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Pessoa com deficiência: uma análise acerca da lei 13.146/2015 – estatuto da pessoa com deficiência – e o direito ao trabalho

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ADALGIR ARLEI BERTOLLO

PESSOA COM DEFICIÊNCIA: UMA ANÁLISE ACERCA DA LEI 13.146/2015 – ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA – E O DIREITO AO TRABALHO

Ijui (RS) 2018

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ADALGIR ARLEI BERTOLLO

PESSOA COM DEFICIÊNCIA: UMA ANÁLISE ACERCA DA LEI 13.146/2015 – ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIENCIA – E O DIREITO AO TRABALHO

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCSJ - Departamento de Estudos Jurídicos e Sociais.

Orientador: MSc. Paulo Scherer

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha companheira Tainá, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante esta jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

À minha companheira Tainá pela compreensão da ausência física em vários momentos durante a madrugada, por entender que isso era parte da construção de mais um degrau da vida.

Ao meu orientador Paulo Scherer, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento, o qual mais que um professor se tornou um amigo nesta trajetória acadêmica.

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"A realização concreta do valor da pessoa humana não depende só do Direito. Depende muito mais da consolidação, nos corações e mentes, de uma ética altruísta, voltada para ‘o outro’" (Daniel Sarmento).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma retomada do direito do trabalho ao longo do tempo aliado à sua importância ao ser humano, com um enfoque voltado às pessoas com deficiência, suas dificuldades, seu histórico de tratamento e a falta de inserção social que sofrem. Também trata sobre a legislação que as ampara, o arcabouço jurídico que procura positivar direitos de igualdade e acessibilidade, visando uma efetivação da inclusão social e para a garantia dos direitos fundamentais constitucionais a todos assegurados. Ainda, procura analisar dados coletados, sobretudo do IBGE relativos aos censos realizados e sites especializados no assunto, em que ilustra a realidade brasileira em relação às pessoas com deficiência na contemporaneidade, principalmente no que diz respeito ao direito do trabalho, as condições de acesso e às garantias oferecidas pela legislação existente e o que de fato acontece no mundo do trabalho.

Palavras-Chave: Pessoa com Deficiência. Direito ao Trabalho. Acessibilidade. Garantias.

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ABSTRACT

The main point of this term paper is to resume a little of Labor Law over time ally to its importance to human being, with an approach for people with disabilities, their dificulties, their historical of treatment and their problems with the social insertion. It is also about the legislation wich supports them, the legal framework that seeks positive rights of equality and accessibility, aiming at an effective social inclusion and the guarantee of constitutional fundamental rights to all ensured; even them. And still, it seeks to analyze collected data, especially of the IBGE on the censuses made and sites specialized in the subject, illustrating the Brazilian reality in relation to people with disabilities nowadays, especially about Labor Law, the conditions of access and the guarantees offered by existing legislation and what actually happens in the world of work.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 O MUNDO DO TRABALHO ... 10

1.1 O trabalho e sua história ... 11

1.2 A importância do trabalho para a efetivação do homem ... 14

1.3 O direito ao trabalho digno ... 17

1.4 A pessoa com deficiência no Brasil e sua condição histórica ... 21

2 A PESSOA COM DE DEFICIÊNCIA E A INCLUSÃO NO MUNDO DO TRABALHO ... 27

2.1 Legislação geral e a pessoa com deficiência: Constituição Federal, Decreto 5.452/43 e Lei 8.213/91. ... 28

2.2 O direito ao trabalho da pessoa com deficiência e a Lei 13.146/15 ... 34

2.3 Critérios específicos da relação: remuneração, insalubridade, terceirização e jornada de trabalho ... 38

2.4 Inclusão, integração e dados sobre a atuação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho ... 46

CONCLUSÃO ... 54

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INTRODUÇÃO

O trabalho, além de levar à construção de algo, é uma atividade social, os indivíduos se inserem no espaço social através do seu ofício, tornam-se indivíduos produtivos. Sua importância vai além da atividade produtiva em si, mas da convivência, da cidadania. O trabalho foi se tornando algo delineador de condições de qualidade para existir e conviver. Estar ou não trabalhando implica para o indivíduo a sua inclusão ou exclusão social. Segundo as palavras de Rinaldo Correr (2010, p. 36): “é reconhecidamente uma das formas de garantir às pessoas com deficiência a possibilidade de se desenvolver com dignidade e de exorcizar de vez o isolamento”. E assim o é para todos os indivíduos.

Mas quando se fala em pessoas com deficiência, não é bem assim que acontece, pois muitas vezes no ambiente de trabalho é onde se reforçam as ideias de estigmas e preconceitos, ocasionando que essas pessoas sejam excluídas das possibilidades de acesso ao mundo do trabalho. Por muitas vezes com exclusão total da sociedade, por outras vezes com algum tipo de tratamento e inserção, todavia, suas dificuldades sempre se mostrando maiores.

Essa problemática é o que o presente trabalho visa demonstrar, percorrendo os acontecimentos, de forma simplificada e sintetizada, a história do trabalho e sua importância além desta e sua relação com a pessoa com deficiência.

A discussão sobre o acesso da pessoa com deficiência ao mercado de trabalho é relativamente nova no Brasil. Advém principalmente depois da promulgação da Constituição Federal de 1988, que assegura o direito de igualdade entre as pessoas. Isso é buscado no segundo capítulo, onde será explicitada a

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legislação brasileira acerca da pessoa com deficiência. A Constituição Federal e as leis infraconstitucionais serão estudadas. Trazendo pesquisa no ramo da empregabilidade das pessoas com deficiência, onde algumas empresas alegam dificuldades para cumprimento da lei de cotas, para a contratação de pessoas com deficiência, tanto na qualificação do empregado quanto na problemática do ambiente de trabalho que, muitas vezes, precisa sofrer alterações para bem receber tal empregado.

Será também trazido dados tanto do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) quanto da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) para ilustrar em números a real situação da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, além dos índices de desemprego que acompanham esses mesmos períodos.

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1 O MUNDO DO TRABALHO

O trabalho é o meio através do qual o homem adquire condições para satisfação de sua vida material. Tem por função transformar a natureza a fim de criar bens necessários para a existência humana. A atividade produtiva realiza essa mediação entre o homem e a natureza, e isto acompanha a história da humanidade desde a pré-história com as primeiras atividades agrícolas até a grande mudança na revolução industrial (século XVII) onde surge o conceito de emprego - uma relação em que se vende a força de trabalho em troca de remuneração.

Tratar do mundo do trabalho é mais que o simples conceito de trabalho, enquanto o significado deste está ligado à aplicação de força e faculdades humanas para alcançar determinado fim, aquele engloba fatores que vão além da simples função laboral, compreende também atividades materiais, produtivas e os processos sociais inerentes à realização de um trabalho, perfazendo um significado no tempo e no espaço.

Tem-se o trabalho como o caminho correto em busca de uma vida melhor. É através dele que se desenvolvem as habilidades técnicas, as relações entre pessoas e a busca por objetivos econômicos.

Quanto ao trabalho, pode-se conceituar da seguinte maneira:

O trabalho é, em primeiro lugar, um processo entre o homem e a natureza um processo integrado no qual o ser humano faculta, regula e controla a sua forma material com a natureza através de sua atividade. [...] Ao atuar sobre a natureza externa a si, modificando-a, o ser humano modifica simultaneamente sua própria natureza. (Marx, 1979, p. 118).

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Como se compreende do trecho acima, na concepção de Karl Marx, o homem se faz humano em suas próprias relações sociais, entretanto nessas mesmas relações sociais ele perde sua essência. Ocorre essa a perda através dos meios pelos quais o trabalho é desenvolvido na sociedade, pois o ele apresenta dois lados: um como essência humana, ou seja, é pelo trabalho que o homem se autoproduz; já por outro ele se torna o responsável pela desumanização - também chamada de coisificação.

Feitas essas primeiras observações, cabe salientar que o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema globalmente, ou seja, uma espécie de conceitos gerais de trabalho, definições, história, importância, rumando então para um viés mais voltado à realidade do Brasil e em um segundo momento, no segundo capítulo da Monografia são incorporados temas relacionados ao acesso ao mercado de trabalho da pessoa com deficiência e, sobretudo o que a lei em questão trouxe de benefícios e garantias para as pessoas com deficiência, concretamente através de alguns dados apurados.

1.1 O trabalho e sua história

Partindo da antiguidade, principalmente na época Romana e Grega, o que se denominava como trabalho era a simples adaptação que o homem fazia do que havia na natureza para que servisse a si, os meios de produção eram limitados aos tratos com a terra, onde os donos das propriedades não dependiam do trabalho para sobreviver, apenas que não detinha propriedade precisavam cultivá-la afim de se sustentarem e aos seus senhores.

Para muitos autores o significado de trabalho surge etimologicamente do termo latino tripaluim, definido como tri: três e palus: pau, este era uma espécie de instrumento romano de tortura, formado por três estacas cravadas no chão na forma de uma pirâmide, no qual eram supliciados os escravos. Surgiu então os termos “trabalho” e “trabalhar”, muito embora sua origem de “trabalhador” designava o carrasco e não a vítima (NASCIMENTO, 1975, p.3). Por outro lado, a concepção das doutrinas calvinistas, o trabalho não pode ser um sofrimento, e sim uma atividade humana prazerosa.

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Vários filósofos e pensadores trazem em suas obras conceitos sobre o trabalho. Para Aristóteles as lutas e conquistas deveriam vir apenas com o trabalho, não era justo que fosse de outra maneira. Para ele, o trabalho fazia com que os homens se tornassem independentes.

Cabe dizer que, no geral, todo o ato humano é na sua essência um trabalho (físico ou mental, com proveito próprio ou alheio, com finalidade econômica ou não econômica). Ou seja, tudo remete ao trabalho e tudo dele depende.

No Brasil o trabalho sofreu significativas mudanças, e elas ocorreram acompanhando a conjuntura política, econômica e social em cada época. Quando do período de colonização a relação de trabalho era predominantemente a escravidão. Precisava-se gerar riquezas e excedentes para a metrópole.

Devido a fatores externos o modelo escravista começa a entrar em crise, sobretudo vindo da Inglaterra, onde se buscava o fim da escravidão e do tráfico negreiro. A colonização brasileira passou a mudar com a chegada dos primeiros imigrantes colonizadores, então as propriedades, principalmente cafeeiras, mudaram seu sistema de escravidão para o de colonato, que não era nem servil nem assalariado. Assim foi a forma encontrada pelos cafeeiros de garantir mão de obra, era uma relação não capitalista, em que o colono trabalhava nos cafezais e em uma pequena parte da propriedade que lhe era cedida, trabalhava em uma cultura de subsistência. O “salário” ao final da produção, portanto, não era o essencial e nem o fundamental para o colono.

Neste período, Maurício Godinho Delgado (2008, p. 51) traz em sua obra a passagem que retrata tal transição e institucionalização do Direito do Trabalho em que diz:

A fase de institucionalização do Direito do Trabalho consubstancia, em seus primeiros treze a quinze anos, intensa atividade administrativa e legislativa do Estado, em consonância com o novo padrão de gestão sociopolítica que se instaura [...] da hegemonia exclusivista do segmento agroexportador de café. O Estado largamente intervencionista que ora se forma estende sua atuação também à área da chamada questão social. Nesta área implementa

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um vasto e profundo conjunto de ações diversificadas [...] de um lado, através de rigorosa repressão sobre quaisquer manifestações autonomistas do movimento operário; de outro, através de minuciosa legislação instaurando um novo e abrangente modelo de organização do sistema justrabalhista, estreitamento controlado pelo Estado. [...] com a Carta Constitucional de 1934, voltou a florescer maior liberdade e autonomia sindicais. Entretanto, logo imediatamente o governo federal retomou seu controle pleno sobre as ações trabalhistas, através do estado de sítio de 1935, dirigido preferencialmente às lideranças políticas e operárias adversárias da gestão oficial.

Acontece neste período, em 1930, a industrialização, começando o trabalho assalariado propriamente dito, dividido em categorias. Nesse período surge a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), ela vem a regrar o trabalho urbano, enquanto no trabalho rural nada se faz com fins à reforma agrária. Em virtude disso, com o passar do tempo, se acentuou a urbanização das sociedades, aumentando o número de pessoas saídas do campo e migrando para os conglomerados urbanos, esse fenômeno acaba gerando uma leva de pessoas desempregadas, muitas vezes sem qualificação para o mercado de trabalho, fazendo com que aumentasse o mercado informal, deixando a mercê dos direitos sociais esses trabalhadores.

Na contemporaneidade os aspectos de globalização geram impacto sobre o mercado de trabalho (atingindo o Brasil com a recente reforma trabalhista), exemplo disso é a produção flexível e não mais o sistema fordista tradicional, agora passa-se a flexibilização da produção, ou seja, o trabalho se dá conforme a demanda de serviço, sendo que antes a produção era em massa. Quando falamos em relação de trabalho, antes era mais mecanicista, onde o trabalhador se especializava no seu setor e desempenhava apenas as funções inerentes a ele, agora sua tarefa é multisetorial, exigindo uma maior formação técnica do trabalhador.

A globalização em si pode ser altamente prejudicial em todos os aspectos, como cita Deise Mancebo (2002, p. 2) de sua obra:

O processo de globalização abrange uma variedade de fenômenos, tem gerado impactos diferenciados em diversas áreas econômica, financeira, comercial, cultural, social, dentre outras; mostra-se atravessado por um certo grau de ambivalência ou imprecisão, revelando-se como uma configuração histórica altamente contraditória.

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Ainda sobre o tema específico da área do trabalho, outra forma de sua precarização é a terceirização, no caso brasileiro, que antes era restrita às atividades meio da empresa, a partir da reforma se torna irrestrita. Ao mesmo tempo que a empresa que contrata reduz os custos com o serviço realizado, a empresa terceirizadora remunera muito mal os seus empregados, além da instabilidade no emprego que o trabalhador passa a sentir. Essa terceirização para ser sustentável deve ser rentável para as empresas, recaindo sobre o empregado o ônus de uma remuneração precária.

1.2 A importância do trabalho para a efetivação do homem

A chave da humanização se dá a partir da transformação de objetos em produtos que prolongam e facilitam a vida humana, aqui que o homem se distingue dos outros animais e por isso se considera humano. Nessa perspectiva Karl Marx (1980, p. 22) traz a seguinte passagem:

O primeiro pressuposto de toda história humana é, naturalmente, a existência de indivíduos humanos vivos. O primeiro ato histórico destes indivíduos, pelo qual se distinguem dos animais, não é o fato de pensar, mas o de produzir seus meios de vida.

Dessa forma, para que o homem se efetive na sociedade dependerá de seu esforço no sentido de servir e ser servido na coletividade. Logo, o homem não nasce homem, mas sim aprende a ser humano através da vivência em sociedade, na sociedade que é produtora de bens e serviços, ele se torna parte dela a partir da produção de sua própria sobrevivência, exercendo seu trabalho.

Na sociedade contemporânea o trabalho é um direito entendido, ao mesmo tempo, como humano e fundamental. Humano, pois é reconhecido por documentos internacionais, cita-se o exemplo do que consta no Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, ratificado pelo Brasil através do Decreto Legislativo 226 em 1991 e Decreto 591 de 1992, que no seu art. 6º transcreve:

1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito.

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2. As medidas que cada Estado Parte do presente Pacto tomará a fim de assegurar o pleno exercício desse direito deverão incluir a orientação e a formação técnica e profissional, a elaboração de programas, normas e técnicas apropriadas para assegurar um desenvolvimento econômico, social e cultural constante e o pleno emprego produtivo em condições que salvaguardem aos indivíduos o gozo das liberdades políticas e econômicas fundamentais.

É também direito fundamental, porque assim está positivado na Constituição Federal, e é tutelado pelo direito constitucional tanto como princípio quanto como direito social, como valor fundante da ordem econômica que tem por finalidade de assegurar a existência digna.

Segundo Elisabeth Rossetto (2009, p. 203) “a possibilidade de acesso à vida profissional é um aspecto importante por proporcionar às pessoas condições para a satisfação de suas necessidades básicas, a valorização de si mesmas e o desenvolvimento de suas potencialidades”. Percebe-se o papel relevante que o trabalho desempenha na vida do indivíduo.

Para os economistas o trabalho é a fonte de toda a riqueza, mas, como já se viu até aqui, vai muito além, é condição básica e fundamental de toda a vida humana. Tem haver com realização pessoal, é um se sentir útil. Pois é através do trabalho que o homem satisfaz suas necessidades básicas. Além disso, a capacidade inventiva e criadora é exteriorizada através do ofício que o homem realiza.

Já um sujeito sem trabalho se torna impedido de se realizar como homem e cidadão, é a inatividade, e isso afeta diretamente sua dignidade. Portanto, desempenhar um ofício é fundamental para o homem, ele constitui a identidade do sujeito, pois é pelo trabalho que as pessoas podem deixar sua marca. Muitas vezes se torna o “sobrenome” da pessoa a função que ela desempenha. Quando não conhecemos alguém é só dizer “é o fulano que trabalha com tal coisa”.

Delgado (2010, p. 117) traz interessante lição acerca do vínculo existente entre o Direito do Trabalho e os Direitos Humanos, principalmente no que se refere à questão da dignidade da pessoa humana:

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O universo social, econômico e cultural dos Direitos Humanos passa, de modo lógico e necessário, pelo ramo jurídico trabalhista, à medida que este regula a principal modalidade de inserção dos indivíduos no sistema socioeconômico capitalista, cumprindo o papel de lhes assegurar um patamar civilizado de direitos e garantias jurídicas, que, regra geral, por sua própria força ou habilidade isolada não alcançariam. A conquista e afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se restringir à sua liberdade intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente, também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com repercussões positivas conexas no plano cultural, o que se faz, de maneira geral, considerando o conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o emprego, normatizado pelo Direito do Trabalho.

É através do trabalho que o ser humano se vê realizado, sente-se partícipe da sociedade como membro ativo. Percebe que seu esforço é recompensado de alguma forma. Quando da juventude, o trabalho significa também libertação, a não mais dependência do pai e da mãe e uma inserção social. O trabalho é uma ação do homem sobre o meio em que vive. Através dele produz coisas que atendem a necessidade, tanto sua quanto da coletividade, portanto, o trabalho é o mediador entre o homem e a natureza, ele a transforma extraindo dela as condições para sua existência.

É necessário esclarecer que não se trata de qualquer trabalho que deve ser considerado direito fundamental e humano, precisa-se enfatizar que é o trabalho que dignifica a pessoa humana. Entende Ingo Wolfgang Sarlet (2001, p. 60) que temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade. Ou seja, é um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, também permitam lhe garantir as condições de existência mínimas para uma via saudável, proporcionando e, acima de tudo, promovendo sua participação ativa e responsável no destino de sua existência e da vida com os demais de sua vivência. Também é um princípio de matriz constitucional, é um princípio orientador tanto em Direito Interno quanto em Direito Internacional. Isto se manifesta como uma qualidade intrínseca do ser humano.

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1.3 O direito ao trabalho digno

As primeiras Constituições a elencarem os direitos sociais em seus textos foram promulgadas no início do século XX, a saber, a mexicana, de 1917; a soviética, de 1918; a alemã de Weimar, de 1919.

Referente a esse início de tratamento de leis trabalhistas, Carlos Henrique Bezerra Leite (2015, p. 31-32) traz em sua obra o seguinte trecho:

Coube ao México editar, em 1917, a primeira Constituição contendo direitos trabalhistas, como jornada diária máxima de oito horas, jornada noturna de sete horas, proibição do trabalho ao menor de 12 anos, limitação da jornada ao menor de 16 anos a seis horas, descanso semanal, salário mínimo, igualdade salarial, direito de sindicalização, de greve, indenização de dispensa, etc. A segunda Constituição foi da Alemanha, intitulada de Constituição de Weimar (1919). Trata-se de Constituição, diferentemente da analítica carta mexicana, com características principiológica que teve ampla repercussão no continente europeu. Neste mesmo ano é ditado o Tratado de Versalhes, onde é criado a OIT – Organização Internacional do Trabalho, cabendo a este organismo internacional universalizar as normas de proteção ao trabalho humano.

Até a revolução industrial não se falava em Direito do Trabalho, muito pelo fato de não haver trabalhadores em grande escala, consequentemente não havia possibilidade de formação de grupos de trabalhadores, associações e muito menos sindicatos.

A liberdade ao trabalho sempre foi regrada constitucionalmente no Brasil, a escolha e o exercício de um trabalho faz tradicionalmente parte da constituição. No trabalho publicado pelo professor Paulo Vargas Groff sobre Direitos Fundamentais nas Constituições brasileiras, é elencado um histórico do tema ao passar das Constituições que o Brasil já teve, começa-se verificando desde a Constituição Política do Império do Brasil, de 1824: art. 179, XXIV; depois na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1891: art. 72, § 24; em seguida na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 1934: art. 113, 13; a seguir tem-se a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1937: art. 122, 8; logo após a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1946: art. 141, § 14; ainda na

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Constituição do Brasil, de 1967: art. 153, § 23 (redação mantida pela Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969); e por fim, está estampado na Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988: art. 5.º, XIII, nesta com alguma inovação, elevando o direito ao trabalho como direto fundamental social (artigo 6º), cabe ainda ao Estado criar normas, tomar providências para proteger o livre exercício do trabalho e em condições que atendam às exigências da segurança, da saúde e da dignidade da pessoa.

Ainda, referente ao histórico do regramento do trabalho, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1937, enunciava em seu artigo 136 que:

O trabalho intelectual, técnico e manual tem direito à proteção e solicitude especiais do Estado. [...] A todos é garantido o direito de subsistir mediante o seu trabalho honesto e este, como meio de subsistência do indivíduo, constitui um bem que é dever do Estado proteger, assegurando-lhe condições favoráveis e meios de defesa.

Embora a literalidade do texto apontasse para um direito fundamental de proteção, o dispositivo situava-se no âmbito da ordem econômica, assumindo então caráter de norma programática. A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1946, enunciava, na ordem econômica e social, que "a todos é assegurado trabalho que possibilite existência digna" (art. 145, parágrafo único, primeira parte). Já se vê aqui o apontamento para o direito fundamental ao trabalho como direito fundamental a prestações. Porém, baseado no contexto histórico e cultural da época, o que se compreende é que, na realidade, ainda se tratava de norma de conteúdo programático.

A análise do histórico das constituições permite constatar a progressão dos direitos no Brasil. Verifica-se que é na Constituição de 1988 que os direitos sociais são colocados no centro, representando a consolidação de tudo que foi buscado e conquistado ao longo da recente história do país.

A dignidade da pessoa humana constitui princípio, fundamento e objetivo do Estado brasileiro. É o valor supremo sobre o qual se edifica a sociedade brasileira. Através deste que se constituem todos os demais ramos do direito, influenciando, inclusive, nas condutas humanas. Por dignidade Sarlet (2007, p. 62) conceitua:

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[…] a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos

Ao longo dos textos constitucionais brasileiros se percebe uma tendência objetivando a tutela dos direitos e garantias fundamentais, culminando com a Constituição Federal de 1988 a qual traz extensa previsão de direitos e de garantias individuais e sociais, destacando-se entre eles o princípio da dignidade da pessoa humana, constando já no seu primeiro artigo. Ter dignidade significa ter condições suficientes para defesa e promoção do ser humano, formando um desenvolvimento econômico e social do Estado, tendo o trabalho como elemento central disso. Pois, como já foi dito, é através do trabalho que o cidadão se dignifica.

Dalmo de Abreu Dallari (1976, p. 31) aponta a importante contribuição das premissas constitucionais e dos princípios e garantias fundamentais ali constantes na promoção da paz social:

A Constituição continua sendo um instrumento atual e necessário, para as sociedades que se preocupam com a preservação e promoção dos valores fundamentais da pessoa humana. É importante considerar que a Constituição atua sobre a vida social de duas maneiras: ou numa perspectiva mais genérica, fixando as linhas gerais da organização social e da conveniência humana, ou de maneira direta e particularizada, orientando a aplicação do direito e fornecendo uma base objetiva para apoiar a solução de conflitos jurídicos. Em ambos os casos a constituição tem um valor prático relevante, sendo absolutamente errônea e deformada a ideia de que ela é apenas uma abstração ou símbolo, sem interesse para a realidade e dotada apenas de valor moral ou teórico.

É pelas normas constitucionais que se garantem condições de trabalho dignas aos cidadãos. As evoluções no decorrer das constituições são também evoluções nas garantias.

Por outro lado, de encontro a este regramento da ordenação jurídica brasileira, pode-se conceituar, para fins meramente comparativos, o conceito de

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trabalho degradante, trazido por José Cláudio Monteiro de Brito Filho (2010, p. 13-14):

[...] pode-se dizer que trabalho em condições degradantes é aquele em que há a falta de garantias mínimas de saúde e segurança, além da ausência de condições mínimas de trabalho, de moradia, higiene, respeito e alimentação. Tudo devendo ser garantido – o que deve ser esclarecido, embora pareça claro – em conjunto; ou seja, e em contrário, a falta de um desses elementos impõe o reconhecimento do trabalho em condições degradantes.

E dentro deste elemento trabalho, tem-se enfoque no emprego, o que se caracteriza por ser o trabalho de forma regulada, sendo a ligação entre os direitos e garantias fundamentais e o direito do trabalho.

Referente a isso, Delgado (2010, p. 19) faz uma síntese do tema:

O emprego, regulado e protegido por normas jurídicas, desponta, desse modo, como o principal veículo de inserção do trabalhador na arena socioeconômica capitalista, visando a propiciar-lhe um patamar consistente de afirmação individual, familiar, social, econômica e, até mesmo, ética. É óbvio que não se trata do único veículo de afirmação econômico-social da pessoa física prestadora de serviço, uma vez que, como visto, o trabalho autônomo especializado e valorizado também tem esse caráter. Mas, sem dúvida, trata-se do principal e mais abrangente veículo de afirmação socioeconômica da ampla maioria das pessoas humanas na desigual sociedade capitalista.

Se ao trabalhador não são asseguradas condições mínimas de saúde e de segurança no trabalho não há espaço para o exercício do direito fundamental ao trabalho digno, o qual será, portanto, mera abstração.

Na esfera jurídica, o direito do trabalho é o meio garantidor, é o instrumento hábil para impedir, ou ao menos tentar controlar, que o trabalhador se torne mero instrumento, com total supressão de si mesmo em relação ao empregador, afinal, o trabalhador é um ser livre em si mesmo.

Neste sentido Sérgio Sérvulo da Cunha (2004, p. 140) descreve que: “O direito ao trabalho é o direito às oportunidades de trabalho, concretizadas pelo acesso aos fatores de produção, naturais e sociais, e pela busca da subsistência mediante iniciativa própria ou atividade a serviço de outrem”.

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Se o trabalho é um direito fundamental, deve pautar-se na dignidade da pessoa humana. Por isso, quando a Constituição Federal de 1988 refere-se ao direito ao trabalho, implicitamente já está compreendido que o trabalho valorizado pelo texto constitucional é o trabalho digno, visto que é somente o trabalho exercido em condições dignas que se torna o instrumento capaz de viabilizar a emancipação do trabalhador, além da afirmação de sua identidade social e coletiva.

1.4 A pessoa com deficiência no Brasil e sua condição histórica

A concepção do deficiente na sociedade vai mudando quando considerado o momento histórico vivido. Na antiguidade, como as atividades eram essencialmente agrícolas, de produção de víveres, onde as pessoas trabalhavam para a nobreza, sendo estes os senhores e os trabalhadores uma classe de sub-humanos, tal classe não tinha atribuição de valor, seus filhos deficientes eram abandonados ao relento, visto que não poderiam ser úteis quando adultos.

Na relação de trabalho, no decorrer da história, a visão sobre a pessoa com deficiência variou de acordo com o período histórico. Na idade média, com o advento do Cristianismo ela era tratada como um ser de simples status humano, de possuidor de alma, embora sendo um ser não-produtivo. Segundo Maria Salete Fábio Aranha (1995, p. 65):

Caracterizada como um fenômeno metafísico e espiritual, a deficiência foi atribuída ora a desígnios divinos, ora à possessão do demônio. Por uma razão ou por outra, a atitude principal da sociedade com relação ao deficiente era de intolerância e de punição, representada por ações de aprisionamento, tortura, açoites e outros castigos severos.

Já no século XV, com a Revolução Burguesa, o mercado de trabalho se caracteriza pela sua divisão social. Surgem os Estados Modernos, em que os operários passam a vender sua força de trabalho. Ainda segundo Aranha, neste contexto os deficientes passam ser vistos como indivíduos não produtivos que oneram a sociedade. A medicina avança e a demência e a amência passam a ser vistos como problemas médicos e não mais espirituais ou morais.

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No Brasil, durante vários séculos, a pessoa com deficiência foi incluída dentro da categoria mais ampla dos miseráveis. Entender esse processo histórico é importante para compreender as etapas que as pessoas com deficiência passaram, auxiliando a compreender o que se passa nos dias atuais visando traçar perspectivas e possibilidades para todos.

Diaz (1995, p. 24) aponta que sempre existiu uma constante histórica da marginalização. Os deficientes eram tratados como a população mais pobre e miserável existente, usava-se termos chulos para referir-se a eles, como “aleijados”, “enjeitados”, “mancos”, “idiotas”, “imbecis”, “dementes”, “doentes”, “deformados”, por exemplo.

Nessa linha de raciocínio, Denise Lapolla de Paula Aguiar Andrade (2000, p. 35) afirma que:

Durante muito tempo as pessoas portadoras de deficiência estiveram em situação de manifesta sujeição, que chegou a criar, até, condições de marginalidade. O movimento reivindicatório teve início quando começou seu processo de autovalorização e elas passaram a se reconhecer como integrantes de um grupo.

Outros muitos historiadores e antropólogos têm registros referentes aos índios, relatando que ocorriam práticas de exclusão entre eles. Quando a mãe começa a sentir as dores do parto, ela vai até a mata passando por todo processo de nascimento do filho. É o que relata Emílio Figueira (2008) em sua obra. Assim que o bebê nasce, ela mesma, já treinada por outras mães experientes, examina o bebê e decide ali se ele é saudável ou não. Quando o índio recém-nascido parece saudável para a mãe, ela o amamenta e isso significa que a vida começou. Mas para algumas tribos, quando o bebê mostra sinais de fragilidade ou deficiência, a mãe o envenena, enterra vivo ou mata por asfixia antes de amamentar. Para elas, a vida do bebê só começa depois que ela toma o primeiro gole de leite no peito.

Na mesma obra Figueira prossegue dizendo que, com o passar do tempo, no período dos jesuítas, surgem os primeiros hospitais da Irmandade de Misericórdia, não eram suficientes para a época, dispunham de poucos recursos para o atendimento, mas era onde os pobres buscavam atendimento.

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Crianças mestiças, geradas por mães índias, de pais escravos negros ou dos colonizadores brancos normalmente eram abandonadas pelas mães, pois elas não poderiam fazer parte da tribo visto que os índios acreditavam que o parentesco verdadeiro só vinha pela parte dos pais, consequentemente, as crianças não faziam parte de seu povo, considerando que o genitor não era alguém da tribo. Essas crianças são chamadas de “órfãs da terra” e eram recolhidas em lugares chamados “Casas de Muchachos”, sendo educadas de acordo com os preceitos da igreja.

Ainda, outra categoria de pessoas com anomalia, esta que não advinha de seu nascimento ou origem – mas sim adquirida, era a deficiência física ou sensorial nos negros escravos decorridas por vezes dos violentos castigos a que eram submetidos. O Instituto de Tecnologia Social do Brasil relata que:

Longe de ser um mal sobrenatural, a deficiência física ou sensorial nos negros escravos decorreram inúmeras vezes, dos castigos físicos a que eram submetidos. De início, a forma como se dava o tráfico negreiro, em embarcações superlotadas e em condições desumanas, já representava um meio de disseminação de doenças incapacitantes, que deixavam sequelas e não raro provocavam a morte de um número considerável de escravos. (http://itsbrasil.org.br)

Nesta linha Figueira (2008) conclui que este número de escravos com deficiência não foi maior na época pois essa condição representava prejuízo ao seu dono, pois não poderia contar com sua mão-de-obra, sendo assim, era abandonado a sua própria sorte, vagando pelas estradas até a morte.

A violabilidade tinha início com o tráfico dos escravos, nas embarcações superlotadas e em condições extremamente insalubres, onde havia disseminação de doenças e, não rara às vezes, provocava a morte de inúmeros.

Os escravos eram alocados nas fazendas de cana-de-açúcar e de café. Vários tipos de castigos eram imputados aos escravos, tais poderiam chegar a imputação de membros aos negros fugitivos quando fossem capturados novamente. Outras punições variavam do açoite à mutilação.

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O número de escravos com sequelas sofridas por esses castigos só não era maior por que na maioria das vezes, as consequências sofridas os impossibilitavam de continuar a trabalhar, acabavam por perder a utilidade nas fazendas, restando prejuízo ao seu proprietário. Este, não podendo mais contar com sua mão-de-obra, aplicava aos escravos um castigo “moderado”.

Também sofreram algum tipo de limitações físicas ou sensoriais os colonizadores europeus. Encontraram um clima diferente do que eram acostumados, aqui fazia muito calor, havia uma enorme quantidade de insetos, ou seja, características de um local tropical muito diferente de seu local de origem. Isso acabou por repercutir na saúde e bem-estar destes colonizadores, haja vista não haver um sistema adequado para tratamento da saúde.

Não bastasse isso, no século XIX ocorre o aumento de conflitos militares no Brasil. Cita Figueira (2008, p. 63) que é destaque dessa época quando o general Duque de Caxias externa ao Governo Imperial suas preocupações com os soldados que adquiriam deficiência. Por esse motivo, em 1868, é inaugurado o “Asilo dos Inválidos da Pátria”, eles “seriam recolhidos e tratados os soldados da velhice ou os mutilados de guerra, além de ministrar a educação aos órfãos e filhos de militares”. Apesar desta aparente preocupação o que se tinha era uma precariedade no funcionamento desta instituição.

Segundo Marcos José Silveira Mazzotta (2005, p. 27) “a evolução da Educação Especial no Brasil pode ser subdividida em dois períodos distintos: de 1854 a 1956 (iniciativas oficiais e particulares) e de 1957 a 1993 (iniciativas oficiais de âmbito nacional)”. Ainda, ele prossegue fazendo uma retomada histórica do atendimento especializado, cita o mesmo autor (p. 28):

O atendimento educacional especializado tem início em 1854 quando foi criado o Imperial Instituto de Meninos Cegos, hoje Instituto Benjamim Constant – IBC, e em 1857 o Instituto Imperial de Educação de Surdos, hoje Instituto Nacional de Educação para Surdos – INES, no Rio de Janeiro. Ambas instituições foram fundadas por Decreto Imperial do então Imperador Dom Pedro II. Ainda que as tendências de sustentação das instituições recaíssem sobre o setor privado, a fundação destes Institutos representa o início do desenvolvimento de uma atitude pública em relação a este assunto.

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Já no século XX o enfoque de tratamento da pessoa com deficiência muda para o voltado à reabilitação. Pensa-se o tratamento pela área médica. A partir de então os médicos passam a ser influentes nesse assunto, ultrapassando, inclusive, da questão da saúde, partindo para o ramo da educação, tendo atuação direta como diretores ou mesmo professores das primeiras instituições brasileiras voltadas aos deficientes.

Pela falta de exames mais aprofundados, várias pessoas deficientes mentais foram tratadas como doentes mentais, acabando por resultar em história de vida trágica, internados em instituições e não tendo mais convívio social.

As chamadas crianças excepcionais eram educadas em estabelecimentos distintos, pois se entendia que tais crianças não poderiam estar em escolas regulares. Surge então no Rio de Janeiro, em 1954, a APAE, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, que servia como local apropriado para que ocorresse a aprendizagem das pessoas com deficiência. Segundo o site http://apaebrasil.org.br, hoje existem mais de 2 mil APAEs atendendo mais de 280 mil pessoas com algum tipo de deficiência.

Com o tempo esse entendimento se torna ultrapassado, compreende-se que as pessoas com deficiência poderiam frequentar os ambientes escolares e até mesmo de trabalho comuns a todos, não precisando estar restrito aos espaços familiares (como acontecia comumente) ou instituições especializadas.

Em 1981 há um marco considerável, é instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) o Ano Internacional da Pessoa Deficiente (AIPD).

Esse tema é trazido por Figueira (2008, p. 115) da seguinte forma:

Se até aqui a pessoa com deficiência caminhou em silêncio, excluída ou segregada em entidades, a partir de 1981 – Ano Internacional da Pessoa Deficiente -, tomando consciência de si, passou a se organizar politicamente. E, como consequência, a ser notada na sociedade, atingindo significativas conquistas em pouco mais de 25 anos de militância.

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Busca-se a partir de então criar um foco voltado à conscientização, visando sobretudo a divulgação e o alerta sobre a existência de direitos das pessoas com deficiência, chamando atenção da sociedade para essa questão, e isso ajudou a despertar no próprio deficiente a tomada de consciência de si como cidadãos. A sociedade deveria passar por ajustes para interagir com as pessoas com deficiência. Passando também por ações governamentais, que no caso do Brasil, continua insuficiente.

O trajeto histórico da pessoa com deficiência no Brasil muda de foco no decorrer da história, passando de uma situação de exclusão e eliminação, transitando pela integração parcial com o atendimento especializado (as pessoas com deficiências nessas fases eram classificadas como incapazes ou doentes), as políticas públicas eram voltadas meramente para forma assistencialista. Nos tempos mais contemporâneos tem-se inclusive a promulgação da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015, também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência, que será pormenorizada no capítulo seguinte desta monografia. Mais especificamente o capítulo VI, do Livro I, Título II: Do Direito ao Trabalho

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2 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E A INCLUSÃO NO MUNDO DO TRABALHO

O homem é um ser social e sua importância dentro desse sistema se dá sob diversas perspectivas, Aranha em seu artigo sobre a integração social do deficiente (1995, p 64) apresenta a seguinte observação:

Consideramos que o homem existe num contexto regulado e regulamentado por normas e regras provenientes do sistema de valores criado a partir das relações de produção vigentes em cada momento histórico. É no contexto das relações de produção que se determina quem "vale” e quem "não vale" no sistema. Esta avaliação é associada a características e peculiaridades de indivíduos e grupos sociais, expandindo-se através dos diversos setores e mecanismos sociais, vindo a constituir um verdadeiro sistema de valores e significados, que norteia tanto a construção de concepções, quanto a avaliação social que se faz dos indivíduos. Como este processo é bastante complexo e não explicitado, ele se reproduz no cotidiano, no âmbito das relações sociais, sem que dele as pessoas tenham consciência crítica. O indivíduo, por sua vez, vive neste contexto. Através de sua atividade, mediada pelo conjunto do simbólico que permeia suas relações sociais, vem a conhecer a realidade, transformando-a segundo suas intenções e seus objetivos (instrumento) e sendo por ela transformado (produto). Desta forma, ele constrói sua própria história e a história da humanidade.

Por fim, conclui a autora:

Portanto, tendo como pressuposto básico a concepção de Homem como um ser biologicamente cultural, não faz sentido buscar conhecê-lo dissociado de seu contexto sociocultural.

É a cultura da sociedade que molda o carácter da maioria dos indivíduos. O trabalho para mudar a maneira de pensar e agir encontra resistência no contexto social existente, de valores e costumes que passam de geração para geração.

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2.1 Legislação geral e a pessoa com deficiência: Constituição Federal, Decreto 5.452/43 e Lei 8.213/91.

Em termos de legislação, o Brasil é considerado como um dos países com maior incidência de leis que protegem a pessoa com deficiência, e esse arcabouço jurídico tem impacto direto no acesso ao mercado de trabalho destes. Pois algumas instituições se conscientizam da importância de agregar a inclusão em sua prática empresarial.

Na Constituição Federal de 1988 encontram-se vários dispositivos que trazem à tona o tema da inclusão, foi através dela que se institui o Estado Democrático de Direito, de sua formação a sociedade brasileira fez parte. Já no início do texto legal, vêm de imediato elencado os princípios, mostrando sua grande importância que terão durante toda a interpretação das demais normas trazidas pela Carta Magna, serão guias para fins de interpretação dos demais dispositivos. Logo no artigo 3º, vem o seguinte texto:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

[...] IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

É notável que o final do inciso IV traz claramente que constitui objetivo fundamental promover o bem de todos sem qualquer forma de discriminação. Isso retrata que os direitos devem ser estendidos a qualquer indivíduo, e como se trata de uma norma fundamental, deve ser buscado e, sobretudo, alcançado.

Vê-se que o princípio mor que rege a Constituição Federal é o da igualdade. Além de vir na forma mais explícita no art. 5º e de forma mais evidente no artigo 7º, este tratando de preceitos que regulamentam os direitos sociais, em especial, como é o tema ora tratado, o inciso XXXI, que garante a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”. Dependendo do tipo de deficiência que a pessoa apresentar, esta pode ser impeditivo de exercer alguma profissão em específico, desta forma, visou a Carta Magna, garantir que sua condição não fosse considerada como obstáculo ao

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gozo de seus direitos de cidadania. Quando surge a dúvida é o momento em que se aplicam os princípios citados anteriormente. Quando continuar imperando a dúvida, esta deve ser interpretada da maneira mais inclusiva possível, conforme o inciso IV do art. 3º, supramencionado. Deve-se permitir que o indivíduo possa mostrar sua capacidade de desempenhar determinada tarefa, que ele demonstre suas capacidades.

Neste sentido Alexandre de Moraes (2003, p. 64) entende que:

A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, e exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito[...].

O artigo 23, inciso II, legisla que é de competência da União, dos Estados e dos Municípios cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência. Tal preceito visa inseri-las no mercado de trabalho, sem discriminação em relação aos demais trabalhadores, devendo o ambiente de trabalho ser adaptado para receber esses trabalhadores, facilitando o seu acesso com a utilização, por exemplo, de rampas, de barras de apoio, de piso tátil.

Tais normas previstas na Constituição Federal visam assegurar os direitos das pessoas com deficiência, não somente relativo ao direito do trabalho, mas também em todo o seu cotidiano, cabendo ao Estado a garantia da efetivação de tais direitos assegurados para que se tenham reduzidas as suas dificuldades.

Além da Constituição Federal há outras leis infraconstitucionais que trazem no seu bojo a questão da deficiência. Exemplo disso é a lei 8.213/91, a qual é conhecida como a lei de cotas para pessoas com deficiência. Ela estabelece que empresas com 100 ou mais colaboradores estão obrigadas a preencher um

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percentual de seus cargos com pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados. Isto está regrado no artigo 93:

Art. 93. A empresa com 100 (cem) ou mais empregados está obrigada a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:

I - até 200 empregados: 2%; II - de 201 a 500: 3%; III - de 501 a 1.000: 4%; IV - de 1.001 em diante: 5%.

Embora exista legislação que assegure o acesso da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, o efetivo cumprimento é dificultoso. Segundo dados do Ministério do Trabalho, nos últimos anos houve aumento na participação de PCDs no mercado. A título de comparação nos 10 anos de existência da RAIS relacionados ao mercado formal de trabalho tem-se a tabela abaixo

Número de vínculos e variação anual – Brasil – 2007 - 2016

Pessoas com deficiência Pessoas sem deficiência Participação PCD n. Var. n. var 2007 347.041 37.260.389 0,92 2008 321.906 -7,2% 39.119.660 4,9% 0,82 2009 288.593 -10,3% 40.918.953 4,5% 0,70 2010 306.013 6,0% 43.762.342 6,9% 0,69 2011 325.291 6,2% 45.985.340 5,0% 0,70 2012 330.296 1,5% 47.128.416 2,4% 0,70 2013 357.797 8,3% 48.590.636 3,1% 0,73 2014 381.322 6,5% 49.190.188 1,2% 0,77 2015 403.255 5,7% 47.657.552 -3,1% 0,84 2016 418.521 3,7% 45.641.677 -4,2% 0,91

Fonte: Ministério do Trabalho. Relação Anual sobre Informações Sociais, 2007-2016.

Depreende-se da tabela uma diminuição significativa entre 2008 e 2009, isso se explica pela retração econômica que foi sofrida nessa época devido a crise econômica mundial. Conforme trecho do relatório da RAIS (2016, p.4):

A variação relativa, ano a ano, do emprego formal mostra comportamentos distintos entre os grupos daqueles com e sem deficiência. Entre 2008 e 2009, quando o Brasil enfrenta forte desaceleração do seu crescimento

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econômico em consequência da crise financeira internacional, há redução de cerca de 10%no número de vínculos formais exercidos por pessoas com deficiência. Mesmo com a crise, porém, os empregos formais continuaram a ser gerados para os trabalhadores sem deficiência.

Porém, nos anos seguintes, observa-se ampliação do número de vínculos, segundo o mesmo relatório:

Em 2010, ano de uma recuperação econômica acentuada, com avanço de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB), há também crescimento significativo no emprego formal dos dois grupos, de 6% para aqueles com deficiência e 6,9% para os demais.

No decorrer dos anos, vê-se um aumento do número de vagas preenchidas e uma inversão das proporcionalidades de crescimento da empregabilidade dentre essas duas classes, as pessoas com deficiência aumentam enquanto as sem deficiência diminuem. Portanto, essa lei representa grande avanço na questão relacionada à empregabilidade das pessoas com deficiência, mesmo que haja pouco a comemorar tendo em vista o elevado índice de desemprego nesse segmento, verificado pelo índice de participação da pessoa com deficiência no número de vagas ocupadas. Um motivo para justificar esse índice é o significativo número de empresas de pequeno porte e de microempresas com menos de cem empregados e, portanto, fora do alcance da lei.

Neste sentido, de facilitação da contratação, está em tramitação junto à Câmara dos Deputados um projeto de lei, de autoria do Deputado Carlos Bezerra (PMDB/MT) que traz a seguinte redação:

Altera o § 3º do artigo 93 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, para permitir que a contratação de aprendiz com deficiência seja considerada na verificação do cumprimento da reserva de vagas de emprego às pessoas com deficiência.

Há o limitante temporal, já estabelecido na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) de que tal espécie de contrato não poderá ultrapassar os 2 anos de duração, o mesmo se aplicará neste caso. Este projeto de lei já foi aprovado pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, no momento está aguardando designação de relator na Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CPD)

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O principal papel da Lei de Cotas e da fiscalização é servir como instrumento de conscientização, já que a obrigatoriedade de contratar pessoas com deficiência contribui para a criação de um mercado de trabalho inclusivo e democrático, pensado para todos.

Em 2016 houve um reforço quando surge a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, Lei 13.146, de 6 de julho de 2015, o chamado Estatuto da Pessoa com Deficiência, o qual entrou em vigor em 6 de janeiro de 2016. Destaca-se o art. 34 de tal estatuto:

Art. 34. A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

1º as pessoas jurídicas de direito público, privado ou de qualquer natureza são obrigadas a garantir ambientes de trabalho acessíveis e inclusivos. 2º a pessoa com deficiência tem direito, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, a condições justas e favoráveis de trabalho, incluindo igual remuneração por trabalho de igual valor.

3º é vedada restrição ao trabalho da pessoa com deficiência e qualquer discriminação em razão de sua condição, inclusive nas etapas de recrutamento, seleção, contratação, admissão, exames admissional e periódico, permanência no emprego, ascensão profissional e reabilitação profissional, bem como exigência de aptidão plena.

4º a pessoa com deficiência tem direito à participação e ao acesso a cursos, treinamentos, educação continuada, planos de carreira, promoções, bonificações e incentivos profissionais oferecidos pelo empregador, em igualdade de oportunidades com os demais empregados.

5º é garantida aos trabalhadores com deficiência acessibilidade em cursos de formação e de capacitação.

Ainda, a referida lei trata na sequência outro grande obstáculo que a pessoa com deficiência encontra no mundo do trabalho, não só a dificuldade em encontrar alguma empresa que a contrate, mas também o problema de permanecer no emprego. Referente a este tema, subscreve o art. 35 da lei:

Art. 35. É finalidade primordial das políticas públicas de trabalho e emprego promover e garantir condições de acesso e de permanência da pessoa com deficiência no campo de trabalho.

Parágrafo único. Os programas de estímulo ao empreendedorismo e ao trabalho autônomo, incluídos o cooperativismo e o associativismo, devem prever a participação da pessoa com deficiência e a disponibilização de linhas de crédito, quando necessárias.

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Mesmo assim, quando finalmente ocorre a contratação, em não havendo a readequação do ambiente físico, ou a remoção de barreiras comunicacionais e atitudinais; ou ainda a adequação de aparelhos e maquinários e a flexibilização de esquemas e horários de trabalho, acaba por se tornar extremamente difícil garantir a permanência de uma pessoa com deficiência no trabalho. Simplesmente obrigar a empresa a contratar não garante o atingimento da finalidade da norma.

Já no cenário prático, quanto à efetiva inserção no mercado de trabalho, as pessoas com deficiência esbarram em vários obstáculos, além dos já citados. Em sentido amplo, sabidamente, possuem limitações em determinadas áreas, porém, para a grande maioria delas, não para todas as atividades. Para o exercício de determinadas funções, elas apresentam, inclusive, maior capacidade de concentração, podendo desenvolver determinadas atividades de forma mais eficiente do que faria uma pessoa sem deficiência.

Em termos de estabelecimentos que cumprem com maior efetividade essa lei tem destaque os bancos, não só pelo fato de terem sido os primeiros a sofrer a fiscalização, mas também pela atividade que desenvolvem, onde a inserção da pessoa com deficiência é menos impactante na estrutura organizacional, sem necessidades de muitas adaptações (quando se tratar de algum tipo de deficiência física). E de uma maneira geral, é esse o tipo de deficiência que mais é buscada pelas empresas para contratação, enquanto os com deficiência intelectual são preteridos.

Conviver com uma pessoa com deficiência pode ser uma novidade para muitos empregados, especialmente pelo desconhecimento dos graus de deficiência e também da capacidade deste trabalhador.

Negar a alguém emprego ou trabalho, sem justa causa e por motivo derivado de sua deficiência, constitui crime, punível com reclusão de um a quatro anos e multa (art.8º, II). O Decreto n. 914/93, que institui a Política Nacional para a Integração da Pessoa com Deficiência, têm como uma de suas diretrizes (ART. 5º), que buscam a promoção de medidas visando à criação de empregos privilegiando

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atividades econômicas de absorção de mão-de-obra das pessoas com deficiência, proporcionando ainda a sua qualificação e incorporação no mercado de trabalho.

Para Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná, em entrevista concedida em veículo de comunicação disse que:

Temos uma das legislações mais avançadas do mundo, mas pouco eficaz. A sociedade ainda não está muito consciente disto, e as leis não guardam propriamente força coercitiva de modo a impor isto rapidamente. Normalmente, o Ministério Público é obrigado a pedir a intervenção do Judiciário por meio de multas, que são fixadas com obrigações de fazer e não fazer pelo Judiciário. Pela via oblíqua, consegue-se a sanção; contudo, a verdade é que tanto pelo problema da conscientização da sociedade em geral quanto da pouca sistematização e pouca coercitividade das leis, todo esse sistema legislativo acaba não sendo muito eficaz. Porém, estamos caminhando e construindo.

Observa-se, portanto, que há uma vasta legislação regrando o tema. Tantos princípios constitucionais garantidores, também leis infraconstitucionais que abordam o tema. Embora isso não seja garantia de que tais direito positivados serão cumpridos ao menos é uma maneira garantidora de que, se preciso for, o Judiciário poderá intervir, possibilitando de forma emergencial a garantia do direito enquanto que, aos poucos, se molda uma sociedade mais consciente da inclusão e das igualdades.

2.2 O direito ao trabalho da pessoa com deficiência e a Lei 13.146/15

No capítulo dos Direitos Sociais, a Constituição Federal traz no artigo 7º, inciso XXXI, a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência”. Tal preceito é incisivo quanto ao direito de igualdade de trabalho, sendo esse uma extensão do princípio maior da igualdade, presente no artigo 5º. Para interpretar o inciso XXXI deve-se ir além do tocante ao salário e critérios admissionais explícitos no texto constitucional, necessita-se levar em conta o quanto esse grupo social é discriminado, pois se realmente todos fossem iguais perante a lei, como preceitua o artigo 5º, tal dispositivo não necessitaria ser reescrito especificamente tratando do trabalho da pessoa com deficiência. Deve-se levar em conta também o local de trabalho, as

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condições de salubridade, horário, jornada, enfim, todos os aspectos que circundam a relação de trabalho.

Já o relatório das Normas sobre Igualdade de Oportunidades para Pessoas com Deficiência, elaborado pelas Nações Unidas, em Lisboa, no ano de 1995, em seu capítulo 7, Item 2, traz o seguinte texto referente ao assunto Emprego:

Os Estados devem apoiar activamente a integração das pessoas com deficiência no mercado normal de trabalho. Este apoio dinâmico pode realizar-se através de diversas medidas, tais como: a formação profissional, esquemas de quotas de emprego, reserva de emprego ou em áreas específicas, empréstimos ou subsídios à instalação de pequenas empresas, contratos de exclusividade ou direitos prioritários de produção, benefícios fiscais, preferência contratual e outras formas de apoio técnico ou financeiro às empresas que contratem trabalhadores com deficiência. Os Estados devem ainda incentivar os empregadores para que tomem as medidas adequadas à adaptação de postos de trabalho e eliminação de barreiras arquitectónicas facilitadoras do emprego de pessoas com deficiência

Estes são meios de o Estado buscar efetivar a inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Tratam-se de sugestões para implementação de políticas públicas visando efetivar a dignidade da pessoa humana.

Ainda o mesmo relatório traz como objetivo de tais indicações:

O objectivo sempre em vista é o de permitir às pessoas com deficiência obterem um emprego no mercado normal de trabalho. No caso de pessoas com deficiência cujas necessidades não encontram resposta no mercado normal de trabalho, deve considerar-se como uma alternativa o emprego em pequenas unidades de emprego protegido ou apoiado. É importante que a qualidade destes programas seja avaliada para se determinar a sua relevância em termos de oportunidades oferecidas às pessoas com deficiência para obtenção de emprego no mercado de trabalho.

Nota-se uma preocupação das organizações em buscar inserir a pessoa com deficiência no mercado de trabalho. Sabendo ser de fundamental importância que isso ocorra se tenta alternativas legislativas visando uma igualdade de condições com os demais, pretendendo atingir o seu papel de cidadão. Nos últimos anos há inúmeros documentos e convenções que passam a tratar do tema.

Segundo informações do 1º Relatório nacional da República Federativa do Brasil sobre o cumprimento das disposições da Convenção sobre os Direitos das

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Pessoas com Deficiência, apresentado pelo Brasil em 2010 para cumprir o acordado no parágrafo 1º do artigo 35 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, o qual o Brasil é parte, informou, em seu item 13, que:

Nos últimos anos, o Brasil tornou-se reconhecido mundialmente pela mudança de paradigma nas questões relativas às pessoas com deficiência, a partir do marco legal introduzido com a Constituição Federal e as leis infraconstitucionais, que ensejaram a ascensão da promoção e garantia dos direitos individuais e coletivos para efetivação da sua inclusão social, no âmbito maior dos direitos humanos. Para além das mudanças legislativas, o Estado brasileiro passou a desenvolver ações que permitem transformar o modelo assistencialista, tradicionalmente limitante, em condições que possibilitem às pessoas com deficiência exercerem a posição de protagonistas de sua emancipação e cidadania, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do país.

Como já mencionado, em 2015 foi publicada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também conhecido como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a lei 13.146/15, salienta-se a ocorrência do vacatio legis de 180 dias, passando então a vigorar em janeiro de 2016. A referida lei, em seus 127 artigos traz um panorama geral de garantias e promoções de igualdade de exercícios e liberdades fundamentais, com o objetivo de garantir a sua inclusão social e a sua cidadania. Divide-se em dois livros, o primeiro deles, Livro I, traz a parte geral distribuídos em quatro títulos, o segundo, Livro II, trata da parte especial distribuídos, igualmente, em outros quatro títulos, ambos subdivididos em capítulos. Neste tópico trataremos de observar em específico o contido na Seção II, do capítulo VI, do título II, do livro I, denominado “Da Inclusão da Pessoa com Deficiência no Trabalho”. O mesmo compreende os artigos 37 e 38.

O artigo 37 traz a seguinte redação:

Art. 37. Constitui modo de inclusão da pessoa com deficiência no trabalho a colocação competitiva, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, na qual devem ser atendidas as regras de acessibilidade, o fornecimento de recursos de tecnologia assistiva e a adaptação razoável no ambiente de trabalho.

Vê-se estampado no caput deste artigo a garantia de igualdade de oportunidades que a pessoa com deficiência deve ter na colocação no mundo do trabalho. A referida lei utiliza a expressão de forma genérica “pessoas portadoras de

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