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Conheça Edwiges. Você tem interesse em saber quais foram? Vamos a eles.

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Academic year: 2021

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Conheça Edwiges

 

Releve-se a rima, mas Pernambuco, a par de sua índole libertária, possui forte tradição

literária. Uma boa medida disso, aliás, é o fato de que nada menos que oito pernambucanos já presidiram a Academia Brasileira de Letras. É, provavelmente, o estado que mais produziu presidentes para aquela entidade.

Você tem interesse em saber quais foram? Vamos a eles.

O primeiro foi Medeiros e Albuquerque, em 1923. Depois vieram Antônio Austregésilo

Rodrigues (1939), Celso Vieira (1940), Múcio Leão (1944), Adelmar Tavares (1948), Barbosa Lima Sobrinho (1953/1954), Austregésilo de Ataíde (1959/1993) e Marcos Vinícios Vilaça (2006/2007) e presidente atual, desde 2009.

Dois pontos chamam a atenção: o pernambucano Austregésilo de Ataíde foi quem exerceu o período mais longo, trinta e quatro anos, enquanto outro conterrâneo, o escritor Marcos Vinícios Vilaça, preside a entidade pela segunda vez. Causa estranheza, porém, que em um país tão cheio de talentos femininos, somente em agosto de 1977 uma mulher tenha sido ali admitida, a consagrada escritora cearense Rachel de Queiroz.

Pois saiba que cinquenta e sete anos antes de Rachel de Queiroz ingressar na ABL, a

pernambucana Edwiges de Sá Pereira ingressou na Academia Pernambucana de Letras, onde ocupou a cadeira de Regueira Costa. Foi a primeira mulher brasileira a se tornar imortal de uma academia de letras e, como você verá, foram muitas e robustas as razões para isso.

Edwiges de Sá Pereira foi jornalista, educadora e poetisa com vários livros publicados, entre eles “A Influência da Mulher na Educação Pacifista do Após-Guerra”, “Campesinas”, “Horas

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reproduzindo o seu discurso de posse na Academia.

Mais adiante você conhecerá em trechos do poema “Olhos Verdes”, a força da poética dessa pernambucana tão especial. Também conhecerá muito mais dessa personalidade fascinante.

Olhos Verdes (1)

Teus olhos verdes eu fito | Mas logo depois não sei | Se foi do excelso infinito | Divina estrela que olhei. |É que teu olhar encerra | Tanta graça e tanta luz | Que eu penso não ser da terra | O brilho que me seduz!...| Teus olhos, flor adorada, | São de um poder soberano: | E a gente os fita enlevada | Qual se contemplasse o oceano.

Para começar a entender a grandiosidade de Edwiges de Sá Pereira, atente-se para o que registra uma sua ex-aluna, a educadora, escritora e poetisa Dulce Chacon. Dizia ela que, apesar de não possuir um diploma universitário, em Edwiges de Sá Pereira sobrava saber, cultura geral, cultura especializada, prudência,  noção do dever e absoluta retidão de caráter. Nada mais adequado, pois, a alguém que, na qualidade de educadora, iria forjar, como

efetivamente forjou, tantas personalidades e influir em tantos destinos. Tão qualificada mestra exerceu o seu ofício como professora primária e catedrática da Escola Normal, onde ensinou Prática Didática e Pedagogia; foi mentora da cadeira de português do curso comercial do

Colégio Eucarístico; mestra de História Geral e História do Brasil do Instituto Nossa Senhora do Carmo, e superintendente de ensino de diversos grupos escolares recifenses.

 

Olhos Verdes (2)

Não é que neles escondas | Essa pérola do mar, | Mas toda a atração das ondas | Tu tens guardada no olhar! | Eu nesse olhar adivinho | - Como a quimera vagueia! - | Candura de passarinho | Fascinação de sereia!...| O casto sonho do poeta | Nas noites claras de lua, | Semelha a chama dileta | Que nos teus olhos flutua.

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Como jornalista, colaborou com diversos órgãos de imprensa de Pernambuco e de outros estados, e foi uma das fundadoras do jornal mensal “O Lyrio”, que tinha como público-alvo as mulheres. Era o feminismo da mestra ganhando musculatura, se bem que sob o manto da delicadeza. Tanto que o editorial do segundo número do jornal dizia: “Pernambucanas distintas, tomamos a liberdade de apresentar-vos ‘O Lyrio’, um botão ainda, que mal começa a viver, tão frágil e pequenino para suportar os ardores deste sol de verão (...). Não é político, não tem pretensões literárias nem é vaidoso. É um jornal seduzido pela arte que, em homenagem aos vossos encantos adoráveis vem brindar-vos com sua modesta presença.”

Era, em verdade, uma incursão de Edwiges Sá Pereira em um reduto masculino.

 

Olhos Verdes (3)

Formosa é sempre a esperança, | Pois vês teus olhos querida, | Têm a cor desta ave mansa | Que tece os sonhos da vida!... | Se pudessem teus olhares | Ver toda a imensa amargura | Do mundo eu via os pesares | Transformados em ventura...

 

Além de tudo, Edwiges de Sá Pereira foi feminista. Pioneira do feminismo, para dizer melhor. Sem queimar sutiãs em praça pública, sem usar roupas vanguardistas, sem fumar, sem gestos bruscos. Era feminista, mas feminil. E assim, com palavras e gestos, lutou incansavelmente pela emancipação feminina, pelos direitos da mulher, mais das vezes com posições

vanguardistas. Quer um exemplo? Naquela época — estamos falando de fins do século 19 e princípio do século 20 — ela já escrevia defendendo a introdução do divórcio no país, ancorada

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não tivesse um entendimento perfeito. Ademais, fundou a Federação Pernambucana pelo Progresso Feminino, além de ser figura de proa no movimento pela instituição no Brasil do voto das mulheres, finalmente instituído em 1934.

No II Congresso Internacional Feminista, realizado em 1931, no Rio de Janeiro, capital política e intelectual do país, apresentou a tese “Pela Mulher, Para a Mulher”, na qual dividia a

condição da mulher brasileira em três classificações: a que não precisava trabalhar, a que precisava e sabia trabalhar, e a que precisava e não sabia trabalhar. Dedicou-se, como se pode esperar de alguém que possui grandeza, ao último grupo, formado por mulheres da classe baixa, sem acesso a higiene, saúde e educação, este o único caminho para modificar positivamente o curso daquelas vidas.

 

Olhos Verdes (4)

Das almas tristes chorosas, | O pranto num doce riso, | A vida – num mar de rosas, | A terra num paraíso!...| Coração que em magoas perdes | A vontade de viver | Procura estes olhos verdes | Que te renasce o prazer!

  

Todo pernambucano tem o dever de conhecer a trajetória de Edwiges de Sá Pereira, a primeira mulher brasileira a integrar uma academia de letras. A propósito, Santa Edwiges, a padroeira dos endividados, levando em conta que você teve a paciência de ler este texto até o fim, dá como quitado o seu débito de conhecer essa pernambucana especial.

 Edwiges de Sá Pereira veio em outubro de 1884 e se foi em agosto de 1958.  Deixou-nos o orgulho de ser seus conterrâneos..

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*Marcelo Alcoforado é publicitário e jornalista marceloalcoforado@speedmais.com.br

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