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O Futuro do Direito

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 JOTA  JOTA

O futuro do Direito

O futuro do Direito

1ª edição 1ª edição 2017 2017

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Copyright © 2017 por JOTA

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 A Cia do eBook apoia os direitos autorais

 A Cia do eBook apoia os direitos autorais. Eles incentivam a criati. Eles incentivam a criativi-

vi-dade, promovem a liberdade de expressão e criam uma cultura vibrante.

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Obrigado por comprar uma edição autorizada desta obra e por cumprir a

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lei de direitos autorais não reproduzindo ou distribuindo nenhuma parte

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CAPA, REVISÃO E DIAGRAMAÇÃO

CAPA, REVISÃO E DIAGRAMAÇÃO

Equipe Cia do eBook 

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ISBN

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978-85-5585-092-9

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SUMÁRIO

Apresentação ... 06

Prefácio: A revolução no mundo de Cícero ... 08

Primeira parte: Cenário ... 16

Advocacia 2.0: como advogar no século XXI ... 17

ELI, o robô assistente de advogado ... 23

Brasil, o país dos bacharéis “doutores” ... 26

Uma crítica ao estudo esquematizado do Direito ... 30

Formado em Direito? Veja 23 carreiras possíveis ... 36

“Jovens bacharéis não são ensinados a cobrar honorários” ... 47

10 livros para quem deseja trabalhar com arbitragem ... 52

“Advogado corporativo deve ter interesse genuíno por negócios” ... 56

Segunda parte: Transição ... 59

Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país ... 60

Carta a um jovem pesquisador do Direito ... 79

Por uma ciência do Direito mais apropriada ... 87

Para viabilizar mais adoções, deputado propõe mudanças na destituição do poder familiar ... 96

Carta a um jovem advogado especialista em Direito Digital ... 100

Inteligência Articial como ferramenta anticorrupção ... 105

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Terceira parte: Empreendedorismo ... 114

Mercado jurídico saturado? Empreender pode ser a solução ... 115

Inovação Digital – cases do futuro do Direito ... 134

Advogados não serão substituídos pela tecnologia ... 145

Empreendedorismo e Direito ... 149

Fundo de Investimento de Advogados em lawtechs ... 155

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Apresentação

O

trabalho jurídico da maneira como era pratica-do no início desta década está com os dias contapratica-dos. Sof-twares já escrevem petições simples. Um robô-advogado é capaz de consultar 200 milhões de páginas em segun-dos. Uma tecnologia, desenvolvida por um banco, analisa acordos de empréstimo comercial que tomavam 360 mil horas por ano dos advogados da instituição.

Enquanto isso, no país onde há mais de um milhão de advogados e em que 850 mil estudantes buscam o di- ploma de bacharel, os cinco livros jurídicos mais vendidos no primeiro semestre de 2017 foram Vade Mecums. A le-tra e a interpretação da lei sempre serão essenciais para o trabalho jurídico, mas não são mais os únicos elementos necessários. Estudantes e as próprias universidades preci-sam se adaptar.

Em outubro de 2016, o JOTA  criou a editoria

Carreira, apoiada pelo Itaú, com a missão de promover debates que auxiliem os leitores que estão ingressando no mercado a tomar boas decisões prossionais.

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O e-book O Futuro do Direito, que você lê agora em sua tela – provavelmente portátil – traz uma compilação das melhores reportagens sobre o tema publicadas ao lon-go do último ano, além de artilon-gos inéditos.

Apesar de todas as novidades, os advogados e demais operadores do Direito evidentemente não desaparecerão. Mas, provavelmente, terão atribuições distintas das que exercem hoje. O JOTA acompanha todas estas mudanças

 para deixar você bem-informado antes de todos. E esta  jornada está só começando.

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Prefácio: A revolução no mundo de

Cí-cero

Por Oscar Vilhena

Diretor da FGV Direito SP. É formado em Direito pela PUC-SP, dou-tor pela USP e pós-doudou-tor pela Universidade de Oxford

A

dvogados, juízes e outros operadores do Direito somos habilitados a ouvir relatos e dar a eles um sentido  jurídico. Transformamos o desejo de um empreendedor em um contrato, o sentimento de injustiça em uma ação  judicial, uma disputa comercial em uma arbitragem e um crime em uma sentença. Desde Cícero, nos retratamos como artíces da interpretação e aplicação das leis de um  país.

Essa realidade, no entanto, vem sendo rapidamente transformada, por diversos fenômenos externos e internos ao próprio Direito, com forte impacto sobre a prossão ju-rídica, assim como sobre o ensino e a pesquisa em Direito. A globalização, a aplicação de novas tecnologias de in-formação são os fenômenos externos ao Direito que mais

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obviamente estão impondo uma reformulação do modo como se pensa e se aplica o Direito.

Mais do que isso, a função do Direito e sua estrutura interna também vêm se transformando profundamente no último século. Se no passado o Direito tinha como função essencial a estabilização de expectativas, por intermédio da aplicação de regras e precedentes previamente estabe-lecidos, no mundo contemporâneo o Direito passou a ser utilizado de forma cada vez mais corriqueira como ins-trumento de transformação e conformação da vida social, cumprindo aos seus prossionais responder e colaborar  para a solução de problemas complexos que aigem a so-ciedade. Ao acumular mais essa função, o Direito neces-sariamente foi se desformalizando, como já alertava Max Weber, no início do século XX. Ao adquirir uma natureza cada vez mais instrumental, o Direito passou a se relacio-nar de forma mais intensa com outras disciplina que lhe fazem fronteira, como a Economia, a Sociologia, a Ad-ministração, e a própria Filosoa, posto que seus pros-sionais são constantemente convocados não apenas para dizer se um comportamento é legal ou ilegal, se uma lei ou um contrato são válidos ou inválidos, mas também para opinar sobre o impacto econômico de um determinado modelo contratual, ou sobre as consequências sociais de uma determinada política pública.

O Direito, porém, não se tornou mais complexo pela ampliação funcional de sua tarefa, mas também por não ser mais contido pelas fronteiras de um Estado. Evidente que sempre houve Direito Internacional ou a relação jurí-dica entre o Direito de múltiplas jurisdições. Os Direitos

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Romanos e Medievais dão inúmeros exemplos tanto de um Direito cosmopolita, como a necessidade de se arti-cular inúmeras jurisdições. Nada se compara, no entanto, com o grau de interação e interconexão que permeia as relações jurídicas contemporâneas.

O que há de comum na criação de um novo banco de desenvolvimento pelos BRICS; na construção de imensas usinas hidroelétricas na Turquia ou no Brasil, que contam com investimentos estrangeiros e atuação de consórcios internacionais na sua efetivação; na abertura de capital de uma empresa que atua em múltiplos mercados; no uxo anual de mais de US$ 1,5 trilhões em investimentos es-trangeiros diretos; no combate à corrupção e ao crime or-ganizado, que inclui lavagem de dinheiro ou remessa de capital para paraísos scais; no turismo sexual no sudoeste asiático ou no Nordeste brasileiro que envolve tráco de  pessoas e a concorrência de agentes em múltiplas

jurisdi-ções; ou ainda a constante ameaça à privacidade de bilhões de pessoas ao redor do mundo, ao se propor a criação de uma porta de acesso para que os agentes de aplicação da lei possam interceptar a comunicação efetivada por inter-médio de aplicativos?

A resposta pode parecer simples: todos são eventos com uma dimensão jurídica cada vez mais complexa, glo- balizada e interligada a outras áreas de conhecimento. O complicado é que o enfrentamento desses e outros proble-mas envolvem uma innidade de regras e práticas jurídicas que não se encontram connadas numa única jurisdição, exigindo daqueles que operam o Direito um conhecimento  para o qual não foram necessariamente preparados. Para

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 professores de escolas de Direito, o desao é como me-lhor educar uma nova geração de juristas para um mundo completamente distinto daquele mais paroquial, ordenado e analógico em que foram formados? Partilho com o leitor algumas das ideias que me pareceram mais instigantes.

A onipresença do Direito nas diversas esferas de nossa vida tem exigido de outros prossionais, como ad-ministradores, contadores, economistas e mesmo médicos e cientistas, um conhecimento cada vez mais sólido do Di-reito aplicável às suas esferas de atuação. Por outro lado,  para que sejam minimamente capazes de atuar, advogados  precisam ampliar seus conhecimentos sobre tecnologia, gestão, economia, etc. Nesse sentido, escolas de Direito  precisam se abrir para outras disciplinas e, ao mesmo tem- po, serem mais ambiciosas para treinar prossionais de

outras áreas.

Um segundo ponto refere-se à necessidade de inter-nacionalização do ensino e pesquisa. Muito embora hoje mais de 50% do PIB mundial esteja sendo produzido nos  países em desenvolvimento, cerca de 90% do mercado internacional de advocacia é controlado por rmas ingle-sas e norte-americanas. O sucesso anglo-saxão não tem um signicado apenas econômico para Wall Street ou a City Londrina, mas também reete uma desproporcional inuência institucional desses dois países na economia in-ternacional. Os países que não contarem com uma inteli-gência jurídica cosmopolita e instituições sosticadas se transformarão em meros clientes.

Uma terceira questão é a necessidade de conferir ao aluno o protagonismo do processo de aprendizagem. Dada

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a velocidade das mudanças, não mais se pode imaginar que um ensino focado na transferência de conhecimento do professor para o aluno seja suciente. O que devemos  promover são habilidades analíticas, criatividade e sólidos conhecimentos sobre os princípios que regem o Direito. Mais do que o treinamento de “operadores do Direito”, devemos ter a ambição de formar “arquitetos jurídicos”, capazes de forjar inovadoras soluções jurídicas para pro- blemas complexos.

Para além da globalização uma outra dimensão a de-saar aqueles que praticam, pesquisam e ensinam Direito é lidar com as diversas tecnologias de processamento de dados, comunicação e mesmo inteligência articial que, se demoraram mais para chegar ao campo do Direito, hoje constituem uma realidade inelutável.

Se a aplicação das tecnologias de processamento e comunicação de dados provocou um avanço incremen-tal na prossão, permitindo que todos pudéssemos fazer muito mais coisas em muito menos tempo, com a chegada do big-data e da inteligência articial aplicadas ao Direi-to, as inovações prometem ser disruptivas e não simples-mente incrementais. A capacidade de analisar bilhões de informações e, sobretudo, de estabelecer conexões lógi-cas entre elas, como prenunciada pelo programa Watson, da IBM, sugere que grande parte do trabalho mecânico dos operadores do Direito pode ser brevemente assimila-do por entes tecnológicos (robôs e softwares). Esse, pelo menos, é o prognóstico de recente relatório  publicado  pela International Bar Association.

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da e os segmentos que não forem capazes de se adaptar terão diculdade em sobreviver. Do lado dos escritórios, os serviços sob medida, cautelosamente elaborados para um cliente delizado, vêm sendo pressionados por pro-dutos e serviços jurídicos estandardizados, empacotados e oferecidos como commodities, não necessariamente por escritórios de advocacia. Consultorias, empresas de con-tabilidade ou startups, criadas por jovens com múltiplos saberes, pressionam o mercado tradicional. Se a regulação da prossão por muito tempo foi capaz de assegurar o mo-nopólio da prestação dos serviços jurídicos nas mãos dos  prossionais do Direito, essa barreira regulatória tende a se tornar cada vez mais ineciente para conter serviços de natureza jurídica oferecidos por prossionais de outras áreas.

Mesmo do lado das agências públicas de aplicação da lei, o emprego das novas tecnologias, tende a gerar não apenas mais velocidade, como também mais transparência e, eventualmente, menos arbitrariedade por parte das auto-ridades. Da lavratura de multas, sem qualquer intermedia-ção humana, ao ingresso num país tendo apenas os olhos  biometricamente escaneados, cam reduzidas as oportuni-dades para pequenos arbítrios e ineciências burocráticas. Se ainda não há máquinas julgando, e nem seria desejá-vel que houvesse, já é possídesejá-vel discernir e agregar casos,  para que recebam tratamento mais efetivo e isonômico.

Há hoje experiências promissoras na Advocacia-Geral da União que ampliarão em muito a eciência da proteção do interesse público em campos como o Direito Tributário, Previdenciário e mesmo as contratações públicas.

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Evidente que há o lado altamente sombrio dessa re-volução. Um primeiro aspecto é o desproporcional aumen-to na capacidade do Estado de imiscuir-se na vida privada e assim ampliar sua disposição de controle e coerção sobre nossas vidas, da qual precisamos aprender a nos defender. A tecnologia também terá um efeito desagregador da pro-ssão, ainda mais num país que permite a criação de um número exorbitante de escolas de Direito, que diplomam milhares de jovens bacharéis inabilitados para operar nes-se novo mundo.

A revolução tecnológica já tem provocado e irá  provocar mudanças ainda mais drásticas no modo como aprendemos e ensinamos Direito. Nossas salas precisam ser transformadas em experiências pedagógicas que forta-leçam as capacidades analíticas, os conhecimentos sobre os fundamentos do Direito e as habilidades para solucionar e negociar problemas complexos, essenciais ao jurista. De outro lado, necessitamos estreitar o diálogo com diversos campos de conhecimento, como tecnologia, neurociência, economia e gestão.

Há, por m, uma preocupação com o próprio sentido da educação jurídica nos dias de hoje. A promessa de pol- pudas recompensas nanceiras seduz um grande número de jovens não necessariamente vocacionados para a pro-ssão. O risco é que muitas escolas de Direito, mesmo as de ponta, se tornem existencial e politicamente estéreis, contribuindo para a formação de advogados céticos que  pouco contribuam para o bem da comunidade. A receita  parece ser estimular programas como clínicas de interesse  público, que favoreçam a cooperação e um maior

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compro-misso com a sociedade e os valores da justiça, que se en-contram no cerne da prossão desde os tempos de Cícero. Ao hospedar esse debate multidimensional o JOTA  contribui para que prossionais e educadores

 jurídicos possam ter uma compreensão mais adequada de seus desaos, assim como melhor se qualicar para atuar não apenas num mundo em rápida transformação, mas também a partir de um Direito que vem assumindo responsabilidades que são cada vez mais amplas e que,  portanto, impõe novas habilidades e saberes àqueles que

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Primeira Parte

Cenário

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Advocacia 2.0: como advogar no século

XXI

Disrupção no mercado jurídico irá alterar completa-mente a rotina dos prossionais

Bruno Feigelson, sócio do escritório Lima ≡ Feigelson Advogados, CEO do Sem Processo e presidente da Associação Brasileira de lawte-chs e legaltechs (AB2L)

É

uma grande honra ser convocado para reetir a respeito do futuro da advocacia, especialmente em razão do convite ter sido feito pelo time do JOTA, que vem

re-volucionando a forma de apresentar conteúdos jurídicos e  políticos no país.

A verdade é que a grande vantagem em se fazer esse exercício de futurologia, – como bem observou o profes-sor Egon Bockmann Moreira, em recente artigo abordan-do o tema –, “reside na mais absoluta irresponsabilida-de do profeta”. No entanto, diante da minha atuação no escritório Lima ≡ Feigelson Advogados, na lawtech Sem

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Processo e na AB2L (Associação Brasileira de lawte-chs e legaltelawte-chs), penso que posso contribuir com algu-mas observações que cultivei reetindo e debatendo com grandes expoentes da advocacia nacional.

Dito isso, e antes de iniciar a especulação a respeito do que será a advocacia das próximas décadas, cabe sa-lientar que acredito profundamente que não seremos ex-tintos. Apesar do que muito vem se alardeando a respeito dos ditos “robôs advogados”, penso que a disrupção no mercado jurídico irá alterar completamente a rotina dos  prossionais que atuam neste segmento, sem com isso retirar a importância dos seres humanos que lidam pro-ssionalmente com interesses alheios (seja de indivíduos ou de corporações). Muito pelo contrário, o prossional que conseguir se adaptar ao mundo exponencial, comple-tamente remodelado pela quarta revolução industrial, terá expressivo protagonismo na nova realidade.

Certamente nós, advogados do nal da segunda dé-cada do século XXI, teríamos grandes diculdades para entender e interagir com este “advogado do futuro”, que na minha concepção já está se remodelando, e terá sua completa transformação ao longo dos próximos 5 a 10 anos. Assim, passo a listar as características que parecem estar cada vez mais sendo valorizadas por indivíduos e corporações, e que possivelmente serão ampliadas na me-dida em que a inovação tecnológica progressivamente se expanda pelos nossos hábitos de vida.

1. Constante uso das lawtechs  e de tecnologias

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 prossional dos advogados, o uso de softwares desenhados especicamente para o mercado jurídico será uma realidade cada vez mais constante e presente na vida dos advogados. O uso de plataformas digitais será imprescin-dível para tarefas como pesquisar posicionamentos dou-trinários, fundamentar pareceres, elaborar peças e contra-tos, acompanhar mudanças legislativas e posicionamentos de tribunais, negociar contratos e resolver conitos. As “commodities” da vida do advogado, em especial, serão devoradas pela tecnologia. Advogar sem o uso de lawte-chs, em um futuro nada distante, será tão absurdo quanto imaginar, atualmente, a possibilidade de usar a máquina de escrever em vez do computador.

2. Prestigiar mais o processador do que a me-mória:  Tradicionalmente, no âmbito da advocacia, a

experiência – “os cabelos brancos” – sempre foi valorizada. Em uma realidade com baixo uxo de informação, em que a assimetria de informação era comum e as transformações sociais e setoriais ocorriam em nível controlado, deter a informação era tudo. No entanto, em uma sociedade em que grande parte da informação está disponível, o uxo de transformações é exponencial e acelerado, advogar signicará cada vez mais processar de maneira célere as alterações econômicas, setoriais e sociais, buscando resultados assertivos para os clientes. Assim, pode-se apostar em um futuro nada distante de advogados novos, qualicados, especializados e amplamente conectados com as mudanças em todos os sentidos.

3. Capacidade para encontrar e traduzir respostas:  A integração global, o rápido uxo de

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informações e a complexidade do mundo moderno irão impor um ritmo cada vez mais célere de novos  posicionamentos normativos, jurisprudenciais e doutrinários. Desta forma, o advogado 2.0 estará conectado na nuvem de informações em tempo integral, sempre disposto a mapear, interpretar e traduzir da maneira mais rápida possível as mudanças. Grande parte do trabalho dos advogados das próximas décadas será acompanhar novos  posicionamentos, compreender os respectivos reexos e

informá-los aos executivos e indivíduos em geral.

4. Maior nível de objetividade nas contratações: O

exercício da advocacia sempre foi uma típica obrigação de meio, em que as certezas a respeito do sucesso eram limitadas, ensejando todo tipo de esforço e investimento  para criar reputação. A transparência da nova era irá

substituir progressivamente fachadas de mármore e publicações em revistas especializadas por dados objetivos. As contratações serão pragmáticas, não abrindo espaço para desperdícios nanceiros. O advogado 2.0 será medido por resultados, habilidades comprovadas e atuará em ambientes com muita tecnologia e pouca pompa. A modernidade oportunizará a maior valorização do conteúdo do livro em detrimento da beleza da capa.

5. Compreensão e criatividade na resolução de problemas novos e complexos: A curva de comoditização

dos assuntos jurídicos será cada vez mais célere. Os resultados dos desaos impostos serão compartilhados, oportunizando desta forma poucas possibilidades de se obter resultados nanceiros com respostas antigas. Da mesma maneira, a utilização de tecnologia acabará com a

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mais-valia típica de serviços jurídicos automatizados. Por outro lado, os desaos que serão impostos aos advogados serão cada vez mais novos, com menor número de prece-dentes e que demandarão soluções rápidas e criativas. O advogado 2.0 terá que ser amplo conhecedor de assuntos diversos da vida, multidisciplinar e criativo. Na medida em que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário não  possuirão a capacidade de interagir com as mudanças no  prazo em que elas ocorrem, caberá ao advogado desenhar

os limites e interpretações adequadas.

6. Analistas de dados:  Tanto para interpretar as

decisões relacionadas aos diversos temas, bem como para formular novos posicionamentos, será imprescindível o uso das ciências de dados. A atuação prossional do advogado ainda se fundará no poder argumentativo, contudo, tal dinâmica será amplamente baseada em resultados objetivos e fruto de análises de dados. O espaço  para o convencimento será mais balizado em observações estatísticas. O sucesso do advogado 2.0 terá expressiva relação com sua capacidade de analisar, interpretar e expor tais informações.

7. Celeridade na resolução dos conitos: O

advogado 2.0 é um rápido “resolvedor” de questões. A velocidade da nova era não oportuniza mais espaço para longos litígios. No âmbito das grandes corporações, o sinal dos novos tempos está na privatização da resolução dos conitos que se dá por meio da arbitragem. Da mesma forma, é crescente a adoção da mediação e da conciliação. Seja como for, no campo da advocacia 2.0, o papel de “negociador” será muito mais prestigiado do que o de

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“litigante”. O uso de plataformas digitais para a resolução de conitos é um fenômeno em ascensão e irreversível. A sigla ODR – Online Dispute Resolutions – será reconhecida no futuro como o grande palco de atuação do advogado 2.0.

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ELI, o robô assistente de advogado

Criado para dar maior produtividade aos advogados, robô é treinado para realizar diversas tarefas

Luís Viviani, repórter do JOTA

A

empresa de tecnologia Tikal Tech, especializa-da no segmento jurídico, lançou em julho o “robô-advo-gado” ELI  – sigla para Enhanced Legal Inteligence (in-teligência legal melhorada). Trata-se de um assistente  personalizado treinado para realizar diversas tarefas para

auxiliar advogados e advogadas.

O robô pode acompanhar processos, assessorar em colaborações, e responder aos clientes na forma de cha-tbot. Ele ainda pode ajudar na coleta de dados, geração e organização de documentos, formatação de petições e interpretação de decisões judiciais para auxiliar na escolha de modelos aplicáveis a casos concretos.

“O ELI sempre vai ser contratado por advogados  para trabalhar para eles – não para substituí-los. É uma

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forma de os prossionais atenderem aos clientes de uma maneira automatizada”, diz o advogado Antônio Maia, fundador da Tikal Tech.

Mas é preciso saber programar para utilizar o ELI? Segundo Maia, não. “O advogado não precisa saber pra-ticamente nada de programação. Basta conhecer o direito em questão e o ELI vai ajudá-lo”.

Mais de 300 advogados já usam a nova ferramenta e, segundo o empresário, há uma média de 10 a 15 novos  pedidos por dia.

Questionado se jovens advogados iriam perder espa-ço por causa das novas tecnologias no segmento jurídico, Maia diz que é possível que isso ocorra. Por outro lado, surgirão novas oportunidades. A utilização de plataformas  pré-prontas, segundo ele, pode trazer novas possibilidades

de trabalho.

“O mercado de petições que existe em grupos de Fa-cebook é um exemplo de como se abrem novas portas. Tem sites que fazem aproximação prossional do advoga-do com determinaadvoga-dos tipos de clientes, de causas, e isso  possibilita que ele tenha atividades que não teria antes”,

diz.

ELI ICMS Energia

Uma das funções do robô é chamada de ELI ICMS Energia. Trata-se de uma automação para o processo de restituição do ICMS em contas de energia elétrica.

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Segun-do Maia, com a coleta de informações e cálculo da resti-tuição até a petição inicial há uma economia de centenas de cliques, acessos, downloads de contas e atualização de índices de inação.

“Dependendo das questões, o sistema vai, com base nas informações que o advogado o instruiu, dar uma res- posta sobre aquilo que a pessoa quer. Se ela tem direito ou não e qual é o fundamento do direito que ela eventualmen-te pode eventualmen-ter”, explica Maia.

 No caso de a situação jurídica se aplicar a um núme-ro grande de pessoas, o ELI faz um serviço de assessoria de litígios, com modelos já prontos, organizando e cole-tando documentos.

Outra característica do robô são os relatórios inte-ligentes. “Como ele trabalha com as outras plataformas da Tikal Tech, tem acesso a todo acervo de informações que a LegalNote [sistema de acompanhamento de proces-sos] tem”, explica. Com isso, seria possível, por exemplo,  prever que tipo de ações se costuma ganhar ou perder em

determinado lugar, com determinado juiz.

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Brasil, o país dos bacharéis “doutores”

Um em cada dez universitários estuda Direito Kalleo Coura, editor do JOTA

Guilherme Pimenta, repórter do JOTA

O

Ministério da Educação divulgou no início do mês o Censo da Educação Superior de 2015, que mostra que um em cada dez universitários do Brasil está assis-tindo a uma aula de Direito nos bancos da faculdade. São 853.211 estudantes distribuídos em 1172 cursos, o que faz do Direito a opção de ensino superior mais popular do  país.

 No ano passado, exatos 105.324 novos bacharéis foram despejados no mercado. Todo o grupo classicado  pelo Ministério da Educação de “Engenharia, produção e construção”, que inclui Arquitetura e as mais diversas en-genharias, formou praticamente o mesmo número de pes-soas. Medicina gradua apenas 17.123 estudantes enquanto  jornalismo, com um mercado em eterna crise, forma 7.399

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 prossionais.

 Não é exagero dizer que o Brasil é o país dos bacha-réis – e dos advogados também. A Ordem dos Advogados do Brasil já registra 995.905 advogados em seus quadros. Isto signica que a cada mil habitantes, cinco são advoga-dos.

Embora no último exame da Ordem, no estado de São Paulo, apenas 5.064 dos 28.165 candidatos inscritos tenham sido aprovados, o número de advogados não para de crescer.

Advogados no mundo

O Brasil é o terceiro País do mundo com mais advo-gados em números absolutos. Perde apenas para Estados Unidos, com 1,3 milhão, e Índia, que possui 2 milhões de operadores do Direito – muito embora a ordem dos ad-vogados local estime que 30% não atue na área ou, pior, ostente um diploma falso na parede.

Levantamento feito pelo JOTA  com 22 países

mostra que, em termos proporcionais, o Brasil supera os líderes Estados Unidos e Índia, cando atrás apenas do Paraguai. Estima-se que nosso vizinho tenha 60 mil advogados, ou quase nove advogados para cada mil habitantes. Contudo, não se sabe quantos paraguaios atuam de verdade na prossão e, como por lá não existe um conselho prossional, basta se formar na faculdade  para se tornar advogado.

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Origem da desproporção

 Neste cenário, é impossível não se perguntar: há es- paço para tantos operadores do Direito?

A resposta do pesquisador Ivar Hartmann, professor da FGV Direito Rio, é um sonoro não. Para ele, existe um contingente desproporcional de alunos de Direito atraídos  por uma promessa de salários e de garantias de funções  públicas exclusivas que são desproporcionais ao que se  paga, em média, no setor privado.

Os concursos públicos para cargos de alto escalão, de fato, são absurdamente concorridos. O último para de-legado de Polícia Federal, por exemplo, teve 46.633 ins-critos para apenas 150 vagas – uma concorrência de 311 candidatos para cada vaga. Para se ter uma ideia, o curso mais concorrido da Fuvest no ano passado, o de medicina em Ribeirão Preto, teve 72 candidatos para cada vaga.

Para o pesquisador, nem o mercado privado nem o  público conseguem absorver toda essa oferta de bacharéis. “Ainda assim, se o aluno colocar na ponta do lápis, é evi-dente que é mais vantajoso estudar para concursos. Para muita gente que se forma em Direito por meio do Prouni ter estabilidade e receber um salário de R$ 5 mil de técni-co num tribunal é um sonho”, arma.

“O Brasil desperdiça um capital humano monumen-tal ao fazer com que essas pessoas joguem fora três, quatro anos de suas vidas sem produzir nada e se preparando para um teste que sequer será útil para a rotina prossional da-queles que serão aprovados”, avalia Hartmann.

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Então, o que fazer?

Para o professor Otávio Silva e Pinto, presidente da Comissão de Graduação da Faculdade de Direito da Uni-versidade de São Paulo, o fundamental para o bacharelan-do é estudar muito. “Ele precisa ter consciência de que não conseguirá uma posição no mercado de trabalho relacio-nada à área só porque está fazendo o curso”, arma. “Até mesmo porque a qualidade da faculdade muitas vezes não garante a esse prossional a possibilidade de passar na OAB ou em concursos públicos”.

Mesmo assim, para Pinto, o Direito abre caminhos e pode ser um diferencial até mesmo para trilhar a área empresarial. “Para ter uma ascensão prossional, o estu-dante precisa estar bem-informado, conhecer as diferentes visões e doutrinas a respeito do segmento que ele pretende trabalhar. Apesar do grande número de bacharéis, existe uma demanda da sociedade por prossionais da área jurí-dica, que não necessariamente serão advogados.”

O diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Felipe Chiarello, diz sempre abordar a questão em suas aulas inaugurais sobre Direito Econômico. “O mercado nunca está saturado para quem é  bom. O aluno tem que saber o que quer, otimizar o resul-tado depois que se formar. É importante, por exemplo, ter uma publicação de qualidade no nal da graduação para mostrar para um futuro empregador que ele é diferencia-do”.

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Uma crítica ao estudo esquematizado do

Direito

Utilizar “resumões” para ensinar alunos, sem dúvida, não cumpre a função social do Direito

Marco Aurélio Florêncio Filho, doutor em Direito pela PUC-SP, mestre em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE), pro-fessor e advogado

A

tualmente, vive-se no Direito uma crise axioló-gica [1], que demanda uma (re)leitura de alguns postu-lados estruturantes na seara acadêmica. Aqui, farei uma crítica, espero do ponto de vista construtivo, pois se assim não fosse optaria por não escrever o presente, acerca do estudo esquematizado do Direito, que apesar de ter uma nalidade (vejo unicamente de revisão) ocasiona grandes  perdas na formação intelectual do jurista.

Certamente, o curso de bacharelado em Direito re-quer do aluno bastante leitura, visto que o Direito, enten-do, é uma ciência argumentativa. É por isso, aliás, que

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 jurídicos, pois procuram analisá-los a partir de postula-dos cartesianos reduzipostula-dos, muitas vezes, unicamente em cadernos (parece-me que daqui surgiu o Direito esquema-tizado).

Desculpem-me a redução de complexidade, mas compreendo que a doutrina que deve ser utilizada pelo discente circunda a partir das seguintes possibilida-des: i)  tratados novos; ii) tratados antigos; iii)livros es- pecializados e iv)  periódicos nacionais (indexados pelo

qualis periódicos) [2] e estrangeiros.

Os tratados novos, praticamente em extinção, são aqueles livros em que o autor busca abordar todos os temas estudados numa área do Direito, por exemplo, tratado de Direito Penal, tratado de Direito Civil, tratado de Direito Administrativo etc. Cumpre destacar que pouco importa o termo “tratado”, que pode ser um “curso”, “manual”. O importante é versar seriamente sobre os temas abordados. Já os tratados antigos, esses, em maior número, qua-litativamente, são, particularmente, maravilhosos. Causa tanta estranheza a falta de tratadistas como os que tivemos no Brasil no século XX, que a Georg-August Universität, em Göttinguen (Alemanha), através do CEDPAL (Centro de Estudos de Direito Penal e Processual Penal Latino--americano) está a organizar um livro em homenagem a Aníbal Bruno, para resgatar a obra deste grande jurista do Direito Penal brasileiro [3]. Deve-se destacar que Aníbal Bruno não nalizou o seu “Direito Penal”, constituído por três volumes da Parte Geral e um volume, apenas, da parte especial, “Crimes contra a Pessoa”. Também, não podería-mos deixar de mencionar o “Tratado de Direito Privado”

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de Pontes de Miranda, em 60 volumes.

Por m, reputo como importante para o bacharelan-do em Direito realizar pesquisas nos periódicos indexabacharelan-dos  pelo qualis da área do Direito da Capes ou periódicos in-ternacionais para realizarem estudos mais aprofundados acerca de temas do Direito.

Daí, o leitor pode me perguntar: e os livros jurídi-cos esquematizados, possuem alguma nalidade? Entendo que sim, caro leitor, para uma revisão. No entanto, acre-dito que se for realizado um chamento das opções acima mencionadas, não haverá necessidade de estudo por livros esquematizados.

Mas, o insistente leitor irá indagar-me, provavel-mente: é importante estudar por livros esquematizados  para concursos públicos? E, aqui, repousa um problema, que não é exclusividade no Brasil. Decerto, se essa per-gunta me fosse formulada há cinco anos, provavelmente eu responderia que o estudo para concursos públicos deve se dar a partir da leitura de tratados novos, atualizados. Entretanto, hoje, posso armar que no Brasil e na Europa a busca pela carreira pública, muitas vezes não por voca-ção, mas sim em busca da estabilidade nanceira, faz com que muitos pretendentes a cargos públicos (no Brasil, são os denominados “concurseiros”) estudem por livros nos moldes, esquematizado, sinopse, “resumão”.

Tive a oportunidade de, nos últimos 5 anos, realizar  pesquisas e ministrar palestras em alguns países europeus,

em especial: Portugal, Itália e Alemanha. Para minha sur- presa, ao visitar as livrarias desses países, encontrei

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diver-sos livros para concurdiver-sos públicos (nos moldes esquema-tizados) e, pasmem, diculdade em encontrar tratados de Direito ou livros em temas especícos. Apenas, achei os livros que procurava, bem como os periódicos especializa-dos, nas bibliotecas das Universidades que visitei. Ainda  bem!

Entretanto, utilizar sinopses, “resumões” ou esque-matizados para ensinar alunos, sem dúvidas, não cumpre a função social do Direito, visto que os conitos que os  juristas, via de regra, resolvem são extremamente comple-xos e correspondem a uma expectativa de direito de um terceiro (ser humano), que está longe de ser resolvido por um esquema.

Espero que compreendamos bem a responsabilidade que temos, como juristas, com a sociedade na qual esta-mos inseridos, para que possaesta-mos solucionar, da melhor forma, os conitos que nos são apresentados. O resgate ético-social que tanto se proclama atualmente passa por nós mesmos. Conceber uma doutrina do bom comporta-mento passa por uma construção de postulados rmes. Sem dúvidas, o estudo não é uma tarefa fácil, principal-mente o estudo jurídico. São horas e horas de reexão para se compreender determinados institutos e sua relação com a sociedade.

Entristece-me, por exemplo, vericar nos Tribunais Superiores a citação de livros esquematizados nos acór-dãos prolatados, o que, para mim, revela a simplicação na solução de uma demanda, que, certamente, não pode ser resolvida por esquemas.

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Difícil é nessa sociedade informatizada fazer com que se leia mais de 140 caracteres. Porém, quem disse que Direito é fácil? E que simples soluções são as melhores?

Finalizo aqui minha opinião, que não possui preten-são de verdade, mas apenas poderá servir para uma re-exão posterior, que o curso de Direito não termina. Por certo, formamo-nos e iniciamos uma carreira jurídica, mas enquanto estivermos atuando nas demandas jurídicas, fa-z-se necessário estudar bastante e nos aprimorarmos, pelo menos, no tocante à cultura jurídica. Conclamo aos que estão envolvidos no ensino jurídico no Brasil a resgatar-mos nossos tratadistas e despertar em nossos alunos o pra-zer no estudo do Direito!

Texto publicado em 10/03/2017

[1] Na verdade, este problema atinge a sociedade em geral. Se-gundo GOYARD-FABRE: “Nas sociedades “avançadas” que se de-claram democráticas não existe mais consenso relativo aos ideais po-líticos, aos interesses sociais e aos valores éticos; no lugar do sistema de valores tradicionais, o jogo da competição se instalou nessas socie-dades industrializadas ao máximo e, com esse jogo competitivo, se dá livre curso ao pluralismo, à irracionalidade, ao individualismo e até ao egoísmo. A obsessão com a produção e a ecácia econômica engen -drou uma desintegração axiológica. A herança moral perdeu seu sen-tido.” (GOYARD-FABRE, Simone. O que é Democracia? Tradução Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)

[2] https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/cole-ta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf 

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Formado em Direito? Veja 23 carreiras

possíveis

Bacharéis podem prestar diversos concursos exclusivos ou optar por áreas inovadoras

Kalleo Coura, editor do JOTA

Guilherme Pimenta, repórter do JOTA

C

erca de 260 mil pessoas se matriculam anual-mente em cursos de Direito no Brasil, com o objetivo de se unir a um contingente de milhões de bacharéis e advo-gados e milhares de outros prossionais que atuam na área  jurídica.

Da matrícula à denição da carreira, o caminho cos-tuma ser longo. Para produzir conteúdo relevante e exclu-sivo para estudantes de Direito, concurseiros e jovens já no início da carreira que escolheram, o JOTA lança hoje

a editoria Carreira.

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o intuito de auxiliar os leitores na tomada de decisões re-lacionadas à vida prossional — desde o momento em que  pisaram pela primeira vez na sala de aula da faculdade.

Como o estudo do Direito abre um leque extraordi-nário de oportunidades ao recém-formado, para começar, listamos as principais carreiras que um bacharel pode se-guir fora do escritório de advocacia — seja no setor públi-co ou mesmo no setor privado — e qual é a remuneração inicial de cada uma delas.

 No setor público, existem diversas carreiras exclu-sivas para bacharéis em Direito ou para advogados. Além de oferecerem estabilidade, algumas carreiras públicas pa-gam salários iniciais altíssimos se comparados à realidade do funcionalismo público em geral e até mesmo a do mer-cado privado.

 Na área privada, as possibilidades vão muito além do tradicional cargo num grande escritório jurídico. Muitas vezes vistos com reservas por integrantes das bancas tra-dicionais, os departamentos jurídicos de grandes empresas são uma ótima oportunidade para o jovem ganhar espaço no mercado e, quem sabe, futuramente ocupar cargos de direção numa multinacional. O terceiro setor também é uma área que tem atraído jovens estudantes e bacharéis, cada vez mais preocupados em agregar valor social ao tra- balho.

A lista, claro, não esgota todas as possibilidades de um recém-formado. Sugestões de pautas são muitíssimo  bem-vindas. Divida suas dúvidas e aspirações conosco, através do e-mail do nosso editor, Kalleo Coura (kalleo.

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coura@jota.info).

Carreiras públicas

Uma miríade de cargos públicos pode ser ocupada exclusivamente por bacharéis de Direito, que são atraídos  principalmente pela alta remuneração inicial e pela esta- bilidade.

 Juiz

Os magistrados processam e julgam as ações judi-ciais resultantes do conito entre pessoas jurídicas e/ou físicas, entre entes públicos e entre particulares e entes  públicos. Para ocupar o cargo, o candidato deve ser apro-vado em concurso de provas e títulos e comprovar ter, no mínimo, três anos de atividade jurídica. Há concursos para magistratura estadual, federal, trabalhista e militar.

Salário inicial: R$ 24.818,71 (TJ-SP) e R$ 27.500,17 (Tribunais Regionais Federais e Justiça Militar)

 Promotor de Justiça

O Ministério Público (MP) é responsável pela defesa da ordem jurídica, dos interesses da sociedade e do regime democrático. O integrante do MP também scaliza a apli-cação das leis e defende o patrimônio público. A atuação do promotor se dá tanto na área criminal quanto na área cível em âmbito estadual. Para ocupar o cargo, o candi-dato deve ser aprovado em concurso de provas e títulos e

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comprovar ter, no mínimo, três anos de atividade jurídica. Salário inicial: R$ 24.818 (MP-SP)

 Procurador da República

Os membros do Ministério Público Federal (MPF) também são responsáveis pela defesa da ordem jurídica, dos interesses da sociedade e do regime democrático. Os  procuradores da República atuam nas áreas constitucional, cível, criminal e eleitoral — primordialmente em âmbito federal. Para ocupar o cargo, o candidato deve ser apro-vado em concurso de provas e títulos e comprovar ter, no mínimo, três anos de atividade jurídica.

Salário inicial: R$ 28.947,55  Procurador de Contas

É o representante do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas. O prossional scaliza o cumprimento da Constituição e das leis ordinárias, principalmente quanto à scalização contábil, nanceira, orçamentária, operacional e patrimonial do Estado e dos municípios.

Salário inicial: R$ 30.471 (TCE-SP)  Procurador do Estado

É o advogado do Estado, que atua prestando tanto advocacia consultiva quanto representando o ente público nos tribunais. Também é responsável por escrever e analisar contratos e editais de licitação.

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Salário inicial: R$ 22.178,35  Procurador do Município

É o advogado do Município. Desempenha as mesmas funções do procurador do Estado, mas em relação ao município. Em geral, pode atuar na advocacia privada também mesmo sendo concursado.

R$ 28.076 (na cidade de São Paulo)  Defensor Público

O defensor público presta assistência jurídica gra-tuita a quem não tem condições de pagar por uma defesa  particular. Em geral, são atendidas pessoas que recebem menos de três salários mínimos. Além disso, é dever do defensor público promover os direitos humanos e defen-der os direitos coletivos dos necessitados.

Salário inicial: R$ 18.431,20 (São Paulo)  Delegado de Polícia

É o responsável por presidir o inquérito policial, coordenar agentes e comandar toda a parte jurídica da investigação criminal. Os delegados de Polícia Civil atuam em âmbito estadual enquanto os delegados da Polícia Federal coordenam investigações de natureza federal.

Salário inicial: R$ 10.079 (Polícia Civil em São Pau-lo) ou R$ 16.830,85 (Polícia Federal)

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 Procurador no Banco Central 

É responsável pela representação judicial e extrajudicial do Banco Central do Brasil. Além disso, também presta consultoria e assessoria jurídica para a autarquia.

Salário inicial: R$ 17.330  Procurador Federal 

Representa judicialmente e extrajudicialmente as autarquias e fundações públicas federais, como por exem- plo o Instituto Nacional do Seguro Social, o IBAMA, as Agências Reguladoras e as universidades federais. Tam- bém presta consultoria e assessoria jurídica a estes entes  públicos.

Salário inicial: R$ 17.330

 Procurador da Fazenda Nacional 

Faz a representação judicial e extrajudicial da União em matéria tributária, de cobrança e execução de dívida ativa da União. Também exerce as funções de consultoria e assessoria jurídicas junto ao Ministério da Fazenda.

Salário inicial: R$ 17.330  Advogado da União

É responsável pela representação judicial e extrajudicial da União (todos os Poderes) nas matérias

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 jurídicas não abrangidas pela atuação do Procurador da Fazenda Nacional, além de exercer as funções de consul-toria e assessoria jurídicas junto aos órgãos do Poder Exe-cutivo da União.

Salário inicial: R$ 17.330 Tabelião de notas

A função é aconselhar as partes de maneira imparcial e confeccionar documentos públicos com o intuito de pre-venir litígios e garantir a segurança jurídica e o respeito à legislação. Os principais atos praticados pelo notário são as escrituras públicas, os testamentos, as atas notariais, as  procurações, as autenticações e o reconhecimento de

r -ma.

Salário: Calculado com base nos lucros obtidos pelo cartório. Em 2015, um cartório de Brasília, por exemplo, faturou R$ 26 milhões ao longo do ano.

 Iniciativa privada e carreiras não exclusivas

Fora dos grandes escritórios de advocacia, há inúme-ras oportunidades para bacharéis de Direito ou advogados. Algumas não são exclusivas para prossionais formados na área, mas os conhecimentos jurídicos adquiridos ao longo da faculdade costumam ajudar os operadores do Di-reito a serem bem-sucedidos.

 Árbitro

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acordo, buscam a solução do conito. O prossional, ao nal das audiências, é responsável por emitir uma sentença, para a qual não cabe recurso.

Salário inicial: varia de acordo com as arbitragens. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em litígios abaixo de R$ 8 milhões, o valor é de R$ 500 por hora trabalhada. Acima disso, a renda é variável.

 Pesquisador 

É um prossional que atua, geralmente paralelamente a outra atividade, pesquisando temas sobre as principais áreas do Direito. É necessário que o prossional tenha doutorado ou, no mínimo, mestrado, podendo trabalhar em faculdades ou até em grandes escritórios de advocacia. O trabalho geralmente é dividido entre pesquisas de longo  prazo, com duração de até três anos, ou de curto prazo,

que costumam tomar um ou dois meses. Salário inicial: R$ 8.000

 Professor 

É quem ministra aulas aos alunos da Faculdade de Direito ou em cursinhos preparatórios para a OAB ou para concursos públicos. Pode ser especialista em qualquer área, como penal, cível, trabalhista, tributário, administrativo e outras.

Salário inicial: R$ 6.979 (USP) ou R$ 80 horas/aula em cursinhos preparatórios

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Consultor legislativo

O prossional pode trabalhar no Senado, na Câmara dos Deputados, em Assembleias Legislativas ou Câmaras de Vereadores, auxiliando os políticos na criação de pro- jetos de lei ou de emendas constitucionais, com um olhar

técnico do Direito.

Salário inicial: R$ 29.099,23 no Senado e R$ 28.570,79 na Câmara dos Deputados

Conciliador 

Busca ajudar as partes a chegar a uma solução por meio de acordos, em uma tentativa de desafogar o Poder Judiciário.

Salário inicial: Em São Paulo, é de R$ 47 para cada duas horas trabalhadas

 Mediador 

Ajuda as partes que já se conhecem a restabelecer um canal de comunicação. O acordo não é uma conse-quência necessária da mediação. Para atuar, é necessário que o prossional faça um curso de capacitação de media-dores oferecido pelos tribunais ou câmaras de mediação.

Salário inicial: Em São Paulo, é de R$ 47 cada duas horas trabalhadas

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Deve defender, representar e negociar questões de interesse do país junto à comunidade internacional.

Salário inicial: R$ 15.005,26  Advogado corporativo

O prossional presta assessoria jurídica às empresas. Elabora contratos sociais de acordo com as necessidades da empresa, e também acompanha os processos cíveis, tra- balhistas e tributários.

Salário inicial: em torno de R$ 5.000  Advogado do terceiro setor 

É recomendável que o prossional entenda ou queira aprender sobre administração, política, gestão, estatística e, sobretudo, estar disposto a atuar fora da caixa. No âmbito jurídico, um advogado no terceiro setor  pode atuar em advocacy (lobby) e processo legislativo ou cuidar da gestão de parcerias e contratos externos. Entre as atividades extrajurídicas destacam-se: realização de pesquisas e representação institucional. No dia a dia, o prossional pode ter de exercer desde as tarefas mais simples e burocráticas até a redação de uma ata ou outro documento formal.

Salário inicial: R$ 4.000

Consultor estratégico de startups

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empre-sa em início de funcionamento e presta assessoria rela-cionada a assuntos scais, trabalhistas, societário, regu-latório, etc. É responsável também pelo desenvolvimento de equipes estratégicas para determinada área de atuação, monitorar metas e participar da produção de novos proje-tos.

Salário inicial: R$ 5.700

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“Jovens bacharéis não são ensinados a

cobrar honorários”

Para presidente da OAB-RN, recém-formados não sa- bem exercer a advocacia

Kalleo Coura, editor do JOTA

O

s cursos de Direito não ensinam ao estudante como se portar numa audiência, como cobrar honorários e como avaliar o custo de um processo.

O resultado é que ele chega ao mercado de traba-lho sem saber como exercer na prática a advocacia, avalia Paulo de Souza Coutinho Filho, presidente da seccional da OAB no Rio Grande do Norte.

“Se o jovem advogado não souber calcular o custo e cobrar aquém, ele vai pagar para trabalhar”, diz Coutinho Filho. “Por isso, a OAB tem desenvolvido ações junto a graduações e jovens advogados para que eles sejam prepa-rados para a vida prática”.

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Sobre a tabela de honorários local, que cobra acima da mediana nacional, Coutinho Filho arma que alguns valores não reetem a realidade atual do Estado.

“Estamos no processo de consulta pública e um dos  pontos que vai ser modicado é o estabelecimento de um

valor médio da hora trabalhada”, conta.

Leia a entrevista completa com Paulo de Souza Coutinho Filho, presidente da OAB-RN:

Qual é a vantagem de se ter um piso dos advoga-dos?

O piso estabelece um valor mínimo. Infelizmente te-mos uma advocacia com um número de prossionais cres-cente, o que reduziu o valor de remuneração. Temos aqui uma lei estadual que estabelece o piso para o advogado  privado. O valor para 20 horas semanais é de R$ 1.300 e  para 40 horas é de R$ 2.600. A lei foi aprovada em 2015 e sancionada pelo governador no ano passado. Também temos uma tabela de honorários que é referência para a ad-vocacia autônoma, mas não tínhamos uma referência que obrigasse a contratação por parte de escritórios, empresas.

O valor mínimo da hora de consulta no Rio Gran-de do Norte é Gran-de R$ 436, acima da mediana nacional, que é de R$ 300. Os advogados realmente cobram isso?

 Não. Estamos enfrentando esse problema na nova tabela. Estamos no processo de consulta pública e um dos

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 pontos que vai ser modicado é o estabelecimento de um valor médio da hora trabalhada. Esse valor não reete a realidade. Na época em que a tabela foi criada poderia re-etir. Hoje não.

Qual é a taxa de inadimplência da OAB-RN?

A inadimplência histórica é algo em torno de 38%, 41%. É bastante alta. Temos hoje uma advocacia em que  parte dela se inscreve na Ordem, mas não exerce

efetiva-mente a prossão. Essas pessoas estão buscando um con-curso público e se esquecem da anuidade. Temos que fazer um trabalho muito grande não de cobrança, mas de cons-cientização porque todos os benefícios são exclusivos dos advogados adimplentes. Acredito que temos conseguido recuperar o débito em atraso ao fazer esta conscientização. Só os adimplentes têm acesso à caixa de assistência, que conta com uma rede conveniada com clínica de atendi-mento médico e odontológico, centro de inclusão digital e muitos outros benefícios. Ainda não estamos incluindo os inadimplentes no SPC, mas vamos começar a fazer isso ainda neste ano. Sei que isto tem feito diferença em outros estados.

O senhor sabe quantos advogados atuam como dativos no Estado?

 Não é um percentual considerável, não. Algumas se-cretarias abrem o cadastro e o juiz faz a nomeação de acor-do com os nomes listaacor-dos. Não são muitos os advogaacor-dos  porque o recebimento é complicado, depende do

gover-no estadual e os prossionais têm que entrar com ação de execução para poder receber.

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Hoje são 11.057 advogados no Rio Grande do Norte. O mercado está saturado?

 Não, acho que ainda tem espaço. O Estado está cres-cendo e a área industrial tem se desenvolvido. Temos um  parque eólico muito forte, e a área de petróleo e gás tam- bém. É obvio que o mercado em si, em função da condi-ção nanceira do país, se retraiu. Não temos uma pujança como gostaríamos, mas há espaço para jovens advogados, sim.

Quais são os principais desaos da advocacia no Estado?

É a questão dos honorários sucumbenciais. Temos muitos casos de aviltamento. Os juízes têm estabelecido remuneração muito aquém do mínimo. Por exemplo, temos vários processos que demoraram sete anos para ter um julgamento e que o juiz arbitrou R$ 500 de honorários sucumbenciais, sendo que o caso era de fornecimentos de medicamentos de mais de R$ 800 mil. A única remuneração do advogado era sucumbencial. Não dá. Com o novo CPC cou mais difícil isso, mas a gente ainda enfrenta diculdades em decisões anteriores ao novo Código na  primeira instância. Nesse caso especíco, a decisão foi realmente absurda. O argumento foi que não houve tanto trabalho de interpretação por parte do advogado já que esta ação poderia ter sido elaborada para se buscar um medicamento mais barato. A argumentação serviria tanto  para a obtenção de um AAS como para um remédio de alta

complexidade, que era o caso, segundo o juiz. O tribunal reviu o caso e arbitrou os honorários em R$ 5 mil.

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E o principal desao da seccional da OAB?

 Nós temos uma grande preocupação com a quali-cação do advogado. Acho que talvez o grande desao é a recepção dos novos advogados. A grade curricular não trabalha a formação do prossional. Não temos matéria de gestão, os jovens não são ensinados a cobrar honorários, ou seja, o bacharel sai do curso sem qualquer conheci-mento para exercitar a advocacia como ela deve ser hoje, sem uma visão empresarial. Ele não sabe em qual especia-lidade ele pode investir, onde ele pode ter realmente um resultado mais interessante nanceiramente, sai absoluta-mente verde para a advocacia e preparado quase que ex-clusivamente para fazer um concurso público. Por isso, a OAB tem desenvolvido ações junto a graduações e jovens advogados para que eles sejam preparados para a vida prá-tica. São cursos de iniciação à advocacia que focam em aspectos práticos: como se portar numa audiência, como cobrar honorários, como avaliar o custo de um processo e por aí vai. Se o jovem advogado não souber calcular o custo e cobrar aquém, ele vai pagar para trabalhar.

Por que as faculdades não ensinam isso?

Acho que essa ausência talvez seja uma questão cul-tural de a advocacia ser considerada a prossão de quem tem oratória, de quem é desenrolado numa audiência e -camos muito tempo sem nos preocupar com a preparação  para a gestão do escritório. A juventude está predisposta a

aprender, só precisa de um empurrãozinho. Texto publicado em 01/05/2017

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10 livros para quem deseja trabalhar

com arbitragem

Advogado listou obras de Kafka, Maquiavel e Carlos Alberto Carmona

Carlos Forbes, presidente do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC)

F

azendo esta lista, vejo que o meu interesse pela ad-vocacia, pelo contencioso e pela arbitragem vem de uma visão histórica de que os problemas do mundo têm solu-ção.

Por mais complexa que seja a situação, colocando-a de maneira ordenada e seguindo o raciocínio de que tudo tem princípio, meio e m, é possível entregar o Direito de maneira correta e objetiva para a satisfação da paz social.

Alguns podem considerar tal constatação uma visão utópica e quase ingênua, mas se não houver a busca pela  justiça jamais se chegará à Justiça.

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1-) Odisseia, de Homero

Meu gosto pela leitura inicia-se com este clássico dos clássicos. Anos mais tarde, relendo, verico que o meu gosto pelo Direito encontra guarida em uma série de reviravoltas daquele que busca retomar seu trono ao nal de uma longa aventura.

2-) Duna, de Frank Herbert

Duna é para mim o suprassumo da capacidade hu-mana de desenvolver um mundo próprio, com princípio, meio e m, ou, às vezes, sem m (ver os cinco outros li-vros da série).

3-) O Processo, de Franz Kafka

Voltas e reviravoltas sobre a impossibilidade de sa- ber a acusação/defesa. Tão marcante e complexo que pode

e deve ser lido várias e várias vezes.

4-) O Falcão Maltês, de Dashiel Hammet

Clássico do policial noir, onde a confusão de dados e ideias inicialmente colocadas revelam a capacidade do autor, um de meus preferidos, de colocar ordem e expli-cação em tudo. São os vários detalhes durante a narrativa que permitem chegar ao nal, tendo uma leitura prazerosa e conclusiva.

5-) O Príncipe, de Maquiavel

Muito mais do que só “os ns justicam os meios” é um tratado de política, que demonstra a necessidade de conhecer o passado para entender o presente e planejar o

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futuro.

6-) A Luta Pelo Direito, de Rudolf von Ihering

O livro revela a necessidade da busca do entendi-mento losóco da existência e da nalidade do Direito. Penso que deve ser o primeiro livro entregue aos estudan-tes de Direito. Penso que foi o primeiro livro que li na Faculdade de Direito da UERJ.

7-) Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, de Moacyr Amaral Santos

É o básico que precisa ser lido para compreensão do Direito Processual. Mesmo referindo-se ao antigo Código de Processo Civil sua leitura continua obrigatória para  perfeito entendimento dos princípios e regras que regulam

o processo e o procedimento.

8-) Hermenêutica e Aplicação do Direito, de Car-los Maximiliano

Talvez o maior livro para o entendimento do Direito e da sua aplicação. O princípio basilar da regra de inter- pretação, qual seja que “a aplicação do Direito consiste no enquadrar um caso concreto em a norma jurídica adequa-da”, está nesse clássico de 1925, que continua tão atual como se fosse escrito para esse nosso tempo.

9-) Arbitragem e Processo, de Carlos Alberto Carmona

Um dos autores da Lei de Arbitragem Brasileira, os outros são Selma Lemes e Pedro Batista Martins,

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apresen-ta, neste livro de leitura obrigatória, uma síntese de tudo aquilo que se precisa entender e compreender a respeito de arbitragem. Não há como se aprofundar no tema sem con-tar com o ensinamento detalhado e objetivo deste livro.

10-) International Commercial Arbitration, de Gary Born

O livro de Gary Born, lido por todos aqueles que  pretendem aprofundar seu conhecimento na matéria, é aclamado como o texto padrão para compreensão da arbi-tragem e sua contextualização no mundo.”

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“Advogado corporativo deve ter

interes-se genuíno por negócios”

Oportunidades na carreira estão crescendo, segundo Flávio Franco, diretor jurídico da Netshoes

Laura Diniz, editora do JOTA Raquel Salgado, editora do JOTA

 N

o saturado mercado de trabalho dos prossionais do Direito, encontrar um nicho que absorve cada vez mais  prossionais representa um tremendo alento. Pois essa é a realidade dos advogados corporativos, segundo Flávio Franco, diretor jurídico da Netshoes e coordenador de um curso pioneiro de educação executiva para prossionais de departamentos jurídicos no Insper, em São Paulo.

O papel do jurídico nas empresas está crescendo, segundo Franco, por uma série de fatores. Em primeiro lugar, porque os negócios estão cada vez mais regulados, a exemplo do e-commerce. Em segundo, porque o com- pliance é uma prática que veio para car nas companhias

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e sua implantação passa pelo time interno de advogados. Em terceiro, porque as empresas estão começando a valo-rizar o jurídico como parceiro nas estratégias comerciais.

A participação maior dos advogados no dia a dia das empresas caminhou nos últimos anos em sintonia com uma mudança no perl dos prossionais. “Por muito tempo, o  jurídico foi visto como um departamento que servia para atrapalhar. Os gestores mais modernos estão mostrando  para as empresas que os advogados estão ali para ajudar a viabilizar negócios”, diz Franco. “Há um caminho longo a  percorrer. A gente ainda se depara muito com um perl ju-rídico da década de 80, do advogado que se veste diferente das outras pessoas da empresa, que fala diferente, que usa latim. Mas o momento é de oportunidade para transformar essa realidade”, avalia o diretor.

Para ser um bom advogado corporativo, segundo Franco, o prossional precisa “ter interesse genuíno por negócios e gostar mais de gente que de papel, porque, nas empresas, o Direito é instrumento”.

Por isso, no curso do Insper, leis e doutrinas são as coisas de que menos se fala. Nas aulas, diretores jurídicos experientes falam das competências exigidas do executi-vo da área, como capacidade de comunicação, liderança, conhecimento de contabilidade (“tem que saber provisio-nar”) e relações governamentais e muita gestão – de pes-soas, projetos, rotina, crise e de escritório externo (como denir quem contratar, como medir as entregas).

“Comunicação é importante, por exemplo, para construir parcerias dentro e fora da empresa. Os outros

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executivos têm de me ver como viabilizador de negócios e isso não se conquista com decreto”, explica Franco. “A contratação de escritórios externos também tem suas pe-culiaridades. Eu não vou contratar um cara porque ele me mandou um folder bonito ou me adicionou no LinkedIn.  Não vou contratar o cara que joga golfe comigo. O mer-cado é muito exigente. Os gestores querem escritórios que conheçam e agreguem valor ao negócio.”

Desde 2015, já houve duas edições do curso, de 42 horas, divididos em dois meses e meio de aulas. Duas no-vas turmas estão contratadas para 2017. Não são aceitos advogados de escritórios, apenas os que já trabalham em empresas. “É um público de gestores ou coordenadores,  já qualicados, para suprir uma carência de formação do

mercado.”

Entre os professores, estão, além de Franco, outros nomes importantes da área, como Luciana Freire, Gian-franco Cinelli, Gustavo Biagioli, Luciano Malara, Frede-rico Andrade, Amira Chammas e Elias M. Neto.

Segundo Franco, as escolas de Direito hoje formam apenas litigantes. “Não se fala de gestão, nem do próprio escritório, muito menos de um departamento jurídico. Pre-tendemos ter um curso de pós-graduação para gestores ju-rídicos e, no futuro, espero que isso seja uma disciplina na graduação.”

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Segunda Parte

Transição

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Análise Econômica do Direito chega aos

tribunais do país

Kalleo Coura, editor do JOTA

O exemplo da Lava Jato

A

o julgar o pedido de suspeição feito pelo ex--presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o desem- bargador João Pedro Gebran Neto por ter relação de

amizade “estreita e íntima” com o juiz de primeiro grau Sérgio Moro, os desembargadores da 4ª Seção do Tribu-nal RegioTribu-nal Federal da 4ª Região (TRF-4) consideraram que “a relação de amizade entre juízes não constitui mo-tivo legal para o afastamento de magistrados. Ademais, não está comprovada a amizade íntima entre o julgador de primeira instância e o desembargador que apreciou a exceção oposta em face do primeiro”.

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uma argumentação não tão usual nos tribunais utilizada uma argumentação não tão usual nos tribunais utilizada  pela

 pela relatora, relatora, a a desembargadora desembargadora Cláudia Cláudia Cristina Cristina Cristo- Cristo-fani. A magistrada foi além da dogmática jurídica que os fani. A magistrada foi além da dogmática jurídica que os  brasileiros

 brasileiros estão estão acostumados acostumados a a ler ler nas nas sentenças sentenças e e teori- teori-zou sobre os incentivos e custos de se propor uma ação zou sobre os incentivos e custos de se propor uma ação como esta, que os julgadores consideraram descabida.

como esta, que os julgadores consideraram descabida.

Em seu voto, Cláudia argumentou que “se o Em seu voto, Cláudia argumentou que “se o cum- primento das

 primento das sanções pode sanções pode ser ser adiado ou adiado ou evitado a evitado a deter- deter-minado custo, o agente estará mais motivado a minado custo, o agente estará mais motivado a despendê--lo quanto mais grave for a punição prevista – no caso de -lo quanto mais grave for a punição prevista – no caso de  pessoas

 pessoas com com projeção projeção política, política, pode pode ser ser considerada considerada san- san-cionatória a drasticidade das consequências reputacionais cionatória a drasticidade das consequências reputacionais decorrentes de eventual condenação penal”.

decorrentes de eventual condenação penal”.

“Assim, supondo que exista um custo a ser “Assim, supondo que exista um custo a ser despen-dido para evitar a aplicação de sanções (X), este custo dido para evitar a aplicação de sanções (X), este custo po-derá ser usado como uma medida da

derá ser usado como uma medida da fraqueza da capacida-fraqueza da capacida-de administrativa do Estado capacida-de obrigar à obediência legal: de administrativa do Estado de obrigar à obediência legal: nenhuma sanção será aplicada se exceder X, e quando a nenhuma sanção será aplicada se exceder X, e quando a sanção for maior que X o agente irá arcar com este custo, sanção for maior que X o agente irá arcar com este custo, de forma eciente, para evadir da sanção.”

de forma eciente, para evadir da sanção.”

Para ela, “diante disso, o Estado-Juiz precisa estar Para ela, “diante disso, o Estado-Juiz precisa estar munido de correspondente força, a

munido de correspondente força, a se contrapor às tentati-se contrapor às tentati-vas de fuga de responsabilização de requeridos em vas de fuga de responsabilização de requeridos em proces-so judicial, que, se bem-sucedidas, revelariam intolerável, so judicial, que, se bem-sucedidas, revelariam intolerável, desnecessário e inconstitucional grau de fraqueza estatal.” desnecessário e inconstitucional grau de fraqueza estatal.” E conclui: “se bem-sucedida, a estratégia, de E conclui: “se bem-sucedida, a estratégia, de despre-zível custo, colocaria de joelhos a jurisdição ao preço do zível custo, colocaria de joelhos a jurisdição ao preço do  protocolar

 protocolar de de uma uma petição petição de de exceção, palexceção, palavras avras escritas escritas nono  papel que,

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