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Huber RIZZO; Rodolfo Santos ROSSI; Enoch Brandão de Souza MEIRA JUNIOR; Natalia de Paula RAMALHO; Bruno Leonardo Mendonça RIBEIRO; Lilian GREGORY*

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Ciência Animal 23(2): 58-76, 2013

USO DO ULTRASSOM EM BOVINOS COM ENFERMIDADES GÁSTRICAS (Ultrasound of Bovines Gastric Disorders)

Huber RIZZO; Rodolfo Santos ROSSI; Enoch Brandão de Souza MEIRA JUNIOR; Natalia de Paula RAMALHO; Bruno Leonardo Mendonça RIBEIRO; Lilian GREGORY*

Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo RESUMO

Esta revisão bibliográfica tem como objetivo apresentar um levantamento sobre o uso da ultrassonografia em enfermidades gastrointestinais de bovinos. A utilização da ultrassonografia apresenta grande aplicabilidade na clínica veterinária, sendo uma boa técnica no auxílio do diagnóstico das enfermidades gastricas mais comuns dos bovinos, destacando-se a retículo-peritonite traumática e deslocamento do abomaso à esquerda e à direita. A ultrassonografia é uma técnica eficiente para avaliar diversos aspectos morfológicos e funcionais relacionados com o trato gastrointestinal dos bovinos, por exemplo tamanho, posição, conteúdo, presença de corpos estranhos, presença de líquido inflamatório, abscessos, motilidade.

Palavras-chave: Ultrassonografia, sistema digestório, reticulites-traumáticas, deslocamento de abomaso.

ABSTRACT

This study aimed to review the use of ultrasound on the diagnosis and evaluation of gastric disorders on bovine. Ultrasound examinations present huge applicability on veterinary clinical sciences, assisting on the diagnosis of the most common bovine gastric disorders, such as traumatic reticuloperitonitis and left and right displaced abomasum. Ultrasound examinations are efficient techniques in order to evaluate multiples morphologic and functional aspects of the gastrointestinal tract (e.g., size, position, content, foreign bodies, inflammatory liquids, abscesses, motility).

Keywords: Ultrasonography, digestive system, disease, reticuloperitonitis, abomasal displacement.

INTRODUÇÃO

A ultrassonografia pode ser utilizada como um método complementar no diagnóstico das enfermidades gástricas mais comuns nos bovinos, como a retículo-peritonite traumática, abscesso reticular, deslocamento do abomaso à esquerda e a direita. No exame ultrassonográfico não há necessidade da sedação do animal, sendo executado com o mesmo em estação.

________________________

*Endereço para correspondência: E-mail: lgregory@usp.br

A utilização da ecografia em bovinos iniciou-se no contexto da avaliação do aparelho reprodutivo na década de 70. É recente a sua utilização como exame complementar na avaliação clínica ou cirúrgica de bovinos. As escassas e recentes publicações nesta área demonstram que este método não invasivo é eficiente, rápido e direto e evita a utilização de procedimentos invasivos mais onerosos e trabalhososcomo a laparotomia exploratória (Buczinski, 2009). A utilização deste meio diagnóstico é relativamente fácil e vantajoso pois a maior parte das afecções dos bovinos podem ser diagnosticadas ao exame

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ecográfico devido a modificações do formato e da função dos órgãos (Buczinski, 2009). O princípio da ecografia está baseado na física da reverberação e absorção de ondas acústicas de mais de 20.000 Hz. Os tecidos possuem diferentes caracteríscias acústicas dependendo da sua estrutura, o que caracteriza o grau de impendância acústica que é a sua potência ou não de permitir a passagem das ondas de ultrassom(R.

Nas sondas ecográficas são obtidas as imagens. Eles possuem cristais piezo-elétricos que emitem e captam as ondas do ultrassom. Pode-se utilizar um transdutor linear de 3.5 MHz com capacidade de alcance de aproximadamente 17,5 centímetros ou ainda um transdutor de 2,5 MHz que pode ser utilizado para analisar estruturas que se encontrem a mais de 20 centímetros da parede abdominal, porém esta última possui uma resolução de menor qualidade, pode-se usar ainda transdutores de 5.0, 7,5 ou até mesmo 10,0 MHz, no entanto deve-se

lembrar que a profundidade de penetração das ondas sonoras e a resolução da imagem gerada estão inversamente relacionadas, ou seja uma baixa freqüência é associada com maior penetração porém com uma resolução mais baixa e vice e versa. É necessário que se realize tricotomia e aplicação de gel na região a ser investigada para uma melhor transmissão das ondas ultrassonográficas.7 Exame Ultrassonográfico de Retículo Para realizar a ultrassonografia do retículo o transdutor deve ser posicionado na região ventral do tórax. Deve-se pesquisar todos os campos na altura entre o 5° e o 7° espaços intercostais no lado esquerdo e direito como também na região lateral do tórax até a região da articulação úmero-radio-ulnar. O exame do retículo é iniciado pelo lado esquerdo e em seguida o lado direito (Fig. 1).6

A imagem de um retículo normal é semelhante a de uma meia lua com contorno plano (Fig. 2).6

Figura 1: Exame ultrassonográfico da

região paramediana esquerda do reticulo: (1) Retículo, (2) Saco cego craniodorsal do rúmen, (3) Saco ventral do rúmen, (4) Diafragma.6

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Figura 2: Ultrassonografia de retículo

normal, visão ventral esquerda do tórax: (1) Parede abdominal ventral, (2) Veia do músculo frênico, (3) Retículo.6

A parede do retículo é hiperecogênica, o seu conteúdo não pode ser observado por ser este órgão repleto de ar, a veia do músculo frênico pode ser visualizada entre a parede abdominal ventral e o diafragma e retículo12 (Fig. 2). A ultrassonografia permite a visualização da função do retículo. Este realiza contrações com intervalos regulares e quando relaxado o órgão se encontra situado na porção ventral da parede abdominal adjacente ao diafragma. As diferentes camadas da parede reticular geralmente não podem ser visualizadas e a

estrutura interna da mucosa em forma de favo pode não ser vista claramente, devido à presença de gases em seu interior. A presença de gás também pode impedir a visualização de corpos estranhos e de imãs utilizados para prevenção de reticulo-peritonite traumática. A técnica de eleição para detectar esses objetos radiodensos no interior do rúmen é a radiografia, enquanto a ultrassonografia é capaz de identificar depósitos de fibrina ou abscessos (Fig. 3 e 4).2

Figura 3: Ultrassonografia da região do retículo

com presença de abscesso reticular: (1) Parede abdominal, (2) Veia do músculo frênico, (3) Diafragma, (4) Massa com centro anaecóico e cápsula ecogênica, (5) Depósito de material ecogênico na serosa reticular, (6) Parede reticular, (7) Parede do saco cego dorsal do rúmen.2

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Figura 4: Radiografia da região ventral do tórax: (1) Retículo (2) Costelas, (3) Diafragma, (4)

Esterno, (5) Pregos, (6) Gás e líquido, (7) Gás (8) Areia.2

No lado esquerdo do animal na região da parede craniodorsal do saco cego do rúmen , sulco retículoruminal e parede ventral do saco do rúmen podem ser observadas linhas hiperecogênicas caudais ao retículo (Fig. 5).6 Na região ventral do tórax é observada parte do omaso, abomaso e não muito frequentemente parte do fígado. O abomaso é observado entre a região craniodorsal do saco cego do rúmen e a parede ventral do abdômen, imediatamente caudal ao retículo.6 Para avaliação da motilidade reticular, o transdutor é colocado do lado esquerdo na região torácica ventral e deve-se mantê-lo 3 minutos na região sem movê-lo, pois esta motilidade não é contínua.

O número, amplitude, duração e velocidade

de contrações reticulares e a duração do intervalo de relaxamento são avaliados e denominados de contração reticular bifásica. Regularmente a cada um minuto ocorre uma contração reticular, sendo assim nesses três minutos o retículo possui três contrações bifásicas sendo que a primeira contração pode ser incompleta. É frequente observar após a segunda contração reticular a contração do saco cego cranial do rúmen. A duração da primeira contração reticular é em torno de 2 a 3,5 segundos e a segunda contração de 3 a 5,5 segundos. A velocidade da primeira contração reticular varia de 3,3 a 10 cm/s. O intervalo de relaxamento entra as duas contrações bifásicas é de 25 a 75 segundos.6

Figura 5: Ultrassonografia de retículo

normal, saco cego do rúmen, saco ventral do rúmen e abomaso visão ventral esquerda do tórax: (1) Parede abdominal ventral, (2) Veia do músculo frênico, (3) Abomaso, (4) Retículo, (5) Saco cego do rúmen, (6) Parte cranial do saco ventral do rúmen.6

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Braun, Gansohr e Haessig5 (2002), utilizaram a ultrassonografia para avaliar se ocorria diminuição da contração reticular após a

administração de atropina, escopolamina e xilazina, observou-se que todos os fármacos tiveram ação sobre a atividade reticular.

Figura 6: Ultrassonografia de contração reticular bifásica.

A parede abdominal, baço, parede ruminal ou retículo normalmente podem ser observados ultrassonograficamente entre o 6º e 7º espaços intercostais na região ventral esquerda do tórax. O baço se apresenta como

uma estrutura com espessura de 2 a 3 cm em um corte transversal entre a parede abdominal e o rúmen ou retículo, diminuindo de tamanho até sua superfície ventral e dorsal se unirem (Fig. 7).6

Figura 7: Ultrassonografia de baço e retículo normais pela região

distal esquerda entre o 6º espaço intercostal: (1) Parede torácica lateral, (2) Baço (3) Retículo.6

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A cápsula do baço é vista como uma linha ecogênica e na polpa esplênica observam-se várias pequenas estruturas hiperecóicas, uniformemente distribuídas. A vascularização do baço é vista em corte transversal como uma estrutura oval hipoecóica no parênquima.6

O retículo, omaso e o fígado são observados no lado direito dos espaços intercostais. A parede omasal é uma linha circular distintamente ecogênica imediatamente adjacente à parede direita do tórax, sendo a parede do omaso mais espessa que a parede reticular. O conteúdo do omaso, normalmente não pode ser observado.6

Retículoperitoníte Traumática

Em bovinos com retículo-peritonite traumática o ultrassom pode ser utilizado para diagnosticar mudanças morfológicas na região crânio-ventral e parede reticular caudal. A parede reticular cranio-ventral é frequentemente mais afetada, mas em geral está associada à lesão do saco cego do rumen. As alterações de contorno da parede reticular dependem da severidade do processo inflamatório. Observam-se depósitos de fibrina na serosa reticular. Ultrassonograficamente essa fibrina se parece com áreas cavitárias hiperecogênicas em áreas hipoecóicas (Fig. 8).6

Os depósitos que consistem somente de fibrina são de aparência hiperecóica homogênea (Fig. 9).6

A atividade reticular quase sempre é afetada em animais com reticulo-peritonite traumática, a freqüência, amplitude e a velocidade das contrações, isoladamente ou combinadas, podem estar alteradas. A freqüência pode ser reduzida para duas, uma ou nenhuma contração a cada três minutos. A

redução da amplitude de contração pode variar, especialmente quando há formações de extensas áreas aderidas e pode ocorrer até a não contração reticular. Embora a contração bifásica seja padronizada, a extensão da contração varia de 1 a 3 centímetros. A velocidade de contração pode estar normal ou visivelmente diminuída. Em animais com obstrução retículo-omasal por corpo estranho, a freqüência das contrações reticulares pode estar aumentada.6

A atividade reticular quase sempre é afetada em animais com reticulo-peritonite traumática, a freqüência, amplitude e a velocidade das contrações, isoladamente ou combinadas, podem estar alteradas. A freqüência pode ser reduzida para duas, uma ou nenhuma contração a cada três minutos. A redução da amplitude de contração pode variar, especialmente quando há formações de extensas áreas aderidas e pode ocorrer até a não contração reticular. Embora a contração bifásica seja padronizada, a extensão da contração varia de 1 a 3 centímetros. A velocidade de contração pode estar normal ou visivelmente diminuída. Em animais com obstrução retículo-omasal por corpo estranho, a freqüência das contrações reticulares pode estar aumentada.6

Ultrassonograficamente pode se observar efusão peritoneal com acúmulo de líquido, com uma margem hipoecogênica restrita a área reticular (Fig. 10).6

Dependendo da quantidade de fibrina e células presentes no conteúdo, ele pode ser anecóico ou hipoecogênico. Os depósitos de fibrina podem ser identificados facilmente no fluido como faixas no interior da efusão. Ocasionalmente o volume de efusão é considerável se estendendo à região caudal do abdômen.6

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Figura 8: Ultrassonografia de retículo e saco cego

craniodorsal do rúmen de bovino com reticuloperitonite traumática observado pela região ventral esquerda do tórax: Observa-se depósito ecogênico na cavidade e fluído hipoecogênica ventral ao retículo e saco cego do rúmen: (1) Parede abdominal ventral, (2) Depósito de fibrina, (3) Retículo, (4) Saco cego craniodorsal do rúmen.6

Figura 9: Ultrassonografia de depósitos hiperecoicos no

retículo de uma vaca com reticulo-peritonite traumática observado na região ventral esquerda do tórax: (1) Parede abdominal ventral, (2) Veia do músculo frênico, (3) Diafragma, (4) Depósito hiperecóico, (5) Retículo.6

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Figura 10: Ultrassonografia que mostra depósitos ecogênico

no retículo e no saco cego crânio-dorsal do rúmen e acúmulo de fluido em bovino com reticulo-peritonite traumática observado pela região ventral esquerda do tórax: (1) Parede abdominal ventral, (2) Acúmulo de fluido anecóico, (3) Depósito ecogênico, (4) Retículo, (5) Saco cego crânio-dorsal do rúmen.6

O baço se posiciona na porção distal do retículo e freqüentemente é afetado em animais com reticuloperitonite traumática. Pode-se observar alterações como depósitos de fibrina ecogênicas com densidade variada (Fig. 11).6

O baço pode estar recoberto por depósito de fibrina (Fig. 12).6

Ocasionalmente se observa um ou mais abscessos esplênicos além de dilatação vascular indicando um quadro de esplenite.6

Figura 11: Ultrassonografia que mostra adesões de fibrina

entre o retículo, saco cego crânio-dorsal do rúmen e baço de um bovino com reticulo-peritonite traumática visto da esquerda do tórax ventral. (1) parede abdominal ventral, (2) baço, (3) depósito ecogênico no baço e retículo, (4) retículo, (5) saco cego rúmen.6

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Figura 12: Ultrassonografia que mostra fibrina na região

distal do baço, alterações fibrinosas e fluido inflamatório em um bovino com reticulo-peritonite traumática visto da esquerda do tórax ventral. (1) Parede abdominal ventral, (2) Baço, (3) Fibrina no baço, (4) Fluido, (5) Alterações fibrinosas, (6) Retículo, (7) Saco cego do rúmen.6

Abscesso Reticular

De 80 a 91% dos casos de abscesso reticular, o que se observa ultrassonograficamente é o deslocamento do retículo em direção ao diafragma e com menor freqüência pode se observar a presença do abscesso entre o diafragma e o retículo.4

Abscessos reticulares possuem cápsula com densidade variada ao redor de um centro que pode ter uma hiperecogenicidade homogênea. (Fig. 13).6 O conteúdo de um abscesso geralmente apresenta septos ecogênicos (Fig. 14).6

Figura 13: Ultrassonografia de abscesso reticular

caudo-ventral e crânio-dorsal caudo-ventral ao saco cego do rúmen de uma vaca com reticulo-peritonite traumática observado pela região ventral esquerda do tórax: (1) Parede abdominal ventral, (2) Abscesso, (3) Retículo, (4) Saco cego do rúmen.6

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Figura 14: Ultrassonografia de abscesso reticular

caudo-ventral e crânio-dorsal caudo-ventral ao saco cego do rúmen de uma vaca com reticulo-peritonite traumática observado pela região ventral esquerda do tórax:(1) Parede abdominal ventral, (2) Cápsula do abscesso, (3) Lúmen do abscesso, (4) Retículo, (5) Saco cego crânio-dorsal do rúmen.6

Os abscessos normalmente se localizam caudo-ventralmente ao retículo, mas podem também estar craniais ou laterais ao retículo. Geralmente eles são vistos entre o retículo e o baço, retículo e o fígado, retículo e o omaso ou retículo e o abomaso. Esses abscessos variam de alguns centímetros a mais de 15 centímetros de diâmetro e ocasionalmente possuem uma cápsula espessa.6

A imagem ultrassonográfica pode ser utilizada para orientar o médico veterinário a realizar com maior segurança a drenagem de um abscesso reticular, no entanto este deve estar localizado adjacente à parede abdominal e o espaço intercostal, para que seja possível a realização do procedimento. (Fig. 15 e 16).4 Além disso a imagem ultrassonográfica irá controlar a eficiência da drenagem desses abscessos. (Fig. 17 e 18).4

Figura 15: Abscesso entre a o retículo e a

parede ventral do abdômen: (1) Parede do abdômen, (2) Abscesso, (3) Retículo, (4) Rúmen.

Figura 16: Abscesso drenado entre o retículo e

a parede ventral do abdômen (1) Parede do abdômen, (2) Abscesso, (3) Retículo.4

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Figura 17: (1) Parede torácica esquerda, (2)

Baço, (3) Cavidade do abscesso, (4) Retículo.

Figura 18: (1) Parede torácica esquerda, (2) Baço,

(3) Cavidade do abscesso drenado, (4) Retículo.4

Quadros de reticulo-peritonite traumática com conseqüente formação de abscesso reticular são mais raros em pequenos ruminantes devido a seu hábito de alimentação ser mais seletivo comparado a bovinos, no entanto Ramprabhu et al.13 (2002) relataram um caso de diagnóstico ultrassonográfico de um abscesso reticular em uma cabra. Foi observado a presença de

abscesso entre o retículo e a parede abdominal, com característica de massa encapsulada com conteúdo anecóico (Fig. 19).

A presença desse abscesso foi esclarecido com o auxílio da radiografia que revelou deslocamento cranial dos pré-estômagos causado pelo útero gravídico e presença de corpo estranho rádio-opaco no retículo.13

Figura 19: Ultrassonografia da região torácica ventral de

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Exame Ultrassonográfico de Abomaso A ultrassonografia é um método eficiente para avaliar o tamanho, posição e conteúdo do abomaso. Ele pode ser visualizado

aproximadamente a 10 centímetros caudalmente à cartilagem xifóide, nas regiões paramedianas na parte ventral do abdômen (Fig. 20).6

Figura 20: Representação esquemática de exame ultrassonográfico do abomaso e

órgãos adjacentes: 1) Abomaso, (2) Omaso, (3) Reticulo, (4) Rúmen, (5) Diafragma, (6) Articulação úmero-rádio-ulnar, (7) Baço, (8) Fígado.

O abomaso pode ser observado também imediatamente caudal ao retículo entre o saco cego crânio-dorsal do rúmen e a parede abdominal ventral (Fig. 21).6

A parede do abomaso se apresenta no ultrassom como uma fina linha ecogênica. Porém o abomaso é facilmente diferenciado de seus órgãos vizinhos devido à

característica de seu conteúdo que gera uma imagem heterogênea moderadamente ecogênica com pontilhados ecogênicos. Pode ser vista parte das pregas do abomaso como estruturas ecogênicas dentro do conteúdo abomasal (Fig. 22). Pode se detectar movimentos passivos e lentos do abomaso.6

Figuras 21: Ultrassonografia de abomaso situado caudal ao

reticulo e caudal da linha média ventral ao esterno: (1) Parede abdominal ventral, (2) Veia músculo frênico , (3) Diafragma, (4) Reticulo, (5) Abomaso.6

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Figura 22: Ultrassonografia de abomaso que foi

esvaziado e em seguida preenchido totalmente com água: (1) Abomaso, (2) Pregas abomasais. 6

Abomasocentese

A ultrassonografia percutânea pode ser utilizada para guiar a realização de uma abomasocentese visando avaliar a composição química do conteúdo abomasal. O procedimento é realizado em uma região onde o abomaso ocupa uma maior área e não há risco de lesar outros órgãos. O procedimento é realizado após antisepsia do

local e com a introdução de uma agulha guiada pelas imagens do ultrassom (Fig. 23), esse é um procedimento seguro e que causa lesões mínimas no abdômen do animal.6 O fluído abomasal pode nos auxiliar no diagnóstico de casos de obstrução, úlceras, inflamação, deslocamento dentre outras enfermidades.6

Figura. 23: Representação esquemática de

abomasocentese guiada por ultrassom realizada no lado direito do abdômen: (1) Abomaso, (2) Omaso, (3) Reticulo, (4) Rúmen, (5) Diafragma, (6) Úbere.6

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Deslocamento à esquerda do abomaso O exame ultrassonográfico é útil para confirmar o diagnóstico de deslocamento à esquerda do abomaso em casos duvidosos. O transdutor é colocado paralelo às costelas nos últimos três espaços intercostais no lado esquerdo e é examinado ventral e dorsalmente (Fig. 24).6

Normalmente, nessa região pesquisada, encontra-se o rúmen à esquerda adjacente à parede abdominal (Fig. 25). Assim, na ultrassonografia a parede ruminal é mediana à parede abdominal e ventro-dorsalmente se apresenta lisa, grossa e ecogênica. O conteúdo ruminal não pode ser visualizado devido sua natureza gasosa.6

Figura 24: Representação esquemática de

corte transversal na altura do último espaço intercostal da cavidade abdominal de bovino: Em animal com abomaso normal, o rúmen esta situado imediatamente adjacente à parede abdominal: (1) Parede abdominal, (2) Rúmen.6

Figura. 25: Ultrassonografia que mostra rúmen

adjacente à parede abdominal em bovino saudável, visto no 12º espaço intercostal do lado esquerdo do abdômen. (1) Parede abdominal, (2) Parede do rúmen, (3) Rúmen.6

Com deslocamento do abomaso à esquerda, a parede do rúmen permanece freqüentemente imediatamente adjacente à parede abdominal na região ventral (Fig. 26).6

Quando o transdutor é movido dorsalmente, fica aparente que a parede do rúmen é empurrada medialmente e já não pode ser ultrasonograficamente observada. O abomaso é observado entre a parede abdominal e o rúmen. Movendo o transdutor dorsalmente o abomaso desaparece e o rúmen reaparece na tela. O conteúdo do abomaso não é uniforme ultrassonograficamente porque ventralmente há ingesta liquida e dorsalmente a presença de gás. Esse conteúdo líquido, que se localiza

ventralmente no abomaso é visto como uma imagem hipoecóica (Fig. 27).6

No conteúdo dorsal, composto de gás, visualiza-se artefatos de técnica semelhantes aos observados no exame ultrassonográfico dos pulmões (Fig. 28). Os artefatos são causados pela reverberação das ondas ultrassonográficas com o gás do abomaso, eles são como linhas ecogênicas variadas que estão paralelas a superfície do abomaso se tornando mais fraco ao ponto que vai se distanciando do transdutor, a uma profundidade de sete a oito centímetros eles passam a não ser mais visíveis.6

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Ocasionalmente as pregas do abomaso são visíveis dentro do conteúdo abomasal, sendo

estas longas e ecogênicas (Fig.29). A parede ruminal pode ser vista na região mediana.6

Figura 28: Ultrassonografia de deslocamento de

abomaso a esquerdo na região dorsal do 12º espaço de intercostal. A presença de gás não é visível por causa de artefatos de técnica na superfície abomasal: (1) Parede abdominal, (2) Parede de abomasal, (3) Artefatos de técnica.6

Figura 29: Ultrassonografia de deslocamento de

abomaso a esquerda, vista da região ventral do 12º espaço de intercostal: (1) Parede abdominal, (2) Abomaso com ingesta hipoecóica, (3) Pregas

abomasais, (4) Rúmen.6

Figura. 26: Representação esquemática

de abdômen de bovino com deslocamento de abomaso à esquerda com corte transversal no 12º espaço intercostal. O abomaso é situado entre a parede abdominal esquerda e o rúmen.: (1) Parede abdominal, (2) Parte ventral do abomaso com contém ingesta, (3) Porção dorsal de abomaso com gás, (4) Rúmen.6

Figura 27: Ultrassonografia de deslocamento de

abomaso a esquerda visto pela região ventral no 12º espaço intercostal. (1) Parede abdominal, (2) Abomaso com ingesta hipoecogênica, (3) Rúmen deslocado medialmente.6

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Deslocamento do Abomaso a Direita

A ultrassonografia é utilizada para confirmar também casos de deslocamento de abomaso à direita. A área examinada varia entre os dois ou três últimos espaços intercostais e a parte caudal à última costela do lado direito, ventralmente, com o transdutor paralelo às costelas. Normalmente, são observados cortes transversais de alças do intestino delgado e, menos freqüentemente, longitudinalmente à

parte ventral do abdômen, o fígado é visto imediatamente adjacente à parede abdominal direita. Em animais com deslocamento de abomaso à direita, o fígado não pode ser observado e no lugar onde normalmente se observa o fígado, o abomaso é observado, adjacente à parede abdominal direita (Fig.30). Ele se apresenta ultrassonograficamente como nos casos de deslocamento de abomaso à esquerda.6

Figura 30: Representação esquemática de deslocamento de

abomaso a direita, sendo a primeira figura vista lateral direita de abdômen normal e a segunda vista lateral de abdômen após deslocamento de abomaso a direita: (A) Abomaso. 6

Defeitos de esvaziamento do abomaso Defeitos no esvaziamento abomasal ocorrem devido à estenose funcional ou mecânica do piloro e podem ser também secundários a defeitos no esvaziamento do íleo. Com essas alterações o abomaso pode se dilatar, porém não se desloca dorsalmente nem torce. Dependendo da quantidade do conteúdo, o abomaso dilatado pode ser observado do lado direito na região ventral entre o 8º e 12º espaços intercostais, ou até mesmo na região ventral do abdômen, caudal as costelas. Em

contraste aos deslocamentos à esquerda e a direita, não há acúmulo de gás e o abomaso dilatado não se desloca. O conteúdo abomasal, de natureza fluida (ácido clorídrico), apresenta uma imagem homogênea e hiperecóica. Isso permite uma boa visualização da prega abomasal que é ecogênica com estruturas de formato onduladas (Fig. 31). Em animais com íleo dilatado as alças intestinais são claramente visíveis. Nos casos de estenose do piloro, o intestino delgado está vazio.6

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Figura 31: Ultrassonografia que mostra dilatação do

abomaso secundária a intuscepção de jejuno de bovino, visto da região de paramediana direita: (1) Parede abdominal, (2) Abomaso, (3) Prega abomasal.6

Lesões discretas da mucosa abomasal como abomasites crônicas, nódulos parasitários, erosões e úlceras não podem ser observadas com transdutor linear de 3.5 MHz. Em um estudo que envolveu 50 vacas, com abomasite crônica identificado na necropsia, 48 vacas não apresentaram alteração na mucosa, que foi avaliada ultrassonograficamente antes da eutanásia. O mesmo ocorreu em casos de erosões da mucosa ou úlceras do tipo I na região pilórica em 16 animais.6

Exame Ultrassonográfico do Omaso

O omaso é um órgão esférico-ovóide situado no terço medial do abdômen, posicionado a direita da linha alba, imediatamente adjacente à parede abdominal, podendo ser facilmente visualizado ultrassonograficamente. Uma das principais enfermidades do omaso é o omaso paralítico que causa estenose dos pre-estômagos e conseqüente dilatação dos mesmos. Além disso o omaso pode ser afetado por desordens de seus órgãos vizinhos em casos como: reticulo-peritonite traumática, deslocamento

do abomaso à direita, torção de abomaso, estenose de piloro entre outras que poderá provocar a sua dilatação, podendo até causar aumento na sua motilidade.8

O exame ultrassonográfico do omaso é realizado pelo lado direito do animal, no terço médio do abdômen, entre o 6º e 10º espaço intercostal, sendo visualizado mais frequentemente entre o 8º e o 9º, nessa região também é visualizado o lobo direito do pulmão e o fígado (Fig. 32). Geralmente se observa o fígado adjacente à parede dorsal do omaso.8

Somente a parede omasal próxima à parede abdominal é visível, de maneira crescente, conforme sua proximidade e seu interior é de difícil visualização devido à presença de gás. Visto pelo ultrassom a parede do omaso é uma grossa linha ecogênica, ocasionalmente pode-se observar a túnica serosa da parede omasal que é uma linha fina e ecogênica e a túnica muscular que é fina e hipoecóica (Fig. 33).8

Em casos de comprometimento de órgãos adjacentes pode-se se observar às lâminas

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acessórias do omaso como estruturas em forma de cone de pouca ecogenicidade. Ao contrário de outros órgãos gastrointestinais

não é possível observar movimentos do omaso.8

Figura 32: Representação

esquemática do posicionamento e tamanho do omaso no abdômen: (1) Rúmen, (2) Fígado, (3) Vesícula biliar, (4) Omaso, (5) Intestino delgado.8

Figura 33: Ultrassonografia de

omaso e fígado, pelo 8º espaço intercostal do lado direito do abdômen: (1) Parede do abdômen, (2) Parede do omaso, (3) Fígado, (4) Veia porta.8

CONCLUSÃO

A ultrassonografia é uma método complementar à disposição do médico veterinário para o auxílio no diagnóstico das enfermidades do sistema digestório mais comuns dos ruminantes. Com relação ao retículo pode-se avaliar a motilidade reticular; casos de reticuloperitonite traumática, observando-se depósitos de fibrina e tecido fibrinoso na serosa reticular; e abscessos, podendo auxiliar em sua drenagem. No abomaso analisa-se tamanho, posição e conteúdo, sendo possível realizar abomasocentese para avaliação do conteúdo abomasal; auxilia no diagnóstico de deslocamento de abomaso à esquerda e à

direita; além de facilitar diagnóstico de defeitos de esvaziamento do mesmo. Possibilita avaliação de alterações no omaso. O exame do aparelho digestivo com o auxílio da ultrassonografia na vaca trouxe uma melhora e um avanço no diagnóstico não invasivo das enfermidades do aparelho digestivo em contrapartida a outros exames invasivos como a paracentese e a laparotomia exploratória. Ele é facilmente aplicável com resultados imediatos e custos baixos, havendo a economia na preconização de medicamentos como antibioticoterapia e anestesias necessários em outros métodos diagnósticos citados anteriormente.

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76 Ciência Animal 23(2): 58-76, 2013

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