Archivos de Zootecnia
Universidad de Córdoba España pa1gocag@lucano.uco.es
ISSN (Versión impresa): 0004-0592 ISSN (Versión en línea): 1885-4494 ESPAÑA
2007
N. M. V. da Silva / M. N. Ribeiro / L. L. da Rocha / M. A. C. Lara / M. A. Gomes Filho / R. C. B. da Silva
CARACTERIZAÇÃO DA ESTERASE-D EM CAPRINOS DA RAÇA CANINDÉ Archivos de Zootecnia, diciembre, año/vol. 56, Suplemento 1
Universidad de Córdoba España Córdoba, España
pp. 467-471
Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal Universidad Autónoma del Estado de México
CHARACTERIZATION OF ESTERASE-D LOCUS IN GOATS OF CANINDE BREED* Silva, N.M.V. da1, M.N. Ribeiro*2, L.L. da Rocha3, M.A.C. Lara4, M.A. Gomes Filho5 e
R.C.B. da Silva4 1Alumno de Zootecnia, UFRPE.
2Profesora de Zootecnia, UFRPE. Av. Dom Manuel de Medeiros s/n. Dois Irmãos 52171-900 - Recife/PE. Brasil. *Autor correspondencia: mn.ribeiro@uol.com.br
3Alumna de posgrado em Zootecnia.
4Investigadora del Instituto de Zootecnia de São Paulo. 5Profesor de Morfologia, UFRPE.
PALAVRASCHAVEADICIONAIS
Marcador molecular. Heterozigosidade. Recur-so genético.
ADDITIONALKEYWORDS
Molecular marke. Heterozigosidade. Genetic resource.
RESUMO
O presente trabalho visa avaliar a variabilidade genética de caprinos da raça Canindé, localiza-das no município de Floresta no Estado de Per-nambuco. Para a avaliação genética, foram coletadas 90 amostras sangüíneas ao acaso de caprinos da raça Canindé, estas foram processadas, e acondicionadas para possível identificação das proteínas. O estudo foi realiza-do com base em 3 sistemas protéicos, onde estão relacionados aos eritrócitos: esterase D (Est-D), diaforase-I e II ( DIA-I e DIA-II). No respec-tivo estudo, foi empregada a técnica de eletroforese convencional para os três sistemas protéicos. Foram encontrados três fenótipos para a proteína da esterase D, denominados Est-D 11, Est-Est-D 12 e Est-Est-D 22, com freqüência genotípica de 0,067; 0,58 e 0,35, respectivamen-te, sendo estes considerados produtos da expressão dos alelos Est-D 1 e Est-D 2. O alelo Est-D2 foi o mais freqüente (0,75), contudo a
heterozigosidade observada na população foi baixa com 36,94%. A Dia-I e Dia-II não apresentaram variabilidade, caracterizando-se como monomórficas. Os loci analisados não apresentaram desvio significativos do equilíbrio de Hardy- Weinberg (p>0,05).
SUMMARY
The Canindé breed due to adaptative traits that allow to survive and the reproduction in hash environment represents important animal genetic resource, that needs to be conserved and better characterized. The present work had as objective to know the variability of the esterase-D locus in Canindé breed. Samples of ninety animal of a herd raised on Floresta municipality, in Pernambu-co State had been analyzed with Pernambu-conventional technique of eletrophoresis. The three phenotypes found were called D11, Est-D12 and Est-D22, products of the expression of the allele Est-D 1 and Est-D 2. The Est-D 12 alele *Apoio: Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado
Archivos de zootecnia vol. 56, Sup. 1, p. 468.
SILVA, RIBEIRO, ROCHA, LARA, GOMES FILHO E SILVA
was the most frequent in this herd. These results will be analyzed join to other markers to get better characterization of that herd.
INTRODUÇÃO
As raças caprinas nativas do Brasil originaram-se a partir de raças trazidas pelos colonizadores portugueses e espanhóis. Após o século XIX, foram introduzidos caprinos exóticos melhorados substituindo as raças locais, provocando erosão genética desse valioso material. O Nordeste detém um grande potencial para o desenvolvimento da pecuária através da caprinocultura, sendo estes elementos essenciais ao desenvolvimento rural (Souza Neto, 1987; Madruga et al.,1999).
No Brasil, a caracterização de animais domésticos existentes, por muito tempo, foi baseada nas caracte-rísticas morfológicas e produtivas, no entanto, esse pode ser influenciado pelo meio ambiente ou insuficiente para distinguir raças puras (Rocha 2005).
A biotecnologia cada vez mais ganha espaço em programas de conservação de recursos genéticos; rio-preservação de sêmen, óvulos e embriões, manipulação de embriões, caracterização genética e identificação de genes de resistência são algumas das técnicas usadas para identificar e proteger as populações de animais nativos .
Segundo Lippi e Mortari (2003) a caracterização da variabilidade intra e inter-populacional é permitida através de marcadores genéticos tais como grupos sanguíneos e polimorfismo protéico, dentre outros.
Os genes que controlam os
poli-morfismos protéicos, geralmente se expressam de forma codominante, permitindo inferir os genótipos dos indivíduos a partir de seus respectivos fenótipos, que são visualizados no gel de eletroforese.
A heterose e a seleção disruptiva juntamente com a mutação são meca-nismos genéticos responsáveis pelos polimorfismos. A seleção disruptiva tem desempenhado importante papel no aparecimento de muitos polimorfis-mos e, a heterose, na retenção de mais de um alelo em determinado loco, re-sultando em um polimorfismo que au-menta a capacidade adaptativa de uma população em seu habitat (Rocha, 1997).
Desde o início dos estudos polimór-ficos tenta-se encontrar relação entre os polimorfismos das proteínas sangüíneas e os caracteres produtivos, Estonba (1994), propõe que há relações benéficas entre a hemoglobina e a capacidade de adaptação dos animais (principalmente a grandes altitudes), e com parâmetros de produção, assim como de resistência a enfermidades onde se tem obtido resultados muito diversos, porém pouco conclusivos.
MATERIAL E MÉTODOS Foram investigadas 90 amostras sanguíneas de caprinos da raça Canindé, provenientes do município de Floresta, no estado de Pernambuco. As amostras foram obtidas por punção na veia jugular de cada animal, sendo coletadas em tubos a vácuo, contendo EDTA a 10%, como anticoagulante. O sangue foi processado de forma que se obteve o plasma e as hemácias. Os
plasmas foram aspirados com auxílio de pipeta Pasteur, sendo transferidos para tubos eppendorf, devidamente identificados. As hemácias foram la-vadas, por quatro vezes, em solução salina (0,9% em NaCl) e, em seguida diluídas com volume idêntico de tampão citrato tri-sódico, pH 7,1, contendo gli-cerol na concentração de 40%. As amostras de plasma e hemácias foram estocadas a – 18ºC durante períodos, que variaram de um a três meses, antes de serem analisadas. Estes procedimentos foram realizados no laboratório de Fisiologia Animal Mo-lecular Aplicada (FAMA), da Universidade Federal Rural de Per-nambuco. Para as análises das enzimas,os hemolisados foram obtidos diluindo-se os eritrócitos em água na proporção de 1:1. Na análise de eletroforese convencional, foi utilizado amido de milho (Penetrose 40%), na concentração de 14% (Vale et al., 1981). Para a separação eletroforética utilizouse tampão fosfato de sódio a 0,1M, pH 6,5, ajustado com NaOH 10 N para cuba, e para o preparo do gel tampão de cuba diluído na proporção 1:10. Para as análises de eletroforese de DIA-I e DIA-II foram empregados o tampão Tris/ citrato, pH 7,2 (8,5 mM em Tris e 1,15 mM em ácido cítrico) no preparo do gel e, o tampão Tris/ citra-to, pH 8,6 (0,42M em Tris e 0,063M em ácido cítrico), na cuba. As atividades enzimáticas de Est-D, I e DIA-II, foram reveladas segundo a técnica descrita por Harris e Hopkinson (1976). As freqüências alélicas e genotípicas foram estimadas para cada locus empregandose o programa TFPGA (Miller, 1997). Esse aplicativo também foi utilizado para verificar o equilíbrio
de Hardy-Weinberg nos rebanhos com base em suas composições gênicas e genotípicas.
RESULTADOS
Dos loci analisados o único que apresentou variabilidade foi o locus da esterase D, apresentando dois alelos codominantes, denominados Est-D1 e Est-D2, resultando em três fenótipos, designados de Est-D 11, Est-D22 e Est-D 12, apresentando freqüência genotípica; 0,07; 0,58 e 0,35, respecti-vamente. Observa-se que esta enzima apresenta migração anódica com três padrões eletroforéticos: os homozigotos Est-D1-1 (duas bandas com migração lenta) e Est-D2-2 (duas bandas com migração mais rápida), sendo o heterozigoto Est- D1-2, com três ban-das (a primeira e a terceira banda de intensidade mais fraca que a segunda banda). Este perfil eletroforético pode ser observado na figura 1.
O alelo da Est-D2 foi o mais frequente no rebanho, 0,75, já a Est-D1 apresentou freqüência de 0,24, res-pectivamente, mostrando-se este lócus bastante informativo no estudo de caracterização racial. Rocha (2005) e Igarashi (1997) encontraram valores superiores de 0,947 e 0,8750 para Est-D2 em caprinos da raça Moxotó, res-pectivamente.
Entretanto a heterozigosidade ob-servada na população foi baixa 36,94%, indicando perda de heterozigotos (variabilidade genética) e revelando que na população estudada há um a grande quantidade de indivíduos homozigotos para esse lócus, que pode ter resultado de acasalamentos
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consangüíneos. Estes resultados também indicam que os indivíduos da população estudada são bastante semelhantes.
A Dia-I e a Dia-II foram monomórficas para a população estuda, trata-se de dois
locus autossômicos, sendo o primeiro,
com menor atividade enzimática. Os lócus analisados não apresentaram desvios significativos do equilíbrio de Hardy-Weinberg, ou seja, não houve desvios nas proporções genótipicas (p>0,05) indicando que não existe subdivisão nas populações.
DISCUSSÕES E CONCLUSÕES Os padrões observados para a esterase-D foram semelhantes aos descritos por Igarashi (1997) em amostras de caprinos criados no Esta-do Esta-do Ceará. Este autor ressaltou também que o tipo Est-D2 pode está relacionado com adaptabilidade de caprinos nativos do Nordeste. A esterase eritrocitária avaliada no pre-sente trabalho foi denominada Esterase-D por ter sido detectada com o uso do
substrato fluorogênico, denominado acetato de umbeliferona, de maneira análoga a esterase-D humana e bovina (Harris e Hopkinson, 1976; Del Lam, 1992).
Os resultados obtidos para a enzi-ma diaforase se mostraram de enzi-maneira similar à descrita por (Tucker e Clarke, 1980; Tucker et al., 1989; Menrad et
al., 2002). Os dados obtidos sugerem
que a técnica de eletroforese conven-cional pode ser uma ferramenta útil no estudo da Esterase-D e da Diaforase caprina. Também foi possível obser-var que mesmo existindo técnicas mais avançadas para a caracterização ge-nética, os polimorfismos de proteínas revelam informações muito úteis, permitindo quantificar a variabilidade inter e intra-populacional nos estudos de caracterização de raças caprinas.
Entretanto, estudos dessa natureza exigem que um maior número de loci sejam analisados para uma melhor análise do polimorfismo protéico em caprinos da raça Canindé, permitindo definição completa do perfil genético dessa população.
Figura 1. Perfil eletroforético da esterase-D. Amostras 3,4,9,10 e 13 (1-2); amostras 1,2,5,6,8,11,12,14 e 15 (2-2); amostras 7 (1-1). (Eletrophoretic perfil of esterase-D locus. Samples 3,4,9,10 e 13 (1-2); samples 1,2,5,6,8,11,12,14 e 15 (2-2); sample 7 (1-1)).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pela
bolsa concedida e a todos que participaram direta e indiretamente na execução deste trabalho.
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