vascular periférico. Com o envelhecimento, a aorta perde elasticidade e os grandes vasos não mais se expandem tão prontamente, principalmente quando a pressão arterial é elevada (COTRAN, 2005).

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3. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL

Considerando o relativo sucesso da simpatectomia, surgiram drogas bloqueadoras ganglionares que impediam não só a liberação de catecolamina como também da acetilcolina, as quais, embora baixassem a pressão, causavam também inúmeros efeitos colaterais, sendo o mais dramático a intensa hipotensão postural. Eram comuns os relatos de perda de sentido, que se tornaram trágicos quando, por exemplo, o quadro se manifestava em local que era impossível atingir o decúbito, como acontecia em cabinas telefônicas fechadas (RAMOS, 1998).

Drogas simpaticolíticas com ação alfa-agonista central surgiram e se mostraram realmente efetivas. Essas drogas inibiam a descarga do centro vasomotor, produzindo queda da pressão arterial. Duas delas tiveram efeito relevante no tratamento da hipertensão, ou seja, a alfametildopa e a clonidina. Alguns efeitos colaterais dessas drogas são indesejáveis, porém ainda existem situações específicas nas quais continuam sendo muito úteis (GOODMAN; GILMAN, 2006). A procura de droga vasodilatadora por ação na musculatura vascular para tratar a hipertensão só se tornou prática quando surgiram os bloqueadores dos canais de cálcio, diminuindo o conteúdo desse íon no citoplasma da célula muscular dos vasos e produzindo relaxamento vascular. Essas drogas foram inicialmente idealizadas para tratar a angina do peito. Os bloqueadores de canais de cálcio mais antigos tinham ação predominantemente nos vasos do coração, com efeito também sobre o sistema de condução cardíaco. Surgiram, posteriormente, as drogas cujo efeito vasodilatador era maior no sistema arterial periférico, e, dentre elas, aquelas que mantinham esse efeito com a mesma intensidade por período prolongado de até 24 horas com um só comprimido diário (MION, 2007).

No final da década de 70 foram descobertos os fármacos conhecidos como inibidores da ECA, que realizam bloqueio reversível da enzima conversora de angiotensina, reduzindo a formação de angiotensina II (AII). Sabe-se que a AII é um potente peptídeo vasoconstritor e estimulante da secreção adrenal de aldosterona. O bloqueio da ECA promove, diretamente, um efeito hipotensor causado pela inibição dos efeitos vasoconstritores e estimulantes da secreção de aldosterona e, indiretamente, previnem doença isquêmica cardíaca, doença aterosclerótica, nefropatia diabética e hipertrofia ventricular esquerda (PEREIRA, 1999).

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4. USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

Segundo a Política Nacional de Medicamentos o uso racional de medicamentos é o processo que compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em condições adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade (BRASIL, 2002). Tendo em vista esta definição, o uso racional de medicamentos perpassa por diversas etapas, onde compreende a prescrição adequada e em doses apropriadas. Esse conceito reforça a importância de analisar a racionalidade dos tratamentos prescritos para hipertensão arterial sistêmica.

A Assistência Farmacêutica é estruturada tendo o Ciclo da Assistência Farmacêutica como base. Este ciclo abrange as atividades de seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e acompanhamento da utilização de medicamentos. A Assistência Farmacêutica é uma atividade relevante nas ações de saúde, que deve ser contemplada com a adequação da necessidade, segurança, efetividade e qualidade da terapia medicamentosa, promovendo o uso racional dos medicamentos e contribuindo para a melhoria das condições de vida e de saúde da população. O uso racional de medicamentos ocorre quando o paciente recebe o medicamento apropriado à sua necessidade clínica, na dose e posologia corretas, por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade (MARIN, 2003). No Brasil, a atenção primária à saúde pública é realizada nas Unidades Básicas de Saúde, com a maioria dos diagnósticos e monitoramento realizados por clínicos gerais e médicos de família vinculados às unidades do Programa Saúde da Família (PSF). A análise do padrão de prescrição dos medicamentos anti-hipertensivos e a verificação dos níveis de controle da pressão arterial destes pacientes atendidos pela atenção primária à saúde é extremamente importante para a avaliação da efetividade das condutas adotadas (OBRELI NETO; FRANCO; CUMAN, 2009). Entretanto, existem milhões de pessoas que não têm acesso ao tratamento adequado das enfermidades. Nesses casos, ainda que recebam o medicamento, a dose é incorreta ou não fazem uso adequado dele conforme a indicação ou, ainda, utilizam medicamentos de baixa qualidade. (VIDOTTI, 2000)

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5. NÍVEL DE EVIDÊNCIA CIENTÍFICA

A informação é o produto obtido a partir de um determinado processamento e interpretação de dados. Possibilita o conhecimento, a avaliação e o juízo sobre determinada situação. É um importante recurso para subsidiar o processo de tomada de decisão, de planejamento, de execução e de avaliação das ações desencadeadas (FERREIRA, 2001). Simultaneamente à evolução das ciências médicas e de outras ciências, a quantidade de informação aumentou exponencialmente, provocando o que se convencionou chamar de "explosão de informação" ou "avalanche de informação". Apesar da quantidade, essa informação nem sempre possui qualidade e é imparcial; além disso, este volume de informação não é difundido de modo eficiente e ágil, de modo que os profissionais da saúde têm dificuldade em se manter atualizados (VIDOTTI; SILVA; HOEFLER, 2003).

A escolha adequada do medicamento antihipertensivo é crucial para a redução da PA, prevenção de eventos cardiovasculares e renais nestes pacientes, necessitando na maioria dos casos de duas ou mais drogas para o alcance destes objetivos terapêuticos (CHOBANIAN et al, 2003).

Esquema usado para a classificação de Evidência Científica

M – Meta-análise, o uso de métodos estatísticos para combinar os resultados dos ensaios clínicos

Ra – ensaios clínicos randomizados, também conhecido como estudos experimentais

Re – análises retrospectiva, também conhecido como estudos caso-controle F – estudo prospectivo, também conhecido como estudos de coorte, incluindo histórico ou prospectivo estudos de acompanhamento

X – Estudo transversal, também conhecido como estudos de prevalência demonstrações

Pr – opinião ou posição anterior

C – intervenções clínicas (não randomizado)

Quadro 1. Classificação de Evidência FONTE: CHOBANIAN et al, 2003 (Adaptado)

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6. TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL BASEADO EM EVIDÊNCIA CIENTÍFICA

Segundo Nobre (2010), algumas características devem ser consideradas quando da escolha de um anti-hipertensivo pelo profissional prescritor (Quadro 2).

i.Ser eficaz por via oral

ii.Ser seguro, bem tolerado e com relação de risco-benefício favorável ao paciente

iii.Permitir a administração em menor número possível de tomadas, com preferência para dose única diária

iv.Ser iniciado com as menores doses efetivas preconizadas para cada situação clinica, podendo ser aumentadas gradativamente, ressalvando-se que, quanto maior a dose, maiores serão as probabilidades de efeitos adversos

v.Não ser obtido por meio de manipulação, pela inexistência de informações adequadas de controle de qualidade, bioequivalencia e/ou de interação química dos compostos

vi.Ser considerado em associação para os pacientes com hipertensão em estágios 2 e 3 e para pacientes de alto e muito alto risco cardiovascular que, na maioria das vezes, não alcançam a meta de redução da pressão arterial preconizada com a monoterapia

vii.Ser utilizado por um período mínimo de quatro semanas, salvo em situações especiais, para aumento de dose, substituição da monoterapia ou mudança das associações em uso

viii.Ter demonstração em ensaios clínicos da capacidade de reduzir a morbidade e a mortalidade cardiovasculares associadas a hipertensão arterial (característica para preferência de escolha)

Quadro 2. Características importantes do anti-hipertensivo FONTE: NOBRE, 2010. (Adaptado)

O objetivo primordial do tratamento da hipertensão arterial é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares (PADWAL, 2001 apud NOBRE, 2010). Assim, os anti-hipertensivos devem não só reduzir a pressão arterial (PA), mas também os eventos cardiovasculares fatais e não fatais, e, se possível, a taxa de mortalidade. As evidências provenientes de estudos de desfechos clinicamente relevantes, com duração relativamente curta, de três a quatro anos, demonstram redução de morbidade e mortalidade em estudos com diuréticos, com betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina, bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II (BRA II) e com antagonistas dos canais de cálcio, embora a maioria dos estudos utilize, no final, associação de anti-hipertensivos. Esse benefício é observado com a redução da PA per se e, com base nos estudos disponíveis até o momento, parece não depender da classe de medicamentos utilizados (LAW, 2009). Metanálises recentes indicam que esse benefício é de menor monta com betabloqueadores, em especial com atenolol, quando comparado aos demais anti-hipertensivos. A escolha inicial do medicamento como monoterapia deve basear-se

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nos seguintes aspectos (CALBERG; SAMUELSSON; LINDHOLM, 2004; LINDHOLM; CALBERG; SAMUELSSON, 2005):

a) capacidade de o agente escolhido reduzir morbidade e mortalidade cardiovasculares;

b) perfil de segurança do medicamento

c) mecanismo fisiopatogênico predominante no paciente a ser tratado; d) características individuais;

e) doenças associadas;

f) condições socioeconômicas.

Considerando os critérios anteriormente listados, as classes de anti-hipertensivos atualmente consideradas preferenciais para o controle da PA em monoterapia inicial são (PSATY; SMITH; SISCOVICK, et al, 1977; SHEP, 1991; WRIGHT; LEE; CHAMBER, 1999):

a) diuréticos

b) betabloqueadores

c) bloqueadores dos canais de cálcio d) inibidores da ECA

e) bloqueadores do receptor AT1

Já em casos onde há necessidade (alto e muito alto risco cardiovascular; diabéticos; com doença renal crônica mesmo que em fase incipiente; em prevenção primaria e secundaria de acidente vascular encefálico) de uma terapia combinada, as associações de anti-hipertensivos devem seguir a lógica de não combinar medicamentos com mecanismos de ação similares, com exceção da combinação de diuréticos tiazídicos e de alça com poupadores de potássio. Tais associações de anti-hipertensivos podem ser feitas por meio de medicamentos em separado ou por associações em doses fixas. A seguir segue as associações de anti-hipertensivos reconhecidas como eficazes (NOBRE, 2010).

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a) Diuréticos com outros diuréticos de diferentes mecanismos de ação b) Diuréticos com simpatolíticos de ação central

c) Diuréticos com betabloqueadores

d) Diuréticos com inibidores da enzima conversora de angiotensina e) Diuréticos com bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina II f) Diuréticos com inibidor direto da renina

g) Diuréticos com bloqueadores dos canais de cálcio

h) Bloqueadores dos canais de cálcio com betabloqueadores

i) Bloqueadores dos canais de cálcio com inibidores da enzima conversora de angiotensina

j) Bloqueadores dos canais de cálcio com bloqueadores do receptor AT1 k) Bloqueadores dos canais de cálcio com inibidor direto da renina

Na prática clínica do mundo real, em que existe escassez de recursos e desigualdade no acesso à saúde, deve-se utilizar a Economia da Saúde para auxiliar no processo decisório. Constantemente são feitas escolhas entre tratamentos anti-hipertensivos, com custos e efetividades diferentes. É importante procurar a “melhor evidência” e analisar o benefício proporcionado ao paciente, idealmente, aquele que proporcione a melhor relação custo-efetividade (VIANNA, 2010).

7. INTERFERENTES DA CONDUTA BASEADA EM EVIDÊNCIA

A busca de evidências orientadoras de condutas constituiu um movimento cujo pioneirismo pode ser atribuído a David L. Sackett que, a partir de 1992, tem-se preocupado em difundir uma nova forma de atuar e ensinar a prática médica (STRAUS, 2005 apud WANNMACHER, 2006).

A ética precisa permear cenários variados e servir como decisivo determinante da correta tomada de decisão terapêutica, incluindo a prescrição de medicamentos. O

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prescritor deve também respeitar as escolhas do paciente, desde que elas não lhe sejam prejudiciais, por um princípio de autonomia do indivíduo para com sua doença. O contrário é não-ético. (WANNMACHER, 2007).

Estratégias de convencimento dos prescritores pela indústria farmacêutica i. Visitas de propagandistas.

ii. Presentes diretos (brindes).

iii. Presentes indiretos (viagens e hospedagem para encontros patrocinados pelos fabricantes). iv. Convites para jantares e eventos sociais e recreativos.

v. Patrocínio de eventos de educação continuada (cursos, oficinas, seminários). vi. Patrocínio de simpósios satélites e conferências em congressos científicos. vii. Títulos da empresa fabricante ou participação como acionista.

viii. Condução de pesquisa patrocinada.

ix. Fundos para escolas médicas, auditórios e disciplinas acadêmicas. x. Fundos para sociedades e associações profissionais.

xi. Patrocínio de associações de pacientes. xii. Envolvimento com diretrizes clínicas.

xiii. Pagamento de consultorias de especialistas. xiv. Pagamento de líderes ou formadores de opiniões.

xv. Publicação de artigos científicos por “autores fantasmas”. xvi. Anúncios e suplementos patrocinados em periódicos médicos.

Quadro 3. Formas de interferir na conduta baseada em evidência FONTE: MOYNIHAN, 2003 apud WANNMACHER, 2007.

No Quadro 3 podem-se observar as diversas estratégias de convencimento dos prescritores usadas pela indústria farmacêutica para que os mesmos prescrevam os medicamentos que representem o maior interesse econômico.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A HAS é um problema de saúde publica devido principalmente a sua alta prevalência, é uma doença multifatorial de causas distintas. O tratamento medicamentoso na maioria dos casos é indispensável, tornando seu uso racional um dos maiores desafios dos profissionais de saúde.

A farmacoterapia para HAS deve ser individualizada e sempre baseada na melhor evidência científica. Em casos onde a monoterapia seja suficiente para o controle efetivo da PA deve-se seguir a seguinte ordem de prioridade para determinar a

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escolha dentre as seguintes classes de medicamentos: diuréticos, betabloqueadores, bloqueadores dos canais de cálcio, inibidores da ECA, bloqueadores do receptor AT1.

HISTORY IN THE TREATMENT OF HYPERTENSION AND CONDUCT CURRENTLY RECOMMENDED: A LITERATURE REVIEW

The aim of this study was to present an update of the literature on the historical evolution of treatment of hypertension and identify evidence-based guidelines currently recommended. The methodology used for this work was a review of scientific literature. SAH is a condition of high prevalence, with higher frequency in the poorest strata of the population, becoming a public health problem. The use of drugs to control blood pressure levels is necessary in many cases, the appropriate choice of these, it is essential to the success of pharmacotherapeutic treatment. Currently the volume of research to develop new drugs with different profiles of action is growing, continually increasing the number of antihypertensive drugs available. Given this, pharmacotherapy for hypertension should always be individualized and based on the best scientific evidence.

Keywords: Hypertension; Pharmacotherapy; Scientific Evidence

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Referências

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