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Diagnóstico da percepção ambiental no açude Várzea Grande – Picuí/PB.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE TECNOLOGIA E RECURSOS NATURAIS

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RECURSOS NATURAIS

DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO AÇUDE VÁRZEA GRANDE – PICUÍ/PB

DAMIÃO CARLOS FREIRES DE AZEVEDO

CAMPINA GRANDE – PB 2011

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DAMIÃO CARLOS FREIRES DE AZEVEDO

DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO AÇUDE VÁRZEA GRANDE – PICUÍ/PB

Dissertação apresentada Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Recursos Naturais, ministrado pelo Centro de Tecnologia e Recursos Naturais – CTRN da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG em cumprimentos às exigências legais para obtenção do título de Mestre em Recursos Naturais.

Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Antunes de Lima Área de Concentração: Sociedade e Recursos Naturais Linha de Pesquisa: Gestão de Recursos Naturais

CAMPINA GRANDE – PB 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG

A994d Azevedo, Damião Carlos Freires de.

Diagnóstico da Percepção Ambiental no Açude Várzea Grande – Picuí - PB / Damião Carlos Freires de Azevedo. ─ Campina Grande, 2011.

104 f.: il. ; col.

Dissertação (Mestrado em Recursos Naturais) – Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Tecnologia e Recursos Naturais. Orientadora: Profª. Dra. Vera Lúcia Antunes de Lima.

Referências.

1. Percepção ambiental. 2. Usos da água. 3. Afetividade ambiental. 4. Gestão hídrica. I. Título.

CDU 556.18 (043)

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DAMIÃO CARLOS FREIRES DE AZEVEDO

DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL NO AÇUDE VÁRZEA GRANDE – PICUÍ/PB

APROVADA EM: 02 de Março de 2011

BANCA EXAMINADORA:

PRESIDENTE:

__________________________________________ Profª. Vera Lúcia Antunes de Lima, Drª. Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola – UAEAg

Centro de Tecnologia e Recursos Naturais – CTRN Universidade Federal de Campina Grande – UFCG

MEMBROS:

_________________________________________ Prof. Erivaldo Moreira Barbosa, Dr. Centro de Ciências Jurídicas e Sociais – CCJS

Departamento de Direito

Universidade Federal de Campina Grande – UFCG

___________________________________________ Prof. Hermes Alves de Almeida, Dr.

Centro de Educação – CEDUC Departamento de Geografia

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“Mesmo uma sociedade inteira, uma nação, ou mesmo todas as sociedades de uma

mesma época, tomadas em

conjunto, não são proprietárias da

Terra. São somente seus

possessores, seus usufrutuários, e têm o dever de deixá-la melhorada, como boni patres familias (bons pais de família), às gerações sucessivas”.

(KARL MARX)

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AGRADECIMENTOS

• Ao nosso Deus Jeová que nos deu a vida e nos deixou um mundo maravilhoso, o qual nem sempre cuidamos como deveríamos e que, de forma particular, dotou-nos com a capacidade de perseverarmos naquilo que almejamos.

• À minha filha Eshley, que mesmo em sua infantil inocência, tem sido fonte de constante motivação em minha vida

• Aos meus pais, por terem sempre uma palavra amiga e fortificante para me apoiar. • A Eliene, esposa, companheira e amiga infalível, por ter erguido minha cabeça e

mostrar que as dificuldades existem para que nós as vençamos e nos tornemos experientes.

• Um agradecimento muito especial à professora Drª. Vera Lúcia que contribuiu de forma indispensável, dando as orientações necessárias e fazendo sempre observações pertinentes à elaboração desta dissertação, desprendendo-se de outras atividades ou até do seu merecido descanso, para colaborar neste.

• Aos membros da Banca Avaliadora, Professores Erivaldo Barbosa e Hermes Almeida, cujos crivos e observações trouxeram valiosas contribuições a este trabalho.

• A todos os professores que, direta ou indiretamente, fazem parte do Programa Institucional de Pós-Graduação em Recursos Naturais, em especial, ao Prof. Dr. Erivaldo Barbosa; ao Prof. Dr. Marx Prestes Barbosa e à Profª. Drª. Waleska Silveira.

• À amiga Sereide, pessoa cujo advérbio sim sempre foi resposta presente às minhas necessidades.

• À Universidade Federal de Campina Grande pela disponibilização de um curso de Pós-graduação Interdisciplinar.

• Aos Docentes que fizeram parte da banca, meu cordial agradecimento pelas contribuições feitas à melhoria deste trabalho.

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LISTA DE FIGURAS

Página Figura 01 Representação da divisão física do estado da Paraíba. Destaque para o

Município de Picuí--- 18

Figura 02 Representação da divisão física do estado da Paraíba. Destaque para o território do município de Picuí, a mesorregião Borborema e sua distância em relação a algumas cidades paraibanas--- 19 Figura 03 Croqui das bacias hidrográficas e dos principais açudes do Estado da Paraíba --- 21

Figura 04 Imagem do Açude Várzea Grande, sua área de drenagem e o rio Picuí. Destaque do autor--- 22

Figura 05 Distribuição da população quanto à faixa etária--- 70

Figura 06 Distribuição da população quanto ao gênero--- 71

Figura 07 Distribuição da população quanto ao estado civil--- 71

Figura 08 Distribuição da população quanto ao número de pessoas que moram na mesma residência--- 72

Figura 09 Residência visitada durante a pesquisa de campo--- 73

Figura 10 Distribuição da população quanto ao nível de escolaridade--- 73

Figura 11 Distribuição em relação à profissão--- 74

Figura 12 Afetividade dos entrevistados pela localidade em que reside--- 75

Figura 13 Distribuição da população por tempo de residência--- 75

Figura 14 Distribuição da população em relação à possibilidade de saída da localidade na qual reside--- 76

Figura 15 Distribuição da população que acredita que o meio no qual residem se relaciona com as questões ambientais--- 77

Figura 16 Distribuição da população que acredita que suas práticas cotidianas, influenciam de maneira positiva ou negativa, para o equilíbrio ou desequilíbrio ambiental--- 77 Figura 17 Distribuição da população que acredita existir algum problema de ordem socioambiental na comunidade, que mereça maior atenção do poder público--- 78 Figura 18 Distribuição das respostas em relação à resolução de problemas ambientais a partir da união entre comunidade e poder público--- 79

Figura 19 Distribuição da população que acredita que os cidadãos devem se preocupar com a problemática ambiental--- 79

Figura 20 Distribuição da população que reconhece alguma preocupação ambiental pelas atividades econômicas existentes em Picuí/PB--- 80

Figura 21 Distribuição da população que sabe o significado do termo bacia hidrográfica--- 81

Figura 22 Distribuição da população em relação ao conhecimento sobre a qual bacia pertence o rio Picuí--- 82

Figura 23 Percepção dos entrevistados sobre a qualidade da água que abastece a cidade de Picuí/PB--- 83

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Figura 24 Usos da água de Várzea Grande--- 84 Figura 25 Tanques- rede de um ribeirinho de Várzea Grande--- 85 Figura 26 Presença de animal bovino às margens do açude Várzea Grande--- 86 Figura 27 Trecho sem mata ciliar e ocupado por animais às margens do açude

Várzea Grande. --- 86 Figura 28 Percentual de entrevistados que afirmaram conhecer ou não conhecer

o que é uma mata ciliar e sua função--- 87 Figura 29 Percentual de entrevistados segundo o consumo de 150 litros de água

por dia--- 88 Figura 30

Percentual de entrevistados que afirmaram conhecer, ou não, algum trabalho de icentivo ao uso racional da água do açude de Várzea Grande---

89

Figura 31

Percentual de entrevistados que atestam a necessidade de o poder público incentivar estratégias para preservação do rio Picuí e dos recursos hidricos---

89

Figura 32 Percentual de entrevistados que têm interesse em partipar de palestra para discutir a gestão dos recursos hidricos em Picui/PB--- 90

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LISTA DE QUADROS

Página Quadro 01 Principais reservatórios da Sub-bacia do rio Seridó e suas

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LISTA DE SIGLAS

AESA – Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba BSh – nomenclatura internacional para Clima Semiárido

CAGEPA – Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba

CDRM – Companhia de Desenvolvimento de recursos Minerais

CODEMA – Conselho Municipal de Conservação e Defesa do Meio Ambiente CODEVASF – Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

CPRM – Serviço Geológico do Brasil

DNAEE – Departamento nacional de Águas e energia Elétrica DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas FAMUP – Federação dos Municípios da Paraíba

IBAMA – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais renováveis ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

Km – Quilômetro

Km² - Quilômetro quadrado m³ - Metro cúbico

m³/h – Metro Cúbico por Hora MP – Medida Provisória

ONU – Organização das Nações Unidas PB – Paraíba

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RESUMO.

Diversas mudanças na legislação sobre recursos hídricos no Brasil têm ensejado alterações políticas no gerenciamento dos mesmos. Tais modificações culminaram na criação de Comitês de Bacia Hidrográficas como forma de se democratizar o sistema, visto que os Comitês são órgãos deliberativos considerados fóruns de debates. Uma vez que a criação desses Comitês demanda participação popular local, denota-se que a atuação dos atores locais na participação dos debates ensejará na adição da percepção ambiental nesse meio. Através da percepção ambiental são estabelecidas relações de afetividade do indivíduo com o meio; uma vez que essa sensibilização implica na formação de laços afetivos positivos, podendo acontecer modificação dos valores atribuídos pelas pessoas para cada lugar em seu entorno. Partindo dessa premissa, este trabalho tem como objetivo estudar a percepção ambiental dos moradores do entorno ambiental do açude Várzea Grande sobre os impactos ambientais casados tanto ao rio Picuí quanto às águas do referido reservatório pelas ações antrópicas, a afetividade pelo local em que vivem e os usos que fazem das águas do mencionado açude, o qual se destaca como sendo o maior reservatório em relação à capacidade de acumulação hídrica não apenas de Picuí, mas em relação aos demais do setor Leste da sub-bacia do rio Seridó, tributário do rio Piranhas. O município de Picuí/PB se situa na região centro-norte do Estado da Paraíba, Mesorregião Borborema e Microrregião Seridó Oriental Paraibano. O processo metodológico inclui trabalho de campo no biênio 2009-2010, aplicação de questionários aos moradores do entorno ambiental do açude Várzea Grande, tendo como base um roteiro de 24 (vinte e quatro) questões, coleta de dados, registros fotográficos, leituras de obras de referência. Os resultados obtidos indicam que parte significativa dos entrevistados apresenta relações afetivas com o seu entorno, o que corrobora a iniciativa da participação popular em ações para melhoria da qualidade ambiental e da gestão dos recursos hídricos. Conforme estudo desenvolvido e a partir da análise das respostas dos entrevistados e de observação feitas in loco, os resultados mostram que há danos para o rio Picuí e para as águas do reservatório Várzea Grande em virtude da ação e ocupação antrópica às margens do referido rio e da consequente emissão de efluentes, contudo é clara a intenção dos ribeirinhos (dependentes diretos do açude) em buscar estratégias para diminuição desses impactos. Destarte, há necessidade da implantação de um sistema de gestão para controle dos diversos processos de degradação tanto das áreas marginais, quanto do próprio rio Picuí e que campanhas educativas (educação ambiental) sejam amplamente empregadas na sensibilização da comunidade, fomentando a participação popular na gestão pública dos bens naturais a que têm direito, dentre eles a água.

(12)

ABSTRACT.

Several changes in the law on water resources in Brazil have enabled changes in the management of these politics. These changes culminated in the creation of River Basin Committees as a way to democratize the system, since the committees are deliberative bodies considered in discussion forums. Since the creation of these committees demand local popular participation, indicates that the performance of local stakeholders in discussions of participation shall entail the addition of environmental perception in this environment. Through awareness of environmental relations are established affectivity of the individual with the media, since such awareness implies the formation of affective positive change can happen on the values assigned by people to each place in its surroundings. From this premise, this paper aims to study the environmental perception of the residents of the surrounding environment of the dam Várzea Grande on the environmental impacts both married Picuí the river as the waters of this reservoir by human actions, affection for the place they live and uses they make of the waters of that dam, which stands as the largest reservoir on the ability of water accumulation not only Picuí, but compared to other eastern sector of the sub-basin of the river Seridó tributary of the Piranhas . The municipality of Picuí / PB is located in north-central state of Paraiba, and Mesoregion Borborema Microregion Seridó eastern Paraiba. The methodological process includes field work in the biennium 2009-2010, questionnaires to residents of the surrounding environment of the dam Várzea Grande, based on a script of 24 (twenty four) issues, data collection, photographs, readings of works reference. The results indicate that a significant proportion of respondents has personal relationships with their environment, which supports the initiative of popular participation in actions to improve environmental quality and management of water resources. According to a study and developed from the analysis of respondents' answers and observations made in situ, the results show that there is damage to the river Picuí and the waters of the Várzea Grande reservoir due to the action and human occupation on the banks of that river and the consequent emission of effluents, but it is clear the intention of riverine (direct dependents of the dam) to pursue strategies to reduce these impacts. Thus, there is need to implement a management system to control the various processes of degradation of both the marginal areas, as the river itself Picuí and educational campaigns (environmental education) are widely used in community awareness, encouraging community participation in management public of natural resources they are entitled, among them water.

(13)

SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO--- 14 1.1. Apresentação da pesquisa--- 14 1.2. Formulação do problema--- 16 1.3. Objetivos--- 16 1.3.1. Geral--- 16 1.3.2. Esp ecífi co s--- 16

CAPÍTUL O 2 – CARACTERI ZAÇÃO DA ÁREA DE EST UDO --- 17

2.1. O Muni cípi o de Pi cuí/PB--- 17

2.2. Localização, acesso e aspectos ecogeográficos gerais--- 18

2.3. Popul ação--- 20

2.4. Economi a--- 20

2.5. Caracterização fluviomorfológica da sub-bacia do rio Seridó--- 20

2.6. Conhecendo o reservatório Várzea Grande--- 22

CAPÍTUL O 3 – RE FE RE NCI AL TE ÓRICO --- 23

3.1. Considerações ini ci ais--- 23

3.2. Percepção ambiental --- 25

3.2.1. A percepção am biental no contexto das baci as hidrográfi cas --- 26

3.3. Recursos hídri cos e a necessi dade de ges tão--- 28

3.3.1. Água: usos principais--- 34

3.3.2. Usos da água no Brasil e no nordeste brasileiro--- 36

3.4. A política nacional de recursos hídricos--- 40

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3.5.1. Poluição das águas doces--- 44

3.6. Gerenciamento dos recursos hídricos--- 45

3.7. O despert ar para a quest ão ambi ent al --- 49

3.8. Áreas de mata ci liar--- 52

3.8.1. A Impo rt ân ci a d a mata cili ar p ara o mei o ambi ent e--- 54

3.8.2. Áreas de p reserv ação perm an ent e (APP’s )--- 56

3.9. Bacia hidrográfica: contextualização conceitual--- 62

3.9.1. Açud agem--- 64

CAPÍTUL O 4 – MATERIAIS E MÉTO DOS--- 66

4.1. Meto dol o gi a--- 66

4.2. Mat eriai s--- 66

4.3. Colet a de d ad os--- 66

4.4. A es colha dos ent revistados --- 67

4.5. Vari áveis aval iadas--- 67

4.5. 1 Perfil dos ent revist ados --- 67

4.5. 2 Afetividade pelo local de residência--- 67

4.5. 3 Percep ção amb iental --- 68

4.5. 4 Necessi dade d e im pl em ent ação d a gestão hídrica--- 68

4.6. Tabul ação e anális e dos dados --- 69

CAPÍTUL O 5 – RE SULTADOS E DIS CUSSÕES--- 70

CONCLUSÕ ES--- 91

SUGESTÕES--- 93

RE FE RÊNCI AS--- 94

(15)

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 1.1. Apresentação da pesquisa

A gestão dos recursos hídricos no Brasil vem refletindo as realidades políticas, sociais e econômicas do país. A atual forma de gestão em vigência, voltada à aplicabilidade social da água, remonta a discussões surgidas ainda no século XX, impulsionadas pelas inquietações e conflitos desenvolvidos entre os diversos atores do ambiente, tais como a sociedade, o poder público e as condições do próprio meio ambiente. A água, além de ser uma necessidade social e um recurso fundamental aos seres vivos, carece da mais ampla atenção no tocante à sua gerência. Uma gestão empenhada e que garanta ao mesmo tempo justiça social e sustentabilidade ambiental em torno dos recursos hídricos se faz necessária; contudo o empenho local é algo fundamental nesse processo. Outra premissa indissociável nesse processo de gestão dos recursos hídricos é a percepção ambiental, cuja valia é assegurada pelo princípio de que, esta, traz consigo a capacidade de os indivíduos (atores envolvidos em um ambiente) se identificarem como elementos cujas atitudes se complementam e também até se tornam dependentes das vicissitudes de meio ambiente em que estão inseridos; ensejando para tanto, nesses indivíduos, até mesmo enlaces afetivos.

No Brasil, a luta pela conquista de espaços para aumentar a participação social é sem dúvida um dos aspectos mais desafiadores para a análise sobre os alcances da democracia. As experiências de discussão participativa estão associadas à capacidade que os movimentos sociais tiveram de explicitar demandas relacionadas principalmente à distribuição de bens públicos e, no tocante aos recursos hídricos, isso vem aumentando progressivamente. No Estado da Paraíba existem ainda dois problematizadores em relação à gerência dos recursos hídricos: a irregularidade das chuvas e o agravamento das secas e, circunscrevendo essa implantação de gerência hídrica às microrregiões paraibanas vê-se certo descaso em não fomentar práticas e formação de órgãos gestores. Dentro desse contexto, não apenas a bacia hidrográfica ou mesmo suas sub-bacias, mas, fundamentalmente os pequenos tributários dessas, assim como os reservatórios que acumulam água para uso humano e afins, assumem papel fundamental em tempos de estiagem mais severas. Contudo nem sempre a preservação ambiental no entorno desses constituintes hídricos é implementada o que tem ensejado consequências danosas à população, uma vez havendo o comprometimento ambiental tanto dos corpos hídricos e a reboque, também dos reservatórios.

(16)

Tendo como pressuposto que os moradores de Picuí estão inseridos na sub-bacia hidrográfica do rio do Seridó, particularmente os residentes na área rural próxima ao rio Picuí, e que esses estabelecem relações ambientais individuais diversas, formadas por sua percepção, tanto sensorial como cognitiva além da atribuição de valores afetivos, permeando a valoração estética individual da paisagem – sob a forma de sentimentos – compõem uma fonte significativa de dados com relação à situação da qualidade ambiental da sub-bacia hidrográfica em questão, podendo-se direcionar o foco da pesquisa mais diretamente aos recursos hídricos.

A presente dissertação busca, portanto, averiguar se há percepção ambiental da população do entorno ambiental do açude Várzea Grande, em relação aos possíveis impactos causados ao rio Picuí e, por consequência, à água do referido açude. Quanto à estrutura, o trabalho está dividido em dois aportes principais – os quais se desdobram em cinco capítulos e suas subdivisões sistemáticas – um teórico e outro analítico.

No capítulo primeiro estão apresentados tópicos norteadores da apresentação estrutural da pesquisa: introdução, formulação do problema e objetivos.

No capítulo segundo é dada ênfase ao lócus observacional da área em estudo (o reservatório Várzea Grande e seu entorno ambiental), produzindo-se narrativas e descrições do processo histórico e dinâmico-ambiental tanto do município de Picuí/PB quanto do rio de mesmo nome, além do açude supracitado.

Segue-se, no capítulo terceiro, realizando uma discussão, compreensão e explicação envolvendo o arcabouço teórico concernente às temáticas abordadas neste trabalho (percepção ambiental, meio ambiente e recursos hídricos). Atrelada às considerações alusivas aos temas expostos, são considerados nesse capítulo os conceitos básicos da percepção ambiental no contexto do elemento água e das peculiaridades que lhe são conferidas. Abordam-se também aspectos legais que envolvem os recursos hídricos, seus usos e gestão. Discuti-se a importância das matas ciliares e das áreas de proteção permanente. Finaliza-se o referido capitulo debatendo-se a conceituação de bacia hidrográfica, dando enfoque também à açudagem.

No capítulo quarto, explicitam-se os procedimentos metodológicos da pesquisa; informando-se acerca do método e das técnicas aplicadas.

(17)

No capítulo quinto abordam-se os resultados e sua discussão. Apresenta-se a interpretação dos dados colhidos a partir das respostas apresentadas pelos moradores do entorno ambiental do açude Várzea Grande ao questionário proposto.

Por fim, serão ponderadas as conclusões e sugestões, cujo intuito resguarda o desejo de contribuir para melhoria da vivência social e ambiental, assim como a gestão dos recursos hídricos no açude Várzea Grande em Picuí/PB.

1.2. Formulação do Problema

A partir dos pressupostos elencados e, tomando-se por premissa os preceitos de percepção ambiental e gestão de recursos hídricos, propõe-se a seguinte problemática: Existe percepção ambiental dos moradores próximos ao açude Várzea Grande quanto aos impactos ambientais decorrentes da ação e ocupação antrópica nas margens do rio Picuí causados àquele rio e ao referido reservatório?

1.3. Objetivos 1.3.1. Geral

Averiguar se há ou não percepção – pela população residente aos arredores do açude Várzea Grande – quanto à degradação ambiental causada à água desse reservatório e ao rio Picuí.

1.3.2. Específicos:

• Identificar diferentes usos da água retirada no açude Várzea Grande.

• Reconhecer se há afetividade dos moradores do entorno ambiental do açude Várzea Grande pelo local em que residem.

• Averiguar como a percepção ambiental se insere no cotidiano da população ribeirinha rural e se a correlacionam a algum impacto causado ao açude Várzea Grande.

• Conhecer o nível de informação da população que reside às margens do açude Várzea Grande sobre a temática ambiental e gestão de recursos hídricos.

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CAPÍTULO 2 – CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2.1. O município de Picuí/PB

As primeiras incursões para colonização de Picuí ocorreram entre 1704 e 1706, quando o Presidente da Província da Paraíba era Fernando Barros Vasconcelos. No dia 26 de dezembro de 1704, Dona Isabel da Câmara, Capitão Antônio de Mendonça Machado, Alferes Pedro de Mendonça Vasconcelos e Antônio Machado requereram, e obtiveram por sesmaria, três léguas de terra (18 km) no riacho chamado PUCUHY. Posteriormente, no inicio do século XIX, outras famílias que vinham dos estados vizinhos requereram e obtiveram sesmarias nesta região, onde implantaram propriedades e algumas fazendas de gado, entre elas estavam Conde D'Ávila.

No local onde hoje se encontra a igreja matriz ficava o curral de gado da fazenda de Lázaro José Estrela. Ele havia cavado uma cacimba na confluência dos rios das Várzeas e do Pedro e, nos períodos de estiagem, abastecia os moradores das adjacências. Essa cacimba era bastante frequentada por uma espécie de pomba, conhecida como Pucuhy, que, em suas águas, saciavam a sede. Por esta razão, o local passou a ser chamado de Pucuhy. Posteriormente o nome foi mudado para Picuhy - uma palavra composta, unindo Pico (da serra Malacacheta) ao ípsilon (Y), forma da confluência gerada pela união do riacho do Pedro ao rio Picuí. Na nova ortografia, o nome passou a ser escrito Picuí.

Entre 1750 e 1760, novas correntes de povoamento se registraram com a aquisição de algumas propriedades, que tinham sido instaladas pelos primitivos. O povoamento inicial da região ocorreu onde hoje se encontra o município de Pedra Lavrada, tendo sido construída a primeira capela em 1760. No ano de 1856, o Nordeste brasileiro foi cenário de uma terrível epidemia de cólera-morbo, que matou milhares de pessoas. Os moradores da região, assustados com a mortandade e liderados pelo Coronel José Ferreira de Macedo, decidiram recorrer ao Mártir São Sebastião e juntos fizeram uma promessa ao santo. Após constatarem que não havia mais o surto da doença começaram a construir a capela de São Sebastião, hoje matriz de São Sebastião, padroeiro da cidade. Paralelamente à construção da capela, o Coronel construiu a primeira casa do povoado, conhecida como "A Venda Grande". Ele ocupou o cargo de fiscal e, com o seu prestígio, conseguiu trazer para o aglomerado o primeiro

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mestre-escola, o primeiro costureiro de roupas masculinas e o primeiro mestre de música. Dizem até que foi ele quem sugeriu o acréscimo de Triunfo ao nome de São Sebastião.

No dia 3 de setembro de 1857, o Padre Francisco de Holanda Chacon, de Areia, celebrou a primeira missa e, em volta da capela, surgiu o povoado de São Sebastião do Triunfo. Em 1874, através da Lei Provincial nº 597 de 26 de novembro, foi criado o Distrito de Paz da Povoação de São Sebastião do Triunfo. O distrito passou a chamar-se apenas de Triunfo. Mas, em 1888, quando a povoação foi elevada à categoria de vila pela Lei Provincial nº 876 de 27 de novembro, o nome passou a ser Picuhy.

O município de Picuí foi criado pelo Decreto nº 323 de 27 de janeiro de 1902, sendo instalado no dia 9 de março, a Lei Estadual nº 212 de 29 de outubro de 1904 mudou a sede do município de Cuité para Picuí. No ano de 1924, em 18 de março, Picuí passou ao posto de cidade através da Lei Estadual nº 599. Ao longo do século XX diversos municípios se desmembraram de Picuí, a exemplo de Cuité/Barra de Santa Rosa (1936), Nova Floresta (1959), Pedra Lavrada (1959), Cubatí (1959) Frei Martinho (1961) e Baraúna (1996).

2.2. Localização, Acesso e Aspectos Ecogeográficos Gerais.

O município de Picuí situa-se na região centro-norte do Estado da Paraíba (Figura 01), Mesorregião Borborema e Microrregião Seridó Oriental Paraibano. Limita-se com o Estado do Rio Grande do Norte e com os municípios de Nova Palmeira (17 km), Pedra Lavrada (27 km), Baraúna (13 km), Cuité (23 km), Nova Floresta (20 km) e Frei Martinho (22 km).

Figura 01: Representação da divisão física do estado da Paraíba. Destaque para o Município de Picuí. Fonte: CPRM. 2005.

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Sua distância até a capital é de 244,1 km (Figura 02). Apresenta uma área correspondente é de 734,1 Km² e está inserido nas Folhas Cerro-Corá(SB.-Z-B-III), Picuí(SB.24-Z-B-VI) e Jardim do Seridó(SB.24-Z-B-V), editadas pelo MINTER/SUDENE nos anos de 1970, 1970 e 1972, respectivamente. A sede municipal situa-se a uma altitude de 426 metros o possui coordenadas 6º 33´45´´S e 36º 18´ 45´´W.

São principais vias de acesso a Picuí, a BR 104 / PB 137 (vindo do sentido Campina Grande, através de Barra de Santa Rosa); a BR 230 / PB 177 (vindo do sentido Campina Grande, através de Soledade/Nova Palmeira); a PB 151 (não asfaltada), vindo de Nova Floresta; e a continuação da PB 151 que liga a Paraíba ao Rio Grande do Norte, tendo Carnaúba dos Dantas (RN) como cidade mais próxima.

A temperatura média anual desse município situa-se entre 23°C a 25°C; apresenta clima BSh na classificação de Köppen, semiárido quente, ocorrendo chuvas de outono e verão nesse município (CPRM, 2005). Sua vegetação é predominante é do tipo Caatinga-Seridó, exceção de uma área a nordeste, próximo ao município de Nova Floresta, com vegetação do tipo Caatinga-Matas Serranas e outra área a leste limitando-se com o município de Cuité cuja vegetação é do tipo Caatinga-Sertão.

Figura 02: Representação da divisão física do estado da Paraíba. Destaque para o território do município de Picuí, a mesorregião Borborema e sua distância em relação a algumas cidades paraibanas. Fonte: Famup, 2010. .

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2.3. População

Segundo o censo populacional de 2010 a população total do município de Picuí/PB é de 18.226 habitantes. Desse total, a população masculina é de 8.957, representando 49,14% do total e 9.269 mulheres, o que dá 50,86% dos habitantes de Picuí. O município tem uma população predominantemente urbana, com 12.122 habitantes, perfazendo 66,51% dos picuienses e 6.104 habitantes rurais, o que representa apenas 33,49% do total.

2.4. Economia

As atividades econômicas que compõem a renda do município são distribuídas na agricultura, pecuária, comércio, serviços e indústrias com destaque para extração mineral do granito, mica, caolin e tântalo. Picuí está entre os municípios que mais exportam na Paraíba, ocupando a 10ª posição no ranking estadual, com participação de 0.2% nas exportações do Estado, sendo o município que mais se desenvolveu no Estado da Paraíba em 2010, com um crescimento em torno de 39% em arrecadação de ICMS, conforme dados da Secretaria de Estado da Receita.

2.5. Caracterização Fluviomorfológica da Sub-Bacia do Rio Seridó.

A sub-bacia hidrográfica estudada está localizada essencialmente no substrato cristalino, com regime pluviométrico torrencial. Por conta desta condição, a principal contribuição de água para os reservatório nela presentes é o volume afluente superficial da bacia de drenagem. Os volumes não aproveitados correspondem às perdas por evaporação e infiltração.

De forma geral observa-se um regime pluviométrico torrencial, com chuvas de grande intensidade concentradas em pequenos intervalos de tempo, que aliado à predominância de solos rasos, de vegetação rala (caatinga) e de relevo acentuado contribui para a ocorrência de vazões concentradas em poucos meses ou dias do ano. A sub-bacia hidrográfica do rio Seridó está inserida em uma das regiões mais críticas do polígono das secas1 apresentando sérios problemas no que diz respeito às potencialidades e disponibilidade hídrica, à qualidade da água entre outros. O volume acumulado em seus reservatórios varia ao longo do ano, e de ano para ano, conforme variam as precipitações pluviais de sua bacia de drenagem.

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O Setor Leste da sub-bacia do rio Seridó, cujo principal rio empresta o mesmo nome à bacia, constitui-se basicamente pelas cabeceiras do rio Seridó e pelas sub-bacias de diversos afluentes da margem direita que o alcançam no estado do Rio Grande do Norte. Pela ordem decrescente de importância destacam-se o rio Picuí e os riachos Quinturaré, das Vazantes, Olho d’água e dos Dois.

No Setor Oeste da sub-bacia do Seridó, incluem-se as sub-bacias de diversos tributários da margem esquerda do rio Seridó, que o alcançam no Rio Grande do Norte, destacando-se com mais importância o rio Sabugi, os riachos Chafariz, São Domingos, Poço da Pedra, Cabaças, Santa Maria e São José. De maneira ampla, todos esses tributários têm suas nascentes situadas em cotas superiores a 600 m, com as bordas mais altas a leste, na direção Norte-Sul, ao passo que as bordas sul têm a direção Leste-Oeste. Ainda em relação à sub-bacia do rio Seridó, ela possui diversos reservatórios que são periodicamente monitorados (Figura 03) e apresenta como principais açudes: Várzea Grande (21.532.959 m³), São Mamede (15.791.280 m³), Santa Luzia (11.960.250 m³), Martelo (4.567.800 m³) e o Caraibeiras (2.709.260 m³). Nota-se, portanto, que o reservatório sobre o qual recai o presente estudo é um dos maiores da sub-bacia abordada.

Figura 03: Croqui das bacias hidrográficas e dos principais açudes do Estado da Paraíba. Destaque do autor. Fonte: AESA, 2011.

A vegetação existente se alterna com a presença de formações vegetais homogêneas, campos e pastagens rurais. Em relação ao uso do solo, as observações definem as ações antrópicas em termos de áreas cultivadas e áreas degradadas. É notório

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que a maior parte da sub-bacia do rio Seridó encontra-se coberta pela caatinga arbustivo arbórea aberta, apresentando solos rasos ou muito rasos e normalmente pedregosos. 2.6. Conhecendo o Reservatório Várzea Grande.

O açude Várzea Grande (Figura 04), apresenta coordenadas 6°26'44"S e 36°20'55"W, dista aproximadamente 7,5 Km da sede do município de Picuí e é um dos responsáveis pelo abastecimento hídrico daquele município.

Figura 04: Imagem do açude Várzea Grande, sua área de drenagem e o rio Picuí. Fonte: AESA, 2011. Destaque do autor.

O açude Várzea Grande é o maior em relação à capacidade de acumulação hídrica dentre os reservatórios do setor Leste da sub-bacia do rio Seridó. O quadro 01 abaixo apresenta os principais reservatórios e suas capacidades de acumulação hídrica. Quadro 01: Principais reservatórios da Sub-bacia do rio Seridó e suas capacidades de acumulação de água. Fonte: EASA, 2011.

RIO SERIDÓ Município Açude Capacidade Máxima (m³) Volume Atual (m³) Volume Atual (%) Data Picuí Caraibeiras 2.709.260 1.256.230 46,4 28/01/2011 Picuí Várzea Grande 21.532.659 12.215.570 56,7 01/03/2011 Santa Luzia Santa Luzia 11.960.250 4.519.225 37,8 02/03/2011 São Vicente

do Seridó

Felismina

Queiroz 2.060.000 1.210.620 58,8 08/02/2011 São José do

Sabugi São José IV 554.100 1.860 0,3 03/01/2011

São Mamede São Mamede 15.791.280 6.162.756 39,0 07/02/2011

Várzea Várzea 1.132.975 275.551 24,3 02/03/2011

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CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO 3.1. Considerações iniciais

A água é um dos elementos essenciais à vida. De acordo com algumas áreas do conhecimento humano (ciências físicas e biológicas), a água é descrita apenas uma substância incolor, sem cheiro, um elemento líquido composto e vital ao organismo dos seres vivos. No entanto, para outras áreas ligadas às questões sociais e econômicas, ela adquire potencial que a coloca como um componente vital da cadeia de produção industrial, agrícola e comercial, ou seja, adquire valor econômico.

O fato de o ser humano transpor-se e locomover-se pelas águas, realizando travessias e levando mercadorias de um lugar para o outro, assim como, a satisfação das necessidades ainda mais vitais dos seres vivos, transforma a água em um recurso de extrema importância. A humanidade, durante milênios, considerou-a como um recurso infinito capaz de suprir todas as necessidades humanas. Porém, com o passar do tempo, as necessidades humanas foram se tornando cada vez maiores e mais dependentes dos corpos hídricos. O uso da água foi tomando proporções cada vez maiores e isso levou a um consumo no meio urbano e rural (geração de energia, atividades industriais, irrigação, saneamento, navegação, recreação, pesca e piscicultura) ainda mais intensificado. Desta forma, ela passou a ter um valor econômico e de maior interesse para grandes contingentes populacionais. Tal interesse do homem pelos rios antecede a necessidade de seu uso nas indústrias modernas, e isso pode ser comprovado quando observamos as pinturas feitas por artistas do século XVI, que retratavam a paisagem natural das Américas logo que os desbravadores chegaram. A maior preocupação era mostrar a riqueza das águas e de tudo que as cercava.

Apesar de muitos entenderem que o ciclo natural da água promove a sua recuperação, na prática, não é o que se observa, tendo em vista os inúmeros fatores que interferem neste ciclo hidrológico. De acordo com Tundisi, “O ciclo hidrológico pode ser considerado um ciclo de vida, e a história natural da água no planeta está relacionada aos ciclos de vida e à história da vida” (TUNDISI, 2002).

Segundo BRANCO (1993), pode-se considerar três aspectos distintos na importância da água: 1 – como elemento ou componente físico do ambiente, 2 – como meio para o desenvolvimento de vida (ambiente aquático) e, 3 – como fator indispensável à manutenção da vida terrestre. Sendo assim, é indispensável para a vida

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em geral, incluindo diretamente a vida humana. Apesar de seu valor para a manutenção das funções vitais dos organismos vivos, é bastante comum e fácil observar seu desperdício, tanto em áreas urbanas como rurais. Este fato relaciona-se com a concepção amplamente incorporada ao conhecimento popular de que as reservas de água são infinitas e de que, ao menos para a parcela da população que dispõe de água encanada, basta abrir uma torneira, ou ir a um poço qualquer para obter este bem natural tão precioso, mais acentuadamente nas regiões do Brasil onde está disponível de forma abundante.

A água é um elemento mundialmente importante, estando envolvida diretamente na composição dos seres vivos e na geração de múltiplas atividades sócio-econômicas. A existência e o bem estar do homem e a manutenção dos ecossistemas do planeta, dependem diretamente da água, que deve ser tratada como um bem público essencial à vida (BARROS, 2006).

A gestão social da água em bacias hidrográficas é tomada nessa discussão textual, como um elemento que representa uma unidade geoespacial, que permite ter a bacia como unidade de planejamento. Santos assevera que

“[...] saber que o mundo é e como ele se define e funciona, de modo a reconhecer o lugar de cada país no conjunto do planeta e de cada pessoa no conjunto da sociedade humana. É desse modo que se pode formar cidadãos conscientes, capazes de atuar no presente e de ajudar a construir o futuro. (SANTOS, 1994).

Estratégias que estejam voltados para a qualidade de vida nas bacias devem ser aprofundadas no tocante ao pretexto sócio-ambiental. Faz-se necessário ressalvar que a água é um recurso natural de dimensão social Theodoro (2002); atitudes inconsequentes ou irracionais da sociedade humana como consumo descontrolado, somados ao desperdício, poluição, assoreamento, desmatamento das margens, técnicas de irrigação incorretas, entre outros agravantes climáticos arraigados em certas regiões, têm trazido consequências acumuladas irreversíveis, que vetam as bacias hidrográficas de continuar com seu curso natural.

Dessa forma, percebe-se que ao longo dos tempos, os recursos hídricos foram aceitos e descritos por meio do paradigma: a água é um recurso natural ilimitado que

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pode ser utilizado em abundância. Assim, o uso racional das águas não era previsto nas políticas públicas, de forma irrestrita. Todavia, é notório que as águas são recursos naturais integrantes no meio ambiente e, portanto, portadores de limitações quantitativas e qualitativas, devendo ser utilizados com moderação, racionalidade e eficiência.

Em sua história evolutiva o ser humano estendeu, encurtou, alargou, estreitou e enterrou os rios à sua vontade, tudo isso levou a mudanças na ordem natural das águas que tiveram consequências graves, tais como a salinização de terras, desertificação de regiões, enfim, etc. Daí porque compreender e apresentar, de forma correlata, a percepção ambiental e a gestão dos recursos hídricos é uma proposta concreta que ora vem a público com o propósito de contribuir com a formatação de uma gestão sustentada. Assim, o estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender melhor as interrelações entre o ser humano e o ambiente, suas expectativas, satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas.

3.2. Percepção Ambiental

O homem está constantemente agindo sobre o meio a fim de sanar suas necessidades e desejos, evidente que cada pessoa age e impõe seu grau de transformação de forma particular. Segundo Faggionato (2002), as respostas ou manifestações advindas das relações com o meio são, portanto resultado das percepções, dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada indivíduo. Embora nem todas as manifestações psicológicas sejam evidentes, são constantes, e afetam nossa conduta, na maioria das vezes, inconscientemente.

Em se tratando de ambiente urbano, muitos são os aspectos que direta ou indiretamente, afetam a grande maioria dos habitantes - pobreza, criminalidade, poluição, etc. Estes fatores são relacionados como fontes de insatisfação com a vida urbana. Entretanto há também uma série de fontes de satisfação a ela associada. As cidades exercem um forte poder de atração devido à sua heterogeneidade, movimentação e possibilidades de escolha.

Faggionato (2002), considera ainda que saber como os indivíduos agem e como percebem o ambiente em que vivem, suas fontes de satisfação e insatisfação é de fundamental importância, pois só assim, conhecendo a cada um, será possível a realização de um trabalho com bases locais, partindo da realidade do público alvo. O mesmo autor ainda reitera que existem trabalhos em percepção ambiental que buscam

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não apenas o entendimento do que o indivíduo percebe, mas promover a sensibilização, bem como o desenvolvimento do sistema de percepção e compreensão do ambiente.

Leff (2002) considera que todos os problemas ambientais que enfrentamos na atualidade estão no limite. Segundo ele:

“A crise ambiental é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise apresenta-se a nós como um limite no real, que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação da vida; limite da pobreza e da desigualdade social”.

Assim sendo é possível aludir que a complexidade da problemática ambiental poderá conduzir o ser humano a uma nova forma de ver e compreender as relações estabelecidas entre sociedade e natureza.

3.2.1. A Percepção Ambiental no Contexto das Bacias Hidrográficas.

Segundo Tuan (1983), a percepção é a resposta dos sentidos aos estímulos ambientais (percepção sensorial) e a atividade mental resultante da relação com o ambiente (percepção cognitiva). Pode-se assim compreender que esta percepção traz ao indivíduo novos dados para a compreensão de seu entorno ao estabelecer relações com o ambiente no qual está inserido.

Tuan (1983) considera ainda que a partir do estabelecimento de relações afetivas com o ambiente, cada indivíduo obtém informações que interferem nas formas de relacionamento dele com seu entorno, podendo promover mudanças de atitude a partir de certo grau de envolvimento. Esse autor ainda considera que todo lugar tem um valor relativo atribuído a ele em função das experiências pessoais individuais, que são criados a partir de uma complexa relação entre sentimentos e idéias formados ao longo da vida do indivíduo. De acordo com Santos (1994), a investigação da percepção nas relações ser humano/ambiente contribui para a utilização menos impactante dos recursos ambientais, possibilitando o estabelecimento de relações mais harmônicas entre o ser humano e o ambiente.

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Como toda pessoa percebe seletivamente o que é lhe é interessante de acordo com o seu contexto sócio-cultural (MACHADO, 2003), esta percepção leva ao aprendizado de informações sobre a realidade, através dos sentidos fundamentais (visão, tato, audição, paladar e olfato). Segundo Rio e Oliveira (1999), através da cognição, as informações percebidas pelos sentidos são processadas, selecionadas e armazenadas, de acordo com o interesse e a necessidade, recebendo então um significado para o indivíduo.

Não é vasto o arcabouço de pesquisas sobre os recursos hídricos e seu gerenciamento que leve em consideração qualquer forma de consulta ou participação popular, mantendo distante das decisões grande parte da população (MIRANDA, 2001; ALMEIDA e OLIVEIRA, 2003). A maior parte dos estudos realizados sobre desenvolvimento urbano com enfoque nos recursos hídricos apresenta um caráter técnico e, raramente, apresentam interações entre os aspectos políticos, sociais e econômicos (CASTRO, 1998), e menos ainda mostram resultados sobre pesquisas considerando a percepção ambiental como fonte de informações. Da mesma forma, também faltam estudos que integrem a sociedade em geral às questões ambientais, incluindo as relações com os recursos hídricos.

Assim, a população ainda parece ter pouca participação na tomada de decisões administrativas em relação aos bens públicos, incluindo-se a gestão dos recursos hídricos. Mesmo considerando o nível técnico-científico envolvido na relação entre a opinião popular e a tomada de decisões, deve-se também assegurar a participação da comunidade na administração pública, como exercício de sua cidadania, o que, segundo MACEDO e OLIVEIRA (1998), é pressuposto de eficácia para a gestão das águas.

Segundo BRASIL (2006), a sociedade ao buscar alternativas para a solução dos problemas relacionados aos recursos hídricos exerce um papel fundamental na sua gestão, compartilhando com o Governo os objetivos de garantir a qualidade e a quantidade da água e sua disponibilidade para consumo imediato e futuro. Procurando tornar as decisões da gestão pública mais democráticas, a população deve ser consultada, obtendo suas opiniões e sugestões a partir de levantamentos de dados que podem ser sob formatos diversos (p.ex.: audiências ou consultas públicas, entrevistas e questionários, participação em assembléias), a fim de subsidiar, com mais informações, novas reflexões para a tomada de decisões.

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3.3. Recursos Hídricos e a Necessidade de Gestão.

A água é um bem precioso e insubstituível. Além de ser um elemento vital para a existência da própria vida na Terra, ela é um recurso natural que pode propiciar saúde, conforto e riqueza ao homem, por meio de seus incontáveis usos, dos quais se destacam o abastecimento das populações, a irrigação, a produção de energia, a navegação e mesmo a veiculação e o afastamento de esgotos e águas servidas.

Em relação à água doce presente em rios, lagos e lençóis subterrâneos, essencial à maior parte das atividades humanas, no entanto, é um bem escasso: ela corresponde a menos de 0,3% do volume total da água do planeta. E, por ser depositária de boa parte dos resíduos gerados pelas atividades humanas, a água doce de boa qualidade torna-se um bem cada vez mais raro.

O Brasil, embora incluído entre os países de maior disponibilidade hídrica mundial, por conta de suas dimensões geográficas e condições climáticas diferenciadas, algumas regiões sofrem problemas graves de escassez de água, como a região semiárida do Nordeste e, mais recentemente, grandes metrópoles como São Paulo, Fortaleza, Recife, entre outras. Segundo Oliveira (2002), 97,9% dos municípios brasileiros têm serviços de abastecimento de água, porém apenas 75% do volume total necessário passam por processo convencional de tratamento, e apenas 20% têm simultaneamente os serviços de coleta e tratamento de águas residuárias. Nos demais, esses resíduos são lançados diretamente nas fontes hídricas, tornando essas águas, muitas vezes, impróprias para determinados usos.

Sob o aspecto de demanda/uso de acordo com a tipologia proposta por Erhard-Cassegrain e Margat (1982), a água possa assumir quatro tipos básicos de funções: • Biológica (constituição celular de animais e vegetais);

• Natural (meio de vida e elemento integrante dos ecossistemas);

• Técnica (aproveitamento pelo homem das propriedades de hidrostática, hidrodinâmica, termodinâmica etc. ou como fator de produção) e

• Simbólica (função associada a valores culturais e sociais).

Em áreas rurais, problemas de poluição dos recursos hídricos têm na atividade agrícola uma fonte em potencial, cujos principais impactos estão relacionados com desmatamento, revolvimento da camada arável do solo, favorecendo os processos

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erosivos, sedimentação e turbidez; uso inadequado da água, tendo como consequência, elevadas perdas de água, escoamento superficial de nutrientes, em especial fósforo, favorecendo a eutrofização das águas de superfície e a lixiviação de nutrientes para as águas subterrâneas, como nitrato e outros sais, contaminação por pesticidas, salinização dos solos, entre outros, (ONGLEY, 2001).

A ação degradadora do homem vem se intensificando, os mananciais estão sendo alterados, pouca atenção se dá às praticas conservacionistas e as condições ambientais são desfavoráveis. Dentre essas ações Vieira (1999), destaca: altas taxas de evaporação, solos rasos, cobertura vegetal rala, rios intermitentes, reduzida capacidade de autodepuração. Pelas diferentes condições elencadas, torna-se clara e urgente a necessidade de gerir corretamente o uso das águas nessa sub-bacia, uma vez que ela está inserido em um espaço no qual se apresentam tantas condições adversas à obtenção desse líquido. Esta necessidade, não é apenas fruto das catástrofes ambientais, que se inserem na temática dos recursos hídricos e os coloca como centro das transformações, mas, entretanto, das primazias dos elementos que fazem a bacia ter vida. É nessa interação dos elementos naturais: solo, água, cobertura vegetal, corpo hídrico, regime de precipitações e a ação humana, que juntos formam um tabuleiro que apresentam um papel importante na funcionalidade da bacia. Penteado (2003) salienta que:

Compreender as questões ambientais para além de suas dimensões biológicas e físicas, enquanto questões sócio-políticas exige a formação de uma ‘consciência ambiental’ e a preparação para o ‘pleno exercício da cidadania’, fundamentadas nas Ciências Humanas.

As bacias hidrográficas na atualidade são berços de conflitos sociais, onde a população local quase sempre é excluída, tendo seu usufruto destinado meramente ao consumo para satisfazer a sede. Neste sentido, os conflitos socioambientais são notórios, além do que, em muitos casos, as barragens são geradoras de injustiça ambiental, segundo destaca Suassuna (1999). A água é o principal elemento que abriga e rege a vida em todos os sentidos e que sem ela todas as formas de vida produtiva estão fadadas a se esgotar.

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Nesse contexto, Campos et al (2001) salienta que “sociedade/natureza, responsável pela dinâmica natural e sociológica que faz da bacia hidrográfica o lugar do ser e, na visão geográfica, pelo estudo das interrelações”. É necessário, portanto, que as políticas para a gestão social da água contemplem principalmente uma relação e uma ordenação no uso desse recurso, devendo para tanto existir um planejamento, diálogo e união. Observar e cuidar do entorno ambiental em que se apresenta a bacia. O meio ambiente compreendido como um processo que envolve relações complexas que contornam e acolhem os seres vivos, os recursos naturais e as instituições, carece de melhor compreensão. Nesse sentido Rattner (2001) aventa uma definição para o ecossistema pelo prisma de uma complexidade físico-biológico-social que abrange o habitat, da espécie humana.

De forma insofismável, atualmente o conceito de meio ambiente também requer melhores esclarecimentos, na busca de resoluções de problemas. Barbosa et al (2006) admoesta para a dualidade existente no contexto da gestão de recursos hídricos:

Essa lógica de gerenciar os recursos hídricos apresenta um viés dicotômico de enfrentamento e estranhamento. O enfrentamento é a parte do gerenciamento que é impulsionado pelo discurso político de acirramento e medidas de ajustes não-estruturais; enquanto que o estranhamento é rejeitado e descartado. Em síntese, o estranhamento (ou o diferente) não é uma dimensão aceita por grande parte de gestores hídrico-ambientais, porque estes não conseguem lidar com problemas incertos e imprevisíveis.

Observa-se, seguindo a lógica de Barbosa et al (2006) que a gestão de recursos hídricos (ou mais além, a opção pela gestão) detém-se sobre a égide do favorável. Quando se fala em água, estamos tratando de algo fundamental à existência humana, algo que se deve considerar sua universalidade, assim tratando-se a água de um recurso partilhado pelos mais diversos setores de atividade, não pode deixar de estar sujeita a um regime complexo de utilização e jurisdição que tem evoluído ao longo do tempo.

Setti (2001) tece conceitualmente que o gerenciamento de águas deve seguir um conjunto de ações governamentais destinadas a regular o uso, o controle e a proteção das águas e a avaliar a conformidade da situação corrente com os princípios doutrinários

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estabelecidos pela política das águas. Ainda conforme o autor supracitado, uma gestão de águas eficiente deve ser embasada por uma política que apresente com transparência suas diretrizes gerais, um modelo de gerenciamento que demonstre claramente a sua organização legal e institucional e um sistema de gerenciamento que agregue os instrumentos para concretização do planejamento do uso, controle e proteção das águas.

A população mundial estimada para o ano 2030 é de, aproximadamente, 8 bilhões de habitantes, com uma taxa de crescimento anual em torno de 1,33%; isto significa um considerável aumento de pessoas nos próximos 30 anos (Forno, 1999). Este crescimento populacional requer aumentos na produção agrícola, estimados em 40-50%, com consequentes aumentos no consumo de água, principalmente para uso na irrigação, uma vez que a agricultura irrigada responde com 1/3 da demanda de alimentos e fibras da população (Ongley, 2001). Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o consumo mundial de água aumentou mais de seis vezes em menos de um século, mais do que o dobro das taxas de crescimento da população, e continua a crescer com a elevação do consumo dos setores agrícola, industrial e doméstico. Estes estudos demonstram também que nos próximos anos a situação global das reservas hídricas tende a piorar, tanto nos aspectos quantitativos quanto qualitativos caso não haja ações enérgicas visando à melhoria da gestão da oferta e da demanda da água para diferentes usos (Freitas e Santos, 1999).

De acordo com Brown et al. (2000), esta situação se tornará mais crítica em 34 países da África e do Oriente Médio, classificados atualmente como hidricamente estressados, onde se localizam grandes bolsões de pobreza, contendo uma população de 1,2 bilhão de pessoas famintas e sem acesso à água potável. Afirmam, também, que o mundo ao se defrontar com a escassez de água também se defrontará com a escassez de alimentos, uma vez que são necessárias 1000 toneladas de água para produzir uma tonelada de grãos; portanto, a competição pela água, tão debatida nos fóruns nacionais e internacionais, provavelmente ocorrerá nos mercados mundiais de alimentos.

Para amenizar estes problemas, este autor recomenda diferentes medidas técnicas, gerenciais, institucionais e agronômicas, que devem ser consideradas de acordo com cada situação específica, como:

• Técnicas - sistemas de irrigação que proporcionem maior eficiência de distribuição de água, visando minimizar as perdas por evaporação, infiltração e

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escoamento superficial e, consequentemente, reduzir a salinização dos solos e a contaminação das fontes hídricas superficiais e subterrâneas;

• Gerenciais: aplicação de água no momento correto; métodos adequados de preparo do solo; melhor manutenção dos sistemas de distribuição de água e reciclagem de águas residuárias;

• Institucionais: organização dos usuários, cobrança pelo uso da água e fomento à infra-estrutura rural para disseminação de tecnologias de treinamento e extensão;

• Agronômicas: seleção de variedades agrícolas com altos rendimentos por litro de água transpirada; intercultivo para maximizar o uso da umidade do solo; melhor ajuste das lavouras às condições climáticas e qualidade da água disponível; culturas resistentes à seca onde houver limitação de água e cultivo de variedades eficientes em termos hídricos.

Gliessman (2000) ressalta que quando novas medidas tecnológicas são utilizadas prioritariamente com base em sua capacidade de aumentar rendimentos e reduzir custos e, apenas secundariamente para reduzir impactos ambientais, elas têm baixa probabilidade de contribuir com a sustentabilidade em longo prazo e cita que as políticas contempladas pelos projetos de irrigação, em geral, são implementadas com base na rentabilidade econômica de curto prazo e os impactos ambientais destas práticas e políticas correntes só irão manifestar-se após algumas décadas. A sustentabilidade, ao contrário, requer que o planejamento e a tomada de decisões aconteçam num horizonte de tempo muito mais longo do que o considerado pela maioria dos impactos econômicos. Afirma, ainda, que é impossível saber, com certeza, se uma determinada prática ou conjunto de práticas, de fato, garante a sustentabilidade. Contudo, é possível demonstrar se esta prática está se afastando da sustentabilidade.

Ongley (2001) define desenvolvimento sustentável como “o manejo e a conservação dos recursos naturais com base na orientação das mudanças tecnológicas e institucionais, de modo a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas, seja no presente como nas futuras gerações. Desta forma, tem como princípio conservar terra, água, recursos genéticos, ser ambientalmente não degradante, tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável”. Ainda segundo o mesmo autor, um dos grandes desafios que a humanidade enfrenta atualmente é desenvolver uma agricultura sustentável, implicando não apenas em

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assegurar a produção de alimentos, mas, também, em que os impactos ambientais, sociais e econômicos, sobretudo na saúde humana, sejam reconhecidos e suas soluções contempladas nas políticas governamentais.

Tais considerações reforçam e corroboram com Coimbra (2000), quando afirma que o padrão de qualidade de vida de uma população está diretamente relacionado à disponibilidade e à qualidade de sua água, sendo esta o recurso natural mais crítico e mais suscetível de impor limites ao desenvolvimento em muitas partes do mundo.

Theodoro (2002) afirma que a disponibilidade de água no planeta tem permanecido constante nos últimos 500 milhões de anos, não existindo, portanto, problemas de escassez em nível global. Todavia, deve-se ressaltar que este potencial nem sempre está disponível para ser utilizado para consumo humano e desenvolvimento das atividades socioeconômicas, e que os percentuais disponíveis são mal distribuídos. A disponibilidade referida não deve considerar aspectos relacionados ao aumento da demanda mundial da água e sua redução pela poluição, principalmente nas últimas décadas.

Rebouças (1999) considera que “disponibilidade de água” é a quantidade efetivamente disponível, de forma duradoura e permanente. Este autor ressalta que o Brasil detém 13,8% da disponibilidade hídrica mundial, tornando-o, em termos quantitativos, um dos países mais ricos do mundo em águas doces, apresentando uma média per capita de, aproximadamente, 32.000 m³.

No tocante às divisões hidrográficas ressaltam-se, no Brasil, as 12 (doze) grandes regiões hidrográficas existentes no território brasileiro, segundo consta na Resolução nº 32 de 15 de Outubro de 2003 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH: Amazônica, Tocantins-Araguaia, Atlântico Nordeste Ocidental, Parnaíba, Atlântico Nordeste Oriental, São Francisco, Atlântico Leste, Atlântico Sudeste, Paraná, Paraguai, Uruguai e Atlântico Sul.

A produção hídrica, entendida como sendo o escoamento anual médio dos rios que deságuam no oceano, em território brasileiro é de 168.790m³/s. Levando-se em consideração a vazão produzida na área da bacia amazônica que se encontra em território estrangeiro, estimada em 89.000m³/s, essa disponibilidade hídrica total atinge 257.790 m²/s. Entretanto, a distribuição regional deste recurso é bastante heterogênea, devido à sua dimensão territorial e à ampla diversidade climática. A bacia hidrográfica

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amazônica, por exemplo, contempla 48,5% desta disponibilidade, porém, pouco ocupada e desenvolvida industrialmente, quando comparada às demais regiões; a bacia do Atlântico Leste, considerada a mais crítica, apresenta um quadro de baixa disponibilidade hídrica associado a uma concentração populacional mais elevada. Estas bacias apresentam uma disponibilidade hídrica média per capita de grande amplitude, variando de 628.938 a 1.835 m³ hab./ano, respectivamente. Apesar de este valor parecer baixo, é considerado razoável de acordo com estimativas das Nações Unidas, que recomendam um mínimo de 1.000 m³ hab./ ano (Freitas e Santos, 1999). Diante deste cenário, o maior desafio a ser enfrentado pela humanidade neste século, talvez não seja a escassez de água, mas um adequado gerenciamento dos recursos hídricos em níveis global e regional, de forma consciente e participativa, envolvendo todos os atores do processo, tendo início com a educação ambiental.

3.3.1. Água: Usos principais

A Lei 9.433 de 08 de Janeiro de 1997 aborda de forma sine qua non como um de seus fundamentos, preceituado no art. 1º, parágrafo III, que em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais. No mesmo artigo, agora no parágrafo VI, essa Lei ratifica ainda como fundamento que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Branco e Rocha (1987) observam que cotidianamente são diversos os usos que se destinam a água, dentre os quais eles destacam:

a) Abastecimento domiciliar

Em relação ao uso domiciliar a água é usada de várias maneiras, mas todos elas devem estar padronizados em relação com a atividade mais nobre possível, que é o da água para beber. Branco (1993) revela que o ideal seria, contudo, dispor de duas redes abastecedoras diferenciadas, uma destinada a fornecer água de qualidade melhor (para bebida, cozimento de alimentos e asseio pessoal) e outra para usos menos exigentes (lavagem, irrigação, etc.).

Como isto geralmente não acontece e toda a água é produzida e distribuída através de processos comuns, deve exigir-se que ela pelo menos seja potável,

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entendendo por tal aquela que, sem a necessidade de qualquer tratamento adicional, seja inócua do ponto de vista fisiológico e organoléptico.2

Sob o ponto de vista fisiológico o maior problema, segundo Machado (2003) são a presença de microorganismos patogênicos (vírus, fungos, protozoários, bactérias e vermes) eliminados pelo próprio ser humano; daí a importância dos esgotos. O segundo maior problema - e que está em estado permanente de crescimento - é a presença de tóxicos de origem química que são despejados pela indústria (e a agricultura).

b) Abastecimento industrial

Em cada caso, a água utilizada deverá cumprir certas exigências. A água potável é em geral suficiente, mais às vezes não, exigindo, como no caso de certos processos químicos e farmacêuticos, água destilada. Em outras atividades como em indústrias que usem caldeiras o principal cuidado deve ser com a ação corrosiva e precipitante de certos sais contidos na água e capazes de danificar as tubulações.

c) Irrigação

Aqui o padrão estético é secundário. Ongley (2001) afirma que é fundamental que a água usada naqueles produtos que se comem crus - como as frutas e verduras - seja potável, porque em caso contrário, poderá transmitir doenças importantes tais como hepatite, disenteria, febre tifóide, amebíase e verminoses intestinais.

d) Sobrevivência da fauna e da flora

A fauna e a flora aquática exigem basicamente duas condições: que não haja substâncias tóxicas (metais pesados, agrotóxicos, etc.), assim como que exista uma concentração adequada de oxigênio dissolvido. Neste último caso, esta concentração pode ser afetada por fatores tais como temperatura, sendo que as águas de resfriamento industrial ainda que limpas reduzem drasticamente o oxigênio dissolvido, comprometendo a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais. Por outro lado, o despejo de matéria orgânica abundante (por exemplo vinhoto) nas correntes de água, provocando uma proliferação excessiva de decompositores faz com que o oxigênio seja consumido em doses crescentes.

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Cada uma das propriedades físicas ou químicas pelas quais as substâncias são capazes de atuar sobre os sentidos ou sobre os órgãos.

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e) Produção de energia

No caso das usinas termoelétricas, que usam caldeiras, os problemas mais importantes são entupimento e corrosão das tubulações. Já no caso das usinas hidroelétricas, que usam turbinas, as restrições são mínimas, a não ser que se trate de águas extremamente poluídas, onde as emanações de gás sulfídrico podem se transformar em ácido sulfúrico e danificar as pás das turbinas, que também podem ser afetadas pela excessiva proliferação de vegetação flutuante, tipo aguapé.

f) Recreação

Em geral exige-se um alto padrão de qualidade, sobretudo quando a água é usada para natação ou banhos, levando-se em conta que geralmente certa quantidade de água pode ser ingerida e que ela está em contato constante com os olhos, os ouvidos e a pele em geral. Freitas (1999) revela que o problema dos esgotos derramando-se leitos dos rios é um problema muito sério, tanto do ponto de vista estético como sanitário.

É necessária a compreensão de que a água deve ser - em geral - tratada com um intuito de enfrentar três grandes problemas: presença de materiais tóxicos (metais pesados, resíduos químicos), presença de microorganismos patogênicos e presença de matéria orgânica maciça. Na verdade há grandes possibilidades técnicas de enfrentar estes problemas. Por exemplo, apenas três grandes grupos de indústrias (as de alimentação, papel e produtos químicos), geram segundo Brubaker (1972) 90% dos despejos hídricos. Este autor menciona que os custos de tratamento das águas na maioria dos casos são relativamente baixas, não afetando o preço de venda final dos produtos em mais de 1%. Em outros casos pequenos concessões por parte do público consumidor (produtos menos refinados) seriam muito úteis.

3.3.2. Usos da água no Brasil e no nordeste brasileiro

No que se refere aos diferentes usos da água, predomina hoje, no Brasil, o princípio de “bem coletivo”. A Constituição de 1988 estabelece que, praticamente, todas as águas são públicas, sendo que, em função da localização do manancial, elas são consideradas bens de domínio da União ou dos estados. Deixam de existir, desse modo, as águas comuns, municipais e particulares, cuja existência era prevista no Código de Águas de 1934.

Essas definições e categorias são fundamentais para que se definam os princípios de uma gestão para o recurso. Essa gestão, concebida a partir da definição de regras de

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