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O COMPORTAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO NA ESCRITA CULTA JORNALÍSTICA BRASILEIRA. Juliana da Costa Santos

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O COMPORTAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE

RELATIVIZAÇÃO NA ESCRITA CULTA JORNALÍSTICA

BRASILEIRA

Juliana da Costa Santos

Rio de Janeiro Fevereiro de 2015

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O COMPORTAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO NA ESCRITA CULTA JORNALÍSTICA BRASILEIRA

Juliana da Costa Santos

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa)

Orientador (a): Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Rio de Janeiro Fevereiro de 2015

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O comportamento das estratégias de relativização na escrita culta jornalística brasileira

Juliana da Costa Santos

Orientadora: Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas

(Língua Portuguesa)

Examinada por:

__________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Silvia Rodrigues Vieira – (UFRJ – Letras Vernáculas)

________________________________________________________ Profa. Doutora Christina Abreu Gomes – (UFRJ – Linguística) ________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Eugênia Lammoglia Duarte – (UFRJ – Letras Vernáculas)

__________________________________________________________ Profa. Doutora Márcia dos Santos Machado Vieira– (UFRJ – Letras Vernáculas),

suplente

___________________________________________________________ Profa. Doutora Ângela Marina Bravin dos Santos – (UFRRJ – Letras Vernáculas),

suplente

Rio de Janeiro Fevereiro de 2015

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SANTOS, Juliana da Costa.

O comportamento das estratégias de relativização na escrita culta jornalística brasileira. Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2015.

XXV, 185f.: 33il.; 31cm.

Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa), 2013.

Bibliografia: f:146 - 150

1.Variação pronominal 2. Estratégias de relativização 3. Texto jornalístico. I. Vieira, Silvia Rodrigues II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas. III. O comportamento das estratégias de relativização na escrita culta jornalística brasileira.

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Esta pesquisa foi realizada com o apoio da CAPES (ago. 2013 a fev. 2015)

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SINOPSE

Estudo das estratégias de relativização calcado em princípios da Teoria da Variação e Mudança. Descrição do comportamento das estratégias de relativização na escrita culta jornalística brasileira através da investigação de gêneros textuais publicados no Jornal O Globo. Descrição do cotejo entre a fala e a escrita culta brasileira em relação ao fenômeno em estudo. Análise do julgamento do revisor/jornalista do referido jornal acerca das variantes padrão e não padrão cortadora e copiadora.

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RESUMO

O COMPORTAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO NA ESCRITA CULTA JORNALÍSTICA BRASILEIRA

Juliana da Costa Santos Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Resumo da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Setor de Língua portuguesa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.

O trabalho, vinculado à Teoria da Variação e Mudança, analisa o estatuto da regra referente às estratégias de relativização em textos escritos do Jornal O Globo, a fim de identificar e descrever os fatores que favorecem e restringem a realização da variante padrão (o

livro de que eu preciso) e das não padrão cortadora (o livro que eu preciso) e copiadora (o livro que eu preciso dele).

A pesquisa conta com um corpus composto por 165 textos de diversos gêneros textuais publicados no Jornal O Globo durante o período de janeiro a outubro de 2012. Além disso, realiza um estudo comparativo das estratégias de relativização na fala e escrita cultas brasileiras, com base em resultados de outras pesquisas, a fim de observar o comportamento do fenômeno em diferentes modalidades da língua. Por fim, a investigação descreve os juízos de valor do revisor/jornalista do Jornal O Globo, na coluna Autocrítica, para observar a influência da avaliação subjetiva das variantes pelo usuário da língua no fenômeno em estudo.

Dentre os principais resultados da pesquisa, observou-se que, na escrita culta do PB, os dados do grupo das preposicionadas apresentaram o uso semicategórico da variante padrão, porque, apenas em contextos específicos – apenas nos anúncios – a variante cortadora foi raramente registrada. Em relação à fala culta brasileira, verificou-se que a variante preferencial é a cortadora e que o fenômeno se realiza, em alguns corpora, ora como regra variável (cf. TARALLO, 1983; CORRÊA, 1998 e VALE, 2014), ora semicategórica (cf. PEREIRA, 2014). Finalmente, em relação à avaliação subjetiva das variantes, os resultados evidenciaram que a variante padrão constitui um estereótipo linguístico positivo, enquanto as variantes não padrão cortadora e copiadora são estereotipadas negativamente pelo revisor/jornalista.

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ABSTRACT

BEHAVIOR OF RELATIVIZATION STRATEGIES WRITTEN IN BRAZILIAN JOURNALISM

Juliana da Costa Santos Orientadora: Silvia Rodrigues Vieira

Abstract da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Setor de Língua portuguesa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.

The work, linked to the research line of the Theory of Variation and Change, seeks to analyze the rule of the status of relativization strategies in the writings of the newspaper O Globo texts in order to identify and describe the factors that favor and limit the realization of linguistic variants: standard and non- standard cutter and copier.

Therefore, the work has a corpus of 165 texts of various genres published in the newspaper O Globo during the period from January to October 2012. In addition, the paper carries out a comparative study of relativization strategies in speech and writing Brazilian cultured in order to observe the phenomenon of behavior in different modes of language. Finally, the paper carries out a study on the judgments of the reviewer / journalist from O Globo to observe the influence of evaluation in the phenomenon under study.

Among the main results of the research, it was observed that in cultured PB writing, data from the group of prepositional presented the almost categorical use the standard variant, because in specific contexts - only the advertising - the cutter variant was recorded. In relation to speech Brazilian cultured, it was found that the phenomenon takes place in some corpora either as a variable rule (see TARALLO, 1983; CORRÊA, 1998 and VALE, 2014) , now almost categorical (see PEREIRA, 2014). Finally, qualitative research on the results of the phenomenon showed that the standard variant is a positive linguistic stereotype, where variants non-standard cutter and copier are stereotyped negatively by the reviewer / journalist.

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Dedico esta dissertação a Deus, que é o pilar de minha vida e meu orientador em minhas decisões profissionais e acadêmicas. Também dedico a minha querida orientadora Silvia Rodrigues Vieira, que com sua paciência e incentivo meu impulsionou a chegar tão longe em minha pesquisa.

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Agradecimentos

Não me canso de agradecer, não só por minha vida, como também por ter uma família e amigos companheiros e por ter oportunidade de trabalhar e pesquisar o que gosto, a DEUS, pois é o meu Senhor que comanda e orienta meus pensamentos e passos para conseguir experienciar o que há de melhor no mundo.

Também não me canso de agradecer a minha orientadora Silvia Rodrigues Vieira por ter me dado a oportunidade de aprender mais sobre os conhecimentos estruturais da língua portuguesa através de sua dedicada e generosa orientação. Agradeço aos meus pais – Marília da Costa Santos e Edmo Lopes dos Santos – por terem me apoiado em todos os momentos de minha vida, principalmente nos dias e noites intermináveis de estudo em que abriam a porta de meu quarto só para terem certeza de que estava bem e que minha temporária ausência em seu meio era para que eu alcançasse algo importante: a conclusão da dissertação de mestrado.

Agradeço aos meus familiares, em especial a minha irmã, que sempre torce por minhas vitórias profissionais e acadêmicas, e a minha prima Natália Escócia, que comprou meus sonhos de pesquisa com carinho e atenção e sempre me ajudou em tudo de que precisava. Agradeço aos meus amigos, em particular Dafne Ulrich, Geruza Aquino e Júlio Cesar Paiva, que me arrastaram para minha cadeira de estudo nos momentos em que estava desestimulada a continuar o trabalho do mestrado.

Agradeço às professoras Marcia Machado e Maria Eugênia Duarte, por terem, desde a graduação, me ensinado que o saber linguístico é importante não só para o ensino, como também para o desenvolvimento pessoal do indivíduo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1.ASESTRATÉGIASDERELATIVIZAÇÃO:DAREVISÃO BIBLIOGRÁFICAÀFUNDAMENTAÇÃOTEÓRICA ... 19

1.1. A oração adjetiva / relativa e as estratégias de relativização: fundamentos básicos para a delimitação do tema ... 19

1.2. As estratégias de relativização em gramáticas do português brasileiro - PB 24 1.2.1. As estratégias de relativização numa perspectiva tradicional ... 24

1.2.2. As estratégias de relativização numa perspectiva descritiva ... 26

1.3. As estratégias de relativização em gramáticas do português europeu - PE . 33 1.4. Estudos linguísticos das estratégias de relativização no PB ... 38

2. O TRATAMENTO VARIACIONISTA DA REGRA VARIÁVEL ... 56

2.1. Fundamentos para o tratamento da regra variável das estratégias de ... 56

relativização ... 56

2.2. Metodologia Variacionista ... 61

2.2.1. Descrição e tratamento metodológico dos corpora da pesquisa ... 61

2.2.1.1. Os gêneros textuais do Jornal O Globo ... 61

2.2.1.2 Descrição e tratamento metodológico do Corpus da coluna jornalística “Autocrítica”... 63

2.2.2. Descrição das variáveis linguísticas ... 64

2.2.2.1. Critérios de seleção de dados ... 64

2.2.2.2. A variável dependente ... 65

2.2.2.3. Variáveis independentes ... 67

3. RESULTADOS DA PESQUISA ... 82

3.1. Análise geral do corpus do Jornal O Globo ... 82

3.2. Comportamento das orações não preposicionadas do corpus jornalístico ... 87

3.3. Comportamento das orações preposicionadas do corpus jornalístico ... 102

3.4. Comparação dos resultados aos de outros estudos: dados de fala e escrita culta do PB ... 123

3.4.1. Resultados das estratégias de relativização na fala culta brasileira. .... 124

3.4.2. Resultado das análises na escrita culta brasileira ... 126

3.4.3. Resultado das análises contrativas da fala e escrita culta brasileira .... 127

3.5. Os juízos de valor dos revisores do Jornal O Globo em relação às estratégias de relativização ... 129

(12)

3.5.1. As normas linguísticas que influenciam as crenças e atitudes linguísticas

do falante ... 130

3.5.2. Análise da autocrítica do Jornal O Globo ... 133

CONCLUSÃO ... 142

(13)

Í

NDICE DE TABELAS

Tabela 1: Resultados percentuais das estratégias de relativização nas 03 classes sociais

controladas por Tarallo (1983)... 40

Tabela 2. Variáveis independentes controladas na pesquisa de Pereira (2014) ... 52

Tabela 3. Total de orações relativas preposicionadas x variantes linguísticas no estudo de Pereira (2014) ... 53

Tabela 4. Orações Relativas Preposicionadas x Grau de Escolaridade segundo o estudo de Pereira (2014) ... 54

Tabela 5. Total de orações relativas coletadas nos textos do Jornal O Globo ... 82

Tabela 6. Total de orações relativas não preposicionadas x variantes linguísticas. ... 84

Tabela 7. Total de orações relativas não preposicionadas x função sintática do articulador ... 85

Tabela 8. Distribuição das orações relativas preposicionadas pelas estratégias de relativização. ... 85

Tabela 9. Oração Relativa Não Preposicionadas x Função Sintática do Termo antecedente ... 88

Tabela 10. Total de orações relativas não preposicionadas x Referencialidade do Termo antecedente. ... 94

Tabela 11. Total de orações relativas não preposicionadas x Distância entre o termo antecedente e o articulador. ... 96

Tabela 12.Total de orações relativas não preposicionadas x tipo de pronome relativo ... 97

Tabela 13. Total de orações relativas não preposicionadas x tipo de verbo da O. Relativa .... 100

Tabela 14.Total de orações relativas não preposicionadas x gênero textual. ... 101

Tabela 15. Orações Relativas Preposicionadas x Função Sintática do Termo antecedente .... 103

Tabela 16. Orações relativas preposicionadas x referencialidade do termo antecedente. ... 106

Tabela 17. Total de orações relativas preposicionadas x distância entre o termo antecedente e o articulador... 107

Tabela 18. Orações Relativas preposicionadas x função sintática do articulador ... 110

Tabela 19. Orações relativas preposicionadas x tipo de preposição ... 111

Tabela 20. Orações relativas preposicionadas x tipo de pronome relativo ... 112

Tabela 21. Prescrições da gramatica tradicional x os resultados de Gouvêa (1999) e os resultados da variável “tipo de articulador “ no presente estudo. ... 114

Tabela 22. Orações relativas preposicionadas x transitividade verbal ... 118

Tabela 23. Orações relativas preposicionadas x gênero textual ... 119

Tabela 24. Ranking de produtividade das orações relativas em relação aos gêneros textuais dos grupos das orações não preposicionadas e preposicionada ... 120

Tabela 25: Distribuição das estratégias de relativização em estudos da fala culta brasileira. 125 Tabela 26. Distribuição das estratégias de relativização em estudos da escrita culta brasileira ... 127

Tabela 27. Resultado dos principais percentuais de frequência das estratégias de relativização de fala e escrita cultas do PB. ... 127

Tabela 28. Fenômenos que revelariam “falhas na escrita jornalística” citados pela coluna Autocrítica, segundo a ordem de número de ocorrências. ... 134

(14)

Í

NDICE DE ESQUEMAS

,

QUADROS E ANEXOS

Esquema 01: Hierarquia de acessibilidade dos sintagmas nominais. (CASTILHO, 2010, p. 366-367)...29 Quadro 1. Tipos de regras propostas por Labov (2003) (adaptado de Labov, 2003, p. 243)...60 Quadro 2. Sistematização das variáveis independentes controladas...67 Quadro 3: Nível de distanciamento entre o termo antecedente e o articulador da oração relativa...72 Esquema 02: Escala de produtividade das variantes das estratégias de relativização no continuum oralidade-letramento em alto nível de monitoramento no PB...129 ANEXOS...152 ANEXO 01 – Dados do grupo das construções relativas não preposicionadas retirados do jornal O Globo...152 ANEXO 02 – Dados do grupo das construções relativas preposicionadas retirados do jornal O Globo...173

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INTRODUÇÃO

Numa perspectiva variacionista, a língua é um sistema heterogêneo e ordenado, diretamente influenciado pelas interações sociocomunicativas. Partindo desse pressuposto, os estudos fundamentados na Teoria da Variação e Mudança compreendem que a língua e a sociedade estabelecem um estreito vínculo, a ponto de não ser possível conceber a existência de uma sem a outra. É nesse sentido que Labov (1968) propõe que uma regra variável está interligada às transformações dos padrões culturais e ideológicos da comunidade de fala. Assim, constitui objeto privilegiado dos estudos sociolinguísticos o conjunto de regras variáveis condicionadas e reguladas por fatores de ordem estrutural e social.

Dentre os diversos fenômenos que demonstram a intensa heterogeneidade que caracteriza as línguas do mundo, destacam-se, no presente estudo, as estratégias de relativização. Segundo a tese de doutorado de Tarallo (1983), em trabalho pioneiro sobre o tema, essas estratégias constituem um fenômeno variável representado por uma variante padrão e pelas variantes não padrão chamadas cortadora e copiadora. A primeira refere-se às orações relativas que seguem a norma prescrita pela gramática tradicional – Ex.: (01) As pessoas de que necessitamos sempre estão perto de nós. A segunda diz respeito à oração relativa construída com ausência da preposição regida pelo verbo que forma a própria oração – Ex.: (02) As pessoas que necessitamos sempre estão perto de nós. Finalmente, a terceira estratégia contém a oração relativa construída com a presença de uma forma pronominal correferente ao sintagma nominal relativizado (pronome lembrete) – Ex.: (03) As pessoas que necessitamos delas sempre estão perto de nós.

Na presente pesquisa, postulam-se os seguintes questionamentos em relação às referidas estratégias de relativização:

I. Qual é o comportamento das estratégias de relativização na modalidade escrita culta da língua, em particular, na escrita jornalística do português brasileiro (doravante PB) representada em exemplares do jornal carioca O Globo?

II. Quais são os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam na variação do fenômeno na modalidade escrita?

(16)

III. Comparando-se os resultados obtidos para a escrita culta a dados da modalidade oral apresentados em outras pesquisas sobre as estratégias de relativização, o fenômeno apresenta o mesmo comportamento?

IV. Os juízos de valor dos falantes acerca das estratégias de relativização – no caso dos revisores/jornalistas do jornal O Globo, expressos na coluna de revisão linguística das edições anteriores – interferem no comportamento linguístico quanto a esse fenômeno?

Essas questões nortearam a construção do principal objetivo desta dissertação, que é observar, registrar e analisar as estratégias de relativização do Português em textos escritos da variedade culta brasileira. Ademais, pretende-se comparar o comportamento do fenômeno nas modalidades oral e escrita culta do PB e observar a atuação dos juízos de valor dos revisores/jornalistas do Jornal O Globo no comportamento do fenômeno em estudo.

A pesquisa observa e analisa a frequência de uso da variante padrão e da variante não padrão copiadora no grupo das não preposicionadas (aquelas em que os relativos exercem os papéis de sujeito e o objeto direto) e as variantes padrão e as não padrão cortadora e copiadora no grupo das preposicionadas (aquelas em que o relativo exerce funções oblíquas) em gêneros textuais (editorial, artigo de opinião, crônica, notícia, carta do leitor e anúncio publicitário) publicados no Jornal O Globo. Quanto à distribuição dos dados pela variável investigada, o estudo lança como hipótese que a variante padrão terá maior frequência de uso; em contrapartida, haverá poucas ocorrências da variante não padrão cortadora e nenhuma ocorrência da variante não padrão copiadora. Dentre as variáveis independentes que serão descritas e analisadas ao longo da pesquisa (vide capítulo 02), tem-se como hipótese geral que “a função sintática do articulador da oração relativa” e o “tipo de gênero textual” influenciam na variação das estratégias de relativização.

Quanto ao estudo comparativo dos dados da escrita aos da fala, o estudo lança a hipótese de que o comportamento das estratégias de relativização não será o mesmo nas diferentes modalidades, já que o grande número de ocorrências da variante padrão na escrita deve reduzir drasticamente na modalidade oral, assim como a variante não padrão cortadora, que tem um grande número de ocorrências na fala, deve ter seu uso bem reduzido na escrita. Supõe-se, ainda, que a variante não padrão copiadora, quando

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ocorrer, terá um percentual ínfimo e, com isso, poderá ser caracterizada como uma variante marginal.

Em função do estudo acerca da avaliação do revisor/jornalista do jornal O Globo, o trabalho lança a hipótese de que os juízos de valor que são fundamentados na norma gramatical cerceiam o uso das variantes não padrão cortadora e copiadora e legitimam o uso da variante padrão. Com isso, as variantes constituem, para a modalidade escrita jornalística, formas estereotipadas com valores positivo – variante padrão – e negativo – variantes não padrão cortadora e copiadora.

Para que as hipóteses quanto ao uso e à avaliação das estratégias sejam averiguadas, a pesquisa fundamenta a análise crítica utilizando os pressupostos da Teoria da variação e mudança, de Weinreich, Labov & Herzog (2006 [1968]) e Labov (1972, 2003), aliados às descrições do fenômeno apresentadas em gramáticas diversas (cf. BECHARA, 2005; PERINI, 2007, [1996]; 2013, [2010]; MATEUS et alii, 2003; RAPOSO, 2013) e em estudos linguísticos (cf. MOLLICA, 1977; TARALLO, 1983; CÔRREA, 1998; GOUVÊA, 1999; ABREU, 2013; VALE, 2014, PEREIRA, 2014). A análise desenvolvida no estudo vale-se, sobretudo, de reflexões teóricas relativas aos problemas empíricos da restrição e avaliação (WLH, 2006 [1968]; LABOV, 1972) e pelos pressupostos gerais propostos para o tratamento das regras linguísticas (LABOV, 2003).

A pesquisa adota como procedimentos metodológicos identificar e registrar as variantes linguísticas a partir da coleta em textos escritos do Jornal O Globo; codificá-las e tratá-codificá-las segundo as ferramentas oferecidas pelo Pacote de programas para análise estatística de regras variáveis, Goldvarb-X. Depois, os dados obtidos são comparados com os resultados de pesquisas das estratégias de relativização das modalidades de fala e escrita culta, verificados em Tarallo (1983), Corrêa (1998), Vale (2014) e Pereira (2014). Em seguida, são analisados, ainda, os dados retirados da coluna Autocrítica, a fim de observar como os juízos de valor do revisor/jornalista podem interferir no comportamento das estratégias de relativização na escrita culta jornalística.

Este trabalho justifica-se no sentido de que visa a contribuir para o aumento de informações sobre o fenômeno variável em estudo e sobre as normas linguísticas de uso do PB. Sendo assim, o primeiro capítulo descreverá brevemente as estruturas em questão e o fenômeno das estratégias de relativização; além disso, fará uma revisão bibliográfica considerando manuais gramaticais de diversas orientações e estudos linguísticos sobre o tema. O capítulo dois apresentará os pressupostos da Teoria da

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Variação e mudança e a metodologia de estudo que fundamentaram a pesquisa. O capítulo três apresentará (i) os resultados do tratamento dos dados linguísticos na modalidade escrita, (ii) a comparação desses resultados com os obtidos em outros estudos sobre a escrita e a fala e (iii) a investigação dos juízos de valor acerca das estratégias de relativização manifestos na coluna Autocrítica do Jornal O Globo (antecedido da apresentação de conceitos relativos à construção de normas linguísticas e avaliação dessas normas). Finalmente, a pesquisa se encerra com a conclusão.

(19)

1.

AS

ESTRATÉGIAS

DE

RELATIVIZAÇÃO:

DA

REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA

À

FUNDAMENTAÇÃO

TEÓRICA

Este capítulo tem a finalidade de apresentar uma retrospectiva bibliográfica de obras que abordam o fenômeno variável das estratégias de relativização e fundamentaram a presente investigação. Dividido em quatro seções, a primeira seção apresenta a delimitação teórica do fenômeno linguístico, as seções 1.2 e 1.3 expõem as principais contribuições dos compêndios gramaticais em relação ao comportamento do tema no PB e no PE, respectivamente. A última seção retrata os principais resultados dos estudos linguísticos que abordam o fenômeno variável no PB.

1.1. A oração adjetiva / relativa e as estratégias de relativização: fundamentos básicos para a delimitação do tema

Para delimitar o fenômeno variável em estudo, é necessário apresentar brevemente o que configura, em termos tradicionais, a estrutura que o envolve: a oração subordinada adjetiva (cf. ROCHA LIMA, 2006 [1972]) ou oração relativa (MATEUS et alii, 2003).

Segundo a perspectiva tradicional, “estas orações, que valem por adjetivos, funcionam como adjunto adnominal. Na trama do período, subordinam-se, portanto, a qualquer termo da oração anterior cujo núcleo seja substantivo, ou equivalente de substantivo” (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p. 268).

(04) a) A água é um líquido que não tem cor. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.268) b) A água é um líquido incolor. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.268 – exemplo adaptado)

Em (04a), pode-se notar que a oração em negrito é uma oração subordinada adjetiva, pois está qualificando o substantivo “água”, desempenhando o mesmo papel de um adjetivo. Sintaticamente, a oração em destaque está exercendo a função de adjunto adnominal, uma vez que modifica o conteúdo semântico do substantivo a que está vinculada. Isso pode ser comprovado se compararmos o exemplo (04b) com (04a), pois a oração em negrito pode ser substituída pelo adjetivo “incolor”. O gramático evidencia que as orações subordinadas adjetivas permitem ao falante acrescentar características

(20)

mais complexas ao substantivo modificado – termo antecedente – que quase sempre não dispõe de adjetivos que possam exprimir tais características como é o caso em (05).

(05) Dizei-me, águas mansas do rio, para onde levais essa flor que no vosso espelho caiu? (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.268).

Em relação ao conteúdo, as orações subordinadas adjetivas podem ser classificadas como restritivas ou explicativas. A primeira classificação refere-se às orações subordinadas adjetivas que desempenham o papel sintático-semântico de delimitar, restringir o conteúdo semântico expresso pelo termo antecedente. Em (06a), adiante, a oração em destaque está restringindo a informação expressa pelo termo antecedente que está modificando, ou seja, irão alcançar o perdão de Deus apenas os pecadores que se arrependeram. As orações subordinadas adjetivas restritivas fazem parte do conteúdo semântico do termo antecedente, tanto que desempenham a função sintática de adjunto adnominal.

A segunda classificação refere-se às orações subordinadas adjetivas que exercem o papel sintático-semântico de acrescentar, adicionar, agregar uma informação ao termo antecedente, a fim de lançar um comentário explicativo ao termo a que se liga. Em (06b), a oração em negrito está adicionando uma informação complementar, explicativa ao termo vinculado, isto é, dizer que “Vozes d’África” é um poemeto épico é ressaltar uma característica trivial do substantivo, funcionando, assim, como um comentário explicativo. As orações subordinadas adjetivas explicativas desempenham a função sintática de aposto e não interferem na constituição semântica do termo a que estão ligadas, pois desempenham apenas o papel de realçar uma característica previamente conhecida do termo.

(06) a) Os pecadores que se arrependem alcançam o perdão de Deus. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.271)

b) Vozes d’África, que é um poemeto épico, representa um alto momento da poesia brasileira. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.271)

Em relação ao articulador que as introduz, as orações subordinadas adjetivas podem ser encabeçadas pelos pronomes relativos “que”, “o qual (com suas flexões)”, “quem”, “cujo (com suas flexões)”, “quanto (com suas flexões)” ou pelos advérbios

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relativos “onde”, “quando” e “como”. Esses articuladores contêm características linguísticas muito peculiares, porque, além de realizarem o papel sintático de conector da oração subordinada adjetiva ao termo antecedente, desempenham função sintática na oração que encabeça e possuem o mesmo conteúdo semântico do termo antecedente.

Sendo assim, em (07a - d), serão apresentados exemplos de orações relativas introduzidas pelos pronomes relativos “que” – desempenhando a função sintática de sujeito – (07a), “as quais” – com função sintática de objeto direto – (07b), “quem” – com função sintática de objeto indireto – (07c), e “que” – com função sintática de complemento relativo (07d), segundo o quadro classificatório proposto em Rocha Lima (2006 [1972]).

(07) a) Ele fitava a noite que cobria o cais. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.269) b) As ideias, as quais tanto amavas, já não são tuas companheiras de toda hora? (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.269 – exemplo adaptado)

c) Pálidas crianças a quem ninguém diz: – Anjo, debandai!... (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.270)

d) E as buscas, a que eu procedia, sempre baldadas... (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.270)

Em (08a - c), serão expostos exemplos de orações relativas introduzidas pelos pronomes relativos “que” – desempenhando a função sintática de predicativo do sujeito – (08a), “cujos” – com função sintática de adjunto adnominal – (08b) e “quem” – com função sintática de agente da passiva – (08c).

(08) a) Vai pioneiro e solitário o Arcebispo, como santo e desacompanhado, que ele é, neste mundo vazio... (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.270)

b) As terras de que era dono valiam mais que um ducado. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.270)

c) Bendito e louvado seja Deus, por quem foste criada! (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.270)

Em (09a - d), serão expostos exemplos de orações relativas introduzidas pelos relativos “onde” – desempenhando a função sintática de adjunto adverbial de lugar –

(22)

(09a), “como” – com função sintática de adjunto adverbial de modo – (09b) e “quando” – com função sintática de adjunto adverbial de tempo – (09c).

(09) a) O carro enguiçou em um lugar onde não havia socorro. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.272 – exemplo adaptado)

b) Veja o modo como fala. (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.272 – exemplo adaptado)

c) “E mostrar que o tempo da demagogia política, quando se trocavam votos por tolerância, acabou.” (GOUVÊA, 1999)

Em relação à forma, as orações subordinadas adjetivas, igualmente de acordo com a perspectiva tradicional, podem apresentar-se de forma desenvolvida – a oração é encabeçada por seu articulador e possui seu verbo flexionado – ou reduzida – a oração apresenta-se na forma verbo-nominal de infinitivo, gerúndio e/ou particípio. Em sua forma desenvolvida, a oração subordinada adjetiva pode estar ou não acompanhada pelo termo antecedente. Rocha Lima (2006 [1972]) classifica as orações sem antecedente como orações subordinadas adjetivas condensadas, pois o termo antecedente estaria amalgamado no articulador – pronome relativo condensado. Em (10a), a oração negritada é uma oração subordinada adjetiva condensada, pois, segundo Rocha Lima (2006 [1972]), o pronome relativo condensa em si o termo antecedente. Ao desfazer essa aglutinação do termo antecedente, encontra-se o exemplo (10b).

(10) a) Quem tem boca vai a Roma! (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.272)

b) Aquele que tem boca vai a Roma! (ROCHA LIMA, 2006 [1972], p.272 – exemplo adaptado)

Fundamentando-se em construções do português europeu (PE), Mateus et alii (2003) utiliza os pressupostos teóricos da Gramática Gerativa para nomear as orações em questão, partindo do articulador que as introduz, “relativas” restritivas (ou determinativas) e apositivas (explicativas ou ainda não-restritivas), como em (11a – b), em que há exemplos descritos na própria gramática.

(11) a) A Lisboa queeu prefiro é a Lapa. (MATEUS et alii, 2003, p. 677)

b) Lisboa,que é a capital de Portugal, é uma cidade com uma luz especial. (MATEUS et alii, 2003, p. 677)

(23)

As construções relativas são tratadas pela autora como estruturas derivadas de uma regra de movimento, que origina as orações relativas padrão. Além desta variante, a referida gramática também acrescenta, em seu estudo sobre essas orações, as relativas cortadoras e copiadoras. No que se refere ao tratamento das orações adjetivas sem um antecedente expresso, a que denominam de relativas livres, a obra propõe que são orações “encabeçadas por morfemas-Q, idênticos aos das interrogativas subordinadas (ou interrogativas indiretas), e nalguns casos, aos que se encontram em relativas com antecedente expresso.” (MATEUS et alii, 2003, p. 676). Em (12a – b), há exemplos dessa construção relativa.

(12) a) Convoquei quantos estão escritos. (MATEUS et alii, 2003, p. 676) b) Quem vai ao mar perde o lugar. (MATEUS et alii, 2003, p. 676)

Segundo as autoras, as relativas livres são formadas por estruturas subordinadas que exercem o papel de um constituinte da oração matriz com uma função sintática própria. Em (12a - b), as orações em destaque desempenham, respectivamente, a função sintática de objeto direto e sujeito da oração matriz. Mateus et alii (2003), fazendo uso das estratégias sintáticas de substituição e/ou pronominalização, verifica, em (12’ a - b) a função do constituinte das relativas livres:

(12’) a) Convoquei-os. (MATEUS et alii, 2003, p. 676)

b) Alguém perde o lugar. (MATEUS et alii, 2003, p. 676)

A presente pesquisa dedica-se apenas à forma desenvolvida das orações subordinadas adjetivas com o pronome relativo acompanhado do termo antecedente, uma vez que as variantes linguísticas do fenômeno variável são constituídas por esse tipo de estrutura. Tanto Rocha Lima (2006 [1972]) quanto outros gramáticos que representam a perspectiva tradicional não fazem qualquer referência às estratégias variáveis de relativização do português. Entretanto, diversos estudos linguísticos (cf. próximas seções) apresentam e reconhecem a referida regra variável.

(24)

1.2. As estratégias de relativização em gramáticas do português brasileiro - PB

1.2.1. As estratégias de relativização numa perspectiva tradicional

Observando algumas gramáticas tradicionais do PB acerca das estratégias de relativização, pode-se constatar que a maioria desses compêndios reconhece a variante padrão como única alternativa para se relativizar um termo no português. Os gramáticos Cunha & Cintra (2013 [1985]) – assim como o já citado Rocha Lima (2006 [1972]) – demonstram essa perspectiva. Ao abordarem as características morfossintáticas do pronome relativo, Cunha & Cintra (2013 [1985]) fazem uso somente de orações subordinadas adjetivas formadas pela variante padrão para exemplificar o comportamento linguístico do pronome.

(13) a) Quero ver do alto o horizonte,

Que foge sempre de mim. (O. Mariano, TVP, II, 434. – apud CUNHA & CINTRA, 2013 [1985], p.358)

b) Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta cheia de que tanto se falava. (A. Ribeiro, M, 67. – apud CUNHA & CINTRA, 2013 [1985], p.358)

c) Há pessoas cuja aversão e desprezo honram mais que os seus louvores e amizade. (Marquês de Maricá, M. 223. – apud CUNHA & CINTRA, 2013 [1985], p.359)

Os exemplos em (13) evidenciam a abordagem prescritiva adotada pelos autores, que objetivavam retratar as normas de prestígio do PB, valendo-se, sobretudo, da escrita literária como parâmetro. Dessa forma, os autores, ao descreverem as propriedades morfossintáticas do pronome relativo, fizeram uso de orações subordinadas adjetivas construídas pela variante padrão. É interessante ressaltar que Cunha & Cintra (2013 [1995]) tratam a oração subordinada adjetiva como um assunto complementar à seção de pronome relativo, uma vez que não há um capítulo específico que aborde as propriedades morfossintáticas dessa oração.

Bechara (2005), ao retratar as propriedades morfossintáticas da oração subordinada adjetiva, sinaliza a presença do fenômeno variável em estudo, ao registrar a seguinte observação:

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Frequentes vezes a linguagem coloquial e a popular despem o relativo de qualquer função sintática, tomando-o por simples elemento transpositor oracional. A função que deveria ser exercida pelo relativo vem mais adiante expressa por substantivo ou pronome. A este relativo chamamos universal: “O homem QUE eu falei COM ELE” em vez de “O homem COM QUEM (ou COM QUE) eu falei”. (...) Embora a língua padrão recomende o correto emprego dos relativos, o relativo universal se torna, no falar despreocupado, um “elemento linguístico extremamente prático”. (BECHARA, 2005, p. 492–493)

Pode-se observar que o gramático demonstra reconhecer que a língua portuguesa, em particular a variedade brasileira, possui mais de uma forma de relativizar o termo antecedente da oração principal. O autor atenta, também, para possíveis contextos favorecedores da realização da forma alternante copiadora: linguagem coloquial e popular, ou seja, em contextos de uso pouco monitorado e em normas populares, aquelas que se distanciariam das variedades urbanas de prestígio (cf. FARACO, 2008).

Tendo em vista as características sintático-semânticas do “que”, Bechara (2005) propõe que o articulador, ao encabeçar a forma alternante, “é despido” de sua função sintática na oração subordinada e perde seu caráter correferencial com o termo antecedente, tornando-se um “relativo universal”. Essas propriedades são exercidas, no caso, pelo sintagma preposicionado, que inclui um pronome lembrete. Pode-se concluir que o gramático reconhece a estratégia não padrão copiadora apenas como uma variante marginal do que seria idealizado como norma de prestígio.

A partir da observação do tratamento gramatical tradicional, pode-se constatar que a variante padrão é a única licenciada, como uma variante de prestígio, pela norma gramatical para construir orações subordinadas adjetivas tanto na escrita (cf. Bechara, 2005; Rocha Lima, 2006 [1972]; Cunha & Cintra 2013 [1985]), quanto na fala (cf. Bechara, 2005). Tal posicionamento distancia-se do adotado nas gramáticas de cunho descritivo, uma vez que essas têm a finalidade de apenas registrar o funcionamento da língua e, dessa forma, não possuem qualquer compromisso em prescrever as regras do “bom falar e bom escrever”. Essa perspectiva descritiva da língua acerca das estratégias de relativização será abordada com mais detalhes na seção a seguir.

(26)

1.2.2. As estratégias de relativização numa perspectiva descritiva

Perini (2007[1996]), ao descrever e explicar as características básicas de uma construção relativa, apresenta observações particulares sobre a variante não padrão copiadora. Segundo esse gramático, a comprovação de que o relativo ocupa uma função dentro da oração subordinada estaria na impossibilidade de se acrescentar outro elemento ocupando a mesma função. Nesse sentido, a variante não padrão copiadora, como em “O urso que ele me mordeu era branco” (PERINI, 2007 [1996], p. 152), seria considerada agramatical, pois o articulador exerce funções sintático-semânticas nas construções relativas que encabeça, não precisando, com isso, de um pronome correferente dentro da oração relativa. O autor aplica o mesmo raciocínio a contextos em que outras funções sintáticas são exercidas pelo relativo.

(14) a) O filme que Bebeto fez ganhou a Palma de Ouro. (PERINI, 2007 [1996], p.152)

b) (*) O filme que Bebeto o fez ganhou a Palma de Ouro. (PERINI, 2007 [1996], p. 152)

O exemplo (14) demonstra aquilo que o gramático considera ou não como construção relativa, já que, em (14a), de acordo com Perini (2007 [1996]), “aparentemente, o verbo fazer [está] sem objeto direto”; como esse verbo necessita de um OD, o articulador – pronome relativo “que” – exerce esse papel sintático-semântico, de tal modo que não seria possível acrescentar um OD, como se observa em (14b), o que tornaria esse período agramatical.

Se admitirmos (com a gramática tradicional) que o relativo é o objeto direto da subordinada, esses problemas desaparecerão: a subordinada que Bebeto fez; o verbo fazer aparece aí como OD, o que está de acordo com sua transitividade; e não se pode acrescentar um objeto, porque só pode haver um por oração. (PERINI, 2007 [1996], p.152)

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Dessa maneira, pode-se constatar que Perini (2007 [1996]) considera construções relativas como (14b), portanto, agramaticais, pois há dois SNs competindo pelo papel sintático-semântico do objeto direto. Essa interpretação do gramático não lhe permite reconhecer que a construção relativa copiadora em geral é uma forma alternativa de relativização do termo antecedente, uma vez que o pronome oblíquo “o” – que está fazendo o papel do pronome cópia – não compete, mas assume as propriedades sintático-semânticas do pronome relativo “que”.

É interessante atentar que (14b) não é um bom exemplo para se discorrer acerca da agramaticalidade das orações relativas não padrão copiadora, já que o uso do pronome oblíquo não é tão recorrente no PB (cf. TARALLO, 1983) e a oração relativa copiadora costuma ser formada por um constituinte correferencial ao termo antecedente realizado por um pronome pessoal do caso reto. Assim, (14b) poderia ser interpretado de modo semelhante à análise do autor para (15c).

(15) a) O urso cuja pata eu cortei era branco. (PERINI, 2007 [1996], p. 153)

b) (*) O urso cuja pata dele eu cortei era branco. (PERINI, 2007 [1996], p. 153)

c) O urso que eu cortei a pata dele era branco. (PERINI, 2007 [1996], p. 155)

O exemplo (15), segundo Perini (2007 [1996]), é formado por períodos gramaticais e agramaticais. No exemplo (15a), o articulador “cuja” exerce seu papel sintático-semântico de modificador externo ao encabeçar a construção relativa, sendo, de acordo com o autor, gramatical; no exemplo (15b), Perini (2007 [1996]) afirma que “a razão para se analisar cujo como modificador externo é análoga à que se deu para as demais funções: não é possível acrescentar um modificador ao elemento pata” (PERINI, 2007 [1996], p.153). Sendo assim, (15b) é agramatical, pois as construções relativas não permitem que a posição sintático-semântica do termo relativizado seja preenchida novamente, pois o pronome relativo “cuja” já ocupa tal posição.

Entretanto, o gramático admite que essa particular construção relativa representada em (15a – b) não seria produtiva no PB coloquial, principalmente, na modalidade oral:

(...) no português brasileiro coloquial, a construção relativa tem uma estrutura muito diferente da que foi exposta

(28)

acima e é válida apenas para o padrão. Em particular, a construção com o relativo cujo praticamente desapareceu da língua falada, sendo substituída por uma construção regular do tipo [(15c)]. (PERINI, 2007 [1996], p. 155).

Assim, Perini (2007 [1996]) considera (15c) gramatical, pois é uma estrutura sintática tipicamente produzida por falantes do PB não padrão – e, se é utilizada por falantes do Português, obviamente não se poderia falar em agramaticalidade. Isto porque “a construção com cujo nem sempre é usada com desenvoltura, mesmo quando a intenção é utilizar o português brasileiro; e as intuições de falantes instruídos a respeito dessa construção nem sempre são seguras” (PERINI, 2007 [1996], p. 155).

Em sua Gramática do Português Brasileiro, Perini (2013 [2010]) também desenvolve seu olhar descritivo sobre o fenômeno variável em estudo. Apesar de não usar as nomenclaturas usualmente eleitas pelos estudos linguísticos para abordar o fenômeno, Perini (2013 [2010]) reconhece e identifica três formas de relativizar o termo antecedente. Quando “se [tem] que relativizar um componente de outra forma, por exemplo, um formado de preposição + SN” (PERINI, 2013 [2010], p. 191), o falante realizará a estrutura com o relativo acompanhado da preposição (16), omitindo a preposição (16b) ou ainda com a preposição acompanhada de um pronome pessoal (16c).

(16) a) Aquela modelo por quem meu vizinho ainda chora já mudou de cidade. (PERINI, 2013, [2010], p. 191)

b) Aquela modelo que meu vizinho ainda chora já mudou de cidade. (PERINI, 2013, [2010], p. 191)

c) Aquela modelo que meu vizinho ainda chora por ela já mudou de cidade. (PERINI, 2013, [2010], p. 191)

É interessante frisar que Perini (2013, [2010]), ao tratar a variante não padrão cortadora – vide exemplo (16b) –, atenta para o fato de que tal construção relativa é “certamente a forma preferida, (...) [e] é a mais corrente” (PERINI, 2013[2010], p.192-193) entre os falantes do PB. Esse comentário evidencia a intuição do gramático acerca do comportamento linguístico do fenômeno, visto que afirma que as variantes padrão e não padrão copiadora sejam menos frequentes e, consequentemente, menos preferidas

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pelos falantes do que a variante não padrão cortadora. O autor também ressalta “que essa estrutura ainda está por estudar” (PERINI, 2013[2010], p. 192).

Castilho (2010) observa que as estratégias de relativização estão estreitamente relacionadas ao fator linguístico função sintática e às mudanças do quadro pronominal do português brasileiro. No que se refere à influência da função sintática, o gramático afirma que há uma escala sintática que favorece a relativização do sintagma nominal. Denominada como “hierarquia de acessibilidade dos sintagmas nominais”1 (cf. CASTILHO, 2010), essa escala permite visualizar as estratégias de relativização como um fenômeno que varia gradualmente, em que a função sintática de “sujeito” (caso nominativo) tende a favorecer mais o processo de relativização do sintagma do que a função de objeto direto (caso acusativo); esta função sintática, por sua vez, tende a favorecer mais a relativização do sintagma do que o Objeto indireto (caso dativo), e assim por diante. Veja o Esquema 01, que retrata de forma mais detalhada o processo sintático descrito:

Função Sintática

Sujeito >>> Objeto direto >>> Objeto indireto >>>> funções oblíquas >>>> função genitiva

+ +/- - Acessibilidade dos sintagmas nominais

Esquema 01: Hierarquia de acessibilidade dos sintagmas nominais. (CASTILHO, 2010, p. 366-367)

Um argumento utilizado por Castilho (2010) para sustentar a relação direta entre o fator linguístico “função sintática” com as estratégias de relativização através da “Hierarquia de acessibilidade dos sintagmas nominais” seria a facilidade de processamento informacional contido no sintagma. O falante tem maior facilidade de compreender – e, portanto, relativizar – o conteúdo semântico de um sintagma nominal com função sintática de sujeito, do que um sintagma com função de objeto direto, e assim sucessivamente.

Castilho (2010) também registra uma “harmonia no tratamento dos clíticos e dos pronomes relativos, pois ambos compartilham a propriedade da foricidade” (CASTILHO, 2010, p. 368). Assim, o gramático afirma que o falante que tende a

1

(30)

realizar os clíticos como estratégia anafórica (17a) tenderia a realizar a oração relativa padrão (17b). Caso o falante tenda a realizar anáfora através do processo de elipse do termo (17c), este tenderia a realizar orações relativas cortadoras (17d). Finalmente, o falante que tenda a substituir o clítico pelo pronome acusativo “ele/a” (17e) também tenderia a realizar orações relativas copiadoras (17f).

(17) a) Eu despedi a pessoa e você lhe enviou a carta de demissão. b) Eu despedi a pessoa a quem você enviou a carta de demissão. c) Eu despedi a pessoa e você Ø enviou a carta de demissão. d) Eu despedi a pessoa que você Ø enviou a carta de demissão. e) Eu despedi a pessoa e você enviou para ela a carta de demissão. f) Eu despedi a pessoa que você enviou para ela a carta de demissão.

Castilho (2010) aponta que a reorganização do quadro pronominal dos clíticos no PB vem favorecendo a variação das estratégias de relativização, já que o desaparecimento dos clíticos na variedade do português brasileiro tenderia a condicionar o aumento do uso das variantes não padrão cortadora e copiadora. Isto porque os pronomes relativos estão perdendo suas propriedades morfossintáticas e dêiticas, assim como os clíticos – no caso, a perda foi tão grande que a forma clítica está desaparecendo no uso corrente da língua no PB (cf. TARALLO, 1983).

Os estudos linguísticos retratados na gramática pedagógica de Bagno (2011) também colocam em dúvida as propriedades gramaticais do pronome relativo “que”. O referido autor constatou que a diversidade do quadro pronominal relativo na modalidade oral foi substituída pelo articulador “que”, que passaria a se comportar em algumas sentenças relativas como um simples conector, denominando-o “relativo universal”, conforme fez também Bechara (2005).

(18) eu tenho um conhecimento, aliás, um amigo comum nosso que ele é especialista em comida internacional. (NURC/RJ, apud BAGNO, 2011, p. 900)

A variante não padrão copiadora em (18), de acordo com Bagno (2011), exemplifica a perda das propriedades morfológicas, sintáticas e semânticas do

(31)

articulador “que”, propriedades que seriam assumidas pelo pronome correferencial “ele”. No exemplo (19), a variante não padrão cortadora também é um exemplo da “despronominalização total do “que”, que se aliviou da carga anafórica e, na qualidade de conjunção, deixou de ser um transpositor para se tornar mero conector entre duas orações” (BAGNO, 2011, p. 900).

(19) então, essa é uma citação de Carbonier Ø que eu gosto muito. (NURC/RJ, apud BAGNO, 2011, p. 901).

O estudioso descreve, em sua gramática, resultados de uma pesquisa variacionista sobre estratégias de relativização no corpus NURC – Brasil (Bagno, 2001). Além dos resultados gerais que retratam o uso das variantes em funções oblíquas, apresentou o comportamento do fenômeno em relação às variáveis independentes “tipo de preposição” e “tipo de articulador”. Os dados formados por construções relativas oblíquas constituem-se de 17 (34%) sentenças relativas padrão, de 01 (02%) sentença relativa não padrão copiadora e 32 (64%) de construções não padrão cortadora em um total de 50 (100%) dados. O gramático atenta para o fato de que, na modalidade oral, os falantes cultos produzem muito mais (66%) as variantes não padrão – principalmente a variante cortadora – do que a variante padrão.

Em relação à variável “tipo de preposição”, que foi analisada apenas nos dados da variante cortadora – 32 dados –, Bagno registrou que as preposições que se submeteram ao apagamento foram “a” – 04/32 (12,5%) –, “com” – 02/32 (6,2%) –, “de” – 18/32 (56,2%) e “em” – 08/32 (25%). Os dados revelam que as preposições que tendem a ser mais apagadas são “de” e “em”. A variável “tipo de articulador” foi averiguada em relação aos dados da variante padrão – 17 dados. Evidenciou-se que 11/17 (64%) das construções relativas são encabeçadas por “que”, 05/17 (30%) são encabeçadas por “o/a qual” e 01/17 (06%) por “como”. O advérbio relativo “onde” “ocorreu 17 vezes no corpus, das quais 13 em uso de acordo com o padrão e 04 em desacordo com o padrão, como se verifica abaixo” (BAGNO, 2011, p. 902).

(20) como Japão conseguiu ... é sobreviver a Segunda Grande Guerra onde toda todo seu material bélico foi arrasado? (NURC/RJ apud BAGNO, 2011, p. 901).

O exemplo (20), conforme Bagno (2011) relata, estaria em desacordo com a norma gramatical, porque o articulador “onde” somente deveria ser empregado em sentenças relativas em que o termo antecedente exprimisse valor locativo e o articulador

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em (20) expressa valor temporal. Quanto ao articulador “cujo”, ocorreu apenas um dado em que a sentença continha esse pronome, usado, entretanto, de modo desautorizado pela norma padrão gramatical. Veja no exemplo (21).

(21) esta camada ela .... tá presa a um tecido conjuntivo... ela sai presa a esse tecido conjuntivo... cujo tecido conjuntivo se prende a borda anterior da clavícula... constituindo por isso mesmo... o que se chama de irrigamento suspensor da mama... (NURC/RJ apud BAGNO, 2011, p.902)

Bagno (2011) analisa o emprego do pronome relativo em (21) como um termo responsável em realçar a referência do vocábulo citado anteriormente – “(...) esse tecido conjuntivo... cujo tecido conjuntivo (...)” – equivalendo a um pronome demonstrativo. O autor aproveita para afirmar que o uso do pronome relativo “cujo” na modalidade oral do PB foi extinto e que as sentenças relativas com função sintática genitiva são construídas pelas estratégias não padrão cortadora – (22a) – e copiadora – (22b).

(22) a) um negro americano que eu não me recordo o nome agora... mas foi um dos Ø que mais gostei. (NURC/RJ apud BAGNO, 2011, p.903)

b) tem uma [planta] feito um coqueiro que eu não sei o nome dela é ver:de não não dá flores... (NURC/RJ apud BAGNO, 2011, p.903)

Ao analisar as sentenças relativas com função oblíqua na fala culta do PB, são encontradas as variantes não padrão cortadora e copiadora. O autor demonstrou que a variável “tipo de preposição” favorece a variação do fenômeno. Constatou, ainda, que “o tipo de articulador” é uma variável que influencia pouco na variação do fenômeno, uma vez que o articulador “que” é predominante na construção de sentenças relativas. Partindo desse resultado, Bagno (2011) afirma que, na modalidade oral, houve uma redução do quadro pronominal relativo que lhe permitiu declarar a morte do pronome relativo “cujo”.

Após essa breve apresentação do tratamento dispensado às estratégias de relativização em gramáticas descritivas do PB, pode-se perceber que, dependendo da modalidade linguística, o fenômeno poderá se comportar de forma diferente. Supõe-se que na modalidade escrita haveria maior favorecimento da variante padrão, sendo seguida pela variante não padrão cortadora, e seriam raros os contextos linguísticos que favoreceriam a realização da variante não padrão copiadora. Na modalidade oral, o uso

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das variantes não padrão, em especial a cortadora, seria é praticamente categórico, com poucos contextos comunicativos que viabilizem o uso da variante padrão.

Na seção a seguir, apresenta-se uma revisão bibliográfica do fenômeno nas gramáticas descritivas da variedade europeia, a fim de ilustrar qual é o comportamento das estratégias de relativização também no português europeu (doravante PE).

1.3. As estratégias de relativização em gramáticas do português europeu - PE

Embora o presente estudo verse exclusivamente sobre as estratégias de relativização em dados brasileiros, esta seção tem a finalidade de rever as contribuições de gramáticas europeias, uma vez que há informações conceituais pertinentes ao estudo do tema em geral.

A gramática de Mateus et alii (2003) – de cunho formalista –, que visa a descrever o português europeu, apresenta apropriadamente o fenômeno variável. Baseada em estudos linguísticos (cf. TARALLO (1983), PÉRES E MÓIA (1985)), a gramática apresenta as três estratégias para construir uma oração relativa finita com antecedente expresso2: estratégia padrão (23a), estratégia cortadora (23b) e estratégia copiadora (23c).

(23) a) Está ali o homem cujo nome perguntaste.” (MATEUS et alii, 2003, p. 664) b) “O livro que te falei é o mais bonito.” (MATEUS et alii, 2003, p. 667)

c) “Temos lá, no meu ano, rapazes que eles parecem atrasados mentais, quer dizer...” (MATEUS et alii, 2003, p. 667)

Apresenta-se em (23a) uma oração relativa padrão, porque a construção respeita as exigências sintáticas dos termos da oração encaixada. A oração destacada em (23b) é uma oração relativa cortadora, pois – de acordo com Mateus et alii (2003) – o articulador está desacompanhado da preposição regida pelo predicador verbal. Em (23c), a oração em negrito é uma oração relativa copiadora, visto que possui um pronome (eles) correferente ao termo antecedente.

2 Mateus et alii (2003) denomina de “oração relativa finita com antecedente expresso” a oração

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Quando retratam os aspectos sintáticos das variantes linguísticas, evidenciam que a variante padrão é mais produtiva e se caracteriza por se iniciar “por constituintes relativos de diversas naturezas categóricas, correspondentes a um vazio no interior da relativa – é a estratégia de movimento [...]” (MATEUS et alii, 2003, p. 666) – exemplo (24a). Bastante comum na fala não monitorada, a variante não padrão cortadora se caracteriza por não ter o relativo acompanhado por preposição, quando desempenha funções oblíquas ao introduzir a sentença relativa – exemplo (24b), enquanto a não padrão resumptiva (copiadora) é caracterizada por apresentar um pronome resumptivo na posição que o sintagma relativizado deixou vazia – exemplo (24c).

(24) a) Vê-se o mar da casa onde vivemos. (MATEUS et alii, 2003, p. 664) b) “[...] é uma arte que eu dou muito valor.” (MATEUS et alii, 2003, p.667) c) “[...] temos aí mulheres a trabalhar as máquinas que acho que essas devem receber mais do que aquelas.” (MATEUS et alii, 2003, p.667)

Mateus et alii (2003), com base em aporte gerativista, sinalizam que as variantes não padrão são formadas de modo diferente da variante padrão:

Nestes dois tipos de relativas, os mecanismos sintácticos acima descritos não operam da mesma maneira. Em [(24b)] é discutível haver movimento de que, já que tal morfema não respeita as restrições de selecção do verbo da oração relativa; o que parece é haver um operador nulo em Esp de SCOMP e o que ser uma forma de marcar a subordinação (talvez a mesma forma do complementador que). Quanto à [(24c)], também parece não chegar a haver movimento, já que é projectado um pronome ou equivalente na posição argumental correspondente, sendo o que também a mesma forma do complementador (...). (MATEUS et alii, 2003, p.667)

Mateus et alii (2003) finalizam suas considerações sobre a regra variável em questão apontando que as variantes não padrão cortadora e copiadora são consideradas marginais numa perspectiva mais conservadora. Entretanto, a variante não padrão cortadora está cada vez mais produtiva na fala dos portugueses altamente escolarizados,

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permitindo hipotetizar que as estratégias de relativização estejam sinalizando “uma tendência de mudança, mesmo no português europeu” (MATEUS et alii, 2003, p. 667). Retratando de forma mais detalhada as peculiaridades das variantes não padrão cortadora e copiadora no português europeu, Raposo et alii (2013) reafirmam que a norma padrão considera essas variantes marginais, apesar de diversos estudos linguísticos atestarem a imensa produtividade dessas construções “por falantes de diferentes grupos sociais, com variados graus de escolarização. Ocorrendo sobretudo na oralidade, em registros informais, é também possível encontrá-las em textos jornalísticos ou mesmo literários.” (RAPOSO et alii, 2013). Isso sinaliza que, no PE, as estratégias de relativização constituem um fenômeno que ocorreria, com maior ou menor produtividade, em ambas as modalidades linguísticas.

As orações relativas com estratégia cortadora são muito recorrentes, segundo o autor, quando o item relativizado tem um valor temporal ou locativo (25a–b); desempenha uma função sintática de complemento oblíquo introduzido por preposições com valor gramatical – por exemplo, preposições “de” e “a” – e selecionado por predicadores verbais como “gostar”, “precisar” e “falar” (25c – e). Os gramáticos também registraram que a função sintática de objeto indireto (25f), a de complemento oblíquo (25g), a de complemento nominal (25h) e a de adjunto adnominal (25i) também condicionam a realização da variante não padrão cortadora.

(25) a) Não havia dia nenhum que não saísse cataplanas. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2128)

b) Porque, cada sítio que nós íamos, “e na são os portugueses”. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2128)

c) Porque há coisas na cultura americana que eu realmente não gosto. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

d) Nós temos obrigação e nós vamos ter os serviços que o cliente precisa. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

e) Os adolescentes não progridem através destas diferentes etapas de envolvimento que eu falei, separadamente. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

f) Nós estávamos com uns portugueses que vir a Lisboa ao fim-de-semana não dá muito jeito. (RAPOSO ET ALII, 2013, p. 2129)

g) Continente é a marca que os portugueses mais confiam na sua categoria. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

(36)

h) Iam-nos levar ao, ao sítio que nós andávamos à procura. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

i) Eles tinham dois tipos de rum. Tinham um rum normal, que agora não me lembro do nome da marca. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2129)

Raposo et alii (2013) registram que as peculiaridades semânticas tanto da construção relativa, quanto do termo antecedente não interferem na realização da variante não padrão cortadora. Sendo assim, não importa se a construção relativa em si exprime um valor semântico restritivo ou apositivo, como também não importa se o termo antecedente contenha uma referência semântica definida ou indefinida, pois esses aspectos semânticos não influenciam na seleção e, portanto, na realização da variante não padrão cortadora pelo falante.

Em relação à variante não padrão copiadora, os estudiosos identificaram alguns contextos linguísticos que condicionam o uso dessa variante. Dentre eles, citam que as funções sintáticas de sujeito e de objeto direto (26a – b), que o fato de o termo antecedente ser formado por um SN complexo (26c) e que o uso das orações relativas interligadas pelo processo de coordenação (26d) favorecem a realização da variante não padrão resumptiva.

(26) a) E é um percurso dela que é engraçado, porque é uma fulana que ela não, não consegue ficar muito tempo no mesmo sítio. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2130)

b) Madalena até vem, vem numa oração popular, muito engraçada – ah, já, já não me lembro – que eu copiei-a para uma filha de uma amiga minha. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2130)

c) A um antigo patrão meu que eu estive quase para lhe dar uma pêra no focinho. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

d) Porque isso são ordens que eu tenho e que não posso fugir a elas. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

Ao observar os contextos semânticos, Raposo et alii (2013) apontam que o caráter genérico e indeterminado do termo antecedente condicionam o uso da variante não padrão (26a – d). Além disso, o termo antecedente que contém

(37)

um valor real (e não virtual) (...) favorece estratégia de pronome retoma3, pois esta estratégia nunca é utilizada em sintagmas nominais com valor virtual, com o verbo da oração relativa no modo conjuntivo (RAPOSO et alii, 2013, p. 2131).

Os gramáticos observaram que esta variante é muito frequente para a constituição de sintagmas nominais complexos que são selecionados como argumentos dos verbos “haver”, “ser” ou “ter”. Além do articulador “que”, é possível encontrar orações relativas com estratégia de pronome “retoma” introduzidas pelo pronome relativo “onde” acompanhado pelo advérbio locativo “lá” (27b). O pronome retoma dessa variante pode ser realizado por “pronomes pessoais, demonstrativos, advérbios locativos, quantificador pronominal neutro ou mesmo um sintagma nominal completo” (RAPOSO et alii, 2013, p. 2132) – (26a – d e 27a – d).

(27) a) Eles tinham umas 200 ou 300 cabeças de gado que ninguém as ia levar nem ninguém as ia buscar ao pasto.(RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

b) Vimos água no fundo do poço onde lá há instalação eléctrica também.(RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

c) E depois houve pessoal que foi tudo assim aos bolsos dos casacos. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

d) Fiquei num hotel em Veneza que já metade da empresa ficou naquele hotel. (RAPOSO et alii, 2013, p. 2132)

Em síntese, as gramáticas portuguesas apontaram que as estratégias de relativização são encontradas tanto na modalidade oral, quanto na modalidade escrita do PE. Ressaltam que a variante não padrão cortadora – na fala culta do PE – é mais frequente do que a variante não padrão resumptiva – constatação semelhante à relativa à variedade brasileira. Apesar de ser produtiva no falar cotidiano português, as variantes não padrão também são rejeitadas, ao que tudo indica, pelas normas de prestígio europeias.

Na seção a seguir, o trabalho revisa os principais resultados de pesquisas linguísticas sobre as estratégias de relativização no PB.

3 Pronome Retoma é sinônimo de pronome lembrete da oração relativa copiadora. (cf. RAPOSO et alii,

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