• Nenhum resultado encontrado

Entre Eu e Você, Naquele Lugar

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Entre Eu e Você, Naquele Lugar"

Copied!
80
0
0

Texto

(1)

Entre Eu e Você, Naquele Lugar

Entre Eu e

(2)
(3)

Entre EU e VOCÊ

Naquele Lugar

(4)
(5)

-Entre EU e VOCÊ

Naquele Lugar

(6)
(7)

-Índice

Introdução

Pinturas e Textos

BRILHOS NAS ONDAS CAPILARES

O que será que VOCÊ está fazendo agora dentro dess-es brilhos?

DIFUNDIR

Será que EU e VOCÊ poderemos escoar-nos recipro-camente e ser misturados?

OLHAR E OBSERVAR

Será que EU e VOCÊ estaremos olhando a mesma linha entre o céu e água?

EQUILIBRAR

Será que EU e VOCÊ estaremos deitados na mesma

APROFUNDAR

Será que EU e VOCÊ estaremos guardando uma aparência de abismo semelhante?

FLUIR

Para onde EU e VOCÊ estamos fluindo agora?

REFLETIR

Será que EU e VOCÊ teremos o mesmo aspecto no reflexo?

PROJETAR

Como EU vejo você através de mim, será que VOCÊ também é?

ENTENDER

Será que EU estou escorrendo para VOCÊ ou já tinha passado VOCÊ? Será que NÓS podemos chegar ao mesmo lugar? 39 45 53 61 66 5 7 15 21 27

(8)
(9)

Introdução

Vivemos numa época em que a comunicação presencial diminui cada vez mais, em que cada um

se encerra em seu próprio quarto, comunicando-se através das pequenas telas.

Quanto tempo se passou desde que você trocou algumas palavras com alguém?

Quanto tempo se passou desde que você sentiu solidão nessa sociedade?

Esse diário e as pinturas aqui apresentados foram feitos entre 2017 e 2020 em Belo Horizonte e em

São Paulo.

Nos textos do diário, - como eu estou escrevendo uma carta para você - a narradora transcreve

meus pensamentos surgidos naquele dia, às vezes, também jogo perguntas no texto - ou para você

- através da superfície d’água e do caráter dela para me comunicar comigo mesma, com você, com

as pessoas ao nosso redor e mesmo com a sociedade.

Assim, através de imagens das pinturas e textos, é possível entender melhor a si mesmo e,

final-mente, nos aproximarmos uns dos outros nessa sociedade fria.

(10)

AS LINHAS AZUIS Eu nem poderia convencer você

de que o azul que eu vejo é o mesmo que você vê. Porém talvez seja assim que os amantes sabem quando é amor; eles veem o mesmo azul. E os dois sabem o que veem.

(THOMAS, p. 132)

O PONTO EM QUE VOCÊ SALTA (...)

Porque você toca. Mas não sente

E elas passam por você todos os dias, um milhão de histórias, cada uma esperando para ser contada. Esperando que você pergunte.

Porque muitos existem. Mas poucos amam. (THOMAS, p. 87)

(11)

O que será que VOCÊ

está fazendo agora dentro desses brilhos?

B

R

il

ha

r

NAS ONDA

S

c

a

p

i

la

r e s

(12)

AS LINHAS AZUIS Eu nem poderia convencer você

de que o azul que eu vejo é o mesmo que você vê. Porém talvez seja assim que os amantes sabem quando é amor; eles veem o mesmo azul. E os dois sabem o que veem.

(THOMAS, p. 132)

O PONTO EM QUE VOCÊ SALTA (...)

Porque você toca. Mas não sente

E elas passam por você todos os dias, um milhão de histórias, cada uma esperando para ser contada. Esperando que você pergunte.

Porque muitos existem. Mas poucos amam. (THOMAS, p. 87)

B

R

i

l

ha

r

NA

S

ON

DA

S

c

a

p

i

la

r e

s

(13)

O que será que VOCÊ

está fazendo agora dentro desses brilhos?

(14)

XX de Abril de 2017

Brilhos.

Como você está vendo aqueles brilhos que cinti-lam em contato com a luz, se movendo com a onda, se fazendo e desfazendo em pedaços bran-cos? Será que você está apenas pensando na luz branca? O que você está pensando através des-sas luzes? O que retêm aqueles brilhos que você está vendo? O que há neles?

Enquanto vejo os brilhos criados pela luz solar cintilarem acima da superfície d’água, vejo os seus olhos brilharem enquanto conversa comigo, seus dentes brancos brilharem quando você ri e as luzes claras imaginárias que sua voz alta cria. Todos eles sobem e afundam com as ondas. Quando olho outros brilhos brancos que cintilam sob a luz da lua, penso naquela cidade onde você está. Quando a superfície d’água fica tão escura que não dá para visualizar a sua profundidade, mas ao mesmo tempo brilha, penso que aquele brilho é a luz das estrelas do céu noturno do dia

que nos sentamos lado ao lado, aquele brilho é a luz saindo pelos faróis do carro dirigido por você, que gosta de passear, aquele brilho é luz dos le-treiros de lojas que você gosta, aquele brilho é a luz do quarto que você estará e que aquele brilho é a luz que iluminará sua mesa.

Dentro dessas luzes brilhantes do dia inteiro, o que será que você está fazendo?

Sem Título Pintura acrílica s/ tela 30cm x 20cm 2017

(15)
(16)

XX de Abril de 2017

Às vezes, penso que eu e você somos muito dif-erentes, mas, ao mesmo tempo, sinto que somos assustadoramente iguais.

Será que os critérios padronizados - sexo, raça, aparência, idade e dentre outros - podem nos definir como seres completamente diferentes? Nesse mundo, somos apenas seres que vivem sendo brilhantes e especiais. Ao sermos empur-rados e puxados pelo fluxo, mesmo distantes, cada um brilha sozinho, mas brilhamos mais forte quando nos aproximamos. Acredito que somos seres igualmente brilhantes e de mesmo valor, mesmo que talvez eu e você brilhemos com luzes de cores diferentes e de formas dif-erentes.

Quando você ver os brilhos que se despedaçam na ondulação, espero que reconheça que você é único neste mundo e quantas pessoas especiais, brilhantes, cercam você.

Depois disso, espero que você pense em mim. Mesmo que um dia não possamos mais ver os brilhos das ondas por falta de luz neste mundo, os brilhos que vibram em seu interior nunca de-saparecerão.

Sem Título Pintura acrílica s/ tela 15cm x 20cm 2017

(17)
(18)

A FÚRIA DAS ÁGUAS

Você pode até tentar me segurar. Pode construir suas barragens idiotas, trazer os sacos de areia e gritar para que as nuvnes e a chuva e o céu parem de pingar.

Mas, eu não vou ceder. Vou alcançar você. Porque eu sou o mar. E vou amar você, custe o que custar. (THOMAS, p. 55)

(19)

Será que EU e VOCÊ

poderemos escoar-nos reciprocamente e ser misturados?

D

I

(20)

A FÚRIA DAS ÁGUAS

Você pode até tentar me segurar. Pode construir suas barragens idiotas, trazer os sacos de areia e gritar para que as nuvnes e a chuva e o céu parem de pingar.

Mas, eu não vou ceder. Vou alcançar você. Porque eu sou o mar. E vou amar você, custe o que custar. (THOMAS, p. 55)

D

I

FUN

D

I

R

(21)

Será que EU e VOCÊ

poderemos escoar-nos reciprocamente e ser misturados?

(22)

XX de Maio de 2017

Estou curiosa para saber o que vai acontecer quando misturarem eu e você.

Eu e você simplesmente nos misturaremos e fluiremos por um caminho ou ocorrerá uma reação química?

Mesmo se um for água azulada e o outro for água rosada, podemos nos misturar facilmente? Talvez eu e você não possamos nos misturar porque somos muito diferentes. Como substân-cias solúveis em água e substânsubstân-cias solúveis em gordura.

No entanto, mesmo que eu e você tenhamos pro-priedades semelhantes às da água e do óleo, irei me aproximar de você cada vez mais.

Mesmo que não nos misturemos como uma bol-ha de óleo flutuando sobre a superfície da água, talvez você possa estar comigo e eu possa estar com você. Podemos ficar juntos mesmo que não

possamos nos misturar. Isso é importante e pre-cioso para mim:

o que flui junto.

Você está sobre mim e eu estou sobre você.

Sem Título Pintura acrílica s/ placa plástica 42,5cm x 50cm 2017

(23)
(24)

Gêmeos

Gosto de pensar que em algum lugar distante, num planeta igualzinho ao nosso, duas pessoas iguais a eu e você fizeram escolhas completamente diferentes e que, em algum lugar, ainda estamos juntos.

Isso para mim basta. (THOMAS, p. 142)

(25)

Será que EU e VOCÊ

estaremos olhando a mesma linha entre o céu e água?

O

LHA

R

E

O

B

S E

R

V

A

R

(26)

Gêmeos

Gosto de pensar que em algum lugar distante, num planeta igualzinho ao nosso, duas pessoas iguais a eu e você fizeram escolhas completamente diferentes e que, em algum lugar, ainda estamos juntos.

Isso para mim basta. (THOMAS, p. 142)

O

LHA

R

E

O

B

S E

R

V

A

R

(27)

Será que EU e VOCÊ

estaremos olhando a mesma linha entre o céu e água?

(28)

XX de Junho de 2017

Numerosas ondas feitas com técnica de matiere. Quando olho para essas ondas, surge uma cu-riosidade dentro de mim: você era uma criança travessa, como uma onda forte ou uma criança tranquila, como uma onda suave? Talvez você tenha vivido um tempo em que a brisa de inver-no soprava forte, ou, às vezes, você tenha vivido um tempo em que soprava o vento ameno da primavera na sua mente.

Eu também.

Eu e você vivemos várias ondas e, assim, viver-emos experimentando ondas cada vez mais di-versas, feitas por outros tipos de vento.

Para fazer um matiere em uma tela branca, é necessário gastar mais tempo do que apenas pintando com pinceladas lisas e tentar de uma forma, e depois ainda tentar de outra forma; as-sim é preciso fazer muitos testes até obter uma textura satisfatória.

Conforme a superfície da água adquire várias cores diferentes, mexo e acumulo o tempo na tela.

Dentro de tempos empilhados pelas camadas de cores e de altos e baixos na textura da água, será que eu e você tivemos experiências semelhantes, mesmo que eu não conhecesse você?

Será que agora eu e você estamos olhando a mesma linha do horizonte flutuando na mesma onda?

Sem Título Pintura técnica mista s/ tela 40cm x 30cm 2017

(29)
(30)

AS BOLHAS SÃO SUAS AMIGAS

E embora as ondas possam derrubar você e a correnteza possa puxar você para o fundo, o céu sempre está logo ali em cima.

E as suas amigas vão mostrar o caminho. (THOMAS, p. 198)

(31)

Será que EU e VOCÊ

estaremos deitados na mesma altura de ondulação?

e

q

u

i

l

i

br

a

(32)

AS BOLHAS SÃO SUAS AMIGAS

E embora as ondas possam derrubar você e a correnteza possa puxar você para o fundo, o céu sempre está logo ali em cima.

E as suas amigas vão mostrar o caminho.

(THOMAS, p. 198)

i

u

q

e

l

i

br

a

r

(33)

Será que EU e VOCÊ

estaremos deitados na mesma altura de ondulação?

(34)

XX de Abril de 2018

Cada onda tem sua própria altura. Quanto mais baixa ela for, mais escura a luz ficará, e quanto mais alta for, mais clara a luz brilhará.

Quando vejo as ondas subindo e subindo até não aguentarem sua altura e se espalham em gotas brancas, penso que é uma luta da água para pod-er alcançar um pouco mais alguém.

Acontece a mesma coisa em cima da tela bran-ca. Se você colocar uma camada grossa de tinta de uma vez para completar a pintura em um piscar de olhos, a camada se desfaz por si mes-ma com a passagem do tempo.

Então, todos os processos de trabalho feitos voltam à estaca zero, desfazendo-se como a es-puma das ondas. Aplique as camadas de cores diferentes e aumente sua altura lentamente no tempo que for suficiente.

Os grãos e partículas misturadas com a tinta representam as gotas numerosas de água que as

ondas retêm.

A onda que aparecerá, então, passará a sensação de ser muito mais viva. Esse tipo de pintura pode ser visto de frente, mas ao observar cada um de seus quatro lados, se verá outras formas de onda. Às vezes, você não conseguirá ver além de uma onda alta, já que sua visão será bloqueada pela altura dela. Nesse momento, mude sua posição, veja a onda de diferentes pontos.

Olhe a mesma onda, mas de maneira diferente, em locais diferentes. É a mesma onda, mas começam a surgir muitas outras ondas difer-entes.

Será que eu e você podemos nos ver da mesma altura?

Sem Título Pintura técnica mista s/ painel 40cm x 40cm 2018

(35)
(36)

A ESPERANÇA DA SIMETRIA

Então você procura padrões porque é isso que os seres humanos fazem para tentar dar sentido às coisas. Na esper-ança de que exista alguma ordem divina. E você busca nos filmes e nas músicas e nas coisas que lê algum símbolo, pontos e curvas que combinem com os seus. Mas, o único padrão verdadeiro que existe é aquele que você cria quando segura um espelho. E reflete.

(37)

O que será que EU e VOCÊ,

finitos, podemos fazer nesse mundo infinito?

E

X

PA

N

D

I

(38)

A ESPERANÇA DA SIMETRIA

Então você procura padrões porque é isso que os seres humanos fazem para tentar dar sentido às coisas. Na esper-ança de que exista alguma ordem divina. E você busca nos filmes e nas músicas e nas coisas que lê algum símbolo, pontos e curvas que combinem com os seus. Mas, o único padrão verdadeiro que existe é aquele que você cria quando segura um espelho. E reflete.

(THOMAS, p. 148)

E

X

PA

N

D

I

R

(39)

O que será que EU e VOCÊ,

finitos, podemos fazer nesse mundo infinito?

(40)

XX de Maio de 2018

O tempo flui e a água flui também.

Assim como não podemos interromper o fluxo da passagem de tempo, não podemos interromp-er a água que flui por esse mundo. Uma vez que esse mundo está cheio de tempo infinito e cursos de água infinitos, o que eu e você, que somos fini-tos, podemos fazer nesse mundo infinito?

Eu penso que se separar e criar grupos fechados, como se odiar e se discriminar por critérios pa-dronizados, seja algo inadvertido, já que as pes-soas vivem um tempo finito.

Como somos seres que têm um tempo finito, então porque estamos fazendo algo muito des-gastado e que não é importante na nossa vida? Claro que isso desaparecerá novamente com o passar do tempo, mas se repetiu e repetirá con-tinuamente por bilhões de vezes neste planeta. Diante do tempo infinito, somos finitos e efêmer-os. Para sair dessa finitude e chegar um

pou-co mais perto do infinito, fiz uma onda ligada por pedaços de ondas. Eu queria recolher a cor-renteza da água de uma duração mais longa e por um comprimento mais longo enquanto es-tendia a superfície sobre a qual pintava, extrap-olando a tela, expandindo para outras telas de vários tamanhos e alturas.

Esse processo de tentar a capturar o fluxo in-finito da água, confinando-o em uma tela que contém área finita e exibindo-a, é semelhante à experiência de entrar nesse mundo, que tem tempo infinito, onde eu e você habitamos e as pessoas vivem como se fossem vivessem para sempre, mas vivem dentro do tempo finito.

Sem Título Pintura acrílica s/ telas 90cm x 45cm 2018

(41)
(42)

Sim, sou TCK.

“Quando criou a expressão third culture kids, há cerca de 40 anos, a socióloga Ruth Hill Useen estudava jovens americanos que viviam na Índia. Ela descobriu que, durante o processo de inserção na sociedade indiana, aqueles crianças acabavam por desenvolver uma espécie de cultura própria – nem completamente americana, nem inte-gralmente indiana.”

“(...) Não há dúvida de que o multilinguismo é uma vantagem das TCKs. Mas a aventura cobra seu preço também. Elas podem sofrer com falta de identificação com uma só cultura, (...)”

(43)

Será que EU e VOCÊ

estaremos guardando uma aparência de abismo semelhante?

A

P

R

O

(44)

Sim, sou TCK.

“Quando criou a expressão third culture kids, há cerca de 40 anos, a socióloga Ruth Hill Useen estudava jovens americanos que viviam na Índia. Ela descobriu que, durante o processo de inserção na sociedade indiana, aqueles crianças acabavam por desenvolver uma espécie de cultura própria – nem completamente americana, nem inte-gralmente indiana.”

“(...) Não há dúvida de que o multilinguismo é uma vantagem das TCKs. Mas a aventura cobra seu preço também. Elas podem sofrer com falta de identificação com uma só cultura, (...)”

(VEJA, 2010)

A

P

R

O

F

U

N D

A

R

(45)

Será que EU e VOCÊ

estaremos guardando uma aparência de abismo semelhante?

(46)

XX de Junho de 2018

A minha aparência diferente da maioria, sem-pre desperta interesse, mas semsem-pre acompanha o ódio também.

Eu e você já nos tornamos seres diferentes através de meus aspectos exteriores, que podem ser percebidos, uma vez que nasci num outro país e por aspectos interiores que podem ser percebidos pelo sotaque e pelo meu comporta-mento influenciados por uma cultura diferente. Talvez eu tenha um abismo semelhante ao seu. Mas é assim que me torno um estranho e um alienígena nesse lugar.

Quando você era uma criança que não sabia de nada, quando não conhecia nenhum ódio ou rai-va, talvez eu e você tivéssemos um abismo se-melhante. Será que eu e você ainda guardamos aquele abismo, daquele momento? Ou ele já se transformou?

Acredito que se existirem 100 pessoas neste mundo, existirão 100 histórias individuais, 100 passagens de tempo diferentes e 100 abismos de cores e de formas diferentes dentro de cada in-divíduo.

Seria ganancioso querer que esses abismos dif-erentes e diversos se tornassem os mesmos em algum momento. Você não pode passar todos os momentos com alguém, 24 horas por dia e 365 dias por ano.

Mas, penso que podemos ter abismos semelhan-tes.

Quer dizer, a sua cor ou a sua textura fica se-melhante à minha.

Sem Título Pintura acrílica s/ tela 40cm x 23cm 2018

(47)
(48)

AS COISAS QUE FICAM PARA TRÁS

O mundo me congelou. Você me tornou água. Um dia seremos nuvens.

(49)

Para onde EU e VOCÊ estamos fluindo agora?

(50)

AS COISAS QUE FICAM PARA TRÁS

O mundo me congelou. Você me tornou água. Um dia seremos nuvens.

(THOMAS, p. 52)

F

L

U

I

R

(51)
(52)

XX de Julho de 2018

Quando minhas emoções derretem e se trans-formam em água, de qual cor ela brilhará? Assim como a água sempre flui livremente para qualquer país ou qualquer lugar, minhas emoções derretidas também vão viajar para qualquer país, independente da minha nacionalidade e da minha localização atual.

Nada é um obstáculo para o fluxo de água. Se es-tiver bloqueada, procura uma lacuna até achá-la, se espreme nela e flui para onde quiser. É por isso que elas fluem imparcialmente para qualquer pessoa e atingem todas pessoas, sem ódio, raiva ou discriminação.

Espero que a água contendo a luz deste mun-do flua com esse caráter de um lugar qualquer, mesmo que seja o mais alto do mundo, até o lugar mais baixo do mundo.

Sem Título Pintura acrílica s/ painel 85cm x 35cm 2018

(53)
(54)

XX de Junho de 2018

A água está fluindo. O tempo está passando. A água está fluindo com o tempo.

Embora essa água seja avermelhada, ela rapi-damente fica azulada e também é esverdeada. Esse fluxo de água se divide e se junta, e de-pois de se juntar, se divide novamente. O fluxo de água é pioneiro e está desenvolvendo o seu próprio caminho.

Olhando os espaços vazios entre esses caminhos, rumino calmamente os meus e os seus aspectos. O que resta nos espaços entre os fluxos do tempo que já tinham passado por mim e por você ou os que vão passar? E o que esses espaços mostrarão para mim e para você?

Para onde você está fluindo agora?

Será que agora estou fluindo para o seu lado ou estou fluindo para o lado oposto a você?

Algum dia, eu e você poderemos fluir para o mesmo sentido e para o mesmo lugar?

Sem Título Pintura acrílica s/ painel 85cm x 35cm 2018

(55)
(56)

“Uma bela tarde, Da Vinci passeava pelo mosteiro dominicano onde estava a trabalhar e ouviu a voz de um monge cantando a oração das Vésperas. Encantado foi verificar de quem se tratava. Qual não foi sua surpresa ao perceber um belo jovem de 20 e poucos anos que era o rosto ideal pra servir-lhe como modelo de Jesus. Ao fazer o convite, o moço não exitou em aceitar, e assim o rosto de Cristo foi representado no quadro. Porém, a dificuldade em achar alguém que se assemelhasse a sua ideia de Judas foi tanta que se passaram 7 anos, e passado este tempo, ao camin-har pela cidade, encontrou um homem jogado no caminho, com feições horríveis e degradantes, um homem com-pletamente desprovido de sua dignidade humana. Da Vinci o achou ideal para sua representação que tinha feições de um homem ruim e traidor, e, ao realizar o convite, o homem respondeu-lhe:

- Irá pintar-me novamente? Não está a me reconhecer? Sou o jovem que lhe serviu de modelo para pintar Jesus, porém, como me entreguei aos vícios, encontro-me neste estado, mas pode contar comigo novamente!”

(57)

Será que EU e VOCÊ

teremos o mesmo aspecto no reflexo?

(58)

“Uma bela tarde, Da Vinci passeava pelo mosteiro dominicano onde estava a trabalhar e ouviu a voz de um monge cantando a oração das Vésperas. Encantado foi verificar de quem se tratava. Qual não foi sua surpresa ao perceber um belo jovem de 20 e poucos anos que era o rosto ideal pra servir-lhe como modelo de Jesus. Ao fazer o convite, o moço não exitou em aceitar, e assim o rosto de Cristo foi representado no quadro. Porém, a dificuldade em achar alguém que se assemelhasse a sua ideia de Judas foi tanta que se passaram 7 anos, e passado este tempo, ao camin-har pela cidade, encontrou um homem jogado no caminho, com feições horríveis e degradantes, um homem com-pletamente desprovido de sua dignidade humana. Da Vinci o achou ideal para sua representação que tinha feições de um homem ruim e traidor, e, ao realizar o convite, o homem respondeu-lhe:

- Irá pintar-me novamente? Não está a me reconhecer? Sou o jovem que lhe serviu de modelo para pintar Jesus, porém, como me entreguei aos vícios, encontro-me neste estado, mas pode contar comigo novamente!”

(WOO, 2017)

R

E

F L

E

T

I

R

(59)

Será que EU e VOCÊ

teremos o mesmo aspecto no reflexo?

(60)

XX de Agosto de 2020

A hidrovia deixa um rastro e os vestígios do tempo que passou se sobrepõem e, pouco a pou-co, se amontoam progressivamente.

O tempo acumulado cria as camadas. Desta for-ma, elas compõem o nosso interior. Nossos inte-riores empilhados constroem as nossas próprias camadas exteriores. Ou seja, o rosto e o corpo são conjuntos de momentos da vida de uma pes-soa, que formam o “eu” de hoje.

Assim como nossa pele é formada pelos conjun-tos e empilhamenconjun-tos de cada célula, penso que nosso interior e exterior são formados com o acúmulo do tempo.

Quando os pedaços de tempo se encaixam como quebra-cabeças e esses quebra-cabeças se acu-mulam em cima de vários pontos externos, na pele, criam curvas como formas de ondas.

O tempo passará de novo por entre essas cama-das criacama-das por ele mesmo.

Ele fluirá para cima, fluirá entre e fluirá para baixo de outras camadas, como a água correndo para qualquer lugar.

Sem Título Pintura acrílica s/ painel 50cm x 40cm 2020

(61)
(62)

XX de Setembro de 2020

Algumas pessoas disseram que a superfície da água reflete a nossa fisionomia e, simbolica-mente, a nossa mente.

A pessoa que se sobrepõe às linhas da água pode ser o pintor do quadro, você que está observando a pintura ou qualquer pessoa esteja ao seu re-dor. Ao ver as pinturas, o entendimento delas depende do que você passou e do que você está sentindo nesse momento.

Apenas a aparência é diferente, talvez essa sonagem dentro do quadro possa ser uma per-sonagem que tem um abismo semelhante ao seu, ou mesmo igual, caso você se veja no quadro. Eu me torno você e você se torna eu.

É assim que eu e você nos tornamos NÓS.

Sem Título Pintura acrílica s/ painel 70cm x 50cm 2020

(63)
(64)

“Não foi um mero desejo de fácil mitologia, mas uma verdadeira presciência do papel psicológico das experiências naturais que determinou a psicanálise a marcar com o signo de Narciso o amor do homem por sua própria imagem, por esse rosto que se reflete numa água tranquila.”

(65)

Como EU vejo você através de mim,

será que VOCÊ também é?

P

R

O

J

E

T

A

R

(66)

“Não foi um mero desejo de fácil mitologia, mas uma verdadeira presciência do papel psicológico das experiências naturais que determinou a psicanálise a marcar com o signo de Narciso o amor do homem por sua própria imagem, por esse rosto que se reflete numa água tranquila.”

(BACHELARD, p. 23)

R

P

O

J

E

T

A

R

(67)

Como EU vejo você através de mim,

será que VOCÊ também é?

(68)

XX de Outubro de 2020

Não vejo todo o meu rosto no espelho, mas vejo algumas partes do rosto separadamente, olhan-do apenas meus olhos quanolhan-do algo entra neles ou olhando apenas minha boca e os dentes no espelho quando estou os escovando. Não estou evitando conscientemente, mas já faz muito tempo que não vejo meu rosto inteiro refletido no espelho porque não penso que é necessário ol-har meu rosto no espelho no dia a dia.

Em vez disso, enquanto lavo meu rosto, o vejo com mais frequência no menor lago do mundo, que só existe nas minhas mãos, sobre a minha palma, e nas poças de água de vários tamanhos que encontro de repente, chamada pelos brilhos que arrastam meus olhos ao caminhar pela rua quando tudo - o ar, o dia, a atmosfera - fica en-solarado após uma chuva.

Será que a razão de fazer isso inconscientemente é que o espelho me projeta diretamente, enquan-to a superfície da água me reflete disenquan-torcida? Ou será que é por que quando olho de relance a

imagem refletida, me lembro de outras coisas além do meu rosto?

Quando me vejo através da superfície d’água, vejo você de repente, mesmo quando olho para mim. Conforme a água se move, meu cabelo liso refletido na superfície se parece com o seu cabelo ondulado e quando vejo minhas covinhas profun-das, vejo manchas em suas bochechas. Enquanto olho para mim, vejo outro rosto meu, composto de partes do seu rosto.

Quando você olhar o seu rosto, meu rosto de re-pente se tornará parte do seu rosto também?

Sem Título Pintura acrílica s/ painel 40cm x 40cm 2020

(69)
(70)

Será que EU estou escorrendo para VOCÊ ou já tinha passado VOCÊ?

Será que NÓS podemos chegar ao mesmo lugar?

E

N t

E

(71)

XX de Outubro de 2020

Se pudéssemos nos entender melhor, será que o sofrimento e a tristeza das pessoas neste mundo poderiam ser reduzidas um pouco?

Quero estar mais perto de você. Quero te en-tender mais. Estou me aproximando de você cada vez mais. Você também está? Mesmo que esta direção pareça ser uma direção certa, que está me levando até você, às vezes, fico preocu-pada que eu esteja indo para o ponto oposto a você. Como a maré alta e a maré baixa, serei empurrada para longe de você de repente, mes-mo enquanto estiver fluindo para você. Todos os relacionamentos são assim, como você já sabe. No entanto, se continuarmos a nos esforçar in-finitamente para nos entender, estaremos fluin-do lafluin-do a lafluin-do para o mesmo lugar, depois nos

Esta viagem sobre a água, de procurar entre si, de um para o outro, pode não ser tão tranquila, mas ficarei feliz o tempo todo, mesmo que tenha que suportar todas as preocupações e sofrimentos que vou encontrar. Assim, estou me esforçando para procurar minha felicidade e continuarei a fazer isso. Espero que você também faça isso. Esperando um dia que poderemos nos encontrar e nos chamar de “NÓS”.

(72)
(73)

Bibliografia

Bachelard, Gaston. A agua e os sonhos: ensaio sobre e a imaginação da matéria. São Paulo.

Mar-tins Fontes. 1989.

Foucault, Michel. Isto não é um cachimbo. 7.ed. São Paulo. Paz e Terra. 2016.

Gagnebin, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo. Ed.34. 2006.

Thomas, Ian S. Escrevi isso pra você. tradução de Ana Guadalupe. Rio de Janeiro. Sextante. 2018.

Notícia

GOULART, Nathalla. Third culture kids: a aventura das crianças globalizadas. Veja, 19 Maio

2010. Educação. Disponível em: <

https://veja.abril.com.br/educacao/third-culture-kids-a-aven-tura-das-criancas-globalizadas/ >. Acesso em 10 Ago. 2015.

MOURA, Fabiana. A lenda de Da Vinci: Cristo e Judas. Woo! Magazine, 15 de Abril de 2017.

Dis-ponível em: < https://woomagazine.com.br/lenda-de-da-vinci-cristo-e-judas/ >. Acesso em 15 Set.

2020.

(74)
(75)

Agradecimento

Em primeiro lugar, dedico este livro com todo o meu coração e gratidão eterna aos meus pais, que estão sempre preocupados comigo, mas me deixam fazer o que quero, e dão apoio sem fim aos meus estudos. Às vezes, não acredito em mim mesma, mas por meio do apoio deles, consigo acreditar. Eles são os melhores pais que eu poderia ter, penso até que não possa me tornar uma pessoa como eles. Consegui começar este projeto graças aos meus pais. Gostaria de agradecer ao meu irmão mais novo por ter uma irmã mais velha como eu. Talvez ele tenha tido mui-tos problemas com os quais lidar e resolver sozinho quando eu me mudei, enquanto eu sempre recorri a ele. Sinto que ele cresceu bem e agora é um adulto por causa do apoio que me deu. Mas ainda assim, é uma criança para mim. Gostaria de expressar minha gratidão ao Prof. Mário Azevedo, ao Prof. Manuel Carvalho e a todos os professores que conheci na universidade até agora, por conduzirem com muita paciência essa aluna incomum, que é meio es-trangeira e meio brasileira. Acho que cometi inúmeros enganos devido às diferenças culturais e, especialmente, à minha falta de domínio do idioma. No entanto, eles estão sempre sorrindo, tentando compreender minha situação e me explicando até que eu consiga entender. Nunca esquecerei todos os esforços que fizeram por mim até agora. Por fim, envio todo o meu coração para Ariely e Luana, que foram minha família (minhas irmãs mais velha e mais nova), minhas queridas amigas, durante a vida universitária. Sem elas, minha juventude teria sido

(76)

preenchi-Sempre sinto pena por não conseguir expressar a gratidão que realmente sinto por todos.

Espero que um dia possa transmitir todo esse amor e agradecimentos através das palavras certas e suficientes com a minha própria voz.

Obrigada.

Em outubro de 2020,

em madrugada como sempre, Jully.

(77)
(78)

PINTURA E TEXTO Jully Gyeongmi Ma TRADUÇÃO

Jully Gyeongmi Ma REVISÃO DO TEXTO

Mário Azevedo e Victória Abreu Viana FOTOGRAFIA Jully Gyeongmi Ma PROJETO GRÁFICO Jully Gyeongmi Ma TRABALHOS ARTÍSTICOS https://jullysart.hotglue.me PINTURAS https://jullysart.hotglue.me/Painting PUBLICAÇÕES https://jullysart.hotglue.me/Book VERSÃO ONLINE

(79)
(80)

Entre Eu e Você, Naquele Lugar

Entre Eu e

Referências

Documentos relacionados

Vem a essa Comissão de Constituição e Justiça o Projeto de Lei Complementar nº 21/2013, de autoria do nobre Deputado Vinicius Ribeiro, que “Cria a Região

Ao mesmo tempo, lamentávamos a perda de Luiz Vieira de Carvalho Mesquita – o Zizo –, presidente da Sociedade de Cultura Artística desde 1967.. Neto de Arnaldo Vieira de Carvalho

Doze unidades federativas possuíam em 14/05 uma estimativa de transmissibilidade entre 0,8 e 1,0 (Taxa de contágio – Rt), indicando um possível controle da transmissão na data: AM,

Por fim, são discutidas e apresentadas as possibilidades básicas para se obter o aumento do rendimento térmico de um ciclo de Rankine, tais como: superaquecimento do vapor saturado

A análise dos dados meteorológicos foi dividida em três etapas a partir de um esquema de decomposição temporal-cronológica, iniciando pela série de dados de longo

3 Muitos povos virão e dirão: “Venham, subamos ao monte do Senhor e ao templo do Deus de Jacó, para que nos ensine os seus caminhos, e andemos nas suas veredas.” Porque de

“Bem, é realmente muito encorajador ouvir você dizer assim porque isto não é algo que você possa fazer com sua própria força, contudo tampouco é algo que você possa

Durante o mês da exposição artistas, teóricos, escritores e produtores culturais argentinos e brasileiros se sentaram para debaterem questões relativas ao fenômeno da viagem.. Em