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LETÍCIA CARINA CRUZ CURITIBA 2008

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LETÍCIA CARINA CRUZ

ELITES PARLAMENTARES, INTERNET E CULTURA POLÍTICA: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA DO PERFIL DOS PARLAMENTARES COM E SEM WEBSITE DA 16ª

LEGISLATURA DAS ASSEMBLÉIAS LEGISLATIVAS BRASILEIRAS (2007-2010)

CURITIBA 2008

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LETÍCIA CARINA CRUZ

ELITES PARLAMENTARES, INTERNET E CULTURA POLÍTICA: UMA ANÁLISE EXPLORATÓRIA DO PERFIL DOS PARLAMENTARES COM E SEM WEBSITE DA 16ª

LEGISLATURA DAS ASSEMBLÉIAS LEGISLATIVAS BRASILEIRAS (2007-2010)

Monografia apresentada a disciplina de Orientação Monografia II como requisito parcial a conclusão do Curso de Ciências Sociais, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Sérgio Braga

CURITIBA 2008

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AGRADECIMENTOS

Expresso meus agradecimentos aos meus pais, irmãos e familiares, a todos os meus amigos e amigas que acompanharam pacientemente a produção deste trabalho, ao meu orientador prof. Sérgio Soares Braga, por seu apoio e dedicação; e a todas as pessoas que contribuíram, direta ou indiretamente, para a realização deste trabalho.

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RESUMO

Este trabalho apresenta resultados preliminares de um estudo mais amplo que estamos empreendendo sobre o perfil, o emprego da internet e os valores políticos dos parlamentares da 16ª Legislatura das Assembléias Legislativas brasileiras. O centro desse estudo é o contraste de algumas características do perfil social, da trajetória política, do comportamento e dos valores políticos dos parlamentares com e sem website da atual legislatura dos legislativos estaduais brasileiros.

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S u m á r i o

Pág. Cap. 1) Introdução: objetivos e metodologia ... 07

1.1) A internet no cenário político

1.2) Autores próximos do pensamento de “democracia direta eletrônica”. 1.3) Autores próximos do pensamento empirista.

1.4) Objetivos e metodologia

Cap. 2) Padrões de recrutamento dos partidos políticos a partir da Web 14

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Cap. 1) Introdução: objetivos e metodologia.

O Brasil a cada ano vem aumentado o número de pessoas que utilizam a Internet, tanto para o simples lazer como para o trabalho. Com 3,4 milhões de pessoas utilizando o computador o país é o maior da América Latina com acesso a Internet, com 6% da sua população utilizando a banda larga, o que permite uma consulta constante por vias rápidas. Esses números significam o dobro do México que está na segunda posição. O gráfico 1 mostra o crescimento dos números de computadores nos domicílios brasileiros, nos últimos três anos, assim como o acesso à Internet.

Gráfico 1 O Brasil e os computadores 30,40% 31,90% 37,30% 13,00% 15,00% 12,00% 2005 2006 2007

Domicílios com computador Residências com acesso à internet

(Fonte: FSP. 09/09/07. P. B1.).

As pesquisas indicam que o cenário político e a administração pública não estão alheios a esse processo de inserção do indivíduo há Internet (CASTELS, 2004), a uma tendência que a Internet seja um importante instrumento dos políticos para atingir seus eleitores. São as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) que muito provável, produzirão amplas mudanças em aspectos variados, sendo esses: a forma como são organizadas as campanhas e as propagandas políticas; a interação entre candidato e opinião pública e o cidadão; a maneira como são formadas as preferências pelo eleitor e a forma de financiamento das campanhas eleitorais.

Devido ao crescente número de internauta na sociedade (pessoas que têm acesso a Internet), o uso de novas mídias, seja websites, listas de e-mails, Orkut, blogs, entre outros fóruns estão se tornando freqüentes nas estratégias políticas de divulgação de propagandas e interação

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com a sociedade. Todos esses meios vêm substituindo de forma progressiva as antigas estruturas de organização das campanhas eleitorais1.

Assim este artigo referente-se ao uso da Internet no processo político. E tem como objetivo fazer um mapeamento dos websites que estão nas homepages das casas legislativas onde atuam os parlamentares, aqui especificamente nos referimos aos parlamentares da região Sul do Brasil: Paraná (PR), Santa Catarina (SC) e do Rio Grande do Sul (RS). O espaço de análise encontra-se na web, especificamente nos portais legislativos do Senado Federal (SF), da Câmara dos Deputados (CD), das Assembléias Legislativas Estaduais (ALEs) e das Câmaras Municipais de Vereadores (CMVs) [das Capitais e do Interior]. A pesquisa enfoca a existência ou não de

websites de parlamentares, compreendendo que adesão dos políticos por essa mídia significa

uma nova abordagem entre o campo político e a sociedade. Foram pesquisados: 9 senadores, 76 deputados federais, 149 deputados estaduais e 90 vereadores das capitais e 95 vereadores do interior desses estados, somando ao todo 419 parlamentares foram analisados. As coletas de dados foram realizadas nas homepage das casas legislativas entre os dias 15 a 28 de outubro e 10 a 20 de novembro 2007. Com o mapeamento, saberemos quantos senadores, deputados e vereadores utilizam a Internet para divulgar suas atividades, tendo assim uma amostra quantitativa da dimensão dessa relação entre os políticos e a sociedade.

1.1) A internet no cenário político2

Basta ter acesso a Internet e conhecer suas funções básicas para que o cidadão comum utilize esse meio de comunicação ágil e econômico. Essa facilidade vem modificando as formas pelas quais as pessoas se relacionam socialmente. A Política, como parte integrante do conjunto de relações sociais, também sofre influência destas novas tecnologias.

De certa forma, vários autores têm procurado avaliar os impactos que a web provoca e pode provocar sobre a democracia contemporânea. Alguns chegam a tal ponto que consideram a Internet o meio de uma nova democracia, a chamada “democracia direta eletrônica”, sistema no qual sob um ambiente virtual os cidadãos poderiam deliberar temas de interesse comum, a chamada "Ágora Virtual".

Em contra partida, outros estudiosos reconhecem de forma mais realista que a Internet possui sim um grande potencial democratizante, porém não alcançando de fato a “democracia

1 Lembrando que as mesmas constituem-se basicamente no contato físico do parlamentar com o eleitor e no uso de

mídias tradicionais, bem como a televisão, as publicações impressas etc.

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deliberativa direta” nas sociedades contemporâneas, muito menos, tal contribuição é signatária de um aperfeiçoamento dos processos políticos. As TICs podem como exemplo: aproximar as elites dirigentes aos cidadãos comuns, mas dentro dos quadros do modelo democrático representativo parlamentar, ou seja, não alteraria as estruturas políticas já postas na sociedade. Dessa forma a hipótese norteadora desta pesquisa é que, a "democracia deliberativa direta" virtual é irrealizável no momento, não porque o nível de interatividade é fraco ou irregular, mas porque quantitativamente não há: 1º um padrão de websites parlamentares e 2º há uma baixa adesão dos políticos brasileiros, aqui especificamente do sul do Brasil, a essa forma de interação ou informação com seu eleitor. Primeiramente, como percebemos acima, há dois posicionamentos relevantes sobre o tema, por isso se fazem necessários uma discussão mais aprofundada sobre as duas teses, em seguida vamos analisar as coletas feitas nos sites e realizar nossas considerações.

Para melhor compreensão da pesquisa vamos dividí-la em três partes, além dessa introdução: i) será feito uma breve exposição teórica sobre a utilização ou possibilidade da Internet no cenário político. ii) examinaremos os dados coletados nos portais legislativos do sul do Brasil, iii) faremos nossas considerações finais sobre os websites da região sul do Brasil.

1.2) Autores próximos do pensamento de “democracia direta eletrônica”.

Os estudos sobre as novas possibilidades de comunicação - via Internet - vem motivando vários pesquisadores. De forma geral, eles argumentam a possibilidade de uma “democracia direta eletrônica” na qual a maior parte dos cidadãos seriam capazes de usar a Internet para discutir sobre os temas públicos. Essa abordagem sofreu influência direta ou indiretamente de uma corrente de pensamento fundamentada na obra de Jurgen HABERMAS (1980), filósofo alemão, filiado a escola de Frankfurt, que aconselhava sobre a real necessidade de partir de discussões com ampla participação para tomar as decisões políticas contrapondo-se ao modelo de democracia representativa tradicional, que segundo ele, não cumpriu com sua promessa de trazer desenvolvimento tecnológico, à emancipação do homem e sua liberdade. Outra frankfurtiana, Hannah ARENDT (2005), vê a liberdade como uma atividade política que foi se restringindo apenas ao ato de votar e ser votado. O cidadão no século XX não participa mais da política (vida política), a polis perde o significado perante seus membros e assim, a condição do homem atrofia para o que ela chama de zoon politikon. Uma forma de emancipação política seria através da comunicação.

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Assim, os recursos de comunicação proporcionados pela Internet consentem com a criação de um espaço público deliberativo eletrônico, chamado “Ágora Virtual”. Segundo o coordenador do curso de Filosofia da Universidade do Rio dos Sinos, no RS, Celso C. AZAMBUJA, na obra "A Construção da Ágora Virtual" (1997) afirma que essa Ágora "permitiria a participação direta dos cidadãos na tomada de decisões que dizem respeito a sua vida, a sua cidade e ao seu planeta" (AZAMBUJA, 1997, p.11). O autor esclarece em um outro artigo “A Republica Digital” (s/d) que:

A idéia de Ágora virtual aqui evocada não deveria ser entendida em um sentido político restrito, tal como se tende a fazer, às vezes. Antes, ela quer indicar propriamente um espaço público da discursividade existencial e, portanto, o espaço de relações governamentais, econômicas e culturais (AZAMBUJA, s/d, p.13).

O autor acredita que a Internet levará à emergência de uma nova forma de democracia direta, preferível em relação à democracia representativa tradicional. Por esse viés não haverá mais necessidade de um representante eleito, pois “todos” poderão se auto-representar por meio do ciberespaço3. Os meios eletrônicos de comunicação libertariam a democracia, chegando ao ponto em que todos os sistemas de comunicação estariam sujeitos ao meio virtual, esse dia foi nomeado como o “Dia da Deliberação”, segundo FISHKIN (2002), ou seja, data nas quais todos os cidadãos de uma nação poderiam participar de discussões on-line. Essas discussões serviriam para tomar decisões sobre um determinado assunto. Desse modo, se crê que essa data possa promover o máximo de participação pública chegando a um maior aprimoramento sobre as decisões políticas, isso, devido à amplitude e clareza da discussão. FISHKIN pondera ao refletir a falta de acesso do cidadão a Internet e que esse fator, possa prejudicar essa participação “total” da sociedade.

Outro problema levantado pelo mesmo autor é a falta de interesse do usuário da web em discutir as questões políticas, ou seja, o “Dia da Deliberação”, não necessariamente será um dia de consciência política e discussão.

O professor de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz C. C. de OLIVO (2004) corrobora com o pensamento exposto acima, mas não faz uma análise propriamente sobre o poder Legislativo, foco deste artigo, mas ele abrange a administração pública como um todo – Executivo, Legislativo e Judiciário4 - e suas relações com a Internet, e

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Esse conceito será explicado adiante.

4 Sobre o impacto da web na esfera jurídica ver: OLIVO, Luis Carlos Cancellier de. O jurídico na sociedade em rede.

Florianópolis: Editora da UFSC, 2001 e RAVER, Áries J. (org). Direito, sociedade e informática: limites e perspectivas da vida digital. Florianópolis: Boiteux, 2000.

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com a possível “democracia deliberativa”. Ele procura compreender a transição entre a "modernidade e a pós-modernidade" sendo a primeira um fator de mudança na produção em escala, iniciada pela revolução Industrial e a segunda, ocorreu a pós a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) marcada pela informatização, assim, caracterizando uma nova sociedade, com um novo Estado, agora reglobalizado e interligado em rede (on-line). OLIVO, assim como HABERMAS (1980), acreditam que a modernidade não deu certo e que a pós-modernidade será marcada por um novo espaço – virtual - e por uma nova dinâmica social. O autor argumenta:

Na perspectiva da construção de uma sociedade e instituições mais transparentes e democráticas, as novas tecnologias de informação, e dentre estas a Internet, revelam-se como um elemento essencial para a recuperação de algumas promessas não cumpridas da modernidade, tais como a liberdade, a igualdade e a fraternidade. (OLIVO, 2004, p.200)

OLIVO aposta que a pós-modernidade informacional será um meio de diminuir disparidades, pois estando "todos" conectados em rede é possível "interagir instantaneamente, em tempo real, inaugurando desta forma um novo estilo de vida, de produção econômica e cultural" (2004 p.200) que abrangerá todas as ações do Estado, nas esferas do Judiciário, Executivo e Legislativo.

Esse aspecto cultural e econômico da pós-modernidade informacional é situado no espaço virtual ou ciberespaço. Pierre LEVI (1999) utiliza o conceito de Cibercultura, isto é, uma pós-cultura que ocorre no ciberespaço, que segundo o autor:

O ciberespaço oferece um poderoso suporte de inteligência coletiva, tanto em sua faceta cognitiva como em seu aspecto social (...) é com a escolha desse caminho, que representa aquilo que a cibercultura tem de mais positivo para oferecer nos planos econômicos, social e cultural, que os Estados poderão recuperar em potência real e na defesa dos interesses de suas populações aquilo que perdem pela desterritorialização e pela virtualização. (LEVI, 1999, p.206)

Essa desterritorialização ocorre em outros fóruns como Orkut (MOCELLIM, 2007). OLIVO e LEVI percebem o ciberespaço como um lugar horizontal, sem desigualdade e democrático, possível de participação de todos. Podemos chamar esses autores que acreditam em uma “democracia direta eletrônica” como “cyberotimistas”

1.3) Autores próximos do pensamento empirista.

O espaço virtual faz com que as relações sociais entre sociedade e poder público sejam "desmaterializados", permitindo uma comunicação com acesso e atualizações permanente

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(RUBIM, 2000). Essa comunicação torna-se assim, um instrumento dos políticos eleitos que por esse meio, têm como saber o que os seus eleitores querem, tanto no âmbito público como no privado. Por essa perspectiva os meio eletrônicos (websites, e-mails, blogs) são ferramentas para uma melhor "interação" entre o indivíduo e o ato político, caracterizando uma representação dos anseios da sociedade no processo decisório. Não estamos afirmando, que haverá substituição da comunicação real pela virtual, mas sim que os meios eletrônicos serão somados as formas de reivindicações dos vários seguimentos da sociedade, como canal de comunicação com os políticos. A internet, assim não seria uma solução das nossas democracias tradicionais, mas ficaria como uma forma de dinamizar o acesso nas instituições que representam o cidadão.

Não podemos dizer que investimentos em tecnologia ou acesso a Internet é uma maneira de interação entre o público e o privado5. Um estudo feito pela professora NORRI (2001), sobre a interatividade entre os cidadãos e os políticos na Inglaterra, mostra que há uma ausência por parte dos parlamentares britânicos no quesito "visibilidade eletrônica", pois apenas um quarto dos deputados britânicos listava seus e-mails nos site do parlamento e só 12% tinham websites pessoal. No Congresso norte-americano, pesquisas revelam que muitos parlamentares não utilizam o e-mail para responder a seus eleitores como mostra NORRIS (2001). Assim acesso à tecnologia não significaria na arena política uma eficiência na comunicação dos parlamentares com a sociedade.

A obra "Interação entre Executivo e Legislativo apoiada por TI" (2005), escrito por (CUNHA et al) ampliou o horizonte sobre a Internet e sua interação com mundo político quando analisou os vereadores das cidades que tem mais de 600 mil habitantes. Todavia o foco não era a interatividade com a sociedade e o legislativo municipal, mas dos vereadores com o Executivo municipal. Eles chegam à conclusão que não há comunicação eletrônica entre ambos.

BRAGA (2007a) mensura através de 190 itens o “grau de informatização”, entendido como o “uso que os parlamentares fazem dos websites para a divulgação de seus trabalhos” nos legislativos brasileiros. Podemos dizer que o grau de interatividade é posto de duas formas: entre o eleitor e o político (público externo), o que o autor chama de “interatividade vertical” como a interatividade com o público interno (entre os políticos e servidores públicos), “interatividade horizontal” o qual pode estar conectado a uma intranet. Ao mensurar o grau de informatização, percebemos assim a transparência da homepage, a sua navegabilidade, e usabilidade, a questão da estrutura do processo decisório como quesitos de modernização do portal parlamentar e do

5 Faço menção ao artigo de: GOMES, A. C. A política brasileira em busca da modernidade: na fronteira entre o público e

o privado. In SCHWARCZ, L. M. (org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, vol. 4, 1998, p.489-558. A autora mostra que o entrave à modernidade política brasileira está na fronteira entre o publico e privado (entre a sociedade e o Estado) Quando em nossa história foi resolvido esse problema, ocorreu de forma autoritária, tutelado pelo Estado, ou seja, ainda falta um "meio" - via democracia - para apaziguar essas fronteiras.

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seu - alto ou baixo - grau de informatização, criando assim um “índice de informatização”. Essa pesquisa tornou-se referência desse artigo, pois faz um detalhamento das informações dos portais legislativos dos vinte e setes estados brasileiros mais o portal CD e do SF. Na sua conclusão o professor afirma que o portal da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná (ALEPR) ficou com um grau de informatização insatisfatório, enquanto o portal da Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina (ALESC) ficou com um grau de informatização médio e o portal da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (ALERS) ficou em quarto lugar, entre os portais brasileiros, com um alto grau de informatização no seu portal, ficando atrás somente do portal da Assembléia Legislativa de Minas Gerias (ALEMG)6, ou seja, na região sul, é RS que tem o portal mais informatizado. Esses dados vão contrastar com o número de parlamentares que tem ou não websites nos três estados.

Um autor próximo dos “cyberpesimistas” é CASTELLS (2003). Ele acredita que as TCIs podem alterar as relações sociais, mas que a forma de se fazer política não mudará. CASTELLS afirma:

“Esperava-se que a Internet fosse um instrumento ideal para a democracia – e ainda se espera. (...) Entretanto a maioria dos estudos e relatórios descreve um quadro melancólico - com a possível exceção das democracias escandinavas” (2003, p.128). Segundo o autor há pouca discussão e adesão dos parlamentares há web. Um exemplo dessa falta de discussão na web é o Orkut, onde há milhões de adeptos, mas poucos debates, configurando uma comunidade mais estética do que de interação entre os seus membros (MOCELLIM, 2007). O que pode fazer da Internet uma potência comunicativa é o uso do e-mail, assim se diferenciando dos outros meios por sua agilidade. Todavia, os políticos podem ter uma equipe preparada de assessores para responder, “filtrar” ou não respondem esses e-mails. Muitos e-mails, aliás, não chegam ao conhecimento do próprio parlamentar7. Assim, o excesso de postagem, via e-mail, não significa acesso às instituições políticas, pode ser até um repulsor ou limitador das relações entre a sociedade e a os políticos, pois com muitos e-mails para responder, diminui o tempo que os "políticos" se dedicam a responder aos seus eleitores, como afirmou MITCHELL (2002). Nesse sentido a Internet não é instrumento que possibilita uma "democracia deliberativa", mas um entrave, pois a possibilidade de não haver resposta aumenta, bem como obter resposta "padronizadas".

A utilização do e-mail e dos websites são uma forma que os políticos encontram para reduzir os custos de propaganda e aumentar sua agilidade. O contrário também é verdadeiro no que tange os grupos de pressão, como sindicatos e outras instituições que podem através desse

6

Os dois portais com um alto grau de informatização são: em 1º Câmara dos Deputados. 2º ALEMG, 3º Senado Federal e em 4º ALERS (BRAGA, 2007a p. 26).

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instrumento manifestar sua indignação, através de e-mails ou acessando os websites dos parlamentares, mas isso não altera a estrutura de nossa democracia representativa.

1.4) Objetivos e metodologia

É dentro desse contexto que reside nosso interesse pela temática. Procuraremos nessa monografia O objetivo deste texto é fazer uma avaliação do uso das TICs pelas elites parlamentares brasileiras (no caso, os deputados estaduais no exercício do mandato no primeiro semestre de 2008) e construir um perfil sociopolítico destas elites a partir das informações encontradas nos sites legislativos. Buscaremos também apresentar uma proposta de construção de um indicador para avaliar o grau de disponibilidade das informações sobre tais elites na Web, especialmente nas home pages das casas legislativas onde atuam tais parlamentares, assim como relacionar o grau de uso da internet por determinados subgrupos de parlamentares com a cultura política ou com determinados valores a que aderem tais subgrupos de parlamentares. Para cumprir este objetivo, aplicamos um pequeno “survey” pela internet aos deputados estaduais brasileiros, e elaboramos uma “planilha prosopográfica” contendo as biografias coletivas dos 1059 deputados estaduais eleitos para a 16ª legislatura das Assembléias e Câmaras Legislativas brasileiras (2007-2011)8, utilizando exclusivamente as fontes encontradas na internet, onde buscamos organizar as informações sobre as seguintes dimensões da atividade de tais parlamentares: (1) perfil social e biográfico dos parlamentares (abrangendo itens tais como cor da pele, idade, sexo, nível educacional, profissão e estrato social); (2) trajetória política (forma de entrada na política; cargos administrativos e eletivos anteriormente ocupados; filiações partidárias anteriores; vínculos com associações e movimentos sociais, dentre outras atividades); (3) comportamento político (proposições apresentadas e aprovadas; comportamento durante as votações nominais; índice de presença em plenário; disponibilidade de websites; informações sobre o uso de verbas indenizatórias etc.).

A partir destes objetivos de ordem mais geral, buscaremos cumprir dois objetivos específicos: a) Apresentar uma proposta de mensuração do grau em que as informações sobre os parlamentares estão presentes nos websites das casas legislativas; b) Elaborar e aplicar instrumentos teórico-metodológicos para a análise de tais dados, bem como para a avaliação do significado analítico de tais informações para o estudo das elites parlamentares nas unidades

8 Esclareça-se que, embora tenhamos incluído também os senadores e deputados federais em nossa pesquisa, por

questões de espaço e de economia de exposição analisaremos apenas os deputados estaduais nesse texto. Além disso, não conseguimos concluir para este artigo o processamento dos dados sobre o conjunto dos senadores e deputados federais brasileiros. Para uma apresentação preliminar destes dados, remetemos o leitor a um texto anterior de nossa autoria (BRAGA & NICOLÁS, 2006) [CF]. Durante a apresentação na ABCP, apresentaremos os dados sobre os deputados e senadores.

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subnacionais brasileiras. Por fim, seguindo metodologia já aplicada em estudos por nós elaborados anteriormente (BRAGA, 2007), procuraremos sugerir um “indicador para mensurar o grau em que tais informações sobre as elites parlamentares estão disponíveis em cada uma das casas legislativas examinadas, analisando o comportamento desse índice por cada partido relevante representado em cada casa legislativa.

Sendo assim, nossa proposta básica nesse paper é fazer um estudo sobre o uso das TICs pelos deputados estaduais da legislatura de 2007-2011 das Assembléias e Câmaras Legislativas estaduais brasileiras e verificar se a intensidade deste uso está relacionado com (sim ou não) determinadas características do perfis de recrutamento e dos valores dos diferentes partidos e subgrupos de parlamentares representados nas ALES. Nesse sentido, deve-se esclarecer desde logo que, menos do que uma investigação exaustiva sobre as características em si dos perfis e dos padrões de recrutamento de tais elites parlamentares, interessa-nos mapear que tipo de informação se pode obter e até onde pode chegar a análise política a partir dos dados disponibilizados sobre tais atores nos websites dos órgãos legislativos brasileiros, tal como eles se encontravam organizados e disponíveis nas home pages das assembléias legislativas brasileiras no primeiro semestre de 2008, e relacionar a disponibilidade de tais informações com os valores políticos ao qual aderem os deputados.

Com efeito, embora já exista um corpo razoável de estudos sobre a cultura política, o recrutamento e o perfil sociopolítico das elites políticas brasileiras de uma maneira geral, e de suas elites parlamentares em particular9, poucos destes estudos buscam avaliar o uso que tais atores fazem da web para interagir e se comunicar com o eleitor, ou utilizar as fontes disponíveis na internet para divulgar suas atividades para a opinião pública. Por outro lado, os poucos estudos existentes sobre a relação entre internet e elites parlamentares (CARDOSO, 2003; DADER, 2003; CUNHA, 2005; MARQUES, 2007), geralmente relegam a segundo plano as questões relacionadas aos perfis sociais e às características do “recrutamento” de tais elites, centrando seu foco de atenção no problema da interação ou dos “graus de participação” do eleitor em relação aos processos decisórios nos quais ele está inserido.

Neste artigo, buscaremos articular estes diferentes níveis de análise, na medida em que procuraremos efetuar uma caracterização dos perfis dos parlamentares utilizando apenas as informações disponíveis na internet e nos websites das casas legislativas. Com isso, procuraremos integrar áreas de pesquisa geralmente separadas nos estudos sobre as elites

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Dentre estes estudos mais recentes sobre as elites políticas e parlamentares brasileiras, além de vários perfis biográficos publicados por instituições especializadas (DIAP, agências de análise política, casas legislativas), devemos destacar os trabalhos de RODRIGUES, L. M. (2002, 2006). MARENCO (2000, 2007) e MESSENBERG (2002, 2007) para os legislativos nacionais, e de LIMA JR. & CAMARGO (1998), ANASTASIA (2005) e RODRIGUES, F. (2006) para as unidades subnacionais de governo. No tocante aos estudos sobre cultura política, valores e elites políticas, conferir o conciso mas fundamentado balanço efetuado por PERISSINOTTO & BRAUNERT (2006). Os autores observam que apensa recentemente começaram a surgir estudos mais sistemáticos sobre os valores e a cultura política das elites nas unidades subnacionais brasileiras.

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políticas, especialmente as elites parlamentares: (i) por um lado, os estudos sociológicos sobre recrutamento, perfil e valores/comportamento político-ideológico de tais elites; (ii) por outro, os estudos sobre como tais elites dirigentes se comunicam e interagem com a opinião pública e com os cidadãos de uma maneira geral através dos recursos da mídia. O suposto de tal reflexão é o de que a disponibilização de tais informações na Web é um fator de fundamental importância para o estreitamento das relações entre representantes e representados, bem como para promoção de uma maior accountability do sistema político e dos atores nele atuantes para com os eleitores e os cidadãos de uma maneira geral.

Sublinhe-se desde logo que tal objetivo se compatibiliza com a premissa teórico-metodológica mais geral que orienta este trabalho: conforme observado por alguns autores cujas contribuições constituem o pano de fundo mais geral do presente texto (CASTELLS, 2003; NORRIS, 2001), e conforme observado por nós mesmos em outros trabalhos (BRAGA, 2007a; 2007b), as ferramentas utilizadas pela internet, desde que adequadamente utilizadas, podem ser um importante instrumento não só de conhecimento das elites dirigentes pelos pesquisadores e pelo público especializado, mas também de controle e monitoramento de tais atores e da esfera pública de uma maneira geral pelos cidadãos, e não apenas dos órgãos legislativos.

[O método que utilizaremos neste artigo será o método “prosopográfico”, que já empregamos anteriormente em trabalhos por nós elaborados sobre perfis de elites parlamentares (BRAGA, 1998, 2002), e que também tem sido utilizado por uma série de outros analistas para o estudo de “elites” e/ou grupos de intervenção política no Brasil10. Entretanto, como já observamos, diferentemente de outros trabalhos de natureza análoga que empregam tal recurso metodológico, utilizaremos única e exclusivamente, para os fins deste artigo, os materiais contidos sobre os parlamentares nos websites legislativos no início da 16ª Legislatura, no primeiro semestre de 2008. Isso deve-se ao fato de que o objetivo precípuo deste artigo não é elaborar um perfil, por si só, destas elites parlamentares, mas efetuar uma reflexão de cunho teórico-metodológico acerca da eficácia da internet enquanto recurso para o estudo e acompanhamento da atividade social de tais elites, bem como de sua comunicação com os cidadãos11. [ ESSE PARÁGRAFO INTEIRO PODE SER SUPRIMIDO, E PODE-SE ENCERRAR A ANÁLISE POR AQUI]

Frise-se, por fim, que procuraremos analisar algumas poucas variáveis de maneira mais intensiva, a fim de tomá-las como exemplo e ilustração do tipo de abordagem a ser ulteriormente

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Via de regra, quando se emprega o método prosopográfico para análises sociológicas de grupos de intervenção política as principais fontes de pesquisa utilizadas geralmente são dicionários biográficos e perfis das casas legislativas (FLEISCHER, 1976; MARENCO, 2000; SANTOS et. al., 2002), dados oficiais divulgados pelo TSE e pelos TREs (RODRIGUES, 2006), ou biografias e memórias dos próprios membros da elites examinadas (MICELI, 1976; LOVE, 1982), ou então utilizam outros recursos tais como questionários e “surveys” aplicados aos membros das elites examinadas (PERISSINOTTO et. al., 2006). De nosso conhecimento, ainda são virtualmente inexistentes estudos que busquem “problematizar” a internet enquanto fonte única ou mesmo principal do estudo de um determinado segmento de tais elites. [PODE-SE SUPRIMIR ESSA NOTA TAMBÉM]

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desenvolvida de maneira mais aprofundada em outros trabalhos. Assim, não é nosso objetivo nesse texto efetuar um estudo exaustivo de todos os problemas levantados, mas indicar diretrizes de pesquisa e apresentar algumas evidências para dar início a uma discussão mais aprofundada e substantiva sobre os impactos das TICs em múltiplas dimensões dos sistemas políticos contemporâneos, bem como sobre sua relação com os valores políticos dos diferentes segmentos das elites dirigentes.

Para cumprir os objetivos acima estipulados, organizaremos nossa exposição da seguinte forma: (1) inicialmente, definiremos o universo empírico pesquisado e esclareceremos alguns aspectos da metodologia empregada em nossa pesquisa; (2) em seguida, avaliaremos as informações contidas nos websites das assembléias legislativas brasileiras sobre o “perfil social” dos deputados estaduais, tantos de seus “atributos inatos”, quanto de seus atributos “adquiridos”; (3) em terceiro lugar, avaliaremos as informações disponíveis nos websites das Assembléias sobre a trajetória política pregressa dos deputados, ou seja, de sua atuação ou “socialização” política antes de assumirem os mandatos nas casas legislativas na legislatura em tela; (4) por fim, avaliaremos as informações disponíveis nos websites parlamentares sobre aqueles itens que julgamos mais relacionadas ao “comportamento político” dos deputados, tanto aquelas que podem ser acessadas diretamente pelo cidadão-internauta através dos perfis individuais dos deputados disponíveis nos sites das Assembléias, quanto aquelas que estão acessíveis exclusivamente através dos websites parlamentares.

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1) Padrões de recrutamento dos partidos políticos a partir da Web

[inserir algum comentário aqui]

1.1) O universo empírico da pesquisa e a metodologia empregada.

Ao todo foram pesquisados 1059 deputados que estavam no exercício de seus mandatos nos legislativos estaduais brasileiros no primeiro semestre de 2008, distribuídos num total de 27 legendas. A coleta dos dados nesse período deveu-se ao fato de que nossa intenção era apresentar dados atualizados sobre o uso da internet e outras dimensões do comportamento político dos deputados, tais como migração partidária e variação dos percentuais de legendas entre os vários partidos e blocos partidários ao longo da legislatura. Ao contrário de estudos que empreendemos anteriormente (BRAGA, 2007), onde as Assembléias de Alagoas e Rondônia estiveram no ar durante todo o período pesquisado, no primeiro semestre de 2008 todas as Assembléias Legislativas

brasileiras possuíam websites disponíveis na web sendo esta a primeira legislatura onde

isto ocorre em toda a história legislativa brasileira. A partir dos dados coletados exclusivamente nos websites das Assembléias Legislativas foi montada uma planilha prosopográfica contendo informações sobre as “biografias coletivas” de todos os parlamentares pesquisados. A distribuição do quadro partidário por região durante o período pesquisado, acompanhadas das variações de deputados na legenda do partido em comparação com a bancada da posse é dada pela tabela seguinte:

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Tabela 1: Distribuição dos partidos por região nas Assembléias Legislativas brasileiras (maio de 2008 X eleitos pelo TSE)12

Centro-oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total N % ∆ N % ∆ N % ∆ N % ∆ N % ∆ N ∆ PMDB 23 20,4 -1 44 12,9 1 32 17,3 5 32 11,8 -1 38 25,5 0 169 4 PSDB 19 16,8 2 48 14,1 -1 21 11,4 -1 46 17,0 2 18 12,1 0 152 2 PT 13 11,5 0 33 9,7 0 20 10,8 0 39 14,4 3 22 14,8 0 127 3 ppd 6 5,3 -2 59 17,3 -3 30 16,2 -2 28 10,3 -5 3 2,0 1 126 -11 DEM 11 9,7 0 44 12,9 -5 13 7,0 -2 30 11,1 2 13 8,7 -1 111 -6 PDT 8 7,1 1 22 6,5 1 7 3,8 -1 18 6,6 -1 13 8,7 1 68 1 PSB 3 2,7 0 34 10,0 2 8 4,3 0 15 5,5 2 4 2,7 0 64 4 PP 7 6,2 1 11 3,2 0 7 3,8 -1 10 3,7 0 20 13,4 1 55 1 PTB 7 6,2 -1 15 4,4 2 11 5,9 2 15 5,5 3 7 4,7 -1 55 5 ppe 0 0,0 0 11 3,2 -2 13 7,0 2 21 7,7 0 2 1,3 0 47 0 PR 12 10,6 2 15 4,4 5 12 6,5 -2 6 2,2 -5 2 1,3 0 47 0 PPS 4 3,5 -2 5 1,5 0 11 5,9 0 11 4,1 0 7 4,7 -1 38 -3 Total 113 100 0,0 341 100 0,0 185 100 0,0 271 100 0,0 149 100 0,0 1059 0 Fonte: TSE/GPDI (2008)

A tabela acima nos fornece informações sobre a distribuição dos partidos políticos nas Assembléias Legislativas estaduais no mês de maio de 2008, acompanhadas das respectivas variações de bancadas em comparação com as bancadas pelos quais os deputados foram originalmente eleitos, segundo os dados divulgados pelo TSE por ocasião da realização do pleito eleitoral. Comparando os dados com as informações referentes ao final da legislatura anterior, podemos destacar as seguintes alterações: (i) um acentuado crescimento do PMDB, que passa do segundo maior partido nas ALES (com 153 cadeiras), para o maior partido (169), num ganho total de 16 cadeiras; (ii) uma acentuada queda na bancada do PT, que passa de 141 deputados, ao final da 15ª Legislatura, para 127 ao início da 16ª, com uma perda de 14 parlamentares; (iii) um declínio ainda mais acentuado do antigo PFL, agora sob a denominação de DEM, que passou de 129 deputados para 111 (perda de 18); (iv) os partidos que mais cresceram em relação ao final da legislatura anterior foram o PSB, variando de 45 deputados para 64, num ganho de 19 cadeiras; os “pequenos partidos de direita”, que variaram de 108 cadeiras para 126, num ganho total de 18 cadeiras, e os “pequenos partidos de esquerda”, que variaram de 32 deputados estaduais para 47, num ganho de 15 cadeiras.

12

Pequenos Partidos de Direita (ppd) são os seguinte: PAN, PHS, PMN, PRB, PRONA, PRP, PRTB, PSC, PSD, PSDC, PSL, PST, PTdoB, PTN. Pequenos partidos de esquerda (ppe) são: PCdoB, PV e PSOL. Em relação ao quadro partidário vigente por ocasião da realização das eleições, em outubro de 2006, as principais modificações são as seguintes: (i) a fundação do PR/Partido Republicano em XX/XX/XXXX, através da incorporação do PL e do PRONA; (ii) a transformação do antigo PFL em DEM/Democratas, após a derrota eleitoral no pleito de 2008. [VERIFICAR NO WIKIPEDIA E SELECIONAR AS NOTAS]

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Com relação às variáveis “brutas” que usamos para construir as planilhas prosopográficas, elas estão enumeradas na tabela abaixo, acompanhadas das freqüências de cada item encontradas nos websites nas 27 assembléias legislativas brasileiras pesquisadas. Nossa expectativa inicial era encontrar variações análogas de presença destas variáveis entre os partidos ao que já havíamos encontrado entre as regiões do país em outros estudos anteriores, expectativa esta que, como veremos, terminou não se concretizando. Na tabela constam algumas das principais categorias “brutas” que constam na planilha construída, assim como a freqüência de parlamentares onde conseguimos obter informações sobre as mesmas. A partir delas, construímos as tabelas e elaboramos os indicadores que seguem abaixo.

Tabela 2) Exemplos de variáveis pesquisadas para a construção da planilha “prosopográfica” e sua freqüência no site das Assembléias Legislativas brasileiras.13

I) PERFIL SOCIAL DOS DEPUTADOS ESTADUAIS

[ATRIBUTOS INATOS E ADQUIRIDOS] II) TRAJETÓRIA POLÍTICA

% %

Foto do deputado/6 95,3 Informa votação no perfi/6 48,2

Local de nascimento/5 54,2 Informações sobre ano de início da carreira/5 55,1

Informações satisfatórias sobre atividade prof./4 38,2 Informações sobre local de início da carreira/5 57,8

Informa estado civil/2 28,3 Informações sobre via de entrada na política/5 61,7

Data de nascimento/2 45,6 Destaque para filiações partidárias anteriores/5 16,3

Informações satisfatórias sb. formação escolar/2 45,7 Informa vínculos com associações ou movimentos sociais/4 20,5 Informações satisfatórias sobre onde formou-se/1 25,7 Informações sobre metas propostas eleitorais/3 18,7

Informa ano em que se forou?/1 8,9 Informa ano do primeiro mandato político/2 55,3

Nome do chefe de família/0,5 25,6 Destaque para mandatos de dep. Est./2 52,1

Profissão do chede da família/0,5 8,7 Destaque para mandatos legislativos exercidos/2 50,1 III) COMPORTAMENTO POLÍTICO A PARTIR DOS PERFIS

% IV) COMPORTAMENTO POLÍTICO A PARTIR DOS SITES: %

Titular no mandato 74,9 Cargos ocupados a partir do site 91,4

Não migrou 68,7 Acesso às proposições apresentadas 93,4

Tem website pessoal ou institucional 54,3 Leis aprovadas a partir do site 33,9

Informa fone de contato no perfil? 42,4 Informações agregadas sobre presença em plenário 71,3

Informa endereço de gabinete? 33,7 Informações agregadas sobre votação nominal 50,2

link para projetos de lei no site do deputado 26,1 Resultados eleitorais/votação do parlamentar a partir do site 43,8 link para requirimentos? 21,8 Informações sobre emendas orçamentárias a partir do site 36,1 link para principais leis de sua autoria? 16,6 Presença nas Comissões a partir do site 23,9

Fonte: Braga (2008). Planilha prosopográfica a partir dos

websites das Assembléias Legislativas brasileiras

A partir da aplicação desta planilha construímos um indicador para avaliar o grau de presença e ausência de cada um dos itens nos diferentes partidos políticos pesquisados, dado que os partidos eram a unidade básica de pesquisa do presente estudo. O indicador é construído a partir da média ponderada do grau de presença ou ausência de cada uma das informações segundo o interesse para nossa pesquisa, em

13 Quando fazemos menção a “destaque para” determinada informação, isso significa que foi criado um item específico, no perfil de cada parlamentar, para indicar a existência de tal informação, não estando a mesma misturada a outros dados sobre os deputados no corpo de seu perfil. Um bom exemplo desse tipo de organização das informações sobre os parlamentares pode ser encontrado no site da Câmara dos Deputados e de algumas Assembléias estaduais brasileiras, tais como a Bahia, Goiás e Minas Gerais, por exemplo.

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uma escala que vai de zero (quando o item não se encontra presente no site de nenhuma Assembléia Legislativa) até 6 (grau máximo de importância do item para nossa pesquisa).

1.2) Perfil social e biográfico dos deputados estaduais brasileiros e a Web.

Podemos agora, a partir dos dados brutos e agregados sintetizados na tabela anterior, efetuar uma análise do perfil social e da trajetória política pregressa dos 1059 deputados estaduais e distritais brasileiros, procurando caracterizar os diferentes partidos políticos relevantes representados nas Assembléias Legislativas a partir das informações contidas nos websites das instituições. Frise-se que todas as categorias incluídas nas tabelas abaixo foram obtidas a partir dos dados brutos coletados nos websites das casas legislativas e resumidas na tabela anterior.

O primeiro atributo do perfil social dos parlamentares que iremos analisar, assim como de sua presença na internet, são aqueles “atributos inatos”, ou seja, aqueles que independem dos processos de socialização e de adaptação diferenciais dos quais foram objetos e agentes os próprios deputados a partir da data de seu nascimento. Com efeito, pelas informações contidas nestas tabelas podemos observar que ainda são bastante insatisfatórios os dados sobre os “atributos naturais” dos deputados estaduais brasileiros nos sites das ALES. Se, por um lado, cerca de 1009 (95,3%) dos parlamentares disponibilizam fotos de si mesmos nos sites, possibilitando assim a identificação da cor da pele a partir do exame visual de tais documentos, apenas 271 (25,6%) mencionam o nome de pelo menos um de seus pais, 92 (8,7%) informam sobre as atividades profissionais do chefe de família, apenas 5 (0,5%) esclarece sobre a escolaridade dos mesmos, o que prejudica enormemente a caracterização do exame de eventuais processos de mobilidade social ocorrido entre gerações.

Não obstante a escassez de alguns dados, a partir dessas informações brutas podemos derivar as seguintes freqüências agregadas sobre o perfil social dos parlamentares:

Tabela 3) Perfil social dos deputados a partir da web (atributos naturais x partido)

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ppe PT PDT PSB PPS PMDB PSDB PR PTB PP DEM ppd Total Total % % % % % % % % % % % % N % Cor da pele: branca 89,4 76,4 89,7 76,6 81,6 85,8 84,9 89,4 76,4 83,6 85,6 75,4 874 82,5 negra 0,0 3,9 0,0 4,7 2,6 0,6 0,0 0,0 1,8 3,6 0,9 0,0 14 1,3 parda 4,3 15,0 8,8 14,1 10,5 6,5 11,8 8,5 14,5 7,3 10,8 19,0 121 11,4 negros e pardos 4,3 18,9 8,8 18,8 13,2 7,1 11,8 8,5 16,4 10,9 11,7 19,0 135 12,7 s/i 6,4 4,7 1,5 4,7 5,3 7,1 3,3 2,1 7,3 5,5 2,7 5,6 50 4,7 Sexo feminino 8,5 17,3 8,8 9,4 7,9 14,8 9,2 8,5 9,1 9,1 5,4 11,1 114 10,8 masculino 91,5 82,7 91,2 90,6 92,1 85,2 90,8 91,5 90,9 90,9 94,6 88,9 945 89,2 faixa etária/TSE De 16 a 25 anos 2,1 0,0 0,0 3,1 0,0 0,6 1,3 0,0 1,8 1,8 0,9 1,6 11 1,0 De 26 a 35 anos 12,8 6,3 7,4 18,8 10,5 9,5 9,9 19,1 16,4 12,7 11,7 12,7 120 11,3 De 36 a 45 anos 42,6 33,1 27,9 32,8 28,9 28,4 22,4 23,4 34,5 34,5 21,6 30,2 306 28,9 De 46 a 55 anos 29,8 48,0 35,3 40,6 28,9 40,2 42,1 34,0 25,5 30,9 36,9 38,9 405 38,2 De 55 a 66 anos 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1 0,1 De 56 a 65 anos 4,3 11,0 20,6 1,6 21,1 15,4 21,7 21,3 12,7 14,5 18,9 11,1 158 14,9 De 66 a 75 anos 4,3 0,0 4,4 0,0 7,9 4,1 1,3 2,1 5,5 3,6 9,9 3,2 38 3,6 De 76 a 85 anos 0,0 0,0 0,0 1,6 0,0 0,0 0,7 0,0 1,8 1,8 0,0 0,0 4 0,4 Índice de localismo

Nasceram no estado por que foram eleitos 42,6 41,7 36,8 42,2 28,9 42,6 44,7 36,2 38,2 43,6 32,4 42,9 428 40,4 Nasceram em outro estado 10,6 13,4 13,2 6,3 23,7 16,0 9,9 23,4 10,9 20,0 20,7 11,9 152 14,4

s/i 46,8 44,9 50,0 51,6 47,4 41,4 45,4 40,4 50,9 36,4 46,8 45,2 479 45,2

Origem dos deputados/Olavo

capital 19,1 9,4 10,3 18,8 7,9 13,6 11,8 14,9 5,5 5,5 14,4 11,9 128 12,1 interior 25,5 37,8 32,4 28,1 28,9 34,9 36,2 29,8 36,4 43,6 26,1 30,2 350 33,1 outro estado 8,5 7,9 7,4 1,6 15,8 10,1 7,2 14,9 7,3 14,5 12,6 12,7 103 9,7 s/i 46,8 44,9 50,0 51,6 47,4 41,4 44,7 40,4 50,9 36,4 46,8 45,2 478 45,1 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Total 47 127 68 64 38 169 152 47 55 55 111 126 1059 100 Fonte: GPDI

Embora não possam ser tomados como significativos de toda a população observada, os dados obtidos nos permitem chegar a algumas conclusões interessantes, especialmente sobre gênero, cor da pele e “índice de localismo”, todas estas dimensões relevantes para a caracterização dos perfis de recrutamento dos partidos relevantes representados nos legislativos estaduais brasileiros. No tocante aos tipos de partidos, os dados mais relevantes que obtivemos da coleta foram os seguintes:

[COMENTÁRIOS. AGREGAR GRAU DE PRESENÇA]

Tabela 4) Perfil social dos deputados a partir da web (atributos adquiridos x partido relevante)

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ppe PT PDT PSB PPS PMDB PSDB PR PTB PP DEM ppd Total Total % % % % % % % % % % % % N % Estado civil Casado 19,1 22,0 22,1 18,8 21,1 34,9 25,0 38,3 18,2 23,6 37,8 27,0 286 27,0 Divorciado 0,0 0,0 0,0 1,6 0,0 0,0 0,7 0,0 0,0 3,6 0,0 0,0 4 0,4 Solteiro 0,0 0,8 0,0 0,0 0,0 1,2 2,0 2,1 3,6 0,0 0,0 0,0 9 0,8 viúvo 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,9 0,0 2 0,2 sem informação 78,7 77,2 77,9 79,7 78,9 63,9 72,4 59,6 78,2 72,7 61,3 73,0 758 71,6 Escolaridade/agregada administração 8,5 0,8 5,9 7,8 5,3 4,7 3,3 4,3 7,3 3,6 3,6 7,9 51 4,8 biológicas 4,3 4,7 4,4 1,6 5,3 3,0 2,0 0,0 3,6 1,8 3,6 1,6 31 2,9 contabilidade 0,0 1,6 1,5 0,0 0,0 0,6 0,0 2,1 0,0 1,8 0,9 1,6 9 0,8 direito 17,0 6,3 16,2 12,5 15,8 15,4 17,1 31,9 14,5 9,1 18,0 14,3 159 15,0 economia 2,1 2,4 1,5 3,1 2,6 1,2 3,9 0,0 1,8 0,0 0,0 0,0 17 1,6 engenharia 12,8 5,5 2,9 1,6 0,0 4,7 4,6 6,4 3,6 5,5 6,3 1,6 48 4,5 exatas 4,3 3,1 1,5 1,6 2,6 1,2 2,0 0,0 1,8 1,8 3,6 0,0 20 1,9 humanas 12,8 17,3 7,4 6,3 5,3 8,9 7,2 6,4 3,6 5,5 3,6 4,8 83 7,8 medicina 2,1 1,6 5,9 12,5 5,3 4,7 9,2 0,0 10,9 1,8 9,9 9,5 69 6,5 s/i 36,2 56,7 52,9 53,1 57,9 55,6 50,7 48,9 52,7 69,1 50,5 58,7 572 54,0

Formou-se em universidade pública?

não 12,8 10,2 13,2 23,4 13,2 11,2 10,5 25,5 10,9 10,9 18,9 7,1 137 12,9 sim 19,1 18,9 22,1 12,5 18,4 15,4 19,1 10,6 10,9 9,1 18,0 11,9 169 16,0 s/i 68,1 70,9 64,7 64,1 68,4 73,4 70,4 63,8 78,2 80,0 63,1 81,0 753 71,1 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Profissão/agregada exatas 10,6 6,3 4,4 3,1 0,0 5,3 3,9 4,3 3,6 5,5 10,8 1,6 54 5,1 humanas 17,0 22,0 14,7 10,9 10,5 13,0 9,9 10,6 9,1 20,0 9,9 9,5 138 13,0 intelectuais/sociais aplicadas 12,8 8,7 10,3 12,5 23,7 18,3 16,4 23,4 20,0 7,3 15,3 11,1 154 14,5 militar 2,1 1,6 4,4 3,1 2,6 0,6 1,3 2,1 5,5 0,0 0,9 4,8 23 2,2 outras 4,3 3,9 4,4 1,6 2,6 4,7 3,9 4,3 1,8 5,5 3,6 2,4 39 3,7 proprietário 12,8 6,3 16,2 12,5 10,5 15,4 15,8 14,9 9,1 16,4 14,4 21,4 151 14,3 saúde/biológicas 4,3 5,5 11,8 15,6 7,9 8,9 14,5 2,1 12,7 7,3 14,4 11,9 110 10,4 técnicos 6,4 9,4 1,5 0,0 2,6 0,6 3,3 2,1 1,8 3,6 0,9 2,4 31 2,9 trabalhador braçal 0,0 2,4 0,0 0,0 0,0 0,6 1,3 0,0 0,0 1,8 0,9 1,6 10 0,9 s/i 29,8 33,9 32,4 40,6 39,5 32,5 29,6 36,2 36,4 32,7 28,8 33,3 349 33,0 Total 47 127 68 64 38 169 152 47 55 55 111 126 1059 100

Os percentuais acima corroboram a proposição anterior acerca da tendência de todos os partidos políticos de omitirem informações sobre os níveis inferiores de escolaridade. Outro ponto a ser destacado é o de que, embora não obtivéssemos informações satisfatórias sobre a natureza estatal ou não-estatal da carreira profissional dos deputados estaduais, os percentuais da tabela fornecem indícios que nos permitem confirmar o fenômeno já observado por outros estudos em nível nacional acerca da existência de uma certa correlação entre padrão de estratificação social e características dos recrutamentos dos diferentes blocos partidários, embora as diferenças expostas na tabela acima sejam menos intensas do que as encontradas em outros estudos (MARENCO, 2000; SANTOS, 2002; RODRIGUES, 2006). Assim, partidos de esquerda, especialmente os mais “programáticos”, apresentam percentuais mais elevados de profissões intelectuais (destacando-se os com formação universitária da área de Humanas) e trabalhadores braçais em seu seio, enquanto que partidos de direita e centro-direita tendem a ocupar uma posição simetricamente inversa.

Do ponto de vista da proposta inicial deste texto, no entanto, mais importante do que efetuar uma análise e descrição dos dados coletados é empreender uma avaliação do grau de disponibilidade das informações sobre as elites parlamentares dos diferentes partidos políticos

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nas casas legislativas. Tal proposta de avaliação e monitoramento de tais informações se consubstancia na elaboração de um “indicador” ´para avaliar o “grau de transparência” e de disponibilidade de tais informações nas casas legislativas. Tal indicador está corporificado no gráfico abaixo, que busca mensurar e hierarquizar a magnitude das informações sobre os deputados disponíveis nos websites legislativos brasileiros. O índice foi obtido a partir das médias ponderadas dos percentuais de presença das variáveis examinadas a partir de seu grau de relevância para nossa pesquisa14.

Gráfico 1) Informações sobre perfil social dos partidos nos sites da ALES (média ponderada dos percentuais)

56,9 54,0 53,3 52,4 51,6 51,5 51,4 50,6 50,4 49,6 47,8 47,7 0,0 25,0 50,0 75,0 100,0 PR DEM PP PMDB PDT PT ppe ppd PSDB PSB PPS PTB Partidos P o n tu ão

Observamos que, diferentemente do que ocorre com as várias unidades da federação brasileiras, há uma grande homogeneidade de informações entre os diversos partidos políticos, havendo pouca variação entre eles. Assim, todos eles apresentam níveis insatisfatórios de transparência no tocante a informações sobre seus atributos inatos, excetuando uma ou outra Assembléia Legislativa [COMENTÁRIOS]

1.3) Trajetória e socialização política dos deputados estaduais.

Nesse segundo item procuraremos avaliar o grau de presença de informações sobre a trajetória ou socialização política pregressa dos deputados. Nos estudos sobre

14 Para um detalhamento da metodologia e dos critérios de ponderação das variáveis “fortes” e “fracas” que usamos na composição do índice, cf. a planilha anexa a este paper.

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recrutamento, via de regra a categoria de “socialização política” é empregada para designar itens relacionados à atividade política dos parlamentares antes do exercício do mandato parlamentar. A importância de dados sobre a trajetória política para a compreensão da atividade das diferentes agremiações partidárias é particularmente destacada em estudos recentes, que afirmam/constatam que padrões de recrutamento mais endógenos e em segmentos sociais com menor patrimônio acumulado, tende a gerar partidos mais coesos e voltados à defesa dos interesses de grupos mais organizados e mais na arena política e parlamentar (MARENCO, 2000, 2007).

No tocante a informações sobre a trajetória política dos deputados estaduais, através do exame da freqüência desagregada dos itens mais importantes que constituíram nossa planilha prosopográfica, podemos observar que é bastante desigual o percentual de informações sobre as diversas variáveis pesquisadas.

Pelos dados da planilha anexa, podemos perceber que apenas 457 deputados (43,2%) disponibilizam em seus perfis dados sobre a votação que os conduziu às Assembléias de representantes; 32,8% sobre a data exata (ano) de sua primeira atividade política, excetuando o atual mandato de deputado estadual; apenas 17,5% dão “destaque” (no sentido anteriormente esclarecido) para os cargos administrativos anteriormente exercidos; 19,5% destacam filiações partidárias anteriores e apenas 3,9% informam sobre as atividades intelectuais exercidas. Sublinhe-se aqui que a forma “narrativa” e não-sistemática de apresentação das informações sobre os parlamentares na maior parte das Assembléias Legislativas brasileiras, sem a adoção de formulários-padrão tal como ocorre na Câmara dos Deputados, por exemplo, dificulta sobremaneira a organização de bases de dados prosopográficas a partir de tais fontes, tornando muitas vezes necessário um esforço interpretativo para a coleta de informações sobre tais itens.

A distribuição das informações mais relevantes sobre a socialização política pregressa dos deputados antes do exercício dos mandatos é dada pela tabela seguinte:

Tabela 4) Trajetória política dos deputados estaduais (por partido político)

ppe PT PDT PSB PPS PMDB PSDB PR PTB PP DEM ppd Total Total

% % % % % % % % % % % % N %

Período de entrada na política:

1960 a 1985 4,3 2,4 11,8 6,3 13,2 16,6 11,2 12,8 3,6 10,9 9,0 4,8 97 9,2

1985 a 2000 29,8 37,8 32,4 37,5 34,2 31,4 40,8 34,0 23,6 34,5 36,9 32,5 366 34,6 posterior a 2000 34,0 31,5 23,5 28,1 15,8 18,9 18,4 23,4 32,7 29,1 23,4 19,8 252 23,8

s/i 31,9 28,3 32,4 28,1 36,8 33,1 29,6 29,8 40,0 25,5 30,6 42,9 344 32,5

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Início no mesmo local de nascimento?

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n 4,3 7,9 8,8 4,7 21,1 11,2 7,9 12,8 5,5 14,5 13,5 12,7 108 10,2

s 68,1 64,6 60,3 68,8 42,1 58,6 61,8 55,3 61,8 58,2 56,8 46,8 622 58,7

s/i 27,7 27,6 30,9 26,6 36,8 30,2 30,3 31,9 32,7 27,3 29,7 40,5 329 31,1

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 principal via de entrada na política

assessoria política 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 1,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3 0,3

associação de classe 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 2,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4 0,4

cargo executivo estadual 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,6 1,3 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 4 0,4

cargo executivo federal 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 1 0,1

cargo executivo municipal 10,6 6,3 10,3 18,8 7,9 14,8 17,8 12,8 7,3 12,7 18,0 9,5 136 12,8 cargo legislativo estadual 17,0 22,8 29,4 23,4 23,7 26,0 24,3 29,8 29,1 27,3 35,1 24,6 277 26,2 cargo legislativo federal 2,1 0,8 1,5 0,0 2,6 0,6 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 6 0,6 cargo legislativo municipal 23,4 15,7 27,9 28,1 23,7 25,4 24,3 23,4 27,3 32,7 19,8 27,0 257 24,3 familismo/assistencialismo 0,0 0,0 1,5 0,0 0,0 0,6 0,0 0,0 3,6 0,0 0,9 0,0 5 0,5 militância partidária 2,1 2,4 2,9 0,0 0,0 2,4 2,0 2,1 1,8 1,8 1,8 0,0 18 1,7 movimento estudantil 2,1 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1 0,0 1,8 0,0 0,0 4 0,4 movimento sindical 6,4 22,0 0,0 1,6 7,9 0,6 0,7 4,3 3,6 0,0 0,9 1,6 44 4,2 movimento social 8,5 11,0 0,0 3,1 2,6 0,0 1,3 0,0 1,8 1,8 1,8 4,0 32 3,0 s/i 27,7 18,1 26,5 25,0 31,6 27,8 23,7 23,4 25,5 21,8 21,6 33,3 268 25,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 legislatura atual/dep est.

primeira 78,7 38,6 44,1 54,7 55,3 44,4 47,4 40,4 60,0 50,9 40,5 57,9 517 48,8 segunda 17,0 39,4 14,7 31,3 15,8 19,5 18,4 23,4 18,2 16,4 21,6 15,1 228 21,5 terceira 0,0 14,2 16,2 6,3 10,5 17,8 17,1 8,5 7,3 14,5 13,5 11,1 138 13,0 quarta 2,1 5,5 16,2 4,7 10,5 8,3 9,9 12,8 3,6 9,1 14,4 6,3 92 8,7 qunta ou mais 2,1 2,4 8,8 3,1 7,9 10,1 7,2 14,9 10,9 9,1 9,9 9,5 84 7,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0

Também no tocante a este item, os dados obtidos a partir dos websites das casas legislativas nos permitem apreender algumas diferenças entre os vários tipos de partidos políticos que, embora pequenas, não devem ser desconsideradas, devendo servir de diretrizes para estudos futuros que usem estas fontes como base, quando informações satisfatórias sobre as elites políticas que dela fazem parte finalmente forem disponibilizadas na rede.

Assim, os PPE apresentam um elevado percentual de deputados cuja principal via de entrada na política deu-se através da atuação em movimentos sociais de diversas naturezas (11,9%), movimento sindical (19,3%), e estudantil (14,8%), sendo que apenas 34,8% de seus parlamentares informaram em seus perfis o exercício do mandato legislativo como primeira atividade política formal exercida antes do mandato de deputado estadual. Em contraste, para a maior parcela dos demais partidos a principal via de entrada na política informada, ou pelo menos que se pode depreender da leitura do perfil, foram os mandatos legislativos, nos vários níveis de representação política, seguida de cargos executivos, especialmente prefeitos ou secretários de cidades médias do interior, que cacifam tais parlamentares para a candidatura de deputados estaduais.

Outro dado que deve ser destacado na tabela anterior é o elevado percentual de parlamentares de partido de esquerda que já ocuparam cargos administrativos (especialmente prefeitos e secretários de Estado municipais), revelando que tais parlamentares, longe de serem “outsiders” do sistema político, já possuíam uma certa experiência administrativa prévia, estando tais partidos longe de serem integrados por políticos socializados apenas em movimentos sociais ou de contestação da ordem vigente. A nosso ver, esse indicador reflete o progressivo processo de

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institucionalização da política brasileira, com os partidos de esquerda ocupando cargos nas esferas subnacionais de governo, que inclusive servem como um importante “trampolim” para a ocupação de postos eletivos noutras esferas do sistema político. Ou seja: já não se fazem mais “outsiders” como antigamente, parodiando o título de um conhecido texto de um estudioso do recrutamento político brasileiro (MARENCO, 2000).

Assim como no item anterior, derivamos como corolário do trabalho de coleta de dados um índice que consiste na média ponderada dos percentual de informações contidas sobre os deputados nos sites das Assembléias Legislativas, segundo o critério de relevância para nossa pesquisa e para a construção de nossa base de dados “prosopográfica”. O desempenho de cada Assembléia Legislativa em relação às informações mais ou menos satisfatórias sobre a trajetória política de seus parlamentares é dado pelo gráfico abaixo:

Gráfico 2) Informações sobre trajetória política dos partidos nos sites da ALES (média ponderada dos percentuais)

46,3 44,6 44,5 44,2 40,4 40,1 40,1 40,1 39,1 37,1 36,5 35,5 0,0 25,0 50,0 75,0 100,0 PR PT PP PSB DEM ppe PSDB PMDB PDT ppd PTB PPS Partidos P on tu aç ão [COMENTÁRIOS]

1.4) Comportamento político e parlamentar dos deputados estaduais.

Neste momento da análise podemos colocar a indagação crucial: para que estudar a composição e o recrutamento das elites político-partidárias e dos demais grupos de intervenção política de uma maneira geral? Tal estudo, a nosso ver, teria menor importância heurística, correndo o risco de reduzir-se a uma mera sociografia descritiva

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dos grupos de intervenção política caso eventuais diferenças (de renda, status/estrato social, patrimônio, nível educacional, perfil ideológico, valores cognitivos e trajetórias políticas, assim como eventuais processos de “ressocialização” devido às carreiras nas instâncias partidárias) não interferissem de alguma forma nas e se correlacionassem com as múltiplas dimensões do comportamento político dos parlamentares, gerando diferenças significativas nas diferentes estratégias e padrões de comportamento observados dos mesmos nas várias esferas onde se dá sua atividade política e social. Não objetivamos, nos limites desse artigo, abordar nem de perto com sistematicidade uma questão dessa magnitude analítica, mas simplesmente fornecer algumas evidências que nos permitam colocar algumas questões a esse respeito, especialmente no tocante às fontes onde podem ser obtidas informações nas ALES para uma abordagem mais sistemática dessa questão15.

Examinaremos em seguida alguns itens relevantes para o estudo do comportamento político dos deputados nas assembléias legislativas estaduais brasileiras. A partir das informações coletadas, podemos constatar que a maior parte dos deputados estaduais já disponibiliza e-mail para contato com o cidadão (74,9%) e número de telefone na web (68,7%), o que podemos considerar um percentual baixo tendo em vista os recursos tecnológicos atualmente disponíveis, especialmente para quem tem acesso a verbas públicas. Mais grave ainda é o baixíssimo percentual de parlamentares com websites accessíveis a partir de seus perfis nas Assembléias: apenas 176 (16,6%) do total de deputados estaduais da 15ª legislatura informaram ao cidadão-internauta endereço de seu website pessoal. Mais uma vez são os PPE que se singularizam em relação aos demais tipos de partido, apresentando um percentual mais elevado de deputados com websites pessoais (31,8%). Por outro lado, ao contrário dos sites da Câmara dos Deputados e do Senado Federal brasileiros, em nenhuma das ALES há link direto dos perfis pessoais dos deputados para o resultado das votações nominais ocorridas em plenário ou mesmo para a presença dos deputados à sessão. Apenas a título de exemplo, o uso de websites por categoria de parlamentares poder ser ilustrado pela tabela abaixo:

15 Ou seja, não basta afirmar a trivialidade de que “o recrutamento conta” para o desempenho das instituições sociais, mas desenvolver instrumentos teórico-metodológicos para verificar, em cada processo político concreto, se e como se dá tal influência, problema este que, como dissemos, não pode ser senão tangenciado neste texto. Por outro lado, a afirmação acima não equivale à proposição segundo a qual uma sociografia descritiva das elites seja destituída de impostância analítica, e não possa servir de base para análises em profundidade de processos políticos substantivos e como fator explicativo de determinadas trajetórias sociais. Ao contrário, nós mesmos procuramos empreender uma sociografia desse tipo em outro trabalho, bem como esclarecer de forma sintética alguns de seus limites (BRAGA, 1998).

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Tabela 5) Comportamento político.

ppe PT PDT PSB PPS PMDB PSDB PR PTB PP DEM ppd Total Total

% % % % % % % % % % % % N % Titular ou suplente? suplente 8,5 7,1 2,9 9,4 5,3 7,1 10,5 8,5 10,9 7,3 9,9 11,9 91 8,6 Titular ou suplente? 91,5 92,9 97,1 90,6 94,7 92,9 89,5 91,5 89,1 92,7 90,1 88,1 968 91,4 total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Migrou? não 97,9 97,6 92,6 90,6 97,4 92,9 96,7 83,0 78,2 94,5 95,5 92,9 989 93,4 sim 2,1 2,4 7,4 9,4 2,6 7,1 3,3 17,0 21,8 5,5 4,5 7,1 70 6,6 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Respondeu emails? não respondeu 83,0 80,3 82,4 73,4 81,6 78,1 77,0 80,9 70,9 76,4 78,4 76,2 826 78,0 respondeu 4,3 7,9 0,0 0,0 5,3 1,2 3,3 4,3 1,8 5,5 3,6 0,0 31 2,9 sem email 0,0 0,8 0,0 4,7 2,6 1,2 1,3 0,0 0,0 0,0 2,7 0,0 12 1,1 voltou 12,8 11,0 17,6 21,9 10,5 19,5 18,4 14,9 27,3 18,2 15,3 23,8 190 17,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Tem email? não 2,1 7,9 0,0 6,3 10,5 5,9 4,6 0,0 3,6 7,3 3,6 6,3 54 5,1 sim 97,9 92,1 100,0 93,8 89,5 94,1 95,4 100,0 96,4 92,7 96,4 93,7 1005 94,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0 Tem website?

não [checar inconsistência] 42,6 37,0 75,0 64,1 68,4 66,3 71,1 66,0 74,5 80,0 69,4 81,0 700 66,1

sim 57,4 63,0 25,0 35,9 31,6 33,7 28,9 34,0 25,5 20,0 30,6 19,0 359 33,9

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 1059 100,0

Pela tabela acima podemos observas algumas diferenças que, embora pequenas, são signficativas no uso de websites por categoria de parlamentares. Assim, parlamentares do campo político de esquerda (23,1%), eleitos por partidos programáticos desse mesmo campo (30,6%), da região centro-oeste do país (30,1%) e com menos de 40 anos (26,0%) apresentam uma frequência maior de uso da internet para divulgar suas atividades políticas, o que pode ser considerado um indicador de uma maior preocupação com a transparência de suas ações. Se se trata de um fenômeno passageiro, limitado aos estágios iniciais de uso da web pelos deputados estaduais, ou um processo de mais longa duração, apenas estudos futuros poderão responder de forma taxativa.

Destas variáveis sobre comportamento político dos parlamentares constantes da base de dados prosopográfica por nós elaborada podemos derivar os gráficos abaixo, que ilustram o grau de disponibilidade de informações relevantes para o estudo do comportamento político dos parlamentares nas ALES, tanto através da visita aos perfis parlamentares dos próprios deputados, quando através da visita aos websites das casas legislativas (cf. Anexo 2). Agrupamos as variáveis referentes ao “comportamento político” dos parlamentares em dois subgrupos: (i) aquelas informações cuja disponibilidade depende predominantemente de políticas institucionais adotadas pelas casas legislativas e apresentam pouca variação entre os parlamentares individualmente considerados, tais como disponibilidade de e-mail, telefone e outros dados institucionais dos deputados; (ii) aqueles dados que estão sob controle mais estrito dos políticos individualmente considerados, tais como a construção de blogs e websites pessoais, taxa de resposta aos

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