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ESTUDO MORFOLÓGICO, PEDOLÓGICO E FITOFISIONÔMICO EM VERTENTE AMOSTRAL NA RESERVA FLORESTAL DO MORRO GRANDE PLANALTO DE IBIÚNA

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Academic year: 2021

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ESTUDO MORFOLÓGICO, PEDOLÓGICO E FITOFISIONÔMICO EM VERTENTE AMOSTRAL NA RESERVA FLORESTAL DO MORRO GRANDE – PLANALTO DE IBIÚNA

Grigorowitschs, Helga; Rodrigues, Cleide. Instituição: Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Departamento de Geografia. E-mails: helgagri@hotmail.com ; helga.grigorowitschs@usp.br

No município de Cotia, assim como em grande parte da Região Metropolitana de São Paulo, os processos de ocupação humana provocaram profundas modificações nas paisagens naturais, afetando não somente a cobertura vegetal original, mas também outros elementos e fatores da paisagem, como os solos, o relevo, os cursos fluviais e o microclima.

Desta forma, restam atualmente poucas áreas nas quais o meio natural encontra-se preservado, sendo necessário desenvolver estudos que propiciem uma maior compreensão a respeito de suas características, organização interna e dinâmica, os quais podem também servir como referência para trabalhos que busquem dimensionar impactos em áreas afetadas por processos antropogênicos. Considerando essas questões, esta pesquisa tem como objetivos:

1) Levantar e analisar determinadas características geomorfológicas, pedológicas e fitofisionômicas em uma vertente localizada na Reserva Florestal do Morro Grande (RFMG), município de Cotia, assim como verificar a variação espacial de tais características;

2) Propor hipóteses sobre as relações entre o relevo e os solos da área em estudo, e sobre os processos morfogenéticos predominantes ao longo da mesma.

A Reserva Florestal do Morro Grande situa-se no Planalto de Ibiúna, segundo a divisão efetuada por Almeida (1964), estando seus vales entre 850 e 900 metros e os morros e colinas entre 900 e 1.000 metros de altitude. Os limites da RFMG coincidem com os da bacia do Rio Cotia em seu trecho superior (METZGER et al., 2006), a qual pertence à bacia hidrográfica do Alto Tietê.

De acordo com o mapeamento geológico realizado pela EMPLASA (1984), em escala 1:50.000, na área abrangida pela Reserva predominam migmatitos e gnaisses graníticos, e ao longo dos principais canais de drenagem ocorrem sedimentos aluviais quaternários. Segundo o mapa pedológico do Estado de São Paulo, elaborado por Oliveira et al. (1999) em escala 1:500.000, os solos que ocorrem na maior parte da Reserva são do tipo cambissolos háplicos distróficos, e em porções do norte e sul da mesma ocorrem latossolos vermelho-amarelos.

A cobertura vegetal desta área foi classificada por Catharino et al. (2006) como floresta ombrófila densa montana, mas os autores indicam também a ocorrência de espécies típicas de florestas mistas, espécies associadas às florestas estacionais semi-deciduais e ao cerradão. Metzger et al. (2004) apontam

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que a vegetação da Reserva encontra-se, em sua maioria, em estágios sucessionais médio e avançado de regeneração, havendo também áreas com vegetação madura. Metzger et al (op cit), com base nas medições realizadas por Setzer para a área em questão, classifica o clima como Cfb, ou seja, mesotérmico sempre úmido (ocorrência de precipitação em todos os meses do ano) e, portanto, sem estação seca definida.

Nesta pesquisa, a fim de identificar a vertente mais adequada a ser estudada, inicialmente foram selecionadas algumas áreas potenciais no interior da RFMG, processo que envolveu a análise de mapas temáticos, cartas topográficas, imagens de satélite e fotografias aéreas, em diversas escalas, buscando identificar certos padrões (interfluviais, vegetacionais, do embasamento) e outras condições naturais. As áreas de estudo potenciais foram então definidas a partir de determinados critérios, a saber, representatividade regional do relevo, significativa preservação da vegetação, diversidade geomorfológica e condições de acesso. Foram realizados trabalhos de campo de reconhecimento em cada uma delas, e só então efetuou-se a escolha definitiva da vertente.

O referencial teórico-metodológico adotado consiste na teoria dos geossistemas, tendo sido consideradas as noções fornecidas por Sotchava (1977), Bertrand (1972) e Monteiro (2001). Apesar de cada um desses autores possuir sua abordagem própria, suas colocações demonstraram os principais aspectos e propriedades da paisagem que podem ser analisados nos estudos de geografia física, com base nos princípios sistêmicos. Desta maneira, a área em estudo foi considerada um sistema vertente, conforme exemplificado por Christofoletti & Tavares (1977).

Para a caracterização morfológica executou-se o levantamento do perfil da vertente, segundo a técnica proposta por Young (1972), com algumas adaptações. Este procedimento consistiu na demarcação da linha do perfil em campo, com estacas de madeira fincadas no terreno a cada 9 metros, e na medição da declividade da superfície entre as estacas, utilizando-se para isso o clinômetro de Abney. Desta forma, cada valor obtido correspondeu ao ângulo de inclinação de um trecho de 9 metros do perfil da vertente. A direção seguida pelo perfil correspondeu ao rumo das áreas mais íngremes do terreno, conforme o conceito de true slope apresentado por Young (op cit). O levantamento do perfil foi realizado para toda a vertente, desde o topo até a margem do canal fluvial, totalizando 333 metros de comprimento.

Além do clinômetro de Abney, utilizou-se também o pantômetro (PITTY, 1968) em alguns trechos selecionados do perfil, o qual forneceu os valores de declividade para comprimentos de medida de 1,5 metro.

Após o levantamento em campo, os valores dos ângulos obtidos com a utilização do clinômetro de Abney foram plotados, formando o gráfico do perfil da vertente. Procedeu-se então à subdivisão do gráfico em unidades, identificando trechos retilíneos e porções curvas (côncavas ou convexas) com base

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nos coeficientes de variação dos ângulos e das curvaturas, conforme a proposta de Young (op cit) para a análise de perfis de vertente.

Assim, nos setores superior, médio e médio a inferior da vertente identificou-se trechos nos quais os ângulos permaneciam aproximadamente constantes. Três segmentos foram então delimitados, todos apresentando coeficientes de variação do ângulo inferiores a 10%. Essas unidades foram denominadas segmentos A, B e C, e apresentaram valores médios de inclinação de 9,5º, 6,93º e 8,38º, respectivamente.

O setor inferior da vertente apresentou um aumento gradual da declividade vertente abaixo, sendo desta forma definido como um elemento convexo, com curvatura média de 15,96º /100m e coeficiente de variação da curvatura de 28,51%. Nesta unidade foram registrados os maiores valores de declividade da vertente, sendo que o valor máximo obtido com a utilização do nível de Abney foi 16,5º. Já o ângulo máximo indicado pelo pantômetro nesse trecho foi de 19,5º.

O compartimento correspondente ao topo, com 0,5º de inclinação, foi classificado como segmento de topo (crest segment), e o trecho marginal ao rio, correspondente a uma estreita planície com declividade de 0,5º, foi denominado segmento mínimo (minimum segment).

Também identificou-se no perfil duas rupturas de declive, uma delas entre o topo e o segmento A, e a outra correspondente ao sopé da vertente, localizada entre o elemento convexo e o segmento mínimo.

A presença de três segmentos ocupando a maior parte do perfil da vertente demonstra o caráter retilíneo da mesma, fato que também é indicado pelo resultado do cálculo do índice de retilinidade, de 0,986, proposto por Blong (1975) apud Christofoletti & Tavares (1977).

Não foram identificados elementos côncavos no perfil da vertente, ou seja, nenhum trecho no qual há decréscimo gradual e constante dos ângulos vertente abaixo. De fato, no trecho inferior da vertente e na passagem deste para a planície (setor em que é comum o aparecimento de concavidades), ocorre uma diminuição nos valores dos ângulos, porém trata-se de uma passagem abrupta correspondente à ruptura de declive anteriormente mencionada, não podendo desta forma ser considerado um elemento côncavo.

Na caracterização da cobertura pedológica foram analisados alguns aspectos da morfologia dos solos, a saber, textura, cor úmida e seca, consistência úmida e molhada e amassada. A textura das amostras foi avaliada por meio do tato e classificada de acordo com as classes do triângulo textural constante no manual elaborado por Lemos & Santos (1982), e a cor dos solos, nos estados seco e úmido, foi classificada conforme a Tabela de Munsell (MUNSELL COLOR COMPANY, 1994).

A técnica utilizada para a coleta das amostras de solo foi a tradagem, com o emprego do trado holandês e três extensores. A definição dos locais para coleta das amostras foi feita com base nas unidades delimitadas no gráfico do perfil da vertente, uma vez que essas unidades foram consideradas

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representativas dos diferentes setores da vertente e dos compartimentos morfológicos presentes na área de estudo.

Assim, realizou-se tradagens em 7 pontos ao longo da vertente, tendo as amostras sido coletadas a cada 20 cm de profundidade, até que se percebesse ter atingido o horizonte C, ou, nos casos em que não se atingiu o material alterado da rocha, tradou-se até 320 cm (profundidade máxima atingida pelo trado com os extensores).

Nas tradagens realizadas no topo e nos trechos superior e médio da vertente, a transição do material pedogeneizado para o alterado deu-se entre 80 e 120 cm, e no trecho médio a inferior essa transição foi observada a partir dos 120 cm de profundidade. Nesses pontos, predominaram nos materiais pedogeneizados as classes texturais franco argilo-arenosa, franco-argilosa e franco argilo-siltosa, e cores amarelo-avermelhadas e amareladas (matizes 7,5YR e 10YR, respectivamente). Já o material alterado da rocha (horizonte C) apresentou, na maioria das amostras, textura franco-siltosa e cores vermelho-amareladas a vermelhas (matizes 5YR a 10R).

No trecho inferior da vertente as características dos primeiros 140 cm mostraram-se semelhantes às observadas nos materiais pedogeneizados à montante, contudo, a partir dessa profundidade os materiais apresentaram indícios de hidromorfia. Nas tradagens realizadas no sopé e na planície, até a profundidade de 320 cm, não atingiu-se o material de alteração das rochas, e as amostras aí coletadas revelaram grandes diferenças em relação às encontradas no topo e ao longo da vertente.

Nas amostras mais superficiais da planície (até 60 cm), a classe textural foi classificada como franco-siltosa e a cor como bruno acinzentado muito escuro. A partir dessa profundidade, foram encontrados materiais cinzentos e cinzento-escuros, de textura predominantemente franco-arenosa.

No sopé da vertente as amostras coletadas nos primeiros 80 cm apresentaram uma coloração muito escura, e serão submetidas a um procedimento de laboratório para avaliar o teor de matéria orgânica, a fim de verificar se trata-se de um horizonte turfoso.

Observou-se a ocorrência de fragmentos de mica em todas as amostras analisadas, com um aumento na quantidade e tamanho dos fragmentos nos horizontes C. Em diversas amostras foram encontrados minerais e fragmentos de rocha (fração cascalho), geralmente bastante intemperizados, e serão ainda efetuadas algumas análises buscando identificar sua constituição mineralógica.

Após a etapa de análise das características dos solos, a qual encontra-se em andamento, serão elaboradas hipóteses a respeito dos processos morfogenéticos predominantes e de sua relação com as características das amostras de solo.

A caracterização fitofisionômica a ser realizada nesta pesquisa terá como base as noções apresentadas por Meguro (2000), para a qual a peculiaridade fisionômica de uma comunidade vegetal

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resulta das formas de vida dominantes e sua disposição espacial ou estruturação no interior da comunidade. Serão produzidas representações gráficas, a partir da aplicação da técnica do perfil diagrama, em três trechos do perfil da vertente, a saber, no topo, no trecho médio e na planície, uma vez que observações preliminares demonstraram que há uma diferenciação da fisionomia vegetal nessas áreas.

Com relação à caracterização da morfologia do relevo, consideram-se relevantes os resultados já alcançados neste ponto da pesquisa, especialmente os referentes à forma da vertente, sendo esta a primeira contribuição realizada na RFMG no que concerne ao levantamento de perfis de vertente.

A respeito da análise dos solos e materiais da vertente, os resultados preliminares alcançados propiciaram não somente a caracterização de alguns dos aspectos da morfologia dos solos, mas revelaram a diversidade existente ao longo da área estudada. Os procedimentos e análises executadas neste sentido podem ser considerados um primeiro passo para a compreensão dos sistemas pedológicos e de sua diferenciação, tal como é realizado nos estudos que envolvem a análise bidimensional da cobertura pedológica, como em Boulet (1988) e Queiroz Neto (1988).

Ao final da pesquisa, com o estabelecimento de correlações entre as variáveis analisadas, buscando uma compreensão da paisagem de forma integrada, espera-se também adquirir um maior entendimento a respeito da dinâmica natural da área em estudo.

Referências bibliográficas:

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BOULET, R. Análise estrutural da cobertura pedológica e cartografia. In: XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 1988. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Campinas, S.B.C.S, 1988.

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MEGURO, M. Métodos em Ecologia Vegetal. São Paulo: IB-USP, 118 p, 2000.

METZGER, J. P.; ALVES, L.; PARDINI, R.; DIXO, M.; NOGUEIRA, A. A.; NEGRÃO, M. de F.; MARTENSEN, A. C.; CATHARINO, E. L. Características ecológicas e implicações para a conservação da Reserva Florestal do Morro Grande. Biota neotropica, Campinas, SP, v. 6, n. 2, p. 1-15, 2006. Disponível em <http://www.biotaneotropica.org.br > Acesso em 26/10/2006.

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QUEIROZ NETO, J. P. Análise estrutural da cobertura pedológica no Brasil. In: Anais do XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 1988. Anais do XXI Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, Campinas, S.B.C.S, 1988.

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