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A água na cidade e a cidade na água: planejamento urbano na escala da bacia hidrográfica

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A ÁGUA NA CIDADE E

A CIDADE NA ÁGUA

PLANEJAMENTO URBANO NA ESCALA DA BACIA HIDROGRÁFICA

Acadêmica Bruna Pacheco de Campos

Orientador Samuel Steiner dos Santos

(2)

A ÁGUA NA CIDADE E

A CIDADE NA ÁGUA

PLANEJAMENTO URBANO NA ESCALA DA BACIA HIDROGRÁFICA

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Universidade Federal de Santa Catarina

Acadêmica Bruna Pacheco de Campos

Orientador Samuel Steiner dos Santos

Trabalho de Conclusão de Curso

2018|2

(3)

Apresentação

Rios são água, são vida, são fontes de energia,

são playgrounds: são um universo de possi-bilidades. São soluções e são riquezas, mas também podem ser vistos como problema. A ausência de saneamento básico, a insufici-ência da drenagem e a poluição são questões urbanas, mas que impactam diretamente na saúde dos ecossistemas fluviais e distorcem a imagem dos rios perante a população. Insa-lubridade, enchentes e secas ressignificam os cursos d’água que cruzam as cidades, afastan-do-os de seus usos culturais e das pessoas. Na contramão desse processo, as propostas de recuperação de rios urbanos têm despon-tado como conciliadoras dos conflitos rio-ci-dade, tendo nos Parque Lineares Fluviais seu produto mais visado. Congregando finalida-des de drenagem, lazer, circulação e biodiver-sidade, estas áreas multifuncionais da malha urbana ganham notoriedade dentro de um conjunto muito mais amplo de ações que qua-lificam ambiental, social e estruturalmente as bacias hidrográficas, possibilitando a recupe-ração do curso d’água e da relação rio-cidade. Ou seja, a recuperação de rios urbanos de-manda projetos de diversas especialidades e

que incidem não apenas no entorno imedia-to do rio, mas ao longo da bacia hidrográfica como um todo, promovendo a regeneração de cada área contribuinte afim de possibilitar a recuperação e a sobreposição das dinâmi-cas urbanas e ambientais de maneira simbió-tica. Trata-se de um processo longo, frequen-temente de alto custo e que envolve, além das mudanças espaciais, mudanças culturais so-bre a percepção e a valorização da população para com o rio.

Nesse cenário, o planejamento urbano-am-biental assume papel de ferramenta chave no resgate dos rios urbanos, sendo essencial na concepção das propostas, na articulação e viabilização dos projetos e na manutenção das conquistas alcançadas. Assim, o presente trabalho estuda a reconquista da dimensão cultural do Rio Três Henriques sob a ótica do planejamento urbano, estruturando as ações necessárias para a transformação a partir da realidade observada e das propostas existen-tes que impactam sobre esta bacia hidrográ-fica.

(4)

Apresentação

5

Localização Político-Viária

9

Contexto Histórico e Motivação

11

Objetivos 14

Estrutura e Metodologia

14

Por que Bacia Hidrográfica?

15

A bacia que temos

17

Localização Hidrográfica 18

A Bacia Hidrográfica do Rio Três Henriques 19

O Rio Três Henriques 25

As Unidades de Paisagem 32

A bacia que teremos

47

O Plamus 48

O Plano Diretor Participativo 49

A Beira-mar de Barreiros 49

A bacia que podemos ter

51

Diretrizes do Projeto 52

Espacialialização das Ações 56

Projetos e Formas de Financiamento 78

Operação Urbana Consorciada 83

O Parque Linear do Rio Três Henriques 89

Sumário

(5)

Biguaçu Palhoça Florianópolis

Santa Catarina

Brasil

São José

Localização

Político-Viária

A bacia hidrográfica do Rio Três Henriques faz parte da Bacia do Rio Biguaçu e compõe a Região Hidrográfica Li-toral-Centro. Esta bacia é a terceira maior bacia hidrográ-fica que compõe o território de São José e está localizada ao norte do mesmo, tendo como principal acesso a BR-101. Junto com a BR-282, a Via-expressa, essa rodovia propicia para a bacia hidrográfica uma localização privile-giada em relação às centralidades municipal e metropoli-tana, fator que impulsou a urbanização local e que ainda hoje tem forte influência sobre sua dinâmica urbana. Do ponto de vista dos fluxos municipais, a Avenida das Torres se destaca fazendo a conexão dos bairros mais a oeste da área de estudo.

O arquiteto e paisagista alemão Herbert

Dreiseitl afirma: “apesar de estar sempre

presente, a água está cada vez mais

invisí-vel aos olhos da população”. Este trabalho

trata do caminho oposto, trata de trazer

a água, o rio e o mar de volta à visão e aos

demais sentidos. Busca-se tirar a

exclusi-vidade dos usos funcionais e resgatar sua

subjetividade, sua dimensão cultural, seus

usos de lazer e de prazer. É sobre ter a

água na cidade e a cidade na água.

(6)

40

50

70

90

Até por volta dos anos 1940, a região que

compre-ende a bacia hidrográfica do Rio Três Henriques possuía características extremamente rurais com chácaras de culturas variadas, típicas de agricultura familiar, além da criação de animais estendendo-se ao longo de todo território. A população vivia do cul-tivo próprio, de empreitadas nas colheitas vizinhas, do extrativismo de berbigão, da pesca e de pequenas vendas no mercado público da capital. Nesta época, existia uma forte relação entre a água e a população, o que pode ser observado na sua forma de vida e na localização da igreja local, mas também nos relatos dos moradores mais antigos:

“nós trabalhávamos no engenho, mas às

4 horas da tarde [quando a maré baixava]

todo mundo descia e a praia ficava cheia de

gente catando berbigão, a coisa mais linda

de se ver...”

“Nina”, 67 anos, nascida e criada nas ‘Areais’.

Foi na década de 70, no entanto, que as maiores transformações atingiram a região. O alcance da área conurbada de Florianópolis ao território da ba-cia hidrográfica iniciou um novo ciclo na urbanização local, marcado pela acelerada abertura de loteamen-tos e pelo início das retificações e tamponamenloteamen-tos no rio três Henriques. Como produto dessas modifi-cações e da impermeabilização do solo, nas décadas seguintes a população da planície passou a enfrentar frequentes alagamentos. Em paralelo, devido à falta de esgotamento sanitário, o rio foi progressivamen-te sendo contaminado com matéria orgânica. Em função disso, as atividades de pesca, extração de ber-bigão e banho foram perdendo a intensidade. A partir de 1950, com a construção e inauguração

(1957) do trecho Curitiba-Florianópolis da BR-101 iniciou-se o primeiro ciclo de urbanização local, pro-movendo uma série de mudanças na dinâmica e na estrutura urbana às margens da rodovia. Surgiram os primeiros aglomerados e foram abertas vias per-pendiculares a BR-101, começando a substituir os traçados orgânicos da área rural pelo traçado retilí-neo na tipologia espinha de peixe.

Ao longo das décadas seguintes os pequenos núcleos urbanos da região cresceram e se multiplicaram len-tamente enquanto o aumento do fluxo de veículos ao longo da BR-101, começou a reduzir as interações entre a população e a orla, a leste da rodovia. Como estopim, em 1960, em função, segundo relatos dos moradores, de atropelamentos a caminho da missa, uma nova igreja foi construída a oeste da rodovia.

No final dos anos 90, após inúmeras manifestações da população e do conselho comunitário, o Rio Três Henriques teve um longo trecho do seu curso princi-pal canalizado em canal aberto, solucionando até os dias de hoje os alagamentos no respectivo trecho.

Contexto Histórico e

Motivação

Este histórico tem como objetivo

identificar os marcos da relação

entre o rio Três Henriques e sua

população ribeirinha. Em seu

de-senvolvimento foram considerados

elementos táteis, de transformação

física da paisagem, e sensíveis, de

mudança de hábitos e percepção

dos moradores em relação ao rio e

aos elementos naturais. Desta

for-ma, a história aqui apresentada é o

resultado do cruzamento de dados

levantados em pesquisas

bibliográ-ficas, fotos aéreas e de entrevistas

com os moradores mais antigos da

região, os quais contribuíram de

maneira imensurável ao

desenvolvi-mento deste trabalho.

Analisando a partir das fotos aéreas, no período de 9 anos (entre 1969 e 1978), a porção da bacia hidrográfica coberta por aglomerados urbanos passou de 12,15% para 46,76%. No mesmo período, vários trechos do rio foram retificados para se ajustarem às vias dos lotea-mentos em construção.

Evolução da mancha urbana

Aglomerados urbanos visí-veis em foto aérea.

Curso d’água visível em foto aérea

Abaixo:

O mar, a igreja e a BR.

(7)

Apesar de amenizados, os alagamentos que atingiram a população ri-beirinha do rio Três Henriques nas décadas de 80 e 90 deixaram suas marcas. As repetidas perdas materiais e a preocupação constante com a próxima tempestade forjaram nos moradores que chegavam aos no-vos loteamentos a percepção do rio exclusivamente como um proble-ma. Em paralelo a isso, também afetados pelas enchentes e progressi-vamente perdendo o rio e a praia para a insalubridade, os vínculos entre o Três Henriques e os moradores mais antigos da região se enfraquece-ram, ganhando o título de memória:

“Eu costumava pescar nesse rio. Pegava cará,

tra-íra... peixe grande!”

“Silas”

“Pro lado de lá do cemitério era a praia que a

gen-te tomava banho, e pra cá a gengen-te pegava

berbi-gão.”

“Lourdinha”, 50 anos nas ‘Areais’

Desta forma, o ápice da degradação ambiental e da perda da dimensão cultural do rio e da praia se deu na distorção da percepção da população sobre esses elementos. Referindo-se frequentemente ao Três Henri-ques como “vala”, “buraco” e mesmo “esgoto”, a população desassocia do mesmo o sentido ambiental e os valores positivos presentes no imagi-nário coletivo em relação ao elemento rio. Assim, ausência de perten-cimento e afetividade passa a se manifestar também no agravamento da condição por ação direta dos moradores do entorno, seja através da impermeabilização total dos lotes, do despejo de resíduos sólidos e mesmo de esgoto in-natura no rio.

Essa realidade, apesar de ter sido exem-plificada através do rio Três Henriques, o estudo de caso em questão, é generalizada no município de São José e se evidencia de diversas formas.

Um estudo desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/SC) acompa-nhou por entre agosto de 2012 e setem-bro de 2013 a foz de 26 bacias hidrográ-ficas ao longo das baías Norte e Sul da ilha de Santa Catarina. Dentre outros dados, o estudo monitorou a carga de coliformes fecais presentes na água e, cruzando com dados sobre a cobertura de saneamento básico da região, apresentou resultados surpreendentes. Segundo o estudo, dentre as bacias monitoradas, aquelas que possuí-am mais de 60% da área atendida pela rede de coleta e tratamento de esgoto estavam associadas com cargas de coliformes fecais maiores do que as bacias com menos de 25% da área atendida, sugerindo “que os sistemas de coleta e tratamento de esgoto, atualmente em vigor, não proporcionam uma redução eficiente dos poluentes que chegam ao meio ambiente marinho” (GAR-BOSSA et al., 2016). Seja pela inexistência da rede coletora, seja pela baixa adesão da população nas áreas atendidas, as conse-quências ambientais da contaminação são bastante claras.

Apesar de ser uma cidade litorânea, com quase 13km de costa ao longo das baías norte e sul, São José é o único município da área conurbada de Florianópolis que não possui nenhum ponto de praia balneável, segundo o levantamento da FATMA. Além disso, apesar de este estado de de-gradação ambiental ser resultado de um longo processo de deterioração e sua re-generação demandar tempo, a mudança de postura necessária para essa nova fase do município parece ainda não ter acontecido haja vista que, ainda em 2018, a prefeitura tem executado medidas estruturais de ca-nalização de rios urbanos.

Dessa forma, por fazer parte da população ribeirinha do rio Três Henriques e ter sido preciso uma faculdade para eu perceber que o meu rio, o meu bairro e a minha gente poderiam se relacionar de maneira diferente, decidi tornar objeto do meu trabalho de conclusão de curso as formas de resgatar a dimen-são cultural do rio Três Henriques.

Acima:

Um rio que “convenhamos, não é

um rio, é uma vala”.

Acima:

Galeria “pluvial”. “Esta obra é uma

doação da empresa Dilion Comércio, Terraplanagem, Const. e Incorp. de Imóveis LTDA a cidade de São José”.

Abaixo:

Uma praia que “não é bem uma

praia”.

(8)

Este trabalho é um ensaio urbanístico e ambiental acerca da Bacia Hidrográfica do Rio Três Henriques. Tem-se o intuito de estruturar a reconciliação en-tre a ocupação urbana e o meio ambiente, tomando como recorte a bacia hidrográfica e como instru-mento, o planejamento urbano.

A fim de melhor organizar os materiais estudados e desenvolvidos ao longo do trabalho, este caderno foi estruturado em 3 partes: a bacia que temos, a bacia que teremos e a bacia que podemos ter. Elas foram nomeadas em uma analogia a estrutura utili-zada nas oficinas de planejamento participativo dos comitês de bacias hidrográficas e seguem a seguinte ideia:

Em a bacia que temos será apresentada a situação

atual do rio e da ocupação urbana ao longo desta ba-cia hidrográfica.

Em a bacia que teremos serão apresentados os

prin-cipais planos e projetos a nível municipal e metropo-litano que impactam sobre a área e também uma pe-quena revisão sobre as leis que regulam os recursos hídricos, o saneamento e o meio ambiente no brasil. E por fim, em a bacia que podemos ter serão

apresen-tadas as alternativas propostas por este trabalho para a recuperação ambiental e o desenvolvimento urbano ao longo da bacia hidrográfica.

!?

Por que Bacia Hidrográfica

Estrutura e

Metodologia

Objetivos

Segundo o Congresso Baiano de Engenharia Sanitária, uma bacia hi-drográfica pode ser definida como uma:

“Unidade territorial delimitada por divisores de água, na qual as águas superficiais originárias de qualquer ponto da área delimi-tada pelos divisores escoam pela ação da gravidade para as partes mais baixas, originando córregos, riachos e rios, os quais alimentam o rio principal da bacia, que passa, forçosamente, pelos pontos mais baixos dos divisores, e desemboca por um único exutório.”

Ou seja, bacias hidrográficas são porções do território a partir da qual todos os pontos drenam a água da superfície para um mesmo rio. Dessa forma, todo o território de uma bacia hidrográfica contribui para a formação de um único corpo d’água e, consequentemente, a qua-lidade da água e a saúde desse cur-so principal depende da qualidade e da saúde da água drenada ao longo de cada área contribuinte. Por esse motivo, conhecer as características dos cursos d’água e da ocupação, bem como os conflitos entre eles ao longo de toda a extensão da ba-cia hidrográfica é fundamental para a proposição de soluções coerentes e ajustadas a cada uma das realida-des presentes. Assim, a literatura que trata do assunto considera primordial para o sucesso da recu-peração de rios – urbanos ou não – que os planos abranjam a escala da bacia hidrográfica. Segundo Pe-reira (2001, apud Alencar 2017) é indispensável para que um projeto de recuperação seja bem-sucedido “trabalhar a restauração no contex-to da bacia hidrográfica e da paisa-gem, uma vez que essas são respon-sáveis por moldar o corpo d’água”. Desta forma, neste trabalho a bacia hidrográfica foi adotada como re-corte para as análises e, posterior-mente, para as proposições; o que demanda algumas ponderações.

Embora seja um consenso a adoção da bacia hidrográfica como área de intervenção para planos de recupe-ração de rios urbanos, ela produz algumas complicações do ponto de vista urbanístico e de gestão. Pen-sando na gestão, a problemática é simples. No Brasil, apesar de os rios poderem ser apenas de domí-nio estadual ou da união - no caso de passarem por mais de um es-tado - todos os usuários afees-tados podem e devem participar das de-cisões acerca da bacia hidrográfica em questão. Desta forma, quanto maior a bacia, mais interesses a conciliar; mais municípios, agências ambientais, companhias de energia e organizações da sociedade civil tendo voz, o que demanda tempo e exige diálogo, cooperação e conces-sões de todas as partes em prol do coletivo. Assim, “abranger a escala da macrobacia na concepção dos planos e atuar na escala da micro-bacia, tem se mostrado uma estra-tégia eficiente na recuperação dos rios urbanos” (Gorsky, 2008), uma vez que isso facilita a implemen-tação das propostas a nível local e ainda mantém um alinhamento das ações em prol do objetivo global. Quando entramos nos fatores re-lacionados à ocupação urbana, por sua vez, o problema é que muitas vezes os sistemas analisados não possuem correlação direta com a delimitação hidrográfica. Por exem-plo, as malhas quadriculadas de vias e quadras presentes em diversas ci-dades, não correspondem e nem se restringem nos divisores de águas que delimitam as bacias. Da mes-ma formes-ma, as divisões políticas dos bairros e dos municípios, não se-gue os limites da bacia hidrográfi-ca, pelo contrário, frequentemente utilizam os próprios cursos d’água como divisas, tornando uma parce-la da bacia território de um municí-pio, enquanto que a outra pertence ao município vizinho. Essa diver-gência entre as delimitações

geo-gráficas, políticas e urbanas apesar de natural, faz com que tomar a bacia hidrográfica como um recor-te rígido na elaboração dos planos dificulte e, por vezes, impossibilite a articulação da ocupação urbana da bacia estudada com o restante da cidade. Por esse motivo, apesar de este trabalho adotar a bacia hidro-gráfica como área de recorte, ela foi tomada como uma unidade básica do mesmo, sendo por vezes amplia-da. Essa flexibilização dos limites ocorreu tanto nas etapas de análi-se (para compreensão do papel da área estudada na cidade e na região metropolitana) quanto nas etapas propositivas e, em ambos os casos, seguiu a seguinte lógica:

• aos aspectos ambientais, como mata ciliar, situação de leito, arborização geral e conexão de áre-as verdes, foi aplicado como recor-te a própria bacia do Rio Três Hen-riques uma vez que são elementos que interagem predominantemen-te dentro dessa unidade;

• aos aspectos de sanea-mento, foram aplicados diferentes recortes em função das diferentes esferas. O abastecimento de água e a coleta e tratamento de esgoto são tratados a nível municipal, enquan-to a drenagem urbana e os resídu-os sólidresídu-os têm aspectresídu-os locais (que são tratados na escala da bacia) e aspectos mais amplos (tratados na escala do município); por fim,

• aos aspectos urbanos, como usos do solo, índices urba-nísticos, direito à cidade e mobili-dade, foi aplicado o recorte julgado adequado para a compreensão das problemáticas e amarração clara das propostas. Assim, para a mobi-lidade e transporte coletivo foram usadas as escalas da região me-tropolitana (diretrizes); e, para os demais aspectos, a escala da bacia hidrográfica ampliada, incluindo no recorte trechos das bacias hidro-gráficas adjacentes diretamente as-sociados às dinâmicas urbanas da bacia em estudo.

Ao fundo:

Afluente do Rio Três Henriques com mata ciliar semi-preservada.

Articular as propostas locais com os meios para a sua obtenção.

Estruturar o processo de recuperação do Rio Três Henriques; e

Resgatar a afetividade entre rio, mar e pessoas, evidenciando a paisagem e o ecossistema e abrindo possibilidades para interações positivas entre pesso-as e meio ambiente;

(9)
(10)

Serraria Areias Real Parque Jardim Santiago Pedregal Potecas Ipiranga Jardim Cidade Florianópolis

Acima:

Bairros que compõem a bacia hidrográfica do Três Henriques.

Acima:

Mapa de declividades. Entre 8 e 25% Entre 25 e 45% Acima de 45% Até 8%

Localização Hidrográfica

A Bacia Hidrográfica do Rio

Três Henriques

BRASIL

Atualmente, o território brasileiro é divido pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 12 Regiões Hidro-gráficas (RH), das quais três com-põem o território catarinense: a RH do Paraná (1),

a RH do Uruguai (2) e a RH do Atlântico Sul (3).

SANTA CATARINA

Os rios que compõem estas regi-ões, em função da topografia e do regime pluviométrico regular – com variações sazonais não muito pronunciadas – são predominante-mente perenes e possuem dois pe-ríodos de cheias (primavera e final do verão) e dois períodos de vazões mínimas (início do verão e outono), que ocorrem em consonância com a distribuição das chuvas (Santa Catarina, 2017). Em função da Ser-ra GeSer-ral, principal divisor de águas do estado, esses rios são classifica-dos em dois sistemas de drenagem com características distintas. A Vertente do Interior, a oeste da Serra Geral, é composta por 11 bacias que fazem parte das Regi-ões Hidrográficas do Paraná e do Uruguai. Os principais rios dessa vertente são interferentes em ba-cias de outros estados/países e, por isso, são de domínio da União.

A Vertente Atlântica, por outro lado, estando a leste da Serra Geral, desagua diretamente no Oceano Atlântico, sendo composta predo-minantemente de rios não-inter-ferentes, ou seja, rios de domínio estadual. Essa vertente é formada por 12 bacias componentes da Re-gião Hidrográfica do Atlântico Sul e comporta dois tipos básicos de rios: os que nascem na Serra do Mar e aqueles originados na própria pla-nície. Desta forma, a rede hidro-gráfica catarinense é composta por 23 bacias hidrográficas de rios considerados principais na escala estadual, as quais, por sua vez, fo-ram agrupadas pela Secretaria Es-tadual de Desenvolvimento Urba-no e Meio Ambiente de SC em 10 Regiões Hidrográficas (RH). A área conurbada de Florianópolis, loca-lizada na RH-8 (4), é denominada Litoral Centro.

LITORAL-CENTRO

A RH-08 é composta por 4 Bacias Hidrográficas: a Bacia do Rio Ti-jucas (2.371 km2), a Bacia do Rio Cubatão do Sul (743 km2), a Bacia do Rio Biguaçu (387 km2) (5) e a

Bacia do Rio da Madre (335 km2). Essa RH possui a maior densidade demográfica do Estado e segundo o Comitê de Gerenciamento Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas, tem to-dos os rios com alguma intensidade de poluição. O sistema Cubatão/Pi-lões (CASAN) – principal manancial da Região Metropolitana de Flo-rianópolis, segundo a ANA – está localizado nesta RH, mais especifi-camente na Bacia do Rio Cubatão Sul, e atende aos municípios de Bi-guaçu, Florianópolis, Palhoça, San-to Amaro da Imperatriz e São José.

SÃO JOSÉ

Dentre as bacias hidrográficas que compõem a RH-8, apenas duas dre-nam o município de São José, sendo elas a Bacia do Rio Cubatão Sul, que drena 6 das 9 microbacias munici-pais, e a Bacia do Rio Biguaçu, que drena as 3 microbacias do litoral norte do município, entre elas a do Rio Três Henriques (6).

A rede hidrográfica que compõe essa bacia tem sua foz na Ponta Três Hen-riques, localizada na baía norte da Ilha de Santa Catarina e é de pequeno porte, tendo no máximo 10 metros de largura e 5 km de comprimento em seu curso principal. Sua área de drenagem tem aproximadamente 8,15km² totalmente em território do município de São José e engloba total ou par-cialmente 8 bairros, sendo eles: Jardim Santiago, Areias, Serraria, Ipiranga, Jardim Cidade Florianópolis, Real Parque, Pedregal e Potecas, onde está localizada a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) municipal. Seu rele-vo não é muito pronunciado e tem cota mínima a nível do mar e máxima a 180m de altitude nos seus divisores de águas. As declividades são pre-dominantemente baixas e nas encostas variam entre 25 e 45%, passando disso em poucos pontos.

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Lagoa de Decantação ETE Potecas 5 4 3 2 1 7 6 8

ÁREAS DE LAZER

EXISTENTES:

Ao longo dos 8 bairros que compõem a bacia, não foram localizados

equi-pamentos culturais e as áreas de lazer são escassas, constando apenas 3 praças no levantamento do Plano Diretor Participativo (2014). Dentre as áreas demarcadas, uma encontra-se em obras, outra consiste em duas me-sas de xadrez e a terceira está aberta ao público e é bastante frequentada. Haja vista a temática deste trabalho, vale destacar que duas das praças ci-tadas encontram-se na margem imediata do Rio Três Henriques.

Quanto à ocupação urbana, em função do desenvolvimento da área ter sido impulsionado pelo vetor de crescimento das centralidades municipal e metropolitana, até os dias de hoje algumas características de área-satéli-te se mantêm. De maneira rápida, elas podem ser observadas na presença de equipamentos urbanos como: o cemitério de Barreiros, a cavalaria da polícia, um abrigo para jovens infratores, o depósito de veículos do Detran e o galpão da central de distribuição da Renner. Por outro lado, com a in-tensificação das dinâmicas locais a partir dos anos 2000, novos equipa-mentos de grande porte passaram a se implantar na região, desta vez com caráter comercial, como shoppings e redes de supermercado.

Segundo o levamento realizado no Plano Diretor Participativo de São José (2014), existem 4 áreas de risco de deslizamento nessa bacia hidrográfica sendo todas pela combinação de aspectos geomorfológicos com as carac-terísticas da respectiva ocupação urbana. Quanto às áreas de risco por alagamento, apesar de uma porção considerável da bacia ter suscetibilida-de alta e média a inundações, segundo as cartas suscetibilida-de aptidão à urbanização desenvolvidas pela UFSC, nenhum ponto da bacia foi destacado como de risco por alagamento pelo Plano Diretor Participativo de 2014. Atualmen-te, há apenas um ponto de alagamento com registros recorrentes na bacia. A vegetação representativa nesta área está concentrada em três pontos principais sendo eles: os topos de morro a oeste da bacia e a foz do rio Três Henriques. No entanto, no que diz respeito às áreas de preservação ambiental legais, de acordo com o novo código florestal não existem áre-as de preservação de topo de morro ou encosta na bacia, caracterizando como áreas de preservação permanente apenas os 30 metros referentes às matas ciliares. O plano diretor vigente no município, que data 1985, é ainda menos restritivo que o código florestal e o Plano Diretor Participa-tivo (2014) – que aguarda aprovação na câmara de vereadores – é o que prove maior proteção, incluindo áreas de preservação fluviais e de topos de morros.

LEGENDA:

1 - Cemitério de Barreiros

2 - Abrigo para menores infratores 3 - Cavalaria da Polícia Civil 4 - Depósito de Veículos Detran 5 - Distribuidora Renner 6 - Shopping Ideal 7 - Fort Atacadista 8 - Giassi Supermercados - Risco de Alagamento - Risco de Deslizamento (PDPSJ - 2014) - Vegetação Representativa

Acima:

Bacia do Três Henriques em des-taque na carta de suscetibilidade a inundações. Fonte: Cartas Geotécni-cas de Aptidão à Urbanização frente aos Desastres Naturais (UFSC).

Acima:

Área de preservação legal pelo novo código florestal na bacia do Três Henriques em destaque . Fonte: Plano Diretor Participativo de São José, 2014 (Adaptado). Alta Média Nascente Baixa Rio 20 21

(12)

Abaixo:

Colchão à beira mar. Resíduo sólido carreado pelo rio. 1

2

4

3

5

O sistema viário tem como via estruturante a BR-101 que promove a conexão intermuni-cipal da bacia hidrográfica e que, junto com a avenida das Torres, também organiza os flu-xos mais amplos na escala do município. As conexões entre bairros da própria bacia e ad-jacentes se dá por vias coletoras que atraves-sam longitudinal e transversalmente a área, muitas das quais se destacam na malha qua-driculada e por seu traçado orgânico (prove-niente das estradas rurais que as originaram). Nesse âmbito, destacam-se a rua João José Martins (1), conhecida como “Estrada Geral de Potecas”, a rua José Antônio Pereira (2), a rua Jacob Sens (3), a rua Álvaro Medeiros Santiago (4) e a rua Heriberto Hulse (5), co-nhecida como “Estrada Velha de Barreiros”. Os fluxos locais estruturam-se ao longo da espinha de peixe organizada a partir da BR-101 em um sistema que é por vezes desco-nectado, mas que de maneira geral é integra-do e possui quadras pequenas, favorecenintegra-do a caminhabilidade.

O transporte público na região é bem servido (em especial no trecho entre a Av. das Torres e a BR-101) e predominam as linhas intermu-nicipais com destino a Florianópolis.

Do ponto de vista do saneamento, todos os bairros têm abastecimento de água fornecido pela CASAN (proveniente do Rio Cubatão) e coleta de resí-duos sólidos (comum e seletiva) pela empresa Ambiental Limpeza Urbana e Saneamento, sendo os aspectos mais críticos em relação ao tema, o esgota-mento sanitário e a drenagem. Apesar de a bacia hidrográfica estar localiza-da a apenas 500 metros localiza-da lagoa de decantação localiza-da ETE- Potecas, nenhum bairro possui rede de coleta e tratamento de esgoto, ficando esse serviço a cargo das soluções individuais. A CASAN, que também é responsável pelo tratamento de esgoto no munícipio, divulgou em 2013 que o projeto Bacias Urbanas para a implantação da rede de coleta e tratamento de esgoto nessa área estava em elaboração e, via contato telefônico, informou que o mesmo foi concluído e atualmente está na espera de recursos para sua execução. Enquanto isso, a drenagem urbana, que é realizada pelo próprio município, caracteriza-se por um sistema convencional (composto de sarjeta, bocas de lobo, poços de visita e galerias), sem qualquer tipo de filtragem e que tem como principal condutor o próprio rio Três Henriques. Nesse contexto, é preciso destacar a problemática da poluição difusa nos corpos d’água, a qual, em bacias urbanas tem papel significativo na poluição (Alencar, 2017). Segundo Tucci (2003, apud Gorsky, 2008):

“as chuvas captam a poluição do ar, varrem a superfície das áreas

urbanizadas contaminadas por componentes orgânicos e metais,

carreiam resíduos sólidos e lixo urbanos, e transportam o esgoto

despejado indevidamente na tubulação de drenagem”.

Em um sistema de drenagem convencional, toda essa carga é lança-da diretamente no curso d’água, comprometendo o ecossistema flu-vial e a salubridade do seu entorno. Desta forma, a drenagem urba-na é um dos principais conflitos entre água e cidade identificados urba-na bacia hidrográfica do rio três Henriques. No entanto, não é o único.

Uma vez que a problemática ambiental nas cidades não está desvinculada nas dinâmicas de produção do espaço e que a mesma afeta toda a popula-ção urbana seguindo uma distribuipopula-ção desigual de riscos (Gorsky, 2008), faz-se necessário conhecer as peculiaridades do curso d’água e da ocupação ur-bana da bacia. Desta forma, os capítulos a seguir dedicam-se a identificar e caracterizar os diferentes perfis que esses elementos apresentam ao longo da área de estudo.

(13)

O Rio Três Henriques

Apesar de ser um rio pequeno e totalmente urbano, o rio três Henriques

apresenta diferentes inserções entre suas nascentes e a sua foz. Alguns

trechos do rio estão preservados, outros estão mais degradados; alguns

permitem interações físicas, outros apenas visuais e alguns nem isso.

No entanto, mesmo se tratando de um único elemento, com um único

objetivo final, conhecer as peculiaridades de cada trecho, permite

uma ação mais assertiva na solução das problemáticas. Assim, para

conhecer os diferentes perfis do Rio Três Henriques foi realizado um

levantamento ao longo do rio e seus afluentes observando os seguintes

fatores: a situação morfológica do leito, a presença de mata ciliar, o

afastamento entre o rio e a ocupação urbana e a possibilidade de acesso

da população à margem do rio. Para a realização desses levantamentos,

usou-se como base hidrográfica o shapefile disponibilizado no site do

Sistema de Informações Geográficas de Santa Catarina (SIGSC), de

onde isolou-se a rede hidrográfica do Três Henriques.

(14)

SITUAÇÃO DO LEITO

O levantamento sobre a situação do leito teve como objetivo identificar as medidas estruturais aplicadas ao longo da rede hidro-gráfica. Além do canal natural, ele apontou 2 situações: o leito canalizado em canal aberto e o leito canalizado em canal fechado.

A canalização em canal aberto foi identifica-da em um longo trecho no curso principal do rio e utiliza como técnica a laje de concreto. Essa técnica tem como principal vantagem a facilidade de limpeza e manutenção do canal, no entanto do ponto de vista ambiental difi-culta a manutenção de ecossistemas aquá-ticos diversos, uma vez que os organismos têm poucos lugares abrigados para colonizar (Alencar, 2017).

A canalização em canal fechado, também chamada de tamponamento, é ainda mais no-civa ao ecossistema, e trata-se da condução do curso d’água pelas galerias “pluviais” da drenagem urbana. Ela foi aplicada em diver-sos afluentes do rio.

MATA CILIAR

No que diz respeito à mata ciliar, indepen-dente da técnica, tanto o canal aberto, quan-to os tamponamenquan-tos produziram a retirada total da vegetação onde foram implantados. No entanto, esses não foram os únicos tre-chos do rio onde a vegetação ripária foi de-gradada. Quando o rio atravessa as áreas lo-teadas em seu leito natural, há vegetação às margens, no entanto a mesma não é capaz de desempenhar sua função de proteção do cur-so d’água (como em gramados ou em compo-sições rarefeitas). Nesses trechos, a situação da vegetação foi considerada descaracteriza-da. Nos trechos de nascentes e foz, por ou-tro lado, foram identificadas situações mais favoráveis, onde a vegetação ciliar é presente com porte e volume significativos e é capaz de proteger as margens da erosão e filtrar as águas pluviais.

(15)

AFASTAMENTO DA OCUPAÇÃO

No levantamento sobre o afastamento da ocupação, buscava-se observar a pressão da ocupação sobre o curso d’água e as pos-sibilidades de intervenção no mesmo. Foram consideradas 4 categorias: sobre o leito, na margem imediata, a uma pequena/média dis-tância e afastamento superior a APP.

Na categoria “afastamento superior a APP” estão os trechos de rio onde a edificação mais próxima encontra-se além dos 30m de-finidos pelo código florestal. Essa situação só acontece nos topos de morro.

Os trechos classificados como “a uma peque-na/média distância” têm uma via ou um lote entre a margem do rio e a edificação mais próxima. Estão classificados assim alguns trechos do curso principal, como aquele que margeia a Estrada Geral de Potecas e um tre-cho canalizado próximo a BR-101.

A categoria “na margem imediata” engloba os casos onde as edificações estão muito próxi-mas do leito do rio. São exemplos dessa cate-goria grande parte do afluente mais a sul do rio e o curso principal na área mais urbaniza-da urbaniza-da bacia.

A categoria “sobre o leito” abrange os trechos de rio que foram tamponados e os loteamen-tos se desenvolveram sobre e ele.

ACESSO À MARGEM

Foram considerados trechos de acesso públi-co às margens os segmentos do rio inseridos em terrenos, públicos ou privados, despro-vidos de cercas ou outros fechamentos. De maneira geral, nos trechos onde o rio encon-tra-se mais inserido na área urbanizada - e não está em galerias - suas margens possuem livre acesso à população. Nas áreas com acesso às margens é possivel notar sinais de apropriação, como o grafite nos muros sobre a canalização ou a caminhada e o lazer ao lon-go das margens .

Nos trechos onde o acesso à margem é impe-dido, por sua vez, são encontradas situações onde o rio está em galerias - e passa imper-ceptível na malha - ou onde o rio está em grandes vazios urbanos cercados. Esses úl-timos casos coincidem com os trechos onde o rio encontra-se mais preservado na área urbana.

(16)

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7

5

4

6

3

2

1

DIANTE DO OBSERVADO NAS

ANÁ-LISES ACIMA, OS TRECHOS DO

RIO TRÊS HENRIQUES E DOS SEUS

AFLUENTES FORAM CLASSIFICADOS

DE ACORDO COM SUA SITUAÇÃO

AMBIENTAL.

Trechos do rio com leito natural que percorrem áreas urbanas. Sua prin-cipal caracteristica é a exposição do leito pela ausência de mata ciliar. O afastamento da ocupação urbana ao curso do rio varia bastante, mas os sinais de degradação pela ação humana são constantes. Tais como: descaracterização das matas ciliares, poluição visível da água e o acumulo de resíduos sólidos.

Segmentos do rio que incluem as nascentes e possuem área significati-va de vegetação densa de proteção. São áreas de difícil acesso e com bai-xo impacto antrópico.

Assim como no grupo anterior, são segmentos do rio inseridos na malha urbana e com leito canalizado, sua principal diferença é a proximidade da ocupação. Ao longo do trecho as edificações acontecem na margem direta do canal e há grande imperme-abilização do solo. A poluição da água é visível e observa-se proliferação de roedores.

Trecho do rio em que o confinamen-to e/ou a ocupação urbana atinge as nascentes. Essa é a condição mais crítica produzida pela pressão antró-pica, pois afeta a capacidade de recu-peração e depuração natural do rio, afetando toda a sua extensão. Nesse grupo, tanto o leito quanto as nas-centes não são perceptíveis na área urbana.

Segmentos do rio com leito natural e matas ciliares predominantemente preservadas. Podem estar nas bor-das ou em meio a malha urbana, mas possuem áreas de amortecimento entre o leito e as edificações do en-torno. São áreas de contato entre o ecossitema fluvial e outros, como a restinga e os topos de morro. Apre-sentam sinais de poluição da água, no entanto aves variadas podem ser observadas.

Trecho do rio com leito canalizado e inserido na malha urbana. A poluição da água é visível e, em períodos de chuvas normais, possui altura d’água baixíssima, sendo incompatível com a vida aquática. Tanto o afastamento das edificações em relação às mar-gens quanto a área de infiltração do entorno são consideráveis.

Segmento de rio confinado, onde o leito corre em galeria. A pressão antrópica descarateriza completa-mente o elemento, além de que vias, edificações e loteamentos são cons-truídos sobre o leito. O rio é imper-ceptível na área urbana.

(17)

ENCOSTA

URBANIZADA

4

URBANIZAÇÃO

PREVISTA

5

URBANIZAÇÃO

EM CONSOLIDAÇÃO

3

PLANÍCIE

CONSOLIDADA

2

ORLA

MARINHA

1

UP1 -

Orla Marinha

Abaixo:

Comparação entre a área da Ponta Três Henriques em relação as áreas de lazer da Grande

Florianó-polis. Fonte: Cardoso (2016)

Esta unidade de paisagem corresponde à foz do Rio Três Henriques e engloba as áreas em contato direto com a praia, ou seja, toda a ba-cia hidrográfica a leste da BR-101.

A principal característica dessa UP é a presença de uma grande área verde que se inicia na margem da rodovia e se estende até a orla ma-rítima, onde seu relevo se destaca na paisagem. Denominada Ponta Três Henriques essa área de 31,5 hectares proporciona no ambien-te urbano uma paisagem natural e tranquila bastanambien-te incomum no li-toral do município de São José. Além disso, o encontro entre a vege-tação e o mar que aqui acontece é uma situação única ao longo dos quase 13km da costa municipal. Desta forma, este é um setor com grande relevância paisagística, tanto pelos atributos locais, quanto pela vista panorâmica que oferece à baía norte de Florianópolis e pelo marco visual que representa na paisagem do próprio município de São José. No entanto, a paisagem não é o único aspecto em que esta unidade de paisagem se destaca.

Ao Fundo:

A Ponta Três Henriques vista do Jardim Atlântico.

Acima:

A ambiência e a vista da praia na Ponta Três Henriques

As Unidades de

Paisagem

O estudo da ocupação urbana na bacia se deu em três frentes:

através de visitas de campo, de conversas informais com usuários e

de levantamentos urbanísticos tradicionais (uso da terra, volumetria,

áreas verdes, cheios e vazios, sistema viário, etc). Durante a análise dos

dados foram observados aspectos como solidez e tipologia da ocupação

urbana, diversidade dos usos, o relevo, a presença de elementos naturais

marcantes e a relação entre a cidade e o rio. Esse processo resultou na

identificação e delimitação de 5 unidades de paisagem, as quais serão

caracterizadas a seguir.

(18)

Ao: Fundo:

Variedade de aves presentes no alagado.

Demarcada como área de preser-vação limitada - APL pelo plano di-retor vigente, essa área preserva os últimos resquícios de restinga no município e abriga um alagado que serve de berçário para diver-sas espécies de avifauna, inclusive algumas ornamentais. Além de encantar quem passa na região, essa área é fundamental para a eventual recuperação ambiental da bacia hidrográfica e da orla ma-rinha, uma vez que mantém espé-cies de fauna e flora adaptadas ao microclima – hipótese ideal para o repovoamento.

A Esquerda:

A Ponta Três Henriques é o único trecho do município de São José onde a vegetação encontra o mar. Fonte: Google Maps (Adaptado)

Abaixo:

Restinga na praia, próximo a foz do rio Três Henriques

(19)

Cemitério de Barreiros

Triagens de Recicláveis Espaço para Eventos Sucata Acesso à praia Vazio Sub-utilizado Residencial Misto (Residencial/Comercial) Comercial/Serviço Institucional Industrial LEGENDA:

Em contraste a isso, em termos urbanos esta é uma área de baixa densidade populacional, pouco acesso a ser-viços públicos e que abriga fora do residencial, usos pouco nobres. O cemitério, sucatas de veículos, comércio/ serviços relacionados a BR-101 e centrais irregulares de triagem de lixo reciclável – as quais em função da lo-calização, na margem imediata do rio, e das condições em que são desenvolvidas, acabam produzindo danos ambientais. Além disso, em função dos pouquíssimos acessos e dos altos – e longos - muros dos lotes à beira mar, a proximidade com o mar passa imperceptível ao longo de quase todo o setor.

O principal acesso a essa unidade de paisagem se dá através da BR-101, no entanto é pela rua Heriberto Hulse - que corre paralela à praia - que os fluxos se distribuem na escala local. Essa via conecta os bairros Serraria e Barreiros e já foi muito relevante para a região. É nela em que ficavam a igreja e o ponto final das linhas de ônibus até a década de 60, mas com a construção da BR-101 e suas marginais ela foi perdendo representatividade. Por esse motivo, hoje é chamada de “estrada velha de barreiros” e é bem pouco movimentada.

Ao Fundo:

A ambiência da rua Heriberto Hulse e seus usos.

Do ponto de vista cultural, essa área também é relevante, pois nela se desenvolve a última apropriação cultural positiva do rio Três Henriques: a pesca. Na foz do rio, a atividade é presente e se manifesta nas casas de barco em meio a restinga e nos próprios pescadores artesanais que lançam redes das margens do rio.

Acima

A pesca na foz no rio Três Henriques.

Ao Lado:

Os muros dos lotes a beira-mar..

Ao Fundo:

As casas de barco em meio a restinga.

(20)

Vazio Sub-utilizado Residencial Misto (Residencial/Comercial) Comercial/Serviço Institucional Industrial LEGENDA: Não Edificado 1-2 Pavimentos 3-4 Pavimentos 5-6 Pavimentos 7-8 Pavimentos 9-12 Pavimentos LEGENDA:

O principal acesso à área é através da BR-101, a par-tir de onde origina-se a espinha de peixe que estru-tura a malha viária a oeste da rodovia. Esta UP possui vias bem conectadas, quadras pequenas, usos extre-mamente diversificados e boa comunicação com as bacias adjacentes, proporcionando boa caminhabili-dade aos pedestres e funcionando como centralida-de a nível local. Duas das áreas centralida-de lazer localizadas na bacia do Rio Três Henriques estão nesse setor, no entanto essa continua sendo uma das maiores ca-rências da UP2. Em termos de infraestrutura e servi-ços públicos essa unidade de paisagem é a mais bem servida da bacia.

Em aspectos ambientais, como próprio nome indica, a UP2 é predominantemente plana, com cota máxi-ma aos 40m e abrange a máxi-maior parte da planície do Rio Três Henriques. Por esse motivo, a área foi a que mais sofreu com as enchentes nas décadas de 80 e 90 e tem o rio canalizado em canal aberto ao longo de toda sua extensão. Em termos de vegetação, essa UP se destaca pela inexistência absoluta de mata ci-liar e pela ausência quase total de áreas vegetadas.

Abaixo:

Verticalização da UP2.

UP2 - Planície Consolidada

Acima:

Apesar da situação do canal, ao longo da UP2 o acesso as margens é facil e a população utiliza o rio como caminho.

A unidade de paisagem 2 é o setor mais densamente urbanizado da bacia e abrange parte dos bairros Ipiranga, Areias, Real Parque e Ser-raria. É uma área consolidada onde predominam os gabaritos baixos (1 e 2 pavimentos) e os vazios urbanos são poucos – mas os existen-tes vêm sendo aceleradamente ocupados com empreendimentos de grande porte: até 12 pavimentos, conforme o plano diretor vigente.

(21)

Cheios Vazios LEGENDA: Não Edificado Alagável 1-2 Pavimentos 3-4 Pavimentos 5-6 Pavimentos 7-8 Pavimentos 9-12 Pavimentos LEGENDA:

O curso principal do rio cruza apenas um pequeno trecho nes-se nes-setor, mas 3 afluentes do rio têm nascentes nessa área. De maneira geral, esses afluentes nascem em áreas vegetadas e assim que chegam aos lotea-mentos são colocados em gale-rias “pluviais” que os direcionam invisíveis até a calha principal do rio. Um desses afluentes, no entanto, entre um trecho em ga-leria e outro passa por um gran-de vazio urbano ongran-de o curso d’água não foi tamponado. Nes-se trecho, o estrangulamento da seção do rio causa alagamentos frequentes na temporada de chuvas.

UP3 - Urbanização em Consolidação

Acima:

Lotes desocupados em novo loteamento .

Ao Lado:

Alagamento em afluente do rio Três Henriques

Ao Fundo:

Trecho ainda não tamponado em afluente do rio Três Henriques

Assim como a UP2, esta unidade de paisagem está localizada entre a BR-101 e a Avenida das Torres, no entanto corresponde a uma área menos ocupada. Ela engloba a parte dos bairros Areias e Serraria e tem como característica principal a presença de uma grande quanti-dade de novos loteamentos e lotes desocupados, fazendo com que suas ruas sejam pouco movimentadas. Na última década, alguns con-domínios residenciais financiados pelo “Minha Casa, Minha Vida” foram construídos nessa área e produziram grandes quadras (até 1,5km de perímetro) contornadas por muros.

O relevo nesta UP é misto, tendo áreas de planície e de encosta, com cota máxima 120m. Ao longo dessa encosta, destaca-se a presença de uma das áreas de risco demarcadas pelo PDPSJ (2014), a qual coincide com o assentamento precário do Jardim Metropolitano, demarcado pelo Plano Municipal de Habitação (2011). Essa comu-nidade está localizada sobre o divisor de águas entre a bacia do rio Três Henriques e a bacia do rio Carolina e está bastante próxima de uma das nascentes do rio Três Henriques.

JARDIM METROPOLITANO

(22)

Não Edificado 1-2 Pavimentos 3-4 Pavimentos 5-6 Pavimentos 7-8 Pavimentos 9-12 Pavimentos LEGENDA:

UP4 - Encosta Urbanizada

Acima:

Rua típica da UP4.

Ao Lado:

O rio e o Jardim Solemar.

Ao Lado:

O rio ao longo da UP4.

Esta UP, como o nome já diz, apresenta relevo de encosta e alcança os 180m de altitude no cume, o qual é coberto por ve-getação densa e abriga uma das nascentes do rio Três Henri-ques. No entanto, é pela ocupação urbana que esse setor se destaca. Ele abriga a população com o perfil econômico mais baixo dentre as unidades de paisagem e também a que mais sofre em função de conflitos com o rio.

Sua urbanização é bastante fragmentada em função da malha viária em espinha de peixe, que é desconectada e direciona a ocupação em direção ao topo dos morros. Dessa forma, a ur-banização aqui apresenta diferentes estágios. A maior parte da bacia é composta de loteamentos regulares e que podem ser acessados tanto pela avenida das torres quanto através do

bairro Potecas. No entanto, algu-mas glebas não loteadas se esten-dem com vegetação densa desde a avenida das torres até o topo do morro, separando essa área mais consolidada de outros tos mais ao sul. Esses loteamen-tos ficam isolados na malha, sen-do acessasen-dos apenas pela Av. das torres.

No topo do morro, nas franjas entre os loteamentos regulares e a vegetação densa, dois assen-tamentos precários em área de risco são demarcados pelo PDPSJ (2014). A comunidade do Pedre-gal, mais a oeste, e a comunidade do Jardim Solemar, mais ao sul. Nessa última, destaca-se ainda a presença de um dos afluentes do rio três Henriques cruzando o as-sentamento, numa situação pre-judicial para o curso d’água – que é contaminado logo após sua nas-cente - quanto para a população, que tem os riscos agravados pela proximidade com a linha d’água. Após passar pela comunidade Jardim Solemar, esse afluente do rio corre transversalmente as quadras dos loteamentos até de-saguar na calha principal do rio, na Estrada Geral de Potecas, pró-ximo ao galpão da Renner.

JARDIM SOLEMAR PEDREGAL

(23)

Cheios Vazios LEGENDA: Font e: Googl e E ar th.

UP5 - Urbanização Prevista

Acima:

Fluxo de caminhões em frente ao galpão da Renner.

A UP-5 é a área menos urbanizada da bacia hidrográfica e tem a maior parte de seu terri-tório coberto por vegetação densa. Seu rele-vo é parte plano, parte acidentado - com cota máxima aos 180 metros – mas não apresenta áreas de risco de deslizamento ou alagamento (PDPSJ, 2014).

As principais nascentes e afluentes do rio três Henriques estão nessa área, a qual apesar de ser o trecho mais preservado da bacia, já so-fre impactos da urbanização. Os loteamentos recentemente abertos modificaram o rio com tamponamentos e alterações de curso, mos-trando que as intervenções estruturais ainda são práticas comuns na região.

Em função da baixa urbanização, esta área ain-da não apresenta grande impermeabilização do solo e o curso principal do rio encontra-se natural e com matas ciliares relativamente bem preservadas.

Essa área pertence integralmente ao bairro Areias, tem malha viária bastante desconecta-da e abriga usos diversificados que vão do in-dustrial (com destaque para o galpão da Ren-ner, no loteamento voltado à Av. das Torres) ao residencial, nos loteamentos voltados para a Estrada Geral de Potecas.

FORÇAS

Centralidade local forte e próxima ao rio

Acesso rápido aos centros municipais e

metropolitanos

Paisagens da foz e da orla

Ponta Três Henriques

Bairros com usos variados e vivos

Áreas de ecossistema remanescentes

A BACIA QUE TEMOS

FRAQUEZAS

Saneamento básico precário (drenagem e

esgoto)

Insalubridade e insegurança do Rio Três

Henriques

Alagamentos pontuais

Escassez de áreas de lazer e equipamentos

culturais

Ausência de rotas cicloviárias e desqualificação

das calçadas

Familias em habitações precárias e de risco

ENCOSTA URBANIZADA URBANIZAÇÃO PREVISTA URBANIZAÇÃO EM CONSOLIDAÇÃO PLANÍCIE CONSOLIDADA ORLA MARINHA

unidades de paisagem

perfis do rio

(24)

A bacia que

teremos

Apesar do nome, esta parte do

traba-lho se dedica a conhecer as

possibi-lidades; as propostas existentes que

possuem impacto direto na área de

estudo. Aqui foram analisados planos

nas escalas do município e da região

metropolitana de Florianópolis com

a intenção de indicassem o papel que

este setor desenvolverá na cidade

e os rumos das transformações que

aqui acontecerão.

Além disso, tendo em vista o

obje-tivo do trabalho, os planos estarão

sendo sempre colocados em paralelo

com rio e a paisagem, sob a ótica das

possibilidades e ameaças que abrem

ao processo de recuperação da bacia

hidrográfica.

(25)

O Plamus

O PLAMUS (Plano de Mobilidade Urbana da Grande Florianópolis) trata da criação de uma plataforma de análise e coordenação das ações de planejamento das cidades da Região Metropolitana de Florianópolis, ob-jetivando um desenvolvimento sustentável para as cida-des e a região como um todo. Das diretrizes apresen-tadas pelo plano, as que apresentam maior impacto na bacia hidrográfica do Rio Três Henriques são o contor-no viário e o sistema de transporte metropolitacontor-no. O contorno viário tem como objetivo principal direcio-nar o tráfego rodoviário de passagem que não tenha origem ou destino no Núcleo Metropolitano de Floria-nópolis para fora da porção conurbada. Dessa maneira impactaria a bacia no sentido de modificar o perfil da BR 101, alterando sua característica de rodovia de passa-gem entre norte e sul do país para se tornar uma via de trânsito rápido, porém local.

O sistema de transporte público metropolitano propos-to conta com um sistema troncal nos principais eixos da região conurbada; e linhas alimentadoras que transpor-tam passageiros dos bairros (menos adensados) até a li-nha troncal. Nessa proposta a bacia hidrográfica – e em especial a foz – são um importante nó do sistema metro-politano como um todo. Além disso, o Plamus propõe o transporte aquaviário como medida provisória até que se implante o BRT e um dos terminais de transporte marítimo estaria localizado na Ponta Três Henriques, a qual precisaria de uma remodelação, assim como todos os pontos estratégicos de terminais marítimos da RMF, para abrigar tal função.

O Plano Diretor Participativo de São José, sendo elabo-rado considerando o PLAMUS como ponto de partida, corrobora com suas estratégias de transporte público metropolitano, mantendo a proposta dos eixos troncais de transporte via BRT, e ainda acrescentando novos eixos que estruturam o transporte municipal e costuram-no à macroproposta metropolitana, o que novamente evidencia o importante papel da região da bacia hidrográfica do Rio Três Henriques no contexto da mobilidade. Já do ponto de vista de ocupação, em oposição expansão do perímetro urbano, marcada pela dispersão da cidade e pelas baixas densidades, o plano diretor baseia-se no princípio de densificação da urbe que visa, dentre outros aspectos, a economia de recursos públicos, já que toda a infraestrutura urbana ficaria concentrada. Dessa maneira, ele propõe o adensamento dos eixos de transporte criados, que influencia diretamente a Bacia Hidrográfica, já que ela se apresenta como um importante nó de transporte; e a ocupação dos vazios urbanos, que alterará significativa-mente o caráter da área que compõe a bacia, adensando-a e impermeabilizando-a, já que ela ainda contém muitos

va-zios urbanos.

Ao Lado:

Linhas de transporte marítimo previstas pelo Pla-mus, com destaque para o trajeto com atracadouro na Ponta Três Henriques. Fonte: Plamus (Adaptado)

O Plano Diretor

Participativo

Fonte: PDPSJ (2014) (Adapatado)

A ideia da continuação da Beira-mar continental até Bar-reiros já foi apresentada em diferentes esferas públicas, desde o governo estadual, passando pela associação da região metropolitana e até mesmo pela própria prefeitura. Apesar de apresentar um aspecto muito positivo que seria o resgate da orla – que hoje encontra-se privatizada pelas residências que há tempos a ocupam –, de maneira geral, é um plano que está sempre associado ao projeto de uma quarta ligação entre ilha e continente. Isso evidencia o foco da proposta na solução do problema de mobilidade urbana através da expansão do sistema viário. Porém, sabe-se que esse tipo de abordagem produz demanda induzida, levan-do ao retorno levan-dos congestionamentos em curto períolevan-do. Além disso, em todas as propostas analisadas para a Beira mar de Barreiros, o projeto de aterro chegava a foz do rio e a Ponta Três Henriques, o que consistiria em um grande prejuízo ambiental e paisagístico para o município.

Os projetos apontam um consenso entre as propostas sobre a bacia possuir um

forte caráter de estruturação da mobilidade. Nos projetos mais recentes, o Plano

Diretor Participativo e o Plamus, essa temática é abordada sob a estratégia de

priorização do transporte coletivo, o que se manifesta na implantação de

estru-turas como linhas de BRT e terminal marítimo. As transformações associadas a

estas estruturas configuram ao mesmo tempo uma oportunidade e uma ameça à

intenção de recuperar ambientalmente a bacia. Ela pode ser benéfica se os

inves-timentos e a transformação forem planejados de maneira sustentável e associada

ao propósito de melhoria ambiental. Por outro lado, se densificação da ocupação

urbana ocorrer desacompanhada de infraestrutura de saneamento e drenagem

compativel, ocorrerá o agramento dos conflitos com o rio.

A Beira-mar de

Barreiros

Fonte:

PMSJ (2014) (Adaptado)

(26)
(27)

Diretrizes do

Projeto

A Á

GU

A NA CID

ADE

No livro Rios e Cidades, que fundamenta este traba-lho, Maria Cecília Gorsky destaca a importância de três fatores para o sucesso dos planos de recupera-ção de rios urbanos: (1) a proterecupera-ção das várzeas, (2) o engajamento popular e (3) a promoção de vitalidade social as margens do curso d’água. Com base nessas premissas foram elencados como princípios norte-adores para a proposta A água na cidade, onde tra-çam-se estratégias para a recuperação ambiental do Rio Três Henriques e A cidade na Água, onde traçam--se estratégias para o reestabelecimento das dimen-sões cultural e ambiental do rio, progressivamente aproximando e engajando a população ribeirinha em sua apropriação e defesa.

Complementarmente, entendendo que o rio e a ba-cia hidrográfica fazem parte de um contexto mais amplo e que os interesses locais, municipais e regio-nais precisam estar articulados para que se poten-cializem, o princípio da Cidade na Cidade foi assumi-do para o desenvolvimento da proposta, delineanassumi-do estratégias para a compatibilização e articulação das propostas que se sobrepõe neste território.

Esclarecidos os princípios, cada um deles foi aplicado sobre as problemáticas observadas e deram origem as linhas de ações que orientaram essa proposta.

Ações para a recuperação

ambiental do

Rio

Três

Henriques

52 53

Diretriz

Estratégia

Ação

Recuperação

progressiva dos

recursos naturais

degradados,

reestabelecendo

a funcionalidade

hidrológica,

ecológica e

paisagística, bem

como possibilitando

usos urbanos

(contato primário,

secundário e

irrigação de

permacultura)

Proteger as áreas de

ecossistema preservado

Criar parques e áreas de preservação permanente

Reestruturar as ocupações urbanas próximas as nascentes

Melhorar as

características

morfológicas e

hidrológicas do rio para

dar suporte a fauna e flora

Recuperar a funcionalidade do leito; Recuperar a vegetação ripária e a mata ciliar

Criar corredores ecológicos

utilizando as áreas preservadas como manancias para o recolonizar das áreas degradadas

Combater a contaminação

da água: rede pluvial,

residuos sólidos,

industrias, esgotamento,

escoamento superficial

Aplicar medidas de drenagem não convencionais nas áreas a urbanizar Nas áreas urbanizadas associar ao sistema de drenagem convencional soluções que realizem a filtragem da água

Implantar rede coletora de esgoto Criar banhados construídos para a decantação de particulas

Adequar os usos do solo nas margens do rio realocando as atividades dentro da bacia

Inclusão da

dimensão

sócio-ambiental nas

políticas urbanas

Combater a gentrificação

e garantir a permanência

formal das familias

em situação de

vulnerabilidade da bacia

Delimitar ZEIS

Estimular o caráter diversificado das atividades econômicas e as centralidades locais;

Incentivo a atividades

socio-econômicas com impacto ambiental positivo. (regularização da central de Reciclagem de Resíduos Sólidos, agricultura urbana/permacultura)

(28)

A CID

ADE NA Á

GU

A

A CID

ADE NA CID

ADE

Ações para o reestabelecimento

das dimensões cultural e

ambiental do rio

Ações para a compatibilização

e articulação das escalas locais,

municipais e metropolitanas

54 55

Diretriz

Estratégia

Ação

Controle e

preveção de

alagamentos

Compatibilizar a

ocupação urbana

com a capacidade

de escoamento da

bacia atual e futura

Estabelecer diretrizes para a urbanização das áreas em expansão Criar bacias de detenção/retenção para reduzir os alagamentos

Aplicar técnicas drenagem urbana que promovam a retenção no lote, na via e na quadra e reduzam a entrada de resíduos sólidos na rede (LID e WSUD)

Inclusão dos

ambientes naturais

na dinâmica urbana

e da dinamica

urbana nos

ambientes naturais

Tornar o rio o

elemento de

integração da

bacia, costurar as

malhas pedonais,

cicloviárias e viárias

através e ao longo

do rio

Criar passagens transversais e longitudinais pelo rio;

Criar trilhas, caminhos de pedestres e ciclovias ao longo das margens, reforçando o rio como caminho mais rápido

Utilizar o rio e suas margens como elemento de integração urbana da bacia

Valorizar e tornar

as áreas de

margem e várzeas

interessantes para

a população

Aumentar e sinalizar os acessos à praia Aproximar os equipamentos públicos e comunitários como Centros de Saúde, Escolas, Associações de Bairro do rio, seja fisicamente ou através de caminhos seguros

Consolidar as áreas de lazer existentes e criar novas nas orlas do Rio e da Baia Estimular a construção de fachadas ativas voltadas para as margens

Educação

ambiental

Tornar o rio e os sistemas de drenagem visíveis

Associando os espaços de lazer às áreas de preservação ambiental para que possam ser utilizados para fins educacionais

Diretriz

Estratégia

Ação

Incorporar os

planos e projetos

municipais e

metropolitanos,

compatibilizando

com as ações locais.

Plano Diretor

Comportar o adensamento populacional através ocupação dos vazios urbanos Associar a densidade populacional aos eixos de mobilidade

Plamus

Melhoria da mobilidade através da criação de centralidades locais

Reestruturação do transporte de cargas Melhoria da mobilidade através

da diversificação de modais e da preferência ao transporte coletivo

Beira-Mar de

Barreiros

Recuperação do acesso e criação de espaços públicos de lazer na orla

(29)

A espacialização das diretrizes ambientais se deu de maneira combinada com a pro-posição de áreas verdes urbanas, promo-vendo lazer, qualidade de vida, proteção e educação ambiental. Dessa forma, os 30m às margens do rio Três Henriques e de seus afluentes foram marcados como de interesse ambiental para a proteção do curso d’água e a criação de uma gran-de AVL integrando todos os setores da bacia. Na foz do rio, a Ponta Três Henri-ques, foi demarcada como de interesse ambiental por possuir um ecossistema notável, funcionando como AVL de porte metropolitano uma vez que projetos ana-lisados em “a bacia que teremos” apontam para um interesse RMF nesse setor. Os 30 metros a partir da linha d’água do mar, considerados área de marinha, foram de-limitados como área de interesse para a

recuperação da vegetação de restinga e da paisagem, resgatando a orla do municí-pio de São José e a vista para a Baía Norte. Os topos de morro e encostas vegetadas com inclinação superior a 25%, foram de-marcados como APP para a proteção dos ecossistemas e segurança das encostas, ficando os trechos inseridos na malha ur-bana associados com áreas de lazer. Por fim, vazios urbanos ao longo da bacia fo-ram marcados como área de interesse ambiental para a criação de trampolins ecológicos. Sua demarcação seguiu es-paçamentos de aproximadamente 400m, para funcionarem como AVLs locais e deu preferência para lotes ociosos públicos e/ou localizados em áreas de baixada em relação ao entorno, de forma que também possam ser utilizados para fins de drena-gem.

Espacialialização

das Ações

(30)

Para o transporte coletivo as estratégias adotadas pelo Plamus e pelo Plano Diretor Participativo de São José (PDPSJ, 2014) foram replicadas. No mais, foram adicionadas linhas de transporte coletivo municipal secundárias, localizadas transversal-mente aos corredores do PDPSJ, com o objetivo de reduzir as distâncias percorridas pelos pedes-tres até os corredores. As paradas do transporte metropolitano foram espaçadas em aproximada-mente 1km e localizadas estrategicaaproximada-mente nos cruzamentos entre os sistemas de transporte e ambiental.

A malha ciclo-pedonal proposta visa (1) melhorar a legibilidade da malha viária e a ambiência para os deslocamentos, (2) garantir a segurança dos pe-destres e ciclistas ao longo das vias coletoras e ar-teriais e (3) aproximar as pessoas do rio, reforçan-do as margens como caminho. Para tal propõe-se a instalação de ciclovias ao longo dos corredores de transporte coletivo; a criação de uma rota ciclo-pe-donal ao longo das margens da AVL de integração, conectando toda a bacia até a foz, onde encontra--se o terminal marítimo; e a criação de eixos ver-des. Esses eixos verdes teriam como característi-cas serem ruas locais, com boa integração na malha viária, localizadas em posições intermediárias aos corredores de transporte coletivo e que conectam pontos de interesse. Essas vias seriam qualifica-das com calçaqualifica-das amplas, ciclofaixas e arborização proporcionando conforto e segurança aos

descola-mentos locais de pedestres e ciclistas.

Transporte Público Metropolitano (Plamus)

Transporte Público Municipal (PDPSJ, 2014)

Transporte Público Municipal (Proposto) Terminal Marítimo Parada de BRT Rota Compartilhada Ciclovia Ciclofaixa 58 59

Referências

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