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Resenha do Suspiro dos Oprimidos. de Rubem Alves

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Academic year: 2021

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Resenha do “Suspiro dos Oprimidos”

de Rubem Alves

As ciências do comportamento humano consideram a religião como fator alienante para onde o homem se volta buscando aplacar seu medo e como apoio a sua eterna insegurança. Tal era a idéia de Marx ao definir a religião como “ópio do povo”. Freud já a definia como “uma ilusão criada pela mente neurótica”. Enfm, chegaram por caminhos diferentes à mesma conclusão: a de que o fenômeno religioso é uma forma d eenfermidade.

Assim, investido da autoridade que seus nomes representam, através de um discurso forte, convergem a um ponto comum que persuade os homens a aceitarem seus argumentos como corretos. O que não se percebe é que esta convergência não nasce do nada para uma conclusão, ou seja, ela já possui um ponto de partida inserido no inconsciente coletivo tecnológico ou metafísica do inconsciente, como define Rubem Alves. A pesquisa, partindo de uma hipótese conhecida pelo inconsciente é direcionada pelos dados e conceitos escolhidos que, inevitavelmente, vão levar a uma conclusão esperada e já previamente formulada na hipótese. O autor explica que essa metafísica teve seu conteúdo ideológico formado no Iluminismo e daí expandiu-se e infiltrou-se no inconsciente coletivo.

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Partindo do pressuposto de que “conhecer é reduplicar”, acreditou-se que o pensamento apreendia de fato o que captava através da atividade sensível. Dessa forma, os sentidos foram promovidos a captadores da verdade e a meios confiáveis de verificação de dados empíricos. Mas, se cada homem possui sua singularidade na apreensão e compreensão dos objetos e a

ciência só trabalha com dados, como definir os parâmetros dessa apreensão? Quem saiu em

socorro da ciência foi Freud, afirmando que o comportamento seria considerado normal se não

fosse baseado em valores, mas sim ajustados totalmente aos processos que se apresentam. Em outras palavras, foram elaborados padrões de normalidade psicossociais para se estabelecer e normatizar a apreensão da realidade pelos sentidos.

Um terceiro ponto de pressuposição da metafísica do inconsciente é que ela coloca o homem em uma posição irrelevante diante das forças que movem a história, importando apenas “o que é e o que o homem se verá obrigado a fazer como decorrência dessa realidade”, como ensinava Marx. Assim, o homem para Marx se tornava um agente alienado da própria corrente histórico-filosófica, uma vez que ele se “verá obrigado” a empreender uma ação, mesmo sem ter consciência de como ela foi incentivada nele. Dentro da concepção materialista marxista, é a estrutura material que explica a consciência e não o inverso, como esclarece o autor. Alguns pensadores apresentaram seus argumentos: Peter Blau explicou que as organizações e sistema econômicos

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independem das pessoas que as fundaram ou que fazem parte dela e Althusser afirmou que o mundo humano só pode ser conhecido se o homem for extraído do seu estudo.

Dentro das ciências do homem, a psicologia também não ficou fora desse processo de convergência, o que bem demonstra a Teoria Comportamental ou Behaviorismo de Skinner. Para esta linha de estudo, o comportamento do homem é determina pelos estímulos que recebe, algo como o princípio de ação e reação de Newton. Tudo bem científico, positivista. Isso significa que o homem não tem controle de si mesmo e seu comportamento é condicionado aos determinismos materiais (sempre material!) em que ele se encontra preso. Não é o homem que faz a sua própria história.

A imaginação também é pressuposta como uma patologia, como bem demonstrou Freud em seus escritos sobre a neurose e Marx ao atacar os socialistas utópicos. A imaginação em nada alteraria a realidade do homem, uma vez que ela não seria capaz de reduplicar os dados objetivos.

Diante da incapacidade do homem de participar e influir no contexto histórico-social e do fato da imaginação ser uma patologia, o autor propõe que a única conclusão possível na metafísica do inconsciente é a de que a religião também é uma enfermidade. Ele explica que a religião e a imaginação estão intrínsecas entre si, principalmente porque a religião não é epistemológica e tenta sistematizar seus dados, ou seja, ela trabalha com a imaginação, conforme salientou Feuerbach.

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Rubem Alves não responsabiliza somente os cientistas, mas também os profissionais da religião que, cedendo ao cientificismo, tentaram desmitologizar o evangelho, esquecendo-se de que “as evidências científicas se assentavam sobre uma mitologia inconsciente acerca da estrutura da realidade”. Salienta ainda que a teologia da secularização aceitou a irrelevância da imaginação e com isso, o fim da era da religião.

Ao contrário do que previa a metafísica do inconsciente de nossa época, o pensamento objetivo não suplantou a imaginação. Pelo contrário, houve uma reação denominada contra-cultura que rejeitou o pensamento teórico, os padrões de produção e consumo, enfim, a consciência que se julgava sufocada e refém das estruturas sociais se viu sem a segurança prometida pela ciência, que não conseguiu o objetivo de substituir a religião. Os deuses da religião foram substituídos pelos heróis cientificistas, que sucumbiram à própria arrogância. Diante do caos que se tornou esse mundo coletivo, a alternativa do homem foi buscar apoio no seu mundo doméstico, onde teria algum controle. Mas nem ai ele está seguro, pois como preservar seu microcosmo pessoal em um macrocosmo cosmopolita? A solução é se voltar aos deuses substituídos pelos heróis fracassados.

Afinal, a religião é uma forma de alienação ao se basear na imaginação? A ciência mesmo dá a resposta ao assumir que os sonhos são uma manifestação simbólica do real que, através da imaginação expressam realidades inconscientes. Ora, se a religião

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tratada como enfermidade. O que ocorre é que a ciência, apesar de admitir o conteúdo real do sonho ainda não o incorporou em suas maneiras de investigar a realidade, como explica o autor, que conclui que “a era que descobriu o inconsciente é mais inconsciente dele do que qualquer outra”.

O homem reage ao seu mundo com emoção, não consegue contempla-lo com uma atitude desinteressada. Trata-se de uma reação visceral muito antes de ser refletiva e passível de verbalização, que necessita de símbolos para representar para si mesma essa “vivência inconsciente”, que não pode ser expressada pela lógica sujeito-objeto. E é a religião que, através dos seus símbolos oferece a possibilidade ao homem de apreender o mundo em que vive e preservar seus valores num espaço interior à sua imaginação, num mundo utópico.

O marxismo dentro de sua visão materialista da sociedade, previa que se esta fosse justa, a religião desapareceria. Esta foi a sua utopia, que foi solapada pela sua própria impossibilidade; Marx foi vítima do que ele mesmo execrava. A religião, tendo como aliada a imaginação e sua hermenêutica dos símbolos, oferece ao homem o que a mente cientificista não pode por não poder especificar: a esperança. É por isso que a religião sempre estará presente, como afirmou Durkheim. Enfim, é a religião que tem a capacidade de oferecer uma “crítica do real”, coisa que a ciência, como afirma Rubem Alves, não tem condições por ser prisioneira de sua própria metafísica.

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