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12º Encontro da ABCP 19 a 23 de outubro de 2020 Evento online

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12º Encontro da ABCP 19 a 23 de outubro de 2020

Evento online

Área Temática: Comunicação Política e Opinião Pública

MAL-ESTAR DA REGULAÇÃO DISCURSIVA: O BRASILEIRO E A AVERSÃO AO POLITICAMENTE CORRETO EM PERÍODO ELEITORAL

Bruna Silveira Martins de Oliveira Universidade Federal de Minas Gerais

Rousiley Celi Moreira Maia Universidade Federal de Minas Gerais

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2 Resumo

Este artigo investiga o ataque à regulação discursiva, tomando como objeto analítico os comentários das páginas de Facebook de três candidatos à Presidência da República: Jair Bolsonaro (ex-PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), durante a propaganda eleitoral oficial de 2018. A regulação discursiva é compreendida como um sinônimo para o uso do politicamente correto, e como um esforço para a construção de uma esfera pública mais respeitosa. Com o intuito de mudar a linguagem comum para a inclusão de todos e para prevenir o proferimento de discursos ofensivos, a regulação recebe críticas advindas de diferentes espectros político-ideológicos. Porém, como o conservadorismo visa a manutenção da ordem social, busca-se, no artigo, explorar a relação entre as pautas dos grupos conservadores de direita e o ataque à regulação discursiva. Ao realizarmos uma análise de conteúdo em 2.669 comentários, concluímos que tais grupos são mais contrários a esta transformação no discurso, na medida em que se sentem ameaçados pelas leis e políticas públicas de inclusão social, bem como pela legitimidade que vem sendo conquistada pelos grupos anteriormente excluídos. O estudo, assim, contribui para uma compreensão mais articulada do ataque à regulação discursiva em esfera pública.

Palavras-chave: Ataque ao politicamente correto; Regulação discursiva; Direitas conservadoras; Conservadorismo; Eleições 2018.

Abstract

This article investigates the attack on discursive regulation, taking as an analytical object the comments on the Facebook pages of three candidates for the Presidency of the Republic: Jair Bolsonaro (ex-PSL), Fernando Haddad (PT) and Ciro Gomes (PDT), during the propaganda 2018 official election. Discursive regulation is understood as a synonym for the use of the political correctness, and as an effort to build a more respectful public sphere. In order to change the common language for the inclusion of all and to prevent the delivery of offensive speeches, regulation receives criticism from different political-ideological spectra. However, as conservatism aims at maintaining social order, the article seeks to explore the relationship between the guidelines of right-wing conservative groups and the attack on discursive regulation. When conducting a content analysis on 2,669 comments, we concluded that such groups are more opposed to this transformation in the discourse, as they feel threatened by the laws and public policies of social inclusion, as well as by the legitimacy that has been achieved by the groups previously. excluded. This study thus contributes to a more articulated understanding of the attack on discursive regulation in the public sphere.

Key words: Attack on political correctness; Discursive regulation; Conservative rights; Conservatism; Elections 2018

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2 1. INTRODUÇÃO

Ainda que muitas pesquisas tenham se dedicado à discussão epistemológica em relação ao uso do politicamente correto (PC), poucas obras buscaram localizar essa questão na conjuntura de disputas eleitorais. Este artigo tem por objetivo investigar a relação entre os ataques ao PC - aqui entendido como sinônimo de regulação discursiva - e as demandas de líderes políticos e seus apoiadores, que representam espectros político-ideológicos polarizados. Para tanto, tomamos como objeto analítico os comentários nas páginas de Facebook de Jair Bolsonaro (ex-PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT), em período eleitoral oficial de 2018, de 16 de agosto a 28 de outubro. A pesquisa desenvolve uma a análise de conteúdo (NEUENDORF, 2002; BARDIN, 2016) e ilustra os achados com excertos de comentários de indivíduos que fizeram referências ao PC nas páginas em questão.

Compreendemos a chamada regulação discursiva como uma orientação para novas regras sociais, a fim da construção de uma esfera pública mais inclusiva e respeitosa. A transformação de atitudes e crenças para uma mudança social significativa está atrelada à preocupação do PC, que busca transformar a linguagem comum para a inclusão de todas as pessoas, bem como prevenir a discriminação social (STRAUTS e BLANTON, 2015; DZENIS e FARIA, 2020).

O politicamente correto, contudo, recebe críticas desde o seu surgimento (KOHL, 1992; RAJAGOPALAN, 2000; FERES JÚNIOR, 2017; RAMOS, 2017). A desaprovação de viés conservador acusa o PC de ser autoritário, vigilante ao extremo e desnecessário, enquanto a rejeição de caráter progressista assimila esta regulação discursiva a um instrumento incapaz de mudar efetivamente a realidade (RAMOS, 2017). Apesar dessa proposição que alinha a regulação discursiva a diferentes espectros político-ideológicos, o presente artigo empreende um esforço para discutir a seguinte questão: seriam os grupos conservadores, durante o período eleitoral brasileiro de 2018, mais adversos à regulação discursiva, em comparação aos grupos progressistas?

Partimos da concepção que o conservadorismo se configura como uma força complexa, com distintas origens, que visa a manutenção da ordem social, que tipicamente se opõe às mudanças de caráter comportamental, cultural e social, e, ainda, que destaca o valor da tradição, família, religião e nação (HUNTINGTON, 1957; MUDDE, 2007; DRYZEK e DUNLEAVY, 2009; BAPTISTA et al., 2018). Neste sentido, elaboramos a seguinte hipótese: haverá mais comentários de pessoas indispostas à regulação discursiva entre os grupos conservadores de direita, em relação àqueles progressistas de esquerda. Para fins de melhor compreensão analítica, dividimos a hipótese em cinco vertentes: a) aqueles que atacam a regulação discursiva, irão, em sua maioria, atacar também as leis e políticas

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2 públicas de inclusão, em comparação aos que vão defender tais leis; b) entre os comentários que atacam o PT, será notado também maior ataque à regulação discursiva, em comparação aos que defendem o partido; c) haverá mais comentários contrários à regulação entre os grupos que atacam a esquerda e o progressismo, em relação àqueles que atacam a direita e o conservadorismo; d) nos comentários que mencionam valores familiares, haverá mais ataque à regulação discursiva do que defesa; e) nas menções a Deus (ou de caráter religioso), haverá também mais ataque à regulação discursiva do que defesa. Ainda que nossos resultados nos confirmem de maneira lógica a hipótese, o estudo contribui para uma compreensão mais articulada do ataque à regulação discursiva em esfera pública.

Este artigo está estruturado a partir das seguintes seções. Primeiro, apresentamos a origem e algumas disputas em torno do politicamente correto. Na sequência, explicamos diferentes fontes de crítica e contestações à regulação da linguagem e do PC. Na terceira parte, descrevemos nossos procedimentos metodológicos e estratégias de análise. Apresentamos e discutimos nossos resultados na quarta parte. Por fim, nossa conclusão indica as implicações do trabalho para melhor entendimento dos ataques à regulação discursiva e das multifacetadas relações com a pauta de grupos conservadores de direita.

2. O POLITICAMENTE CORRETO: ORIGENS E TENSIONAMENTOS

De acordo com Herzogenrath-Amelung (2016), o filósofo Slavoj Žižek é conhecido por ser um dos intelectuais mais politicamente incorretos do nosso tempo. Para Žižek, o politicamente incorreto pode ser um meio de promover a proximidade e a compreensão, enquanto as indagações polidas sobre a cultura do outro, traduzidas pelo uso do politicamente correto (PC), mantêm uma distância fria e enfatiza a diferença. Porém, para os interesses da nossa pesquisa, entendemos o PC como uma das aberturas encontradas pelas minorias, ou de quem advoga por elas, de contestarem o espaço de rejeição atribuído a elas (DZENIS e FARIA, 2020).

Desde o seu surgimento, o termo politicamente correto já era usado de maneira pejorativa. Kohl (1992) afirma que a origem o politicamente correto se deu no final da década de 1940 e início de 1950, em referência aos debates políticos entre socialistas e membros do Partido Comunista dos Estados Unidos. Ainda segundo o autor, os intelectuais de direita, na década de 1990, se apropriaram do termo para tratar de maneira depreciativa estudantes e professores defensores do multiculturalismo, dispostos a confrontar o racismo, o sexismo e a homofobia na universidade. Apesar da data inicial defendida por Kohl, para Ramos (2017), a expressão “politicamente correto” aparece pela primeira vez nos anos 1980 e 1990, no chamado período entre guerras culturais, nos Estados Unidos. O termo, utilizado

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2 em textos da New Left, foi julgado pela direita estadunidense pelo seu caráter autoritário em relação ao uso da linguagem. Ao revisar historicamente o uso do termo, Feres Júnior (2017) afirma que a reação conservadora ao PC nos Estados Unidos teve início na era Reagan, conhecida por marcar o fim de um ciclo progressista.

Há diversas perspectivas contrárias à ideia trazida pelo PC. A de caráter conservador enquadra o PC como um posicionamento vigilante, que acusa contextos que não existem em nossa realidade: o classismo, o sexismo e o racismo, por exemplo. A vertente progressista acredita que este alinhamento discursivo não tem a capacidade de mudança real sobre as injustiças e desigualdades (RAMOS, 2017). Ainda, a natureza responsiva de alguns grupos em relação à reforma da linguagem (que se articula em prol da emancipação da sociedade) pode oportunizar atitudes e crenças menos tolerantes (STRAUTS e BLANTON, 2015; SHAFER, 2017).

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 A construção da coleta

Como dados da pesquisa, tomamos os comentários e respostas das páginas de Jair Bolsonaro (ex-PSL), Fernando Haddad (PT) e Ciro Gomes (PDT) durante o período eleitoral oficial, de 16 de agosto a 28 de outubro de 2018. Assim, seguimos os seguintes passos metodológicos, anteriormente ao processo analítico: a) definição do corpus; b) raspagem dos dados no Facebook; c) visualização e organização dos dados.

Para a definição do corpus (a) da pesquisa, primeiramente, foi necessária a delimitação do contexto a se trabalhar - período eleitoral de 2018 - e a delimitação dos atores1 ̶ adeptos e detratores dos candidatos mencionados. Em relação à raspagem de dados do Facebook (b), preliminarmente, foi elaborado um script exclusivamente para a pesquisa. Depois, com o web scraping (raspagem de dados) realizado na página dos candidatos no Facebook, chegou-se ao banco de dados da pesquisa, que possui, no total, cerca de três milhões comentários, e 600 mil respostas. O universo de comentários para a pesquisa representa uma amostra, já que o Facebook não disponibilizou toda a rede de comentários e respostas da época2. A fim de preparar a visualização e a organização dos

1 Vale ressaltar que a candidatura de Fernando Haddad foi anunciada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no dia 11 de setembro. Haddad entrou para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve o registro de candidatura rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outro ponto importante é o fato de Ciro Gomes ter concorrido apenas ao primeiro turno.

2 . O Facebook, após o incidente com a Cambridge Analytica, que usou dados da plataforma durante a propaganda eleitoral de 2016 dos EUA, desativou sua API. Portanto, para cada tipo de raspagem de dados da plataforma, é necessário um script diferente.

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2 dados (c), utilizamos a linguagem Python, que garante mais agilidade ao trabalho e mais eficiência na integração do sistema3.

3.2 Filtragem dos comentários

Um passo definidor para construção da análise foi a filtragem dos comentários, realizado por meio da seleção das palavras-chave específicas. Em seguida da leitura flutuante do material – comentários que citaram o politicamente correto e/ou incorreto – encontramos palavras e termos sinônimos, que foram: “mimimi”, “firula”, “frescura”, “vitimização”, “vitimismo”, “discurso bonito”, além de “politicamente correto” e “politicamente incorreto”, é claro. Chegamos, assim, a um universo total de 2.669 proferimentos. A partir da configuração desta amostra, os comentários foram categorizados por um livro de códigos, como demanda a análise de conteúdo.

3.3 A análise de conteúdo / A análise estatística

O tratamento do material requer uma codificação (NEUENDORF, 2002; BARDIN, 2016). Assim, o processo de codificação passou por um teste de confiabilidade que propicia a credibilidade da análise, e, consequentemente, de todo o processo investigativo. Para seguir a etapa de objetividade analítica, é necessário fazer um teste cego, em que dois diferentes codificadores empreendem a análise de 10% do corpus empírico, a fim de se passar pelo processo de rigor metodológico. No teste de confiabilidade feito para a pesquisa, as duas codificadoras, após o entendimento compartilhado sobre os códigos, analisaram 275 comentários4. Para gerar o coeficiente alfa de Krippendorf (KRIPPENDORF, 2007), que assume valores de 0 a 1, e aumenta conforme a concordância nos resultados, foi realizada a comparação das codificações. O maior valor do resultado foi 1 e o menor foi 0,676. Acima de 0,6, o alfa de Krippendorf já é considerado satisfatório e pode ser aprovado. A compatibilidade acima de 0,8 é vista como a ideal.

A etapa de codificação do trabalho tem como unidades de registro cada comentário postado nas páginas em questão. O livro de códigos, para este artigo, conta com seis códigos, divididos nas seguintes categorias:

 Categorias gerais – pertinência, página, gênero do usuário;  Cerne da pesquisa – regulação discursiva (ataque ou defesa);  Alvos – grupos políticos, ideológicos (ataque ou defesa);

 Medidas sociopolíticas – leis e políticas públicas (ataque ou defesa);

3 Descrição disponível em: https://www.python.org/. Acesso em: 05 ago. 2020.

4 O universo dos comentários, anteriormente ao processo do teste de confiabilidade, era 2750. Porém, ao longo da codificação, notaram-se comentários repetidos. Sendo assim, chegou-se ao número de 2.669 comentários.

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2  Sistema político formal - Partido dos Trabalhadores e outros partidos e instituições;  Argumento acionado – a favor a família, menção a Deus.

Para o tratamento dos resultados obtidos, utiliza-se, na pesquisa, o IBM SPSS

Statistics, software que auxilia e automatiza o cruzamento dos dados, a fim de se chegar a

análises estatísticas, e, posteriormente, a análises qualitativas mais detalhadas.

4. O ATAQUE À REGULAÇÃO DISCURSIVA: EXPLICANDO O CONCEITO

Conforme já detalhado nos procedimentos metodológicos, durante a coleta, extraímos comentários que abrangiam termos além de “politicamente correto” e “politicamente incorreto”. A partir daí, compreendemos que chamar o fenômeno, bem como codificar o material, pelo viés exclusivo da contrariedade ao termo PC nos limitaria nas possibilidades de análises. Solidificou-se, dessa forma, a ciência da necessidade de um termo relativo à indisposição em adequar-se à linguagem que visa respeitar as diversas identidades que convivem em esfera pública. Por isso, entendemos o fenômeno de aversão ao PC como sinônimo de ataque à regulação discursiva.

Para nosso contexto, é importante compreender a gradualidade das mudanças comportamentais da sociedade. A propagação da tolerância religiosa, por exemplo, é reconhecida como um divisor de águas para a democracia, já que estimula a introdução de outros direitos culturais (HABERMAS, 2013). Como todo indivíduo possui suas crenças, valores e percepções de mundo, é notável que mudanças sociais exijam tempo, o que não significa uma impossibilidade de transformações comportamentais. Até aproximadamente os anos 2000, por exemplo, expressões racistas, homofóbicas e machistas experimentavam uma receptividade social diferente da que vemos hoje. Atualmente, tais expressões são inaceitáveis5. Há indicativos empíricos de que, nas últimas décadas do século XX, a questão das identidades transfigurou-se em uma preocupação central da vida social (SCABIN, 2019). Certas temáticas, anteriormente tratadas como da esfera íntima, adquiriram status político, como é o caso da vida familiar, do casamento, das relações sexuais (HALL, 1994; SCABIN 2019). O temor perante às mudanças culturais em curso, desde os anos 1960, nos EUA e no mundo, tiveram como consequências os ataques contra o multiculturalismo, as ações afirmativas e o feminismo (WILSON, 1995; SCABIN, 2019).

Com base na teoria crítica habermasiana e honnethiana, a linguagem aqui é compreendida pelo viés de sua natureza transformadora. Sendo, assim, tanto os apoiadores quanto os detratores da regulação discursiva têm como assimilação o questionamento sobre o que a linguagem é ou não capaz de fazer (RAJAGOPALAN, 2000). Propomos, assim, o

5 Não estamos dizendo, aqui, que um dia essas expressões foram aceitáveis e não condenáveis, mas, felizmente, hoje há maior resistência e vigilância.

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2 uso do termo regulação discursiva para tratar de um fenômeno contemporâneo: a regulação discursiva, em si, é uma orientação para novas regras sociais. Portanto, cremos na mobilidade dos fluxos sociais e comportamentais, conforme já apontado.

5. A PAUTA CONSERVADORA DAS DIREITAS E A CONJUNTURA ELEITORAL DE 2018

As direitas conservadoras brasileiras têm se mobilizado (TELLES, 2016; BURITY, 2018; QUADROS e MADEIRA, 2018; MIGUEL, 2018; TATAGIBA, 2018; SANTOS JUNIOR, 2019; entre outros), seja via plataformas de mídias sociais e/ou por meio de movimentos que foram às ruas, e tomaram o protagonismo como uma novidade do período de mobilização entre 2011 e 2016 (TATAGIBA, 2018). De acordo com pesquisa sobre opinião pública brasileira6, realizada pelo Projeto de Opinião Pública da América Latina (Lapop), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2019, 39% dos brasileiros se autodeclararam direitistas no espectro político, enquanto 28% se disseram de esquerda. Os dados demonstram uma mudança na estrutura política desde 2012, posto que, pela primeira vez, desde então, o estudo registrou mais brasileiros que se declaram ter posicionamento político de direita do que de esquerda.

A onda conservadora internacional refletiu, obviamente, na sociedade brasileira. Em conformidade com a narrativa de Burity (2018), a virada conservadora não se limita a fronteiras nacionais, nem se origina de seu interior. À medida em que, mundialmente, se vivia um neoliberalismo globalizado, o avanço do extremismo islâmico e a crise imigratória pós-2008, o Brasil dispunha-se de um caminho democratizador, mesmo que ainda incompleto e ambíguo, porém, andava no caminho oposto às macrotendências (BURITY, 2018).

“Tal contramão agora é duramente penalizada por uma ‘corrida contra o tempo perdido’ dos setores mais regressivos da sociedade brasileiro, alinhados, enfim, com o cenário global” (ibid., p. 22). Em relação à esfera moral, o conservadorismo de direita, que se baseia em princípios tradicionais de diversas religiões, sobretudo, o neopentecostalismo, é resistente à imigração, à união civil homoafetiva e à descriminalização do aborto (SANTOS JUNIOR, 2019). As políticas públicas de justiça social em prol da redução das desigualdades implantadas pelos governos petistas também

6 Barômetro das Américas. Dados retirados do projeto realizado em parceria entre o Lapop e o Centro de Estudos em Política e Economia do Setor Público (Cepesp/Fundação Getúlio Vargas) e o Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (FGV EESP Clear). Banco de dados possui 1498 repostas coletadas entre 29 de janeiro e 3 de março de 2019.

Disponível em:

<http://www.cepesp.io/uploads/2019/06/VozesBrasil_LAPOP_DisseminationBrazil_June2019.pdf> Acesso em: 24 de set. 2020.

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2 são agendas pelas quais as direitas expressam oposição (SANTOS JUNIOR, 2019; TELLES, 2015).

Alinhada à escalada das direitas conservadoras, a conjuntura eleitoral de 2018 também teve como base os discursos antissistema, antipartidário, anti-intelecutalista, as estratégias acionadas em torno do desejo de renovação política, o enaltecimento da justiça messiânica e a ideia de que o adversário político é um inimigo que deve ser destruído (SOLANO, 2019). Dentro dessa lógica, outro é visto como negativo e ameaça “minha” forma de existência, sendo assim, deve ser eliminado. “A radical separação entre ‘nós aqui’ e ‘eles lá’ alimenta uma visão do outro fortemente estereotipada, preconceituosa e belicosa. Um ingrediente tóxico nas relações sociais e políticas.” (ABRANCHES, 2019, p. 20). Abranches ainda coloca essa toxidade como causa para rompimentos de amizades, conflitos entre pessoas da mesma família e na discriminação de todos que são considerados como “o outro lado” da discussão, fatos vividos pela população brasileira durante o período eleitoral de 20187.

Além das questões supracitadas, assistimos, durante o contexto eleitoral, a um crescente enaltecimento do politicamente incorreto, já que Bolsonaro, ao mobilizar essa cultura (DI CARLO e KAMRADT, 2018), acaba avalizando os comportamentos de seus apoiadores contrários ao PC. O negacionismo histórico, esforço produzido pela nova direita brasileira, busca barrar legislações específicas que protegem as minorias das assimetrias sociais (DI CARLO e KAMRADT, ibid.)

Diversos estudos (HALL, 1994; HERZOGENRATH-AMELUNG, 2016; RAMOS, 2017; RAJAGOPALAN, 2000; entre outros) se basearam na discussão epistemológica acerca do PC. Porém, cabe destacar que poucos autores se debruçaram sobre o problema do politicamente correto no contexto de disputas eleitorais. Assim, as seções a seguir empreendem um esforço em exemplificar, por meio de comentários advindos das páginas de Bolsonaro, Haddad e Ciro, durante o período eleitoral de 2018, o ataque à regulação discursiva aos pressupostos defendidos pelas direitas conservadoras.

Empreendemos uma análise qualitativa e quantitativa sobre a relação entre o ataque à regulação discursiva e os polarizados espectros político-ideológicos dos indivíduos que comentaram as páginas de Facebook dos candidatos durante o período eleitoral, conforme já detalhado. É válido destacar que os comentários selecionados, além de terem sido retirados do corpus, foram selecionados por sua natureza representativa e exemplificadora das questões discutidas.

7 Mais informações disponíveis em:

https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/noticia/2018/10/04/eleicao-abala-grupos-de-amigos-e-familias-no-whatsapp-veja-historias-e-dicas-para-lidar-com-discordias.ghtml. Acesso em: 05 ago. 2019

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2 5.1 As leis e políticas públicas

A relação entre o ataque à regulação discursiva e o ataque às leis e políticas públicas de inclusão social (por exemplo: bolsa família, cotas, etc.) é um assunto caro para o trabalho. De acordo com a hipótese, aqueles que atacam as políticas de redistribuição e inclusão seriam mais contrários à regulação discursiva, em comparação àqueles que as defendem. Conforme é apresentado na Tabela 1, 81,8% das pessoas que atacam a regulação discursiva atacam também tais leis e políticas públicas, em comparação a 4,5% que as defendem (dados confirmados a 99% de confiança). Sendo assim, o primeiro indício da hipótese é real.

Tabela 1* - Relação dos comentários que atacam e defendem as leis e políticas públicas com a regulação discursiva.

Leis e Políticas Públicas

Ataque Defesa Total

Regulação discursiva Ataque 18 (81,8%) 1 (4,5%) 19 (86,3%) Defesa 0 (0%) 4 (18,2%) 4 (18,2%) Misto 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) Total 18 (81,8%) 5 22 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2669 (casos omissos: n=0 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 74,693a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

Os comentários abaixo são uma amostra daqueles que atacam leis e políticas públicas de inclusão e atacam a regulação discursiva:

Figura 1 - Comentários que atacam as leis e políticas públicas e inclusão e atacam a regulação discursiva.

FONTE: Página de Facebook de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad e Ciro Gomes. Observação: os nomes reais dos interlocutores foram substituídos por “fulano”/”fulana”.

O comentário 1 é uma reação à publicação de Fernando Haddad, em que o então candidato vai contra o posicionamento de Bolsonaro que afirma ser necessário “acabar com

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2 o ‘coitadismo’ dos nordestinos, negros, mulheres e gays”. No comentário, o indivíduo diferencia a situação das pessoas com deficiência das circunstâncias de negros, gays e nordestinos, e se mostra contrário à política de cotas para inclusão. Miguel (2018) explica que as críticas feitas aos programas sociais perpassam pela ideia do estímulo à preguiça e do desencorajamento do esforço próprio, que ganha base com o discurso meritocrático, ao colocar a desigualdade como uma forma justa de retribuição às diferenças entre os indivíduos.

Argumentações despolitizantes como o dito “isso deve ser respeitado e pronto” se referem a um desalinhamento entre o que cabe à esfera pública e o que cabe à esfera íntima. A disciminação pode sim ser combatido por meio da educação passada pela família, porém, na medida em que vivemos numa sociedade preconceituosa, arraigada de valores morais, por vezes, racistas, homofóbicos e machistas, esta não pode ser única solução possível. O preconceito sofrido por grupos estigmatizados é um caso público, portanto, é necessário que seja combatido por meio de políticas públicas de inclusão.

Além da aversão às cotas raciais e políticas de assistencialismo, nota-se uma negação da problemática nos comentários 3 e 4, pelo fato de mencionarem a ideia utópica e negacionista de igualdade entre todos e argumentos relativos à questão falaciosa de meritocracia. A cultura que questiona a regulação discursiva, aqui vista como deslegitimação de pautas a partir do termo “vitimismo”, visa restabelecer o status quo ameaçado pela emergência das minorias. É relevante mencionar que ambos os comentários, retirados da página de Bolsonaro, demonstram apoio ao então candidato à presidência. Para Alonso (2019), a questão da pátria na propaganda eleitoral bolsonarista evidencia uma negação de classe. “Nada separaria ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, senão talento e esforço. A única hierarquia reconhecida iguala a todos na subordinação às autoridades morais sobrepostas de nação e divindade” (ibid., p. 54). A não conscientização coletiva das classes médias da sociedade em relação aos desmandos de uma elite - apenas interessada na perpetuação de seus privilégios - permitiu que esta elite, ameaçada pela perda do poder político, agisse de forma calculada e planejada para a dominação da opinião pública (SOUZA, 2017).

5.2 O Partido dos Trabalhadores

Como já descrito, as direitas brasileiras se opõem às políticas públicas de justiça social desenvolvidas durante os anos de governo petista (SANTOS JUNIOR, 2019; TELLES, 2015). O comentário 2 ̶ expresso na Figura 1 ̶ , além de uma explícita situação de xenofobia, vemos também a argumentação contrária ao bolsa família, chamado de “bolsa migalha”. No proferimento, também há um ataque ao PT, já que faz menção ao slogan de campanha de Fernando Haddad (“O Brasil Feliz de Novo”) em natureza crítica (“estão

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2 desesperados”). Aliada à pauta que aciona a cultura do politicamente incorreto, estaria, como descreve Di Carlo e Kamradt (2018), o antipetismo. Este substrato emocional dos protestos à direita (TATAGIBA, 2018), se tornou patente e gerou uma base popular e midiática para que a justiça tivesse o papel de ator político.

Os contornos finais das direitas contemporâneas, segundo Santos Junior (2019), foram se moldando durante os mandatos petistas, ao passo que adotaram um caráter contestador em relação às políticas sociais do partido, “a partir de um cenário de desgaste e de enfraquecimento do desempenho econômico do país, somado ao aumento dos escândalos de corrupção política” (ibid., p. 111). Entendendo a relação entre o ataque à regulação discursiva e as pautas dos conservadores de direita, entre elas, o antipetismo, cruzamos os dados (Tabela 2) e vimos que, ao nível de 99% de confiança, 97,3% das pessoas que atacam o PT sofrem de uma indisposição em relação à regulação discursiva, conforme explícito no comentário 2, por exemplo. Este fato confirma a segunda parte da hipótese, já que apenas 1,4% dos comentários que defendem o PT atacam a regulação.

Tabela 2* - Relação dos comentários que atacam e defendem o Partido dos Trabalhadores com a regulação discursiva.

Partido dos Trabalhadores

Ataque Defesa Total

Regulação discursiva Ataque 215 (97,3%) 3 (1,4%) 218 (98,7%) Defesa 0 (0%) 1 (0,5%) 1 (0,5%) Misto 2 (0,9%) 0 (0%) 2 (0,9%) Total 217 (98,2%) 4 (1,8%) 221 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2667 (casos omissos: n=2 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 49,787a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

Em relação a esse sentimento antipetista que moveu as direitas, Santos Junior (2019) explica que há dois momentos históricos distintos, um deles é relativo à contrariedade ideológica da época do PT socialista, que adotava políticas antimercado e se distanciava dos interesses de hegemônicas empresas midiáticas, e o segundo é referente ao antagonismo contemporâneo, pautado pela desconfiança das origens sociais e ideológicas do partido, e pelo discurso moralizante da política. Assim, como explana Tatagiba (2018), as direitas se moveram às ruas entre 2015 e 2016 a fim de defenderem políticas relativas ao funcionamento do governo (o sentimento antipetista), e, além disso, as mobilizações tratavam de agendas relacionadas à moral e à ordem, ambas ligadas a uma “expectativa de fortalecimento da autoridade” (TATAGIBA, 2018, p. 102).

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2 Analisando a Tabela 3, chegamos à conclusão de que outro indício da hipótese também pode ser confirmado, já que 89,8% dos que atacam a esquerda atacam também a regulação discursiva, em comparação a 0% dos que atacam a direita, ao nível de 99% de confiança, confirmando, assim, esta questão na hipótese. O termo politicamente correto, em seu país de origem, Estados Unidos, possui ligação com a esquerda (FERES JÚNIOR, 2017). De maneira bem objetiva, Feres Júnior (ibid.) elucida a diferença entre os espectros políticos: a esquerda se relaciona à defesa dos muitos, ao pregar o valor da igualdade, e a direita vem associada à defesa do privilégios dos poucos. Assim, o cientista social explica que o PC é “utilizado pela direita política para atacar políticas públicas e posições normativas de esquerda, sendo que tal esquerda raramente assume o termo como parte de sua identidade” (ibid., p. 64).

Tabela 3* - Relação dos comentários que atacam grupos políticos com a regulação discursiva.

Ataque a grupos políticos

Ataque à esquerda Ataque à direita Ataque misto Total Regulação discursiva Ataque 79 (89,8%) 0 (0%) 2 (2,3%) 81 (92%) Defesa 0 (0%) 5 (5,7%) 0 (0%) 5 (5,7%) Misto 2 (2,3%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (2,3%) Total 81 (92%) 5 (5,7%) 4 (4,5%) 88 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2663 (casos omissos: n=6 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 97,257a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

Abaixo, são apresentados alguns comentários que atacam a esquerda e também contrariam a regulação discursiva:

Figura 2 - Comentários que atacam a esquerda e atacam a regulação discursiva. FONTE: Páginas de Facebook de Jair Bolsonaro, Fernanda Haddad e Ciro Gomes. Os comentários 5 e 6 culpabilizam a esquerda por ter instalado o politicamente correto no país. Sendo que o 5 julga como parcial o discurso de “amor e tolerância” da esquerda, e, no 6, vemos o medo de que o Brasil se torne uma Venezuela. A disseminação

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2 da comparação entre Brasil e Venezuela atendeu a interesses estratégicos de campanha nas eleições brasileiras de 2018 (CHAGAS et al., 2019). Tal ameaça retórica, para Chagas et al. (ibid., p. 8), só apresenta coerência para quem acessa as seguintes problemáticas: “(a) a Venezuela como um país que experimenta uma crise humanitária sem precedentes, (b) a inclinação à esquerda do governo venezuelano como principal responsável pela crise, e (c) a suposta associação entre os partidos à esquerda brasileiros e o governo venezuelano”.

Já o comentário 7 é relativo à publicação em que Jair Bolsonaro afirma: “A melhor forma de mostrar respeito às pessoas é tratando-as de igual pra igual, valorizando-as por seu caráter e competência, não cor ou sexualidade, nem como se fossem mais frágeis e incapazes. Ninguém gosta de ser tratado como coitadinho. O Brasil é um só! É de todos nós!”. Assim, o indivíduo responsável pelo comentário responsabiliza a esquerda pelo chamado vitimismo, indo ao encontro da posição de Bolsonaro, que defende a necessidade do tratamento igualitário a todos, e deixa implícita sua postura contrária a certas políticas de inclusão.

5.4 Grupos ideológicos

Tabela 4* - Relação dos comentários que atacam grupos ideológicos com a regulação discursiva.

Ataque a grupos ideológicos

Ataque ao progressismo Ataque ao conservadorismo Ataque misto Total Regulação discursiva Ataque 58 (93,5%) 0 (0%) 1 (1,6%) 59 (95%) Defesa 0 (0%) 1 (1,6%) 0 (0%) 1 (1,6%) Misto 2 (3,2) 0 (0%) 0 (0%) 2 (3,2) Total 60 (96,7%) 1 (1,6%) 1 (1,6%) 62 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2669 (casos omissos: n=0 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 79,553a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

O ataque à regulação discursiva é uma reação conservadora contra uma mudança de paradigma social, partindo da premissa de que o conservadorismo é uma resposta a algo que busca por transformações do status quo (DRYZEK e DUNLEAVY, 2009). A adoção de uma abordagem moralista da política é uma característica dos conservadores, que geralmente apreciam fortemente as tradições de uma determinada sociedade, no que tange à garantia da coesão social e da estabilidade política (ibid.). De acordo com a Tabela 4, ao nível de 99% de confiança, 93,5% das pessoas que atacam as pautas progressistas (ou seja, se identificam mais com o conservadorismo) sofrem de uma indisposição à regulação discursiva. Desta forma, a terceira afirmação da hipótese também é confirmada, visto que 0% dos comentários de ataque ao conservadorismo ataca a regulação.

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2 Como descrevem Dryzek e Dunleavy (2009), os conservadores europeus, ao longo do século XIX e início do século XX, tinham uma tendência maior ao reacionarismo, já que defendiam as classes privilegiadas em detrimento da democracia, e a aristocracia fundiária contra a ascensão do capitalismo e, posteriormente, o socialismo. Destarte, no contexto de expansão do capitalismo, democracia eleitoral e estados de bem-estar social, a perspectiva conservadora condenava o excesso de direitos individuais, sendo contra a sociedade das atividades e o estado excessivamente ativo e oneroso. Entrementes, ainda de acordo com os autores aqui mencionados, quando os conservadores sentem que a realidade se tornou insatisfatória, eles se tornam menos confiantes em relação ao que fazer. Na virada do século XXI, ao perceberem um status quo político nas democracias liberais preenchidos pelo declínio da comunidade e do capital social (PUTNAM, 2000), pela ascensão do secularismo, dos direitos humanos universais, do pluralismo, do multiculturalismo, do bem-estar social, de pautas feministas, da mercantilização do estado e do crescimento do governo internacional, superando as tradições nacionais, os conservadores passaram a ser eloquentes em suas críticas a essas tendências (DRYZEK e DUNLEAVY, ibid.).

Na América Latina, a antiga direita, predecessora da direita neoliberal europeia e estadunidense, assumiu uma vertente mais moralizante, ligada às ideologias católicas, e mais autoritária, como forma de reagir à ascensão aos movimentos populares reformistas dos anos 1960 (CODATO et al., 2015). Como ainda afirmam Codato et. al., sua hegemonia, que teve início com o golpe político-militar de 1964 no Brasil, se encerrou com o colapso das ditaduras no continente. Porém, ao menos no Brasil, sua influência persistiu por mais uma década. “Nos anos 1990, parte importante da sustentação do governo [Fernando Henrique] Cardoso veio dessa direita tradicional que garantiu, politicamente, a agenda de reformas neoliberais” (ibid. p. 117).

Seguem alguns comentários contrários às agendas progressistas (ou seja, próximos às agendas conservadoras) e que atacam a regulação discursiva:

Figura 3 - Comentários que atacam pautas progressistas e atacam a regulação discursiva. Fonte: Páginas de Facebook de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad e Ciro Gomes.

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2 Nos comentários 8, 9 e 10 vemos uma aversão ao feminismo. 0 9, por exemplo, faz uma aproximação direta entre o PT e as chamadas “feministas extremistas”. Ao pesquisar a ofensiva conservadora contra a agenda da igualdade de gênero e da diversidade sexual, Biroli (2018) conta que a politização da sexualidade e as conquistas dos movimentos feministas e LGBTQIA+ foram culpabilizados pelas ameaças ao modelo normativo da chamada “família brasileira”, já que são considerados aliados à subversão da ordem moral. Foi desta forma que foram incorporadas nas campanhas internacionais adversas à igualdade de gênero e à diversidade sexual as ações contra a suposta “ideologização” no ensino brasileiro, como explica Biroli (ibid.).

No comentário 10, destaca-se a necessidade de ser brasileiro em primeiro lugar, e, além disso, certas pautas identitárias (negro e gay) foram associadas, de maneira igualitária, a certos grupos ideológicos (feminismo) e políticos (esquerdismo). Neste proferimento, nota-se também a negação da problemática, ao rejeitar a questão das pautas identitárias. O comentário 11, além de ser intolerante ao chamar o interlocutor de “verme”, também é intolerante ao marxismo. Ainda de acordo com Biroli (2018), o comunismo, o marxismo, bem como a “ideologia de gênero” são valores combatidos pelo “Programa Escola sem Partido”. A parcialidade combatida, segundo a autora, é aquela que levaria para as escolas a crítica ao sistema de propriedade vigente e às desigualdades sociais, além disso, há também uma oposição às perspectivas.

O conservadorismo pode ser entendido como um conjunto de concepções empregadas na justificação do estabelecimento da ordem social (HUNTINGTON, 1957; BAPTISTA et al., 2018). Mudde (2007), ao explicar que o conceito de conservadorismo é notoriamente difícil de definir, propõe duas vertentes para o termo, que podem ser conflitantes: a perspectiva relativa - que denota a conservação do status quo e a preferência reacionária por um retorno ao passado, em oposição à progressiva mudança; e a perspectiva absoluta ̶ na qual conservadorismo se refere a uma certa ideologia, com base nos seguintes recursos: autoritarismo, tradicionalismo, religiosidade e nacionalismo.

Para este trabalho, ambos os conceitos de conservadorismo de Mudde (2007) se mostram relevantes: absoluto e relativo, bem como outras conceitualizações aqui mencionadas. O significado relativo, aqui, nos é útil já que trazemos o ataque à regulação discursiva como um sintoma do conservadorismo, que busca a manutenção da realidade que privilegia os grupos dominantes, que tem medo do novo. Assim vemos no comentário 9, que tem esperança de extinção de espaços de fala para as “feministas extremistas” com a possível eleição de Bolsonaro. Já o significado absoluto se faz útil porque buscamos traçar uma caracterização da ideologia conservadora brasileira, que conversa com os tópicos abordados aqui neste trabalho (contrariedade às leis e políticas públicas, sentimento

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2 antipetista, aversão ao esquerdismo, progressismo, e argumentações a favor da família e que fazem menção a Deus, como veremos a seguir).

5.5 A preocupação moral: pela família

No trabalho, codificamos também os comentários que utilizaram o argumento “a favor da família”, ao acionarem perspectivas enaltecedoras dos valores familiares, por exemplo. Em conformidade com os dados trazidos pela Tabela 5, 29 (1,9%, com 99% de confiança) comentários do nosso corpus utilizaram, ao mesmo tempo, argumentações contrárias à regulação discursiva e alegações a favor da família. Este fato acaba corroborando com a quarta premissa da hipótese, haja visto que 0,06% dos comentários que fazem alegações a favor da família defendem a regulação.

Tabela 5* - Relação dos comentários que citam argumentos a favor da família com a regulação discursiva.

A favor da família

Não se aplica Sim Total

Regulação discursiva Ataque 1407 (91,6%) 29 (1,9%) 1436 (93,5%) Defesa 87 (5,7%) 1 (0,06%) 88 (5,8%) Misto 12 (0,78%) 0 (0%) 12 (0,78%) Total 1506 (98%) 30 (2%) 1536 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2669 (casos omissos: n=0 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 20,718a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

Escolhemos o comentário 12 – demonstrado na Figura 4, abaixo – para exemplificação, já que seu entendimento nos leva a uma compreensão mais minuciosa de certas bandeira hasteadas pelas direitas conservadoras: a argumentação em prol da família, da palavra de Deus e dos bons costumes; a luta contra o aborto, contra a chamada doutrinação comunista, contra o feminismo, contra a ideologia de gênero, contra o politicamente correto, entre outras. É interessante notar como o autor do comentário assimila o PC (ou, ainda, a regulação discursiva) aos deslizes da sociedade. Aqui, focaremos em discutir sobre a superioridade moral requerida pelas alegações.

Figura 4 - Comentário que ataca a regulação discursiva e outros temas relativos ao conservadorismo brasileiro.

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2 A defesa incontestável de um modelo ideal de família (que exclui outras propostas de construções, principalmente as formadas pelas identidades LGBTQIA+), é uma das pautas do conservadorismo brasileiro (BIROLI, 2018). Vista no comentário 12, a preocupação moral brasileira está aliada, muitas vezes, aos setores médios da sociedade (SOUZA, 2017). Apesar disso, não é válido dizer que moralismo também não seja visto em outras classes brasileiras, mas, como afirma Souza (2017), na classe média ele está em casa. As classes sociais, como conta o sociólogo, além de disputarem bens matérias e salários, estão em constante disputa de legitimação do próprio comportamento e do próprio estilo de vida. A classe média justifica e legitima seus privilégios de forma distinta, seja pela meritocracia, seja pela superioridade moral. “A suposta superioridade moral da classe média dá a sua clientela tudo aquilo que ela mais deseja: o sentimento de representarem o melhor da sociedade” (ibid., p. 133).

Além disso, uma das principais características do populismo é a predominância da moralidade (MUDDE 2004, 2007; TAGGART, 2000). E, concordando com as ideias de Chaloub (2019) sobre o embate público entre o bem e o mal, Mudde (2007) aponta que a consequência dessa moralidade é a divisão "nós-eles", na qual o "outro" é demonizado (MUDDE, 2007; ABRANCHES, 2019; SOLANO, 2019). Assim, o que está em questão é a chamada valorização da moral e dos bons costumes. O conservadorismo, ao se preocupar com a manutenção da ordem, reforça a premissa da necessidade de limitar as liberdades individuais como forma de garantir essa ordem (BAPTISTA et al., 2018).

Porém, há críticas em relação a esta ideia, já que alguns conservadores pregam a liberdade dos indivíduos economicamente falando, simultaneamente enquanto defendem padrões morais e de costumes na esfera social. Miguel (2018) aponta que a ênfase na agenda moral conservadora pelas direitas apareceu como um caminho para que fosse possível reconquistar ao menos uma base social que havia sido perdido com as políticas de combate à miséria ligadas ao Partido dos Trabalhadores.

Outro ponto importante em relação à questão da moralidade perpassa pelo fato de que acaba por ser estabelecido, por meio do teor denunciatório de grande parte das informações, uma ligação entre a desmoralização das conjunturas e os efeitos aos regimes democráticos (SOUZA, 1988; LIMA, 2015). Apesar dessa associação feita entre desmoralização e democracia, a nova direita latina, de acordo com Codato et al. (2015), possui, como statements, a defesa da democracia e a defesa radical dos valores da família tradicional, além do liberalismo econômico, com intervenção limitada do Estado na economia. Em comparação, à velha direita latina enquadrava na sua agenda a ligação com as ditaduras militares, a defesa radical da não-intervenção estatal na economia, e a defesa moral cívica e da família tradicional (CODATO et al., 2015).

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2 5.6 Menção a Deus

A menção a Deus, de acordo com a Tabela 16, foi vista em 82 comentários (5,3%, com 99% de confiança) que atacam a regulação discursiva. A última afirmação da hipótese, dessa maneira, também acaba por ser confirmada, já que apenas 0,4% dos comentários que fazem menção a Deus defendem a regulação discursiva.

O valor religioso acionado em muitos comentários se deve ao fato de o período eleitoral de 2018 ter sido marcado pela ótica conservadora e moralista. Jair Bolsonaro, o protagonista das eleições, propõe uma vertente que mina o caráter laico do Estado brasileiro, ao afirmar em seu mote de campanha que Deus estaria acima de todos.

Tabela 6* - Relação dos comentários que fazem menção a Deus com a regulação discursiva.

Menção a Jesus/Deus

Não se

aplica Sim Total

Regulação discursiva Ataque 1354 (88%) 82 (5,3%) 1436 (93,5%) Defesa 82 (5,3%) 6 (0,4%) 88 (5,7%) Misto 9 (0,6%) 3 (0,2%) 12 (0,8%) Total 1445 (94%) 91 (6%) 1536 (100%)

*A tabela foi criada, originalmente, pelo SPSS a partir do valor total do corpus: 2669 (casos omissos: n=0 / Qui-quadrado de Pearson: Valor 36,566a; Significância Assintótica (Bilateral), 000). Porém, a título de melhor compreensão, optamos por explicitar nas tabelas apenas os casos válidos, desconsiderando os comentários não-identificáveis.

FONTE: Elaborada pelas autoras.

Tomamos como exemplo, aqui, ainda o comentário 12. Para Miguel (2018), vê-se, no Brasil, a aliança entre o ultraliberalismo e o conservadorismo cristão. Por meio da valorização dos contratos “livremente” estabelecidos, o libertarianismo – uma das vertentes dos setores mais extremados das direitas, para o autor – reduz os direitos ao direito de propriedade e tem aversão a qualquer resquício de solidariedade social. Os libertarianos, segundo Miguel (ibid.), visam restringir a ação reguladora do Estado, e, além disso, o libertarianismo original realça a convicção de respeitar a autonomia individual, levando a posições avançadas temas como consumo de drogas, liberdade sexual e direitos reprodutivos. Ainda de acordo com o autor, a partir dos anos 1990, com o investimento das igrejas neopentecostais em nome da eleição de seus pastores, o fundamentalismo religioso tornou-se uma força política no Brasil. Hoje, os pentecostais fazem parte do cenário político brasileiro. E, conforme descreve Burity (2018), seu perfil se intensificou nos últimos anos devido ao acirramento do conflito com outros atores minoritários, que também desfrutaram do processo de democratização brasileiro – as mulheres, os negros, indígenas, grupos LGBTQIA+ etc.

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2 Do ponto de vista conservador, ou de direitas conservadoras, os atores políticos deveriam assumir certos papéis a fim da construção de uma sociedade mais harmônica. Como dissertam Dryzek e Dunleavy (2009), os eleitores não deveriam se importar com interesses materiais próprios, mas sim com interesses comunitários; das pessoas comuns, pede-se que façam sacrifícios pessoais em detrimento do bem-comum; dos funcionários públicos, a expectativa é que sirvam ao público, não o avanço de suas próprias carreiras; os públicos, em vez de se envolver em conflitos partidários, deveriam governar a fim de obter amplo apoio popular. Assim, ainda de acordo com os autores, todos deveriam conhecer seu lugar na ordem social e política, e não se considera certo o rompimento desta ordem em benefício pessoal ou do bem-estar de sua classe social, categoria ocupacional, religião ou grupo étnico “Idealmente, essas tradições e valores seriam virtuosos – embora os conservadores reconheçam que as sociedades e os estados do mundo real podem ficar muito aquém do ideal, especialmente se estiverem sob a influência de nefastas doutrinas disruptivas, como pluralismo, marxismo, liberalismo de mercado ou feminismo” (DRYZEK e DUNLEAVY, 2009, p. 274, tradução nossa8).

6. Conclusão

No presente artigo, buscamos interpretar a correspondência do mal-estar da regulação discursiva, ataque contemporâneo ao uso do politicamente correto, com a pauta conservadora das direitas. Ao realizarmos uma análise de conteúdo nas páginas de Facebook de candidatos de uma eleição excessivamente polarizada como a brasileira de 2018, investigamos a relação entre os ataques ao PC e as demandas de representantes políticos e seus apoiadores.

A crítica à regulação discursiva é associada a diferentes espectros político-ideológicos (KOHL, 1992; RAJAGOPALAN, 2000; FERES JÚNIOR, 2017; RAMOS, 2017). Entretanto, o trabalho buscou compreender em que medida os grupos conservadores, durante o período eleitoral brasileiro de 2018, são mais adversos a esta regulação, em comparação aos grupos progressistas.

A oposição aos programas sociais está ligada ao discurso que defende os processos meritocráticos e entende que a desigualdade é um modelo justo de retribuição às diferenças (de esforços, principalmente) entre os indivíduos (MIGUEL, 2018). Além disso, a cultura do politicamente incorreto e o antipetismo, ao se aliarem (DI CARLO e KAMRADT, 2018), contestam a promoção de políticas sociais do partido, na medida em que acreditam que o

8 No original: “Idealy, these traditions and values would be virtuous – though conservatives recognize that real-world societies and states may fall far short of the ideal, especially if they are under influence of nefarious disruptive doctrines such as pluralism, Marxism, market liberalism or feminism.” (DRYZEK e DUNLEAVY, 2009, p. 274) .

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2 PT, por meio de políticas assistencialistas e pela defesa de pautas identitárias, tivesse enquanto intenção uma divisão do país e o não entendimento da homogeneidade do povo. Compreender a complexidade das situações sociais de uma nação, por meio do explícito entendimento da heterogeneidade popular, pode representar uma ameaça a estruturas políticas que trabalham em prol do argumento da simplicidade para a resolução de demandas, como é o caso da campanha de Bolsonaro. O politicamente correto, comumente utilizado pela direita para atacar a esquerda, acaba sendo, também, alvo de crítica dos grupos conservadores, dado que esta regulação do discurso, ao empenhar-se na transformação de paradigmas sócio-políticos, ameaça a visão conservadora que busca manter a ordem social (HUNTINGTON, 1957; BAPTISTA et al., 2018). Ainda, a defesa incontestável de um modelo ideal de família, se associa ao ataque à regulação discursiva na medida em que tal regulação, ao visar a inclusão de todos, pode representar abalos na estrutura deste modelo padrão de família, principalmente com a inserção de pessoas do grupo LGBTQIA+.

Por último, o progressivo conflito entre os líderes religiosos e os grupos estigmatizados acaba por também causar uma relação entre o ataque à regulação do discurso e a menção a Deus. Nossa conclusão, assim, discute em que sentido os grupos conservadores de direita apresentam, entre suas pautas, o medo de perder privilégios, ao se sentirem ameaçados por uma transformação discursiva da esfera pública, que tem se atentado, cada vez mais, à busca pelo respeito e inclusão de camadas sociais anteriormente negligenciadas.

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