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A INDEPENDÊNCIA DA PRINCESA: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE PERSONAGENS DA DISNEY E A EVOLUÇÃO DA MULHER BRASILEIRA

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1 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

A INDEPENDÊNCIA DA PRINCESA: UM ESTUDO

COMPARATIVO ENTRE PERSONAGENS DA DISNEY

E A EVOLUÇÃO DA MULHER BRASILEIRA

Ana Maria Rodrigues da Silva Souza (FACEQ)1 Margarida Stefane Pedroso (FACEQ)2 Maria Elena Fontes (FACEQ)3 Natália de Jesus Santos (FACEQ)4 Isaac Puig Prado (UAM/FACEQ)5

Resumo

Este artigo apresenta a evolução das princesas dos filmes de animação da produtora Disney, em relação à mudança comportamental da mulher brasileira. A proposta é um olhar sobre a figura feminina, em constante evolução com o decorrer dos anos. O propósito deste trabalho de pesquisa é fazer uma análise das princesas dos filmes produzidos com caráter lúdico e de entretenimento, voltados ao público infantil, principalmente para as meninas, que trazem em seu período de amadurecimento o sonho de tornarem-se princesas, com valores que vão do estético ao financeiro, ou idealizando o estético-afetivo em relação ao príncipe encantado.

Palavras-chave: Princesa. Disney. Independência. Mulher.

Abstract

This article presents the evolution of the princesses of Disney animated films producer, in relation to the behavioral change of the Brazilian woman. The proposal is a look at the female figure, constantly evolving with the years. The purpose of this research is to analyze the princesses of the films produced with playfulness and entertainment aimed at children, especially for girls, who bring in their ripening period the dream of becoming

1 Aluna do Curso de Letras da Faculdade Eça de Queirós. 2 Aluna do Curso de Letras da Faculdade Eça de Queirós. 3

Aluna do Curso de Letras da Faculdade Eça de Queirós.

4 Aluna do Curso de Letras da Faculdade Eça de Queirós.

5 Mestre em comunicação pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM). Bacharel em Administração de

Empresas pela Universidade Sant‟Anna (UNISANTANNA). É docente da Faculdade Eça de Queirós (FACEQ).

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princesses, with values ranging from the aesthetic to the financial or idealizing aesthetic-affective against the prince.

Keywords: Princess. Disney. Independence. Woman.

Introdução

Este artigo busca correlacionar a evolução das princesas da Disney com a evolução da mulher brasileira. Os contos de fadas geralmente trazem cenas de um cotidiano acompanhado de efeitos especiais, magia e encantamento que tornam as histórias mais interessantes. Com uma das maiores produtoras, que movimenta bilhões de dólares, a Disney consegue alcançar lares na maior parte do mundo, o que possibilita a difusão de seus filmes de princesas que abrange vários aspectos da sociedade e, principalmente, o papel feminino.

A hipótese levantada na pesquisa procura identificar a correlação entre a evolução das princesas da Disney e a evolução da mulher brasileira e está baseada na relação de dependência entre as suas variáveis, princesas de contos de fadas e mulher brasileira. Segundo Gil (2002, p. 33), “é usual dizer que as hipóteses deste grupo estabelecem a existência de relações causais entre as variáveis”; essa relação foi estabelecida mediante pesquisas com base em outros autores que trataram o mesmo tema e buscaram fazer essa correlação ao longo dos lançamentos dos filmes.

Observa-se essa relação em vários fatores descriminados ao longo da pesquisa, fatos que mudaram a trajetória feminina dentro da sociedade, sendo representados nos filmes como uma mudança de comportamento das princesas. Com base na evolução feminina mundial pode-se observar a mudança no padrão de comportamento das princesas e da mulher brasileira, resultando, assim, na possibilidade de correlação de ambas, podendo ser as duas variáveis correlacionadas entre si pelo mesmo objeto. Gil (2002, p. 33) aponta que “as relações [...] indicam que os fenômenos não são independentes entre si [...] e não se relacionam mutuamente [...] mas que um exerce influência sobre o outro”.

As princesas dos contos de fada estão em constante evolução; a mulher brasileira também; muitas histórias despertam sonhos e anseios criando uma atmosfera propícia para

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isso. Nos filmes, são mostradas a divisão entre o bem e o mal, as virtudes e valores e a forma como as princesas agem e como suas escolhas podem, em determinadas ocasiões, interferir em seu destino.

Todas as princesas possuem um estereótipo, com algumas características em comum, mas cada uma tem seu prisma em relação à vida e, mesmo que as condições não permitam que façam suas escolhas, pequenos gestos mostram um pouco de sua personalidade. As princesas, assim como as mulheres brasileiras, mudaram não na sua delicadeza, no seu olhar feminino, na sua preocupação com a família e beleza, mas em suas atitudes.

A mulher é ser humano e como tal necessita de mudanças, adaptações e novas maneiras de agir e pensar diante da sociedade em que ela está inserida. A feminilidade não deve ser vista como empecilho para novas conquistas; os filmes da Disney mostram princesas que quebraram paradigmas, mulheres que não buscam no príncipe encantado seu porto seguro, mas um companheiro para as lutas diárias.

É notável a participação das mulheres em todos os campos, seja pessoal, profissional e social. Esta atuação traz grande evolução, pois o trabalho doméstico que era considerado como prática exclusiva feminina, com o passar do tempo, é exercido também pelo sexo masculino. Antigamente a mulher não tinha participação em nenhum tipo de decisão, a interação era feita pelo homem da casa, fosse ele pai, irmão, primo ou marido. Ao longo dos anos, a mulher buscou participação na sociedade, ter voz ativa e requerer seus direitos.

No campo profissional, apesar de ainda existir distinção entre a figura feminina e masculina, verifica-se no mercado atual grande número de pessoas do sexo feminino. As mulheres já exercem a função de diretora, supervisora, gerente e cargos de lideranças, nos quais ela precisa coordenar pessoas de ambos os sexos, revertendo a imagem de submissão que a mulher tinha em relação ao homem.

Existem também exemplos de mulheres que são pilotos, motoristas de ônibus, caminhões, carretas, exercem a profissão de mecânica, praticam lutas, tais como caratê, judô, boxe e outras, e já participam de campeonatos em diversas modalidades, que não são considerados mais somente para o sexo masculino, como o futebol.

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Brasil, mas do mundo todo. Tornaram-se guerreiras por lutarem por ideais, por suas famílias e sua vida, enfrentando duras batalhas tanto físicas, quanto psicológicas para fazer valer o direito de existirem como pessoas. Ao se analisar a evolução das princesas dos contos de fadas da Disney e a evolução feminina brasileira até os dias atuais, é notável a evidência midiática devido às várias conquistas alcançadas pelas mulheres no decorrer do tempo, interferindo na visão da sociedade atual sobre elas e aprimorando os conceitos sobre igualdade entre gêneros.

Toda essa evolução evidencia o avanço da mulher em suas conquistas, com base na análise dos filmes de princesas, lançados pela produtora Disney, que podem servir como determinantes, este artigo pretende mostrar como a mulher era vista na sociedade da época em que os filmes das princesas foram lançados e como isso é feito nos dias atuais. Conforme o que foi dito por Aguiar e Barros (2015):

Assim [...] a alteração do papel feminino com o passar das décadas, o que pode ser percebido na própria figura das princesas dos filmes da Disney: a mulher, que antes ocupava uma posição de submissão à figura masculina, com a onda de movimentos feministas, começou a encontrar seu espaço na sociedade e no mercado de trabalho. (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 2)

Os contos de fadas da Disney vão além da publicidade; induzem comportamentos e promovem tendências, confrontando a mulher do passado com a mulher do presente e suas conquistas. Com a mudança no comportamento feminino, as princesas também foram, com o tempo, sofrendo alterações em suas características. As jovens donzelas indefesas passaram a ter comportamentos que justificam a garra, a coragem e valentia de mulheres que esperavam mais da vida do que um príncipe encantado para salvá-las. As princesas aprenderam a se defender e a defender seus ideais.

1 Cronologia das princesas Disney

As princesas da Disney passam por várias fases e têm características próprias de cada uma e da época em que foi produzido seu filme. Nesta etapa, será apresentado o que pode ser percebido sobre a história de cada uma das princesas e suas representações na sociedade.

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5 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

1.1 Branca de Neve (1937)

A animação que conta a história da Branca de Neve foi lançada em 1937 e recebe o título de primeiro longa-metragem do gênero; a produção recebeu o nome de “Branca de Neve e os Sete Anões”. No enredo a princesa é descrita como a mais bela de todas as pessoas do reino, de coração nobre e que é adorada por todos, até mesmo pelos animais da floresta; porém, há uma pessoa que não sente o mesmo que os outros, sua madrasta que ao perceber que Branca viria a ficar mais bonita que ela, resolveu vesti-la com trapos e obrigá-la a trabalhar no castelo, até o dia em que veio a notícia que realmente a princesa havia se tornado mais bela que a rainha, que então decide mandar o caçador matá-la. Como ela era tão jovem, o caçador, com pena, resolveu deixar que ela vivesse. Branca, então, se embrenha na floresta e encontra a casa dos sete anões.

No primeiro momento em que aparece em cena, Branca de Neve está lavando um dos degraus de uma escadaria, cantarolando e com muitas pombas brancas ao seu redor admirando-a e a ouvindo cantar. Esse ato demonstra que a personagem tem certo tipo de prazer na execução dos trabalhos doméstico, e quando os anões a deixam morar com eles, ela passa a cuidar da casa, limpar, cozinhar, lavar, etc. Breder (2013, p. 33) apresenta a perspectiva de que a princesa vê nos afazeres domésticos uma forma de expressar sua gratidão aos anões por ajudarem-na. A autora ainda apresenta que:

Ela cozinha, varre, lava a louça, entre outras tarefas, demonstrando satisfação. É um claro reflexo da ideia de “mulher ideal” propagada até o começo do século XX: a mulher que ficava em casa, cuidando dos afazeres domésticos (e, futuramente, também dos filhos), e não deveria fazer apenas por obrigação, mas demonstrando prazer em tais atividades, tendo orgulho de ser uma boa dona de casa. É a princesa de um mundo anterior à Segunda Guerra Mundial, quando as mulheres ainda estavam bem longe do mercado de trabalho. (BREDER, 2013, p. 33)

Pode-se perceber, assim, que Branca de Neve reflete a mulher de sua época de publicação, devido à personificação da mulher perfeita, submissa à vontade alheia, no caso a Madrasta, que a veste com roupas rasgadas para que ela pareça feia e a obriga a fazer trabalhos domésticos, e esta não se importa em fazê-lo e o faz com prontidão, sempre com um sorriso no rosto. Isso representa uma obediência a ser alcançada, um modelo a ser seguido. A bela, educada, meiga e exímia dona de casa que espera pacientemente seu príncipe encantado que irá tirá-la do sofrimento e fazê-la feliz para sempre.

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6 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

1.2 Cinderela (1950)

A história de Cinderela conta que existia um homem muito bem posicionado socialmente, viúvo e com uma filha bela, dócil e meiga, de seu primeiro casamento. Esse homem resolve casar novamente com uma mulher que possui duas filhas, arrogantes como a mãe. Com a morte do homem, a filha é privada de sua herança e feita de escrava, vive momentos de angústia, sofrimento e humilhação.

Em um determinado ponto da história o rei resolve dar um baile para que o príncipe escolha uma moça para se casar. Por sua condição Cinderela é proibida de ir ao baile e em profunda tristeza é socorrida por uma fada, que lhe concede o desejo de ir ao baile na condição que volte à meia noite. Toda produzida, Cinderela vai ao baile, porém foge antes do final da festa terminar, porque esqueceu a condição da fada; na fuga, deixa para trás um sapatinho de cristal e um príncipe apaixonado, que nos dias seguintes não poupa esforços para reencontrá-la e torná-la sua esposa, colocando fim a uma vida de miséria, sofrimento e humilhação.

O papel feminino desempenhado pela Cinderela, lançado em 1950, é muito similar ao da Branca de Neve, contudo, esta tem prazer nos afazeres domésticos, enquanto aquela os enxerga como uma imposição de sua madrasta, sonhando com os bailes, onde poderá encontrar um príncipe que a resgate e liberte desta opressão através do amor, mudando sua vida de sofrimento. (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 6)

Pode-se observar que Cinderela representa não só um padrão de beleza, mas de comportamento para a sociedade da época, a figura da moça recatada, prendada, submissa que aponta características predominantes para que a mulher seja reconhecida para época.

[...] a mulher dona de casa torna-se a mulher que conquista um marido que possa lhe dar tal conforto, que a livra dos afazeres domésticos. É a partir daí, com o maior tempo livre gerado pela mecanização das tarefas domésticas [...] que a entrada da mulher no mercado de trabalho começa a se tornar possível. (BREDER, 2013, p. 34)

1.3 A Bela Adormecida (1959)

O filme intitulado A Bela Adormecida conta a história de uma princesinha que ao nascer é amaldiçoada por uma bruxa, porque descobre não ter sido convidada para a apresentação da menina. Então o rei pede que três fadas escondam a menina e só a tragam

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7 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

quando o feitiço acabar. A três fadas se escondem na floresta com Aurora e cuidam dela sem revelar sua verdadeira origem. Com o passar do tempo, a menina cresce e passeando na floresta encontra Felipe um Jovem príncipe e se apaixonam; porém, Felipe descobre que já está prometido a uma jovem princesa e se rebela. Diferente do príncipe Aurora não se rebela ao descobrir sua origem e seu casamento arranjado, somente obedece, submissa. Antes de terminar o tal feitiço, a bruxa consegue o seu intento e Aurora cai em um sono profundo, vindo a ser despertada com um beijo do príncipe Felipe, que descobre depois, que Aurora era sua prometida, colocando um fim em seu infortúnio.

Pode-se então perceber, a partir do fragmento a seguir, que o comportamento muda com relação às princesas anteriores, pois:

Não se trata mais de aceitar o primeiro rapaz valente que aparece: Aurora se apaixona por Felipe sem saber que ele era um príncipe. Ele não apenas a salva, mas também conquista seu coração com sua personalidade. Os dois se revoltam com o casamento arranjado por seus pais, embora acabem descobrindo que na verdade estavam prometidos um ao outro. (BREDER, 2013, p. 33)

Revelando que agora a princesa sente vontade de se impor, porém ainda está presa às vontades de todos que a cercam, Aurora não consegue impor sua vontade diante da tradição da sociedade da época, casamentos arranjados por interesses e conveniências familiares. As autoras Aguiar e Barros (2015, p. 7) ressaltam que “contudo, o enredo revela um problema enfrentado pela mulher da época: o casamento por interesses, designado pela família”.

1.4 A Pequena Sereia (1989)

O longa metragem foi lançado em 1989, na chamada “nova era das princesas” (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 07), e conta a história de uma linda sereia, a filha mais nova do rei dos mares, o Rei Tritão, que mesmo com diversos avisos, alertas e até mesmo proibições e ordem expressa de que ela não se aproximasse da praia, Ariel resolve desobedecer ao pai e vai até a superfície, onde salva o príncipe Eric e apaixona-se por ele.

Simone de Beauvoir (1967, p. 31) faz o apontamento de que “[...] a partir do dia em que se torna mulher, a pequena sereia de Andersen conhece o jugo do amor e o sofrimento passa a ser seu quinhão [...]”, pois a partir do momento em que a princesa

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8 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

deseja tornar-se humana, para que possa ficar com o príncipe ela procura uma bruxa do mar que pede sua voz em troca de pernas, porém sem conseguir falar, Ariel precisa do beijo de seu amado para salvá-la, conforme apresentado por Breder (2013, p. 35):

O amor pelo príncipe Eric é a gota d‟água que causa a fuga de Ariel. Porém, uma vez como humana, ela novamente é a princesa que necessita do príncipe para salvá-la. Como no conto original, o feitiço que lhe permite andar entre os humanos tem duração limitada e ela terá um fim trágico se não conquistar um beijo de seu amado. (BREDER, 2013, p. 35)

A representação da Pequena Sereia é a de uma mulher que, ao desobedecer a ordem de um homem, nesse caso o próprio pai, acaba passando por coisas terríveis e que precisa de outro homem para livrá-la de seu sofrimento. Essa visão é confirmada pela citação acima e pelo que Beauvoir escreveu em seu trabalho:

[...] aceitando uma dependência total, a mulher cria um inferno para si; toda amorosa se reconhece na pequena sereia de Andersen que, tendo, por amor, trocado sua cauda de peixe por pernas de mulher, marchava sobre agulhas e carvões em brasa. (BEAUVOIR, 1967, p. 423)

Sendo assim, percebe-se que a visão era de que mesmo a mulher buscando sua independência, dependeria do homem, pois ela não teria a capacidade de tomar as decisões corretas, pensado por si só.

1.5 A Bela e a Fera (1991)

A história se passa na França, Bela e seu pai vivem em uma fazenda afastada do vilarejo. O pai sonha conquistar o prêmio de cientista respeitável e poder dar à filha uma vida mais digna. A moça é cortejada por Gaston, um belo rapaz do local e considerado um ótimo partido; porém, o mesmo critica Bela por seu hábito de leitura, dizendo que mulheres não deviam ler para não ter ideias. Bela, por sua vez, procura alguém que a compreenda e a ame respeitando-a como ela é. Quando seu pai vai à cidade para expor seu invento e tentar ganhar o prêmio, se perde e vai parar em um castelo onde mora uma fera que o torna prisioneiro. Sua filha vai ao seu encontro para tentar resgatá-lo e se oferece para ficar em seu lugar, pois a mesma além de sonhadora, doce, bela e gentil, se mostra forte, corajosa, idealista e independente, para não deixar seu pai morrer ali. A Fera vê nessa possibilidade uma oportunidade para quebrar seu encanto, pois faltava pouco para

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ficar daquela forma para sempre. Os dois se apaixonam e, revoltado, Gaston tentar matar a Fera que é salva por Bela quebrando o feitiço e os dois vivem felizes para sempre.

[...] Bela renuncia ao “marido ideal” e se empenha em salvar seu pai, capturado pela Fera. Gaston representava o marido ideal, um personagem bonito, porém bruto e inteiramente tomado por ideais machistas, que é desejado pelas garotas da cidade, mas sente-se atraído pela beleza de Bela, criticando-a pelo seu hábito de leitura, pois a partir daí começará a ter ideias e pensar, o que considerava inadmissível. Vê-se que Gaston buscava uma mulher submissa, enquanto Bela desejava alguém que compreendesse seus anseios e aspirações, o que encontrou na Fera, que lhe presenteou com uma biblioteca. (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 8)

Bela, no filme, é vista como uma mulher que já não admite os desmandos do marido, e busca liberdade através de suas próprias conquistas; ela faz parte da segunda geração de feministas. Segundo Breder (2013, p. 33), “os estúdios Disney deixaram as princesas de lado, durante décadas. Em meio à chamada „segunda onda feminista‟, o público não teria mais interesse em uma bela donzela à espera de seu príncipe encantado”.

1.6 Aladim (1992)

Na história de Aladim, a princesa é sufocada por seu pai, o Sultão, para contrair matrimônio com um príncipe que tivesse condições de substituir esse sultão após sua morte. No palácio, existia um Jafar, segundo homem mais poderoso do reino depois do Sultão, que queria se casar com a princesa; porém, a mesma se recusou e, em um ato de rebeldia, foge do castelo e encontra com Aladim e os dois se apaixonam; mas, por não ser príncipe, ele é impedido de se aproximar novamente da princesa. O Jafar está à procura de uma pessoa que seja capaz de pegar uma lâmpada mágica, vê em Aladim essa possibilidade e o engana para pegá-la. Aladim consegue pegar a lâmpada e ficar com ela com um gênio à sua disposição para realizar três desejos. Aladim, então, volta para o reino como príncipe disposto a casar com a princesa que não o reconhece e o rejeita; porém, o Jafar reconhece a lâmpada e faz de tudo para pegá-la de volta. Após algumas aventuras Aladim e a princesa Jasmine se apaixonam, desmascaram o Jafar, se casam e vão ser felizes para sempre.

Filha do Sultão, Jasmine estava sendo coagida a casar-se com um príncipe. Mesmo podendo escolher seu marido, havia um limite: ele deveria carregar o

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título de nobreza. [...] Jasmine conhece Aladim, um bom ladrão, que lhe apresenta um novo mundo, e com quem ela deseja se casar. [...] Sultão determina que se una a Jafar, o grande vilão da história. Após salvar o reino do Sultão dos poderes de Jafar, Aladim é reconhecido príncipe e lhe é concedida a mão de Jasmine. (FOSSATTI, 2009, p. 8)

Ao enfrentar seu pai, Jasmine demonstra que não está disposta a sucumbir aos padrões da época e, em um ato de rebeldia, foge do castelo. Ainda segundo a autora “[...] ao reagir a um estado outorgado, Jasmine vai destacando-se em „Aladim‟ (1992)” (FOSSATI, 2009, p. 8).

1.7 Pocahontas (1995)

A história de Pocahontas conta que uma armada inglesa chega a América considerada “o novo mundo”, atrás de riquezas naturais como o ouro e a prata. Uma jovem índia filha do principal líder das tribos vê a chegada da armada e momentos depois se depara com o capitão da armada na mata, os dois trocam informações sobre seus povos, porém, em um desentendimento onde o comandante chama o povo indígena de selvagem, Pocahontas defende a ideia que a visão dos invasores é errada e que a ganância deles é que os torna monstruosos.

O longa enfatiza como os ingleses consideram os índios “selvagens” e como os indígenas consideram seus invasores “monstros gananciosos”. [...] Pocahontas conhece John Smith, ele chama seu povo de “selvagem”, ao que ela rebate afirmando “você acha que as únicas pessoas que são pessoas, são as que falam como você e se parecem com você [...] eu me pergunto se eu sou a selvagem, quando há tanta coisa que você não sabe” [...]. (BREDER, 2013, p. 38)

Uma história baseada em fatos reais, mas é destorcida por propósitos não mencionados neste artigo, pois a intenção do mesmo é retratar a posição feminina da personagem. “O filme [...] é o único da lista baseado em uma personagem real, que teria vivido entre 1595 e 1617, e, por mudar detalhes dessa história, além de não ser fiel à cultura indígena, foi criticado por membros da tribo Powhatan, retratada no filme [...]” (BREDER, 2013, p. 30).

Segundo o filme da Disney, Pocahontas e John Smith se apaixonam e para salvar a vida do capitão e evitar uma guerra entre os povos, a princesa indígena (assim considerada pela produtora Disney) convence seu pai a não o matar. Em um ato de

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bravura, o Capitão se coloca na frente da bala que mataria o pai da moça e ferido é levado de volta para a Inglaterra. Os dois se despedem e Pocahontas vê o navio desaparecer no oceano.

[...] Pocahontas se coloca entre seu pai e John Smith, afirmando que este é o caminho que escolheu [...] o líder da Companhia, frustrado, atira no chefe da tribo. John Smith consegue se jogar na frente dele a tempo, salvando-o e ficando gravemente ferido [...] Ele convida Pocahontas para acompanhá-lo, mas ela decide ficar, afirmando que é onde precisam dela [...] fica claro que esta foi uma decisão própria e não alguma forma de castigo. Ela apenas se tornou a primeira “princesa” a escolher a responsabilidade em vez de um amor. (BREDER, 2013, p. 38)

Neste último trecho da citação acima, pode-se verificar a postura política de Pocahontas, incomum para época. A autora diz que “Pocahontas impede uma guerra entre sua tribo e colonos” (BREDER, 2013, p. 47).

1.8 Mulan (1998)

A história de Mulan se passa na China e, assim como todas as garotas são preparadas para o casamento, com Mulan não é diferente, [...] “Mulan deveria impressionar a casamenteira, tendo como requisitos a calma, a obediência, o vigor, com bons modos, e muito amor” (FOSSATTI, 2009, p. 9). O que a difere são seus pensamentos e ideais de felicidades, que não correspondem os padrões da época. Porém, um fato novo pode mudar sua vida quando resolve entrar para o exército, para representar seu pai que está doente. Suas aventuras começam já no treinamento, pois o pelotão não aceita o “rapaz” raquítico da turma. Com muito esforço, Mulan se torna o mais habilidoso guerreiro e salva seu país.

O filme não enfatiza beleza em nossa heroína; porém, dá destaque ao aprendizado de outras qualidades como coragem, honra e amor. Fossati (2009, p. 9) ainda aponta que “[...] o caráter de beleza não é exaltado, mas [sim] as outras potencialidades de Mulan, como a coragem [...]”.

Ao se passar por homem, Mulan traz, em seu estilo, características da mulher que não deseja mais o príncipe para salvá-la, é responsável por iniciar a quebra de padrões da sociedade quando salva o príncipe e todo o reino, se tornando heroína da história. Segundo Aguiar e Barros, as princesas desse período não esperam o príncipe encantado de “braços

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cruzados”; “elas orientam o próprio destino e assumem o papel de salvação e resgate dos seus amados para viverem sua história de amor [...]” (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 10).

1.9 A Princesa e o Sapo (2009)

O filme conta a história de Tiana uma jovem que trabalha duro para conquistar seu sonho de abrir o próprio negócio, transformando sua vida e de sua mãe. Ao ir trabalhar em uma festa depois de uma confusão, encontra um sapo que acha que ela é uma princesa e lhe pede um beijo, na verdade o sapo é um príncipe boa vida, deserdado, buscando no casamento voltar a ter uma boa vida. Com o beijo, Tiana vira rã e não desfaz o feitiço lançado por um feiticeiro, que deseja se beneficiar com a situação, através do servo do príncipe que faz parte de tramoia por inveja. Os dois anfíbios vão viver uma aventura para voltar a forma de ser humano e descobrem muito mais que o amor. Segundo Lopes (2015, p. 9) o filme é sobre “[...] um beijo que os faz viver uma aventura divertida pelas paisagens misteriosas de Louisiana que lhe revela que o que ela quer não é necessariamente o que precisa [...]”.

Tiana não é uma princesa, nem representa a mulher à procura do príncipe encantado, pelo contrário, ela busca, por meio do seu trabalho, adquirir suas próprias conquistas e realizações, ela representa a mulher moderna, que trabalha, estuda, e sabe aonde quer chegar e o príncipe é uma consequência advinda do percurso que ela percorre em busca dos seus sonhos.

[...] forte, batalhadora, focada em alcançar seus objetivos e melhorar sua própria vida e a de sua mãe [...] Tiana, assim como a nova leva de princesas, sabe se cuidar e busca sua felicidade independentemente de outro – o príncipe encantado deixa de ser essencial e passa a ser agregador, ou mesmo consequência. (LOPES, 2015, p. 7)

1.10 Enrolados (2011)

O enredo conta a história de um rei e uma rainha que aguardam a chegada da princesinha; porém, a rainha ficou doente e somente uma flor mágica poderia salvá-la; mas essa flor fica em uma região muito difícil e é protegida por uma feiticeira que mantém sua juventude e beleza por meio dela. Com um descuido da feiticeira, os soldados acham a flor

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e a levam imediatamente para o rei. A flor então se perde após o preparado, não restando mais esperança para a feiticeira. A rainha logo dá à luz a uma menina e a feiticeira descobre que todo o poder mágico da flor vai para o cabelo da princesinha que é raptada pela feiticeira que a esconde na floresta, em uma alta torre, à qual só ela tem acesso. “Na história, a princesa nasce com cabelos dourados que têm poderes mágicos de cura e rejuvenescimento [...] Ela é sequestrada por Mãe Gothel, que quer usar seus poderes para manter sua juventude” (BREDER, 2013, p. 41).

Os pais ficam muito tristes com a situação e mesmo não acreditando na morte da menina preparam todos os anos no dia do seu aniversário uma festa, na qual soltam vários balões. Rapunzel cresce e se torna uma moça, muito bem cuidada, pois acredita que a feiticeira é sua mãe. Sua vida se resume a arrumar a casa e se distrair com suas pinturas; mas ela tem vontade de sair da torre e conhecer o mundo. Esse seu sonho é destruído por Gothel que diz que ela não sobreviveria em um mundo onde as pessoas são muito cruéis, devido à sua ingenuidade e incapacidade de se defender: “Ela destrói a autoconfiança de Rapunzel, constantemente diminuindo-a e afirmando que ela é desastrada, ingênua e incapaz” (BREDER, 2013, p. 41).

Porém, quando Flyn invade a torre, procurando um local para se esconder da guarda real, Rapunzel o prende e promete devolver a coroa que escondeu se ele a levar à festa das luzes. Sem alternativa ele a leva e depois de muitas aventuras eles conseguem se libertar de Gothel e voltam para o reino, onde Rapunzel é reconhecida por seus pais e Flyn é perdoado pelos seus crimes. “Eles voltam para o reino, onde a princesa é recebida com grande festa e o ladrão é perdoado por seus crimes” (BREDER, 2013, p. 42).

Mais uma vez, encontra-se no filme da Disney uma princesa na contramão dos ideais, Rapunzel apesar de intimidada por sua “mãe”, ultrapassa obstáculos para alcançar seus objetivos. Como princesa contemporânea, é ela quem vai salvar o príncipe e trazer a paz ao reino. “Deve-se ressaltar que Rapunzel é uma princesa que também caminhou na contramão dos personagens mais antigos, pois, ao invés de ser salva pelo príncipe, ela salva a vida dele” (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 11).

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14 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

1.11 Valente (2012)

Valente, lançado em 2012, conta a história de uma princesa diferente das outras, pois, quando pequena, seu pai deu a ela um arco e, praticando desde cedo tiro ao alvo, ela se apaixona pelo esporte. Fernanda Breder diz que:

Quando cresce, ela [a princesa Merida] inveja a liberdade de seus irmãos meninos, já que, como princesa, ela precisa aprender a ser como sua mãe: delicada, feminina, porém firme. Outro de seus deveres é casar com o primogênito de um dos clãs vizinhos e seus pretendes, portanto, visitam o reino para um torneio em disputa de sua mão. Já que a competição é para os “primogênitos dos clãs”, ela decide que pode participar também, lutando pela própria mão e o direito de não casar com nenhum deles. (BREDER, 2013, p. 41)

Pode-se assim perceber que houve uma grande mudança no comportamento e pensamentos representados pela princesa. A princesa que, antes, necessitava de um príncipe, de alguém que a protegesse de seus medos e de seus inimigos, agora não mais, conforme demonstrado no fragmento abaixo, que diz que Merida:

[...] representa o padrão antagônico do que se busca numa princesa: cabelo desarrumado, rebelde, impetuosa, maneja arco-e-flecha, desastrada e com um senso de liberdade que a faz ter repulsa pela possibilidade de ser obrigada a se submeter a um casamento “arranjado”, razão pela qual desafia as regras da época e compete pelo direito de decidir com quem casar [...] (AGUIAR; BARROS, 2015, p. 12)

Breder (2013, p. 42) aponta que, diferente da Mulan, a “princesa valente” não precisa se esconder debaixo de um disfarce masculino, para provar que ela também pode ser tão boa quanto, ou até melhor, que os homens a quem seu pai propusera casar-se com a princesa. A autora ainda propõe que Mulan começou a questionar seu papel na sociedade e que Merida veio mostrando que ela, mesmo sendo mulher, também tinha credibilidade e direito de escolha, mesmo que os outros não aceitassem, ela se fazia ouvir.

1.12 Frozen (2013)

Uma história que demonstra o amor fraternal e não o amor de homem/mulher, princesa/príncipe, sobre duas irmãs (Elsa e Anna) que foram separadas, porque Elsa tinha poderes mágicos e não sabia controlá-los e poderia pôr em risco a vida e a segurança de quem se aproximasse. “Anna, a princesa mais nova do reino de Arendell, adora sua irmã

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Elsa, mas um acidente envolvendo os poderes especiais da mais velha, durante a infância, fez com que seus pais as mantivessem afastadas” (LOPES, 2015, p. 41).

Após a morte de seus pais, Elsa é coroada rainha e no momento da cerimonia se descontrola, congelando todo o reino; ela foge e se esconde num castelo de gelo feito por ela mesma, para se proteger. Sua irmã caçula, Anna, não desiste e vai procurá-la; no caminho, faz amizade com um vendedor de gelo, Kristoff, uma rena, Sven, e um boneco de neve, Olaf; os quatro vão atrás de Elsa e, claro, depois de muitas aventuras elas salvam o reino.

Neste conto de fadas, percebe-se que há a predominância da figura feminina como chefe, líder e segura dos seus objetivos, que tem na figura masculina um companheiro que lhe oferece uma relação à base de cumplicidade. “As princesas contemporâneas são independentes, certas de quem são e de seus objetivos. Suas relações são de complementariedade. Mesmo no amor verdadeiro, essas princesas buscam relações de cumplicidade” (LOPES, 2015, p. 46).

2 Cronologia da mulher brasileira

Tendo como base os períodos em que os longas-metragens que retratam a história das princesas foram lançados, as análises da mulher brasileira serão a partir da década de 30, pois foi no ano de 1937 que a Disney lançou sua primeira animação com “Branca de Neve e os Sete Anões”.

Foi nesse período que as brasileiras conquistaram o direito ao voto, mais precisamente em 1934; porém, elas ainda precisavam manter os antigos costumes dentro de casa e mediante a sociedade da qual faziam parte, e mesmo tendo o direito de votar ainda não tinha voz ativa e reconhecida; as mulheres que tentavam expor suas vontades e opiniões eram repreendidas pelos que a cercavam, geralmente a família que era patriarcal e conservadora.

Nas décadas de 30 e 40, observa-se [...] que a ingerência era a regra. As moças conheciam seus futuros maridos através dos pais e acatavam sua opinião, aceitando uniões que satisfaziam os critérios colocados pelos mais velhos, que definiam o que seria um “bom casamento”. Há, também, um conjunto claro de “virtudes” valorizadas, capazes de tornar a jovem “desejável” para esposa dos filhos de “boa família”. (ALVES, 2000, p. 238)

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16 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

Segundo Dourado (2005, p. 43), na época também havia revistas intituladas de “Vida Doméstica” e “Revista Feminina” que serviam para ensinar a mulher como deveria ser seu comportamento diante da sociedade, como ser uma boa esposa, uma boa dona de casa, uma boa mãe, etc. Assim, pode-se perceber que a mulher e a princesa dessa época se correlacionam, tendo como base o que foi dito anteriormente a respeito da Branca de Neve, que é o estereótipo da mulher perfeita, que sabe cuidar da casa e da família, tendo orgulho do que faz, sem nunca reclamar de nada.

Analisando a mulher segundo a época em que o filme Pequena Sereia foi lançado, pode-se verificar que da mesma forma que é retratada no filme, a mulher busca sua maior independência, agora, no âmbito trabalhista, conforme dito por Silva (2008, p. 2) “as mudanças ocorriam em ritmo acelerado e com estas, esperava-se que a mulher, considerada agora mais moderna, começasse a reivindicar seus direitos e um lugar no mercado de trabalho”. Porém, isso causou medo nos grandes conservadores que acreditavam que a revolução feminina causaria uma reviravolta no conceito de moral e bons costumes, já que a mulher fazia parte do tripé mãe-esposa-dona de casa e que o homem era visto como provedor do lar.

Foi nessa época, também, que a mulher conseguiu conquistar direitos importantes para começar a embasar sua estabilidade econômica.

Três incisos do artigo 7º da Constituição Federal e uma alínea dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias tratam especificamente do trabalho da mulher nos temas: licença maternidade; estabilidade à gestante, proteção do mercado de trabalho da mulher e proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo. (CALIL, 2007, p. 46)

Mesmo com a conquista desses direitos, a mulher, como dito anteriormente, ainda é tratada como alguém que não pode lidar sozinha com os imprevistos e acontecimentos cotidianos e que, mesmo com a possibilidade de ganhar seu próprio dinheiro, ela apenas trabalha para complementar a renda da casa.

Assim como a princesa Ariel, a mulher da década de 80 tenta se libertar das regras e seguir seu próprio destino, porém as dificuldades e as reprimendas da sociedade que a cerca, fazem com que ela ainda necessite do sexo oposto para lhe dar suporte e abaixar os dedos apontados para ela.

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força com relação à população que a cerca. Merida, a princesa valente, faz correspondência à ânsia que a mulher tem de ser ouvida e de ter voz, onde a querem obrigar a fazer coisas que ela não gostaria. Mesmo com certa relutância da sociedade conservadora e patriarcal que, até hoje, critica a participação ativa da mulher em questões sociais como a participação na política, após 2010 o Brasil passa pelo momento histórico em que a primeira mulher assume a presidência da república.

Considerações finais

A análise apresentada neste artigo traz a evolução das princesas da Disney, que foram ocorrendo ao longo dos anos, devido à evolução feminina na sociedade. Essa evolução se deve a atividades feministas relacionadas à condição da mulher junto à sociedade a qual ela está inserida, promovendo assim direitos que a caracterizam como pessoa capacitada, independente e apta a assumir papéis sociais, sem que tenha sua dignidade corrompida.

A correlação entre os contos de fadas com as princesas da Disney e a evolução da mulher brasileira pode ser verificada de acordo com a época de seus lançamentos; a pesquisa permitiu analisar e comparar situações vivenciadas no objeto de pesquisa. Os parâmetros utilizados na pesquisa trazem à observação uma mudança no comportamento explicitado tanto nos filmes, como no cotidiano feminino brasileiro.

Porém, não se identifica uma mudança exclusiva no comportamento da mulher brasileira, mas uma mudança no comportamento mundial da mulher que, provavelmente, vem refletir em tudo que diz respeito ao comportamento humano; consequentemente, o filme das princesas ficou suscetível a esse novo panorama, podendo ser as duas variáveis correlacionadas entre si, pelo mesmo objeto.

A correlação que é feita entre o filme da Branca de Neve e os Sete Anões com a evolução da mulher brasileira na década de 1930, apesar de ser permitido o voto feminino em 1934 para as senhoras casadas que o marido autorizasse e as independentes financeiramente, vem mostrar modos e tendências nos costumes da época, em que a mulher era educada para se tornar boa esposa, sendo dócil, recatada, prendada e submissa, como se vê nos filmes “Branca de Neve e os Sete Anões” e “Cinderela”. Essa evolução

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18 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

não parou, nem nos filmes nem na sociedade brasileira; as mulheres foram ganhando cada vez mais espaço e, assim como nos filmes, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera e Aladim, a transformação da mulher foi ficando cada vez mais evidente.

Já não tinha mais, exclusivamente, o casamento como imposição familiar, e com a chegada das novas tecnologias, como máquina de lavar roupas, liquidificadores, telefones e a mídia, promovendo a emancipação feminina, a mulher brasileira passa a desejar, assim como as princesas dos filmes, a independência e a possibilidade de realização dos seus sonhos, com um casamento por amor com homens que a compreendam e a respeitem.

Esses períodos de transição podem ser observados nos filmes quando se percebe o período de lançamento entre eles: A Bela Adormecida (1959), por exemplo, marca a passagem da princesa clássica para a princesa rebelde A Pequena Seria (1989), assim com a mudança da mulher totalmente subordinada ao homem, para a mulher mais independente, já com alguns direitos reconhecidos como licença a maternidade.

Mais recentemente, pode-se apresentar a mulher brasileira com papéis de destaque em várias áreas, nas quais só os homens, até então, atuavam; estas podem ser comparadas às princesas modernas, que estudam, trabalham, conquistam e buscam uma parceria masculina de cumplicidade e não de submissão, assim com a princesa Merida de Valente ou Anna de Frozen.

Essa correlação pode ser observada a respeito de características em comum em ambos os objetos: tanto nas princesas, como nas mulheres brasileiras, a evolução foi influenciada por aspectos externos não mencionados na pesquisa para não comprometer e desviar o foco da mesma, mas que buscou colaborar com pesquisas anteriores.

O presente artigo buscou acrescentar subsídios às pesquisas anteriormente apresentadas e colaborar com um estudo imensamente importante para a valorização e reconhecimento da mulher, seja ela brasileira ou princesa de contos de fadas, mas que dever ser vista e respeitada como ser humano.

Referências

AGUIAR, Eveline Lima de Castro; BARROS, Marina Kataoka. A Representação Feminina nos Contos de Fadas das Animações de Walt Disney: a Ressignificação do Papel

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19 E-FACEQ: Revista dos Discentes da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2238-8605, Ano 5, Número 8, Agosto de 2016. http://www.faceq.edu.br/e-faceq

Social da Mulher, In: Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste, 17.

Anais... Natal, 2015.

ALVES, Zélia Maria Mendes Biasoli. Continuidades e Rupturas no Papel da Mulher Brasileira no Século XX. In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. São Paulo: Universidade de São Paulo, nº 3, vol. 16, set./dez., 2000, p. 233-239.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1967.

BREDER, Fernanda Cabanez. Feminismo e Príncipes Encantados: a representação feminina nos filmes de princesa da Disney. Monografia. Graduação em Comunicação Social/ Jornalismo. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.

CALIL, Léa Elisa Silingowschi. Direito do trabalho da mulher: a questão da igualdade jurídica ante a desigualdade fática. São Paulo: LTR, 2007.

DOURADO, Rosiane de Jesus. As formas modernas da mulher brasileira: décadas de 20 e 30 do século XX. Dissertação. Mestre em Design. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica, 2005.

FOSSATTI, Carolina Lanner. Cinema de animação e as princesas: Uma análise das categorias de Gênero, In: Congresso de ciências da comunicação na Região Sul, 10. Blumenau, Anais... Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica, 2009.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo. Editora Atlas. 2002

LOPES, Karine Elisa Luchtemberg dos Santos. Análise da Evolução do Estereótipo das

Princesas da Disney. Monografia. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em

Publicidade e Propaganda. Centro Universitário de Brasília, 2015.

SILVA, Marineide de Oliveira. A Representação da Mulher em Livros de História do Brasil entre a Década de 80 e 90, In: Congresso Brasileiro de História da Educação, 5.

Anais... Aracaju: Universidade Tiradentes, 2008.

Recebido em: 30 jun. 2016. Aceito em: 12/07/2016.

Referências

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