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Universidade Técnica de Lisboa. Instituto Superior de Agronomia

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Academic year: 2021

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Universidade Técnica de Lisboa

Instituto Superior de Agronomia

Timor-Leste, 1953 – 1975:

O desenvolvimento agrícola na última fase da colonização portuguesa

Luís Manuel Moreira da Silva Reis

“Dissertação apresentada neste Instituto para efeitos de obtenção do grau de Mestre”

ORIENTADOR: Doutor Nuno João de Oliveira Valério

CO-ORIENTADOR: Doutor Bernardo Manuel Teles de Sousa Pacheco de Carvalho

JÚRI:

PRESIDENTE: Engenheiro José Eduardo Mendes Ferrão, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

VOGAIS: Doutor António Pinto Barbedo de Magalhães, Professor Catedrático

da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto;

Doutor Nuno João de Oliveira Valério, Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa;

Doutor Bernardo Manuel Teles de Sousa Pacheco de Carvalho, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa;

Doutor Augusto Manuel Nogueira Gomes Correia, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.

Mestrado em Produção Agrícola Tropical

Lisboa

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RESUMO:

Tendo em conta uma análise baseada numa perspectiva de Histórica Económica, avaliam-se as acções desenvolvidas pelo Governo Colonial Português no

território de Timor, no decorrer das décadas de 1950 a 1970, enquadradas pelos Planos de Fomento, com a vista a proporcionar o desenvolvimento agrícola do território.

O trabalho foi estruturado com base em três eixos de recolha de informação e análise:

– Enquadramento técnico e histórico do desenvolvimento da Agricultura e do sector de transformação/industrial a jusante do mesmo, no período em causa; – Caracterização dos Planos de Fomento em termos de montantes financeiros envolvidos e da sua execução material;

– Caracterização produtiva e comercial do território, fazendo uso das estatísticas e indicadores macroeconómicos disponíveis.

Procede-se, ainda, no final, a uma discussão relativa ao uso de diferentes modelos para caracterização do desenvolvimento agrícola e a aderência da sua aplicação ao caso em estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Timor-Leste, História Económica, Planos de Fomento, Desenvolvimento Agrícola, Cafeicultura, Orizicultura.

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Title:

“East Timor, 1953 – 1975: The Agricultural Development by the end of the Portuguese colonization”

ABSTRACT:

This is an analysis, taken from an historical point of view, of the economic policies held by the Portuguese colonial rule, from 1953 to 1975, towards agriculture development in East Timor. At the core of the analysis are the “Planos de Fomento”, a series of five economic development plans aimed at all the territories under Portuguese administration during the studied period.

This work is based on three main lines of research:

– Review of the techniques used in agriculture over the studied period of time in East Timor, as much as of the technical development of the industrial sector that followed; – Description of each Plano de Fomento on what concerns funding and spending;

– Analysis of local economics figures and of macro-economic indicators available for the territory over the period of time under consideration, in order to evaluate what was produced and commercialised in East Timor at the time.

This work ends with a discussion of the different methods available to investigate agricultural development, and presents the models which seem more appropriate to study the East Timor case.

KEY-WORDS: East Timor, Economic History, Planos de Fomento, Agricultural Development, Coffee, Rice

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Dedico este trabalho ao Povo Timorense e ao seu futuro que, espero auspicioso. Porque me ensinaram que a cidadania é um direito mas também é um dever.

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AGRADECIMENTOS

Os contríbutos para um trabalho deste género, para além de espaçados no tempo, são sempre variados, no que se refere ao tipo e à forma como se materializam. Mais que um reconhecimento do valor do seu contributo, referi-los no início de um trabalho deste tipo, é uma obrigação a que cada autor se deve submeter, pelo significado que representa a contríbuição de outros para uma tentativa de adição de conhecimentos, ainda que mínima, sobre um determinado assunto.

Antes de mais, agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Nuno Valério, do Instituto Superior de Economia e Gestão, pela contribuíção indelevel para estruturar “fio condutor” neste processo de investigação que me deu particular prazer desenvolver. Agradeço, ainda pelo constante arrumar de ideias e corrigir “desvios programáticos” que os meus pensamentos e escritos foram férteis.

Não posso deixar de agradecer ao coorientador deste trabalho, Prof. Engº Agrónomo Bernardo Pacheco de Carvalho, do Instituto Superior de Agronomia, pela forma como contribuiu para orientar este trabalho a bom porto, principalmente na parte final da discussão e análise.

Ao Professor Engº Agrónomo José Mendes Ferrão, quero agradecer, a sua pronta disponibilidade em ajudar e contribuir relevantemente nesta tarefa, nomeadamente, nas várias fontes de informação que me providenciou.

Ao Engº Agrónomo Mário Mayer Gonçalves, uma palavra de profundo reconhecimento pelo empenho constante para a excução deste trabalho. O seu contributo foi sempre o de alguém que viveu a realidade aqui retratada. Não tendo sido um orientador, em termos formais, foi mais que isso em termos informais, já que partilhou uma cumplicidade comum, que nos leva a desenvolver o gosto de conhecer mais Timor.

Vários foram os centros documentais ou bibliotecas que contribuiram positivamente para este trabalho. Este agradecimento estende-se ao corpo técnico e administrativo que assegurava o atendimento e o fornecimento da informação que fui solicitando, em cada dessas entidades. Agradeço, assim, ao Centro de Documentação do Banco Nacional Ultramarino, que me facultou o acesso a informação imprescindível e me possibilitou a obtenção de fotocópias, de forma graciosa, bem como o Insituto de Investigação Científica Tropical, que me disponibilizou o acesso, de forma igualmente graciosa, a livros, cartografia existente, nomeadamente no Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícola (Centro de Documentação e Informação) e no Centro de Cartografia. Agradeço ainda à Sociedade de Geografia de Lisboa, o acesso à sua biblioteca. À Catarina, tenho que agradecer todo o seu contríbuto, ânimo e apoio na estruturação global do trabalho. O seu contante apoio foi uma fonte de inspiração nos momentos de desânimo e impaciência e que me permitiu levar para a frente esta tarefa. Agradeço, por tudo isto.

À Né, pela amizade, orientação e apoio global que permitiu lançar este trabalho na parte inicial e que foi acompanhando, de forma enriquecedora, no decurso do mesmo.

Gostaria de deixar uma palavra muito especial à Comissão para os Direitos do Povo Maubere (CDPM) e a todos que nela participam. Agradeço genericamente

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pelo acesso ao seu (importante) acervo bibliográfico mas, mais relevante, por terem contríbuido para ajudar a pensar o Mundo que nos rodeia, permitindo desta forma a génese desta tese. Por tudo o que me transmitiram durante estes sete anos de frutuosa colaboração, um bem-hajam.

Ao Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG), gostaria de agradecer à equipa que desenvolve a base de dados geográfica de Timor, na pessoa do Engº Rui Almeida, pelos contributos cartográficos desta dissertação.

À minha família, por sempre me terem apoiado nas minhas decisões, e por terem acreditado na feitura do trabalho. Em especial, agradeço ao meu Pai, pelo apoio global, na discussão de ideias e na sempre fastidiosa revisão de textos.

ABREVIATURAS

BNU – Banco Nacional Ultramarino

CEPTA - Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícola Ha – Hectare(s)

IICT – Instituto de Investigação Científica e Tropical INE – Instituto Nacional de Estatística

ISA – Instituto Superior de Agronomia

ISCEF – Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras ISCSPU – Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina km – Quilómetro(s)

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MEAU – Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar

MPAT – Ministério do Planeamento e Administração do Território PIB – Produto Interno Bruto

SAPT – Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho

SOTA – Sociedade Oriental de Transportes e Armazenagem UTL – Universidade Técnica de Lisboa

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ÍNDICE RESUMO: ... 37 ABSTRACT: ... 38 AGRADECIMENTOS ... 40 ABREVIATURAS ... 41 ÍNDICE... 42 1. INTRODUÇÃO... 43

2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA TIMORENSE (1945-1975)... 47 2.1 Agricultura no Pós-Guerra... 47 2.2 A Agricultura de subsistência ... 47 2.1.1.1 Sector Agrícola ... 47 2.1.1.2 Sector Pecuário ... 54 2.1.1.3 Sector Florestal ... 55

2.1.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura ... 58

2.1.2 O aparecimento e desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação... 59

2.1.3 A fundação e o desenvolvimento do sistema de plantações: situação pós-2ª Grande Guerra Mundial... 64

2.2 Os esforços desenvolvidos nas décadas de 50 e 60... 69

2.2.1 A Agricultura de subsistência ... 69

2.2.1.1 Sector Agrícola ... 69

2.2.1.2 Sector Pecuário ... 72

2.2.1.3 Sector florestal ... 73

2.2.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura ... 74

2.2.2 O desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação ... 74

2.2.3 O sistema de plantações no período até 1975 ... 76

2.2.4 A Brigada de Timor da MEAU: a última etapa (anos 60 e 70)... 76

2.3 A Agricultura timorense nos anos finais da colonização portuguesa... 80

2.3.1 A Agricultura de subsistência ... 80

2.3.1.1 Sector Agrícola ... 80

2.3.1.2 O Sector Pecuário ... 82

2.3.1.3 Sector florestal ... 83

2.3.1.4 Indústrias transformadoras... 85

2.3.2 O sistema de plantações no final da colonização portuguesa... 85

3. OS PLANOS DE FOMENTO E A AGRICULTURA: APLICAÇÃO À EX-PROVÍNCIA ULTRAMARINA DE TIMOR... 88

3.1 Antecedentes e Enquadramento ... 88

3.2 O 1º e 2 º Planos de Fomento (1953 a 1964)... 92

3.2.1 Análise referente ao período de 1953 a 1964... 98

3.3 O Plano Intercalar e o 3º Plano de Fomento (1965 – 1973)... 102

3.3.1 Análise referente ao Plano Intercalar ... 108

3.4 O 3º Plano de Fomento (1968-1973) ... 111

3.4.1 Análise relativa ao 3º Plano de Fomento ... 122

O 4º Plano de Fomento (1974 – 1979)... 126

4. CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, PRODUTIVA E COMERCIAL DO TERRITÓRIO... 75

4.1 População, Emprego e Produto Interno Bruto ... 75

4.5 Análise sectorial... 79

4.5.1 Agricultura, Silvicultura e Pecuária ... 79

4.5.2 Indústria transformadora... 95

4.6 Circuitos de distribuição - transportes rodoviários ... 99

4.7 Comércio... 102

4.7.1 Importação ... 104

4.7.2 Exportação ... 107

4.8 Crédito bancário... 108

5. DISCUSSÃO ... 111

5.1 A agricultura no desenvolvimento económico de Timor ... 111

5.2 Modelos de desenvolvimento agrícola... 120

6. CONCLUSÕES ... 129

7. BIBLIOGRAFIA... 134

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1. INTRODUÇÃO

O território de Timor era a mais oriental (e distante) parcela de todo o conjunto de territórios sob a administração colonial portuguesa e situa-se no arquipélago de Sonda, entre a Indonésia e a Austrália, com as seguintes coordenadas geográficas extremas: latitude – entre 8° 17’ e 10° 22´ Sul e longitude – entre 123° 25´ e 127° 11´ leste de Greenwich. (140: 15-16)

A ilha de Timor encontrava-se dividida entre Portugal e a Indonésia, remontando ao século XIX a delimitação da partilha da ilha, com a assinatura do tratado de 20 de Abril de 1859, entre Portugal e a Holanda (ver Anexo 1) (240). A ex-colónia portuguesa de Timor incluia a parte oriental da ilha, o enclave de Oécusse, em território indonésio, a ilha de Ataúro, situada a Norte da cidade de Díli, e o ilhéu de Jaco, situado junto à ponta leste do território. A superfície total da ex-província é de 18.899 Km2, representando pouco menos de um sexto da área actual de Portugal. (73: 446) (236) Segundo a classificação climática clássica, o clima de Timor é “quente” por ter temperaturas médias superiores a 20º C, excepto em algumas localidades de altitude elevada; “temperado” ou “oceânico” por ter amplitude térmica anual inferior a 10º C, “moderadamente chuvoso” nas regiões costeiras do Norte por ter precipitação anual entre 500 e 1000 mm; “chuvoso” na maior parte do território pelo facto da precipitação anual estar entre 1000 e 2000 mm e “excessivamente chuvoso” em algumas regiões montanhosas, por a precipitação anual ser superior a 2000 mm. (248) (249)

A grande distância a que se encontra de Portugal, aliada a outros factores, contribuiu provavelmente para que durante grande parte deste século (e em geral, durante todo o período de colonização portuguesa), para a pouca atenção que despertou aos mais variados níveis do poder de decisão em Portugal, com vista a um almejado desenvolvimento.

Foi com a conquista de Malaca, em 1511, que se abriu aos Portugueses o caminho marítimo para as ilhas do sudoeste asiático, de onde provinha, entre outros produtos, o regionalmente apreciado sândalo (241). Os Portugueses terão desembarcado na ilha de

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Timor entre 1511 e 152251 e, a partir dessa data, controlado, pelo menos de forma parcial, as rotas comerciais (marítimas e terrestres) da região bem como a ilha em causa. O império português nesta parte do Mundo foi construído com base no comércio de especiarias (144) (146).

A colonização de Timor foi iniciada por missionários, e por eles mantida durante durante séculos, constituindo assim um caso único na história da colonização portuguesa (239).

O controle dos territórios que estiveram ao longo do tempo sob administração portuguesa naquela região do globo, foi bastante complicado e envolto em conflitos diversos, quer com a Holanda, que ambicionava o controle dos territórios e das riquezas naturais que Portugal à época geria, quer com as populações locais que estavam longe de aceitar pacificamente o domínio português (146).

Fruto destas convulsões, só em 1769, o governador à época (Teles de Meneses) toma a decisão de instítuir em Díli, a sede do governo local, que correspondia a uma zona menos acossado pelos Holandeses (146). Será só em 1864, que Díli será elevada a cidade (259).

Genericamente, a relação que se foi estabelecendo entre os diversos “regulados” do território e o poder português esteve longe de ser pacífica, como já referi, facto que se prolongou pelo século XX e que marcou indelevelmente o processo de administração colonial portuguesa do território.

No fim do século XVIII, os rendimentos provenientes da exploração da madeira de sândalo (Santalum album L.), até então o grande foco de interesse dos portugueses, começam a diminuir e, no princípio do século XIX, o governador, Alcoforado e Sousa, exerce uma actuação decisiva no campo agrícola fomentando, nomeadamente, a cultura do café (259).

51 O ano da chegada dos Portugueses a Timor é, aparentemente, matéria ainda envolta em alguma indefinição.Enquanto Thomaz, L.

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O início do século XX é marcado decisivamente pela governação efectuada por Celestino da Silva que impulsionou obra relevante na área do desenvolvimento agrícola. Sob a sua direcção, a agricultura sofreu um importante impulso, tendo surgido as primeiras grandes plantações comerciais e introduzido novas culturas (146) (259).

Data desta governação a constituição da mais importante sociedade agrícola-comercial de Timor, a S.A.P.T. - Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, que como veremos, no período objecto de análise deste trabalho, assumiu um papel muito importante no desenvolvimento agrícola e económico de Timor, nomeadamente no que se refere à produção e comercialização de café (146).

Durante a 2ª Guerra Mundial, a ilha foi invadida, primeiramente por tropas australianas e holandesas (Dezembro de 1941) e posteriormente tropas japonesas (Fevereiro de 1942), e a soberania portuguesa é interrompida (1942-1945). Finda a referida guerra, o poder português é restabelecido e procedeu-se à reconstrução do que foi destruído, tendo muito desses traços perdurado até 1975 (243).

No período que decorre entre os anos 50 e 70, o Estado Português decide implementar uma política coordenada de desenvolvimento económico, com aplicação a todos os espaços sob administração portuguesa.

Em termos económicos, Timor foi sempre um território fortemente ligado à agricultura e à exploração dos recursos naturais. Tendo em conta o peso (grandemente maioritário) do sector agrícola na economia timorense, pretende-se, através deste trabalho, analisar o impacte destes Planos no desenvolvimento agrícola de Timor, uma vez que os referidos Planos foram estruturados tendo em conta este enquadramento económico e produtivo. O desenvolvimento agrícola de Timor, no período em análise, foi delineado com base no estruturado pelos Planos anteriormente referidos, sendo que qualquer análise de desenvolvimento agrícola tem que ser visto pelo prisma da aplicação dos Planos de Fomento.

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O trabalho que a seguir se apresenta pretende caracterizar o desenvolvimento agrícola ocorrido no território de Timor, enquanto unidade territorial, histórica, económica e aduaneira distínta, do ex-espaço económico português, no período entre 1954 e 1974. O período de tempo referido, coincide basicamente com o último período da colonização portuguesa, historicamente situado entre a ocupação japonesa do território e o fim da presença portuguesa, em 1975.

Este trabalho estruturou-se numa perspectiva analítica de Histórica Económica e centra-se numa questão; houve, ou não, decentra-senvolvimento agrícola no território no período em análise? Em caso afirmativo, como é que se caracterizou?

No sentido de proporcionar resposta(s) a esta(s) questão, o trabalho foi estruturado com base em três eixos de recolha de informação e análise:

– Enquadramento técnico e histórico do desenvolvimento da Agricultura e do sector de transformação/industrial a jusante do mesmo, no período de tempo que se estende desde o início da aplicação dos Planos de Fomento até ao final da colonização portuguesa ;

– Caracterização dos Planos de Fomento em termos de montantes financeiros envolvidos e da sua execução material, tendo em conta o que se pretendia para o desenvolvimento do território e as principais opções de desenvolvimento;

– Caracterização produtiva e comercial do território, fazendo uso das estatísticas e indicadores macroeconómicos disponíveis.

Procede-se, ainda, no final, a uma discussão da informação obtida tendo em conta diferentes modelos existentes para caracterização dos processos de desenvolvimento agrícola, através dos quais se pretende tipificar qual foi a(s) forma(s) que se encetaram para exploração/desnvolvimento das potencialidades agrícolas do território e analisar os diferentes passos técnicos tomados.

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2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA TIMORENSE (1945-1975)

2.1 Agricultura no Pós-Guerra

2.2 A Agricultura de subsistência

2.1.1.1 Sector Agrícola

Globalmente pode dizer-se que a agricultura desenvolvida pelos timorenses era à época, eminentemente extensiva e caracterizada por um claro sub-desenvolvimento, patente em variados aspectos, que a colonização portuguesa pouco conseguiu alterar. O grande volume da produção agrícola da colónia, quer em produtos de exportação (como o café) quer em géneros para a subsistência alimentar da população local, era proveniente de produções indígenas muito rudimentares (60: 17) (64: 4 - 5). Globalmente, o domínio exercido pelos agricultores timorenses era feito um pouco sobre todos os sectores de produção primária (136) (46: 43).

Quando no princípio do século XVI, os portugueses chegaram a Timor, encontraram na ilha uma civilização da Idade do Ferro. Os timorenses viviam da agricultura e da criação de gado bem como da recolha de alguns produtos florestais naturais. Cultivava-se batata-doce, inhame e cereais de sequeiro (arroz e milho miúdo) e o arroz em várzeas irrigadas. Na pecuária apareciam o porco, a galinha, a cabra, o búfalo e o cavalo. (156: 387)

A presença dos portugueses em Timor durante quatro séculos resultou numa influência praticamente inemutante nestas matérias: foram introduzidas algumas culturas alimentares novas, na sua maioria originárias do Brasil (como a mandioca ou o milho de maçaroca) e a divulgação de novos animais domésticos (a vaca e a ovelha). (173: 6-12) (156: 389)

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No aspecto tecnológico, a sua influência foi irrelevante: quer a agricultura quer as pequenas indústrias artesanais continuavam a utilizar quase exclusivamente as técnicas tradicionais (156: 391) (173: 6-12).

O regime de propriedade das terras era essencialmente comunitário: pertence aos sucos, isto é, era a comunidade que dominava a terra. Apenas nas regiões onde predomina a cultura do arroz de regadio, se gerava um sistema tendencialmente de propriedade estritamente privada. O mesmo se passava nas zonas cafeícolas. Thomaz considerava que em Timor, na sua maioria, não existia um sistema de latifúndios (156: 394-395), apesar do desenvolvimento que se tinha assistido ao nível do sistema de plantações. A necessidade da limpeza do terreno, para agriculturar, obrigava à realização de queimadas, mais vulgares na costa Norte, que eram antecipadas pelo derrube de árvores. Através da preparação do solo com meios rudimentares, constituía-se o espaço agrícola junto à habitação, cultivado durante um certo período de tempo que, geralmente, não ultrapassava os 6 anos. Quando o solo perdia a fertilidade, o agrícultor procurava outro local para a sua actividade preferindo as áreas sob floresta, mais férteis, ricas em matéria orgânica e menos infestadas de plantas espontâneas durante os primeiros anos. (101: 6- 7)

A 2ª Grande Guerra mundial trouxe ao território um legado de destruição generalizada para as infraestruturas do território, em conjunto com uma paralisia incipiente do sistema produtivo do território.

A ocupação japonesa de Timor dá-se em Fevereiro de 1942, após o desembarque de forças aliadas (australianas e holandesas) e a administração portuguesa do território cessou até 1945. (23: 226-227)

Parte do sub-desenvolvimento que a agricultura timorense vivia, no pós-guerra, era fruto de uma tecnologia agrícola bastante primitiva. O ferramental agrícola “mais perfeito” que os timorenses usavam, consistia num pau-aguçado52 que servia para diversos trabalhos agrícolas (136) (58: 35 - 36), apesar de, no início do século XX

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(décadas 20 e 30) se terem desenvolvido algumas tentativas para a introdução de novos meios e ferramentas. Por exemplo, com a supervisão das instâncias da Administração, ocorreram ensaios para a utilização de charruas, adaptadas para o trabalho nas terras pouco férteis e delgadas das montanhas (41) (63:2) (64: 5) (147: 117 - 120) (156: 408) Os timorenses desconheciam o arado, desconheciam a tracção animal e não usavam adubos químicos tendo em paralelo um vago interesse em estrumes. As mondas, quando praticadas, eram muito sumárias, não se praticavam sachas, nem conheciam a poda e o enxerto (156: 397) (60: 17) (64: 4 - 9)

Em regra não se praticava o armazenamento dos produtos agrícolas: cada timorense semeava o que julgava bastar-lhe para o ano em curso; se sobrava, vendia-se; se faltava, recorria-se a certas folhas, frutos e raizes de vegetação espontânea do conhecimento da sabedoria tradicional. (156: 399)

À época, as culturas dominantes da agricultura de subsistência eram, o milho (considerado o alimento-base dos indígenas) e o arroz, com baixas produções por unidade de superfície (que preenchiam, com dificuldade, a dieta dos timorenses) e de má qualidade53 (39) (64: 4 - 5) (46: 43) (102: 1) (156). O arroz era produzido tanto em sequeiro como em regadio, mas não era considerado como produto regular da dieta timorense (99: 71) (214), sendo que a cultura do milho predominava sobre a cultura do arroz, ao contrário do que sucedia em todo o sudoeste asiático (156: 413). As razões para esta situação, Thomaz atribuia-as à relativa secura do clima e ao mau aproveitamento das planícies irrigáveis do território (156: 413)

O desenvolvimento da agricultura em Timor era grandemente condicionado pelo carácter rugoso do território, que era caracterizado por grande incidência da erosão. Assim, consideravam-se como, as principais causas da erosão, em Timor (101: 1-12) (147: 293):

53 De acordo com Thomaz, 1974, as produções de milho eram 300 kg/ha em zonas montanhosas e 800 kg

nas planícies. Quanto ao arroz a produção média era em média 1000 kg/ha, no máximo 1500 kg/ha. (156: 413-414)

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1. As condições topográficas marcadas por ásperas colinas e montanhas, determinantes de um declive médio elevado na maior parte da ilha (pelo menos em 80% da área). Um esboço das condições topográficas, atendendo à geomorfologia, caracteriza o território da seguinte forma:

Quadro 0-I:Condições topográficas do território

Percentagem relativa à área total do território54

Declive-médio

Aluviões litorais e interiores 12% 0 - 5%

Planaltos de Baucau e Fuiloro 4% 0 - 5%

Formações geológicas várias 41 % > 10%

43% > 20%

Fonte: (101: 3)

2. As altas quedas pluviométricas e a intensidade que as caracteriza, admitindo-se que em cerca de 65% do território e princípalmente nas regiões montanhosas chove anualmente 1500 a 2000 mm, ou mais;

3. A destruição da cobertura vegetal que conduzia à nudez das encostas, agravada nas bacias de recepção, provocando um rápido afluxo das águas às ribeiras que se transformam em torrentes destruidoras;

4. A agricultura itinerante e a queimada que a acompanhava nas encostas com declive excessivo, com a consequente destruição da cobertura vegetal, conduzindo à nudez das encostas;

5. O elevado grau de erodibilidade de alguns solos;

6. A perda de fertilidade destes solos acompanhada pela infestação por gramíneas, dificultando a regeneração das espécies;

7. O facto de algumas das plantas cultivadas (essencialmente milho, feijão e mandioca) fornecerem reduzida protecção ao solo;

8. O excessivo encabeçamento do gado em algumas áreas, originando: ravinamento nas suas passagens habituais, o sobre-pastoreio e a intensificação do uso das queimadas como forma de revitalização das pastagens através do aproveitamento dos rebentos das gramíneas;

54 Relativa a uma área total de cerca de 18.899 Km2 (que inclui a parte oriental da ilha, o enclave do

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9. As fracas ou praticamente nulas técnicas de conservação dos solos em locais onde eram necessárias. Excluiam-se, como é natural, as várzeas onde se efectua a cultura de arroz em regadio.

Segundo Metzner existiam dois tipos de agricultura itinerante em Timor: a fila rai e a

lere rai. A estas acresce a agricultura de regadio, praticada nas várzeas de arroz (natar),

que era efectuada por uma pequena parte dos timorenses, já que implicava a existência de planícies inundáveis que rareavam na ilha. A diferença entre os tipos itinerantes reside no facto de a primeira ser um sistema mais antigo (menos evoluído) que intercala a rotação das culturas, com períodos de pousio de dimensão variada, usada em solos recentemente desflorestados que não necessitavam de matéria orgânica, enquanto a segunda resulta do aumento da pressão populacional que levava a agricultura a adaptar como técnica uma espécie de lavoura do solo, envolvendo no geral seis a oito pessoas que trabalhando lado a lado e usando instrumentos incipientes como ferramentas para o trabalho do solo. Este último tipo de agricultura só era feito, como se disse, devido a uma maior pressão humana (147: 121) (123).

Já Thomaz adoptava outra nomenclatura para a caracterização da agricultura timorense tradicional: a agricultura sobre queimada (também designada por ladang), extensiva, quase itinerante, com longos pousios (que podem atingir dez anos ou mais), sempre em regime de sequeiro e a cultura de arroz em várzeas irrigadas (o sawah malaio), feita de forma fixa e intensiva (156: 396).

A estas duas formas tradicionais de agricultura, havia que juntar a agricultura “das grandes plantações” de origem europeia, que predominava nas zonas cafeícolas. (156: 397).

Quadro 0-II: Mapa de uso de solo, 1963

Tipo de uso Área estimada

(km2)

Percentagem em relação ao total

Terrenos agricultáveis 1266 6,7

Zona de matos e de cafeicultura 378 2,0

(17)

Mangal 6 0,03

Floresta primária 265 1,4

Floresta secundária 15.207 80,5

Zona pastagem natural 378 2

Área não agricultável 1399 7,4

Total 18.899 100

Fonte: Adaptado a partir de (73: 446)

Do ponto de vista agrícola, a ex-província de Timor era dividida em 3 regiões (99: 63 - 64) (104: 1 - 8) (110: 93) (73):

O Norte e o Leste, onde pontuavam manchas de floresta pouco densa;

A região montanhosa central, com encostas escarpadas, divididas por afloramentos rochosos e floresta esparsa ocasional;

Os planaltos da secção central da costa Sul;

A primeira região estende-se desde o litoral Norte até à cota de 600 metros. É uma zona pouco plana, com temperaturas médias anuais geralmente superiores a 24º C, de fraca precipitação55, com um período seco bastante pronunciado (cinco meses). Pode ser classificada como a menos apropriada para a agricultura, se exceptuarmos o arroz, que pode ser produzido nas zonas adjacentes ao leito dos rios principais da zona Norte. Com irrigação adequada, estas terras podiam produzir, arroz, açúcar e provavelmente algodão (99: 63).

A segunda região está compreendida entre o Norte e o Sul, acima das cotas de 600 metros, com uma temperatura média anual do ar inferior a 24º C, com elevada precipitação56 e com um período seco de quatro meses. É uma zona bastante montanhosa, de gargantas tortuosas, com encostas medianamente cobertas de vegetação e onde se podem encontrar dispersas algumas manchas contínuas de floresta. Existe, por exemplo, um grande número de exemplares de “madres del café” (Albizzia spp.), visto ser muito usada como árvore de ensombramento para o café. (99:63)

55 Valor médio anual de precipitação compreendido entre os 600 e os 1500 mm.

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Na vizinhança de Ermera, cerne desta zona, existem solos com razoável aptidão agrícola. Estes eram adequados para o café, cacau e borracha57 (Hevea brasiliensis L.). A flora nesta zona é mais rica que noutros locais, fruto da maior abundância de água que rega esta zona (99:63).

Nesta região, ocorre, entre outras culturas alimentares, o cultivo de milho, com produções que dificilmente se consideravam sufícientes para as necessidades das populações locais (99:64).

A terceira região estende-se desde o litoral sul até à cota de 600 metros, com planícies de grande extensão, expostas à monção australiana, muito chuvosa58, com um período seco de três meses e temperaturas médias anuais superiores a 24º C. A vegetação das encostas e das planícies é mais abundante e variada, sendo que a zona das planícies situada entre a base da zona montanhosa e o mar é na generalidade moderadamente florestada, contendo poucas espécies florestais de valor económico, mas com extensas zonas de pasto e com terrenos com maior grau de fertilidade. A zona é considerada como tendo grande parte das terras adaptáveis para o desenvolvimento agrícola do território, sendo apelidada de “celeiro de Timor” (99: 64).

Esta variedade de climas e de orografia permitia a Timor poder produzir uma grande gama de culturas agrícolas, que nunca foram sufientemente exploradas considerando-se que necessitava este sector de um tratamento de choque princípalmente nos aproveitamentos de regadio tradicionais já existentes (156: 387) (155:26).

57 Como à frente veremos, muitos destes terrenos, de boa qualidade, foram detidos por duas das empresas

privadas mais importantes de Timor: a SAPT e a Companhia de Timor (99: 64) enquanto as encostas e os vales mais favoráveis eram utilizados pelos nativos para as suas pequenas plantações de café, não execedendo 1 a 2 hectares de dimensão.

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2.1.1.2 Sector Pecuário

No caso específico da produção pecuária observou-se sempre, no decorrer do século XX, a existência de quantidades apreciáveis de efectivos, sendo que a grande maioria dos mesmos sempre esteve nas mãos da população timorense que lhes atribuia basicamente funções de acumulação de riqueza. Genericamente, pode afirmar-se que não existia exploração pecuária (181: 58).

No pós-guerra, o gado existente era essencialmente bovino (pertencia 99% do total à raça balinesa Bibas bauteng Raffl59 (= sondaicus Mull)), bufalino (representava o maior agrupamento do conjunto pecuário timorense, sendo inclusivamente utilizado para a lavoura nas várzeas de arroz, devido à sua rusticidade e potência), cavalar, caprino, ovino, suíno, e aves de capoeira.

Todo este gado era genericamente criado num sistema livre (regime aberto de pastagem, por vezes, quase selvagem) sem controlo na grande maioria do tempo, sendo frequente encontrar os animais em mau estado sanitário. Aos olhos de sistemas mais produtivos era, sobretudo, uma riqueza imobilizada e de baixo rendimento económico (39: 56 - 66) (41: 70 – 71; 85) (56: 47 - 48) (69) (117: 16-162) (147: 140; 277).

O armentio foi genericamente crescendo ao longo do século XX, somente com inversões notórias no período da 2ª Grande Guerra mundial, em que sofreu um decréscimo de quase 50%. Em 1950, numa tentativa de inverter a tendência até então registada, iníciou-se um programa de melhoramento animal, tendo parte do gado ficado entregue aos serviços oficiais e outra parte entregue a colonos.

Importaram-se reprodutores (essencialmente bovinos e ovinos) de Angola, Moçambique e de Portugal continental. Especial referência a um núcleo de ovelhas importadas da Austrália e 3 exemplares da raça ovina “Merino” da Fonte Boa, com os quais se estabeleceu a tentativa de criação de ovinos na colónia com acentuada vocação langífera. De Moçambique, foi importado o gado bovino (a raça característica da zona a Sul do Rio Save), considerado de características superiores ao utilizado pelos

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timorenses. Parte significativa destes animais foi entregue a colonos: há registo da entrega de 150 animais (de gado bovino, bufalino, caprino, ovino e suíno) a colonos, e de 47 animais de gado bovino a agricultores timorenses (56: 47).

2.1.1.3 Sector Florestal

À excepção das várzeas do Norte e Sul do território, onde a agricultura é recomendável, todo o território de Timor apresenta características eminentemente florestais, facto que deveria ser levado em conta na assumpção de qualquer plano ligado à exploração agro-florestal do território. Timor revelou-se pela colheita de produtos florestais, entre os quais o próprio café deve ser incluido. (110: 2-5)

Em tempos passados, Timor terá estado coberto de floresta primária60, quase na íntegra, estando esta reduzida, nos anos pós-guerra, a pouco mais de 1% da área total do território, ocupando a floresta secundária61 (a que se adicionam áreas de savanas e pastagens) 99% do total da área florestal% (101: 8). A destruição da floresta primária conduziu a um grande aumento da floresta secundária e a formas de ecossistemas do tipo “savana”.

A defesa da floresta primária de Timor revelava-se, portanto, como uma das mais urgentes necessidades, calculando-se que a sua área, nos anos 60, rondasse apenas cerca de 21.000 ha62. A defesa das relíquias deste tipo de floresta, ainda existentes, era a primeira prioridade, antes mesmo de se promover o reflorestamento do território (110: 89).

O desaparecimento do coberto florestal derivou, essencialmente, de um longo processo de desflorestação, de práticas agrícolas erradas e de processos erosivos acelerados (43:

60 Floresta não alterada pela acção do Homem não tendo sido, por exemplo, objecto de qualquer

exploração.

61 Floresta já alterada pela acção do Homem. Por exemplo, tendo sofrido cortes de exploração ou a

alteração da sua composição inicial.

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157). Entre as práticas agrícolas erradas destaca-se a agricultura itinerante, associada ao fogo, à criação de gado e também aos cortes florestais.

Relativamente a estes, pode afirmar-se que a exploração florestal existente na ilha era desregrada e deixada à iniciativa particular (43: 157 - 158) (156: 397).

A exploração florestal característica de Timor mesmo no pós-guerra, limitava-se ao imediatismo do corte e do possível lucro inerente, sem haver uma lógica de longo prazo e de sustentabilidade da exploração.

As principais medidas de protecção florestal que foram efectuadas no decorrer do século XX, antes da ocupação japonesa, resumiam-se às efectuadas nas matas do Loré63 e de Tilomar, pelo facto de nelas existirem riqueza e diversidade florestal. Em 1924, o governo provincial assumiu a posse desses terrenos como propriedade do Estado, decretando-os como reserva. Pretendia-se estabelecer uma gestão destas áreas que permitisse controlar a exploração e a regeneração das espécies, longe no entanto, de qualquer orientação técnica adequada (44: 41) (47: 13-15).

Aparenta, no entanto, que esta atitude foi tomada, na sua essência, como uma medida que permitiu ao governo o controle e a obtenção de dividendos da exploração de áreas de um sector potencialmente produtivo que, na prática, nunca esteve nas suas mãos. Esta presunção ganha força a partir da análise dos fundamentos para o estabelecimento do Posto Silvícola do Loré (na mesma época da criação da reserva), que foi criado devido à falta de madeira na cidade de Díli, causada pelo esgotamento das manchas florestais de Manufai (Bétano), sendo que in loco estava associado a uma pequena unidade que permitia uma primeira transformação do material lenhoso (44: 41) (47: 15). No início da década de 50, a madeira com valor comercial estava confinada às reservas da Mata do Loré e de Tilomar, havendo registo de embarques periódicos para Díli ou Baucau, no caso da primeira, onde era utilizada preferencialmente para construção governamental e, em segundo plano, para a venda a privados.

Em termos de exploração florestal, registe-se ainda, na sequência do raciocínio desenvolvido anteriormente, que em Tilomar e no enclave do Oécusse, em 1966 e 1967,

63 “Toda a faixa do extremo leste de Timor que, desde a ponta de Tetuala, se alonga pelos contrafortes do

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foram feitos desbastes no arvoredo de sândalo (Santalum album L.) existente, num total de madeira superior a 50 toneladas e com um rendimento superior a 500 contos (99: 68) (124. 118).

Nos anos que se seguiram à guerra, o governo provincial procurou fomentar o desenvolvimento das plantações de coqueiro, procurando aproveitar para esta cultura as grandes extensões de terreno da orla marítima adequadas para este objectivo. Assim, a Sociedade Agrícola de Fomento estava a proceder à plantação de coqueiros em Viqueque, onde já tinha plantadas cerca de 12.000 plantas (em 1953) e que devia atingir as 50.000, em finais de 1957. A Sociedade Belo Horizonte (em Lospalos) e a Empresa Agrícola Algarve, na sua fazenda Esperança (Bazar-Tete), também estavam a plantar palmares, nos finais dos anos 50. (173 7) (185) (187: 79). No entanto, considerava-se que os coqueirais não eram correctamente conduzidos. Em regra, o proprietário limitava-se a deixar crescer os coqueiros e depois colher os frutos. O aspecto que apresentavam era, por isso, de abandono. (181: 58 e 70-71)

Acrescente-se que, em meados da década de 50, a Sociedade Agrícola de Fomento era a única entidade que se dedicava, em Timor, à agricultura mecanizada para o que dispunha de maquinaria moderna. Para além da plantação de coqueiros, esta empresa cultivava arroz e milho (173: 7) (176: 4-6) (184) (185) (186)

A Hevea brasiliensis foi introduzida na 1ª década do século XX, pela mão da SAPT que importou as sementes da ex-colónia inglesa dos Estados Malaios e que deram origem à plantação de Oileu (Hato-Lia) (46: 38) (51) (57: 12 -13) (132: 132) (136: 16). O desenvolvimento da produção de borracha foi lento, como à frente veremos e praticamente assente no sistema de grandes plantações, não tendo nunca assumido a importância potencial que a ela se atribuia.

Apesar da riqueza potencial da floresta de Timor e destas iniciativas de carácter mais ou menos despegado, no decurso da década de 50, não se efectuaram iniciativas de fundo para o fomento que dessem, por exemplo, um novo impulso ao sândalo, apesar de referido amiúde, como necessitando de fomento e rejuvenescimento (174: 5-12) (252: 21).

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2.1.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura

No início do século XX, o panorama da indústria a jusante do sector agro-pecuário era quase nulo, apesar de se afirmar a existência de condições de viabilidade para algumas unidades transformadoras, por exemplo, ao nível da pecuária (39: 60).

No âmbito deste sector, no início dos anos 20, existiam unidades artesanais que trabalhavam o café, o cacau, a cera, numa perspectiva de conservação dos produtos agrícolas, bem como a serração de madeiras, sendo que a madeira serrada era para consumo interno, princípalmente por parte do governo provincial (58: 6 e 35-36). No tempo do governador Filomeno da Câmara, após a implantação da Républica, foram adquiridos mecanismos para descasque do café e de arroz, fabrico de gelo, datando daí, os primeiros passos no sentido do desenvolvimento de um sector agro-industrial no território. Por essa época, o Estado financiou a construção de uma serração de madeira em Loré e, em 1923, é tentada em Díli, sem resultado prático, a farinação de trigo e milho. (220: 31)

Entretanto, a SAPT procede, também em Díli, à montagem de instalações para beneficiação dos seus produtos agrícolas, tendo também construído, nas suas plantações de borracha, uma fábrica para transformação de látex, a que posteriormente se juntou outra em Hatolia. Em Maubara, Liquiçá e Aileu, pouco tempo decorrido, surgem novas instalações de beneficiação de café, descasque de arroz e preparação de madeira, iniciando-se em 1924, o fabrico de sabões com o óleo de coco local. Estes esforços foram, no entanto, parados ou destruídos pelo eclodir do conflito da 2ª Grande Guerra em Timor. (220: 31)

Uma apreciação oficial australiana sobre o recenseamento populacional, relativo ao ano de 1948 e considerado não muito preciso, sugere que, embora não houvesse estatísticas sobre a divisão profissional no território, cerca de 10.000 timorenses prestavam serviços para a Administração e que 2700 trabalhavam para pequenas indústrias, como a produção de óleos vegetais e tratamento de sisal, na pesca e secagem de peixe ou em

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empresas como uma fábrica de sabão, seis cerâmicas e fábricas de tijolo, em serrações, numa carpintaria mecânica, em tecelagens indígenas ou na indústria do artesanato. Cerca de 2000 ou 3000 trabalhavam para a SAPT, quer nas plantações quer nas unidades de processamento de café, cacau e borracha. Para além da SAPT, cerca de oito outras plantações, empregavam cerca de 1000 timorenses (237: 274).

A partir dos anos 50, apareceram ou são reactivadas unidades de descasque de arroz, de preparação de café e de preparação de látex (associadas às grandes plantações) (104: 11) (113: 10) (124: 127-128) (126: 94).

Em termos globais, a prática que se verificava ao nível do processamento de produtos agrícolas, situava-se basicamente numa perspectiva de aplicação de tecnologias pós-colheita, que pretendiam assegurar a qualidade do produto agrícola, evitando a deterioração dos mesmos. Aplicavam-se, assim, técnicas pós-colheita com um nível de elaboração à altura do (baixo) desenvolvimento tecnológico existente em Timor, à maior parte dos produtos agrícolas de subsistência e também ao café (250) (251).

A indústria timorense era, globalmente , um sector muito restrito e sub-desenvolvido onde pontuava a ausência de capitais e de técnica. Em Baucau e Díli, existiam duas pequenas instalações para extracção de óleo, a partir da copra. Pequenas fábricas de sabão satisfaziam o mercado interno que, no que se refere a uma das fábricas, era considerada como tendo qualidade e apresentação. Refere-se ainda a existência de duas modestas unidades que fabricavam referigerantes. Em Óssu-Viqueque, fabricava-se manteiga e queijo de boa qualidade, mas em quantidade que não satisfazia as necessidades internas. Havia ainda cinco empresas de serração. (187: 80). Nos anos 60, dá-se o aparecimento de unidades de produção de cigarros e álcoois (104: 11) (113: 10) (124: 127-128) (126: 94) .

2.1.2 O aparecimento e desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação

Após o declínio das exportações de sândalo no final do século XIX, o café assume primeiro plano das exportações timorenses. Só após 1860 é que o café64 se torna uma

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grande cultura de exportação: representava somente cerca de 7% do valor total das exportações em 1858/60, mas mais de 53% em 1863/65. No final do século XIX já era afamado pela sua boa qualidade, atingindo um bom preço no mercado internacional. (57: 6 –7;14 -15) (110) (136). O cultivo do café estava, no início do seu desenvolvimento, confinado a áreas costeiras a Oeste de Díli (especialmente Maubara e Liquiçá) mas foi progredindo para o interior da ilha (área montanhosa), fruto da produção efectuada pelos timorenses que foi esmagadoramente dominante até ao final do século XIX.

Após 1890, o café era considerado como a fonte de riqueza de Timor, embora por volta do início do século XX, as exportações de café tivessem estagnado, fruto da ocorrência de um conjunto de situações: a baixa de preços a nível mundial; o surto da doença da “ferrugem alaranjada do cafeeiro”65, que dizimou os cafeeiros da região a Oeste de Díli, a partir de meados de 1890, e que particularmente afectou as plantas de café (Arábica) situados abaixo dos 1000 metros de altitude; e, finalmente, o surgimento de revoltas da população timorense que terá dificultado a exploração da cultura (57: 14 - 15) (58: 15) (72) (100: 4) (110: 37-49) (125: 127) (129: 200) (136).

Estima-se, no entanto, que a ferrugem alaranjada dos cafeeiros tenha sido o princípal responsável pelo abaixamento da produtividade do café, devendo ter originado quebras de 30 a 40%, para o que contribuiu, até ao final dos anos 20, o misto de amadorismo e incapacidade com que os Serviços Agrícolas locais a abordaram (110: 38).

Refira-se ainda que, relativamente a esta doença, só a “descoberta” da variedade de café que se designou por “Híbrido de Timor” e a sua grande difusão66 (em meados da década de 50), com a sua marcada resistência à referida doença, veio mitigar os seus efeitos, o que aliado a um apreciável potencial de produção no seu habitat natural, provocou um passo em frente da cafeicultura timorense (72) (100: 3-4) (147: 57).

65 Um grave problema fitopatológico provocado pela Hemileia vastatrix B & Br.. A doença aparece no

território por volta do final do século XIX (entre 1880 e 1890), após se ter registado o aparecimento na ilha de Samatra no ano de 1876, que permite inferir que Timor tenha sido atingido no final da década de 1880 (100: 4) (110:1)

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A introdução das variedades de café Libéria e Robusta, por volta de 1912, foi igualmente um passo importante para restringir os prejuizos atrás referidos, já que estas eram menos atacadas que a variedade acima referida (72) (100: 4) (110) (114: 57). A variedade Arábica foi progressivamente substituída pelas anteriormente referidas e, mais tarde, pelo “Híbrido de Timor”. O café Robusta revelava-se mais produtivo que o Arábica mas de inferior qualidade sendo introduzido em altitudes entre os 300 e os 500 metros. À época, esta variedade era muito utilizada em Java, onde a doença também se fazia sentir. (46: 34) (57: 17).

Em 1894 e 1908, com a governação de Celestino da Silva, materializa-se uma mudança marcante na gestão da província, segundo a qual os pequenos proprietários timorenses deveriam desenvolver trabalho mediantes as directivas definidas e impostas pelo Estado, tendo o café sido o cerne das suas atenções (148) (151). Neste período, assistiu-se à distribuição de centenas de milhares de plântulas. No entanto, o impacto destas medidas foi bem menor que o esperado já que as exportações de café caíram muito nesse período, fruto da doença já referida. Estimava-se que, em 1910, a área coberta pelas plantações de café fosse 1/20 da área total de Timor (58: 8), cerca de 945 km2, o que tendo em conta os valores à frente referidos de cerca de 22.000 ha no final da colonização portuguesa, aparenta ser exagerando e implicando que tivesse havido uma forte redução.

O governador Filomeno da Câmara teve igualmente acção importante na criação das estruturas agrícolas de governação e de fomento agrícola em Timor (151: 52-53). Assim, remonta a 1911, a criação provisória dos Serviços Agrícolas, Florestais e Pecuários de Timor (Repartição Central de Fomento Agrícola e Comercial)67, dois anos depois tornado definitivo com a designação de Repartição Central do Fomento

67 Criada pela Portaria Provincial nº 46, de 1911 e cujo regulamento foi posto em execução pela Portaria

Provincial nº 25, de 2 de Dezembro de 1911. Esta Repartição era detentora de um património fundiário assinalável: Granja Eduardo Marques (Liquiçá), Granja República (Manufai), Plantação de Remexio, Plantação de Hato-Lia (sugerida mais tarde para Posto Experimental da cultura de Hevea braziliensis), Posto Experimental de Edi, Posto Experimental de Malua, Várzea de Hare-Balibas e um hangar com máquinas. (48: 38)

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Agrícola, Florestal e Comercial da Província de Timor68. Em 1914, este governador regulamentou a actividade dos Serviços Agrícolas.

Estes Serviços foram posteriormente separados (1937) na sua componente agrícola/florestal da pecuária/veterinária mas nunca dispuseram de pessoal técnico e meios materiais para o desenvolvimento cabal das suas acções de estudo, experimentação e apoio ao desenvolvimento agrícola. Acresce, ainda, que durante largos períodos, os Serviços foram chefiados por responsáveis sem formação adequada ou então, dispondo somente de um agrónomo ou silvicultor, como chefes das respectivas repartições (46: 34) (97: 1-2) (135: 129). Até aos anos 60, estes Serviços vão desenvolver, de forma pontual e por vezes incorrecta, por falta de bases técnicas, pequenas experiências: ocorreu o estabelecimento de viveiros (especialmente de café), introduziram diferentes tipos de gado e maquinaria, desbravaram terrenos e criaram granjas (135: 132).

Após o interregno ocorrido no decurso da 2ª Grande Guerra, a exportação de café voltou a crescer passando a barreira das 2000 toneladas, na década de 1960 (100: 24). Neste período pós-guerra, em iniciativas tendentes a alterar a linha de desenvolvimento agrícola, deu-se ênfase a uma intensificação da produção ao invés da sua extensificação: era preciso era melhorar a produção primitiva em vez de expandir a cultura a qualquer preço e para qualquer zona. (46: 37)

Como se referiu atrás, a madeira de sândalo foi, a par do café, a grande exportação da colónia, até à 1ª Grande Guerra, tendo sido objecto de sobrexploração(110: 5). Apesar de todas as proibições exaradas pela autoridades no início do século, as plantas de sândalo, que tinham coberto as encostas baixas da costa Norte no século XVI, tinham quase desaparecido por 1920. Depois de 1920, o sândalo nunca ultrapassou 10% do valor das exportações da colónia e desapareceu das estatísticas depois de 1939, fruto da proibição das exportações no ano de 192569 (110: 28) (143: 45-46) (252).

68 Criada pelo Decreto nº 222 de 17 de Novembro de 1913 e cujo regulamento foi publicado através da

Portaria Provincial nº 252 de 1914. (48: 31)

69 A proibição de corte e exportação de sândalo (pau ou raiz) extensivo a toda o território, é publicado pelo

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A copra assumiu a segunda posição na lista de produtos exportados por Timor, no período pós-guerra. As primeiras referências a esta cultura datam de 1910. Estimava-se que existissem mais de 1.000.000 coqueiros na colónia, havendo referência à instalação de coqueirais na zona de Viqueque70, Lautém e Baucau, as quais transformaram a paisagem de algumas destas regiões (57: 6- 7, 20) (147: 225). A copra complementava geograficamente a cultura do café, já que os coqueiros cresciam na parte árida do território (a ocidental) e nas costas baixas, onde o café não vingava e era a princípal riqueza económica do leste do território (136) (147: 225).

Relevam-se ainda dois outros produtos que desempenharam algum papel nas exportações portuguesas de Timor durante o período pós-guerra: a cera e a borracha. O desenvolvimento da produção de borracha, nos anos entre as duas grandes guerras, foi lento e hesitante, com uma produção em torno das 50 toneladas nos últimos anos da década de 2071, muito embora houvesse quem a considerasse como uma cultura de futuro em Timor (99: 75) (148: 22). Fruto das acções desenvolvidas ainda antes da 2ª Grande Guerra, a produção de borracha aumentou no decurso da década de 50, após declínio da produção, no decorrer do período de ocupação de Timor72. Em 1955, embora com menos de um décimo das árvores em produção, exportava-se 240 toneladas. Esta cultura era totalmente de fomento europeu, desenvolvida em Hatolia, Viqueque e outras regiões mais planas da costa Sul, salvo na região de Lacluta onde os timorenses produziam algumas toneladas de borracha. (173: 11) (187: 79)

70 Esta zona com cerca de 311.000 coqueiros em 1908.

71 Em 1925, a SAPT possuia alguns milhares de pés de Hevea sp. em idade de produção, com mais de 10

anos (129: 210)

72 Um autor refere que as tropas inglesas e holandesas que participaram na invasão de Timor compraram

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2.1.3 A fundação e o desenvolvimento do sistema de plantações: situação pós-2ª Grande Guerra Mundial

Remontam aos inícios do século XIX, as primeiras acções para a constituição de plantações, tendo os governantes provínciais, à época, exortado os cidadãos portugueses da colónia a desenvolverem as suas próprias plantações (110: 29). No decorrer do século XIX, houve ainda, algumas, tentativas para o seu desenvolvimento mas, a falta de terra e a insegurança foram provavelmente os mais graves constrangimentos para o êxito desta acção.

Foi Celestino da Silva que criou as bases de um sistema de plantações em Timor, após 1894. Acreditando na superioridade deste sistema sobre o desenvolvido pelos pequenos timorenses, concentrou esforços para o desenvolver em torno da zona de Ermera (57: 15). Terá sido através de medidas coercivas que retirou da posse de timorenses algumas dessas terras, inclusivamente já plantadas (57: 16) (136: 20) (144: 9, 11-12) (146), especialmente em Ermera onde a pacificação social que então ocorreu, permitiu o estabelecimento do sistema de plantações e a exploração de terras com maior aptidão agrícola.

A mais importante e duradoura das plantações criadas, na qual Celestino da Silva tinha participação, foi a SAPT que se tornou, com o tempo um poder emegente no território73 (145: 40) (237: 220-259). Foi fundada em 1897, pelo governador anteriormente referido e mais três outros proprietários rurais e convertida numa sociedade por quotas em 1908 (60: 16) (110: 34). Em 1911, suponha-se que a a SAPT possuisse um milhão de pés de café, com uma produção média anual (referente a 1906-1914), em torno das 50 toneladas (57: 16 - 17) (136). Algumas fontes referem que, nos finais de 1920, a SAPT detinha vários milhares de hectares de terra, ainda que no início de 1909 só se contabilizasse cerca de 2000 hectares74 (57: 19) (148: 22). Por esta altura (anos 20),

73 Clarence-Smith descreve-a com um Estado dentro de um Estado

74 As plantações de Fatu Bessi (considerada a mais importante, com cerca de 700 hectares, estava situada a

cerca de 1000 metros de altitude, com coberto florestal importante e Oileu (com 500 hectares, a cultura do cacau era a mais importante e a cafeicultura secundária) situavam-se em Hato-Lia. Existia ainda a plantação de Pahata (com uma área de 800 hectares, ainda muito inexplorada) em Liquiçá.

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estimava-se que produzisse cerca de 200 toneladas/ano de café e que comprasse mais 100 a pequenos produtores. Referia-se, ainda, esta companhia, como a única produtora de borracha, no território para além de cacau com uma produção anual de cerca de 50 toneladas (48: 33) (86: 243). A SAPT procedeu ainda à distribuição de sementes de árvores de borracha e à contratação de técnicos chineses que dirigiram, numa 1ª fase, a cultura e a transformação do látex colhido em Timor (46: 38-39).

O processo de avaliação da evolução do património fundiário gerido por esta empresa, ao longo do século XX, não é linear. Poucos mais dados se encontram, que referências numéricas em diferentes períodos. A forma como a SAPT se tornava detentora e/ou gestora de propriedades encontra-se pouco esclarecida, já que, no final da década de 20, referia-se que esta instituição era detentora de uma plantação de cacau na granja “Eduardo Marques”, propriedade que, supostamente, 10 anos antes estava sob gestão da Repartição Comercial e Agrícola de Timor (57: 24) (58: 15) (86: 243).

A SAPT tinha-se igualmente tornado um dos grandes comerciantes da província, mitigando o domínio chinês do sector (148: 22, 26, 76-77). A maior parte do café Arábica, colocado na Europa, em 1936, era então exportado pela SAPT (46: 37).

A outra grande companhia criada nestes anos foi a Companhia de Timor. A data da sua fundação não é clara, mas foi registada em Portugal no ano de 1904. O desempenho agrícola desta empresa foi bastante menor que o da SAPT. Os proprietários desta empresa eram abastados investidores residentes em Lisboa, e que detinham grandes propriedades em São Tomé e Principe (99: 70) (136: 21) (148: 76). Em 1907, são atribuídos à Companhia de Timor cerca de 7000 hectares (oito plantações todas em Ermera75), embora no total só possuisse 500 hectares plantados (57: 19-20) (125: 132) (136: 21). A análise relativamente ao número e forma de aquisição do património fundiário para a SAPT, aplica-se de igual forma à Companhia de Timor, já que se refere que no final da década de 20, a Companhia de Timor detinha propriedades nas zonas de Same, Atsabe, Hato-Lia e Viqueque (57: 24) (58: 15) (86: 243).

(31)

Embora se declarasse a existência de cerca de 400 a 500 mil pés de café, um relatório oficial de 1912 credita a esta empresa somente 28.000 pés e comenta a falta de empenho no tratamento dos cafezais nesta região, configurando-se mesmo uma situação de negligência (151: 189-190). Em 1907, esta empresa detinha ainda cerca de 21.700 pés de cacau na zona de Ermera (58:8)

Provavelmente, foi a esperança no desenvolvimento da cultura do cacau que motivou os financiadores da Companhia de Timor a investir na colónia. Introduzida no início de 1900, a cultura do cacau atingia menos de 1000 hectares em 1910, tendo a produção atingido um pico de 68 toneladas em 1919 e depois declinado (58: 8). Após a 1ª Grande Guerra, a Companhia de Timor reduziu a sua actividade, sendo objecto de críticas por deixar a maioria das suas propriedades não cultivadas (136: 20, 76) (151: 189-190). Nas décadas de 20 e 30, referenciava-se a SAPT, nomeadamente as suas propriedades na zona de Ermera, como a única em que a cultura do cacau tinha valor comercial, embora baixo (46: 39) (148: 33). No entanto, em 1943, ainda se constatava a existência de produção na Empresa Agrícola Perseverança. Globalmente, quatro décadas após a sua introdução, punha-se, em causa, o grau de conhecimento relativamente à adaptabilidade desta cultura a Timor, havendo quem refira que ela nunca saiu de um estado experimental (46: 39) (129: 210) (147: 235).

Existiam, no período anterior à 2ª Grande Guerra, mais quatro companhias activas, para além da SAPT e da Companhia de Timor. A mais importante delas era a Sociedade Comercial Agrícola e Industrial de Timor, detida por uma empresa de comércio portuguesa (Casa Quintas). As outras três eram a Empresa Agrícola Perseverança76, Empresa Agrícola de Timor77 e a Sociedade Agrícola de Timor. De todas elas pouco se sabe (57: 17-19).

Com a retoma da governação portuguesa retomam-se os seus objectivos do pré-guerra. O desenvolvimento económico do pós-guerra, nomeadamente inerente às culturas de

76 Detinha uma plantação em Lebomeu (Hato-Lia), com 1700 hectares, cuja princípal cultura era o cacau.

No entanto, em 1907, uma outra referência acrescenta que a empresa detinha 11.000 pés em três plantações.

(32)

exportação e à melhoria das infraestruturas, em conjunto com aumentos de investimento estrangeiro, possibilitaria o desenvolvimento do território, se o capital acumulado do comércio e venda nas empresas portuguesas SAPT e SOTA (Sociedade Oriental de Transportes e Armazenagem), pudesse ser difundido no sector agrícola doméstico (151: 18-19) (156: 416) (237: 280).

Para além da SAPT e da Companhia de Timor, as outras companhias foram desaparecendo dos registos, algumas provavelmente absorvidas pela primeira. A SAPT, a Empresa Perserverança e a Empresa Agrícola de Timor estavam, no início da década de 40, nas mãos de três entidades; a família Montalvão e Silva, a Nanyo Kaisha78 e o BNU. Infere-se que as duas últimas empresas foram progressivamente absorvidas pela SAPT, de maior tamanho e dinâmica (60: 17). A SAPT, no entanto, entrou em período de dificuldades económicas, nos finais da década de 30. O BNU, entretanto estabelecido em Timor, entra como parceiro para a empresa, adquiririndo cerca de 48% das participações, que aliás manteve até 1975 (136: 24) (148: 77). Esta informação está, no entanto, em contradição com outras referências que apontava para que no pós-guerra, a comparticipação do Estado na SAPT era de 40% e o restante pertencia a família Montalvão e Silva (52%) e o BNU (8%). (156: 416) (237: 280)

Timor sai da 2ª Grande Guerra com uma situação económica difícil e a máquina produtiva das plantações é activada, num período de subida de preços no mercado mundial. A herança da guerra, tanto no aspecto humano como material, foi sem dúvida pesada, durante as primeiras tentativas de recuperação económica (237: 267). Nesta época, a desproporção entre o valor das importações e o das exportações é grande. A diminuta indústria colonial encontrava-se de rastos. Consequentemente, é necessário fazer para o território todo o tipo de importações que as diminutas exportações (café, copra e borracha) não cobrem (53: 157). A agricultura desenvolvida em Timor, em 1945, resumia-se a duas formas: a desenvolvida pelos timorenses e a das plantações onde predomina a SAPT (48: 33).

78 Uma empresa de origem japonesa que com a sua entrada para o capital da SAPT, tornou esta empresa

numa empresa de capitais mistos entre Portugal e Japão, fruto do interesse que este país tinha por aquele território. Estabeleceram-se, inclusive, os principios para se efectuarem ligações aéreas regulares entre Timor e o Japão. Um consulado japonês tinha sido inclusivemente aberto em Díli, em Outubro de 1941. (23: 226-227)

(33)

No entanto, o papel de pequenos produtores rurais, sobretudo no que respeita ao café, retoma a sua importância capital da forma como já havia acontecido no período anterior à guerra. Estas iniciativas individuais de produção, em contraponto às grandes plantações, embora de baixa produção, eram de grande potencial para a produção de café em Timor no período do pés-guerra (237: 274). De acordo com Clarence-Smith, ocorriam, inclusivamente, pequenos proprietários que tinham produções unitárias maiores que as das plantações, muito embora haja também referências ao estado de abandono das plantações dos timorenses (99: 63-64) (136). No caso da Fazenda Algarve, menciona ainda que se assistia à adopção de métodos de cultivo do café usados pelos nativos, relevando que as plantações não introduziam inovações técnicas (110: 52 -53, 108).

O processo de controlo da economia das plantações foi longo e moroso, sendo que, pelo início da século, o sândalo, a cera e a copra eram praticamente monopolizados por pequenos proprietários enquanto que a borracha e o cacau eram essencialmente de culturas das plantações, mas com pouca expressão (136: 23). Relativamente ao café, as plantações europeias foram crescendo e dominando o sector, tendo no final da década de 1920 uma fatia de 15%. (148: 117)

Nos finais da década de 50 não eram muitos os produtos agrícolas que devam aqui ser referidos. O cacau só é produzido na SAPT, não chegando às 10 toneladas anuais. Ocorriam ainda produções residuais (também inferiores a 10 toneladas anuais) de baunilha, canela e chá (187: 79-80)

Excluindo a SAPT, as companhias que surgem nas referência bibliográficas deste período são novas (Fazenda Algarve, Sociedade Belo Horizonte, SOTA) (93) (110: 98, 112) (150: 12, 47). A Companhia de Timor foi sido absorvida pela SAPT, aparentemente no final dos anos 40 (99: 70) (110) (156: 46) (237: 280).

(34)

A cultura do algodão79, palmeira do dendém, tabaco80, sisal81, quina, amendoim82, sumaúma83, cana-do-açúcar84, e caneleira85, apesar de uma adequação climática ao terreno nunca foram objecto de experimentação, divulgação e fomento, dignas de relevo, quer junto das grandes plantações quer junto dos pequenos agricultores timorenses (46) (57) (99).

2.2 Os esforços desenvolvidos nas décadas de 50 e 60

2.2.1 A Agricultura de subsistência

2.2.1.1 Sector Agrícola

Embora a reconstrução no período imediato ao fim da guerra se tenha processado com determinação, pelo menos nas medidas tendentes a mitigar a fome, as mudanças nos vários sectores da economia no período de 1953 a 1962 indicaram uma “falta de seriedade” por parte do governo colonial na aplicação dos Planos de Fomento. Gunn considera que o governo local presidia a uma economia de muito baixa produtividade em que o conceito de desenvolvimento era restrito e com baixos níveis de técnica e de responsabilização. (237: 275)

79A cultura aparecia espalhada pelo território, dando matéria-prima para as tecelagens artesanais. Os

ensaios culturais efectuados em Viqueque, no ano de 1937, revelaram-se não muito prometedores, tendo em vista um maior aproveitamento da cultura. Muito embora estes resultados, é amiúde referenciada como cultura de futuro. (46: 42) (57: 12-13) (99:73)

80 No caso desta cultura, a questão do fomento parecia óbvia porque havia escoamento in loco de toda a

produção, devendo apostar-se na cultura e indústria a jusante. As plantas de tabaco apareciam naturalmente por todo o território e eram objecto de cultivo por parte dos timorenses, com baixas produções. (46: 41) (57: 12- 13) (49: 70-72)

81 Considerava-se quase espontâneo em Timor, era cultivado um pouco por todo o território sendo

contraditórias as opiniões àcerca da viabilidade económica da sua exploração (46: 42) (67: 25) (99: 71)

82 Considerado muito apropriado para Timor (46: 48-50) (57: 12-13)

83 A sumaúma ou painheira (Eriodendron anfractuosum) era considerada espontânea em Timor, vegetando

por toda a parte (57: 12-13)

84 Embora encontrando-se dispersa pelo território, só existia uma plantação tida como racional (57: 12-13)

(35)

Na decorrer da década de 60, surge em Timor uma entidade (a MEAU) que vai contribuir para o aumento da capacidade de intervenção técnica agrícola em Timor. Assim, esta entidade passa a contribuir através da produção de orientações técnicas para o desenvolvimento agrícola e, por exemplo, de forma a controla o problema da erosão, a MEAU recomendava vivamente a (101: 15-16):

1. Protecção do coberto vegetal, e em particular da floresta, com a constituição de reservas florestais, determinação e classificação dos perímetros de repovoamento florestal86, estudo detalhado das espécies florestais com possível importância na economia da ilha;

2. Regulamentação do uso da queimada (considerada o mais complexo problema a resolver, pela sua importância na agrícultura indígena). A sua proibição devia ser definida, sempre que pudessem atingir as reservas ou perímetros a definir. A sua realização deveria ser condicionada aos perigos que daí podiam advir para a floresta ou outros, por exemplo, bem como à época mais propícia para se efectuar;

3. Delimitação das áreas para a prática da agricultura;

4. Delimitação e controle das áreas de pastagem, fomentando em simultâneo o desenvolvimento da pecuária (em qualidade mais do que em quantidade);

5. Tentativa de maior independência da agricultura relativamente ao clima, através de um melhor aproveitamento das reservas hídricas naturais e das águas das chuvas; 6. Em último lugar, sem que tal lhe diminua a importância, a promoção de acções de

educação ambiental das populações timorenses, iniciada na escola primária, no culto da defesa do solo e da árvore.

Um dos aspectos mais característicos do cultivo das terras no território, era que os terrenos com vocação agrícola (planícies e terrenos pouco declivosos), estavam mal aproveitados e incultos (107: 107)

Após anos em que a agricultura fora pensada de forma pouco organizada e sistematizada e tecnicamente pouco válida, surgia uma entidade que embora virada para

86 As quais devem atender em princípio aos factores limitantes da utilização agrícola - declive,

Referências

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