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IMPACTOS SÓCIOTERRITORIAIS DA IMPLANTAÇÃO DO PORTO DO AÇU

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Academic year: 2021

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IMPACTOS SÓCIOTERRITORIAIS DA IMPLANTAÇÃO DO PORTO DO AÇU

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense luanaarodrigues@yahoo.com.br Luana do Amaral Rodrigues Daniel Trindade Palmeira Linovaldo Miranda Lemos

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca investigar as novas territorialidades e relações de poder que se configuram a partir das mudanças causadas no território, através da questão imobiliária e pelo processo de apropriação territorial, no período de implantação do complexo portuário do Açu, no município de São João da Barra, situado na região Norte do estado do Rio de Janeiro. Essas são questões sócioespaciais por excelência na medida em que rebatem no território por meio da ação de novos atores que intervém no espaço e modificam sua dinâmica (RAFFESTIN,1993). O município está inserido numa região caracterizada por uma economia pauperizada, resultante de sua base de uma economia agropecuária pouco produtiva e de uma indústria agroaçucareira em constante crise. Mais recentemente torna-se dependente do repasse dos royalties do petróleo, chegando o mesmo a contribuir com mais de 50% de toda a receita (BARBOSA,2003).

A construção de um empreendimento do porte do Complexo Portuário do Açu se apresenta no território como fator determinante para uma reorganização espacial e social. Visto as novas demandas criadas pelo projeto, o Município de São João da Barra passa por um processo de transformação das suas esferas, já apresentando significativas mudanças na fase de construção do Complexo. O surgimento de grupos organizados em defesa dos seus direitos dá indícios do intricado processo resultante da apropriação do espaço pelo grande capital, representado pelo grupo empreendedor, e a intervenção do Estado para facilitação de tramites burocráticos. A desapropriação de terras em localidades, antes classificadas com rurais, para a construção do Pátio logístico do Porto indicam a priorização por políticas de incentivo ao desenvolvimento regional em detrimento das identidades territoriais.

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Fluminense, que já tem confirmado sua vocação industrial nas ultimas décadas com a vinda da Petrobrás e outras empresas ligadas ao petróleo, tornando concreto o projeto de forças políticas da criação de um possível corredor industrial. Diante deste quadro, é possível afirmar que este empreendimento provocará consideráveis impactos sócio-territoriais já em sua fase de construção, por agregar ao espaço apropriado novos atores que serão determinantes na construção de novos arranjos sociais como a dinâmica de “desterritorialização” e “reterritorialização” geradas pelo processo de desapropriação de terras no Quinto distrito do Município de São João da Barra (HAESBAERT,2002).

OBJETIVOS

A pesquisa tem como objetivo detectar e analisar os impactos sócioterritoriais causados pela implantação do Complexo Portuário do Açu, no município de São João da Barra, a luz de conceitos geográficos para o estabelecimento de uma discussão critica sobre a nova dinâmica que se estabelece no cenário local e regional.

O período de pesquisa pretende abranger a fase de construção, que teve seu início no ano de 2007 e está previsto para 2012 a conclusão das obras.

Neste momento, a pesquisa se detém a investigar o processo de desapropriação das terras do 5º distrito e as possíveis consequências.

Este trabalho possui relevância social por desenvolver uma postura crítica em relação às mudanças no espaço, além de fornecer subsídios para elaboração de políticas públicas.

METODOLOGIA

O estudo começou a ser realizado no ano de 2009 no Núcleo de Estudos Geográficos (NEGEO) no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFF Campus Campos-Centro), Campos dos Goytacazes, RJ.

A metodologia empregada consiste na realização de uma análise bibliográfica sobre a estrutura fundiária e econômica da Região Norte Fluminense, com enfoque no município de São João da Barra, a fim de organizar uma breve retrospectiva histórica do município e a análise dos EIAs/RIMAs do Complexo portuário para efeito de conhecimento do projeto.

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Foi também utilizado o método de entrevistas semi-estruturadas para o levantamento de opiniões e informações, de forma a conhecer a visão de diferentes representantes da sociedade e suas conseguintes participações. As entrevistas, neste primeiro momento, foram realizadas com os corretores de imóveis e com representantes do movimento de resistência à desapropriação de terras para a construção do pátio logístico. Para a realização das entrevistas, foi feito, respectivamente, um levantamento das imobiliárias do município em questão e um acompanhamento das ações do movimento dos produtores rurais.

O grupo de pesquisa realizou visitas ao canteiro de obras aonde pôde ser observado o processo de evolução da construção do complexo portuário do Açu; o crescimento de estrutura interna do canteiro de obras, contando com bases de apoio ao Complexo, como por exemplo, a fábrica de cimento e de outros materiais usados na construção da ponte de acesso; a modificação no espaço através da intervenção na vegetação local, além do processo de urbanização e, principalmente, da revitalização das estradas de acesso ao local das obras. Em algumas comunidades que integram o quinto distrito de São João da Barra, como Campo da Praia, todos os seus moradores serão desapropriados, o que representa um importante impacto social do Complexo. Todas as visitas foram acompanhadas por registro fotográfico, cujas imagens compõem o arquivo fotográfico da pesquisa.

A pesquisa ainda realiza a construção de um clipping a partir de noticias relacionadas ao Porto do Açu como estágio das obras, eventos organizados pela empresa LLX, convênios e parcerias firmadas e ainda episódios como a tentativa de desapropriação de terras no 5º distrito do Município de São João da Barra e os movimentos de protesto dos moradores e proprietários. As fontes das notícias são três jornais do Município de Campos dos Goytacazes: O diário, Folha da Manhã e Monitor campista (saiu de circulação no mês de Outubro de 2009) que abrangem os municípios da região em que está inserida, e ainda, de Jornais de circulação nacional com eventuais noticias. Além do jornal convencional são visitados alguns sites de jornais e de boletins de noticias, como por exemplo, o G1 e ainda alguns blogs que tratam de assuntos regionais.

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Com o acompanhamento da fase inicial da construção do Complexo Portuário, previsto para 2012 o início de suas operações, a pesquisa pôde detectar consideráveis modificações na dinâmica do Município de São João da Barra. Uma das mudanças é a super valorização dos imóveis do município, levando em consideração os para locação como os para venda. Foi constatado, através das entrevistas com os corretores das imobiliárias do município, que os preços para locação valorizaram 100%, já os para venda, 50%. Este processo concretiza-se devido as grandes expectativas geradas pelos novos investimentos realizados na região, alimentando nos pequenos empresarios, donos de imóveis e a população como um todo; a esperança de um eminente desenvolvimento local. Geram-se assim, um processo de especulação imobiliária a partir da intensa procura por imóveis para locação (para comportar trabalhadores) e terras para compra (para construção do Complexo de outras empresas). No entanto, esta demanda não se constitui como um fato consolidado, tendo em vista que a procura foi intensa no início das obras e diminuiu de acordo com a acomodação dos envolvidos no processo. Ao final do peródo de entrevistas, foi possível observar já uma reverção no quadro analisado acima. Muitas das empresas que locaram imóveis comportarem seus empregados, tanto para grupos como para famílias, começaram a remanejar estes para o município de Campos dos Goytacazes pela oferta de aluguéis com valor inferior locados em no município de São João da Barra.

Um outro resultado detectado pela pesquisa foi a geração de conflitos entre os produtores rurais, o empreendedor e o governo do Estado do Rio de Janeiro. A partir da publicação do decreto Nº 41.584 no diário oficial, onde declara a área do 5º distrito do município de São João da Barra de utilidade pública, para fins de desapropriação, em favor CODIN (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro) para o fim de implantar um distrito industrial, gera-se um ambiente de insatisfação e revolta por parte dos proprietários de imóveis localizados no 5º Distritro do município, área responsável por desenvolver a agricultura familiar e a produção pecuária, dando início a um processo de busca por apoio à causa e negociação com o Estado. A medida de desapropriação da área foi classificada como essencial para a concretização do projeto de construção do pátio logístico que integrará o Complexo portuário. O impasse criado na área tem se configurado como o nascimento de um possível regionalismo de caráter popular. A busca por um discurso

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homogêneo entre os proprietários afetados, direto ou indiretamente; as articulações realizadas entre diverso profissionais e representantes do poder legislativo, como advogados, intelectuais e vereadores, na tentativa de defender e buscar possíveis soluções para o problema, gerado pela apropriação territorial, dão indícios de construção de uma identidade territorial(VAINER,1995).

A necessidade pela apropriação de áreas para a construção do Pátio Logístico do porto do Açu levou o Governo do Estado do Rio de Janeiro a assinar em 2009 o decreto de desapropriação, tornando a área do 5º distrito disponível para expansão industrial. O decreto abrange 1403 lotes de terreno, sofrendo algumas alterações logo depois.

As localidades que fazem parte deste distrito desenvolvem uma agricultura familiar e também uma pecuária de pequeno porte, responsável pela subsistência dos seus moradores. Esta área que era considerada rural torna-se, em 2008, área industrial segundo o Macro zoneamento realizado pela Prefeitura do município (Portal da PMSJB).

A desapropriação dos proprietários desta área significa o desaparecimento de localidades inteiras, marcadas por uma forte identidade territorial pela constituição de famílias tradicionais, marcante religiosidade, anos de dedicação ao trabalho no campo. Elas deverão passar por um forçado processo de “desterritorialização”, ou seja, desvincular-se ao território, deixar o sentimento de pertencimento e identificação com o espaço habitado. E, possivelmente, encaminhar-se para uma “reterritorialização” (HAESBAERT, 2002), num possível remanejamento das famílias atingidas para área preparadas pelo Estado, como forma de diminuir os impactos.

O quadro de geração do conflito apresenta-se devido a intensificação de políticas de incentivos às grandes empresas que se apropriam de áreas relativamente disponíveis (pouco adensadas, não metropolitanas) e estabelecem novas funções a este espaço apropriado, levando as populações que antes configuravam o território a uma forçada readaptação que não necessariamente irá se beneficiar do desenvolvimento gerado pelo investimento industrial.

É possível afirmar, através dos resultados obtidos, que este empreendimento provocará consideráveis impactos sócioterritoriais já em sua fase de construção, como se apresenta, produzindo mudanças de base em todos os aspectos que caracterizam a região em que está sendo instalado.

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REFERÊNCIAS

BARBOSA, Pedro Paulo Biazzo de Castro. A constituição de uma periferia em face da modernização: a produção de açúcar e álcool no Brasil e as transformações na Região Norte Fluminense. In: Revisando o Território Fluminense. Rio de Janeiro: NEGEF, 2003.

BRASIL, Lei nº 8.630, de 25 de fevereiro de 1993. Dispõe sobre o jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias e dá outras providências. (Lei dos portos). Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l8630.htm.

HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

_______. Concepções de territórios para entender a desterritorialização. Texto mimeo, 2002.

LEMOS, Linovaldo Miranda; RODRIGUES, Rejane. Estagnação e modernização: Os impactos territoriais de um complexo portuário de uma Região tradicional.

MONIÉ, Frederic; VIDAL, Soraia. Cidades, portos e cidades portuárias na era da integração. Revista de Administração Pública volume 40 n.6 Rio de Janeiro, 2006.

OLIVEIRA, A. U. Agricultura e Indústria no Brasil. In: Cadernos do 3° Encontro Nacional de Geografia Agrária. Rio de Janeiro, 1980.

QUITO JR, Luiz de Pinedo. Projeto Porto do Açu. Nova frente urbana de um porto privado.

RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São Paulo: Ática, 1993.

SOUZA, Marcelo José Lopes. O território: sobre espaço e poder , autonomia e desenvolvimento. In: CASTRO, Iná Elias de; GOMES, Paulo Cesar da C.; CORRÊA, Roberto Lobato (Orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

VAINER, Carlos. Regionalismos contemporâneos. In: AFFONSO, Rui de Brito Álvares; SILVA, Pedro Luiz (Orgs.). A federação em perspectiva: ensaios selecionados. São Paulo: FUNDAP, 1995.

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