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Universidade do Porto Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

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Academic year: 2021

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MESTRADO PSICOLOGIA

A qualidade de vida e o estresse percebido em

crianças de risco ou vulnerabilidade durante

a pandemia: o papel protetor de uma

intervenção de parentalidade positiva

Emanuella Araújo

M

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Universidade do Porto

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

A QUALIDADE DE VIDA E O ESTRESSE PERCEBIDO EM CRIANÇAS DE RISCO OU VULNERABILIDADE DURANTE A PANDEMIA: O PAPEL PROTETOR DE

UMA INTERVENÇÃO DE PARENTALIDADE POSITIVA

Emanuella Barbosa Araújo

Julho 2021

Dissertação apresentada no Mestrado em Temas de Psicologia, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade

do Porto, orientada pela Professora Doutora Isabel Abreu-Lima e pela Doutora Ana Catarina Canário (FPCEUP).

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AVISOS LEGAIS

O conteúdo desta dissertação reflete as perspetivas, o trabalho e as interpretações do autor no momento da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto conceptuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com cautela.

Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma é resultante do seu próprio trabalho, contém contributos originais e são reconhecidas todas as fontes utilizadas, encontrando-se tais fontes devidamente citadas no corpo do texto e identificadas na secção de referências. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.

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O presente estudo é parte integrante do projeto de investigação “Sucesso da reunificação familiar após a institucionalização da criança: Avaliação da eficácia de uma intervenção de parentalidadé positivá (REUNIRmais)”,́ coordenadó pelá Doutorá Aná Catariná Mirandá Canário e pela Prof. Doutora Orlada Maria da Silva Rodrigues da Cruz, promovido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), e financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/SOC-ASO/31727/2017).

Como colaboradora deste projeto de investigação, durante os anos letivos 2020/2021, tive a oportunidade de colaborar na entrada de dados. O presente estudo constitui uma análise preliminar dos dados quantitativos recolhidos no projeto, com a finalidade de avaliar a qualidade de vida e o stress percebido durante o período de pandemia de COVID-19, numa amostra de famílias seguidas pelas Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) do distrito do Porto com medida aplicada de apoio junto aos pais, recrutadas para participar no projeto REUNIRmais entre outubro de 2019 e março de 2021, avaliando o efeito protetor da intervenção Standard Triplo P.

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Agradecimentos

Este trabalho é a materialização de um sonho. Conhecer de perto a realidade de um outro País, seu método de ensino e principalmente a sua atuação profissional no fazer psicologia era uma curiosidade que inquietava meu ser. E graças a este mestrado pude perceber, a dinâmica de vários profissionais, como também participar de um amplo projeto de pesquisa, o REUNIRmais. Assim, agregar ao meu currículo profissional uma experiência transcultural.

Porém, estudar fora de seu País de origem, longe de sua família e vivenciando uma pandemia foi longe ser uma tarefa fácil. Por muitas vezes pensei em desistir e retornar a minha zona de conforto antes do tempo previsto. Mas, graças a muitos amigos, família e alguns professores foi possível concluir mais uma etapa da minha vida, talvez uma das mais difíceis.

Por isso, agradeço em especial a meu esposo Carlos Eduardo Souza Aragão que embarcou neste sonho junto comigo, sempre me apoiando e me incentivando a persistir nos momentos mais árduos.

Aos meus avós que sempre colaboraram com a minha educação, e, principalmente, me ensinado o valor dos estudos.

As minhas tias, Roberta Sarmento e Lúcia Sarmento que sempre me ajudaram a superar minhas dificuldades, escutando e me acalmando nos momentos de desespero.

Aos meus colegas e amigas de faculdade em especial, Ananda Stuart, sempre disponível a ajudar e esclarecer algo que estivesse ao seu alcance; Rosalina minha parceira nos trabalhos e Katarina Guerreiros minha parceira dentro e fora da faculdade.

Quanto aos professores agradeço a todos. Em especial, destaco a paciência e a dedicação da professora e Coorientadora Ana Catarina Canário que me acompanhou durante todo o curso, sempre disponível a esclarecer as dificuldades, exalando atributos além dos exigidos por sua profissão. Como também, dedico um agradecimento especial a minha Orientadora Isabel Pinto Abreu e Lima, a qual participou deste trabalho desde o início, com o papel de andaime na construção deste conhecimento.

Em memória, quero agradecer a minha mãe, Mônica Lúcia Sarmento Barbosa, que sempre me estimulou a não se acomodar e, principalmente, sempre acreditou em mim.

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Resumo

O presente estudo procurou investigar, dentro de um design quantitativo, sobre a qualidade de vida e o estresse percebido por famílias em risco e vulnerabilidade, durante o período da pandemia de COVID-19. E verificar se uma intervenção de parentalidade positiva poderá ter um papel protetor relativamente ao estresse, e estar associada a uma melhoria na perceção de qualidade de vida das crianças, dentro da perspectiva dos pais e das crianças.

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do projeto REUNIRmais, com famílias acompanhadas pelas CPCJ, em que algumas receberam a intervenção Standard Triplo P e outras a intervenção parental habitual. Foram divididos dois momentos de avaliação o pré-teste e o pós-teste, e para isso, os pais preencheram uma medida de autorrelato de estresse e uma medida de heterorrelato sobre a qualidade de vida das crianças. E as crianças preencheram duas medidas de autorrelato, correspondente ao estresse e a outra a qualidade de vida.

Participaram do estudo 107 famílias. Crianças com idades entre 6 e 11 anos e 55.7% destas, foram identificadas pelos pais, como apresentando problemas no comportamento. Os responsáveis, 90.7% eram as mães biológicas, com idades entre 22 e 59 anos e 51.9% estavam desempregadas. Foi identificado que em 40.2% das famílias, havia registro de reincidência na sinalização da CPCJ.

Os resultados mostram que os participantes avaliados pela primeira vez antes ou depois da pandemia não diferem ao nível das variáveis dependentes. Ao longo do tempo, entre M1 e M2 (tempo médio de 7.69 meses) verificou-se a diminuição significativa do stress percebido pelos pais e marginalmente significativa do stress psicológico percebido pelas crianças. O efeito da intervenção STP foi verificado na percepção de qualidade de vida das crianças, demonstrando um aumento de M1 para M2 nos níveis de qualidade de vida percebidos pelas crianças cujos pais receberam a intervenção.

No entanto a conclusão da investigação evidencia a necessidade de maiores pesquisas sobre o assunto, principalmente sobre o ponto de vista das crianças.

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Abstract

The present study sought to investigate, within a quantitative design, the quality of life and the stress perceived by families at risk and vulnerability during the period of the COVID-19 pandemic. And check whether a positive parenting intervention can have a protective role against stress, and be associated with an improvement in the perception of quality of life for children, from the perspective of parents and children.

The research was based within the scope of the REUNIRmais project, with families accompanied by the CPCJ, in which some received the Standard Triple P intervention and others the usual parental intervention. Two evaluation moments were divided, the pre-test and the post-test, and for that, the parents filled in a self-reported stress measure and a hetero-reported measure about the children's quality of life. And the children completed two self-report measures, corresponding to stress and the other to quality of life.

107 families participated in the study. Children aged between 6 and 11 years, and 55.7% of these, were identified by their parents as having behavioral problems. Of those responsible, 90.7% were biological mothers, aged between 22 and 59 years and 51.9% were unemployed. It was identified that in 40.2% of the families, there was a record of recurrence in the CPCJ signaling.

The results show that participants evaluated for the first time before or after the pandemic do not differ in terms of dependent variables. Over time, between M1 and M2 (mean time of 7.69 months) there was a significant decrease in stress perceived by parents and a marginally significant decrease in psychological stress perceived by children. The effect of the STP intervention was verified in the children's perception of quality of life, demonstrating an increase from M1 to M2 in the quality of life levels perceived by children whose parents received the intervention. However, the conclusion of the investigation highlights the need for further research on the subject, especially from the point of view of children.

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Resumé

La présente étude a cherché à étudier, dans un devis quantitatif, la qualité de vie et le stress perçus par les familles à risque et vulnérabilité pendant la période de la pandémie de COVID-19. Et vérifier si une intervention parentale positive peut avoir un rôle protecteur contre le stress, et être associée à une amélioration de la perception de la qualité de vie des enfants, du point de vue des parents et des enfants.

La recherche s'est inscrite dans le cadre du projet REUNIRmais, avec des familles suivies par leś serviceś dé protectioń dé l’enfancé (SPE), dont certaines ont bénéficié de l'intervention Standard Triple P et d'autres de l'intervention parentale habituelle. Deux moments d'évaluation ont été divisés, le pré-test et le post-test, et pour cela, les parents ont rempli une mesure de stress auto-rapportée et une mesure hétéro-rapportée sur la qualité de vie des enfants. Et les enfants ont rempli deux mesures d'auto-évaluation, correspondant au stress et l'autre à la qualité de vie.

107 familles ont participé à l'étude. Les enfants âgés de 6 à 11 ans, et 55.7 % d'entre eux, ont été identifiés par leurs parents comme ayant des problèmes de comportement. Parmi les responsables, 90.7 % étaient des mères biologiques, âgées de 22 à 59 ans et 51.9 % étaient au chômage. Il a été identifié que dans 40.2% des familles, il y avait un record de récidive dans le SPE.

Les résultats montrent que les participants évalués pour la première fois avant ou après la pandémie ne diffèrent pas en termes de variables dépendantes. Au fil du temps, entre M1 et M2 (durée moyenne de 7.69 mois), il y a eu une diminution significative du stress perçu par les parents et une diminution marginalement significative du stress psychologique perçu par les enfants. L'effet de l'intervention STP a été vérifié sur la perception de la qualité de vie des enfants, démontrant une augmentation de M1 à M2 des niveaux de qualité de vie perçus par les enfants dont les parents ont bénéficié de l'intervention.

Cependant, la conclusion de l'enquête souligne la nécessité de poursuivre les recherches sur le sujet, notamment du point de vue des enfants.

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Índice

Índide de figuras... x

Índice de tabelas... x

Introdução... 11

Capítulo I. Enquadramento Teórico 14 1. Famílias em situação de risco ou vulnerabilidade... 14

1.1.A situação em Portugal... 14

1.2.O modelo de atendimento da CPCJ... 14

1.3.Parentalidade em situação de risco e vulnerabilidade... 18

1.4.Intervenção com famílias em risco... 19

1.5.O impacto da pandemia de COVID-19... 20

2. Qualidade de Vida e estresse familiar... 21

3. Contexto de desenvolvimento do presente trabalho... 24

Capítulo II. Estudo Empírico 26 1. Método... 26

1.1.Participantes... 26

1.2.Instrumentos... 28

1.2.1. Questionário Sociodemográfico... 28

1.2.2. Kidscreen... 28

1.2.3. Maastricht University Stress Intrument for Childen (MUSIC)... 29

1.2.4. Escala de Stresse Percebido (PSS)... 29

1.3.Procedimento... 30

1.4.Plano Analítico... 31

Capítulo III. Resultado... 32

Capítulo IV. Discussão... 36

Conclusão... 38

Referências... 39

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Lista de abreviaturas AF - Agregado Familiar

CAFAP - Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental CDC - Convenção sobre os Direitos da Criança

CNPDPCJ - Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens CPCJ - Comissão de Proteção de Crianças e Jovens

DGS - Direção Geral Saúde

FPCEUP- Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto GC – Grupo Controle

GI – Grupo de Intervenção

IBE - Intervenção Baseada na Evidência

LPCJP - Lei de Proteção a Crianças e Jovens em Perigo M1 – Primeiro momento de avaliação

M2 – Segundo momento e avaliação

MUSIC - Maastricht University Stress Intrument for Childen MP – Ministério Público

PF – Preservação Familiar

PSS - Escala de Estresse Percebido (Perceived Stress Scale) QVRS – Qualidade de Vida com Relação a Saúde

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Índice de Figuras

Figura 1. Comunicação e Abertura do Processo na CPCJ... 17 Figura 2. Gráfico das categorias de perigo diagnosticadas pela CPCJ em 2019... 18 Figura 3. Gráfico com os resultados do efeito da intervenção na qualidade de vida

percebida pela criança ao longo do tempo... 36

Índice de Tabelas

Tabela 1. Caracterização dos Participantes... 28 Tabela 2. Comparação das variáveis dependentes do 1º momento de avaliação

-antes/durante a pandemia... 33 Tabela 3. Comparação das variáveis dependentes entre o 1º e o 2º momento de

avaliação... 34 Tabela 4. Comparação das variáveis dependentes entre M1 e M2, considerando o

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Introdução

A família é o primeiro espaço de convivência do ser humano. Referência fundamental para que a criança aprenda e incorpore valores éticos, e onde são experenciadas vivências afetivas, construídas as representações e projetadas as expectativas, além de exercer uma forte influência no desenvolvimento físico e mental em seus membros. Com tantas responsabilidades e ainda concorrendo com as adversidades da vida, com as características temperamentais das crianças e as limitações da pessoa (pai ou mãe), não é fácil exercer o papel parental positivamente. Promover um desenvolvimento humano harmonioso, com qualidade de vida e bem-estar pode ser uma das tarefas mais complexas da função familiar, principalmente, num panorama de pandemia.

No que concerne às crianças em risco ou em vulnerabilidade de Portugal, pode ser ainda mais difícil exercer a parentalidade positiva. As famílias identificadas por apresentarem alguma dificuldade em exercer sua função adequadamente, sendo apontadas por situações de risco ou perigo, tais como: negligência, exposição a violência doméstica, abusos, dentre outros. Estas famílias são acompanhadas pela CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens), as quais tem o papel de proteger e promover os direitos das crianças e jovens, na tentativa de facilitar a preservação do vínculo familiar. E apesar do ritmo incessante destas e de outras entidades, tais como EMAT e CAFAP, no apoio destas famílias, ainda é observado um elevado índice de reincidências nos serviços.

É consensual na literatura que situações desfavoráveis na família, tais como pobreza, número elevado de filhos, conflitos, abuso de drogas lícitas ou ilícitas etc, ocasionam aumento nos níveis de estresse, interferem nos relacionamentos e consequentemente refletem na qualidade de vida e bem-estar da criança. Brito e Faro (2016), defendem que a intensidade e a frequência com que o organismo é exposto a situações estressantes podem desencadear problemas na saúde física ou mental do indivíduo. Os autores ainda afirmam que a resposta ao estresse é resultado da interação entre as características da pessoa e as necessidades do meio, ou seja, as discrepâncias entre os meios externo e interno e a percepção do indivíduo quanto à sua capacidade de resposta. Então, o impacto do estresse depende da percepção do indivíduo acerca da situação. No entanto, estes mesmos estudiosos, ressaltam a importância do apoio social como fator protetor do estresse parental, diminuindo a probabilidade de consequências negativas na qualidade de vida e bem-estar da família.

A qualidade de vida é um conceito multidimensional, amplo, que tem vindo a ser abordado sob diferentes perspetivas. Neste trabalho, este conceito será usado de acordo com a acepção proposta por Gaspar (2008), a qual se refere à qualidade de vida relacionada com a

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saúde, vista como um construto psicológico que descreve aspectos físicos, psicológicos, mentais, sociais e funcionais do bem-estar.

Do ponto de vista do modelo ecológico, trazido por Bronfenbrenner, o ambiente familiar assume uma função de grande influência no desenvolvimento humano e engloba: ações, acontecimentos e as condições das vidas da família. (Abreu-Lima, Cruz & Bradley, 2019). Este princípio nos faz refletir como a pandemia assumiu um papel cronossistémico1 na sociedade, podendo impactar nas vidas das famílias e das crianças, especificamente, no agravamento da situação das famílias em situação de vulnerabilidade.

Com a alta letalidade do vírus SARS-COV-22 (SNS 24, 2021), associado a ausência de uma vacina e de medicação farmacológica eficaz, as entidades governamentais, a nível global, tomaram como medida de segurança o afastamento social. Assim, as crianças ficaram fora de suas rotinas (escola/creche), muitos pais perderam seus empregos ou alteraram sua situação profissional para teletrabalho, tendo frequentemente que encontrar um difícil equilíbrio entre o tempo dedicado às atividades profissionais, domésticas e o acompanhamento dos filhos em aulas on-line, já que todas as instituições educativas foram encerradas. Todas as pessoas foram obrigadas ao confinamento, em suas próprias casas, na tentativa de manter a si mesma e as suas famílias protegidas do vírus (Canário et al., 2021). Segundo Cluver e colegas (2020), as famílias estão vivendo com muito estresse e medo. E com o fechamento das escolas e os desajustes econômicos fomentam crises que consequentemente aumentam o estresse dos pais e a violência contra às crianças.

Apesaŕ doś temaś “Qualidadé dé vida”́ é “Estresse”́ surgireḿ frequentementé ná literatura, parece haver pouca informação sobre a interface destas temáticas em populações em situação de risco e vulnerabilidade, sob a perspectiva da criança e mais especificamente, durante os transtornos decorrentes da pandemia de COVID-19.

Com isso, o trabalho procurou investigar, dentro do ponto de vista da pesquisa quantitativa, sobre a qualidade de vida das crianças e o estresse percebido por pais e crianças, em famílias em risco e vulnerabilidade, durante o período da pandemia de COVID-19. Parte-se da convicção de que uma intervenção de parentalidade positiva poderá ter um papel protetor relativamente ao estresse e estar associada a uma melhoria na percepção de qualidade de vida. Esta pesquisa insere-se no âmbito do projeto REUNIRmais, desenvolvido pela Faculdade de

1 Termo da teoria ecológica do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner. Exprime o reconhecimento de que a interação entre os elementos dos outros níveis contextuais pode mudar ao longo do tempo. (Abreu-Lima, et al., 2019. p. 140).

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Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), o qual se propõe a interceder nos casos de crianças em situação de risco e vulnerabilidade, de modo a prevenir situações de rutura familiar, de acordo com a intervenção baseada em evidência com vista à promoção da parentalidade positiva.

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Capítulo I. Enquadramento Teórico

1. Famílias em situação de risco e vulnerabilidade

1.1. A Situação em Portugal

As pesquisas mostram que há algumas características nas crianças que favorecem os maus-tratos, o que não significa que haja um modelo rígido do perfil da criança maltratada. Segundo o relatório (CNPDPCJ, 2019) dentro de um montante de 14249 processos de medidas aplicadas de promoção e proteção das crianças e jovens, neste referido ano, 55.25% foram para sexo masculino e 44.75% para o sexo feminino (o que não apresenta uma diferença estatisticamente significativa), sendo 36.21% destas intervenções direcionadas a crianças e jovens entre 6 e 17 anos de idade, com o ensino básico incompleto , destacando-se, o grupo entre 6 e 10 anos como o mais afetado, com 1844 crianças. Contudo, o relatório não explica os possíveis motivos de tal fenômeno, apenas apresenta os dados.

Ainda segundo este mesmo relatório citado acima, dentro da análise de 15579 pessoas denominadas de principais responsáveis pelas crianças e jovens, aponta-se um perfil de 69% destas serem do sexo feminino, terem idade entre os 25 e 44 anos, escolaridade com o 3º ciclo completo e 48% destas serem a mãe biológica do vulnerável. Refere também que 65.63% das famílias tem seu rendimento através da atividade profissional do familiar, estando o restante dividido entre o Rendimento Social de Inserção, pensões, etc.

1.2.O Modelo de Atendimento da CPCJ

As Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) são entidades regidas pela Lei de Proteção a Crianças e Jovens em Perigo (LPCJP) Nº 147/99. Esta legislação visa promover e garantir os direitos adquiridos pelas crianças e jovens consignados na Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) das Nações Unidas, tendo em vista o superior interesse da criança. Ainda nesta lei, Art. 34º, rege que cabe as Comissões: a) Afastar o perigo em que estes se encontram; b) Proporcionar-lhes as condições que permitam proteger e promover a sua segurança, saúde, formação, educação, bem-estar e desenvolvimento integral; c) Garantir a recuperação física e psicológica das crianças e jovens vítimas de qualquer forma de exploração ou abuso. Para isso, podem ser utilizadas as seguintes medidas de intervenção (Art. 35º LPCJP): a) Apoio junto dos pais; b) Apoio junto de outro familiar; c) Confiança a pessoa idónea; d) Apoio para a autonomia de vida; e) Acolhimento familiar; f) Acolhimento em instituição.

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Assim, as Comissões acompanham as famílias que demonstram risco ou perigo as crianças e/ou adolescentes, com o sentido de apoiá-las a exercer suas atividades parentais adequadamente, porém, com poder fiscalizador de retirar a criança ou jovem de seu núcleo familiar, caso seja necessário. Porém, o documento normatizador da Comissão ressalta a importância que as medidas de promoção e de proteção sejam prioritárias ao meio natural de vida, ou seja, que a criança apenas seja retirada do seio familiar em última alternativa. Isto é observado no relatório anual (CNPDPCJ, 2019), onde mostra que 81.47% das medidas utilizadas foram de apoio junto aos pais.

Há uma responsabilidade partilhada (família, escola, centros de saúde, comunidade em geral, etc) na promoção dos direitos das crianças, contudo, cabe as Comissões uma intervenção mais responsiva, com trabalho especializado, necessitando de capacidade e qualificação técnica para a execução de suas atividades. Dentro desta perspectiva, uma de suas principais funções consiste em intervir em situações de perigo a fim de proteger a criança, exercendo uma postura facilitadora, oferecendo apoios e recursos as famílias, visando remover as crianças e/ou jovens do perigo e assegurar oportunidades de desenvolvimento (Ribeiro, 2020).

As Comissões contam, também, com a parceria dos Centros de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental (CAFAP), que se constitui como serviço social português para apoiar as famílias que contenham crianças e/ou adolescentes em situações de risco ou perigo. No entanto, a falta de padronização no funcionamento desta entidade dificulta a comprovação da eficiência e eficácia de suas ações (Melo & Alarcão, 2009).

O relatório anual da Comissão Nacional para Promoção dos Direitos e a Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ, 2019) explica que as medidas de intervenção protetiva das Comissões se implementam da seguinte forma: inicialmente é recebida a comunicação e abertura do processo, no qual é verificada a situação de perigo, que, sendo confirmado, determina a instauração do processo, necessitando do consentimento dos pais e da criança de 12 anos ou mais anos. Caso não seja consentido, o processo é encaminhado para o ministério público. Havendo o consentimento, o processo segue para avaliação e diagnóstico, podendo passar por três direcionamentos: 1) Remessa ao Ministério Público, caso se identifiquem fatos que configuram crimes contra a criança, como por exemplo: casos de abuso sexual, violência física e negligência grave (DGS, 2018); 2) Arquivamento, caso não subsista perigo, ou seja, após a avaliação verifica-se que não há a necessidade de intervenções, então o caso é arquivado e 3) Decisão de deliberação e aplicação de medida de promoção e proteção, o qual refere-se ao interesse de estudo deste trabalho. A Figura 1 apresenta o fluxograma do processo descrito.

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(Nota. Imagem retirada do Relatório Anual de Avaliação da Atividade das CPCJ, 2019, p. 39).

Assim neste trabalho será abordada as famílias que estão sendo acompanhadas pela CPCJ no meio natural de vida, ou seja, a criança ainda permanece com a família de origem sendo que a CPCJ remete a família, os pais e a criança para os apoios necessários na comunidade que lhes permitirão mitigar as necessidades que levaram à situação de perigo. De referir que, em meio natural de vida, o trabalho com as famílias pode ser desempenhado sob uma de duas formas de intervenção: 1) Preservação Familiar (PF), segundo a Portaria nº 139/2013, “ápreservaçãófamiliaŕvisápreveniŕáretiradádácriançáoúdójoveḿdóseúmeió naturaĺdévida”,́oúseja,́́é́quandóáintervençãóé́realizadáanteśdórompimentódáfamília, com o foco em fortalecer os vínculos e orientar os pais a lidar com os comportamentos indesejáveis dos filhos; 2) Reunificação Familiar (RF), que segundo esta mesma portaria citada acima,́significa:́“óregressódácriançáoújoveḿaóseúmeiófamiliar,́designadamente nos casos de acolhimento em instituição ou em família de acolhimento, através de uma intervenção focalizadáéintensiváquépodédecorreŕeḿespaçódomiciliárióe/oúcomunitário”,́oúseja,́é́ quando já houve a rutura dos laços familiares e a criança foi afastada da família, porém a reunificação é o momento onde ela retorna a casa, e se reunifica a sua família de origem.

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No que se refere à tipologia dos perigos, o item negligência é o maltrato infantil que mais se destaca, seguido pela violência doméstica (CNPDPCJ, 2019). E nesse sentido, entende-se negligência quando a criança ou adolescente sofreu danos físicos ou mentais ou corre o risco de sofrer em consequências da deficiência, de seus pais ou curador, de fornecimento de atenção adequada às suas necessidades físicas, sociais e mentais. Ou seja, quando os pais não conseguem atender ao desenvolvimento e bem-estar dos filhos, sendo considerada falta de proteção se causarem ou puderem causar dano significativo, por exemplo, desnutrição, vestuário inadequado a temperatura do ambiente, precária higiene pessoal, abandono escolar, etc (Facio & Bermúdez, 2013; Bazon et al., 2010). Entende-se violência doméstica como: qualquer ação ou omissão, com o objetivo de causar, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou económicos, de modo direto ou indireto por meio de ameaças, a qualquer pessoa que habite no mesmo agregado doméstico privado (crianças, jovens, mulheres adultas, homens adultos ou idosos desde que convivam em alojamento comum) (Machado & Gonçalves, 2003). Estas categorias de perigo, citadas a cima, referem-se as duas situações que mais se destacam no diagnóstico realizado pela CPCJ, porém, há outros tipos de maus-tratos identificados, como verifica-se na Figura 2.

Figura 2. Gráfico das categorias de perigo diagnosticadas pela CPCJ em 2019

.

(Nota. Imagem retirada do relatório da CNPDPCJ, 2019, p. 44) (Nota. Imagem retirada do relatório da CNPDPCJ, 2019, p. 44)

0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 34.50% 22.14% 20.96% 15.20% 2.64% 2.05% 1.48% 0.98% 0.04%

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1.3.Parentalidade em Situação de Risco e Vulnerabilidade

É impossível as crianças desenvolverem-se sozinhas. Os pais, ou qualquer adulto que assuma esta função, tem participação essencial em seu desenvolvimento. Há diversos fatores que influenciam os comportamentos parentais. Segundo alguns autores (Belsky & Jafee, 2006; Belsky & Vondra, 1989; Luster & Okagaki, 2005; Reader, Duncan, & Lucey, 2005 citado in Barroso e Machado, 2010. p. 217) “existem múltiplos determinantes do comportamento dos pais, entre os quais circunstâncias individuais, históricas e sociais que se encontram combinadas e que parecem influenciar o funcionamento parental”. Do ponto de vista socio-contextual e ecológico, segundo Belsky e Jafee (2006) citado por Barroso e Machado (2010), existem três determinantes que influenciam a parentalidade: 1) fatores individuais dos pais, ou seja, personalidade e psicopatologias; 2) características individuais da criança, ou seja, seu temperamento e 3) fatores do contexto social alargado, ou seja, relações conjugais, ocupação profissional e rede de suporte social. Além destes, destacam também influência da vizinhança e da comunidade ne exercício da função parental. Cruz e Ducharne (2006), defendem que há um consenso na literatura, referente à influência dos pais nos processos de desenvolvimento dos seus filhos. No entanto, apontam uma divergência sobre a forma como esta influência se processa, além de dificuldades em mensurar os fatores endógenos (genética) e exógenos (meio) nesse processo de desenvolvimento.

Cruz (2014, p. 105) define a parentalidade positiva comó uḿ “conjuntó dé açõeś parentais visando criar condições necessárias para o desenvolvimento das crianças, no seio e forá dá família”. Contudo, não existe uma forma universal de se exercer a parentalidade positiva. O ser humano é bastante complexo e cada um terá sua particularidade. A autora explica que os comportamentos parentais positivos são os comportamentos que têm como objetivo promover o desenvolvimento da criança e gerir os seus comportamentos interpretados de forma negativa, de uma forma positiva. Assim, pais responsivos, são capazes de satisfazer as necessidades básicas para a sobrevivência de alimentação, saúde e segurança; as necessidades de afeto e confiança; promover um ambiente familiar positivo e estruturado; utilizar de supervisão e disciplina positiva (estratégias comportamentais não agressivas).

É compreensível a dificuldade para exercer a parentalidade positiva diante de elementos adversos como pobreza, negligência, maus-tratos, conflitos, criminalidade, condições precárias de saúde e habitação, e com menos recursos como redes de apoio social. Tudo isto pode resultar

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em elevados níveis de ansiedade e estresse. E neste contexto, é possível que a parentalidade seja mais um adicional de estresse na família (Silva et al., 2019).

1.4. Intervenção com famílias de Risco

Há vários exemplos de programas baseados de intervenção parental baseados em evidência (Piotrowska et al., 2016 citado in Marçal 2018). Um dos mais disseminados e implementados em todo o mundo consiste no sistema Triplo P - Programa de Parentalidade Positiva. Consiste num sistema de apoio a pais, projetado para prevenir e cuidar de problemas comportamentais e emocionais em crianças e adolescentes. Esse sistema utiliza de estratégias de intervenção visando aumentar o nível de conhecimento e competências dos pais, promover a autossuficiência, fomentar ambientes educativos saudáveis, não violentos e com baixo nível de conflitos e possibilitar as competências sociais, emocionais, cognitivas e comportamentais das crianças, através da prática parental positiva. Foca-se numa ação preventiva, tentando evitar problemas na família, escola ou comunidade. (Sanders, Markie-Dadds, Tully & Bor, 2000).

Uma das intervenções integradas no sistema é o programa Standard do Triplo P. Consiste num programa de intervenção de nível 4, implementado individualmente com os pais, respondendo a necessidades específicas de intervenção das famílias. Esta intervenção preveni comportamentos inadequados, danos emocionais e problemas no desenvolvimento infantil, ensinando aos pais estratégias que melhorem seus conhecimentos, habilidades e confiança. Ou seja, trata-se de um programa intensivo com foco na interação pai-filho e no aprimoramento das competências parentais, dentro de uma abordagem educativa afim de promover a competência e o desenvolvimento da capacidade de um pai para a autorregulação como uma competência central. Isto é, prepara os pais capacitando-os no sentido de se tornarem independentes e capazes de solucionarem seus problemas (Sanders et al., 2002).

A implementação do Standard Triplo P deve ser feita por um de profissional qualificado com formação e acreditação no programa. O programa é indicado para famílias com crianças entre os 2 e os 12 anos que demonstrem algum problema no comportamento como comportamento de oposição, agressividade, entre outros, de severidade moderada a grave (Sanders et al., 2002). Ainda segundo os mesmos autores, as estratégias de intervenção incluem modelagem, role-play, feedback e uso de tarefas específicas de trabalho de casa.

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Sanders (2007) explica que o programa Triplo P utiliza 17 principais estratégias. Dez das estratégias têm como finalidade promover a competência e o desenvolvimento das crianças (tempo de qualidade; elogio); e sete estratégias visam ajudar os pais a gerir comportamentos inadequados (estabelecimento de regras; planeamento das ações; tempo limite). Além do mais, os pais recebem uma rotina de atividades planeadas em seis etapas para desenvolver as competências parentais (planear com antecedência; decidir sobre regras; selecionar atividades; decidir sobre recompensas e consequências; e conversa com a criança). Consequentemente, os pais são ensinados a aplicar as competências parentais sabendo direcionar os comportamentos em ambientes familiares e sociais, com a criança alvo e todos os irmãos respectivamente. Com o tempo, e realizando os exercícios, os pais aprendem a definir e monitorizar metas de mudança de comportamento e desenvolver competências com vista à melhor interação com os filhos.

1.5. O impacto da Pandemia

Há cerca de um pouco mais de um ano o mundo vivencia uma situação ímpar que causou enormes transformações na vida da sociedade, e que tem atingindo direta ou indiretamente a qualidade de vida das famílias. Trata-se da pandemia de COVID-19. É compreensível que o afastamento social seja uma medida cabível diante da situação. Entretanto, é inegável os diversos efeito colaterais causados (económicos, sociais, psicológicos, da aprendizagem, entre outros).

A imprevisibilidade da situação, a determinação de distanciamento social e a ameaça de doença grave que pode resultar em morte, são fatores desencadeadores de medo, ansiedade, desamparo, depressão e pânico (Holmes et al., 2020; Jiao et al., 2020 citado in Linhares e Enumo, 2020). Porém ainda não há estudos que comprovem as implicações da situação pandêmica no funcionamento psicológico das crianças (Muratori & Ciacchini, 2020, citado in Linhares e Enumo, 2020).

Segundo Linhares e Enumo (2020), atualmente vivemos um momento histórico que pode alterar positiva ou negativamente o curso do desenvolvimento humano, tanto do ponto de vista individual quanto populacional. A pandemia de COVID-19 provoca um contexto caótico e altamente estressante que tem reflexos no sistema familiar e consequentemente no desenvolvimento das crianças.

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2. Qualidade de Vida e Estresse Familiar

O estresse faz parte da sobrevivência humana. É ele quem nos deixa em estado de alerta, funcionando como um estimulante a respostas adaptativas e um motivador para mudanças. Contudo, a intensidade e a frequência com que o organismo é exposto a situações estressantes pode desencadear problemas com a saúde física ou mental do indivíduo. Há situações na vida comumente entendidas como estressantes, por exemplo perda de um familiar, ou demissões, porém, cada sujeito enfrentará os acontecimentos dentro de suas estratégias de coping, respondendo de acordo com o seu entendimento do fato. A resposta ao estresse é resultado da interação entre as características da pessoa e as exigências do meio, ou seja, as discrepâncias entre os meios externo e interno e a percepção do indivíduo quanto à sua capacidade de resposta (Lipp, Souza, Romano & Covolan, 1991 citado in Mombelli et al., 2011). Então a evolução do estresse depende da percepção feita pelo indivíduo acerca da situação. O que sugere que o estresse não é meramente uma resposta, mas sim, um processo (Sardá, Legal, & Jablonski, 2004 citato in Silva, 2019).

O exercício da paternidade/maternidade pode ser um fator desencadeador de estresse. Tanto os fatores externos (problemas financeiros, com o trabalho, conjugais, etc), como também, fatores que estão diretamente ligados com o dia-a-dia da parentalidade (dificuldade em conter a criança, desobediência, a sobrecarga das necessidades infantis, etc), podem desencadear o estresse parental. Para diferentes autores (Park & Walton-Moss, 2012; Skreden et al., 2012 citado em Brito & Faro 2016) o estresse parental surge quando há um desequilíbrio desadaptativo que ocorre quando o pai/mãe avalia que os recursos que possui são insuficientes para lidar com as exigências e demandas de seu compromisso com o papel parental. Nesse sentido, o estresse parental pode ser visto como um fator de risco para o desenvolvimento e bem-estar da criança, e toda a dinâmica familiar, afetando negativamente as práticas educativas parentais e a relação pais-filho. (Rodriguez, Jenkins & Marcenko, 2014; Theule, Wiener, Tannock, &Jenkins, 2013, citado por Brito & Faro 2016).

Segundo Abidin (1992, citado em Brito & Faro, 2016), as crenças dos pais são elementos fundamentais na determinação de seus comportamentos e da própria adaptação da criança, ou seja, o modo como os pais pensam e avaliam os benefícios e danos do seu papel parental é o que determinará o nível do estresse parental experenciado, sendo o estresse parental fator que influencia a parentalidade disfuncional. Outros autores (Rodriguez, Jenkins & Marcenko, 2014; Vaughan, Feinn, Bernard, Brereton, & Kaufman, 2012), apontam ainda a associação do estresse parental com os problemas de comportamento e bem-estar das crianças.

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Diferentes estudos evidenciam a relação entre o estresse parental com as práticas educativas parentais, sendo estas negativas e de caráter autoritário, podem comprometer o desenvolvimento da criança, a interação familiar e também, a saúde dos pais (Guajardo et al., 2009); Park & Walton-Moss, 2012, citado em Brito e Faro, 2016). Segundo Bérgamo e Bazon (2011), o estresse parental constitui um dos fatores causais de práticas coercivas de disciplina que, por sua vez, seria um dos fatores geradores de problemas de comportamento infantis, os quais incrementariam o nível de estresse experimentado e o risco de abusos físicos.

Brito e Faro (2016) salientam o apoio social como fator protetor do estresse parental, diminuindo a probabilidade de consequências negativas na qualidade de vida e bem-estar da família. E nesse sentido entende-se o suporte social como qualquer forma de apoio emocional ou material vindo de outrem, tais como: afeto, assistência ou auxílio financeiro; oferecido pela família, amigos, comunidade etc. A sensação de cuidado e segurança funcionará como um fator protetor do estresse. Um estudo sobre estresse e autoeficácia materna em mães de indivíduos com autismo revelou que mães que se dedicavam exclusivamente aos cuidados dos filhos apresentavam um nível de estresse maior se comparada com as mães que dividiam seu tempo com trabalhos fora do ambiente doméstico (Schmidt & Bosa, 2007, citada por Brito e Faro, 2016). Assim, pode-se inferir que tanto o trabalho como as redes de apoio são importantes para minimizar o estresse parental.

Na literatura existe um consenso sobre a relação inversamente proporcional entre o estresse parental e o apoio social, ou melhor, quanto mais os pais se sentirem acolhidos e apoiados menos estresse perceberão, e vice-versa. Segundo Hoefnages e Snoeren, (2014) o apoio social é visto como uma proteção aos eventos estressantes da vida, e o bem-estar é maior se o apoio social for fornecido, mesmo em situações percebidas como estressantes. Então, na relação cuidador/criança, altos níveis percebidos de autoeficácia parental e apoio social, gerariam nos cuidadores um sentimento de maior controle da situação, principalmente, se diante de problemas de comportamento pela criança, porque a avaliação positiva de ajuda recebida, proporcionaria condições para a resolução de problemas (Cecconello et al., 2003; De Antoni et al., 2007; Jackson, 2000; Suzuki, 2010, citados por Bérgamo & Bazon, 2011).

A criança, tal como o adulto, está suscetível a situações estressantes e, se prolongadas, podem contribuir para perturbações psicopatológicas (Egeland & Kreutzer, 1991 citado in Mombelli et al., 2011). Faz parte da função parental atenuar os eventos estressores da vida dos filhos, protegendo-os de situações adversas. A imaturidade infantil, muitas vezes, não apresenta a capacidade para lidar com certas tensões, cabendo a família o papel de mediador entre a

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criança e a sociedade, fornecendo-lhe recursos para atender as necessidades básicas, como também, amortecer os impactos sociais na vida de seus integrantes (Baptista, 2004; Carvalho & Almeida, 2003 citado in Mombelli et al., 2011). Desta forma, a família exprime relevante atributos na relação entre o suporte familiar e o estresse infantil, com significativo poder em intervir na qualidade de vida e bem-estar da criança.

Atualmente, a qualidade de vida, apesar de ser uma expressão muito usada, é também bastante abstrata e complexa quanto a sua definição. O grupo de qualidade de vida da Organização Mundial da Saúde (citado em Gaspar & Matos, 2008) inclui uma perspectiva transcultural: a qualidade de vida é descrita como uma percepção individual sobre a sua posição na vida num contexto cultural e num sistema de valores no qual o indivíduo vive e, em relação aos seus objetivos, expectativas, metas e preocupações/interesses. Ravens-Sieberer e o grupo Europeu KIDSCREEN (2005, citado em Gaspar & Matos, 2008), salientam que a qualidade de vida relacionada com a saúde pode ser vista como um constructo psicológico que descreve aspectos físicos, psicológicos, mentais, sociais e funcionais do bem-estar.

No presente estudo será abordado o conceito de qualidade de vida relacionada com a saúde física e mental, “QualidadédéVidáRelacionadácoḿáSaúde”́(QVRS)́descrito como um constructo que engloba componentes do bem-estar e funções físicas, emocionais, mentais, sociais e comportamentais, como são percebidos por si e pelos outros (Gaspar & Matos, 2008). Segundo Gaspar, Ribeiro, Matos e Leal (2008a), a qualidade de vida em crianças e adolescentes está intimamente relacionada com a sua saúde mental e bem-estar subjetivo. O desenvolvimento psicológico e cognitivo das crianças depende da qualidade das relações com os seus pais.

Gaspar e Matos (2008) destacam que os um questionário transcultural de qualidade de vida se refere a um consenso das dimensões relevantes e itens sobre a qualidade de vida para determinados grupos de idade em cada um dos diferentes países. Quando se analisam resultados no âmbito da saúde pública que incluem medidas da QVRS em crianças e adolescentes, é importante ter em conta a percepção de saúde das crianças, nomeadamente, física, cultural, envolvimento social, estressores sociais, comportamentos de saúde, e processos psicossociais, taiś como,́ estiloś dé copinǵ é suporté social.́ Comó consequência,́ podeḿ seŕ identificadas, crianças e adolescentes em risco em termos da sua saúde subjetiva. Podem ser fornecidos a estas crianças programas de intervenção, que devem ser posteriormente avaliados (Ravens-Sieberer et al., 2001).

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Varni, Burwinkle e Lane (2005, citado por Gaspar & Matos 2008), destacam a importância da avaliação da QVRS em crianças com e sem doença crónica, devendo ser utilizados instrumentos com a criança e com seus pais, visando avaliar a concordância e/ou discordância face à percepção de qualidade de vida das próprias crianças e dos seus pais. Os instrumentośdémedidádáQVRŚdeveḿmediaŕambaśaśperspectivaśdépaiśéfilhos,́umá vez que estas perspectivas podem ser independentes da utilização e qualidade dos serviços de saúde e dos comportamentos de risco. Idealmente, os instrumentos de medida da QVRS para crianças/adolescentes e pais devem avaliar os mesmos constructos em itens paralelos, permitindo uma posterior comparaçãóentrépaiśéfilhośmaiśidôneó(Eiseŕ&́Morse,́2002a;́ 2002b; Varni, Limbers & Burwinkle, 2007 citado in Gaspar & Matos, 2008).

Warming (2003 citado em Gaspar & Matos, 2008, p.28) “...reforça que as crianças e os adolescentes são reconhecidos como atores sociais nas suas próprias vidas, assim como nas vidaś doś outroś é ná sociedadé eḿ qué vivem”.́ Comó tambéḿ elé destacá qué se vem observando um crescente reconhecimento dos direitos individuais destes, partindo de uma abordagem construtivista da experiência que a criança e o adolescente têm de qualidade de vida e da forma como podem obter essa qualidade, é visto como um aspecto do foro social mais do que um aspecto da personalidade da criança ou do adolescente.

A literatura demonstra uma discrepância na investigação do ponto de vista das crianças e dos adolescentes sobre seu bem-estar, a sua percepção e o seu comportamento. Vários investigadores questionaram a competência de as crianças serem ou não capazes de expressar opiniões, atitudes e sentimentos sobre a sua QVRS, e, se conseguem compreender o real conceito de QVRS para assim, avaliar os aspectos da sua própria saúde e bem-estar. Todavia, investigações recentes mostram que as crianças apresentam habilidades a relatar o seu bem-estar e a sua capacidade funcional, se de diante de instrumento apropriado para a idade e nível cognitivo delas (Gaspar & Matos, 2008).

Tanto ao nível da investigação, como a nível dos cuidados e políticas de saúde, o interesse pela qualidade de vida das crianças tem aumentado. No entanto, ainda há pouca investigação com crianças entre 6 e 12 anos, e apenas 9% dos estudos envolve a avaliação da qualidade de vida sob a perspectiva da própria criança (Gaspar & Matos, 2008).

3. Contexto de desenvolvimento do presente trabalho.

O estresse percebido pela família está intimamente relacionado com a qualidade de vida e o bem-estar da criança. É de grande importância a avaliação da qualidade de vida relacionada

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com a saúde em crianças, pois permite desenvolver métodos de promoção da qualidade de vida nesteśgrupośetários,́aléḿdéfavoreceŕáidentificaçãódéfatoreśdériscóépreveniŕefeitoś negativos desses fatores (Helseth & Lund, 2005, citado em Gaspar & Matos, 2008).

Partindo deste princípio, e considerando a oportunidade de o projeto REUNIRmais (Canário et al., 2020) estar a ser desenvolvido no período da pandemia de COVID-19, o presente estudo tem como finalidade avaliar o stress percebido em pais e filhos e a qualidade de vida das crianças seguidas pelas CPCJ. São objetivos específicos: 1) Caracterizar a percepção da qualidade de vida relacionada a saúde física e mental das crianças e o estresse percebido em pais e crianças em situação de risco ou vulnerabilidade de acordo com o momento de avaliação inicial (antes ou durante a pandemia), 2)Verificar se houve mudanças ao longo do tempo na percepção de qualidade de vida ou no estresse percebido, e 3) Avaliar o papel protetor da intervenção da parentalidade positiva na percepção da qualidade de vida e no estresse percebido, durante a pandemia de COVID-19.

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Capítulo II. Estudo Empírico

1. Método

O presente estudo é enquadrado quantitativamente, com a proposta de comparar dois grupos, o grupo controlo (GC) vs. o grupo de intervenção (GI), com dois momentos de avaliação, num design de investigação do tipo quase-experimental.

1.1 Participantes:

Todos os participantes estavam incluídos no projeto REUNIRmais. As famílias foram convidadas pelas CPCJ do Distrito do Porto em Portugal, a participar do projeto, desde que estivessem inseridas em projetos de Preservação Familiar (PF) ou Reunificação Familiar (RF). Participaram deste estudo 107 famílias. Destas, 9 famílias sofreram rutura familiar e 37 famílias desistiram entre o 1º e o 2º momento da avaliação.

As crianças participantes são seguidas pela CPCJ com medida aplicada de apoio junto dos pais, 60.7 % são do sexo masculino, em 36% dos casos eram o primeiro ou segundo filho. Relativamente a problemas de saúde, os participantes referem que 34.0% das crianças apresenta déficit de visão ou audição, 19.8% algum problema de saúde, 55.7% problemas comportamentais, e 35.8% problemas emocionais. Os responsáveis participantes identificaram-se como mães biológicas (90.7%), com idades entre 22 e 59 anos, identificaram-sendo sobretudo desempregadas (51.9%), em união de facto (26.6%) ou solteiras (26.2%). Em 40.19% dos casos, as famílias já foram sinalizadas anteriormente.

Do total dos participantes da pesquisa, 81.3% realizaram a 1ª avaliação antes da pandemia de COVID-19, enquanto que 18.7% durante a mesma. A alocação dos participantes aos grupos foi determinada pelas comissões. A representação dos grupos foi definida da seguinte forma: GC com 42 famílias vs. GI com 65 famílias. A tabela a seguir apresenta as frequências e descritivas relativas as variáveis de caracterização dos participantes. Como se verifica na tabela 1, os grupos de participantes do grupo de intervenção e de controlo não são diferentes do ponto de vista das variáveis sócio-demográficas.

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Tabela 1. Caracterização dos Participantes Variáveis GC GI Total n = 42 n = 65 N = 107 M (DP) M (DP) M (DP) Idade do responsável 36.0 (8.35) 35.88 (7.12) 35.93 (7.59) t (105) = - .08, p = .34

Idade das crianças 8.69 (1.88) 8.88 (1.97) 8.79 (1.93)

t (105) = .45, p = .64

Nº de pessoas no agregado 4.40 (1.75) 4.14 (1.30) 4.2 (1.49)

t (105) = - .90, p = .01

Nº filhos 2.69 (1.28) 2.65 (1.16) 2.66 (1.20)

t (105) = - .18, p = .97

Apoios recebidos (ex.: abono, RSI) 2.14 (1.42) 2.34 (1.46) 2.26 (1.44)

t (105) = .68, p = .59

Escolaridade do responsável 8.57 (2.57) 7.38 (3.10) 7.85 (2.95)

t (105) = -2.06, p = 10

Frequência de serviços de saúde¹ 1.98 (1.58) 2.20 (1.57) 2.11 (1.57)

t (105) = .72, p = .97

% % %

Escolaridade da criança

jardim de infância 0.0 4.7 2.9

1º ciclo/ ensino básico 70.0 64.1 66.4

2º ciclo/ ensino básico 27.5 28.1 27.9

3º ciclo/ ensino básico 2.5 3.1 2.9

x² (7) = 3.26, p = 0.86

Estatuto profissional

empregado 35.7 40.6 38.7

desempregado 57.1 48.4 51.9

outros (ex.: estudante, pensionista) 7.2 39.9 9.4

x² (6) =3.42, p = 0.75 Tipologia familiar monoparental 31.7 32.3 32.1 biparental 22.0 30.8 27.4 reconstruída 22.0 20.0 20.8 outras 24.4 16.9 19.8 x² (4) = 2.03, p = 0.73 Local de residência urbano 53.7 61.3 61.3 rural 19.5 19.8 19.8 semi-rural 26.8 18.9 18.9 x² (2) =2.89, p = 0.24 Fonte da informação CPCJ 76.2 63.1 68.2 EMAT 2.4 16.9 11.2 CAFAP 9.5 4.6 6.5

outra entidade (ex.: equipas de RSI) 2.4 0.0 .9

responsável pela criança 9.5 15.4 13.1

x² (4) = 8.61, p = 0.72

Motivo da sinalização

negligência 32.5 43.8 39.4

exposição a violência doméstica 32.5 21.9 26.0

comportamentos disruptivos 20.0 25.0 23.1

outros (ex.: maus-tratos físico) 15.0 9.4 11.5

x² (3) = 2.80, p = 0.42

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1.2. Instrumentos

1.2.1. Questionário Sociodemográfico

Questionário com diferentes perguntas, formulado pela equipa do projeto REUNIRmais, referente a questões gerais da amostra, tais como: idade, sexo, escolaridade etc, com o objetivo de caracterizá-la.

1.2.2. KIDSCREEN

O KIDSCREEN é um instrumento transcultural de origem Europeia, atualmente utilizado em mais de 15 países, que avalia a saúde e o bem-estar subjetivos de crianças e adolescentes (qualidade de vida relacionada à saúde- QVRS) (Erhart, et al., 2009). Em Portugal o instrumento foítraduzidópeláequipádóprojetó“AventuráSocial”́(Gaspar et al., 2008b).

Pode ser utilizado em três versões: 52, 27 e KIDSCREEN-10, todas avaliam as mesmas dimensões, sendo o que diferencia uma versão da outra é a quantidade de itens usados para cada dimensão. Ou seja, o original continha 52 itens, no total, o seguinte 27 e o ultimo 10 itens. Porém, todos com a proposta de avaliar as mesmas 10 dimensões, são elas: 1) saúde e atividade física, 2) Sentimentos, 3) Estado de Humor Geral, 4) Autopercepção, 5) Autonomia/ Tempo Livre, 6) Família / Ambiente Familiar, 7) Questões Econômicas, 8) Amigos, 9) Ambiente escolar / Aprendizagem e 10) Provocação (The KIDSCREEN Group Europe, 2006 citado in Gaspar, Matos, Ribeiro & Leal, 2008c). Cada questionário apresenta uma versão aplicada aos pais e outra aplicada as crianças, ambas avaliando as mesmas dimensões.

Neste trabalho foi utilizado o KIDSCREEN-10, a versão de pais sobre o filho e a versão para crianças. Em ambas as versões, o foco da investigação é a QVRS das crianças e/ou adolescentes, com as mesmas dimensões avaliadas. Porém a versão criança refere-se a um questionário com medidas de autorrelato aplicáveis a crianças e/ou adolescentes saudáveis e com doenças crônicas de 8 a 18 anos, enquanto que a versão pais, trata-se de um questionário de heterorrelato. Podem ser preenchidos pessoalmente em casa, na sala de aula e em outros ambientes. O propósito é identificar crianças em risco, em termos de saúde subjetiva, e sugerir intervenções precoces apropriadas (Erhart, et al., 2009).

Para cada item é atribuído uma escala tipo Likert (Nada/Nunca, pouco/Raramente, moderadamente/Algumas vezes, muito/Frequentemente e Extremamente/Sempre) para que os pais e as crianças respondam sobre a saúde da criança referente a última semana. Dentre os dez itens questionado, o terceiro e o quarto item (“Sentiste-té triste?”́ é “Sentiste-té sozinho?”,́

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respectivamente) são os únicos que trazem uma conotação negativa, por isso precisam ser invertidos para a pontuação final. A maior pontuação final significa uma melhor percepção de qualidade de vida.

O questionário apresenta um 11º item, não contemplado para o cálculo do score final, que mede a percepção de saúde da criança avaliado numa escala de tipo Likert (Muito má, Má, Boa, Muito boa e Excelente).

O KIDSCREEN-10 é considerado um instrumento confiável para estimar a percepção qualidade de vida em crianças e adolescentes. É adequado para uso em grandes pesquisas (epidemiológicas) e como escala complementar em estudos relacionados a crianças e comportamentos e condições de saúde dos adolescentes (Matos, Gaspar et al & Simões, 2012).

Relativamente às qualidades psicométricas, este instrumento apresentou valores de alfa de Cronbach de .70 para a versão pais no primeiro momento da avaliação e .74 no segundo momento. Quanto a versão criança demonstrou os valores de .65 para o primeiro momento de avaliação e de .77 para segundo momento.

1.2.3. Maastricht University Stress Intrument for Childen (MUSIC)

O Maastricht University Stress Intrument for Childen (MUSIC) é um instrumento desenvolvido por Kraag e colegas (2008), e com a autorização da autora, foi traduzido para o português Europeu por Canário e colegas (2020), com o objetivo de avaliar o estresse percebido por crianças entre 6 a 11 anos de idade. O inventário possui 20 itens e consiste em duas subescalas (estresse psicológico e estresse fisiológico), com 10 itens cada. As perguntas são direcionadas para a frequência em que a criança experienciou alguma situação estressante ou se teve alguma reação ao estresse durante a última semana. Para fazer essa avaliação é utilizada a escala Likert com 4 pontos (1= Nunca, 2 = Às vezes, 3 = Frequentemente e 4 = Muito Frequentemente). E quanto mais alta for a pontuação do questionário refere-se a um maior estresse percebido pela criança. No requisito qualidades psicométricas deste instrumento apresentaram valores de alfa de Cronbach de .71 para a subescala psicológica no primeiro momento de avaliação e .78 no segundo momento. Quanto à subescala fisiológica, demonstrou os valores de .82 para o primeiro momento de avaliação e de .82 para segundo momento.

1.2.4. Escala de Stresse Percecionado (PSS)

A Escala de Estresse Percebido (PSS) é um instrumento criado por Cohen, Kamarck e Mermelstein (1983) e traduzido para o português por (Trigo, Canudo, Branco & Silva, 2010). A escala tem como objetivo avaliar de forma global o estresse percebido durante o último mês.

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É constituída por 10 perguntas que questionam situações da vida cotidiana (ex.: item 1: No último mês, com que frequência esteve preocupado por causa de alguma coisa que aconteceu inesperadamente?). As perguntas são pontuadas numa escala de 5 pontos (0= Nunca, 1= Quase Nunca, 2= Algumas Vezes, 3= Frequentemente e 4= Muito Frequentemente). Dos 10 itens desta escala, seis deles foram elaborados com conotação negativa (1, 2, 3, 6, 9 e 10) e quatro foram delineados com sentidos positivos (4, 5, 7 e 8), por isso, nestes últimos, antes do somatório dos pontos é fundamental fazer à inversão dos itens para correção. Quanto maior o somatório total da pontuação, corresponde há um maior nível de estresse percebido pelos pais (Ribeiro, 2020). No que se referem as qualidades psicométricas deste instrumento identificam-se os valores de alfa de Cronbach de .83 para o primeiro momento de avaliação e de .84 para o segundo momento.

1.3. Procedimento

As famílias já acompanhadas pela CPCJ que se enquadram no perfil de inclusão do projeto REUNIRmais, foram convidadas a participar. Foi marcado um encontro na própria CPCJ entre as investigadoras do projeto REUNIRmais e as famílias. Após a assinatura do termo de consentimento para fins de estudo, deu-se início à recolha dos dados. O protocolo de avaliação foi comum para todas as famílias, ou seja, foram realizados dois momentos de avaliação, o pré-teste e o pós-teste. Após a primeira avaliação, os participantes foram divididos em dois grupos, o GC que recebeu as intervenções regular da CPCJ e o GI, que recebeu o Standard Triplo P, realizada pelos técnicos da entidade de primeira linha do serviço de proteção, já previamente formados para dinamizar às intervenções, nas próprias unidades do serviço (desde que o espaço atendesse às necessidades do programa). As limitações impostas pela pandemia reformularam esta proposta, modificando as intervenções para formato hibrido, com algumas intervenções a serem realizadas à distância através de meios telemáticos.

Após a intervenção foi realizado o segundo momento de avaliação, o pós-teste. O primeiro momento de avaliação é equivalente ao M1 do projeto REUNIRmais, no entanto, não foi possível fazer a segunda avaliação em três meses após a intervenção, como propunha o projeto, devido aos constrangimentos provocados pela pandemia, em que muitos locais foram obrigados a confinar. Sendo assim, observou-se diferenças no tempo da segunda avaliação entre as famílias, variando entre 3 a 17 meses o intervalo de tempo destas (M= 7.69, DP= 9.96).

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1.4. Plano Analítico

Os dados foram analisados com recurso ao software IBM SPSS v. 26. Para realizar a caracterização dos participantes foram escolhidas algumas variáveis do questionário sociodemográfico, identificando os grupos controlo e intervenção. Foram utilizados os testes de associação Qui-quadrado nas variáveis nominais e o teste t para as variáveis descritivas para avaliar possíveis discrepâncias nas variáveis sócio-demográficas entre os grupos de intervenção e de controlo.

Para responder ao primeiro objetivo da pesquisa, foram realizados testes t para comparar as médias das amostras independentes relativamente às variáveis dependentes no primeiro momento de avaliação, comparando os participantes que haviam sido avaliados antes da pandemia com os que haviam sido avaliados durante a pandemia. No segundo objetivo, para avaliar as mudanças nas variáveis dependentes ao longo do tempo, de M1 para M2, foram realizados testes t para amostras emparelhadas. Por último, para avaliar o terceiro objetivo, o efeito da intervenção nas variáveis dependentes, foram realizadas análises de variância (ANOVAs) mistas, considerando as variáveis dependentes nos dois momentos de avaliação como fatores intra-sujeitos e a alocação no grupo de intervenção / controlo como fator inter-sujeitos. Os resultados foram interpretados de acordo com o resultado do teste de esfericidade, sendo a correção de Greenhouse-Geisser aplicada quando  0.75 e a de Hyundt-Feldt aplicada quando  1. A magnitude do efeito (p2) e o poder estatístico observado são reportados na

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Capítulo 3. Resultados

1. Caracterização da percepção de qualidade de vida das crianças e do estrese percebido em pais e crianças no momento da primeira avaliação, antes e durante a pandemia.

Tabela 2. Comparação das variáveis dependentes do 1º momento de avaliação (antes/durante a pandemia).

Antes da pandemia Durante a pandemia

Variáveis n M (DP) n M (DP) Teste t Estresse percebido (pais) 75 18.36 (7.00) 14 19.50 (6.78) t (87) = - .56, p = .37 Estresse percebido (crianças / psicológico) 79 21.32 (5.47) 17 20.70 (5.90) t (94) = .41, p = .99 Estresse percebido (crianças / fisiológico) 79 18.48 (6.15) 17 17.41 (5.76) t (94) = .66, p = .60 Qualidade de vida (hetero relato) 85 38.74 (5.03) 20 39.10 (4.43) t (103) = -.29, p = .63 Qualidade de vida (auto relato) 80 40.17 (5.51) 17 39.59 (7.11) t (95) = .38, p = .83

A tabela 2 apresenta os resultados das análises descritivas para as variáveis dependentes no primeiro momento de avaliação do estudo, como também, mostra que as variáveis dependentes não eram diferentes para as famílias avaliadas, independentemente de terem completado o primeiro momento de avaliação antes ou durante a pandemia.

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2. Avaliação das variáveis dependentes ao longo do tempo.

A tabela 3 apresenta os resultados do teste de efeitos intra-sujeitos, realizados no âmbito das análises de variância, para avaliar as diferenças de médias das variáveis dependentes de M1 para M2. Os resultados mostram a diminuição estatisticamente significativa do estresse percebido pelos pais, e a diminuição marginalmente significativa do estresse psicológico percebido pelas crianças ao longo do tempo.

Tabela 3. Comparação das variáveis dependentes entre o 1º e o 2º momento de avaliação

M1 M2 Variáveis n M (DP) n M (DP) Teste t Estresse percebido (pais) 31 17.35 (6.02) 31 13.52 (6.37) t (30) = 3.72, p < .001 Estresse percebido (crianças / psicológico) 35 20.71 (5.38) 35 19.20 (5.78) t (34) = 1.76, p = .09 Estresse percebido (crianças / fisiológico) 35 17.74 (6.44) 35 16.34 (5.66) t (34) = 1.49, p = .14 Qualidade de vida (hetero relato) 39 39.28 (7.71) 39 39.87 (4.96) t (38) = -.86, p = .39 Qualidade de vida (auto relato) 33 40.18 (5.30) 33 40.67 (5.79) t (32) = -.50, p = .62

3. Avaliação do efeito da intervenção de parentalidade positiva, comparando os dois momentos de avaliação, nas variáveis dependentes.

Com a finalidade de responder ao terceiro objetivo específico da pesquisa foi realizada comparação das variáveis dependentes em virtude de sua alocação vs. o tempo, com o intuito de verificar se com a intervenção da parentalidade positiva há uma melhor percepção sobre a qualidade de vida das crianças e o estresse percebido pelos pais e crianças. Como evidenciam os resultados apresentados na tabela 4, verificou-se o efeito da intervenção apenas na percepção de qualidade de vida das crianças. Nas crianças cujos pais fizeram a intervenção STP verifica-se um aumento da percepção da qualidade de vida, comparativamente ao grupo de crianças cujos pais receberam a intervenção habitual (Figura 3).

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Tabela 4. Comparação das variáveis dependentes entre M1 e M2, considerando o efeito da intervenção STP Grupo Controlo Grupo de Intervenção Teste de efeitos Intra-sujeitos

Teste de efeitos inter vs. intra-sujeitos

Variáveis n M1 M2 n M1 M2 M (DP) M (DP) M (DP) M (DP) F (df) ηp² Observed Powerª F (df) ηp² Observed Powerª

Estresse percebido (pais) 23 16.69 (5.99) 13.35 (6.34) 8 19.25 (6.11) 14.0 (6.89) F (1,29) = 13.11, p =.001 .31 .94 F (1,29) = .64, p =.43 Estresse psicológico percebido (crianças) 23 20.22 (5.73) 19.09 (5.69) 12 21.67 (4.72) 19.42 (6.20) F (1,33) = 3.40, p =.07 F (1,33) = .37, p =.55 Estresse fisiológico percebido (crianças) 23 17.87 (5.98) 16.22 (4.92) 12 17.50 (7.51) 16.58 (7.10) F (1,33) = 1.65, p =.21 F (1,33) = .13, p =.71 Qualidade de vida (heterorrelato) 27 40.0 (5.12) 40.67 (4.79) 12 37.67 (3.26) 38.08 (5.09) F (1,37) = .52, p =.47 F (1,37) = .03, p =.87 Qualidade de vida (autorrelato) 21 40.95 (3.99) 40.0 (5.53) 12 38.83 (7.04) 41.83 (6.28) F (1,31) = 1.13, p =.30 F (1,31) = 4.20, p =.05 .12 .51

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Figura 3. Gráfico com os resultados do efeito da intervenção na qualidade de vida percebida pela criança ao longo do tempo.

Referências

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