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O PROCESSO IMIGRATÓRIO ESPANHOL NA CIDADE DE SALVADOR COMO ELEMENTO IMPORTANTE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE ESPANHOL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE LETRAS

BACHARELADO EM LETRAS

LIDIA TXAI MARINHO MINHO OGANDO

Orientadora: Professora MARCIA PARAQUETT

O PROCESSO IMIGRATÓRIO ESPANHOL NA CIDADE DE SALVADOR COMO ELEMENTO IMPORTANTE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

ESPANHOL

Salvador 2016

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LÍDIA TXAI MARINHO MINHO OGANDO

O PROCESSO IMIGRATÓRIO ESPANHOL NA CIDADE DE SALVADOR COMO ELEMENTO IMPORTANTE NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

ESPANHOL

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Colegiado de Letras- Língua Estrangeira Moderna ou Clássica, da Universidade Federal da Bahia – UFBA, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Letras

Orientadora: Profª. Drª. Márcia Paraquett

Salvador 2016

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AGRADECIMENTOS

A Deus que sempre me dá forças, saúde, sabedoria e perseverança para superar as dificuldades e mostrar caminhos abençoados e iluminados!

Aos meus pais por todo amor, apoio, paciência e dedicação a mim durante todos esses anos!

Aos meus avós pelos ensinamentos e pelo exemplo de pessoas que foram para mim! À minha orientadora que dedicou tempo, me incentivou e auxiliou durante todo o processo deste trabalho assim como na minha jornada acadêmica!

Ao professor David Rodríguez pela colaboração e incentivo!

A todos os professores que contribuíram para meu crescimento profissional, à instituição que me proporcionou condições necessárias para a conclusão do meu curso e aos funcionários pela dedicação e atenção!

Aos meus amigos e familiares pela torcida a favor do meu sucesso!

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“[…] Y el abuelo un día en un viejo barco se marchó de España. El abuelo un día, como tantos otros, con tanta esperanza. La imagen querida de su vieja aldea y de sus montañas se llevó grabada muy dentro del alma, cuando el viejo barco lo alejó de España.[…]”

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RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso pretende verificar quais contribuições pode trazer o conhecimento da imigração espanhola em Salvador para a formação de professores de espanhol que, a princípio, atuarão profissionalmente na mesma cidade. Salvador recebeu um grande fluxo de imigrantes espanhóis, de maioria galega, o que faz desse conhecimento uma ferramenta importante para o professor de língua espanhola que pretenda ser intercultural, pois, como professores de espanhol é significativo que tenham conhecimentos das culturas em língua espanhola, o que envolve também conhecer os processos históricos por eles vividos. Para isso, foi realizada pesquisa bibliográfica e levantamento, sendo a primeira a que orientou grande parte do trabalho e a segunda a que comprovou e contribuiu para resgatar a história da imigração através de entrevistas. Desse modo, a discussão desse TCC irá associar o conhecimento deste processo imigratório espanhol à formação de professores de língua espanhola com atuação prevista para a cidade de Salvador. Espera-se como resultado o favorecimento de diálogo cultural, o exercício da cidadania, a promoção de respeito, um ensino contextualizado, a recuperação de memória histórica e a formação de professores conscientes e abertos que orientem seus alunos a seguir por esse mesmo caminho livre de julgamentos.

Palavras-chave: Imigração espanhola. Formação de professores. Ensino de Língua Espanhola

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 6

1.1 PROBLEMA 7

1.2 OBJETIVOS 8

1.3 METOLODOGIA 8

2 RELEVÂNCIA DO TEMA DOS IMIGRANTES NO ENSINO DE

ESPANHOL

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3 CHEGADA DOS IMIGRANTES GALEGOS A SALVADOR 15

4 ENTREVISTA AOS DESCENDENTES DOS IMIGRANTES

GALEGOS

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5 CONCLUSÃO 28

REFERÈNCIAS 29

Obra gráfica de Castelao. En Galiza non se pide nada. Emígrase

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6 1. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa consiste em associar o conhecimento do processo imigratório espanhol para cidade de Salvador com a formação de professor de espanhol que irá operar nesta cidade e que pretenda ter uma postura intercultural. Para isso, faz-se necessário tratar do ensino de línguas, especialmente a espanhola, e a formação de professores. Assim como a relevância de adotar uma perspectiva intercultural no ensino de línguas, além de entender como e por que se deu a imigração espanhola mais especificamente dos galegos para Salvador. Por fim, de que maneira este conhecimento é pertinente aos alunos e professores de espanhol em formação.

A fim de alcançar os objetivos propostos, a pesquisa foi dividida em três tópicos: A relevância do tema dos imigrantes no ensino de espanhol, a chegada dos imigrantes galegos à cidade de Salvador e a entrevista aos descendentes dos imigrantes galegos. O primeiro tópico abordará sobre o ensino de línguas e da língua espanhola no ensino médio, assim como a formação de professores, tratando também do conceito de cultura e da perspectiva intercultural no ensino de línguas, finalizando com a importância da história da imigração galega para o ensino da língua espanhola em Salvador. No segundo tópico, será contada a história da imigração, os motivos, como ocorreu e quais contribuições foram deixadas. No último tópico, serão expostos os resultados de entrevistas realizadas com filhos e netos de imigrantes com o intuito de comprovar e reforçar o que foi dito anteriormente e para dar a conhecer a história de imigrantes através de seus descendentes, propiciando o resgate da memória cultural.

Como futuros professores de espanhol, precisamos ter conhecimentos das culturas em língua espanhola, o que inclui conhecer os processos históricos por eles vividos. E, mais particularmente, conhecer a história da imigração galega para a cidade de Salvador, pois este conhecimento pode ser uma ferramenta importante na nossa atuação profissional nesta cidade. Este projeto se justifica também porque o contraste entre as línguas, as culturas estrangeiras e as dos aprendizes precisa ser estabelecido durante a aprendizagem, conforme sugerem alguns modelos contemporâneos de aprendizagem de línguas (Socioconstrucionismo / Interculturalidade) e os documentos que orientam a educação no Brasil (PCNEM, 2000 / OCEM, 2006 / DCNEM, 2013).

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Seria importante destacar, ainda, que o ensino de uma língua precisa tomar como referência o contexto local onde ele se está realizando, no caso específico, a cidade de Salvador. Além disso, o fato de ser neta de imigrante galego me motivou a realizar a pesquisa, afim de conhecer a história da imigração, de romper estereótipos relacionados aos galegos e de desfazer possíveis preconceitos dos alunos relacionados à diversidade cultural.

1.1. PROBLEMA

Pela cidade de Salvador há muitos estabelecimentos e empresas de origem espanhola e em muitos fica evidente essa marca. Alguns exemplos são o desativado Hospital Espanhol, o Clube Espanhol que hoje funciona ao lado do condomínio Costa España, de origem também espanhola, além do curso de idiomas Caballeros de Santiago. Como futuros professores de espanhol, com atuação profissional prevista para a cidade de Salvador, parece-me importante que esse conhecimento seja considerado na nossa prática, pois é possível que haja, entre os alunos e professores, alguns que tenham guardado em sua memória relatos de seus antepassados. No meu ponto de vista, o ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira precisa dar atenção a muitos aspectos, dos quais destaco a oportunidade de oferecer aos aprendizes um conhecimento do universo estrangeiro, mas feito a partir do estabelecimento de diálogos com sua realidade sociocultural. Este é o princípio de modelos de aprendizagem que estão atentos às sociedades contemporâneas, notadamente no que se refere ao fluxo de pessoas de um país a outro, recebendo e deixando marcas de identidade. Estou me referindo à perspectiva intercultural de aprendizagem, uma proposta que toma a escola como o contexto mais adequado à promoção do respeito às diferenças que constituem os seres humanos. Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso pretende conhecer como se deu a imigração de espanhóis para a cidade de Salvador e refletir sobre a relevância desse conhecimento para um professor de espanhol que pretenda ser intercultural, introduzindo discussões inerentes ao seu contexto profissional e contribuindo para a incorporação de um dado histórico local. Dessa forma, o problema dessa pesquisa é observar como o conhecimento do processo imigratório de espanhóis para a cidade de Salvador pode contribuir para a formação de professores de espanhol que atuarão nessa cidade.

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8 1.2. OBJETIVOS

1. 2.1. GERAL

Conhecer o processo imigratório dos espanhóis para a cidade de Salvador e refletir sobre a relevância desse conhecimento para um professor de espanhol intercultural.

1. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Identificar os motivos que levaram os espanhóis a migrarem para a cidade de Salvador;

2. Conhecer a história de imigrantes e de seus descendentes, oportunizando o resgate de sua memória;

3. Apropriar-se dos parâmetros teórico-metodológicos do ensino-aprendizagem de espanhol no Brasil, associando-os à temática da pesquisa;

4. Refletir sobre perspectivas de aprendizagem que privilegiem o diálogo entre culturas,ajustando-os ao ensino de espanhol na cidade de Salvador.

1.3. METOLODOGIA

De natureza qualitativa, descritiva e interpretativista, pois descreve e interpreta os significados das linguagens expressadas pelos sujeitos envolvidos nas entrevistas, valorizando o significado, a subjetividade, o processo e a interação entre participantes e pesquisador, a pesquisa divide-se entre ser bibliográfica e de levantamento de dados.

A pesquisa bibliográfica abordou temas ligados à proposta da pesquisa. Primeiramente foram lidos e fichados livro e artigos que se referiam ao tema da imigração espanhola para o mundo e, mais particularmente, para o Brasil e a Bahia/Salvador, sendo Rosario Albán, Paulo Roberto Brandão e Cátia Vidal, autores que contribuíram para tal conhecimento. Logo, essas leituras me orientaram na pesquisa de levantamento, quando elaborei perguntas para as entrevistas que foram feitas com descendentes de primeira e segunda gerações (filhos e netos) de imigrantes que residem

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em Salvador, sendo ao total seis entrevistados os quais nomeei com as letras do alfabeto. Depois, foram feitas a tabulação e a análise dos dados obtidos.

Outros temas de leitura que constituíram a pesquisa bibliográfica se referem a questões de ensino de línguas estrangeiras, especificamente, o ensino de espanhol e a formação de professores, além dos conceitos de cultura e de ensino através de uma perspectiva intercultural. Para entender essas questões, apropriei-me das ideias de Márcia Paraquett (2010), Edleise Mendes (2008), Roberto da Matta (1981), Catherine Walsh (2005), Roque Laraia (2004), Josef Estermann (2010), Deise Picanço (2012), além de documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2013), as Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2006) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 2000).

Assim, a partir da sedimentação da pesquisa bibliográfica e dos dados das entrevistas, a pesquisa se ocupou da produção, perseguindo os objetivos propostos, tentando conhecer como se deu a imigração de espanhóis para a cidade de Salvador e associando esse conhecimento à formação intercultural do professor de espanhol.

2. RELEVÂNCIA DO TEMA DOS IMIGRANTES NO ENSINO DE ESPANHOL

De acordo com os PCNEM (2000), a partir da revolução informática, que modifica as relações sociais, o conhecimento e exige novo modo de organização de trabalho, reforma-se o currículo do ensino médio, que propõe o desenvolvimento de capacidades de buscar informações, analisá-las, aprender, criar e formular, fazendo do aluno um protagonista na construção de conhecimentos. De acordo com o referido documento, o ensino médio tem por finalidades: a continuidade dos estudos, a preparação para o trabalho, a progressão em estudos posteriores, o exercício da cidadania, a autonomia intelectual e pensamento crítico, a relação entre teoria e prática, a flexibilidade de adaptação a novas condições de ocupação e também a formação ética e de valores (BRASIL, 2000, p. 91-92).

Como estruturadores desse currículo estão a interdisciplinaridade, na qual as diferentes áreas de conhecimento interagem, e a contextualização, que relaciona conteúdos e contexto, atribuindo significado ao que é aprendido e estimulando o

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protagonismo e a autonomia do aprendiz. Sendo assim, de acordo com as OCNEM é imprescindível ao educador “tomar o educando nas suas múltiplas dimensões – intelectual, social, física e emocional – e situá-los no âmbito do contexto sociocultural em que o educador e o educando estão inseridos”. (BRASIL, 2013, pág. 169). Dessa maneira, haverá maior interesse e sucesso dos alunos já que estarão construindo significados e aproximando-os à sua vida, ao invés de memorizar conteúdos.

A cultura também é uma das bases da proposta curricular para que os aprendizes compreendam que está diretamente relacionada à sociedade e marcada por sua condição histórico-cultural e que é a cultura que constitui o modo de vida de uma determinada população ou povo. A cultura deverá estar presente principalmente no ensino de línguas estrangeiras, pois uma língua não pode estar dissociada do seu contexto cultural. No entanto, segundo as OCEM (BRASIL, 2006), na maioria das escolas, o ensino ainda visa a um aprendizado de conteúdos isolados de cultura, valores políticos, sociais e ideológicos, estando voltado para o mercado de trabalho, onde a falta de objetivos definidos faz com que os alunos não saibam da relevância e razão dessa perspectiva de ensino, o que causa certa desmotivação e falta de interesse em aprendê-la. Segundo Picanço (2012), em publicação bem mais atual que a fonte anterior citada,

[...] um dos maiores problemas da formação do professor de línguas é o fato de permanecer centrada em torno de uma formação linguística voltada para o domínio da língua – como código ou conjunto de performances linguísticas - e não privilegia a reflexão sobre o seu significado social e sua relação com a cultura [...] (PICANÇO, 2012, p. 10)

É preciso esclarecer que seu aprendizado visa a avançar fronteiras de comunicação, entender diferentes contextos e suas variedades linguísticas, além de interagir socialmente, usando diversas linguagens em diversos ambientes, ampliando a visão de mundo, conhecendo e entendendo culturas, desconstruindo crenças e estereótipos, e promovendo respeito à diversidade. Portanto, o ensino de uma língua estrangeira é mais do que preparar os alunos para o mercado de trabalho, é formar alunos cidadãos e com mentes abertas para novos conhecimentos, criando possibilidades para que eles dialoguem com outras culturas sem abrir mão de seus valores.

O ensino de uma língua estrangeira deve estar vinculado às questões sociais e histórico-culturais, considerando assim o contexto em que o sujeito está imerso para que este construa conhecimentos significativos através de comparações e aproximações com

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suas experiências de vida e com seu mundo. Quando o aluno leva o conhecimento aprendido em sala para a sua vida extraescolar, aquele aprendizado torna-se significativo para ele.

A língua espanhola, como mostram as OCEM (BRASIL,2006), esteve marcada por estereótipos e preconceitos - o mundo hispânico visto como um só e a língua vista com facilidade pelos brasileiros - passou a ser vista com outros olhos a partir da assinatura do Tratado do MERCOSUL1. Assim, cria-se a Lei nº 11.161 (5/08/2005)2, que torna obrigatória a oferta da Língua Espanhola no ensino médio, no horário regular, em escolas públicas e particulares, facultando a oferta ao ensino fundamental.

O universo hispânico possui uma pluralidade linguística e cultural que deve ser trabalhada em sala. Os alunos precisam conhecer essas variedades, não podem ficar presos a um discurso hegemônico. Portanto, a escola deve desviar-se de “dicotomias simplificadoras e reducionistas” (BRASIL, 2006, p.134) para evitar estereótipos e preconceitos e abrir as mentes e horizontes dos alunos em relação às diferenças.

De acordo com as OCEM:

[...] os objetivos a serem estabelecidos para o ensino de Língua Espanhola no nível médio devem contemplar a reflexão – consistente e profunda – em todos os âmbitos, em especial sobre o “estrangeiro” e suas (inter) relações com o “nacional”, de forma a tornar (mais) conscientes as noções de cidadania, de identidade, de plurilingüismo e de multiculturalismo, conceitos esses relacionados tanto à língua materna quanto à língua estrangeira. Para tanto, é necessário levar em conta não só a língua estrangeira, mas, também, a realidade local/regional onde se dá o seu ensino. (BRASIL, 2006, pg. 149)

Laraia (2004, p. 38) explica que o homem é um “ser predominantemente cultural”, pois realiza tarefas que são comuns a todos, mas as pratica de modo variado de acordo com a cultura a qual faz parte. Também indica que suas ações independem de sua herança genética e sim “de um processo de aprendizagem”. Logo, cultura seriam comportamentos aprendidos socialmente. Na medida em que o homem foi evoluindo

1 Criado em 1991, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), é um bloco econômico formado pela

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, pelos Estados Associados dos quais fazem parte a Bolívia (em processo de adesão ao MERCOSUL), o Chile (desde 1996), o Peru (desde 2003), a Colômbia e o Equador (desde 2004) e pela Guiana e Suriname que se tornaram Estados Associados em 2013. Com isso, todos os países da América do Sul fazem parte do MERCOSUL. Disponível em:

http://www.mercosul.gov.br/saiba-mais-sobre-o-mercosul. Acesso em: 02 de setembro 2016.

2 No momento em que se concluía este TCC, o MEC determinou a MP 746 de 23 de setembro de 2016,

revogando a lei 11.161/2005, em seu artigo 13. Essa medida provisória está em processo de aprovação pela Câmara dos Deputados.

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seu organismo e aumentando o volume do seu cérebro, a cultura também foi surgindo, o homem passou a se socializar e a aprender com o outro, a se adaptar aos diversos ambientes e a transformá-los. Então suas ações passaram a ser determinadas por sua cultura. Assim, cultura, “[...] mais do que a herança genética, determina o comportamento do homem e justifica as suas realizações.” Kroeber apud Laraia (2004, p.41). Promove a adaptação aos diversos ambientes e é construída social e historicamente, além de ser transmitida para outros indivíduos, não sendo, para Josef Estemann (2010), estática, já que uma cultura entra em contato com outras culturas ao longo do tempo.

Ainda sobre esse tema, Matta (1981)discute o conceito de cultura no âmbito da Antropologia, afirmando que seria um código que “rege” um certo grupo em que as pessoas que o constituem têm comportamentos em comum e que uma cultura é composta por regras que irão permitir a relação entre os indivíduos do grupo em si e com o ambiente ao seu redor. Além disso, para Matta, a compreensão da cultura “permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos ” (1981, p.4). Sendo assim, numa sala de aula, para que uma cultura dialogue com outra(s) e para que os indivíduos reflitam sobre sua postura frente à diversidade, propõe-se (alguns modelos contemporâneos de aprendizagem de línguas) o ensino através de uma abordagem intercultural.

A interculturalidade é a “inter-relação ativa e a interdependência de várias culturas que vivem em um mesmo espaço geográfico.” (GARCIA MARTÍNEZ et alii apud Paraquett 2010, p.144). É através desse diálogo entre culturas, que segundo Estermann (2010) começamos a ter consciência de nossa própria cultura, passando assim a entender e a respeitar a do outro e a refletir sobre nossa postura com relação ao diferente, deixando para trás julgamentos, preconceitos e estereótipos com relação à outra cultura. Deixamos também de pensar na nossa cultura (a de cada indivíduo) como a melhor e abrimos espaço para o outro.

Mendes (2008) também fala sobre essa questão, referindo-se ao primeiro e segundo princípios para agir de modo intercultural. O primeiro seria como vemos o outro e o mundo ao redor: para que haja uma verdadeira interação é importante que vejamos o mundo de modo a contribuir para isso, tornando esse mundo nosso também. E o segundo seria o modo como nos posicionamos no mundo e compartilhamos

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experiências: o mundo passa a ser acessível a todos, ou seja, o mundo que antes era só meu, agora, tem um espaço para o outro com quem compartilho experiências. A partir daí, passo a reconhecê-lo em mim ao enxergar suas experiências nas minhas, mas sem deixar de lado nossas identidades. A partir dessa inter-relação, segundo Walsh (2005), constrói-se uma ponte de intercâmbio entre os indivíduos de diferentes culturas onde cada pessoa ou grupo passa a interagir, entender e aceitar o outro, promovendo respeito, solidariedade e responsabilidade.

Desse modo, num ensino intercultural, como explica Mendes (2008):

[...] promover o diálogo de culturas significa estarmos abertos para aceitar o outro e a experiência que ele traz para o encontro a partir do seu ponto de vista; é permitir que as nossas próprias experiências possam dialogar com as do outro de modo intersubjetivo; é colocarmo-nos junto ao outro quando interpretamos o mundo à nossa volta, o mundo que nos abriga; é, finalmente, recebermos o outro tal como se recebêssemos um amigo com o qual não temos receio de partilhar as nossas dúvidas, incertezas, emoções, desejos, inseguranças. Somente a partir de uma postura que promova o verdadeiro diálogo, a troca entre sujeitos-mundos diferentes, entre línguas-culturas diferentes, é possível derrubar muitas barreiras que, por vezes, se interpõem nos processos de ensinar e aprender línguas. (MENDES. 2008, p.11)

Assim, no ensino de línguas, é importante que os professores incentivem seus alunos a dialogar com as diferenças e a refletir sobre suas atitudes, que abandonem discursos hegemônicos e de preconceito linguístico e cultural e que entendam o ensino/aprendizagem de línguas como oportunidade de inclusão social. “É preciso mudar os professores ou formar professores de línguas estrangeiras que sejam mais abertos e que, em lugar de ‘tolerar’ a diferença, queiram receber esse outro como se recebe a um amigo”, conforme sugere Paraquett (2010, p. 148) com base em Mendes (2007, p.138)

Essas reflexões aguçaram meu olhar, pois, ao andar pelas ruas de Salvador, percebo a existência de estabelecimentos de origem espanhola devido à imigração ocorrida, mas muitas pessoas não notam por não saberem que a cidade recebeu um grande número de imigrantes galegos no passado. Visto que Salvador abriga muitos imigrantes e descendentes galegos e que estes tiveram uma grande participação nas transformações do espaço físico, social e econômico da cidade; e que o ensino de uma língua deve estar associado ao meio por onde se circula, devendo ir mais além da sala de aula, ou seja, estar contextualizado, é imprescindível que um professor em formação

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de língua espanhola que irá atuar em Salvador, saiba da história da imigração galega e sua cultura, já que estão tão próximos dessa realidade.

Esse contato e conhecimento fará com que os alunos entendam o porquê de alguns nativos da Espanha, e às vezes professores, deturparem e inferiorizarem a imagem do galego e de sua região, para que assim esses alunos desmitifiquem essa questão e se fechem para tais preconceitos. Mas para isso, é necessário partir primeiramente dos professores, que precisam repensar suas crenças e preconceitos para que as mesmas não sejam levadas para a sala de aula, incentivando de tal maneira os aprendizes. Conforme aponta Walsh (2005, p.26):

Los profesores tienen un rol central en el aula y en la comunidad como agentes de la interculturalidad, y por eso ellos necesitan construir y reconstruir sus conocimientos, conductas, habilidades, valores y actitudes con relación a la diversidad cultural como seres con su propio bagaje y experiencia cultural y como docentes. 3

Assim, é importante também que o professor em formação construa esse conhecimento para que em suas aulas de espanhol possa ajudar seu aluno a fazer uma ponte entre o “estrangeiro” e a realidade local, além de criar relações de interdependência, onde o aprendiz irá refletir sobre a língua e o outro dentro do meio em que está imerso, permitindo-lhe ver-se e constituir-se como sujeito a partir desse contato e exposição. Além disso, pode ser que haja, entre esses estudantes, descendentes dos imigrantes que não conheçam a história de seus antepassados, contribuindo para a recuperação da memória. Acredito que “A reflexão sobre o papel da língua que se estuda e das comunidades que as falam, na sua complexa relação com o mundo em geral e com o nosso próprio espaço e a nossa própria língua, é de crucial importância na constituição dessa cidadania”. (BRASIL, 2006, pg. 132).

Como a maior função de uma língua estrangeira em sala de aula é a formação de cidadãos, os professores precisam construir juntamente com seus alunos conhecimentos que ampliem suas visões de mundo, que os façam reconhecer a diversidade e respeitá-la e que os tornem mais críticos para atuar de maneira mais ativa na sociedade. Além

3Tradução nossa: “Os professores têm um importante papel na sala e na comunidade como agentes da

interculturalidade, e por isso precisam construir e reconstruir seus conhecimentos, condutas, habilidades, valores e atitudes com relação à diversidade cultural como seres com sua própria bagagem e experiência cultural e como docentes.”

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disso, ao entrar em contato com um novo idioma e seu contexto histórico-cultural, o indivíduo modifica suas atitudes assim como também desconstrói e reconstrói representações a partir de suas reflexões.

Desta forma:

Educar para os direitos humanos, como parte do direito à educação, significa fomentar processos que contribuam para a construção da cidadania, do conhecimento dos direitos fundamentais, do respeito à pluralidade e à diversidade de nacionalidade, etnia, gênero, classe social, cultura, crença religiosa, orientação sexual e opção política, ou qualquer outra diferença, combatendo e eliminando toda forma de discriminação. (BRASIL, 2013, p. 167)

A partir do exposto, faz-se necessário o entendimento de como e por que se deu a imigração galega para Salvador, como os galegos eram vistos pela sociedade e de que forma contribuíram para nossa cidade.

3. CHEGADA DOS IMIGRANTES GALEGOS A SALVADOR

A Galícia do século XVIII apresentava um cenário onde a população vivia num sistema com características feudais: as famílias de agricultores trabalhavam nas terras da elite que cobrava altos impostos e em troca oferecia suas propriedades para essas famílias plantarem produtos agrícolas de subsistência. Por outro lado, essa região era impedida de comercializar com outras regiões do reino e com as colônias da América, tornando-a isolada e atrasada. No final do século XVIII, para fugir dessa situação, muitos galegos saíram de suas terras para emigrar, inicialmente, a outras regiões da Espanha, em especial para Castela. Em seguida, emigraram para o norte de Portugal e depois para lugares mais distantes como o Brasil, por exemplo, com o objetivo de buscar melhores condições de vida. Segundo Brandão (2005), embora o consulado espanhol tenha cadastros que registram a fixação dos galegos em Salvador desde 1961, o ano de 1883 foi o oficial do início da imigração galega para Salvador, com o ingresso dos primeiros galegos que deram entrada na capitania dos portos. Em 1900 foram registrados os primeiros estabelecimentos comerciais galegos.

Até início do século XIX, a Galícia ainda não tinha realizado sua Revolução Industrial. Fazia-se uso de métodos tradicionais nas lavouras e a falta de uma burguesia empreendedora impediu essa industrialização. Enquanto o resto do país avançava

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tecnologicamente, a Galícia, até meados do século XX, passava por uma crise de fome e miséria, devido à expansão agrícola em outros continentes, os avanços tecnológicos das outras regiões, o barateamento do frete alimentício e crescimento populacional.

Outros fatores que influenciaram a vinda de imigrantes para a América, anos depois, foram as duas grandes guerras Mundiais e a Guerra Civil Espanhola na qual houve a ascensão do general Francisco Franco, provocando a saída de milhares de pessoas expulsas ou fugidas. O Brasil recebeu um número expressivo de imigrantes. A Bahia no século XIX era a principal região produtora de cana-de-açúcar e fumo. Salvador tinha na atividade comercial, portuária e no tráfico de escravos meios para seu crescimento econômico, além de ser também sede administrativa e núcleo cultural político. Mas, com as inovações tecnológicas, pressões para o fim da escravidão e a inauguração do canal de Suez, Salvador, perdeu prestígio de poder econômico e político.

Com o fim da escravatura, foram adotadas medidas oficiais de atração de imigrantes, já que Salvador perdia mão-de-obra no campo e tinha um crescimento populacional nas cidades devido às imigrações de ex-escravos. Assim, foram realizados investimentos em equipamentos urbanos, indústrias, construção civil e modernização da cidade através dos investimentos do governo imperial, dos capitais estrangeiros e dos comerciantes locais. Apesar disso, Salvador passava por um período de decadência política e econômica devido a fatores como: concorrência internacional na disputa por mercados para o açúcar e por ter sido afastada do eixo de poder político.

Sem apoio oficial do governo da Espanha, nem do governo do Brasil, ao chegarem a Salvador, os primeiros galegos, vindos principalmente da província de Pontevedra, enfrentaram logo problemas com moradia e principalmente com o regime de trabalho, já que na Galícia havia o descanso e tarefas que eram acompanhadas de brincadeiras, danças e comidas. Os imigrantes viajavam com esperança de mudar e melhorar de vida para depois poder retornar à sua terra natal, mas quando chegavam aqui na Bahia, viam que as coisas não seriam da forma com que eles tinham imaginado e, segundo Albán (1983, p. 28), “Para muitos a sensação era de estarem escravizados. ” Dentre os embarcados, havia também menores de idade, pois não havia nenhum impedimento legal para que estes viajassem.

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Permaneceram na parte antiga da cidade, o Centro Histórico, ou em regiões próximas que foram abandonadas pelas elites locais, como as freguesias da Sé, Passo, Santo Antônio, Pilar e também nas freguesias de São Pedro, Santana, Conceição da Praia, lugares onde as moradias eram mais baratas. Assim, esses imigrantes podiam se manter próximos, havendo então um autocontrole social que permitia a manutenção dessa comunidade. Esses galegos, que se fixaram em Salvador, enviavam cartas para suas famílias na Galícia, contando sobre a melhoria de vida, o que acabava atraindo e influenciando a vinda de outros galegos. Logo, os galegos começaram a trabalhar no setor terciário, principalmente no comércio de secos e molhados, em bares, restaurantes, na panificação e casa de penhores, mantendo-se no centro da cidade. Inicialmente, muitos imigrantes moravam no próprio armazém, onde trabalhavam, ou em repúblicas. Com o passar do tempo, os galegos que trabalhavam nesses estabelecimentos se tornavam sócios e depois proprietários destes. À medida que se estabeleciam e precisavam de mão-de-obra, mandavam chamar parentes, filhos ou amigos na Galícia:

[...] financiavam a vinda de parentes e amigos provenientes de suas aldeias para trabalhar em seus estabelecimentos, pois enxergaram nesta possibilidade uma mão-de-obra mais barata, capaz de trabalhar 12, 14, 16 horas por dia, sem descanso muitas vezes nos sábados e domingos¹. Sabiam que os que de lá vinham, tinham neles, o único referencial para a sobrevivência e conhecimento do novo mundo. Apesar da realidade aqui encontrada, os recém-chegados se submetiam a esta desumana jornada de trabalho, pois não possuíam condições financeiras de retornar a Galícia, e quando conseguiam juntar o capital necessário para a viagem de retorno, faltava-lhes coragem de serem recebidos como fracassados [...] (VIDAL, 1999, p. 43)

Esses estabelecimentos estavam distribuídos pelas freguesias de Passo, Sé, Santo Antônio, São Pedro, Pilar e Conceição da Praia. Um aspecto interessante com relação à venda nesses estabelecimentos era o uso de “cadernetas” onde os comerciantes registravam os débitos dos clientes que tinham uma data definida para realizar o pagamento das compras realizadas no mês, funcionando como os cartões de crédito utilizados hoje.

Como havia conflitos, desconfiança e preconceito, os galegos se afastavam da população local e se voltavam para a comunidade galega que foi autodenominada de colônia espanhola, certamente para evitar o uso da palavra galego, já que nesta época,

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estava associada à brutalidade, ao avarento, ao que vendia fiado e cobrava. Ou para esconder o estereótipo vindo de Portugal, em que o galego era o que servia.

[...] na Bahia essa imagem do ser galego permeava as relações sociais entre galegos e baianos na primeira metade do século- um galego de hábitos rudes, trabalhador incansável, comerciante ganancioso, que não vacilava em acrescentar algumas gramas ao preço da mercadoria comercializada. (ALBAN, 1998 p.238)

Até nas festas, inicialmente, as músicas e danças eram, em sua maioria, de repertório espanhol sendo que uma minoria ainda fazia uso das gaitas de fole que fazem parte da tradição galega. Porém, a partir da segunda metade do século XX, surgem grupos folclóricos dando preferência aos repertórios galegos e centros de estudos voltados à difusão da cultura galega e seu estudo.

Apesar de tentar construir um território galego, essa comunidade não conseguiu consolidá-lo no lugar onde estava, pois, na medida em que melhoravam de vida, os galegos iam se deslocando para outros lugares, desfazendo a concentração no centro, pois habitar o centro histórico não contribuía com sua integração e a crescente degradação tornava aquele espaço insalubre. Essas dispersões se davam em direção ao sul, leste e em menor quantidade na periferia norte da cidade.

Por outro lado, a Galícia, no início do século XX, ainda se mantinha nas antigas tradições políticas e econômicas, permanecendo a maioria da população, em péssimas condições. A partir do dinheiro enviado pelos emigrados, foi possível a construção de muitas obras nas suas localidades de origem, como escolas, igrejas e residências. Houve também inserção dos habitantes rurais no processo produtivo, muitos se tornavam proprietários das terras e outros começavam a trabalhar em atividades secundárias e terciárias que estavam em crescimento.

O imigrante galego, então, ao inserir-se economicamente junto à sociedade soteropolitana através do comércio (de gêneros alimentícios, principalmente), procurava deixar marcas de sua presença através de importantes instituições. A fundação da Real Sociedade Espanhola de Beneficência fundada em 1º de janeiro de 1885 marcou a presença dos galegos como agentes do crescimento da cidade. A compra de um chalé na Barra em 1897, onde está localizado o Sanatório Espanhol, hoje, desativado, demonstra a ocupação em direção ao sul da cidade.

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Em 1922 o Cassino Espanhol, que servia como lazer para os galegos, foi transformado em Centro Español tendo sua sede na Piedade. Ainda nesse ano, a Real Sociedade Espanhola de Beneficência realizou considerável doação para a construção do palácio monumental que abrigaria o Instituto Histórico e geográfico da Bahia, na Piedade e, em 1941, juntamente com o consulado espanhol, liberaram recursos financeiros para a construção do prédio da Faculdade de Filosofia.

O maior responsável pela integração dos galegos à sociedade foi o Galícia Esporte Clube, fundado em 1º de janeiro de 1933, que fez com que a comunidade galega participasse do cotidiano de Salvador. Apesar dessa integração, no que diz respeito ao casamento, havia um incentivo à união entre os próprios membros da comunidade galega e repressão àqueles que fossem externos à comunidade.

Nas primeiras décadas do século XX, com a modernização da cidade de Salvador, o comércio havia se tornado uma das atividades mais importantes e transformava os espaços da cidade, não somente as áreas da cidade baixa, mas também as da cidade alta, principalmente a rua Chile, Baixa dos Sapateiros e Calçada, que tinham se tornado espaços de lazer e compras das famílias abastadas. Em 1912, empreendimentos comerciais, como a Pastelaria Triunfo, Pastelaria Horizonte, Casa Perez e a casa de penhores A Primavera, que tinham como proprietários galegos, eram locais de comércio das elites da cidade.

Com o início da dispersão comercial nas áreas de crescimento da cidade, muitos bairros que hoje são consolidados e que, antigamente, eram pouco povoados, sem alinhamento das ruas e sem sistema de transporte coletivo como Brotas, Nazaré, São Caetano tiveram uma significativa contribuição do imigrante galego, através da implantação de estabelecimento comercial ou de investimento em imóveis. Os agentes imobiliários de origem galega também tiveram um papel importante na produção do espaço da cidade através da participação na estruturação de loteamentos de caráter popular. As construtoras se desenvolveram bastante, sendo algumas delas eram de propriedade de imigrantes galegos estabelecidos em Salvador. À medida que melhoravam de vida, muitos retornavam à terra natal onde adquiriam terras tornando-se proprietários; os que já eram, expandiam seus bens e pagavam suas dívidas. Os filhos desses imigrantes vinham então para cá para dar continuidade ao negócio dos pais e as esposas também vinham acompanhando seus maridos e filhos para “retomar” uma

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relação que antes tinha sido interrompida pelo processo imigratório. Em relação às mulheres, quando chegavam aqui já encontravam um núcleo de conterrâneos. Muitas passavam a trabalhar na administração dos pensionatos dos empregados de seus maridos, mas havia também aquelas que trabalhavam no balcão com o esposo. As mulheres, aqui, descansavam mais do que na Galícia, onde além de realizar trabalhos domésticos, trabalhavam na lavoura.

Entretanto, a maior parte dos encargos relativos à cozinha dos empregados recaía, muitas vezes, sobre as empregadas domésticas, cujos serviços eram contratados por uma remuneração muito baixa e por isso acessível aos imigrantes. Isso permitia às mulheres poderem participar da prática da visita entre as “patrícias”, o que atenuava o contraste entre comunidade rural de onde provinham e a comunidade urbana de Salvador. (ALBAN, 1983, p.31)

Segundo Vidal (1999, p. 45), o surgimento do supermercado Mamede Paes Leme, na década de 50, foi um dos fatores que levou à decadência econômica dos galegos donos de armazéns. “No início, os comerciantes galegos achavam que seriam exterminados, pois apesar de vender com prazo de 30 dias, não tinham como competir com os preços apresentados pelos supermercados.”

A partir dos anos de 1970, surgem os shoppings centers, estabelecendo um novo conceito de mercado. Isso provocou a decadência da Rua Chile, que no início do período era espaço do comércio de luxo, e de outras áreas onde também existiam estabelecimentos galegos. Diante disso, algumas decisões foram tomadas por eles: a diversificação das atividades através da abertura de novos empreendimentos, o aumento de oferta de novos produtos, facilidades de pagamento ou a mudança dos estabelecimentos para espaços de maior concentração comercial, a exemplo da casa de penhores A Primavera, que hoje comercializa instrumentos musicais, e da confeitaria Perini, que foi inaugurada em 1964, já comercializando lanches rápidos, produtos finos, frios e vinhos. Diversificaram também nas áreas de hotelaria, transporte público e casas de material de construção.

Alguns comerciantes galegos mantiveram a localização dos seus estabelecimentos em espaços tradicionais, alguns sem alterar a fachada ou nome da loja, como o Restaurante Cólon, no bairro do Comércio, na Rua do Forte de São Pedro, onde há empreendimentos como Hotel de Santiago, Funerária González, Bar Cervantes. Na Linha Verde, próximo a Lauro de Freitas, pode-se observar a atuação comercial de

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imigrantes galegos e de seus descendentes nos ramos de construção civil e materiais de construção.

Na década de 1960 foi criada a Sociedade Cultural Caballeros de Santiago e nos anos de 1990 o Centro de Estudos da Língua e Cultura Galegas, CELGA4, como núcleo do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia, os quais realizam atividades voltadas à difusão das línguas e culturas galega e castelhana. Em abril de 2000, foi inaugurado pela Prefeitura Municipal nas proximidades do bairro da Pituba, na Avenida Otávio Mangabeira O Cruzeiro Galego, marca da presença galega em Salvador.

Em resumo, os galegos deixam suas marcas em Salvador, como o Hospital Espanhol, no momento desativado, mas que funcionou durante muitos anos, beneficiando muitos galegos e seus descendentes; o Centro Espanhol, que hoje é o condomínio Costa España; o curso de idiomas Caballeros de Santiago; o restaurante Taberna; a delicatessen Perini e, na Universidade Federal da Bahia, o Centro de Estudos da Língua e Cultura Galega. Há também O Clube Recreativo Rio Tea, em Lauro de Freitas, que é um centro onde ocorrem reuniões dos galegos e seus descendentes.

4. ENTREVISTA AOS DESCENDENTES DOS IMIGRANTES GALEGOS

A fim de comprovar e reforçar o que foi aqui pesquisado, além de identificar elementos da memória cultural de imigrantes espanhóis, foram realizadas entrevistas com descendentes de imigrantes de primeira e segunda gerações, ou seja, seus filhos e netos, sendo seis entrevistados ao total.

As entrevistas foram orientadas pelas seguintes perguntas:

1. Dados pessoais: nome do entrevistado; grau de parentesco com o(a) imigrante espanhol(a); nome, ano e cidade de onde veio o(a) imigrante. 2. Que razões trouxeram seu parente imigrante ao Brasil? Veio diretamente

para Salvador? Onde morou?

3. O parente imigrante já tinha uma rede de relações familiares ou sociais em Salvador? Veio trabalhar em que setor? Veio sozinho ou acompanhado?

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4. Você conviveu com seu parente imigrante? Conta um pouco como foi essa convivência.

5. Como era ele (ela)? Gostava de viver em Salvador? 6. O que ele (ela) contava de sua cidade e de seu país?

7. Seu parente imigrante voltou à sua região? O que significava (m) essa (s) viagens (s) para ele (ela?)

A partir da depreensão do corpus, percebeu-se que havia, pelo menos, cinco elementos que davam pistas para a reconstituição da história daqueles imigrantes e da perpetuação da memória da Espanha em seus descendentes.

Os elementos que chamei de categorias de análise são:

 Os motivos que os trouxeram / a história de vida dos imigrantes;  Onde e como se estabeleceram (atividades comerciais, bairros);  As redes familiares (vieram depois de alguém? Trouxeram alguém?);  As relações de afeto com o Brasil;

 A afetividade com a Galícia;

De acordo com leituras realizadas acerca da imigração de espanhóis para Salvador, pude comprovar através dos relatos dos descendentes, que a maioria dos imigrantes saiu da Galícia e veio para Salvador por motivos de dificuldades financeiras ou por conta do período do pós-guerra e para uma melhoria de vida. O primeiro motivo apresentado foi percebido na entrevista do sujeito F, em que o imigrante veio por dificuldades que enfrentava na Galícia; O segundo motivo está presente nas entrevistas dos sujeitos A, B, D, E, quando percebo que os imigrantes vieram pelas dificuldades que estavam passando no período de pós-guerra ou por medo de que houvesse uma outra guerra, como diz o entrevistado D. O único imigrante que não veio por nenhum desses motivos foi o que se encontra na entrevista do sujeito C, o qual veio porque sempre teve sonho de vir para a América. Primeiramente foi para a Venezuela e depois veio trabalhar no Brasil, onde morou em São Paulo, Rio Grande do Sul e por fim aqui em Salvador, onde chegou mais recentemente, há pouco mais de 10 anos, porque um parente foi transferido para trabalhar aqui e pelo fato de que o frio de onde morava antes

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causava dores ao imigrante. Ficou claro que todos vieram para o Brasil para melhorar de vida.

Segundo Brandão (2005), os imigrantes se estabeleceram inicialmente no Centro Histórico da cidade ou em locais próximos, lugares que haviam sido abandonados pela elite e onde as moradias eram mais baratas. Muitos moravam em cima do estabelecimento onde trabalhavam, o que pode ser comprovado na entrevista do sujeito D, que morou no Pelourinho, trabalhava num bar e morava no andar superior. Com o parente do sujeito F também foi assim, já que primeiramente morou na Ladeira da praça no andar de cima da padaria onde trabalhava. O sujeito B não sabe onde o imigrante morou inicialmente, mas tem a informação de que morou numa república na Calçada. Ocorre o mesmo com os sujeitos A e E, que também não sabem onde seus parentes residiram quando chegaram. Acreditam que tenha sido na Barra (provavelmente já tinham parentes ou amigos que já viviam aqui e que, à medida que iam melhorando de vida, foram morar no sul da cidade). Já o parente do sujeito C, vinha a Salvador a passeio com a família, e quando vinham ficavam na Ribeira, pois achavam que era um bairro familiar e tranquilo. Então, quando se mudaram para Salvador, (o imigrante e a família do sujeito C), moraram inicialmente na Ribeira.

Todos os parentes dos sujeitos entrevistados trabalharam com comércio, exceto o do sujeito C, que trabalhava com costura. O parente do sujeito A trabalhou no setor de comércio na Cidade Baixa, depois abriu um restaurante no Hospital Espanhol, que funcionava quando o hospital estava ativo e era da família. O do sujeito B veio trabalhar na pastelaria do tio da esposa no Rio Vermelho. Alguns anos depois, se desentendeu com o tio e foi trabalhar num armazém. Em seguida, construiu uma sorveteria com o cunhado na Liberdade e por fim foi trabalhar no ramo de padaria.

O familiar do sujeito D trabalhava num bar. O sujeito E não sabe com o que seu parente trabalhou inicialmente, achando que deve ter sido em alguns locais e, como a maioria dos imigrantes, começou a ter seus negócios próprios. No seu caso, foi de materiais de construção, pois tinha depósitos, sendo um no Porto da Barra e outro na Federação (muitos imigrantes tornaram-se empresários de lojas de materiais de construção e de empresas de ônibus, além do setor de hotelaria).

O parente do sujeito F teve quatro barracas em São Joaquim e depois abriu um restaurante na Praça da Sé e, por fim, foi trabalhar na padaria com o irmão. Essas

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informações comprovam que os imigrantes trabalharam no setor do comércio, principalmente alimentício.

Quanto à rede familiar, a maioria desses imigrantes da pesquisa vieram acompanhados ou já tinham algum parente que já morava em Salvador, com exceção do sujeito A que não sabe se havia algum familiar que já morava aqui e se o imigrante veio só ou acompanhado e o sujeito B, este diz que o imigrante veio sozinho para Salvador e que, para isso, pegou dinheiro emprestado com o tio da esposa que já morava aqui. Depois, então, seu cunhado veio para o Brasil e eles se juntaram para abrir um negócio. O imigrante do sujeito C não tinha ninguém em Salvador, mas veio com a família do entrevistado. O parente do sujeito D veio sozinho, mas o irmão já morava aqui; os dos sujeitos E e F vieram acompanhados e não tinham nenhum conhecido em Salvador, enquanto o do sujeito E veio para o Brasil com primos e irmãos. Nesse caso, houve uma distribuição, pois, um irmão foi para São Paulo, outro para o Rio de Janeiro, uns primos para o Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto outros vieram com ele para Salvador. O parente do sujeito F veio com o irmão.

Segundo Brandão (2005), os primeiros imigrantes, enviavam cartas para sua família na Galícia, contando sobre a melhoria de vida, o que acabava atraindo e influenciando a vinda de outros galegos. Assim, ia-se formando a comunidade galega em Salvador.

À medida que melhoravam de vida, os galegos iam se deslocando para outros lugares e então se desfazia a concentração nas áreas do centro, o que pode ser comprovado quando os entrevistados dizem os lugares que os imigrantes foram morar depois. Segundo o sujeito A, o imigrante morou na Pituba quando constituiu família e depois foi para Graça. O sujeito B e o sujeito D não trazem essa informação. Já o sujeito C, que é um caso diferenciado, pois já não veio na mesma época que os outros vieram, foi morar na Barra. O sujeito E diz que depois de casado, o imigrante morou na Federação e depois na Barra. O sujeito F conta que o imigrante depois de casado foi morar em Brotas, embora depois tenha ido para Santo Antônio, além do Carmo, retornando ao centro, sendo uma exceção nesse caso.

Outra informação é que a maioria dos imigrantes veio de navio para o Brasil, exceto o imigrante da entrevista do sujeito B e do sujeito C, que vieram de avião, sendo

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que o do sujeito C chegou a Salvador há uns 10 anos atrás e o do sujeito B veio em 1948.

Algumas histórias foram contadas pelos entrevistados sobre os seus parentes imigrantes. O sujeito A conta que quando pequeno não gostava muito de comer e sempre que voltava do colégio o parente lhe fazia pratos da Galícia para motivá-lo a comer. Fazia paella, tortilla, callos, tradição na culinária espanhola. O sujeito B diz que até a década de 50, o imigrante ficou aqui sozinho, passou 9 anos sem a esposa e depois conseguiu trazê-la, pois antes só se falavam por carta. Depois que se aposentou, voltou para a Galícia com a esposa, mas depois do falecimento da mesma, retornou a Salvador em 1990. Em 1992 conheceu uma senhora que era viúva e também espanhola e resolveram voltar para a Galícia. Depois do falecimento da segunda esposa, voltou ao Brasil por conta da idade, pois não tinha como ficar sozinho na Galícia.

Este imigrante fundou um grupo de gaitas, mas teve desgostos e “esquentou” muito a cabeça porque as pessoas diziam: “lá vêm os mortos de fome” e por conta dos próprios galegos que tinham vergonha e ainda hoje dizem: “lá vêm os palhaços”, por causa dos trajes tradicionais que usam para as apresentações. Chamavam de mortos de fome, porque quando eles iam se apresentar, não cobravam e então pediam para que lhes pagassem o almoço. Lembrei-me do que Albán (1998) diz quanto aos significados da palavra galego nos dicionários, em que há usos que estão relacionados à dura realidade vivida pelos galegos na Galícia, como é o caso do dicionário de Antonio de Morais (1945) - que a autora traz em seu texto- quando se utiliza galego para se referir a uma mesa em que não há pão. Esse preconceito visto ainda hoje, principalmente vindo de pessoas mais velhas, como disse o informante na entrevista, pode ser explicado pela história de vida difícil na Galícia, pelo preconceito que sofreram logo que chegaram a Salvador e pela depreciação da cultura e língua galega na época do governo de Franco na Espanha, enraizando e fortalecendo assim estereótipos.

O sujeito C disse que seu parente saiu da Galícia com o marido, porque sempre quis vir para a América, mas seu pai só permitiria, se ela se casasse. E então ela se apaixonou e se casou. A vinda dela não está relacionada com a guerra e nem com problemas financeiros e sim porque sonhava em vir para a América. Ela sempre gostou da Galícia, mas não via futuro por lá. Era um lugar que lhe trazia muito sofrimento, pois

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o pai sofreu muito e a mãe faleceu. Ela queria vir para ganhar dinheiro e ser independente.

Sobre Salvador, o informante A diz que seu avô gostava, dizia que as pessoas daqui eram melhores de se conviver e o clima era melhor. O avô retornou algumas vezes à Galícia, mas somente a passeio e para visitar os amigos, já que sua família (a que constituiu) estava aqui, mas gostava muito de ir para rever os amigos. Lembra que o avô, quando voltava, dizia que na Galícia se comia bem demais, melhor do que em Salvador. Ainda sobre a relação do imigrante com a Galícia, o informante diz que ele e seu avô participavam dos encontros da comunidade galega no Rio Tea, onde havia música, missa e comidas (sardinhada) galegas.

O informante B conta que seu avô fala mais em galego, mas diz que é mais brasileiro do que qualquer outra coisa, porque tem mais de 60 anos de Brasil. Sempre gostou de Salvador, apesar do preconceito que havia na época em que chegou.

Sobre a Galícia, diz que o imigrante sempre falou de sua cidade e que tem uma paixão muito grande pela Galícia. Conta que o avô tem orgulho de ser galego e que por causa dessa paixão, em 1973 ou 1974, se juntou com seu irmão e com os dois tios do pai do informante e formaram um grupo de gaitas chamado Os Celtas. Eles se dedicam muito à banda, principalmente o avô, que já tirou dinheiro do próprio bolso para bancar as apresentações. Trazia roupas tradicionais e instrumentos da Espanha e as distribuía entre todos. Quando não teve o grupo de baile, ele formou um com crianças carentes da Liberdade, ensinando-as a dançar. Diz, que ainda assim, os galegos não dão valor a essas tradições, o que o magoa muito.

O informante C disse que a avó gosta mais daqui de Salvador do que a região onde morava no sul do país. Quando vieram para a Bahia, acharam que estavam no paraíso, porque todo mundo gosta de festas e há uma comunidade galega muito grande. O pai do informante D diz que Salvador era feia, mas agora está bonita e que quando chegou não gostava da cidade, mas como seu pai o mandou para cá, colocou em sua cabeça que era aqui que ele ia fazer sua vida e constituir família. Para o informante, talvez o pai não gostasse de Salvador por ter passado inicialmente por dificuldades.

Sobre a relação com a Galícia, o informante conta que o pai sente uma mágoa muito grande, pois saiu de uma Espanha sofrida, no pós-guerra, e chegou no Brasil com

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a esperança de melhorar de vida. Diz que quando pergunta ao pai se ele gostaria de voltar para a Galícia, ele responde que jamais, por causa do tempo que já morou aqui e por causa das lembranças de uma Espanha muito sofrida e de tempos difíceis. O informante diz que o pai se sente galego e carrega a tradição na culinária, gosta muito de cozinhar comidas da Galícia. Desde que o informante era criança, o pai sempre quis que este tivesse um contato grande com a família da Galícia e desde então viajavam para a Espanha. Além disso, a família do informante D sempre frequentou o Clube Espanhol onde se encontravam com a colônia galega, pois era uma maneira deles se reunirem e não perderem o contato com a terra natal.

O informante E diz que o pai gostava muito de Salvador e do Brasil. Ele dizia que aqui era a pátria dele, mas se considerava espanhol e sentia muita falta de lá, principalmente do clima. O pai retornou para a Galícia para visitar a família e era uma alegria muito grande para ele essas visitas, pois tinha primos, irmã e sobrinhos lá.

O informante conta que o pai tinha discos espanhóis e gostava muito das músicas. Cozinhava comidas típicas da Galícia, tendo criado o informante e seus irmãos, basicamente com comidas espanholas e conhecendo sua cultura.

Sobre o pai, o informante F diz que gostava de Salvador. Dizia que aqui era o melhor lugar para se viver no Brasil, porque tinha o melhor clima. O informante acha que ele não tinha vontade de voltar a viver na Galícia, porque a família estava aqui e pelo fato de ter passado a maior parte de sua vida no Brasil. Gostava muito da Galícia, ouvia músicas galegas, torcia para o time da Galícia e cozinhava comidas de lá. O imigrante retornou uma vez para visitar sua terra natal.

A partir das entrevistas realizadas com os filhos e netos dos imigrantes, pude perceber que esses imigrantes tinham relação de afeto com o Brasil, até porque passaram a maior parte de suas vidas aqui. Sobre Salvador, os informantes dizem que os imigrantes gostavam daqui e que, apesar das dificuldades iniciais, se adaptaram. Albán nos diz que:

[...] subsistem ainda as características étnico-culturais galaicas, que se revelam não só através da “morriña", isto é, as evocações saudosistas de suas aldeias, de seus costumes, de sua tradição enfim, mas também na prática ritual de algumas manifestações características, como a da comensalidade, que se perpetua nas reuniões gastronômicas promovidas hoje em dia por segmentos dessa população, formados pelos procedentes de uma mesma aldeia. É quando ainda se ouve o som da gaita de fole, tradição que uma minoria preserva, numa atitude singular dentro do grupo. (ALBAN, 1983, p.41)

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Sobre essa relação afetiva com a Galícia, percebi que todos participavam dos encontros e festas galegas e que todos eles trazem marcas galegas, mostrando-se ligados à terra natal através, principalmente, de tradições culinárias e musicais. Ainda segundo Albán (1983), na sua pesquisa, houve imigrantes que retornaram à Galícia e depois voltaram para a Bahia. Estes vieram com o intuito de permanecer definitivamente e apenas vão à Galícia no verão para passar férias, outros voltaram de vez para a sua terra natal e há ainda aqueles que não quiseram retornar à Galícia. Sobre essa questão, pude comprovar que os parentes imigrantes de meus entrevistados retornaram, mas não permaneceram, apenas foram com a intenção de visitar os familiares e amigos.

Finalizando essa parte da pesquisa sobre a história da imigração galega em Salvador e as memórias de imigrantes e seus descendentes, pode-se concluir que os imigrantes galegos tiveram uma grande participação nas atividades terciárias, contribuindo de forma efetiva na economia local, promovendo e produzindo transformações espaciais e sociais em Salvador.

5 – CONCLUSÃO

O ensino de língua espanhola assim como o de outras línguas estrangeiras, contribui para o exercício da cidadania pois o aluno começa a ter contato com outras culturas e a refletir sobre elas passando a entender os diferentes contextos e a abrir sua mente promovendo então o respeito à diversidade. Para que isso ocorra e para que o aprendiz realize um verdadeiro diálogo cultural, o professor deve adotar uma proposta intercultural que irá possibilitar a aproximação do aluno ao outro assim como sua aceitação. Logo estará aberto à diversidade e se tornará um sujeito mais consciente, àquele que deixará de pensar somente em si e pensará também no outro.

Dessa maneira, refletir sobre a língua e seu meio social e relacioná-la com o nosso espaço (aonde se dá o seu ensino) é essencial para a promoção do diálogo intercultural além de estar contextualizando o ensino da língua, facilitando a sua compreensão e tornando-o mais significativo ao criar uma ponte entre os dois mundos e ao relacionar experiências.

Dito isto, o conhecimento da imigração espanhola para a cidade de Salvador é um bom caminho para aproximar o aluno do idioma já que seu ensino se dará na mesma

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cidade, possibilitando uma maior relação entre sua cultura e a do outro através do conhecimento da história da imigração espanhola, mais especificamente dos galegos, que são a maioria e que, ainda hoje, se encontram mais presentes na sociedade soteropolitana, assim como os seus estabelecimentos. Também promoverá respeito e ajudará a derrubar estereótipos com relação a esse povo que já carregou estes por muito tempo e que ainda hoje sofre certo preconceito. Um professor, principalmente, deve ser consciente e estar livre de julgamentos e estar atento às suas crenças para que estas não sejam repassadas aos seus alunos. Além disto, pode ser que haja descendentes de imigrantes em uma sala de aula, sendo uma oportunidade de recuperar a memória de seus familiares, de sua história.

Assim, é importante que nós, professores de espanhol, principalmente com atuação profissional prevista para a cidade de Salvador, onde houve um grande fluxo de imigrantes, conheçamos a história da imigração espanhola, para que nossos futuros alunos também possam obter maiores conhecimentos sobre sua cidade e culturas relacionadas à língua alvo. É fundamental, também, oferecer aos aprendizes um conhecimento do universo estrangeiro, feito a partir do estabelecimento de diálogos com sua realidade sociocultural, já que ser intercultural é compreender a diferença que há entre as pessoas e trabalhar para que outros também a compreendam e a aceitem, procurando, através de reflexões, eliminar qualquer crença, estereótipo ou até mesmo preconceitos.

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