FICHAMENTO: ALÉM DO PRINCÍPIO DO
FICHAMENTO: ALÉM DO PRINCÍPIO DO PRAZER PRAZER
Márcio Alves Venâncio Márcio Alves Venâncio O princípio do prazer visa uma redução da tensão, com evitação de desprazer e O princípio do prazer visa uma redução da tensão, com evitação de desprazer e produção
produção de de prazer. prazer. Partiu-se Partiu-se da da descrição descrição ‘econômica’ ‘econômica’ do do aparelho aparelho psíquico psíquico para para aa ‘metapsicológica’.
‘metapsicológica’.
O princípio de realidade não abandona a intenção de fundamentalmente obter prazer; O princípio de realidade não abandona a intenção de fundamentalmente obter prazer; adia a satisfação, abandona uma série de possibilidades de obtê-la, tolerando temporariamente adia a satisfação, abandona uma série de possibilidades de obtê-la, tolerando temporariamente o desprazer como uma etapa no
o desprazer como uma etapa no longo e indireto caminho para o longo e indireto caminho para o prazer.prazer. Alguns instintos são barrados pelo processo de
Alguns instintos são barrados pelo processo de repressão e mesmo quando conseguemrepressão e mesmo quando conseguem vencer essa barreira, o que deveria ser
vencer essa barreira, o que deveria ser uma satisfação é sentido pelo ego como uma satisfação é sentido pelo ego como desprazer.desprazer. Torna-se importante diferenciar os seguintes termos: ‘ansiedade’ – estado de espera e Torna-se importante diferenciar os seguintes termos: ‘ansiedade’ – estado de espera e preparação
preparação para para o o perigo, perigo, ainda ainda que que seja seja desconheciddesconhecido; o; ‘medo’ ‘medo’ – – exige exige um um objeto objeto definidodefinido para
para que que aconteça; aconteça; ‘susto’ ‘susto’ – – ocorre ocorre quando quando alguém alguém entrou entrou em em situação situação de de perigo perigo sem sem estar estar preparado. Assim,
preparado. Assim, a a ansiedade não ansiedade não pode pode produzir produzir neurose traumática, neurose traumática, pois pois protege protege o o sujeitosujeito contra o susto (neuroses de susto).
contra o susto (neuroses de susto). Nas
Nas neuroses neuroses de de guerra, guerra, o o paciente paciente é é levado levado de de volta volta à à situação situação de de seu seu trauma. trauma. NaNa brincadeira
brincadeira fort-da fort-da, na qual a criança provocava o desaparecimento e o retorno do carretel,, na qual a criança provocava o desaparecimento e o retorno do carretel,
observou-se que era mais frequente o primeiro ato (a partida)
observou-se que era mais frequente o primeiro ato (a partida) do que o episódio na íntegra – ado que o episódio na íntegra – a criança só repetia experiência desagradável na brincadeira porque a repetição trazia consigo criança só repetia experiência desagradável na brincadeira porque a repetição trazia consigo uma produção de prazer de outro tipo,
uma produção de prazer de outro tipo, uma produção mais direta. Em algumas brincadeiras deuma produção mais direta. Em algumas brincadeiras de crianças elas transferem a
crianças elas transferem a experiência desagradáexperiência desagradável para um vel para um de seus companheiros, vingando-de seus companheiros, vingando-se num substituto.
se num substituto. Em representações artísticas, efetuadas pelos adultos, Em representações artísticas, efetuadas pelos adultos, penosas experiênciaspenosas experiências são sentidas como prazerosas. Esses fatos motivaram Freud a buscar tendências que stivesses são sentidas como prazerosas. Esses fatos motivaram Freud a buscar tendências que stivesses além do princípio de prazer – mais primitivas do que ele e
além do princípio de prazer – mais primitivas do que ele e dele independendele independentes.tes. Na prática
Na prática clínica, em clínica, em vez de vez de recordar o recordar o conteúdo da repressão, ele conteúdo da repressão, ele repetia o repetia o materialmaterial reprimido como se fosse uma
reprimido como se fosse uma experiência contemporânexperiência contemporânea, sendo atuadas (acted out) ea, sendo atuadas (acted out) na esferana esfera da transferência, da relação do paciente com o médico – compulsão à repetição: rememora da transferência, da relação do paciente com o médico – compulsão à repetição: rememora experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo experiências que não incluem possibilidade alguma de prazer e que nunca, mesmo há longo tempo, trouxeram satisfação.
tempo, trouxeram satisfação.
Outras situações também remetem à repetição: o homem que é sempre vítima de Outras situações também remetem à repetição: o homem que é sempre vítima de traição, aquele que é sempre abandonado ou histórias de amor que têm sempre o mesmo traição, aquele que é sempre abandonado ou histórias de amor que têm sempre o mesmo desfecho. A compulsão à repetição ultrapassa o princípio do prazer e se faz presente também desfecho. A compulsão à repetição ultrapassa o princípio do prazer e se faz presente também nas brincadeiras infantis e nas neuroses de guerra.
O sistema Pcpt.-Cs coloca-se na fronteira entre o mundo exterior e o interior. Alusão a um hipotético organismo primitivo, com a superfície voltada para o mundo externo diferenciada, servindo de órgão para o recebimento de estímulos. Esse córtex sensitivo também recebe excitações desde o interior. Exterior – quantidades de excitações possuem efeito reduzido, acha-se resguardado. Interior – os estímulos internos estendem-se para o sistema diretamente, produzindo prazer-desprazer (nos processos patológicos pode ocorrer a projeção, como meio de defesa desses estímulos).
‘Traumáticas’: quaisquer excitações provindas de fora que sejam suficientemente poderosas para atravessar o escudo protetor. Existência, no aparelho mental, de energia livre (pressiona no sentido da descarga) e energia vinculada. Importância do elemento de susto ele é causado pela falta de preparação para a ansiedade, inclusive a falta de hipercatexia dos sistemas que seriam os primeiros a receber o estímulo. Devido à sua baixa catexia, esses sistemas não se encontram em boa posição para vincular as quantidades afluentes de excitação.
Processo psíquico primário – encontrado no inconsciente (catexia livremente móvel); processo secundário – vida de vigília normal (catexia vinculada ou tônica).
Instinto seria um impulso, inerente à vida orgânica, a restaurar um estado anterior de coisas, impulso que foi abandonado sob a pressão de forças perturbadoras externas – todos os instintos tendem à restauração de um estado anterior de coisas (repetição); tudo o que vive deve morrer por razões internas, tornar-se mais uma vez inorgânico.
Instintos sexuais (de vida) X Instintos do ego (de morte): dois tipos de processos estão constantemente em ação na substância viva, operando em direções contrárias, uma construtiva ou assimilatória, e a outra destrutiva ou dissimilatória.
Instintos do ego X Instintos sexuais; porém, como o ego é reservatório da libido, desfez-se a oposição. Instintos do ego X Instintos sexuais; mas os instintos do ego se mostram ligados a componentes libidinais, contrariando essa oposição.
Masoquismo – instinto componente complementar ao sadismo (um sadismo que se voltou para o próprio ego do sujeito); o masoquismo seria um retorno a uma fase anterior da história do instinto, uma regressão (existência de masoquismo primário).
‘Princípio do Nirvana’ – esforço para reduzir, manter constante ou remover a tensão interna devida aos instintos; razão para acreditar na existência dos instintos de morte.
O aparelho mental procura substituir o processo primário pelo processo secundário, e converter sua energia catéxica livremente móvel numa catexia principalmente quiescente (tônica), sob o domínio do princípio do prazer.
A consciência comunica sentimentos internos que não são apenas de prazer e desprazer, mas também de uma tensão peculiar que pode ser agradável ou desagradável.
Os instintos de vida têm muito mais contato com nossa percepção interna, surgindo como rompedores da paz e constantemente produzindo tensões cujo alívio é sentido como prazer, já os instintos de morte parecem efetuar seu trabalho discretamente.
O princípio de prazer parece, na realidade, servir aos instintos de morte.
FREUD, Sigmund. Além do princípio de prazer (1920). Obras psicológicas completas de