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O espaço público no centro protegido de Laguna/SC: desenho urbano e patrimônio

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Academic year: 2021

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CENTRO TECNOLÓGICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Adriana Fabre Dias

O espaço público no centro protegido de Laguna/SC: desenho urbano e patrimônio

FLORIANÓPOLIS 2019

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Adriana Fabre Dias

O espaço público no centro protegido de Laguna/SC: desenho urbano e patrimônio

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de doutor(a) em Arquitetura e Urbanismo

Orientador: Prof.(a) Dr.(a) Sônia Afonso

Florianópolis

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Adriana Fabre Dias

O espaço público no centro protegido de Laguna/SC: desenho urbano e patrimônio

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Ayrton Portilho Bueno, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Rodrigo Gonçalves Santos, Dr. Universidade Federal de Santa Catarina

Prof. Vladimir Fernando Stello, Dr.

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de doutor(a) em Arquitetura e Urbanismo.

____________________________ Prof. Dr. Fernando Simon Westphal

Coordenador do Programa

Prof. Dr.(a) Sonia Afonso Orientadora

Florianópolis, 18 de junho de 2018.

Assinado de forma digital por Fernando Simon Westphal:02083464907

Dados: 2019.08.29 21:35:59 -03'00'

Assinado de forma digital por Sonia Afonso:01298812879

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Este trabalho é dedicado aos meus queridos pais: Seu Nico (in memorian) e Dona Etê

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AGRADECIMENTOS

A concepção de uma tese, embora seja muitas vezes um trabalho solitário, não acontece sem a colaboração de outros e de muitos, por isso sou grata a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram de alguma forma ao longo do caminho. Sou grata!

Em primeiro lugar, não posso deixar de agradecer a minha orientadora, Professora Doutora Sonia Afonso, por toda paciência, empenho e sentido crítico com que sempre me orientou nesse trabalho. Muito obrigada por sempre ter me corrigido quando necessário sem nunca me desmotivar, sempre me incentivando a seguir em frente. Sou grata!

Gostaria de agradecer aos membros da banca de qualificação que me propuseram novos olhares sobre meu objeto de estudo, o Professor Doutor Gilberto Sarkis Yunes/ UFSC, o Professor Doutor Luiz Eduardo Fontoura Teixeira/ UFSC, o Professor Doutor Vladimir Fernando Stello/ IPHAN e o parecerista externo o Professor Doutor Leonardo Barci Castriota/ UFMG. Sou grata!

Sou igualmente grata a minha banca de defesa da tese, o Professor Doutor Ayrton Portilho Bueno/ UFSC, o Professor Doutor Luiz Eduardo Fontoura Teixeira/ UFSC, o Professor Doutor Rodrigo Gonçalves dos Santos/ UFSC e Professor Doutor Vladimir Fernando Stello/ IPHAN, agradeço as considerações e questionamentos que contribuíam para o aprimoramento do formato final dessa tese. Sou grata!

Gostaria de agradecer, também, aos professores e colegas do PósARQ UFSC, onde estive como discente durante os anos de estudo e também aos professores e alunos da UDESC Laguna, pelas conversas, questionamentos e aprendizados que nos levam adiante, mas também que nos fazem dar um passo atrás e buscar novos caminhos quando se faz necessário. Sou grata!

E agradeço, sobretudo e sempre, à minha família, que mesmo distante esteve sempre presente apoiando e incentivando.

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A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa. Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali. Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando! (Mário Quintana, 1989)

Cada lugar é, a sua maneira, o mundo. (Milton Santos, 2008)

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RESUMO

O espaço urbano de uma cidade é composto pela combinação de suas áreas edificadas com as suas áreas livres, relacionadas entre si de maneira articulada ou não, conforme a característica da cidade. O espaço urbano é resultado também das interações sociais, das pessoas que utilizam e vivenciam o espaço, constituindo assim a sua esfera pública. Numa cidade de caráter patrimonial à essas características são acrescidas valores históricos e culturais que devem ser protegidos e valorizados através de ações de salvaguarda e proteção. No entanto a legislação brasileira atua mais sobre os bens patrimoniais tanto móveis quanto imóveis, e embora inclua conjuntos urbanos na ação da preservação, não parece considerar que a salvaguarda e proteção do patrimônio urbano passa também pelo planejamento urbano, ou seja às ações de proteção devem estar relacionadas com ações de planejamento urbano. Em razão disso o objetivo geral da pesquisa é: estabelecer e identificar as relações existentes entre o desenho urbano e o patrimônio ambiental urbano, no espaço público protegido de uma cidade, que considerem tanto os aspectos da salvaguarda e conservação quanto os aspectos da qualidade urbana. Para isso, além de revisão bibliográfica, foi utilizada a metodologia do estudo de caso no centro preservado da cidade de Laguna/ SC. Os procedimentos utilizados no estudo de caso foram: a análise histórico-estrutural através do estudo da evolução urbana da cidade, o processo de tombamento e as características atuais de seus espaços públicos. Os resultados reforçam a necessidade de maior interação e diálogo entre os órgãos gestores tanto da administração pública quanto do patrimônio com os moradores e usuários da cidade. A pesquisa contribui assim para a reflexão das práticas de proteção do patrimônio ambiental urbano relacionadas com as ações de desenvolvimento urbano e qualificação dos espaços públicos.

Palavras-chave: Desenho urbano. Patrimônio Ambiental Urbano. Espaço público. Centro protegido.

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ABSTRACT

The urban space of a city is composed by the combination of its built-up areas with its free areas, related to each other in an articulated way or not, according to the characteristic of the city. Urban space is also the result of social interactions, of people who use and experience space, thus constituting its public sphere. In a city of patrimonial character to these characteristics are added historical and cultural values that must be protected and valued through safeguard and protection actions. However, Brazilian legislation acts more on both movable and immovable property, and although it includes urban complexes in the preservation action, it does not seem to consider that the safeguarding and protection of the urban heritage also involves the urban planning, that is, the protection actions must be related to urban planning actions. Because of this, the general objective of the research is to establish and identify the relationships between urban design and urban environmental heritage in the protected public space of a city that consider both the aspects of safeguarding and conservation as well as aspects of urban quality. For this, in addition to literature review, the case study methodology was used in the preserved center of the city of Laguna / SC. The procedures used in the case study were: the historical-structural analysis through the study of the urban evolution of the city, the tipping process and the current characteristics of its public spaces. The results reinforce the need for greater interaction and dialogue between the governing bodies of both public administration and heritage with the residents and users of the city. The research thus contributes to the reflection of the practices of protection of the urban environmental heritage related to the actions of urban development and qualification of the public spaces.

Keywords: Urban design. Urban Environmental Heritage. Public place. Protected Center

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Vista parcial do centro preservado (Bairro Centro), ao fundo os Morros que circundam o bairro e mais adiante parte do Bairro Mar Grosso, Laguna/SC ... 24

Figura 2: Ruinas do parque histórico de Ayutthaya na Tailândia ... 42 Figura 3: Distrito histórico da cidade do Panamá ... 43 Figura 4: Eixo rodoviário de Brasília, parte do Plano Piloto, por volta da década de 1960 ... 43 Figura 5: Quadro resumo das qualidades perceptíveis no ambiente urbano 55 Figura 6: Medição da imaginabilidade através de imagens, São Francisco/ California ... 57 Figura 7: Imagens que demonstram o atributo recinto, cidade de Charlotte/ Carolina do Norte ... 58 Figura 8: Imagens que demonstram o atributo escala humana, na cidade de Alexandria/ Virgínia ... 59 Figura 9: Imagens que demonstram o atributo transparência, cidade de Washington/ DC ... 59 Figura 10: Imagens que demonstram o atributo complexidade, cidade de Nova Iorque/ NY ... 60 Figura 11: Imagens que demonstram o atributo coerência, cidade de Annapolis/ Maryland ... 60 Figura 12: Imagens que demonstram o atributo legibilidade, cidade de Charlotte/ Carolina do Norte ... 61 Figura 13: Imagens que demonstram o atributo ligação, cidade de Nova Iorque/ NY ... 61 Figura 14: Exemplo do mapeamento de pontos de interesse de uma área qualquer ... 66 Figura 15: Exemplo do mapeamento dos problemas e potencialidades de uma área qualquer ... 67 Figura 16: Exemplo de uma rua com área de circulação para pedestres, bicicletas e veículos, Copenhagen, Dinamarca ... 68 Figura 17: High Line Park, espaço público criado a partir de uma linha férrea desativada, Nova Iorque/ NY... 70

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Figura 18: Exemplo de ocupação de áreas subutilizadas para usos comunitários, biblioteca comunitária e ringue de boxe localizados no baixio do Viaduto do Café, São Paulo/ SP ... 70 Figura 19: Contorno turístico da represa de Guarapiranga, São Paulo/ SP. Projeto Vigliecca & Associados 2009 ... 71 Figura 20: Praça Victor Civita, construída na área de um antigo incinerador municipal. São Paulo/ SP, 2006 ... 73 Figura 21: Classificação e definição dos espaços livres segundo a metodologia do QuapáSEL ... 76 Figura 22: Localização do centro histórico em relação a cidade e a região . 90 Figura 23: Mapa do Brasil com indicação da linha imaginária referente ao Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Espanha, destaque para a Costa Catarinense e os municípios de São Francisco do Sul, Florianópolis e Laguna ... 92 Figura 24: Vista parcial da cidade de Laguna, com destaque para o Bairro Centro e Bairros próximos ... 93 Figura 25: Relação entre a Igreja Matriz (1), a Praça Vidal Ramos (2), a Rua Jerônimo Coelho (3) e a Lagoa de Santo Antônio (4) ... 94 Figura 26: A ocupação da área central da cidade de Laguna de sua fundação até meados de 1714. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte d´água (Carioca); (2) Primeira Capela por volta de 1696; (3) Campo do Manejo, local de exercício das tropas ;(4) Banhado, área das lavadeiras, conhecido como Campo da Fonte; (5) Rua Direita ... 96 Figura 27: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1740 até 1750. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte d´água (Carioca); (2) Igreja ampliada em 1740; (3) Paço do Conselho, construído em 1747 e Praça da Cadeia; (4) Campo da Fonte; (5) Rua Direita; (6) Rua da Praia .... 97 Figura 28: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1750 até 1820. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte d´água (Carioca); (2) Igreja Matriz, segunda reforma 1820; (3) Casa de Câmara e Cadeia 1820; (4) Campo da Fonte e Aqueduto; (5) Rua Direita; (6) Rua da Praia; (7) Chafariz municipal. ... 100 Figura 29: Vista geral do centro de Laguna por volta de 1900, com o antigo Mercado Público e Morro da Glória ao fundo ... 102

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Figura 30: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1820 até 1938. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte da Carioca reformada e ampliada em 1863 e 1906; (2) Igreja Matriz; (3) Casa de Câmara e Cadeia e Praça da Cadeia; (4) Mercado Público Municipal, 1880; (5) G. E. Jerônimo Coelho, 1911; (6) Igreja Nossa Senhora do Rosário, 1845; (7) Área de aterros 1880, 1905 e 1910; (8) Casa Pinto d´Ulysséia; (9) Estação Ferroviária... 103 Figura 31: Vista parcial do Bairro Centro, a esquerda a estação e a área do porto, 1936 ... 106 Figura 32: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1938 até 1950. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte da Carioca e Casa Pinto d´Ulysséia; (2) Igreja Matriz; (3) Casa de Câmara e Cadeia e Praça da Cadeia; (4) Mercado Público Municipal e Doca; (5) G. E. Jerônimo Coelho; (6) Posto de Saúde, 1941; (7) Estação Ferroviária até 1950; (8) Cemitério Municipal; (9) Jardim Calheiros da Graça ( as cercas de proteção e o muro foram retirados em 1925). ... 106 Figura 33: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1950 até 1983. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte da Carioca e Casa Pinto d´Ulysséia; (2) Praça Vidal Ramos; (3) Casa de Câmara e Cadeia e Praça República Juliana; (4) Novo Mercado Público Municipal, 1956; (5) Docas; (6) Praça do Obelisco; (7) Largo do Rosário; (8) Praça do Largo da Carioca; (9) Praça Paulo Carneiro. ... 108 Figura 34: Vista geral do centro no final da década de 1950, o possível ver o Cine Müssi e a área aterrada na frente da estação de trem ... 109 Figura 35: : A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 1987 até 1998. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte da Carioca e Casa Pinto d´Ulysséia; (2) Igreja Matriz; (3) Museu Anita Garibaldi e Praça República Juliana; (4) Mercado Público Municipal; (5) Docas; (6) Praça Vidal Ramos ou da Matriz; (7) Largo do Rosário; (8) Praça da Orla Sul. ... 110 Figura 36: A ocupação da área central da cidade de Laguna aproximadamente de 2000 até 2018. A linha .-.-.-. indica o limite da Poligonal de tombamento. (1) Fonte da Carioca e Casa Pinto d´Ulysséia; (2) Praça Vidal Ramos; (3) Casa de Câmara e Cadeia e Praça República Juliana; (4) Mercado Público Municipal (desativado para restauro); (5) Docas; (6) Calçadão; (7) Igreja Matriz. ... 112

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Figura 37: O bairro Centro e a indicação da poligonal de tombamento (1) e da poligonal de entorno (2) ... 115 Figura 38: Configuração atual do Bairro Centro, onde podemos perceber sua forma consolidada, e seus principais espaços públicos ... 117 Figura 39: O Bairro Centro com a indicação dos 4 setores analisados ... 118 Figura 40: Eventos que ocorrem no bairro Centro, Feira Livre de Artesanato (1); Pré-Carnaval (2); Festa de Santo Antônio (3 e 4) ... 119 Figura 41: Mapa da hierarquia viária do bairro Centro histórico ... 123 Figura 42: Exemplos da diversidade de pavimentos existentes nos setores analisados e no Bairro Centro como um todo. As imagens 1 e 3, são do Setor 4, e as demais do Setor 3 ... 124 Figura 43: : Visão geral da configuração de ruas e passeios nos setores analisados. Rua Tenente Bessa (1), Avenida Colombo Machado Salles (2), Rua 13 de Maio (3), Rua Santo Antônio (4), Rua Jacinto Tasso (5) e Rua Raulino Horn (6) ... 124 Figura 44: Setor 1, com a identificação dos espaços livres públicos analisados ... 125

Figura 45: Mapa Comportamental da Praça Vidal Ramos em três dias e horários diferentes ... 126 Figura 46: Setor1: Travessa XV de Novembro (1), Rua Conselheiro Jerônimo Coelho (2), Rua Santo Antônio e ao fundo a Igreja Matriz (3), Calçadão, continuação da Travessa XV de Novembro (4), Praça Vidal Ramos ou da Matriz (5) e Rua Santo Antônio (6) ... 127 Figura 47: Setor 2, com a identificação dos espaços livres públicos analisados ... 129

Figura 48: Vista geral da Praça Lauro Müller entre a Fonte da Carioca e o Posto de Saúde, destaque para os morros ao fundo que configuram a paisagem . 130 Figura 49: : Mapa Comportamental da Praça Lauro Müller em três dias e horários diferentes ... 130 Figura 50: Setor 2: Casa Pinto d´Ulysséia e Praça Lauro Müller (1), Rua José Johanny (2), Travessa Clito Araújo (3), Rua Prof. Julia Nascimento e Fonte da Carioca (5) e Rua Tenente Bessa (6) ... 131 Figura 51: Setor 3, com a identificação dos espaços livres públicos analisados ... 132

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Figura 52: Mapa Comportamental da Praça República Juliana em três dias e horários diferentes ... 133 Figura 53: Acesso ao Morro do Rosário (1), Rua Raulino Horn e Praça Jerônimo Coelho (2), Praça República Juliana(3), Morro do Rosário (4), Rua Raulino Horn (5), Rua Jacinto Tasso que limita a poligonal de tombamento ao norte (6) .... 134 Figura 54: Setor4, com a identificação dos espaços livres públicos ... 135 Figura 55: Setor 4. Área entre as Ruas Gustavo Richard e Avenida Colombo Machado Salles (1), Avenida Colombo Machado Salles e vista do Calçadão da Orla Norte (2), vista da continuação da Praça Dr. Paulo Carneiro (3), área destinada a estacionamento na Rua Gustavo Richard (4), Praça Domingos de Britto Peixoto (em frente ao Cine Müssi) (5) e vista geral da Avenida Colombo Machado Salles (6) ... 136 Figura 56: A antiga área onde ficava a Estação Ferroviária por volta de 1930 (1), ao fundo podemos perceber a silhueta da Igreja Nossa Senhora do Rosário, demolida em 1933. A área nos dias atuais (2) com a Avenida Colombo Machado Salles, a Praça Paulo Carneiro. e a Rua Gustavo Richard (antiga Rua da Praia) .. 138 Figura 57: A área do passeio da Orla Norte, Setor 4. Destaque para o detalhe onde aparecem pessoas pescando, muito comum nos finais de tarde e fins de semana. ... 139 Figura 58: Os diversos e possíveis usos do espaço público ... 141 Figura 59: Aspecto geral da arborização urbana nos setores analisados .. 142

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Divisão do patrimônio cultural ... 38 Tabela 2: Atributos de análise do ambiente urbano, focado na qualidade do desenho urbano ... 62

Tabela 3: Quadro resumo das abordagens de análise da área de estudo . 121 Tabela 4: Quadro resumo dos levantamentos realizados nos espaços livres públicos no Bairro Centro...124

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APEU Grupo de Pesquisa em Arquitetura, Paisagem e Espaços Urbanos CODESCO Companhia de Desenvolvimento de Comunidades

EUA Estados Unidos da América FTC Ferrovia Tereza Cristina

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Miniplan Ministério do Planejamento e Coordenação Geral PCH Programa de Cidades Históricas

PML Prefeitura Municipal de Laguna SEL Sistema de Espaços Livres

UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA ... 18

1.2 JUSTIFICATIVA, RELEVÂNCIA E ABORDAGEM ... 19

1.3 HIPÓTESE DE PESQUISA ... 22

1.4 OBJETIVOS ... 22

1.4.1 Objetivo Geral ... 22

1.4.2 Objetivos Específicos ... 22

1.5 ASPECTOS DE INEDITISMO ... 23

1.6 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ... 24

1.7 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO TRABALHO ... 25

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 27

2.1 DELIMITANDO O ESPAÇO PÚBLICO ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO 27 2.2 DESENHO URBANO ... 31

2.3 DEFINIÇÕES DE PATRIMÔNIO E A AMPLIAÇÃO DE SEUS CONCEITOS 37 2.3.1 Patrimônio cultural, patrimônio urbano e patrimônio ambiental urbano 37 2.3.2 A cidade entendida como bem patrimonial ... 41

3 ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS ... 48

3.1 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ... 49

4 EXEMPLOS SIGNIFICATIVOS: as boas práticas ... 54

4.1 UMA METODOLOGIA DE MEDIÇÃO PARA AS QUALIDADES DO ESPAÇO PÚBLICO... 54

4.2 MANUAL DE ESPAÇOS PÚBLICOS: diagnóstico e metodologia de projeto 65 4.3 SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES – SEL ... 74

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4.4 MANUAIS ADOTADOS PELO IPHAN ... 79

4.4.1 Manual de Intervenções em Jardins Históricos ... 80

4.4.2 Norma de Preservação para o Sitio Histórico Urbano de Laguna ... 85

4.5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS METODOLOGIAS E MANUAIS APRESENTADOS ... 87

5 ESTUDO DE CASO ... 89

5.1 CARACTERÍSTICAS DA OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO ... 89

5.1.1 Evolução urbana e constituição dos espaços públicos ... 95

5.1.2 Características do Processo de Tombamento ... 113

5.2 ANALISANDO OS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS NO CENTRO HISTÓRICO DA LAGUNA ... 116

5.2.1 Os Critérios de Análise e Diagnóstico ... 120

5.2.2 Diagnóstico do Espaço Público no Bairro Centro ... 122

5.2.2.1 SETOR 1: ... 125

5.2.2.2 SETOR 2: ... 128

5.2.2.3 SETOR 3: ... 132

5.2.2.4 SETOR 4: ... 135

5.2.3 Considerações preliminares sobre o Espaço Público no Bairro Centro 139 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 143

REFERÊNCIAS ... 149

ANEXO A – Delimitação da Poligonal de Tombamento do centro histórico de Laguna (IPHAN/ Informativo 107/84) ... 155

ANEXO B – Delimitação da Poligonal de Entorno do centro histórico de Laguna (IPHAN/ Portaria 210/ 2016) ... 156

ANEXO C – Mapa comportamental das praças do bairro centro de Laguna, baseado em RHEINGANTZ et al (2009) realizado por Juliana Ferreira acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da UDESC Laguna, entre janeiro e junho de 2018. ... 157

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vem cada vez mais valorizando a sua memória urbana, seja por interesses econômicos, sociais ou turísticos. O objetivo primeiro da preservação é proteger e valorizar o patrimônio nacional brasileiro de natureza material e imaterial. A ação da preservação sempre visa proteger os exemplares mais expressivos de uma época, quer por seus fazeres como por sua identificação com um momento importante daquela sociedade. No caso de sítios urbanos tombados, o tombamento traz à vida contemporânea não só edifícios como também ruas, calçadas, largos e praças enfim os espaços públicos da vida cotidiana de uma cidade e de seus usuários.

O espaço urbano de uma cidade não é constituído somente pela combinação entre as suas áreas edificadas com as suas áreas livres, relacionadas entre si de maneira articulada ou não, conforme a característica da cidade. O espaço urbano é resultado também das interações sociais, das pessoas que utilizam e vivenciam o espaço urbano, segundo Habermas (2003) o espaço público reside na esfera pública, é uma rede adequada para a formação de posições e opiniões.

Dentro de um enfoque mais amplo fazem parte do espaço urbano, também as redes de infraestrutura, os equipamentos e mobiliários urbanos e os serviços públicos que dão suporte ao desenvolvimento das funções urbanas.

Quando estudamos o espaço urbano em uma cidade de valor patrimonial e que tem sua área central protegida pelo tombamento, como é o caso da cidade de Laguna no litoral sul de Santa Catarina, essa definição não se altera, porém deve ser acrescida de outros componentes.

Enquanto numa cidade não protegida a gestão do espaço urbano segue a legislação urbanística municipal, como plano diretor e código de obras, e tem suas decisões tomadas diretamente pelo poder público vigente, numa cidade protegida essa gestão deve seguir normas especificas. Nesses casos, as cidades protegidas, através do tombamento federal pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, devem seguir a legislação de preservação específica e respeitar normas quanto a intervenções tanto nas áreas edificadas quanto nas áreas livres.

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Aqui vale um adendo, consideramos que toda cidade tem sua história e sua importância, não se pretende dar maior valor aquelas que são protegidas em detrimento das outras que não o são (ainda), mas apenas identificar melhor o objeto de estudo.

Atualmente, a legislação do IPHAN que regula as intervenções nos espaços protegidos de uma cidade, que tem como objetivo principal a sua preservação enquanto bem de valor histórico, está focada principalmente nas suas áreas edificadas, e pouco normatiza sobre intervenções nas áreas livres, no caso vias, calçadas, largos e praças, ou mais especificamente em seus espaços públicos, que são os espaços da sociabilidade urbana.

Dentro da temática do desenho urbano, sabemos que existem diversas metodologias e critérios que foram desenvolvidas nas últimas décadas e que podem auxiliar na definição de atributos e critérios de intervenção nessas áreas.

Assim a temática dessa tese é propor uma análise espaço público no centro protegido de Laguna/ SC, considerando as relações que podem ser estabelecidas entre o desenho urbano e o patrimônio.

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Os espaços públicos de uma cidade têm características próprias e individuais, podendo revelar o caráter de uma cidade como um todo, ao vivenciarmos esses espaços vivenciamos também a cidade e suas singularidades. Quando falamos de uma cidade de caráter patrimonial, como é o caso da cidade de Laguna, esse valor intrínseco ganha maior relevância, seus espaços públicos – ruas, calçadas, praças e parques – trazem consigo não só um valor social, mas também histórico e cultural.

A área central da cidade de Laguna passou pelo processo de tombamento federal no início da década de 1980, processo esse que sob muitos aspectos alterou de forma significativa como seus moradores se relacionam com a cidade como um todo e com a área central em particular.

No Brasil, o tombamento é reconhecido como o mais tradicional dos instrumentos de reconhecimento e proteção do patrimônio nacional e foi instituído pelo Decreto-Lei n° 25 de 30 de novembro de 1937. Aplicado aos bens de natureza material

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desde 1937, em 2014 atingiu um total de 1113 bens materiais tombados pelo IPHAN, incluindo monumentos, conjuntos urbanos e paisagísticos, coleções e objetos de arte. Sendo, desse total, 78 conjuntos urbanos, resultando em aproximadamente 70 mil imóveis tombados. (IPHAN, 2017)

Em Santa Catarina são tombados pelo IPHAN, um total de 26 bens culturais entre edificações, acervos, coleções, bens móveis integrados, conjuntos arquitetônicos, conjuntos rurais e conjuntos urbanos. Sendo que os maiores conjuntos urbanos tombados estão em São Francisco do Sul, no litoral norte e em Laguna, no litoral sul.

O objeto de estudo dessa tese foram os espaços públicos em áreas centrais preservadas, sendo o estudo de caso desenvolvido no centro histórico da cidade de Laguna, em Santa Catarina. Essa pesquisa está inserida na área de concentração do PósARQ - Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo “Projeto e Tecnologia do Ambiente Construído”, com enfoque da Linha de Pesquisa 1. 2: Comportamento Ambiental do Espaço Urbano e das Edificações, estando integrada ao Grupo de Pesquisa em Arquitetura, Paisagem e Espaços Urbanos – APEU/ ARQ/CTC/UFSC.

1.2 JUSTIFICATIVA, RELEVÂNCIA E ABORDAGEM

Segundo Sant´Anna (2015), no Brasil a preservação de monumentos históricos tornou-se necessária no início do século XX com o movimento das reformas urbanas, a exemplo do Plano Agache para a cidade do Rio de Janeiro em 1930, como reflexo das grandes reformas ocorridas na Europa no final do século XIX.

O Brasil possui legislação específica de proteção ao patrimônio cultural desde 1937 com o Decreto-Lei n° 25 que foi fortemente influenciada pelas legislações europeias, a saber francesa, inglesa e italiana. Porém a legislação brasileira atua mais sobre os bens patrimoniais tanto móveis quanto imóveis, e embora inclua conjuntos urbanos na ação da preservação, não parece considerar que a salvaguarda e proteção do patrimônio urbano passa também pelo planejamento urbano, ou seja às ações de proteção devem corresponder ações de planejamento urbano.

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Percebe-se, no caso de Laguna, que mesmo que o Plano Diretor considerando na sua elaboração a área preservada do centro e suas peculiaridades, é tratada pelos órgãos públicos municipais como responsabilidade do órgão federal responsável, o IPHAN, havendo uma polarização entre o que é responsabilidade de um e de outro. Na percepção dessa pesquisadora, talvez esse relacionamento ainda traga resquícios do processo de tombamento que colocou de um lado parte da população que era contrária ao tombamento e de outro os técnicos do IPHAN junto aos demais moradores que eram partidários da preservação da área central.

No caso das edificações existentes na área preservada, o patrimônio edificado possui legislação especifica sobre a sua manutenção e possíveis intervenções, a Norma de Preservação para o Sítio Histórico Urbano de Laguna de 2004, porém no caso do espaço público – vias, largos e praças – esse manual não existe, sendo feita uma análise caso a caso conforme informações dos técnicos do IPHAN.

Embora o Decreto Lei n° 25/ 1937 tenha cumprido sua função na salvaguarda e proteção de bens arquitetônicos, ele não atuou da mesma forma quando se considera a preservação do patrimônio urbano. Na França, Inglaterra e Itália a legislação traz para a esfera do planejamento urbano e regional a salvaguarda dos conjuntos urbanos considerados como patrimônio; no Brasil, apesar de várias tentativas pelos órgãos responsáveis, as ações propostas não tiveram continuidade. (SANT´ANNA, 2015)

O próprio órgão governamental impediu que a evolução da lei de proteção, no sentido de ampliar seu campo e incluir a preservação urbana. Se levarmos em conta que a preservação do patrimônio é uma prática em constante transformação, estendendo-se continuamente a novos objetos, a imutabilidade – ou a pouca complementação – da legislação torna-se um fato digno de nota e, sem dúvida, revelador das práticas preservacionistas no Brasil. (SANT´ANNA, 2015, pg. 25)

Durante a pesquisa exploratória para a tese deparou-se com o seguinte problema de pesquisa: a legislação que regula as intervenções na área protegida pelo tombamento da cidade de Laguna está focada principalmente nas edificações, e pouco normatiza sobre intervenções no espaço público, no caso seu sistema viário – ruas e calçadas e praças existentes.

A ação da preservação de um edifício, um conjunto ou mesmo de uma cidade pressupõe uma série de ações. O processo tem início com o inventário do bem e seu

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término com a ação de proteção propriamente dita, significando a sua salvaguarda no âmbito urbano.

Quando pensamos na preservação de um conjunto urbano maior como uma cidade por exemplo, podemos considerar correto o pressuposto de que a preservação pode e deve contribuir para a melhoria da qualidade de vida urbana da cidade em questão.

Segundo as orientações do IPHAN, a ação do tombamento não tem por objetivo congelar a cidade, apenas manter os valores históricos e culturais preservados, adaptando o antigo à vida moderna sem descaracterizar as ruas, edificações e a paisagem. (IPHAN, 2006)

Porém, a ação do tombamento não resolve em si mesmo a resolução de todas as questões do uso daquele bem, principalmente no que se refere ao uso e manutenção do espaço urbano, que tem por função social dar suporte as atividades de moradia, comércio, cultura entre outras.

Não podemos considerar um edifício histórico desconectado de seu entorno urbano, de seus espaços públicos, assim da mesma maneira que existem regras de intervenções para os edifícios, também deveria haver para o espaço urbano.

Acreditamos que a maneira como se interfere nesses espaços públicos protegidos tem tanta relevância para a valorização do patrimônio existente quanto a interferência nas edificações existentes no mesmo local. Assim ao analisarmos a Norma de Preservação para o Sítio Histórico Urbano de Laguna, nos deparamos com essa dicotomia, e que embora alguns itens se refiram a intervenções nos espaços públicos que compõem o conjunto, o foco principal da normativa são as edificações.

Considerando que a principal característica na delimitação da poligonal de tombamento do centro histórico protegido de Laguna, foi incluir a paisagem circundante e a sua forma de implantação no sítio, e que a proteção do patrimônio inclui sim a proteção do tecido urbano, consideramos que foi de extrema relevância aprofundar essa temática.

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1.3 HIPÓTESE DE PESQUISA

Se os procedimentos metodológicos dos campos do desenho urbano e da paisagem fossem aplicados à legislação pertinente aos centros preservados, então as novas normas de proteção contemplariam critérios de avaliação dos espaços públicos e da satisfação dos usuários como meios de se obter maior vitalidade da paisagem destes centros históricos.

1.4 OBJETIVOS

Nas seções abaixo estão descritos o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.4.1 Objetivo Geral

Estabelecer e identificar as relações existentes entre o desenho urbano e o patrimônio ambiental urbano, no espaço público protegido da cidade de Laguna/ SC, que considerem tanto os aspectos da salvaguarda e conservação quanto os aspectos da qualidade urbana.

1.4.2 Objetivos Específicos

Entender a construção do espaço público urbano enquanto lugar de uso coletivo, dentro do contexto da salvaguarda e conservação do patrimônio ambiental urbano;

Identificar as metodologias de avaliação da qualidade urbana e da paisagem, que melhor se adequam a realidade urbana e sociocultural brasileira;

Verificar como o desenvolvimento urbano de Laguna, planejado ou não, influenciou na condição atual do espaço público de sua área protegida;

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1.5 ASPECTOS DE INEDITISMO

Grande parte da produção acadêmica mais recente que envolve a temática do patrimônio cultural está focada no edifício, ou seja, no patrimônio cultural edificado enquanto objeto arquitetônico de relevância a ser preservado. As pesquisas sobre o espaço urbano, mais especificamente sobre o espaço público, em cidades e regiões sem caráter preservacionista, não costumam considerar a preservação como um elemento relevante para a composição do espaço urbano.

Existem pesquisas sobre o patrimônio ambiental urbano, tanto nos campos da arquitetura e urbanismo, quanto da geografia, história, turismo, porém sem considerar os elementos de abordagem do projeto urbano no espaço público protegido.

Alguns trabalhos acadêmicos já estudaram o centro histórico da cidade de Laguna, como por exemplo o trabalho de conclusão de Tavares et al (1983) e as dissertações de mestrado de Lucena (1998), Simon ( 2000), Motta (2000), Costa (2005), Dall´Agnol (2009), Neu (2009), Cittadin (2010), Guimarães (2012), Medeiros (2015) e Jaramillo (2016), cujos objetos de estudo foram: os aspectos da preservação cultural e ambiental; espaços públicos e memória urbana; documentação e monitoramento de sítios históricos; sobre patrimônio urbano e memória social; análise do perfil da competitividade turística; o olhar dos residentes sobre o turismo na cidade; sobre os portos no sul do Brasil; sobre o patrimônio cultural e natural do município; sobre o patrimônio arqueológico do munícipio; sobre estratégias de infraestrutura verde para revitalizar o centro histórico e estudo do centro histórico a partir do conceito de cidade-documento, respectivamente.

A presente pesquisa estudou os espaços públicos do centro protegido de Laguna sob o enfoque do desenho urbano, mas sem desconsiderar os conceitos ligados ao patrimônio e a paisagem cultural, e também, natural.

Assim consideramos de extrema relevância um estudo que abranja as duas abordagens patrimônio e desenho urbano. Temas que usualmente aparecem de forma separada, mas que devem ser consideradas em conjunto para que a ação da proteção e da salvaguarda seja realmente visto como elemento de valorização urbana e não o contrário.

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1.6 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Essa pesquisa foi realizada na cidade de Laguna (Fig. 1), localizada no litoral sul de Santa Catarina, que foi em determinado período um importante centro urbano e que teve seu centro histórico protegido pela ação do tombamento pelo IPHAN, em 1985.

Fonte: acervo do fotográfo Ronaldo Amboni, 2017.

O objeto de estudo dessa tese é o espaço público de áreas protegidas sob a ótica do desenho urbano, entendendo o espaço público enquanto espaço de sociabilidade urbana que é composto pelo sistema viário – ruas de trafego de veículos e de pedestres, bem como seus passeios, as praças, os parques enfim todos os espaços livres que possuam algum tipo de infraestrutura adequada a fruição do citadino.

Figura 1: Vista parcial do centro preservado (Bairro Centro), ao fundo os Morros que circundam o bairro e mais adiante parte do Bairro Mar Grosso, Laguna/SC

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Considerando que a cidade possui, desde 2008, um campus da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, onde funciona desde a mesma época o curso de Arquitetura e Urbanismo, onde está pesquisadora é docente, a escolha da cidade de Laguna em detrimento da outra cidade tombada pelo IPHAN em Santa Catarina, São Francisco do Sul, deu-se tanto por razões de ordem prática e metodológica quanto da possibilidade de pesquisas futuras.

1.7 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO TRABALHO

O presente trabalho está organizado segundo o Art. 9° da Resolução N° 01/PósARQ/ 2013, que dispõe sobre os procedimentos de defesa de tese. Tal organização dispõe uma estrutura que busca demonstrar a aplicação da fundamentação teórica e metodológica na construção da base dos procedimentos utilizados para comprovar a hipótese da pesquisa e atingir os objetivos propostos.

O Capítulo 1: Introdução apresenta o tema da pesquisa, justificativa, relevância e abordagem, a hipótese de pesquisa, o objetivo geral e os específicos, os aspectos do ineditismo a delimitação do objeto de estudo.

O Capítulo 2: Fundamentação Teórica trata das questões teóricas do espaço público dentro do campo da arquitetura e urbanismo, da temática do patrimônio cultural, patrimônio ambiental urbano, legislação do patrimônio e desenho urbano.

O Capítulo 3: Estratégia Metodológica apresenta a abordagem e os procedimentos metodológicos utilizados em cada uma das etapas dessa pesquisa.

O Capítulo 4: Exemplos Significativos são apresentadas os procedimentos que deram o embasamento metodológico para o estudo de caso. O Maryland

Inventory Urban Design que é um sistema de avaliação de desempenho do espaço

público desenvolvido por universidades norte-americanas; o Manual de Espaços Públicos, desenvolvido pela AsBEA que propõe um diagnóstico e metodologia de projeto para espaços públicos; a metodologia de estudo dos Espaços Livres desenvolvida pelo grupo Quapá SEL, da FAUUSP e duas publicações do IPHAN sobre o tema, o Manual de Intervenções em Jardins Históricos e a Norma de Preservação para o Sitio Histórico Urbano de Laguna.

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O Capítulo 5: Estudo de Caso apresenta o centro histórico preservado de Laguna, traçando um breve panorama de sua evolução urbana e do processo de tombamento. Também apresenta os espaços públicos analisados a partir da metodologia escolhida com enfoque na configuração morfológica dos espaços públicos, suas características, seus usos e infraestrutura.

O Capítulo 6: Considerações finais apresenta os resultados da pesquisa, além das conclusões são apresentadas as recomendações para pesquisas futuras.

Por último, são apresentadas as Referências, Anexos e Apêndices da pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O referencial teórico possibilita fundamentar e dar consistência à pesquisa, tem a função de nortear a pesquisa, apresentando um embasamento da literatura já publicada sobre o mesmo tema. Segundo Marconi e Lakatos (2003) o referencial teórico permite verificar o estado do problema a ser pesquisado, sob o aspecto teórico e de outros estudos e pesquisas já realizadas. Esse capítulo trata da fundamentação teórica dentro da temática estudada abordando os seguintes temas: espaço público, desenho urbano, patrimônio ambiental urbano e intervenções em espaços públicos preservados.

2.1 DELIMITANDO O ESPAÇO PÚBLICO ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO

Uma cidade é um espaço social constituído pela soma de suas partes, sendo elas o resultado da relação entre seus espaços edificados e seus espaços livres de edificações, que compõem o que conhecemos por espaço urbano. Entender essa relação nos permite entender também como os espaços públicos são formados dentro do espaço urbano. Para Kohlsdorf (1985) o espaço da cidade deve ser entendido a partir de sua natureza simultaneamente física e social, onde espaço e tempo são indissociáveis.

Pode-se também entender o espaço público como o lugar para o lazer, o descanso, o encontro e as trocas sociais, lugar para caminhadas propositais de um lugar a outro, paradas curtas e longas, olhar as vitrines das lojas, fazer exercícios, dançar, divertir-se, frequentar o comércio de rua. É também o espaço onde as pessoas se encontram, onde as relações sociais são construídas e fortalecidas, onde se constrói o sentimento de tolerância, identidade e respeito mútuo. É o espaço acessível a todos, a todo o momento e pertence a coletividade. (GEHL, 2013; ROGERS, 2001; PANERAI, 1994)

As pessoas querem usufruir, se apropriar do espaço público, fazer parte da identidade de um lugar, criar memórias, ajudar a construir um espaço coletivo. Outrora palco das principais relações sociais, políticas e comerciais de uma sociedade, o

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espaço público ainda possui relevância nas trocas sociais das cidades contemporâneas. (HERZOG, 2006)

O espaço urbano é também, por excelência, o espaço do confronto de interesses, do processo histórico de definição dos direitos do indivíduo e da coletividade, permanentemente escrito e reescrito na arquitetura da cidade. (RODRIGUES, 1986, pg. 14)

Para Lamas (2010) e seu enfoque morfológico, os elementos que compõem o espaço urbano são o solo, os edifícios, o lote, o quarteirão, a fachada, o logradouro, o traçado, a praça, o monumento, a vegetação e o mobiliário urbano.

O espaço urbano pode ser classificado em dois grupos distintos, espaços monofuncionais e espaços multifuncionais. O espaço monofuncional é aquele que preenche uma única função, como um bairro industrial, um conjunto habitacional, um centro comercial, uma área destinada a estacionamento, são espaços geralmente produzidos como consequência das decisões tomadas por incorporadoras ou planejadores e pensados para um tipo distinto de usuário. O espaço multifuncional, por sua vez, foi pensado para atender uma variedade de usos, participantes e usuários, “a praça lotada, a rua animada, o mercado, o parque, o café na calçada, todos representam usos do espaço multifuncional. No primeiro tipo de espaço, em geral, estamos apressados, no segundo estamos sempre prontos para olhar, encontrar e participar.” (WALZER apud ROGERS, 2013, p. 19)

Os espaços públicos são constituídos de todos aqueles de propriedade pública, com diferentes graus de acessibilidade e de apropriação. O Código Civil brasileiro define esses espaços como “bens de uso comum do povo brasileiro, espaços de apropriação pública por excelência” (SENADO FEDERAL, 2015), e são considerados, nesse entendimento, como espaços públicos as ruas, praças, parques urbanos, e as praias.

Porém, podemos considerar que espaço público pode ser definido de maneiras distintas quando consideramos seus diversos aspectos, tais como função, localização, estrutura, projeto, caráter histórico e social. Para cada um deles podemos ter uma definição diferente, e igualmente correta, para o que é espaço público.

Ao considerarmos, também, seu aspecto semântico podemos definir o espaço como a parte que ocupa um objeto sensível, a capacidade de um terreno ou a extensão que contém a matéria existente; e público, que é um adjetivo que permite

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qualificar aquilo que é manifesto, notório, sabido ou visto por todos, como aquilo que pertence a toda a sociedade e que é portanto, comum ao povo. Assim, o espaço público, pode ser definido como todo lugar que está aberto a toda sociedade, sendo contrário ao espaço privado, que pode ser administrado e até mesmo fechado segundo os interesses de seu proprietário.

O espaço público existe na cidade e por isso seu caráter é essencialmente urbano, nele podemos identificar as características de uma cidade, conhecer suas nuances. Para Lynch (1997) é através do espaço público, no caso as vias, que podemos perceber a cidade e suas características, “os habitantes de uma cidade observam-na à medida que se locomovem por ela” (LYNCH, 1997, pg. 52) e a locomoção é sempre feita por seus espaços públicos. Os espaços de circulação e permanência, ruas e calçadas, muito mais do que parques e praças, são segundo Jacobs (2011) os principais locais públicos de uma cidade.

O espaço público deve ser visto em seu contexto histórico, como parte de um segmento distinto dentro de um tecido urbano maior. Espaços públicos não devem ser vistos meramente como ‘ilhas de usos do solo que flutuam livremente destacadas da paisagem urbana”. Eles existem em um contexto, e é este contexto, a história de uma parte particular da cidade, que dá ao espaço público seu significado. (HERZOG, 2006, pg. 83)

No Brasil, a manutenção do espaço público costuma ser de responsabilidade do poder público, fazendo com que seus usuários tenham pouca ou nenhuma responsabilidade sobre, o mesmo, afinal o que é público parece pertencer a todos e ao mesmo tempo a ninguém.

Podemos considerar que o conceito de espaço público urbano envolve os lugares abertos da cidade, os lugares acessíveis a livre frequentação, a circulação de moradores e visitantes. Do ponto de vista da sociabilidade, são nesses lugares que ocorrem as mais diversas formas de interação social e cultural em público, é o local da vida comunitária, onde ela acontece. (VAZ, 1990)

O espaço público também pode ser compreendido a partir de seus diversos elementos: as ruas, as praças, os parques, os calçadões, largos e passeios públicos,

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todos são componentes de uma porção da cidade entendida como pública. (HERZOG, 2006).

A vida coletiva nas cidades é inerente a estes espaços, para Gatti (2013, pg. 8) o espaço público “é o lugar do lazer, do descanso, da conversa corriqueira, da livre circulação, da troca, e sobretudo, da possibilidade do encontro com o outro”. Gehl (2013) acrescenta que são esses espaços que reforçam a função social da cidade, como locais de permanência e encontro, contribuindo para os objetivos da sustentabilidade social e para uma sociedade mais democrática e aberta, são nos espaços públicos que a vida citadina acontece.

Tornar os espaços públicos atrativos ao uso é tarefa, num primeiro momento, do projetista urbano, para Gehl (2006), uma boa cidade teve possuir uma rica mistura de funções entre moradores, comércio e serviços, em variadas opções que atraiam diferentes tipos de usuários em diferentes horas do dia.

Os elementos móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto as partes físicas estacionárias. Não somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele; compartilhamos o mesmo palco com os outros participantes. (LYNCH, 1997, pg. 2)

Os primeiros espaços livres públicos nas cidades de origem colonial brasileira, como é o caso de Laguna, são segundo Robba e Macedo (2010), os adros das igrejas, espaços livres deixados em frente aos templos e rodeados pelos casarios, que futuramente originaram as praças.

Assim como os espaços edificados, os espaços não edificados, ou simplesmente espaços livres podem ser de caráter privado ou público, as ruas, calçadas, largos, praças e parques compõem, em sua maioria, os espaços livres públicos em uma cidade. Seu acesso é livre e a responsabilidade por sua manutenção fica a cargo – normalmente – do poder público, suas características podem ser definidas a partir da análise de diversos aspectos, como morfologia, uso, aspectos socioculturais e históricos.

Tankel (1963/ 2011) e Magnoli (1982) definem o espaço livre não apenas como toda a terra e toda água, que nas áreas urbanas estão delimitadas pelos edifícios, mas também pelo espaço (ar) e pela luz acima, de acordo com essa definição o espaço livre passa a ocupar mais espaço do que todos os outros

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elementos urbanos juntos, sendo sua localização tão ou mais importante do que sua quantidade.

O espaço livre urbano é delimitado pelas edificações que o circundam e compõem ao mesmo tempo esse espaço e lugar, que pode ser tanto de caráter público quanto privado, assumindo inúmeros tamanhos e formatos, “compreendendo desde a calçada até a paisagem vista das janela” (ALEX, 2008, pg. 19), assim como os fundos de lote e terrenos baldios.

Por sua vez, o espaço livre de uma cidade é definido como todo espaço livre de edificações e/ ou urbanização. (MAGNOLI, 2006)

Espaços livres de edificações ou de urbanização são pressupostamente os mais acessíveis por todos os cidadãos; os mais apropriáveis perante as oportunidades de maior autonomia de indivíduos e grupos; os que se apresentam com mais chance de controle pela sociedade como um todo, já que abertos, expostos, acessíveis; enfim, aqueles os quais podem ser os mais democráticos possíveis, enquanto significado intrínseco da expressão espaço urbano. (MAGNOLI, 2006, pg. 204)

Nesse contexto consideramos como espaços públicos, todos os espaços não edificados e por isso livres, com algum tipo de urbanização que permita o livre uso-fruto do citadino. Assim não somente praças, parques e orlas são entendidos como espaços de uso público, mas também as ruas, calçadas, passeios e orlas compõem esses espaços.

2.2 DESENHO URBANO

O desenho urbano é uma prática ao mesmo tempo nova e antiga, pois as pessoas vêm há milênios configurando as paisagens em que vivem, incluindo as aglomerações urbanas que configuram grande parte dessa paisagem e da existência humana. (WALL; WATERMANN, 2012)

O termo Desenho Urbano foi bastante divulgado no Brasil na década de 1980 com a vinda do professor Brian Goodey (Oxford Brookes University) para realizar seminários sobre o tema ocorridos em Brasília nos anos de 1984, 1986 e 1988. Nos países de língua portuguesa, o termo foi diretamente traduzido do original Urban

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Design, porém design pode designar tanto desenho quanto projeto, o que causa

alguma confusão na aplicação do termo.

Del Rio (1990) acrescenta que a principal característica do desenho urbano, é ser uma ferramenta dinâmica e flexível, obtendo resultados mais rápidos a curto prazo do que o planejamento urbano convencional. Del Rio (1990, pg. 54) define o desenho urbano como:

O campo disciplinar que trata a dimensão físico-ambiental da cidade, enquanto conjunto de sistemas físico-espaciais e sistemas de atividades que interagem com a população através de suas vivências, percepções e ações cotidianas. Procura-se tratar da produção, da apropriação e do controle do meio ambiente construído, processos estes que estão, necessariamente, permeados pela dimensão temporal.

Os primeiros debates e críticas sobre a qualidade do ambiente urbano surgem na década de 1960, critica-se não só os impactos sobre o meio ambiente e as comunidades, mas também a qualidade dos espaços urbanos e da arquitetura produzidos. Del Rio (1990) destaca 5 questões básicas que estão, segundo ele, na origem do contexto para mudanças disciplinares:

- As intervenções públicas e de renovação urbana: foi nos anos 1960 que houve as primeiras manifestações contra as intervenções urbanísticas e os programas de renovação urbana das grandes cidades. Após a II Grande Guerra Mundial, com a destruição quase completa de grandes porções do tecido urbano em cidades europeias, políticas públicas foram implantadas para a reconstrução dessas áreas “principalmente aquelas dos antigos centros que, se não haviam sido bombardeadas, eram considerados deteriorados ou em decadência”. (DEL RIO, 1990, pg. 19) A reconstrução, dessas áreas da cidade seguiam os preceitos urbanísticos dos Congressos de Arquitetura Moderna e da Carta de Atenas.

Nas Américas, principalmente nos EUA, esse tipo de ideologia e modo de atuação se refletiu nas políticas públicas aplicadas as áreas centrais, que se encontravam esvaziadas e com pouco uso, tanto residencial quanto comercial.

Esvaziamento este que, na maioria das vezes, não era causado pelas características físico-ambientais das áreas, mas, de um lado, pelas próprias políticas regionais vigentes e de outro, pelos novos modos de vida e paradigmas buscados pela classe média, insuflados pela sociedade de consumo. [...] Como consequência, as áreas centrais se deterioraram física, econômica e socialmente; os grupos mais abastados se instalariam em suas novas casas de subúrbio, o

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comércio e as atividades culturais perseguiram seu mercado, mudando para os subúrbios, os imóveis das áreas centrais passariam a apresentar alto índice de deterioro e abandono, os grupos menos favorecidos herdariam estas condições e os cortiços e guetos se formariam. (DEL RIO, 1990, pg. 20)

As grandes intervenções do poder público, ou apoiadas por ele, buscaram adequar essas áreas às novas funções implementadas por planos diretores e políticas de renovação urbana, o objetivo era adequar essas áreas às necessidades dos mercados imobiliário e financeiro, as cidades eram vistas apenas sob o aspecto de seu funcionamento.

Aspectos como os valores da população e a complexidade urbana, o patrimônio histórico, a integração e inter-relação entre as funções e atividades humanas, a importância das redes de sociabilidade existentes, os valores afetivos e os demais fatores, hoje considerados componentes essenciais da vitalidade do ambiente urbano, eram ignorados.

As políticas de renovação urbana do tipo arrasa quarteirão foram implantadas em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Como consequência das remoções, por vezes violentas, dos moradores das áreas a serem revitalizadas, surgiram ondas de protestos que acabaram recebendo apoio dos estudos acadêmicos, da opinião pública, da imprensa e de alguns técnicos mais conscientes sobre o planejamento urbano. O que acabou resultando em mudanças nos programas de renovação irrestrita e nas intervenções urbanísticas de cunho meramente funcionalista. (DEL RIO, 1990)

- O simbolismo e o vernacular: na década de 1960, segundo Del Rio (1990) o mundo desperta para a questão do patrimônio histórico, para os valores tradicionais, a produção vernacular, as culturas alternativas e uma maior consciência dos excessos do consumismo.

Na área da arquitetura e urbanismo surgem trabalhos que se inspiram nas cidades antigas e nas belezas geradas pelo urbanismo espontâneo vernacular, como Gordon CULLEN (1961), e estudos na área da morfologia urbana, que estuda o tecido urbano e seus elementos formadores, através de sua evolução, da transformação, das inter-relações e principalmente dos processos sociais que os geraram. Nos EUA foram

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publicados estudos sobre o vernacular, a dimensão cultural e a antropológica do ambiente construído, estudos que vieram contribuir com o desenvolvimento de uma nova corrente de pensamento, contrária ao Movimento Moderno. (DEL RIO, 1990)

Outra característica desse período foi a redescoberta e valorização de projetos e obras teóricas do urbanismo, dos séculos anteriores, como o mapa de NOLLI (1748), os escritos e projetos de CERDA (1867), SITTE (1889) e UNWIN (1909). Em meados do século XVIII, o topografo Giovan Battista NOLLI recebeu a incumbência do papa Clemente XII de desenhar um mapa completo e preciso de Roma, que seria publicado em 1748, em 12 pranchas. Já Idelfonso CERDA, foi o idealizador do plano regulador de expansão de Barcelona em 1859, sua obra Teoria

General de la Urbanización, publicada em 1867, defendia a importância da análise da

evolução histórica da cidade, dos sistemas de circulação e da sistematização de elementos tipológicos básicos, como ruas, praças e quarteirões. Camillo SITTE é considerado um dos primeiros teóricos do espaço urbano, para ele a cidade devia ser projetada de acordo com princípios artísticos e isto incluía uma visão arquitetônica do conjunto e o respeito pelo passado. Finalmente Raymond UNWIN, que em seus projetos urbanos de cidades-jardim e obras escritas, influenciou toda a produção urbanística inglesa posterior.

Del Rio (1990) aponta a importância dessas pesquisas sobre as cidades antigas e suas configurações espaciais, que tiveram como resultados físico-espaciais, os processos de apropriação pela população dos elementos urbanos e arquitetônicos ao longo dos séculos, como os anfiteatros romanos, por exemplo. Elementos estruturantes para as transformações, “são elementos que acabaram transmutados em praças, residências, entre outros, perfeitamente incorporados ao tecido urbano, mas cuja lógica conformadora e estruturas básicas ainda são distinguíveis”. (DEL RIO, 1990, pg. 27)

- A participação comunitária: para Del Rio (1990) a década de 1960 também trouxe uma grande alteração nas políticas urbanas em decorrência da relativa ampliação da democracia na gestão urbana e na própria produção arquitetônica, por conta da participação de comunidades e populações usuárias dos projetos.

Os EUA e as principais cidades europeias foram palco de movimentos sociais semelhantes, que questionavam os programas de intervenção urbana, suas

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administrações se viram forçadas a incluir maior participação comunitária em seus processos de planejamento, principalmente nos programas habitacionais.

“Nos países desenvolvidos evidenciava-se a falência dos sistemas tradicionais de representação política, a falta de sustentação comunitária para as atividades do Poder Público e a provisão dos serviços urbanos”. (DEL RIO, 1990. pg. 31)

Porém, Del Rio (1990) ressalta que não se pode negar que nem todas as cidades e países teriam os processos de planejamento mais transparentes e participativos. Na Grã-Bretanha foi aprovada legislação, em 1965 que tornou a participação da comunidade na elaboração dos planos diretores locais, obrigatória. Em 1969 e 1974, foram aprovadas nos EUA, respectivamente, a obrigatoriedade dos relatórios de impacto ambiental e participação das comunidades em locais onde fossem ser aplicadas verbas federais, na implantação de programas de urbanização.

Muitas foram as experiências que tiveram enorme influência no desenvolvimento do desenho urbano e suas bases teóricas. No Brasil, Del Rio (1990), destaca a atuação da Companhia de Desenvolvimento de Comunidades – CODESCO, antigo órgão estadual “criado em meados dos anos 1960 e que, embora de curta existência, provou a viabilidade de trabalhos participativos de urbanização de favelas.” (DEL RIO, 1990, pg. 35)

- O movimento moderno criticado: nos anos 1960 e 1970 aparecem as primeiras críticas ao que o movimento moderno recomendava para a arquitetura e urbanismo, os moradores e usuários das cidades e edifícios modernos, manifestavam o seu descontentamento tanto em termos estéticos, quanto ambientais, econômicos e funcionais. (DEL RIO, 1990)

Diversos trabalhos críticos foram publicados no período e segundo Del Rio (1990) foram vitais, para a formação teórica e ideológica do desenho urbano, como também foram importantes as metodologias desenvolvidas no final dos anos 1970, como as pesquisas de avaliação pós-ocupação ainda hoje indispensáveis na implantação de grandes projetos.

Del Rio (1990) ainda destaca que muitas das pesquisas e textos resultantes de estudos sobre os impactos negativos do Movimento Moderno no ambiente construído, que influenciaram o desenvolvimento acadêmico do desenho urbano,

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envolvem mais especificamente o campo da arquitetura do que do urbanismo. Entre eles Christopher ALEXANDER (1965) para quem a visão do Modernismo para a cidade ignorava a complexidade do fato urbano e a superposição de subsistemas da vida na cidade, Alexander desenvolveu a teoria da linguagem dos padrões, que se propunha a identificar diretrizes para projetos urbanos e arquitetônicos intimamente ligados à qualidade do ambiente.

As novas posturas teóricas e metodológicas do desenho urbano, concentram-se nesconcentram-se período sobretudo, na obra de Kevin LYNCH, que chamaria atenção ao propor novas categorias de análise e atuação sobre a forma urbana ao introduzir a participação maior do usuário através da investigação no campo da psicologia, mais precisamente na psicologia ambiental, que trabalha com a percepção do meio ambiente. Del Rio (1990) também destaca como influências importantes ao desenho urbano, os trabalhos de Aldo ROSSI (1866), Amos RAPOPORT (1977), Christian NORBERG-SCHULZ (1971 e 1980) e Rob KRIER (1975).

As dificuldades do planejamento urbano: foi no final dos anos 1960 e início dos 1970, que segundo Del Rio (1990, pg. 43) “se veriam expostos os resultados e limitações dos processos e práticas do planejamento urbano”. A primeira razão estaria no plano político e consequentemente nos próprios objetivos do planejamento, e a segunda aconteceria em razão do excesso de tecnocracia que permeia as teorias e técnicas de análise e implantação no planejamento urbano.

Segundo WALL; WATERMANN (2012, pg. 17) ainda há um grande debate sobre quais seriam “o escopo e os fins do desenho urbano”, porém pode-se dizer que existe um consenso entre os teóricos e pesquisadores do tema, de que as atividades de desenho urbano existem na “interseção da arquitetura strictu sensu com o paisagismo e o planejamento urbano”, sendo que suas características são: - ser um processo criativo; - ser um processo colaborativo e interdisciplinar; e sobretudo – ser um processo de criação de lugares que envolve a configuração de espaços e formas urbanas tridimensionais que enriquecem a vida nas cidades.

Para Del Rio e Siembieda (2015) o sucesso de um lugar não se refere somente à qualidade de seu desenho, mas também ao pluralismo de suas soluções urbanas, e também, de sua responsabilidade cultural e social.

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2.3 DEFINIÇÕES DE PATRIMÔNIO E A AMPLIAÇÃO DE SEUS CONCEITOS

Num primeiro momento podemos definir patrimônio cultural como tudo aquilo que o homem criou e que por questões culturais, históricas e sociais, inerentes ao meio em que se insere, se muniu de valor ao longo do tempo para aquela sociedade, e por essa razão deve, através de ações específicas, ser mantido para as gerações futuras. Leniaud (1992) define patrimônio como um conjunto de coisas do passado que são transmitidas às gerações futuras em razão de seu interesse histórico e estético.

A Constituição Federal brasileira defini patrimônio cultural de uma maneira mais ampla, como a memória e o modo de vida da sociedade, incluindo nessa definição os elementos materiais e imateriais.

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 2018).

Assim podemos definir patrimônio cultural como tudo aquilo que o homem criou e que por questões relacionadas ao meio em que se insere, se muniu de valor para aquela sociedade.

2.3.1 Patrimônio cultural, patrimônio urbano e patrimônio ambiental urbano Desde que a sociedade brasileira começou a considerar o patrimônio cultural como algo relevante para a conservação de sua identidade e cultura, muitas definições foram surgindo. Varine-Bohan (1974, pg 4), indica que o patrimônio cultural pode ser dividido em três grupos distintos e que estes três grupos juntos formam de maneira indissolúvel o que seria o patrimônio cultural, compondo o que ele chama de “ecossistema do homem”. (Tab. 1)

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Tabela 1: Divisão do patrimônio cultural

Patrimônio Cultural

Ambiental Elementos da natureza Recursos naturais Paisagem

Conhecimento Técnicas e saberes Costumes Crenças

Bens Culturais Artefatos Fonte: Adaptado pela autora à partir de Varine-Bohan (1974)

O primeiro destes grupos engloba os elementos pertencentes à natureza: os rios, o clima, a vegetação, o solo, enfim, todos os recursos naturais que formam o ambiente natural e que tornam o sítio habitável, formando o patrimônio ambiental.

O segundo grupo refere-se ao conhecimento, às técnicas e aos saberes adquiridos, tudo aquilo que não pode ser medido nem quantificado, é a capacidade do homem de se adaptar ao meio-ambiente são os elementos não tangíveis do patrimônio cultural.

O terceiro grupo é aquele composto pelos bens culturais, ou seja, tudo aquilo que o homem ao interagir com o meio em que vive e usando os conhecimentos adquiridos fabricou ou construiu ao longo de sua existência. (VARINE-BOHAN, 1974, pg. 4).

Para os estudiosos da área do patrimônio essa terceira categoria é também subdividida em: bens mobiliários e imobiliários ou bens móveis e imóveis. Mas para Varine-Bohan (1974) não existem diferenças de valor entre bens móveis e imóveis, pois tudo faz parte do patrimônio cultural, sendo as diferenças apenas físicas e não de valor.

Para Choay (2001) o patrimônio cultural designa um bem destinado ao uso-fruto de uma comunidade, e é constituído de uma diversidade de objetos que se agregam por seu passado comum, sendo similar a definição de Lemos (2013) segundo o qual o patrimônio cultural de uma sociedade, região ou nação, é bastante diversificado e sofrendo permanentes alterações ao longo do tempo, sendo ele, o registro de nossa memória social.

O patrimônio histórico é uma parte do patrimônio cultural, a expressão designa um bem destinado ao uso-fruto de uma comunidade que se ampliou a dimensões

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planetárias, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se agregam por seu passado comum: obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e savoir-faire dos seres humanos. (CHOAY, 2001, pg. 11)

O patrimônio arquitetônico, também chamado de patrimônio edificado, diz respeito ao que o próprio nome sugere às edificações que adquiriram significação histórica e cultural em determinada sociedade. A sua preservação sempre ocorre no sentido de selecionar os exemplares mais expressivos, preciosos e representativos de determinado estilo arquitetônico.

Junto ao patrimônio arquitetônico existe uma outra categoria que é a do patrimônio urbano, segundo Choay (2001) a transformação da cidade material em objeto de conhecimento histórico foi influenciada pelas mudanças ocorridas no espaço urbano logo após a revolução industrial. Os primeiros estudos sobre as cidades antigas surgiram quando houve a necessidade de estudar e compreender as mudanças ocorridas na cidade contemporânea, na França, pós Revolução Francesa com Viollet-le-Duc.

Porém a noção de patrimônio urbano deve englobar também a noção de paisagem e ambiente, em 1964 a Carta de Veneza já destacava a indissociabilidade entre o bem a ser preservado e o sítio em que está inserido, assim podemos chegar a um conceito mais ampliado que engloba o bem tombado mas também a cidade e seu entorno, o patrimônio ambiental urbano. Outro ponto importante levantado pela Carta de Veneza, foi a consciência de que o patrimônio ambiental urbano é importante quando tem significado social, quando é eleito pela população e quando tem significado.

Para Castriota (2009) a expansão do conceito de patrimônio conversa com outras áreas, visando responder a realidades mais complexas, como por exemplo o patrimônio ambiental urbano, do qual se aproximam três campos: a preservação do patrimônio; o planejamento do território e a preservação ambiental, áreas que até então pouco se comunicavam.

Numa definição mais ampla, Yázigi (2006) define patrimônio ambiental urbano como sendo constituído pelos conjuntos arquitetônicos, os espaços urbanísticos, os

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