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DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO NAS ESCOLAS: UM ESTUDO COM DOCENTES E DISCENTES

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Academic year: 2021

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DIVERSIDADE SEXUAL E DE GÊNERO NAS ESCOLAS: UM ESTUDO COM DOCENTES E DISCENTES

Gabriela Pereira Bernardo (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Rayane Brugnolle (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil); Daniele de Andrade Ferrazza (Departamento de Psicologia, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR, Brasil).

contato: bern.gabriela@gmail.com brugnollerayane@gmail.com

Palavras-chave:​ Gênero. Diversidade. Sexualidade

Atualmente ainda encontramos muitas barreiras ao lidar com as questões de gênero e sexualidade dentro da escola, desde o Ensino Básico até o Ensino Médio, e diversos são os casos de estudantes e professores que relatam como a questão da diversidade sexual está permeada por discriminações e preconceitos. Devido a importância da escola para a produção do saber e da socialização de crianças e adolescentes, considera-se a necessidade de se promover a discussão tanto da homofobia quanto da diversidade sexual, a fim de contribuir para o reconhecimento e a desconstrução de preconceitos. Na manutenção do silêncio, nega-se a existência das pluralidades sexuais e de gênero e se reafirma o discurso naturalizante e biologizante do sexo. Assim, considera-se que na educação formal deve se buscar mecanismos para que se produza igualdades.

Dessa forma, o presente projeto de pesquisa teve como objetivo investigar como são trabalhados e debatidos assuntos sobre gênero e sexualidade no âmbito de uma instituição escolar de Ensino Médio localizada no norte do Paraná. Mais especificamente, pretendeu-se: (1) analisar o material didático utilizado como base para as discussões sobre a noção de gênero e sexualidade na rede pública de educação; (2) analisar, por meio da observação participante, o ambiente educacional, os discursos e práticas relacionadas ao tema sobre gênero e sexualidade; (3) além de averiguar, por meio de entrevistas semiestruturadas com docentes e discentes de uma instituição educacional, a forma como são apresentadas e debatidas em sala de aula a temática de gênero e sexualidade.

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Para a realização da pesquisa qualitativa do tipo exploratória, dividimos o estudo em três momentos. Primeiramente, foram analisados materiais didáticos e livros específicos que tratam sobre a noção de gênero e diversidade sexual nas escolas públicas do Ensino Médio. Em um segundo momento, após aprovação do projeto no Comitê de Ética em Pesquisa da UEM, foram realizadas visitas e observações participantes no ambiente escolar e que foram registradas em um diário de campo. No terceiro momento, ocorreram as entrevistas semiestruturadas com docentes e discentes, a fim de verificar como é explorada a temática de gênero no âmbito das políticas educacionais. As entrevistas, gravadas e transcritas, assim como o material registrado no diário de campo, foram interpretados por meio da análise de conteúdo temática (Bardin, 1977) e que foi dividida em cinco passos: preparação das informações, transformação dos conteúdos em unidades, classificação das unidades em categorias, descrição e interpretação. Dessa forma, a partir da análise das entrevistas, elaboramos quatro eixos temáticos de análise: “Violência de gênero e machismo”, “Gênero e sexualidade”, “Bullying e homofobia” e “Postura da escola”.

No eixo “Violência de gênero e machismo” foi possível observar que o patriarcado, juntamente ao machismo, dá caminhos e sustentabilidade para consolidar e reforçar esses comportamentos, induzindo relações violentas (físicas e psicológicas) entre os sexos. Na perspectiva do patriarcado os homens detêm o poder para punir o que lhes apresenta como anormal ou até um desvio daquilo previsto socialmente, como por exemplo, o empoderamento feminino, que é alvo de fortes críticas do público masculino (SAFIOTTI, 2001). O livro didático analisado mostra que o patriarcado é quando há

(...) uma forma de organização social na qual mulheres são hierarquicamente subordinadas aos homens e os jovens são submetidos aos mais velhos. A sociedade patriarcal valoriza as atividades culturalmente convencionadas como masculina a ponto de determinar papéis sociais e sexuais nos quais o masculino tem vantagens e privilégios; simultaneamente institui o controle da sexualidade, do corpo e da autonomia feminina. (SILVA, et al, 2013, p. 314).

No âmbito da escola, o machismo, fortemente diluído no cotidiano, é constantemente reproduzido tanto por seus discentes quanto por seus docentes. Uma vez que se pergunta no que consiste o machismo e o feminismo, um dos alunos entrevistados ressalta a importância do

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feminismo, porém coloca-o como o oposto do movimento chamado machismo: “ ​há várias

pessoas falando que o feminismo é isso ou aquilo, eu acredito que é só a luta pelo o que elas

querem, no caso melhorar a qualidade de vida delas. É basicamente o oposto do machismo, mas

não pretende alcançar o mesmo objetivo”.​ (ESTUDANTE ENTREVISTADO)

No segundo eixo “Gênero e sexualidade” podemos considerar que os autores do livro didático analisado apresentam as diferenças biológicas existentes no corpo (macho/fêmea), e discutem como essas diferenças foram sendo produzidas e fomentadas pelas forças de poder, naturalizando corpos que estão biologicamente distintos, e já impondo e determinando papéis sociais dos corpos sexuados que afirmaram, historicamente, serem permeados por relações desiguais baseadas nas diferenças anatômica desses corpos marcados por sua biologização. Nessa perspectiva, em vistas de problematizar os determinismos biológicos que Scott (1995), coloca o gênero como uma categoria de análise, propondo estudar primeiramente as relações de poder/dominação independente de sexo. Baseada nas reflexões de Michel Foucault, a autora vê o poder como uma rede de relações que está em constante movimento. Portanto, gênero é a forma como se debate os processos da história humana, com suas diferenças sociais e como isso foi delineado pelas forças dos poderes dominantes que se legitimaram pelas instituições de controle, como a escola por exemplo. Nas colocações dos entrevistados há tentativas de se tecer considerações e definições sobre as problemáticas e implicações das noções de gênero e sexualidade. No entanto, as respostas incertas nos levam a questionar se aquele ainda é um assunto velado pela escola, e transmitido aos alunos com certa dificuldade.

No terceiro eixo “Bullying e homofobia” consideramos que o termo homofobia, segundo Junqueira (2009), é usado em referência a conjuntos de ações e reações negativas, tais como aversão, desprezo, ódio, desconfiança, desconforto ou medo em relação aos homossexuais. A homofobia pode ser considerada como produto de uma sociedade patriarcal e heteronormativa, na qual os sujeitos desviantes da normalidade heterossexual são considerados doentes mentais (LIONÇO; DINIZ, 2009). Ao questionarmos os(as) entrevistados(as) se já haviam vivenciado ou presenciado uma situação de bullying ou discriminação de gênero, podemos visualizar como

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estes fenômenos aparecem na fala de um(a) discente do Ensino Médio da Rede Pública: “ ​Os

meninos lá da escola eles se acham superiores, aí eles ficam fazendo comentários do tipo “ah

tem que lavar a louça mesmo”. ​(ESTUDANTE ENTREVISTADA). Os entrevistados também

relatam atitudes homofóbicas que sempre foram pouco trabalhadas na escola: ​“Tinha um amigo

que estudava aqui e existia muito preconceito com ele. [...] qualquer motivo, se ele chegasse

perto de você pra conversar já era motivo de piadinha. Se ele conversasse com qualquer pessoa

“ah ele ta querendo ficar com aquele garoto”.

E, finalmente, no quarto eixo “Postura da escola” observamos que a escola é um ambiente fundamental para a socialização e desenvolvimento do indivíduo. Para Palacios (1995), a escola, juntamente com a família, pode ser compreendida como a instituição social que tem maiores repercussões para o indivíduo. A escola não só intervém na transmissão do saber científico organizado culturalmente, como também, influencia todos os aspectos relativos aos processos de individuação e socialização da criança. Para Miskolci (2014), a escola e as práticas nela realizadas podem “quebrar o silêncio” sobre relações de gênero e sexualidades. Professores(as) podem abordar aspectos inerentes à sexualidade e questões de gênero a partir de situações do cotidiano, de assuntos expostos na mídia, a partir de discussões de um filme ou da leitura de um romance, de uma matéria jornalística, de uma campanha publicitária. Contudo, como comenta a docente entrevistada:

​Eu realmente acho que é bem possível transformar as questões a partir da educação, a partir do acesso[...] Acho que deveria ser papel da escola pensar exatamente estratégias para romper com essas coisas, pois como a escola é um dos principais ambientes de socialização, é o segundo mais importante, fica a cargo dela muita coisa na educação e na construção dos indivíduos, então, é fundamental. Então,

acho que tem pouca palestra, pouca exigência do Estado com relação às discussões

sobre essas questões de gênero. E a gente está sempre em uma disputa ideológica, e acaba que as pessoas reproduzem, inclusive os profissionais da educação, tudo isso. (DOCENTE ENTREVISTADA).

A partir da realização desta pesquisa, percebemos que apesar do tema gênero e

sexualidade estar presente nos currículos escolares como tema transversal, ainda há uma prática baseada no biologicismo e na heteronormatividade. São poucos os docentes que realizam suas práticas apoiados nas diretrizes escolares e, assim, nota-se a necessidade de haver uma formação específica e continuada acerca dos temas atuais de discussão. Além disso, os livros distribuídos

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pelo Ministério da Educação tratam superficialmente das temáticas relacionadas às diversidades sexuais, o que por sua vez pode repercutir concepções de naturalização da heterossexualidade.

Sendo assim, ao se tratar de gênero e sexualidade nas escolas, deve-se levar em consideração a necessidade de se fazer um diálogo crítico, visando desconstruir a ideia de que só as heteronormatividades são legítimas e dignas de respeito, e com isso desarticulando a ideia que sexo é a mesma coisa que gênero. Se a escola é para todos e todas, é necessário o trabalho e a promoção de discussões e debates sobre os aspectos que envolvem a diversidade sexual e as homofobias para que com isso seja possível constituir ações e práticas que se distanciam das exclusões e discriminações. Dessa forma, a presente pesquisa pretendeu contribuir com discussões sobre o processo relacionado aos estudos de gênero e a influência da educação nesse fenômeno e, assim, proporcionar reflexões sobre possibilidades de estratégias que visem superar os preconceitos que se ramificaram nos espaços educacionais públicos brasileiros, já que parecem pouco atentos ao tema da diversidade sexual.

Referências

Bardin, L. (1977). ​Análise de conteúdo.​ Lisboa: Edições 70.

Foucault, M. (1988). ​ História da sexualidade 1: ​a vontade de saber. Rio de Janeiro; Graal. Juqueira, R. D. (2009). ​Diversidade Sexual na Educação: ​problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO.

Lionço, T; Diniz, D. (2009) ​Homofobia & Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: LetrasLivres : EdUnB.

Miskolci, R. (2014). Sexualidade e orientação sexual. In: ​Marcas da diferença no ensino escolar. São Carlos: EdUFSCar.

Palacios, J. (1995). ​Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia evolutiva. Porto Alegre:

Artes Médicas.

Saffioti, H. I.B. (2001). Contribuições feministas para o estudo da violência de gênero.

Cadernos pagu (16) 2001: pp.115-136. São Paulo.

Silva, et al. (2013). ​Sociologia em movimento.​ 1 ed. São Paulo: Moderna.

Scott, J. (1995) ​Gênero​: ​uma categoria útil para análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.16, n. 2, jul./dez.

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