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SUPORTE À TRANSFERÊNCIA: REFLEXÕES

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Academic year: 2021

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Painel 35/105 Contextos facilitadores ao mapeamento, aquisição e transferência de competências em organizações do Setor Público

SUPORTE À TRANSFERÊNCIA: REFLEXÕES E PESQUISA

NO SETOR PÚBLICO

Hugo Bittencourt de Oliveira Rozendo Maria Júlia Pantoja

RESUMO

O presente trabalho objetivou verificar as percepções de servidores públicos acerca do suporte fornecido pela instituição à transferência dos novos conhecimentos, habilidades e atitudes, adquiridos em cursos de capacitação e desenvolvimento, para o seu contexto de trabalho. A coleta de dados foi realizada, via web, por meio da escala de medida de suporte à transferência que foi revalidada na amostra de participantes do estudo. Foram adotados procedimentos de análise descritiva dos dados e análise fatorial. Os resultados indicaram que os indicadores de apoio gerencial, social (da equipe de trabalho) e material foram percebidos pelos participantes dos cursos de capacitação, como condições presentes em seu contexto de trabalho e que exerceram influência na aplicação das novas competências desenvolvidas. Confirmando, portanto, a importância de uma reflexão mais aprofundada sobre a necessidade de implementação de intervenções e estratégias nos contextos pré e pós-treinamento que assegurem o impacto positivo dos investimentos feitos em capacitação tanto no desempenho do servidor público e nos resultados institucionais quanto na sociedade.

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1 INTRODUÇÃO

As variáveis relacionadas ao ambiente organizacional têm sido investigadas por vários autores e destacam-se como importantes variáveis explicativas da eficácia e efetividade de programas ou eventos de treinamento, desenvolvimento e educação – TD&E. No âmbito de instituições públicas, o reconhecimento de que suporte à transferência de treinamento e clima organizacional constituem fatores críticos ao sucesso de programas de TD&E vêm impulsionando a realização de estudos e reflexões importantes sobre a efetividade dos processos de desenvolvimento de competências dos servidores públicos, conforme estabelece o Decreto 5.707/2006.

Conforme salientado por Pantoja, Porto, Mourão & Borges-Andrade (2005), a definição de suporte à transferência envolve variáveis presentes no ambiente organizacional antes, durante e depois do evento instrucional. As variáveis que são incluídas geralmente são apoio gerencial à transferência, ajuda e receptividade da equipe de trabalho à mobilização das novas competências aprendidas, dicas situacionais (relativas aos objetivos, desenho da tarefa, autocontrole para utilização do aprendido), bem como consequências (feedback,

feedback negativo, punição e nenhum feedback) diante das tentativas do

participante do evento de aplicar em seu trabalho os novos conhecimentos e habilidades adquiridos em ações de capacitação e desenvolvimento profissional.

No setor público, o debate sobre desenvolvimento de pessoal e a importância do suporte à transferência de treinamento, segundo argumenta Camões (2009), está inserido em um espectro mais amplo que é a gestão estratégica de pessoas orientada para resultados e sua inclusão nos planejamentos estratégicos dos órgãos.

De fato, o Decreto 5.707/2006, que institui a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal – PNDP, orienta que o planejamento estratégico dos órgãos públicos inclua o levantamento das competências organizacionais existentes; a identificação de competências individuais necessárias para a realização das metas estabelecidas; e uma análise cuidadosa das lacunas de desempenho profissional que deverão ser sanadas por meio da operacionalização dos Planos Anuais de

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Capacitação - PAC. Diante disso, torna-se essencial que o planejamento das instituições públicas preveja estratégias de suporte organizacional com vistas a assegurar que os investimentos feitos em capacitação e desenvolvimento profissional sejam revertidos em melhores níveis de desempenho no trabalho necessários ao alcance dos resultados institucionais.

Partindo do pressuposto de que o suporte organizacional à transferência de treinamento é preditor da aplicação no trabalho dos conteúdos aprendidos, o presente trabalho teve como objetivo analisar a percepção de egressos de eventos de capacitação e desenvolvimento quanto ao suporte fornecido pela instituição para a mobilização das novas competências adquiridas, em seu contexto de trabalho.

2 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇAO ESTUDADA

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios é um dos quatro ramos do Ministério Público da União.

Tendo como público-alvo a sociedade do Distrito Federal e Territórios, suas principais atribuições são: a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Para esse fim, o MPDFT atua em diversas áreas, tais como: criminal, cível, família, meio ambiente, ordem urbanística, patrimônio público, ordem tributária, saúde, filiação, educação, infância e juventude, dentre outras.

Missão

Promover a justiça, a democracia, a cidadania e a dignidade humana, atuando para transformar em realidade os direitos da sociedade.

Visão

Consolidar-se como referência na proteção dos direitos do cidadão e na promoção da justiça, atuando com eficiência e transparência, a partir da integração com a sociedade.

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Mapa Estratégico

Figura 1: Mapa Estratégico do MPDFT

Conforme ilustrado na Figura 1, acima, para a construção do mapa estratégico do MPDFT foram consideradas quatro perspectivas:

 Pessoas, Clima Organizacional e Tecnologia;  Atividades Internas;

 Compromisso com a Sociedade; e  Resultados para a Sociedade.

Perspectivas são as relações de "pontos de vista" referentes à atuação da organização e que representam fatores-chave para uma visão institucional ampliada. Disposta horizontalmente, cada perspectiva engloba um conjunto de objetivos estratégicos que retratam o que a organização pretende atingir. As perspectivas, quando vistas em conjunto, permitem uma visão completa da estratégia da organização e "contam a história da estratégia" de uma forma clara e de fácil comunicação.

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Dentro da perspectiva “Pessoas, Clima Organizacional e Tecnologia”, existem 3 objetivos estratégicos que estão diretamente ligados à atuação do Departamento de Gestão de Pessoas do MPDFT, quais sejam:

 Desenvolver competências, habilidades e atitudes necessárias à plena atuação do MPDFT.

Descrição: Desenvolver cursos, treinamentos e iniciativas afins que transmitam para membros e servidores os conhecimentos e as qualificações necessárias e essenciais para que o MPDFT cumpra a sua missão

 Promover um ambiente de trabalho agradável e profissional

Descrição: Estimular os relacionamentos de trabalho de forma a criar um ambiente pautado em cooperação, respeito, reciprocidade, integração, reconhecimento e motivação, e com o cumprimento de suas obrigações

 Atrair e reter talentos

Descrição: Criar políticas de gestão motivacionais como ambiência do trabalho e lotação geográfica, com vistas à retenção de talentos

Estrutura do Departamento de Gestão de Pessoas

Para atingir os objetivos estratégicos definidos acima, o Departamento de Gestão de Pessoas do MPDFT encontra-se estruturado em 4 divisões:

 Divisão de Cadastro de Pessoal  Divisão de Pagamento de Pessoal  Divisão de Atendimento e Informação  Divisão de Desenvolvimento de Pessoas

A Divisão de Desenvolvimento de Pessoas é a unidade diretamente responsável pelo cumprimento dos 3 objetivos estratégicos citados anteriormente e encontra-se estruturada da seguinte forma:

 Seção de Apoio à Capacitação Interna  Seção de Apoio à Capacitação Externa

 Seção de Acompanhamento e Desenvolvimento de Pessoas  Seção de Integração de Pessoas

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As duas primeiras seções visam desenvolver as competências, habilidades e atitudes necessárias à plena atuação do MPDFT. A Seção de Apoio à Capacitação Interna visa promover cursos internos na instituição, levando em consideração o levantamento de necessidades de treinamento das unidades do MPDFT. Para isso, são oferecidos cursos para atender necessidades gerais das unidades do MPDFT e também necessidades específicas. A maioria dos cursos internos é realizada por meio de instrutoria interna, através do pagamento de gratificação de encargo de cursos ou concursos para os instrutores. Nos casos em que não há instrutor habilitado para ministrar os cursos, realiza-se processos licitatórios, na modalidade pregão, ou recorre-se à dispensa e inexigibilidade para contratação de profissionais que possam atender as necessidades do órgão.

A Seção de Apoio à Capacitação Externa tem o objetivo de viabilizar a participação de membros e servidores em cursos de aperfeiçoamento externo. Para isso, é feito um levantamento dos cursos ofertados pelo mercado, considerando o levantamento de necessidades de treinamento do órgão, e são divulgados editais convidando os servidores/membros para participarem das ações educacionais.

A Seção de Acompanhamento e Desenvolvimento de Pessoas possui as seguintes atribuições: receber os servidores que ingressarem no MPDFT; executar as atividades relacionadas à movimentação interna de servidores; executar atividades ligadas ao processo de avaliação de desempenho e avaliação de estágio probatório; executar os procedimentos necessários para a promoção e progressão dos servidores; identificar as necessidades de aperfeiçoamento dos servidores, fornecendo os dados necessários para que a Divisão de Desenvolvimento de Pessoas proponha as ações de treinamento e educação que deverão ser implementadas.

A Seção de Integração de Pessoas tem como objetivo principal promover e fomentar a cultura no âmbito do MPDFT, por meio do planejamento e da execução de eventos e atividades de caráter cultural ou artístico.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Variáveis de Contexto e Suporte à transferência

Quando as pessoas participam de ações de TD&E, os esforços empreendidos pelas organizações visam essencialmente ao desenvolvimento de competências que possam ser transferidas para a equipe e para a organização, com vistas a produção de mudanças em processos internos que envolvem mais de uma equipe. Em tal contexto, insere-se a perspectiva multinível, baseada em três suposições básicas: a aprendizagem ocorre no nível individual; a transferência dos conhecimentos, habilidades e atitudes (CHAs) aprendidos ocorre em diferentes contextos (transferência horizontal); e os efeitos dos comportamentos individuais emergem para produzir resultados em níveis mais altos (transferência vertical) (Pantoja & Borges-Andrade, 2002; Pantoja & Borges-Andrade, 2004; Abbad, Freitas & Pilati, 2006; Pantoja & Neiva, 2007).

Conforme argumentam Pantoja & Neiva (2007), na transferência vertical o indivíduo aprende, transfere para o trabalho e a partir da aprendizagem, que envolve vários indivíduos em momentos concomitantes, o desempenho e a produtividade do grupo e da organização também podem ser alterados. Isso porque a ação de TD&E está vinculada às metas pretendidas das equipes e das organizações.

Todavia, esse indivíduo, fonte originária da aprendizagem, está inserido em um contexto cultural que pode ou não favorecer e valorizar a plena expressão ou uso das competências no ambiente de trabalho. Dessa forma, tal processo é complexo e engloba fenômenos que ocorrem em dois sentidos: de cima para baixo, representados por fatores organizacionais que influenciam mudanças nos níveis de baixo, formados pelas equipes e indivíduos e vice-versa.

O suporte organizacional é um importante fator que atua sobre as possibilidades de transferência das competências aprendidas. Ele pode ser psicossocial, material, relacionado ao desempenho, etc. Quando as equipes possuem sistemas de suporte ao que o indivíduo aprendeu, isso dificulta o esquecimento e favorece a transferência. A própria expectativa em relação ao suporte organizacional é capaz de afetar o impacto de eventos de aprendizagem.

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Por outro lado, a ausência do suporte pode atenuar efeitos positivos da capacitação ( Abbad & Borges-Andrade, 2004 apud Carvalho et al, 2009).

Iniciativas de aprendizagem em contextos de trabalho, expressam foco na capacidade de o indivíduo apresentar níveis de desempenho que são esperados para a atividade. Ainda que um indivíduo tenha participado de evento de capacitação baseado em competências, isso não significa, necessariamente, que ele irá apresentar novos padrões de desempenho quando precisar realizar seu trabalho na organização. Isso ocorre porque, além das competências adquiridas, é preciso que haja motivação por parte do indivíduo e que a organização proveja suporte adequado aos processos de aprendizagem e transferência no trabalho.

Broad (1982), desenvolveu pesquisa relevante com foco no suporte

gerencial à transferência. Para tanto, realizou uma pesquisa com coordenadores de

recursos humanos e levantou as principais ações gerenciais para oferecer suporte à transferência de treinamento. Foram definidas cinco categorias: envolvimento da alta

gestão; preparação do treinamento; suporte durante o treinamento; retorno ao trabalho; e ações subsequentes.

Em geral, as ações em todas as categorias foram consideradas como extremamente importantes pelos coordenadores que responderam ao instrumento. A despeito disso, quando perguntados sobre as ações que efetivamente executavam, elas se limitaram às três primeiras categorias. Apenas uma minoria realizava ações que garantia a aplicação do aprendido no retorno imediato ao trabalho e incorporavam as novas competências nos processos organizacionais.

Nessa perspectiva, Feldman (1981), enfatiza a importância do desenvolvimento de estratégias que assegurem o comprometimento gerencial com os programas de treinamento e desenvolvimento. Argumenta, o autor, que o comportamento dos gerentes e supervisores constitui um fator que pode impedir a adequada transferência das habilidades aprendidas, na medida em que, na maioria das organizações, gerentes e supervisores não têm nenhuma responsabilidade pelo sucesso da aplicação dos novos comportamentos no retorno ao trabalho.

Alguns estudos voltados ao desenvolvimento de escalas para medir clima para transferência proporcionaram avanços teóricos e metodológicos significativos na área de avaliação de impacto de treinamento. No estudo de Roulier & Goldstein

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(1993), por exemplo, que resultou na construção e validação de uma escala para medir o clima de apoio aos comportamentos aprendidos no evento de treinamento, as variáveis relacionadas ao apoio psicossocial à transferência foram responsáveis pela explicação do bom proveito dos treinamentos no trabalho.

Parcialmente influenciadas por esse estudo, Abbad & Sallorenzo (2001), desenvolveram e validaram as escalas de suporte à transferência, adotadas e revalidadas no presente estudo. Segundo as autoras, a variável suporte à transferência referem-se à algumas condições ambientais necessárias à transferência positiva de treinamento. Seus itens componentes investigam o quanto, na percepção dos egressos de ações de capacitação tais condições estão presentes no contexto pós-treinamento.

O suporte à transferência tem sido medido, em pesquisas nacionais, por meio de dois fatores: Suporte Psicossocial (ou Suporte Gerencial e Social) à Transferência e Suporte Material à Transferência.

O fator Suporte Psicossocial à Transferência avalia o apoio gerencial, social (dos colegas) e organizacional à aplicação de novas aprendizagens no trabalho. Esse fator é composto por dois conjuntos de itens: (a) fatores situacionais de apoio; (b) Consequências associadas à aplicação de novas habilidades no trabalho.

Os itens do conjunto de fatores situacionais referem-se à aplicação das novas aprendizagens no trabalho. Entre os itens relacionados às consequências associadas à aplicação de novas habilidades no trabalho, estão as reações (favoráveis ou desfavoráveis) de colegas ou superiores hierárquicos às tentativas do egresso de aplicar, no trabalho, as habilidades aprendidas em treinamentos, como: elogios, manifestações verbais de encorajamento, indiferença e/ou descaso, entre outras.

O fator Suporte Material à Transferência avalia a qualidade, a quantidade e a disponibilidade de recursos materiais e financeiros, bem como a qualidade e adequação do ambiente físico do local de trabalho à transferência de treinamento.

Conforme relatado na revisão de literatura conduzida por Abbad, Pilati & Pantoja (2003), a variável Suporte à Transferência se destacou como forte preditora dos efeitos de longo prazo, exercidos pelas ações de capacitação, sobre o

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desempenho, motivação e atitudes dos egressos de tais eventos. Em todos os estudos analisados, foram encontradas relações positivas entre suporte à transferência e impacto do treinamento em diferentes ambientes organizacionais, tipos de treinamento e amostras.

Mais especificamente no setor público, Camões & Pantoja (2009), realizaram estudo para verificar a percepção de egressos de cursos de pós-graduação da Escola Nacional de Administração Pública – ENAP acerca do suporte fornecido pelas suas instituições à transferência das novas competências adquiridas em seu contexto de trabalho. Os resultados obtidos confirmaram as hipóteses estabelecidas. Ou seja, na percepção dos egressos, as organizações públicas estudadas, não ofereceram suporte organizacional à transferência dos conhecimentos e habilidades aprendidos em seu retorno ao ambiente de trabalho. Aliado a isso, a percepção geral foi de que há pouca preparação das organizações sobre seu papel enquanto co-responsável pela aplicação das competências desenvolvidas pelos egressos dos cursos de pós-graduação da ENAP. As autoras concluem enfatizando que debates sobre as questões de suporte à transferência são importantes e necessários, em especial, na administração pública. Sugerem também que os conceitos e resultados encontrados poderiam ser utilizados pela ENAP em suas discussões com a rede de escolas de governo com vistas a assegurar a estruturação de ambientes facilitadores ao aprendizado e transferência positiva de novas competências adquiridas pelos indivíduos e equipes no âmbito das instituições públicas.

4 MÉTODO

4.1 Caracterização da Amostra

O questionário foi enviado para um total de 107 servidores do MPDFT que haviam participado de cursos de aperfeiçoamento profissional no exercício de 2013. A amostra final ficou composta por 41 servidores, o que correspondeu à uma taxa de retorno de aproximadamente 26% .

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Em relação ao gênero a amostra foi composta de 61% de servidores do sexo masculino e 39% do feminino.

Quanto à idade percebe-se que a amostra está constituída por servidores relativamente jovens, 39% dos servidores que responderam a pesquisa possuem entre 30 e 34 anos; 27% possuem idade entre 35 e 39 anos e apenas 20% dos respondentes possui idade acima de 40 anos

No que diz respeito à natureza do vínculo profissional, 40 participantes deste estudo possuem vínculo efetivo com o MPDFT, sendo 26, ou seja, aproximdamente 36% ocupantes de cargos comissionados e 15 (37%) ocupantes de cargos técnicos tais como, analista em biblioteconomia, técnico em segurança, técnico administrativo, analista processual, analista judiciário, técnico em informática, técnico em apoio especializado, analista em engenharia, entre outros.

Por fim, a amostra deste estudo está caracterizada por 31,7 % de servidores com até 4 anos de serviço no MPDFT; 34% de servidores com 5 a 9 anos de serviço no ministério e 17% dos respondentes já estão no Ministério há mais de quinze anos.

4.2 Instrumento de Coleta de Dados

Foi utilizado o instrumento desenvolvido e validado por Abbad & Salorenzo (2001), composto por dois fatores. O primeiro com 12 itens, versando sobre o suporte gerencial e social à transferência do treinamento. Os itens medem o quanto as condições favoráveis ou desfavoráveis, antecedentes ou consequentes, estão presentes no ambiente pós-treinamento. O segundo, denominado suporte material à transferência de treinamento ficou composto de 5 itens. Ele demonstra o quanto à organização disponibiliza os recuros materiais necessários à transferência de treinamento.

4.3 Procedimento de coleta e análise de dados

Os dados foram coletados no MPDFT, durante o mês de novembro de 2013 e foi realizado por meio do envio do questionário por e-mail aos egressos dos cursos com carga igual ou superior a 30 horas, organizados ou custeados pela área

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de capacitação do MPDFT. Os questionários foram acompanhados de um texto introdutório contendo orientações sobre o preenchimento e devolução do questionário.

Os questionários (Escala de Suporte à Transferência ) foram aplicados e os resultados foram analisados por meio de estatística descritiva, extraindo-se frequência, média aritmética, moda e desvio padrão das respostas em relação a cada item.

5 RESULTADOS

Análise Descritiva – suporte psicossocial

Verificou-se que a percepção global dos servidores que participaram de eventos de capacitação no MPDFT foi de que a instituição forneceu o suporte psicossocial à aplicação dos conhecimentos e habilidades aprendidas - média do Fator Suporte Psicossocial correspondeu a 3,6. De fato, a percepção de 72% dos servidores treinados foi de que frequentemente (43%) ou sempre (29%) encontraram oportunidades para utilizar no trabalho as habilidades aprendidas. Não obstante, 24% relatou que tais oportunidades estiveram presentes, algumas vezes e raramente, em seu contexto de trabalho. Com relação ao suporte gerencial, os dados evidenciaram que 80% dos egressos de cursos de capacitação do ministério perceberam que, frequentemente e sempre, seus chefes estabeleceram objetivos de trabalho que os encorajaram a utilizar as novas habilidades aprendidas. Além disso, 83% dos participantes percebeu que houve encorajamento por parte da chefia imediata para aplicação do aprendido. Por outro lado, 51% dos participantes do estudo relatou que os obstáculos e dificuldades associadas à aplicação das novas habilidades foram identificados e removidos pelo chefe. Entretanto, para 39% deles tais competências gerenciais estiveram presentes, algumas vezes e raramente, em seu ambiente de trabalho. Merece destaque o item referente ao apoio percebido pelo egresso, por parte da sua equipe de trabalho, as suas sugestões, em relação ao que foi ensinado no curso.

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Os dados descritivos (média, moda e desvio-padrão), apresentados na Tabela 1, a seguir, corroboram esses achados. Ou seja, os indicadores de Suporte

Psicossocial que mais se destacaram foram: item 7) o suporte fornecido pelo

contexto de trabalho às sugestões dadas pelo egresso, em relação ao que foi ensinado no curso; item 4) o encorajamento recebido da chefia imediata para aplicar no trabalho as novas competências adquiridas; e item 8) o apoio recebido dos colegas mais experientes para as tentativas de usar no trabalho o que foi aprendido no curso. Ao contrário, os itens percebidos com menos ênfase foram: item 3) os obstáculos e dificuldades associadas à aplicação das novas habilidades que adquiri no curso são identificados e removidos pelo meu chefe; item 11) tenho recebido elogios quando aplico corretamente no trabalho as novas habilidades que aprendi; e item 12) Quando tenho dificuldades em aplicar eficazmente as novas habilidades, recebo orientações de como fazê-lo. Em sua maioria, estão relacionados às consequências associadas à aplicação de novas habilidades no trabalho, ou seja, as reações (favoráveis ou desfavoráveis) de colegas ou superiores hierárquicos às tentativas do egresso de aplicar, no trabalho, as habilidades aprendidas em treinamentos, como: elogios, manifestações verbais de encorajamento, indiferença e/ou descaso, entre outras.

Tabela 1 – Resultados descritivos do suporte psicossocial

Itens Média Moda Desvio-Padrão

1 - oportunidades de usar no trabalho as habilidades

aprendidas 4,02 4 0,80

2 - objetivos de trabalho estabelecidos pelo chefe

incentivam a aplicação 4,07 4 0,79

3 - obstáculos e dificuldades associadas à aplicação das

novas habilidades 3,56 3 1,23

4 - encorajamento pela chefia imediata a aplicar no

trabalho o aprendido no curso 4,35 5 0,86

5 - Meu chefe imediato tem criado oportunidades para

planejar comigo o uso das novas habilidades 4,02 5 0,95 6 - Eu recebo as informações necessárias à correta

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7 - Em meu ambiente de trabalho, minhas sugestões, em relação ao que foi ensinado no curso são levadas em consideração

4,45 5 0,81

8 -Meus colegas mais experientes apoiam as tentativas que faço de usar no trabalho o que aprendi no curso

4,13 5 0,91

9 - Aqui, passam despercebidas minhas tentativas de aplicar no trabalho as novas habilidades que aprendi no treinamento

1,75 1 0,87

10 - Minha organização ressalta mais os aspectos negativos (ex: lentidão, dúvidas) do que os positivos em relação ao uso das novas habilidades

1,82 1 1,17

11 - Tenho recebido elogios quando aplico corretamente

no trabalho as novas habilidades que aprendi 3,85 4 0,89 12 - Quando tenho dificuldades em aplicar eficazmente

as novas habilidades, recebo orientações de como fazê-lo

3,89 4 0,98

Em relação ao suporte material fornecido pela organização à transferência das novas competências adquiridas verifica-se, que a auto-avaliação global atingiu níveis mais elevados do que a de suporte psicossocial – média correspondeu a 3,9.

Observou-se que 87% dos participantes consideraram que os equipamentos, máquinas e/ou materiais por eles utilizados estão em boas condições de uso. Aliado a isso, a percepção de 80% dos egressos foi de que as ferramentas de trabalho (micros, máquinas e similares) são de qualidade compatível com o uso das novas habilidades. O indicador relacionado a disponibilidade e quantidade de materiais e equipamentos necessários ao uso das novas habilidades foi percebido por 73% dos egressos como uma condição frequentemente e sempre presente em seu contexto de trabalho. Contudo, 37% dos participantes percebeu a existência de tais condições raramente e algumas vezes.

A Tabela 2 sistematiza os dados relacionados à percepção dos egressos ao suporte material à transferência

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Tabela 2 – Resultados descritivos do suporte material

Itens Média Moda Desvio-Padrão

1 - Minha organização tem fornecido os recursos materiais (equipamentos, materiais, mobiliário e similares) necessários ao bom uso, no trabalho, das habilidades que aprendi no curso

3,83 4 1,02

2 - Os móveis, materiais, equipamentos e similares têm estado disponíveis em quantidade suficiente à aplicação do que aprendi no curso

3,74 4 0,92

3 - Os equipamentos, máquinas e/ou materiais por

mim utilizados estão em boas condições de uso 4,11 4 0,66 4 - As ferramentas de trabalho (micros, máquinas e

similares) são de qualidade compatível com o uso das novas habilidades

4,00 4 0,87

5 - O local onde trabalho, no que se refere a espaço, mobiliário, iluminação, ventilação e/ou nível de ruído, é adequado à aplicação correta das habilidades que aprendi no curso

3,93 4 0,96

Alguns comentários, feitos pelos participantes da pesquisa, no espaço específico do questionário, parecem ilustrar os dados obtidos na dimensão suporte material à transferência. Dentre as quais, destacam-se:

“(...) a implantação, no órgão, das soluções apresentadas no curso esbarram em questões burocráticas como a rápida instalação da ferramenta para a execução do que foi ensinado no treinamento.”

“(...) aquisição e atualização das ferramentas necessárias para o melhor funcionamento do DTI.”

“O projeto que usa postgres - e-cidades, está parado o que dificulta a aplicação do aprendizado do curso no dia a dia.”

Em síntese, os resultados aqui apresentados evidenciaram que, em uma visão global, a percepção dos egressos dos cursos do MPDFT foi de que as condições necessárias à transferência positiva estiveram presentes em seu contexto de trabalho. Entretanto, como ressalta Feldman (1981), algumas estratégias podem ser implementadas com vistas a maximização do uso de novas competências desenvolvidas em eventos de capacitação. Isso se torna crucial, no que diz respeito ao suporte psicossocial. Algumas das recomendações de Feldman (1991) parecem bastante adequadas à realidade do MPDFT e talvez possam ser consideradas nos demais contextos da administração pública. São elas:

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 Inserir os gerentes no processo de planejamento das ações de capacitação, formalizando, inclusive, sua responsabilidade com a efetividade dos investimentos feitos em capacitação e desenvolvimento profissional;

 Instruir os gerentes sobre os diversos aspectos dos programas de capacitação e identificar competências necessárias à realização de um trabalho efetivo de suporte gerencial à transferência positiva do aprendido;

 Criar uma forma de trabalho coletiva, por meio de comitês e/ou redes cooperativas com vistas a fornecer apoio necessário aos gerentes em questões de aplicação das novas habilidades; entre outras.

Nesse sentido, várias são as implicações para as unidades de gestão de pessoas, em especial da área de capacitação e desenvolvimento. Entre elas, destaca-se a importância de que os profissionais estendam a sua área de atuação para além das fronteiras tradicionais das salas de aula e passem a desenvolver e gerenciar mais intensamente conhecimentos e tecnologias que otimizem a aplicação do aprendido em ambiente pós-treinamento.

Um primeiro passo, segundo Roullier & Goldstein (1991), deve ser a inclusão, na etapa de diagnóstico de necessidades de capacitação, de um exame cuidadoso acerca do clima de transferência no contexto de trabalho, visando a sua preparação para apoiar a aplicação dos novos conhecimentos e habilidades.

Dessa forma, é de extrema importância o desenvolvimento de uma cultura receptiva aos processos de capacitação e desenvolvimento profissional, que esteja atenta em avaliar e reverter em benefício da instituição, de seus servidores e da sociedade os conhecimentos, idéias e inovações geradas pelo desenvolvimento de novas competências. Nesse sentido, gerentes e colegas, ou seja, a equipe de trabalho, assume um papel fundamental. É preciso, em especial, que os gerentes sejam orientados a conceber a capacitação como instrumento organizacional destinado a promover mudanças no desempenho, bem como sejam adequadamente preparados para a condução e acompanhamento do processo de transferência de treinamento.

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6 CONCLUSÃO

O presente trabalho estabeleceu como objetivo analisar a percepção de egressos de eventos de capacitação e desenvolvimento do MPDFT quanto ao suporte fornecido pela referida instituição para a transferência das novas competências adquiridas. Verificou-se que o nível global percebido de suporte à transferência foi satisfatório.

Os indicadores de suporte psicossocial mais fortemente percebidos no contexto de trabalho dos egressos do MPDFT foram: a) o suporte fornecido pelo contexto de trabalho às sugestões dadas pelo egresso, em relação ao que foi ensinado no curso; b) o encorajamento recebido da chefia imediata para aplicar no trabalho as novas competências adquiridas; e c) o apoio recebido dos colegas mais experientes para as tentativas de usar no trabalho o que foi aprendido no curso. Não obstante, melhorias podem ser feitas, por meio da implementação de estratégias por parte da unidade de gestão de pessoas do ministério, em especial, da área de capacitação e desenvolvimento. Tais estratégias poderiam contribuir, mais especificamente, tanto no nível gerencial quanto das equipes de trabalho em relação aos seguintes aspectos:

 Preparação dos gerentes para desenvolvimento de estratégias que possibilitem a identificação e remoção de obstáculos e dificuldades associadas à aplicação das novas habilidades

 Desenvolvimento das equipes de trabalho de forma que sejam compartilhadas expectativas, crenças, reações favoráveis associadas à aplicação de novas habilidades no trabalho, como por exemplo, fornecer elogios/feedback positivo quando observarem a aplicação correta no trabalho das novas competências.

 Preparação gerencial e da equipe para disponibilizar e compartilhar orientações frente as dificuldades apresentadas pelos egressos na aplicação correta das novas aprendizagens no trabalho.

Finalizando, faz-se necessário tecer comentários acerca das possíveis limitações do presente estudo. A primeira delas refere-se ao fato de que o amostra utilizada não pode ser considerada representativa do universo de servidores e

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ambientes organizacionais no setor público, o que restringe a generalização dos dados. Por outro lado, confirma evidências obtidos em estudo da mesma natureza, conduzido no âmbito da administração pública.

Sugere-se que em estudos posteriores sejam utilizadas diferentes amostras que incluam servidores de diferentes níveis ocupacionais: básico, intermediário e superior, bem como diversificados os contextos institucionais em termos das variáveis regionais e relacionadas a natureza da instituição.

7 REFERÊNCIAS

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AUTORIA

Hugo Bittencourt de Oliveira Rozendo – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

(MPDFT).

Endereço eletrônico: HugoR@mpdft.mp.br

Maria Júlia Pantoja – Universidade de Brasília (UnB).

Referências

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