A liberdade é nossa?
— O Problema da Liberdade —
W a l t e r A ltm ann1 Liberdade tem sido sempre o ideal pelo qual o homem se n c r - teou. D esde a antigüidade, qu andc significava simplesmente o oposto de escravidão, até hoje, quando esta palavra anda ingênuam ente na bõca de todos, muito sangue tem sido derram ado em seu nome. A v e r dade é que não há guerra ou revolução, na qual, de uma forma ou o u tra, sua com preensão nãc- tenha exercido papel prepond.erante. Liber dade é uma das g randes p alavras que' têm determinado o destino da história. 1)
C hegam os até hoje e aparentem ente nada conseguimc-s- T e m o s a im pressão d.e estar ainda na estaca zero- T ô d a s as con tro v érsias e lutas se resumem em tôrno dêste conceito. E talvez a liberdade nunca tenha sido tão duvidosa e incerta como o é hoje. E m seu r.c-me cresce a escravidão, aberta ou ocultamente. 2)
Nem por isso iremos criticar essa busca humana. S e ria tolice. A luta por con cretizar os grandes ideais é parte da socied.ade humana. Ê sses ideais são c s princípios pelos quais c s homens sempre se nc-r- tearão. 3) Q u e entendemos por liberdade? C om o a alcançam os? E s ta s são as perguntas que hoje se impõem.
Pelo século X V I I vivia o mundo ainda sc-b um regime' totalitário, em que a pessoa humana estava subordinada ao poder absoluto dos s o beranos, que eram considerados instituídos pc-r Deus. M a s a R e n a s cença já havia tornado famosos ao mundo c-s nomes dos grandes gênios das ciências e das artes. A R eform a havia d.espertado a liberdade de consciência. E r a o indivíduo que co m e çav a a se distinguir da massa. E s ta v a claro que a ordem ainda vigente não mais correspondia à realidad.e.
F c i então que o iluminismo inglês desenvolveu as teorias que iriam le v ar a o liberalismo. 4) O filósofo L o c k já d esenvolvera sua co n ce p ç ã o a partir do estado natural primitivo, onde todos os homens são livres e iguais. O poder do estado deriva então exclu sivam ente dos in divíduos e sua única razão de ser é a d.e evitar a guerra de todos c o n tra todos. Surgiu daí a teoria dos direitos inalienáveis do homem, que inspiraram a d ec la ra ç ã o de independência e a constituição dos E s t a dos U nidos, mais a R ev o lu çã o F r a n c e s a e suas constituições. « A liber dade consiste, então, em poder fazer tudo que não prejudica ao o u t r o » .5) G ov ern os são instituídos entre os homens para assegu rar êsse direito. 6) Como vemos, o- indivíduo se torna a medida para tôdas as ações e conceitos. C em o tempe, cada um procura pre serv ar a sua
própria liberdade individual, na qual ninguém pode in terferir. Com o surgimento da era ind.ustrial, acentua-se' sempre mais a liberdade ec o nômica como base de tôdas as demais liberdades. 7) O controle era mí nimo, se não inexistente e com o tempo o mundo começou a assumir um aspecto de um «salve-se quem puder» catastrófico. 8) A livre ini ciativa e a livre com petição levaram aos maiores con traste s sociais e às maiores guerras internacionais que o mundo jam ais conheceu.
H o je temos supostam ente assegurado em nossa C onstituição o direito à liberdade de expressão, de pensamento, de consciência, de crença, de co n v icç ã o religiosa, filosófica ou política, de reunião, de escolha d e profissão, de trânsito e de perm anência no território n a c io nal, e de propriedade. 9) A C onstituição também asse v era que esta enu m eração não exclui outros direitos. Aliás, a lista dessas liberdades civis se tornou p arte integ rante de qualquer sociedade instituída, tanto na constituição dos E s ta d o s U nidos da A m érica como na da U n iã o das R ep ú blicas S o cialistas Soviéticas.
A verdad e é que no B rasil ainda persiste fortem ente a co n c ep ção liberal de liberdade. E la significa defesa do interêsse individual, a não interferência de quem quer que seja nos neg ócios privad.os, sejam quais forem as consequências dêstes- Liberd ad e se tornou o direito de a b rir a b ô ca quando e onde se quer- Liberdade se tornou o direito d.e desobedecer a lei e ao mesmo tem po o direito de não querer re fo r má-la. L ibe rd ad e se tornou o direito de usarmos o que possuímos da maneira como melhor nos apraz. L ib erd ad e se tornou sinônimo de pri vilégio.
E m todo o caso-, seu conceito está estabelecido numa base so mente n eg ativa. Isto significa que há um afã de se libertar d.e qualquer dependência. N ã o há finalidade para a liberdade, a não ser o inte rêsse próprio. E n este contex to certam ente nc-s defrontam os com um anseio do homem egoista. 10)
Ê s t e significado de liberdade somente pôde crescer e se ex pandir b ase ado na teoria russc-niana da bond ade natural do homem. M a s , enquanto que para Rousseau' a origem das desigualdades e dos males entre os hom ens foi estabelecida com o «primeiro que tendo ce rca d o um terren'o, lem brou -se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acred itá-lo », 11) a n ova sociedade im edia tam ente colocou a propriedade individual como pedra angu lar de seus direitos.
Liberd ad e ce rtam ente deve estar em função da coletividade, deve ser concedida a todos. E qual a liberdade de expressão de a l guém que nunca teve oportunidade de visitar uma escola? Q u a l a liberdade de particip ação pclítica de alguém que não possui nem o su ficiente p ara a alim entação? Q u al a liberdade de escolha de profissão p ara um m enor desam parado? Q u a l a liberdade de imprensa de um jo rn a l que som ente pode existir não em função do leitor, mas sim d e pendente de seus anúncios? E m que consiste o direito à propriedade para c s brasileiros que morrem de fome? O u teremos nós coragem de revidar uma frase como esta: «quando indivíduos bem alimentados dizem aos pobres que devem co lo ca r a alm a (poderíam os tam bém dizer
a liberdade individual) acim a dos anseios da barriga, há algo nauseante e hipócrita em tôda a sua atitude?» 12)
O que queremos aqui é m ostrar a relatividade dos têrm os que usamos freqüentemente de m aneira tão absoluta. É verdad e que desde logo havia um outro c o n c eito que p arece neutralizar o egoísmo já a n a lisando: igualdade- M a s esta foi sempre in terpretada como exclu siva mente igualdade perante a lei, 13) não modificando portanto o que foi dito acima- E m todo caso, enquanto entendermos, como Rui B a rb o sa , que «a regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigual mente aos desiguais, na medida em que se desigualam», M) certam ente jamais poderemos esperar v er realm ente assegu rados e efetivos os direitos m encionados em no ssa Constituição.
É lóg ico que tal situação deveria alguma vez p ro v o ca r reação. F oi novam ente um trabalho filosófico que h averia de fornecer a base de uma teoria destinada a revolucionar o mundo-. Hefgel, no início do século X I X afirmou que «liberdade é a p ercep ção d.a n ecessidade», 15) Significa isto que a liberdade não consiste em uma dependência u tó pica e impossível das leis da natureza, mas sim no conhecim ento dessas leis e na possibilidade de fazê-las funcionar m etòdicam ente p ara de terminados fins.
Seu discípulo, K a rl M a r x , adaptou esta definição à sua teoria do processo histórico. Liberdade é co n h e cer a necessidade da m archa da história interp retada econôm ico-m aterialisticam ente, 16) H á , p o rtan to, uma íntima r e la ç ã o entre liberdade e necessidade. Assim é preciso que se analise a situação real, se descubra a necessidade econôm ica e se saiba agir p ara elim iná-la, para to rn a r -se realm ente livre. T a m b é m aqui o indivíduo é livre. M a s êle não é mais a medida. O alvo é atin
gir realmente a todos. « O livre desenvolvim ento de cad a um será a condição dto livre desenvolvim ento de to d o s.»17) E s t a frase que se en contra n o M a n ife sto Comunista, poderia também ser dita por um libe ral. mas temos de o b serv ar que no marxismo o livre' desenvolvimento de cad a um som ente se realiza quando o indivíduo se re co n h ec e como ser in teg ran te de uma sociedade e organiza suas fô r ça s socialmente. 18) N ã o é mais uma liberdade exclusivam ente de, mas também p a ra . « O homem só é independente. . . se afirm a sua individualidade como ho mem total em cada uma de suas relações com o mundo, vendo, ouvindo, sorrindo, provando, sentindo, pensando, querendo, am ando — em resumo, se afirm a e exprim e todos os órg ãos de sua individualidade». 19) Q u e diremos quanto a isto? N ã o resta dúvida que foi aqui redesco- b e r ta a im portante re laç ão entre c indivíduo e a sociedade. N o en tanto, perguntaríam os: S e r á que não é uma sim plificação muito grande, querer reduzir tôdas as contradições a uma básica: a econôm ica? Quem g aran te a infalibilidade de análise que possibilitará a libertação? É legítimo v e r na necessidade a eterna condição da liberdade?
A esta altura temos de interromper para analisar o problem a do ponto- de vista cristão.
E m primeiro lugar, D eu s é livre. M a s em que consiste sua li berdade? C ertam ente não no fato de êle' poder realizar o que bem entenda. C ertam en te não no fato de sua vontade poder fazer qualquer escolha ao acaso. D eus não é indiferente. Isto seria uma definição mui
to restrita. A v erdad eira liberdade de D eus consiste em realizar livre mente seu amc-r. « S ig n ifica positiva e especialm ente estar d.ecidido e ser movido por si mesmo. E x a ta m e n te isto é a liberdade da existência e do am or de D eu s.» 20) E la é ativa, já com a finalidade de cumprir o seu amor.
A própria c r ia ç ã o é assim um produto do livre amor de D eu s. 21) A efscolha de D eus em realizar a criação certam ente não limita sua liberdade, mas é um fruto da realidade desta- A livre m ajestade divina sôbre a criaç ão persiste.
A re laç ão entre am or e liberdade divinas pode ser assim expres sa: « O amc-r de D eus é livre pelo fato de ter podido escolher entre a existência e a não-existência do mundo, sem com isso se tornar menos amor. Ê l e é am or pelo fato de ter precisam ente escolhido a existência do mundo, sem com isso se tornar menos livre.» 22)
É por isto- que D eus também não abandona sua criação, mas permanecei ao lado dela. O vácu o que se formou entre D eus e o ho mem com alienação dêste 23 ) é preenchidb por Jesus C risto, que é por isto a liberdade de D eus a c s homens.
E m Jesus C risto existe uma açã o dupla de liberdade. Em pri meiro lugar é a livre açã o de g raça, na qual D eus mesmo se decide, e por outro lado a livre açã o de obediência, na qual o homem em Jesus C risto se confessa ao acontecim ento, pelo qual a ação de Deus é a tu an te1. 2 4 ) O homem Jesus tem a sua liberdade concretizada justamente em conflitos e lutas com a ten tação e o pecado. E m tôdas estas situações foi a obediência à von tad e divina o fator preponderante. T a m b é m em relação à liberdade' de C risto podemos dizer que ela não consiste em ter podido se decidir por uma infinidade de possibilidades, mas sim por ter se decidido pela única realidade livre: a açã o por g ra ça d-e Deus- Justam ente pc-r escolher exclusivam ente a D eus, por lhe ser inteira mente obediente, é êle plenamente livre. Q u a l a livre a ç ã o por graça
de D eu s em Jesus C risto? N ê le D eu s concede a realização já ag ora de sua vontade em não abando nar o homem, nêle D eus d.emonstra a sua livre dádiva de sa lv a çã o e liberdade aos homens. É por isto que dize mos que C risto é verdadeiro- homem e verdadeiro Deus- N ê le há o b e diência que liberta, até à morte, e nêle há g ra ç a que se sa crifica pelos outros, por
nós-A liberdade hum ana é, portanto, uma dádiva em Jesus Cristo. U m presente para todos os homens, quer o saibam ou não. É um dom que nos liberta de tôdas as cadeias que nos prendem, da nossa alien ação para com D eus e de nossa .alienação para com o homem. É a liberdade de novam ente poder estar com D eus atr a v é s de Jesus C risto. L on ge de D eus ela não é possível, longe de D eus só há e sc ra vidão. M a s o livre dom de D eu s que é o livre Jesus C risto,nos restituí o contato com êle, e assim nos restitui a liberdade.
N a criaç ão foi dada ao homem uma liberdade de campo de ação junto a D eus, não de' escolha entre o bem e o mal. A primeira p e r siste,enquanto que o conhecim ento de bem e mal somente veio com a desobediência a D eus, ou seja, quando a escolha já havia recaído na fa lta de liberdade. E é dessa condição de escravidão que C risto nos libertou.
E s t a dádiva de C risto não se reflete sòmente para trás, 25) mas também para frente. N ã o é sòmente uma liberdade de, mas também para> E aqui reside a im portância da fé. F é pertence, portanto, ao próprio ato de libertação por parte de D eus, mas é também a resposta e a compreensão dêste ato divino. 26) F é é a decisão, não mais entre duas ou três possibilidades, mas sim a decisão de re co n h ec er e obede- cer, 27) O b e d e c e r a que? À decisão já decretada por D eu s em Jesus
Cristo-R e co n h e ce o crente, aí, que viv e em relação com o próximo neste mundo. S a b e êle então que êste próximo já recebeu também o mesmo dom de liberdade. É obrigado a v er nêle', pois uma pessoa igual a sua. N ã o pode mais o cristão pensar em si mesmo, mas pensa no outro. N ã o deveríam os cham ar a isto «reconhecim ento do homem pelo homem?»
Diz Lutero em seu tratado « D a Liberd ad e C ristã » : U m cristão é senhor livre sôbre tôdas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de tôdas as coisas e está sujeito a todos. 28) E mais adiante, o cristão «te rá sua mira posta só em servir aos demais, sem pensar em outra coisa que nas necessidades daqueles a cujo serviço deseja colocar-se. Ê s t e modo de ob rar para com os demais é a v e r dadeira vida do cristão e a fé atu ará com am or e sa tisfação ». 29) « O cristão é livre, sim, mas d everá to rn a r -se de bom grado servo, a fim de ajudar a seu próximo, tratando-o e o brando com êle, co m o D eu s tem
feito com êle mesmo por meio de C risto». 30)
R etornem os a g ora às perguntas que levantam os quanto ao m ar xismo. Como pode o homem se apropriar da união en tre necessidade e liberdade? E s t a união significa nada mais nada menos do que o pró prio Deus, mesmo que seja subordinada à união entre amor e liber dade. 31) A alienação econôm ica não é a única existente, nem a básica. H á outras que se lhe equiparam. A v erdad e é que a alien ação de todo homem para com D eu s e para com o próximo se m anifesta em todos os campos de atividade’ humana, e disto tudo nos livrou Cristo.
A última pergunta foi: quem g aran te a infalibilidade da análise que possibilitará a liberdade? P a r a respondermos a esta questão, te re mos de exam inar mais um a sp e cto da doutrina marxista- N ela existe a co n v icção do processo dialético da história até o estabelecim ento fu turo do comunismo numa sociedade sem classes. D e ix a r á de existir a revolução para h a v e r a evolução. Ê s s e estágio c o n g re g a rá todos os homens. E sòmente então se poderá falar v erdad eiram en te em liber dade para todos. E n q u a n to existir o estado não será possível tal li berdade. D iz E n g e ls, com panheiro de M a r x : « O E s ta d o sendo apenas uma instituição tem porária de que somos obrigados a nos serv ir na luta, na revolução para reprim ir pela fô rça seus ad versários, é perfei tamente absurdo falar de um estado popular livre: quando o proleta;- riado ainda n ecessita do E s t a d o não é para a liberdade, mas para reprimir seus adversários. E o dia em que seja possível falar de liber dade, o E s ta d o c e s s a de existir como tal.»; 32) Ê s s e Estad|o é «a dita dura de classe do proletariado como ponto de transição necessário para ch e g ar à supressão das diferen ças de classe em geral.» 33) O marxismo reconhece, pois, honestamente, que a liberdade completa,
geral, ainda não é hoje uma realidade, mas c r ê que ela será estabelecida no futuro. P oderíam os dizer: é uma esp erança escatológ ica marxista- E m que se baseia ela? P o r um lado na firme c r e n ça da exatidão do pro cesso histórico-dialético-m aterialista. P erg u n taríam os aqui: N ã o assu me, assim, êsse processo proporções sobrenaturais? P o r outro lado, o indivíduo não pode perm anecer passivo, êle é cham ado à tomada de consciência, deve participar ativa e decididamente n:a evolução da his tória até o momento em que o E sta d o se extinga e' a liberdade seja real p ara todos. P o r certo, se, como vimos acima, o livre desenvolvi mento de cad.a um será a condição- do livre desenvolvim ento de todos, crem os que, por mais paradoxal que' pareça, o marxism o também está assentado sôbre as frágeis bases ru ssonianas da bondade natural do homem.
O cristão também sabe que a glória dêste mundo não é de se com p arar com a glória do mund.o que está por vir- O cristão também tem uma esp eran ça escatológica, o cristão também espera -a co n c re ti zação total e perfeita da liberdade para todos os homens. É o dia em que a obediência ple'na a Deus, com a conseqüente elim inação d.e todo o p ro cesso alienatório, será a única realidade, e por isso inteira mente livre.
E s t a esp erança não está base ada em nós, mas sim na ação de Deus, já realizada atrav és de Jesus C risto, por todos os homens. P o r essa razão êle já é R ei de todos os homens, quer o saibam ou não. E s t a esp erança leva o cristão a agir em tôdas as esferas e estruturas da vida humana. « P a r a o cristão também, tôdas as norm as do- mundo em que vivemos perderam seu poder, porque pertencem ao passado, à ordem d.e coisas que está acab and o por causa da presença e poder de Jesus C risto entre nós. O crente pertence ao R ein o de Deus, participa já da n ova ordem de coisas que êle está criando entre nós, e pode por tanto orie n tar por completo sua vida ao redor dêsse objetivo, e en c o n trar sign ificação para todos os seus esforços de p a rticip ação nesta g rande O b r a que Jesus C risto está realizando entre os hom ens.» 34)
Liberd ad e cristã não tem seu fim em si mesma, é destinada ao mundo que ainda não a conhece. 35) É por isto que sua propriedade consiste no testemunho do ato de libertação por parte de D eu s em Jesus Cristo- E cad a instante de nossa vida é testemunho de Cristo.
« P a r a falar co ncretam ente, êste testem unho consiste em duas coisas: ev an g elização ou p roclam ação do’ am or de C risto pelo homem, através de p alav ras; e serviço , ou p roclam ação do am or de C risto pelo homem a tra v és de atos d.e amor. E s t a s duas coisas não podem ser separadas, porque são apenas dois aspectos de uma mesma realidade. Som os cham ados a am ar e servir ao próximo, e, no meio dêsses atos de amor, a ap o ntar sempre para a pessoa de C risto, que é a única m otivação dêsse serviço, e por quem o próxim o é servid o a tra v és dos nossos esforços. N e ste contexto, a o b ra de evang elização não é prin cipalmente a responsabilidade d e profissionais, mas de cada crente; não é tanto atividade para uma ou duas h oras do domingo, m as açã o constante, principalm ente no que diz respeito às pessoas que melhor conhecem os e com as quais estamos mais relacionados.
N e ste contexto, servir não significa principalm ente fazer obras de caridade, mas sim preocu parm o-nos pelo outro como C risto se preo cupou por nós. Isto implica numa n o va re lação com as pessoas com quem temos contato diário n o lar, na Ig reja, e no trabalho numa re la ção em que estamos dispostos a com partilhar a vid.a e as preocupações do outro, e servi-lo em cada situação co n c reta de necessidade. M a is ainda, no mundo de hoje, esta preo cu pação viv a pelo próxim o tem de nos levar a participar com um profunde' senso de responsabilidade, das lutas políticas e dentro das org anizações diversas que determinam o destino do homem moderno. H o je , quase todos os problem as que o homem en fren ta dependem, até certo ponto, de a ç ã o política para sua solução; daí o precisarm os estar envolvidos nessas lutas, se quisermos tomar uma posição a fa v o r do homem em nosso tempo.» 36 )
O cristão sabe que a co n cretização final da justiça e da li berdade será im plantada definitivam ente por D eus no fim dos tempos. E é justam ente êsse conhecim ento d.a fé que requer do cristão que impeça a absolutização de conceitos terrenos e transitórios, pois com isto sobrev iveria o caos sôbre a sociedade. T a l absolutização não seria mais do que uma tentativa p e rfeccionista de an tecip ar o R eino de D eu s na terra, atrav és de atos e ideologias humanas. O crente deve vigiar para que tal não a co n te ç a no E sta d o , sem ao mesmo tempo impor seu conceito cristão de liberdade, pois éste provém da fé e por isto n ão pode ser im posto ao E sta d o , e nem serve para qualquer program a político, por ser uma g randeza com dim ensões escato lóg icas M a s, se falamos tanto em agir, não é verdad e que os cristãos têm tantas vêzes se escondido atrás da fé na a ç ã o salvadora d.e D eus em Jesus C risto, para se esquecerem de que ainda vivem no mundo com outros homens e que por isto devem agir? N ã o iremos n eg ar que tal tenha havido e lam entàvelm ente continue havendo. Justam ente por esta razão devemos proclam ar que liberdade não é somente dom, mas também missão. C a b e à Ig reja, que somos nós, procu rar novas formas au tênticas de testemunho que venham a co n ta g ia r o mundo revolucionário em que vivemos.
Liberd ad e também é missão. A tarefa não é fácil. E s t a nova fc-rma de testemunho pode representar sofrim ento e perseguições. A fin al de contas, em parte alguma é dito que a vida do cristão seja mais fácil e mais côm oda do que a dos outros. A o contrário, sua esp eran ça lhe permite suportar as adversidades. Ê l e está livre delas- N o ssa e sp eran ça não é v a g a , com um m ixto de incerteza e dúvida, mas sim certeza de quem realm en te espera algo prometido e já assegurado. Justam ente porque sabem os que n a d a depende de nós, mas sim da co n stan te a ç ã o de D eu s em Jesus Cristo-, podemos livres, já aqui e ag ora, em qualquer situação e em tôdas as estruturas da vida humana, v iv er e p ro clam ar a liberdade. / ' ^ c T c *r, '
N O T A S
•
1) H einz Z a h rn t, L ib ertas christian a, em : U lrich S c h m id h ã u se r.A j^ lch ii f ia iilw * 1' M ein en W ir ? Stu ttg art, 1958, pág. 9 4. / 5 **I
2) Schm idhãuser, op. cit., pág. 7. I l E O L B \ t f
3 4 5 6 7
8
9 1011
12 13 14 15 16 17 19 2021
22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36M ilo v a n D jila s, A N o v a C lasse, R io de Jan eiro , 1958, pág. 11.
Joh ann es H irschberger, H istoria de la F ilo so fia , II, B a rcelo n a, 1956, pág. 117. C o n stitu ição fran cesa de 3 de seiem bro de 1791, art. 4. A pud: U lrich H edinger.
D e r F reih eitsb eg riff in der K irchlichen D ogm atik K a rl B arth s, Z u riqu e, 1962, pág. 241.
D eclaratio n o f Independence, 4 de julho de 1776. E m : E v e re tt A ugspurger e R ich ard A . M cL em ore, O u r N ation 's S to ry , 1960, pág. 827.
Paul M . Sw eezy , Socialism o, 2a. edição, R io de Janeiro , 1963, pág. 254. F u lio n J. Sheen, O Problem a da Liberdade, 7a. ed., R io de Janeiro, 1962, pág. 20. C o nstitu ição da R epública dos E stad o s U nidos do B rasil de 1946, S ão Paulo, 1956, art. 141.
K a rl M a rx , Z u r Jud enfrage, em: M a rx -E n g e ls W e r k e , I, Berlim , 1957, pág. 369. J> J. R ousseau , D iscu rso sôbre a O rigem e os Fundam entos da D esigualdade entre os H om ens, em: O b ras, I, P ôrto A legre, 1958, pág. 189.
B eríran d R ussel, Liberdade e O rg an ização, I, S ã o Paulo, 1959, pág. 155. C o n stitu ição francesa de 1795, arí. 3.
A pud: M arx, op. cit., pág. 365. C onstituição b rasileira, art. 141, § 1“
R u i B arb o sa, O ra ç ã o aos M o ços, R io de Janeiro , 1951, pág. 31. F red erick E n g els, A nti-D iih ring, 3a. ed. inglesa, M oscou, 1962, pág. 157. H edinger, op. cit., pág. 232.
C arlo s M arx e F red erico E n g els, M an ifesto dei Partido C om unis.a, em: O b ras E scog id as, I, M oscou, 1955, pág. 43.
K a rl M arx, M an uscritos E con ôm ico s e F ilo só ficos.
A pud: E rich From m , C o n ceito M arxista do Homem, R io de Janeiro, 1962, pág. 45. K a rl B arth , D ogm atik, II, 1, 4a. ed., Z u riqu e, 1958, pág. 339.
Hedinger, op. cit., pág. 40. B arth , op. cit., pág. 562.
Preferim os aqui a p alav ra alien ação a pecado, baseados em considerações feitas pelo P rofessor A ndré D um as em S ã o Paulo, a 28 de julho de 1963, na p alestra: O Homem M arxista e o Homem C ristão.
H edinger, op. cit., pág. 62. Idem, pág. 82.
Idem, pág. 74. Idem, pág. 77.
M artin ho L u tero, D a L 'berd ade C ristã, S ão L eopoldo, 1959, pág. 11. Idem, pág. 44.
Idem, pág. 46.
H edinger, op. cit., pág. 232.
■Engels, C a rta a A . B ebei, 1825, em:
A pud: A ndré P iettre, M a rx i'm o , 2a. ed., R io de Janeiro, 1963, pág. 241. M a rx , « A luta de classes na F ra n ça » , apud Piettre, op. cit., pág. 240. R ich ard Sh au ll, A lternativa ao D esespêro, S ã o Pauio, 1962, págs. 90-91. Hed nger, op. cit., pág. 95.