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Ravi Zacharias - Por Que Jesus é Diferente

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Academic year: 2021

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(2) Num mundo com tantas religiões - por que Jesus? Vivemos numa époea em que você pode crer em qualquer coisa, contanto que não afirme sér a verdade. Em nome da "tolerância", nossa cultura pósmoderna acolhe tudo, desde o misticismo oriental até a espiritualidade da Nova Era. Mas a realidade pura e simples é: nem todas as religiões são verdadeiras. ,. Em Por Que Jesus É Diferente, Ravi Zacharias demonstra a singularidade de Jesus na cultura pós-moderna, que deliberadamente tem adotado uma variedade de religiões. Nesta obra encontram-se as respostas para as objeções mais fundamentais sobre o cristianismo, tais como: • As religiões não são todas fundamentalmente iguais? • Jesus era mesmo o que afirmava ser? • A afirmação cristã de sua superioridade é valida? • Alguém pode estudar a vida de Jesus e demonstrar, de forma conclusiva, que ele era e continua sendo o caminho, a verdade e a vida?. Os TEMPOS MUDAM. A VERDADE PERMANECE Dr. Ravi Zacharias é presidente do Ministério Internacional Ravi Zacharias. Nascido na índia, já ensinou em mais de 50 países e em algumas das universidades mais proeminentes do mundo. É autor de vários livros, incluindo Pode o Homem Viver Sem Deus?, publicado no Brasil pela Editora Mundo Cristão.. EDITORA MUNDO. CR S.

(3) POR QUE. JESUS é. diferente.

(4) Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Zacharias, Ravi Por que Jesus é diferente / Ravi Zacharias; traduzido por Josué Riheiro. - São Paulo: Mundo Cristão, 2003. Título original: Jesus araong other gods. ISBN 85-7325-264-2 1. Apologética 1. Título.. 2. Cristianismo e outras religiões 3. Jesus C Cristo. C D D - 261.2. 02-3714. índice para catálogo sistemático: 1. Cristianismo e outtas religiões 261.2 2. Cristianismo e religiões não-cristãs 261.2. Copyrighr © 2000 por Ravi Zacharias. Publicado originalmente por W Publishing Groups, Nashville, T N , EUA. Título Original em Inglês: Jesus among other gods Gerência de Produção Editorial: Sidney Alan Leite Capa: Magno Paganelli (adaptação) Revisão: Jefferson Magno Costa Theófilo José Vieira Os textos das referências bíblicas foram exrraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2a edição, salvo indicação específica. A I a edição brasileira foi publicada em fevereiro de 2003, com uma tiragem de 3.000 exemplares.. Publicado no Brasil com a devida autorização e com rodos os direitos reservados pela: Associação Religiosa Editora Mundo Cristão Rua António Carlos Tacconi, 79 - CEP 04810-020 - São Paulo-SP - Brasil Telefone: (11) 5668-1700 - Home page: www.mundocristao.com.br Editora associada a: • • • •. 10. Associação Brasileira de Direitos Reprográficos Associação Brasileira de Editores Cristãos Câmara Brasileira do Livro Evangelical Christian Publishers Association. 9 8 7 6 5 4 3 2 1. 03 04 05 06 07 08 09 10 11.

(5) POR QUE. JESUS é. diferente. Ravi Zacharias. Traduzido por. Josué Ribeiro. m EDITORA MUNDO CRISTÃO São Paulo.

(6) Em memória de dois amigos muito queridos, Charles Kip Jordon & Robert Earl Fraley Ambos tiveram participação neste esforço; Kip me incentivou muito a escrever este livro. Robert providenciou para que eu tivesse o tempo necessário. Nenhum de nós imaginava quão breve eles estariam com o Senhor, a figura principal desta obra..

(7) tf sumario. LU. Agradecimentos Introdução 1. Escalando um alto muro 2. Em direção do lar celestial 3. A anatomia da fé e a busca da razão 4. Um sabor para a alma 5. Deus é a fonte do meu sofrimento? 6. Quando Deus fez silêncio 7. Existe um jardineiro? Notas. 219.

(8) agradecimentos. C. om a ajuda e o apoio de muitas pessoas, este livro finalmente tomou forma. Quero expressar minha gratidão a todas elas, de todo coração. Danielle D u R a n t , como sempre, proporcionou um apoio valiosíssimo nas pesquisas e assumiu a tarefa tediosa de investigar as fontes de informação. Os editores Jan Dennis e Jennifer Stair "apararam as arestas". Laura Kendall, juntamente com o pessoal da Word Publishing, fez as finalizações. A liderança da editora - David Moberg, Joey Paul, Rob Birkhead e outros — expresso minha sincera gratidão por suas graciosas palavras de encorajamento. Finalmente, e mais importante, meus agradecimentos à minha esposa Margie. Ela examinou minuciosamente cada página, dando sugestões de como melhorar. Eu alegremente submeto a ela a última palavra. Este livro é apresentado como a expressão de um coração grato a Deus por tudo o que ele tem feito em minha vida..

(9) introdução. Q. uando comecei a escrever este livro, não fazia a mínima ideia de como esta tarefa seria difícil. A dificuldade, na verdade, não estava em não saber o que dizer, mas sim em saber o que não dizer. Vivemos numa época em que os melindres estão à flor da pele, muitas vezes manifestados por meio de palavras duras. Filosoficamente, pode-se acreditar em qualquer coisa, desde que não se afirme que seja a verdade. Moralmente, podese fazer qualquer coisa, desde que não se afirme que seja a "melhor" forma. Na religião, você pode se apegar a qualquer coisa, desde que não inclua Jesus Cristo. Se uma ideia espiritual for oriental, recebe imunidade crítica; se for ocidental, é ferozmente criticada. Assim, um jornalista pode entrar numa igreja e zombar da cerimónia, embora não ouse ter a mesma atitude para com uma seita oriental. Esta é a tendência do final do século XX. Uma tendência pode ser um estado mental perigoso, pois esmaga a razão sob o peso dos sentimentos. No entanto, creio que é exatamente isso que representa melhor o pós-modernismo — uma tendência. Como alguém que vive dentro de tais tendências pode comunicar a mensagem de Jesus Cristo, na qual a verdade e os absolutos são não somente assumidos, mas também sustentados? Vamos esclarecer alguns pontos. Certamente Jesus não era ocidental. De fato, algumas de suas parábolas tinham um cunho tão.

(10) 12. POR QUE JESUS É DIFERENTE. oriental, que creio que muitos ocidentais podem não entender claramente o rigor e o humor por trás de seus ensinamentos. O fato é que o impacto das suas palavras através dos séculos foi tão profundamente sentido que o etos e o ímpeto moral de sua mensagem mudaram o rumo da civilização ocidental. Os naturalistas ocidentais, demonstrando extrema arrogância, não enxergam isso. Agora, porém, o progresso tecnológico, a riqueza e os empreendimentos estão tão vinculados à mensagem de Jesus, que o modelo popular de cristianismo parece nada mais do que um misto de egoísmo e ganância no centro com camadas de pensamento cristão na periferia. Esta distorção tem feito por merecer os severos ataques dos críticos. Entretanto, faríamos bem em lembrar as palavras de Agostinho: Jamais devemos julgar uma filosofia por seus abusos. Além disso, a forma como Jesus falou, os provérbios e histórias que contou, bem como todo o contexto no qual proferiu seus discursos, tudo está imerso num idioma oriental. Não podemos esquecer este fato. No entanto, se o mundo ocidental pode ser acusado de adulterar a mensagem de Jesus, deixando-a irreconhecível, o mundo oriental muitas vezes esquece que, devido à omissão, deixou um conjunto de crenças religiosas, algumas delas bizarras, irresponsavelmente sem uma crítica. Tome, por exemplo, várias formas de práticas e de adoração orientais. Enquanto escrevia este livro, presenciei muitas. Numa delas, os devotos tinham ganchos espetados pelo corpo. Tinham facas atravessando a pele do rosto e pequenas lanças atravessando a língua. Visões como estas deixam visitantes, adultos e crianças, horrorizados. Temos de perguntar: por que os mesmos intelectuais que criticam as formas ocidentais de espiritualidade não fazem o mesmo com esses grupos? Mais próximos de nossa realidade, vemos os escritos de Deepak Chopra, que ensina uma doutrina de espiritualidade, sucesso e prosperidade costurada nos ensinamentos Veda, carma e autodeificação. Em contraste, vemos milhões de devotos dessa cosmovisão subreptícia vivendo na mais abjeta pobreza. Será que de alguma forma.

(11) INTRODUÇÃO. 13. deixaram de atingir o alvo? O que há de errado com este quadro? Podemos ver rapidamente que toda religião deve encarar a responsabilidade de responder às perguntas a ela dirigidas. Muitas outras questões podem ser levantadas, mas o ponto continua o mesmo. Como resultado disso tudo, sérias distorções acabaram virando moda. Alguns proponentes de outras convicções religiosas falam contra o "mito da unicidade cristã". Outros exigem que a propagação da fé seja considerada errada, e que a ideia de "conversão" deve ser banida. Tal tendência traz no final sua própria tirania. A realidade é que se a religião deseja ser tratada com respeito intelectual, então deve ser submetida ao teste da verdade, independentemente de qual seja a tendência em voga. Este livro é uma defesa da unicidade da mensagem cristã. Tratando desse assunto mais de perto, eu gostaria de ter dito mais e ter argumentado e apresentado mais contrastes, mas a tendência atual poderia não suportar mais do que isto. A rota que segui foi apresentar uma diferença clara entre Jesus e outras figuras que reivindicaram status divino ou profético. Peguei seis perguntas a que Jesus respondeu de uma forma que ninguém mais poderia ter respondido. Os oponentes podem discordar de suas respostas, mas quando elas são reunidas, ninguém é capaz de questionar sua unicidade. Creio que todas as respostas são fascinantes, e espero fazer justiça a cada uma delas. A medida que fui respondendo, os capítulos foram ficando mais longos, pois o assunto tinha de ser adequadamente abordado. A dificuldade de controlar a extensão do texto foi acentuada pelo fato de que eu também precisava contrastar as respostas de Jesus com as de outros líderes religiosos importantes. Sem sombra de dúvida, a questão mais difícil de abordar foi a pergunta que fizeram a Jesus concernente à dor e ao sofrimento. Esse capítulo foi dividido em três partes. O último capítulo não é uma pergunta feita a Jesus, mas uma pergunta feita em seu favor, aos seus seguidores e aos seus opositores. Só podíamos terminar desta forma..

(12) 14. POR QUE JESUS É DIFERENTE. Como você logo notará, não confronto as respostas de Jesus com cada religião que oferece respostas sobre as mesmas questões. Tratei somente daquelas religiões que ainda atraem grande número de seguidores ao redor do mundo — islamismo, hinduísmo e budismo. Devo acrescentar mais uma coisa. Viajei milhares de quilómetros enquanto escrevia, não somente em prol do livro, mas também quando era convidado para falar em várias partes do mundo. Visitei templos, mesquitas e outros locais religiosos. Conversei com estudantes em universidades onde a religião predominante não é cristã. Nesses momentos, conheci pessoas gentis e finas. Por natureza, gosto de estar com pessoas. Gosto de conversar, principalmente durante uma refeição com novos amigos. Uma dessas pessoas foi um camareiro num hotel onde me hospedei. Ele é muçulmano. Diariamente, quando entrava para arrumar minha cama, ele me trazia uma xícara de chá e nós conversávamos. No seu dia de folga, levou-me a um passeio por sua cidade, onde visitamos muitos locais de culto. Jamais esquecerei aquele homem. Gostaria que mais pessoas demonstrassem a bondade e a cortesia que ele sempre oferecia. Este é o ponto que quero enfatizar. Podemos ter opiniões diferentes, mas sem raiva e sem ofensas. O que eu creio, encaro com toda seriedade. Por causa disso escrevi este livro. Devo tratar tudo o que é contrário da mesma forma. Minha oração fervorosa é que quando você ler esta obra, tire a sua conclusão sobre a mensagem cristã baseado na verdade e não nas tendências da nossa época. As tendências mudam. A verdade permanece..

(13) capítulo. um. ESCALANDO UM ALTO MURO. Q. uero começar contando um incidente ocorrido em minha vida, que até hoje ainda causa um turbilhão de emoções dentro de mim. Temos facilidade de evocar certas lembranças. Outras, apesar da passagem do tempo, abrem e sangram como um ferimento. Por esta razão, reconheço que tenho dificuldade de relembrar muitos fatos do meu passado. Só consigo trazer esses velhos momentos de volta ao presente porque os anos intermediários me ajudaram a olhar além das antigas feridas. Mais do que isto, porém, esses acontecimentos tristes, junto com muitos outros, podem bem ter dado início à minha jornada em direção a Deus, levando-me a uma parada obrigatória e forçando-me a fazer algumas perguntas bem difíceis a mim mesmo. Eu tinha 16 anos de idade e estudava num colégio comunitário, pois isso me proporcionava um atalho para a finalização da escola secundária. Um dia, após o final da aula, eu voltava para casa de bicicleta e nem imaginava o que ia acontecer a seguir. Do meu ponto de vista, era um dia como outro qualquer. Entretanto, aquele dia teria um final diferente. Quando entrei no quintal de casa, vi uma cena incomum. Normalmente naquele horário meu pai não estava em casa, mas lá estava ele, em pé na porta, com os dois braços abertos, como se quisesse bloquear meu caminho. Eu o cumprimentei com um olhar furtivo,.

(14) 16. POR QUE JESUS É DIFERENTE. mas ele não respondeu. Senti seus olhos sobre mim, e meu coração se encheu de medo. Meu relacionamento com meu pai deixava muito a desejar, e minha falta de propósito na vida era motivo de grande frustração para ele. Devo confessar que tinha medo dele, um sentimento que até hoje não consegui entender. Jamais esquecerei aquele momento. — C o m o foi a aula?— ele perguntou. Ele nunca perguntara isto antes. Geralmente meu boletim respondia a esta questão, ocasionando discussões tensas. Eu devia ter desconfiado que ele tinha uma razão para a pergunta naquele dia; no entanto, respondi que estava tudo bem, sem suspeitar de nada. Seria difícil repetir suas palavras exatas, mas sua explosão de raiva e a bofetada que recebi me deixaram tremendo e soluçando. Se minha mãe não tivesse interferido, eu poderia ter sido seriamente machucado. Insensatamente, eu iniciara um jogo, e agora ele chegava ao final, sem nenhum vencedor. A verdade é que eu não estivera na escola naquele dia. De fato, já não ia à escola há algum tempo. Passava meus dias vagando pelas ruas de bicicleta, procurando algum jogo de críquete para assistir ou até participar. Sem ir às aulas, eu era desmascarado nas provas. Não sei como imaginava levar a farsa adiante. No entanto, as escolhas erradas têm o poder de privar as pessoas até do bom-senso. Por que tudo aquilo havia acontecido, para começar? Alguém pode pensar que todo o episódio indicava apenas que eu não gostava de estudar. No entanto, era muito mais do que isto. Ninguém que me conhecia seria capaz de imaginar o tamanho do vazio em meu interior. Eu era um desses adolescentes que se debatem com os problemas interiores e não sabem onde buscar as respostas. Para dizer a verdade, eu nem sabia se de fato existiam respostas para meus anseios mais profundos. Será que as pessoas que eu conhecia passavam pelos mesmos conflitos e apenas dissimulavam melhor? Ou será que o ceticismo era a sina de uns poucos desafortunados? Falando claramente, para mim a vida simplesmente não tinha sentido. Todos os anseios, reunidos, não acrescentavam nada — exceto um grande desejo que não.

(15) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 17. tinha possibilidade de ser satisfeito. A descrição de Jean Paul Sartre da vida, como uma paixão inútil, parecia perfeita e apropriada para o meu caso. Aquele confronto com meu pai provavelmente resumia tudo o que estava me despedaçando por dentro. Naquela noite, fui colocado de castigo, de frente para uma parede. Parecia uma ótima metáfora de minha vida. Meus maiores conflitos tinham me aprisionado, e naquelas horas, corroído pelo remorso, eu me perguntava como poderia me libertar e respirar o ar fresco de uma vida sem cadeias. Um dos poemas de Oscar Wilde, escrito na prisão, descreve bem o que eu sentia: Nunca vi homens tão tristes olhando com olhar tão atento para um pequeno teto azul que nós, prisioneiros, chamamos de céu, para as nuvens descuidadas que passavam livres e felizes. Eu era um desses "homens tristes", embora nunca demonstrasse. Tinha aquele profundo anseio por liberdade. Assim, naquela noite triste, fixei minha atenção naquela parede, que parecia impossível de mover. Se eu quisesse compreender a realidade, teria de olhá-la bem de perto. A intensa busca da alma que teve início naquela noite finalmente me conduziu até a pessoa de Jesus Cristo. O fato de isso ter acontecido numa cultura essencialmente panteísta e (pelo menos na letra) controlada pela religião é em si mesmo um milagre. Gostaria de traçar para você alguns dos passos que dei. O L H A N D O AS PLACAS PELO R E T R O V I S O R Não é tarefa fácil selecionar os momentos decisivos. Num enorme esforço para ser justo e realista, procurei rever algumas das placas de sinalização pelas quais passei, e desejo mostrar a você o ponto de partida da minha argumentação. Da perspectiva cronológica, pode-.

(16) 18. POR QUE JESUS É DIFERENTE. mos discordar da sequência na qual uma experiência leva a um argumento. No entanto, olhando anos mais tarde em retrospecto para a estrada, do ponto de vista lógico, vejo que o argumento foi precedido e, com o tempo, sustentado pela experiência. Portanto, este capítulo de abertura começa com minha história; os capítulos seguintes, porém, tratarão do argumento. O propósito deste livro é mostrar ao leitor as razões por que creio firmemente que Jesus Cristo é quem ele afirmava ser - o Filho do Deus vivo, aquele que veio para buscar e salvar a humanidade perdida. E algo extremamente necessário numa época de nossa história cultural em que o Ocidente está mais parecido com o Oriente, e o Oriente tenta, sutilmente, copiar o Ocidente. As religiões estão experimentando um avivamento, mas com frequência esse avivamento é uma mistura híbrida de técnicas de marketing ocidentais e misticismo oriental — uma combinação devastadora de sedução por intermédio da mídia e do misticismo. A primeira vítima de tal mistura é a verdade e, consequentemente, a pessoa de Deus. Mesmo assim, para que o espírito humano sobreviva e todas as disciplinas legítimas encontrem uma expressão frutífera, a verdade não pode ser sacrificada no altar de uma pretensa tolerância. Falando de forma clara e simples, não é possível que todas as religiões sejam verdadeiras. Algumas crenças são falsas, e nós sabemos que são falsas. Portanto, não é proveitoso colocar um halo sobre a noção de tolerância, como se tudo pudesse ser igualmente verdadeiro. Considerar todas as crenças como igualmente verdadeiras é tolice, por uma simples razão: negar esta afirmação também teria de ser verdade. Entretanto, para que a negação de tal afirmação seja verdadeira, teríamos de concordar que nenhuma religião é verdadeira. Nos conflitos da vida real entre certo e errado, justiça e injustiça, vida e morte, percebemos claramente que a verdade não importa. Jesus Cristo falou várias vezes sobre o valor supremo da verdade. Embora sua vida tenha sido mais esquadrinhada do que a de qualquer outro homem, é notável que mesmo os céticos concordam e reconhecem a singularidade de sua vida e do impacto que causou..

(17) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 19. A q u i , por exemplo, está a opinião de u m e r u d i t o a l t a m e n t e respeitad o , o famoso historiador W. E. H . Lecky: O caráter de Jesus não foi somente o mais elevado padrão de virtude, mas também o mais forte incentivo em sua prática, e exerceu uma influência tão profunda que podemos dizer com verdade que o simples registro de três anos de atividade fez mais em prol da regeneração e da suavização da humanidade do que todas as reflexões dos filósofos e todas as exortações dos moralistas.1 Historiadores, poetas, filósofos - e m u i t o s outros - consideram Jesus c o m o a peça central da história. Ele p r ó p r i o fez u m a afirmação dramática e ousada. Disse ao apóstolo T o m é : "Eu sou o c a m i n h o , e a verdade, e a vida; n i n g u é m v e m ao Pai senão p o r m i m " (Jo 14:6). C a d a palavra desta declaração desafia as crenças fundamentais da cultura indiana da qual eu v e n h o ; n a realidade, de fato se põe contra t o d o o nosso m u n d o atual. O l h e m o s para as reivindicações implícitas desta afirmação. Primeiro (e mais i m p o r t a n t e ) , Jesus disse q u e h á s o m e n t e u m c a m i n h o para D e u s . Isso choca as tendências e a m e n t a l i d a d e p ó s - m o d e r n a . O h i n d u í s m o e o b a h a í s m o h á m u i t o q u e s t i o n a m o conceito de u m ú n i c o c a m i n h o p a r a D e u s . A religião h i n d u , c o m seu s i s t e m a multifacetado de crenças, ataca c o m ferocidade tal exclusividade. Jesus t a m b é m afirmou, sem s o m b r a de dúvidas, que D e u s é o Autor d a vida e q u e o significado d a vida está e m chegar a ele. Esta declaração seria categoricamente negada pelo b u d i s m o , o qual é u m a religião não teísta, ou até ateísta. Jesus se revelou como o Filho de Deus, que liderava o caminho ao Pai. O islamismo considera tal afirmação u m a blasfémia. C o m o Deus p o d e ter u m Filho? Jesus afirmou q u e p o d e m o s conhecer a D e u s e o caráter absoluto de sua natureza de forma pessoal. O s agnósticos n e g a m tal possibilidade. P o d e m o s analisar essas linhas e perceber q u e cada u m a das afirmações de Jesus sobre si m e s m o desafiava as suposições mais básicas da m i n h a cultura sobre a vida e seu significado. (Evidentemente, é.

(18) 20. POR QUE JESUS É DIFERENTE. importante lembrar que os elementos religiosos básicos dentro da esfera do hinduísmo não se harmonizam entre si. Buda era hindu até que rejeitou algumas das doutrinas fundamentais do hinduísmo e concebeu no lugar delas a visão budista. O islamismo é radicalmente diferente do induísmo.) Ironicamente, o próprio apóstolo Tomé, a quem Jesus proferiu essas palavras, levou as afirmações exclusivas de Cristo à índia e pagou o preço da mensagem do evangelho com a própria vida. Jesus era quem afirmava ser? Será que a unicidade de Cristo era um mito? E possível estudar a vida de Cristo e demonstrar, de forma conclusiva, que ele era e continua sendo o caminho, a verdade e a vida? Estas são as perguntas que me proponho a responder neste livro. Creio que há evidências esmagadoras que apoiam as afirmações de Jesus. Começo com minha história pessoal somente para estabelecer o contexto de como minha própria jornada começou e como cheguei à conclusão de que Jesus é quem ele afirmava ser. U M VISLUMBRE P E R I G O S O E compreensível que nesses pensamentos preliminares haja uma incerteza pessoal. Como posso dizer o que preciso dizer sem ferir outras pessoas ou até culturas? E difícil. Família e cultura são os berços de ouro onde as pessoas são nutridas. Eu mesmo me acho dividido entre o amor à verdade e o preço da candura. O perigo em tal empreendimento abateu-se sobre mim alguns meses atrás, quando li o poderoso livro Ar Rarefeito, de Jon Krakauer. O autor conta sobre uma equipe (da qual ele próprio fez parte) que escalou o monte Everest. Notei, com empatia, sua apologia angustiada no final do livro aos muitos parentes daqueles que pereceram na jornada, devido aos erros que cometeu no início de sua narrativa. O fato de ter escrito pouco tempo depois da tragédia levou-o a mencionar detalhes que posteriormente teve de corrigir ou até se retratar. Ele concordou que, se estivesse esperado um pouco mais antes de escrever seu relato, teria evitado muitos erros..

(19) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 21. Houve mais um elemento, e aqui se deu o maior problema. Algumas coisas que ele escreveu criaram uma imagem errónea não somente dele próprio, mas também do caráter e dos esforços dos outros membros da equipe. Este foi o pior erro. Trata-se de um erro muito grave, pois a vida de um indivíduo pode ser exposta à custa de seu sacrifício pessoal, mas não à custa da confiança sagrada de outrem. Quero ser cauteloso quanto a este aspecto; se eu falhar, será somente porque, se suprimisse alguns detalhes, estaria distorcendo a verdade de meu conflito. Agora posso gozar do benefício da passagem do tempo. Encontrei o Jesus que conheço e amo aos dezessete anos de idade. N o entanto, seu nome e seu poder de atração significam infinitamente mais para mim agora do que quando entreguei a ele minha vida. Eu o busquei porque não sabia mais para onde ir. Continuo com ele porque não quero ir para outro lugar. Fui a ele almejando algo que não tinha. Continuo com ele porque possuo algo de que não abro mão. Fui a ele como um estranho. Continuo com ele na mais íntima amizade. Fui a ele incerto quanto ao futuro. Continuo com ele certo quanto ao meu destino. Eu o busquei em meio aos ensurdecedores gritos de uma cultura que possui 330 milhões de divindades. Continuo com ele sabendo que a verdade é, por definição, exclusiva. Crescendo no Oriente, você ouve isto milhares de vezes, ou até mais: "Nós andamos por rotas diferentes, mas acabamos todos no mesmo local". Entretanto, eu digo que Deus não é um lugar, uma experiência ou um sentimento. Culturas pluralistas são seduzidas pela ideia atraente que sinceridade ou condição social é tudo o que conta, e que a verdade está sujeita à vontade de quem a possui. Em nenhum outro aspecto da vida os indivíduos podem ser tão ingénuos a ponto de afirmar que as crenças herdadas dos antepassados ou as crenças preservadas na tradição são os elementos que determinam a verdade. Por que, então, cometemos o erro catastrófico de pensar que todas as religiões estão certas, e que não importa se as suas reivindicações são uma verdade objetiva?.

(20) 22. POR QUE JESUS I: DIFERENTE. As religiões não são iguais. Nem todas elas apontam para Deus. Nem todas dizem que todas as religiões são iguais. No cerne de toda religião há um compromisso inegociável a uma forma particular de definir quem Deus é ou não é, e de definir o propósito da vida. Qualquer um que afirma que todas as religiões são iguais demonstra não somente ignorância em relação às religiões, como também uma visão caricata até das religiões mais conhecidas. Nesse aspecto, todas as religiões são exclusivas. No entanto, o conceito de "muitos caminhos" foi absorvido de forma subliminar em minha vida, quando eu era jovem. Eu já estava condicionado a esta forma de pensar antes de descobrir seus preconceitos sutis. Levei anos para descobrir que o clamor por abertura nunca é como se propõe. Quando alguém lhe diz: "Você tem de ser aberto para tudo", na verdade quer dizer: "Você tem de ser aberto para tudo o que eu sou aberto e concordar com tudo o que eu concordo". A cultura indiana tem um verniz de abertura, mas é altamente crítica em relação a tudo o que discorda dela. Não é por acaso que a assim chamada cultura tolerante deu origem ao sistema de castas. As filosofias que tudo abrangem só podem se desenvolver à custa da verdade. Nenhuma religião nega suas crenças básicas. Dentro de tal relativismo sistemático, o indivíduo tende a se desviar ao sabor das ondas culturais, sem dar atenção à natureza implacável da realidade. E assim que se vive dentro de uma cultura panteísta. Sem dúvida, há uma riqueza de pensamento que construiu uma cultura impressionante para mais de um bilhão de pessoas, uma cultura que desafia a privação económica, a instabilidade política e as hostilidades religiosas, existindo, nas palavras do seu povo, como a "Mãe índia". Não temos a vantagem de escolher onde queremos nascer. Apesar disso, as palavras do poeta — "Expira o homem cuja alma está morta, que jamais disse a si próprio: 'Esta pátria é minha, minha terra natal'" 2 — soam dolorosamente verdadeiras. Neste clima cultural, minha vida, minha língua e meus valores foram moldados e testados. Sempre serei grato pelo privilégio e pelos tesouros que me.

(21) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. .. 23. foram concedidos. Espero jamais esquecer as canções, o idioma e os sons que foram alojados em meu interior. No entanto, a busca pelo Deus verdadeiro numa terra repleta de deuses é uma tarefa assustadora. A religião tem uma história diversificada, sendo que alguns dos seus detalhes são questionáveis. Herdeiro de uma cultura tão complexa, cresci vendo os muros de um desespero calado gradualmente se elevando dentro de mim, levando-me passo a passo até o ponto da crise pessoal. Ouvi dizer que as fraquezas de uma pessoa capaz geralmente são decorrentes do uso exagerado de alguma força. O mesmo se aplica à cultura. No contexto do ambiente onde cresci, os abusos das forças culturais confirmam este adágio. VULNERABILIDADE NA F O R Ç A Em primeiro lugar (e o mais importante), vem a força da família nuclear. Conforme eu a conheci, a cultura é forte e tem uma reverência louvável pela família imediata. Na índia, os laços familiares são fortes. No entanto, esta força facilmente se torna vulnerável ao exagero. Muitos pais parecem buscar aliviar a própria vida por meio dos filhos; o sucesso dos filhos eleva o status da família toda. A individualidade é absorvida pelo clã. Todos os dias, centenas de propagandas são impressas nos jornais da terra, numa seção chamada seção matrimonial — pais procurando cônjuges para os filhos. Todos os candidatos são mencionados como "de boa família" e os pretendentes também devem ser "de boa família". "Meu filho é engenheiro"; "minha filha é médica"; "meu filho é o primeiro da classe"; "minha filha ganhou uma bolsa de estudos". Assim correm os boatos nas reuniões sociais. Todo esforço é feito para preservar a unidade familiar, a vontade dos pais é reverenciada em tudo, desde emprego até casamento. Para mim, a força da família foi também o solo para as sementes de solidão interior. Esta solidão era decorrente de um fato importante: um pai altamente bem-sucedido e influente, que não podia tolerar um filho indisciplinado que flertava constantemente com o.

(22) 24. POR QUE JESUS É DIFERENTE. fracasso. O pai alcançou um nível elevado de poder. Até onde o filho chegaria? A segunda dimensão, além do elo familiar, é a realidade social da intensa competição académica. Tudo o que define um indivíduo e seu futuro é moldado por seu desempenho escolar. Todo estudante deseja ser o primeiro da classe. Não é suficiente se sair bem. Você precisa estar entre os primeiros da turma. O intelecto é reverenciado como um ídolo. Quando eu estava na escola, todas as notas dos estudantes e sua colocação no ranking da classe eram impressas nos principais jornais da cidade, para todos verem. O sucesso ou o fracasso eram motivo de orgulho ou vergonha geral. Um dos meus melhores amigos pensou em suicídio depois das provas finais na escola secundária porque não foi o primeiro colocado dentre rodos os estudantes de Nova Delhi. Outro colega de classe de fato se suicidou, ateando fogo no próprio corpo, porque não conseguiu se formar. Tais distorções, que ferem tantas pessoas, continuam atuantes em várias culturas. Tal atitude é totalmente errada, mas é alimentada com grande paixão. Esta combinação de família-padrão e aluno-padrão tornou-se uma mistura volátil em minha vida. Logo eu demonstrei que não seria o orgulho de um pai poderoso. Não era algo deliberado; era apenas falta de capacidade e falta de condições de buscar um propósito. Minha vida se arrastava adiante enquanto o longo braço da pressão cultural ia gradualmente se estendendo em minha direção — e eu sabia que não passaria no teste. Todas as manhãs, éramos acordados pelo barulho de várias pessoas (entre homens e mulheres) em pé à nossa porta, desejando ter pelo menos um minuto de conversa com meu pai. Ele tinha o controle de muitos empregos e contatos. Torcendo as mãos, elas imploravam por uma chance num emprego. Enquanto se encaminhava para o carro, ele assentia com a cabeça, como se estivesse dizendo: "Deixe comigo". Na verdade, muitas pessoas eram beneficiadas com suas conexões. Seu nome era proferido com respeito por causa desse poder. Será que algum dia eu não poderia tirar proveito dessa in-.

(23) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 25. fluência? No entanto, muitas coisas impediam uma resposta simples a esta questão. Além do mais, meu pai tinha um lado difícil de lidar. Apesar de sua posição de influência, ele lutava contra um temperamento explosivo. Minha falta de objetivo criava uma situação de crise iminente. Essa combinação de elementos nos levou a um relacionamento lastimável. Sempre serei grato a Deus porque a situação não terminou como começou. Enquanto meu pai desejava que eu tivesse uma carreira brilhante, tudo o que me interessava eram os esportes - uma paixão pela qual ele não demonstrava nenhum interesse. Ele tinha uma opinião. Todo garoto sonhava em ser um jogador de críquete e jogar na seleção nacional, como todo jovem sonharia em jogar na seleção nacional de futebol. N o entanto, eu demonstrava certa habilidade e prometia. Participei de muitos esportes no tempo da faculdade: críquete, hóquei, ténis e ténis de mesa; nenhuma vez meu pai foi assistir, embora eu tivesse participado de jogos importantes. Nós caminhávamos em direções diferentes. Naqueles anos, eu jamais perdi o respeito por ele. Até hoje creio que meu pai foi um bom homem, ou até um grande homem; só que não sabia como lidar com uma criança problemática. Eu, por meu lado, me fechava e convivia com a dor. Com o passar dos anos, passei a acreditar que essas coisas são mais importantes do que as pessoas comuns imaginam, mas talvez menos importantes do que os extremistas querem nos levar a acreditar. De alguma forma aprendemos a superar, exceto quando tais situações nos empurram para o extremo da auto-rejeição e nos deixam mais vulneráveis quando os sonhos são desfeitos. Deixe-me ilustrar este ponto. Alguns anos atrás, recebi a visita de um ex-atleta olímpico. Ele estava buscando direção para sua vida. Era um homem forte e bem constituído. Era um privilégio ficar perto dele — na esperança de que músculos fossem contagiosos! Ele contou sobre a época em que representava seu país nos Jogos Olímpicos. Era uma história de sonhos que tinham lutado contra.

(24) 26. POR QUE JESUS F, DIFERENTE. um pesadelo em potencial. Desde os doze anos, as Olimpíadas tornaram-se seu grande alvo. Todo o dinheiro que ganhava era investido na esperança de um dia ganhar uma medalha de ouro no evento que adorava. Concentrava-se totalmente nesse alvo. Era o que queria. No entanto, ele tinha um relacionamento turbulento com o pai, o qual não compartilhava dos seus sonhos; por isso, o rapaz tinha de conseguir o dinheiro sozinho. Quando ele tinha dezessete anos, filmou o campeão mundial da sua modalidade e estudou o filme quadro a quadro, prestando atenção em cada gesto, para aprender suas técnicas. Depois, filmou a si próprio realizando os mesmos movimentos e comparou os dois filmes, nos mínimos detalhes, detectando exatamente onde estava perdendo os preciosos segundos que separavam sua marca da marca do campeão; decidiu igualar as marcas. Por meio de enorme força de vontade, disciplina e coragem, seu objetivo ficou ao alcance das mãos. Ele foi convocado para fazer parte da seleção nacional nos Jogos Olímpicos e subitamente parecia que sua vida flutuava sobre uma nuvem. Venceu todas as provas classificatórias e emergiu como revelação e vencedor potencial das finais. Será que era realidade, ou era um sonho? Era real — ele ficava repetindo para si próprio. Ele ficou entre os finalistas, e todo o seu país estava assistindo. Milhões de pessoas estariam gritando seu nome, com o coração aos saltos, esperando ler nas manchetes do dia seguinte a história do "menino do interior". De fato, lembro que também assisti ao evento. A corrida estava para começar. Era o momento que aquele rapaz esperara a maior parte de sua vida. Entretanto, sua mente, com toda sua tenacidade e determinação, abrigava também anseios secretos. Ele me disse: —Vindo não sei de onde, um pensamento subitamente inundou minha mente: Será que meu pai está assistindo? Aquele pensamento inesperado o deixou momentaneamente atordoado, atrasando por uma fração de segundos sua largada, privando-o de conquistar a medalha de ouro. Com grande esforço ele ainda conseguiu ganhar o bronze. Ser o terceiro homem mais veloz do mundo não é pouca coisa. Entretanto, para ele, a vitória na pista perdeu seu encanto quando teve de disputar com o maior anseio de.

(25) E S C A I A N D O UM ALTO MURO. 27. sua vida - a aprovação de quem ele amava. Aquele atleta olímpico não imaginava como meu coração se acelerava ao ouvir sua história. Eu o compreendia bem. Os sonhos dos jovens podem ser estranhos, mas eles não serão corrigidos sendo ridicularizados. Devem ser incentivados por uma voz amorosa que conquistou o direito de ser ouvida e não imposta por meio do poder. Esta é uma lição difícil para os pais. Quando a cultura perde seu poder de restringir, há uma maior necessidade de amor e respeito entre pais e filhos, para que se construa um relacionamento baseado na confiança e não na autoridade que emana da posição de força. Provavelmente as palavras mais duras que ouvi meu pai me dizendo foram: "Você nunca será nada na vida!" Francamente, parecia que ele tinha razão. Ele queria apenas me fazer enxergar a realidade. O consolo da minha mãe só me ajudava a sobreviver. Nesse sentido, aquele dia fatídico quando cheguei em casa de bicicleta foi o ponto crítico no qual deveríamos ter sentado e conversado. Contudo, suponho que a liberdade de conversar não emerge num vácuo. O momento da oportunidade é construído sobre horas gastas na preparação. O N D E PROCURAR, PARA P O D E R E N C O N T R A R ? Nosso relacionamento tenso tornou-se ainda pior mediante um pensamento fundamental. Se a vida não tinha propósito, por que então se preocupar com ela? Quando eu falo sobre propósito e significado, não me refiro apenas a um sentimento de paz existencial. Refiro-me a uma direção na vida que sustenta a razão e a emoção. E crítico que entendamos isso. Agora que me mudei para o Ocidente, vejo que, embora muitos jovens daqui se identifiquem com este problema, ele é inexplicavelmente ignorado no mundo adulto. Por que eu digo isto? No mundo empresarial, todas as grandes empresas formulam uma declaração de propósito. Esta declaração, por sua vez, é invocada quando se deseja medir o progresso ou o fracasso. Se uma empresa.

(26) 28. POR QUE JESUS É DIFERENTE. não sabe o motivo de sua existência, então jamais saberá se está tendo sucesso ou está fracassando. E significativo que todos nós que labutamos horas a fio para alcançar o propósito de uma empresa que fabrica palitos de dente ou faz funerais jamais paramos o tempo suficiente para escrever uma declaração de propósito para nossas vidas pessoais. Acabo de ler um artigo com uma entrevista de um dos maiores jogadores de críquete da Austrália. Ele está participando de um campeonato mundial, representando seu país. Um tanto entristecido num estilo de vida que deveria ser sem restrições, ele confessou um arrependimento. Enquanto participava daqueles jogos, sua esposa estava a quilómetros de distância, dando à luz o segundo filho. Ele disse: —Quando nosso primeiro filho nasceu, eu estava viajando, e agora, no nascimento do segundo, também estou ausente. Cheguei à conclusão de que o críquete é importante em minha vida, mas não é tudo. Esta afirmação suscita algumas questões, não é? O que é tudo? Será que qualquer coisa é tudo? Por que somos tão ansiosos em provar ao mundo que somos os melhores naquilo que fazemos e não nos preocupamos em responder quem somos ou por que somos o que somos? Eu desejava muito encontrar respostas para estas questões. Pode ser que houvesse, mas eu não conseguia identificá-las no meio de tantas vozes enganadoras numa terra religiosa. O propósito é para a vida o que o esqueleto é para o corpo. Os músculos podem ter força, mas precisam de apoio e de ligação. Minhas realizações não tinham uma estrutura para apoiá-las. Minha vida ficava à deriva em meio aos esportes e afeições, mas sem um propósito supremo. Pense um pouco nas alternativas que nossa cultura nos dá. Prazer, riqueza, poder, fama, destino, caridade, paz, educação, orgulho racial - a lista é infindável. Quando nenhuma dessas alternativas funciona, abraçamos um misto de espiritualidade e pragmatismo. Essas alternativas, porém, não nos dizem por que estamos aqui em primeiro lugar. Podem ser formas de organizarmos nossa vida, mas a.

(27) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 29. vida deve ser definida de acordo com o que buscamos ou minha busca deve ser definida de acordo com o significado da vida? Numa cultura onde a formação académica é o valor supremo e minha vida não correspondia, uma cultura onde a filosofia é abundante, mas o propósito da vida nunca é compartilhado, para onde eu poderia ir? A maior perda é a vergonha diante do fracasso. Aquilo que chamamos de vergonha está profundamente arraigado na linguagem hindi; tanto que quando alguém fracassa, parte do opróbrio que sofre é ser catalogada como uma pessoa sem vergonha. Naquela noite, senti como se minha vergonha fosse durar para sempre, e minha punição foi ao mesmo tempo uma metáfora e uma realidade. A Q U E L E Q U E BUSCA D E S C O B R E Q U E FOI E N C O N T R A D O Em algum ponto no meio de toda esta instabilidade, o "Perdigueiro do Céu" encontrou meu rasto. Agora, quando olho para trás, vejo as marcas de sua passagem por toda parte. Na verdade, estava mais próximo do que eu imaginava. Revendo o passado, agora posso ver que o rasto era claro, mesmo nos momentos de maior confusão. Quando você mora numa casa pequena, de dois cómodos, junto com quatro crianças pequenas e mais os pais, não dá para se esconder. Mesmo assim, é surpreendente como uma pessoa pode se esconder dentro de si mesma. No entanto, a obra de Deus já tinha começado muito tempo atrás. Um dia minha irmã foi convidada para uma reunião de jovens onde haveria música e uma palestra. Ela me chamou para ir com ela. O orador seria um homem que, embora para mim fosse um completo estranho, era um líder cristão respeitado e conhecido internacionalmente. 3 Minha lembrança do evento é muito nublada para contar o que exatamente aconteceu ali. No entanto, uma coisa eu sei. Ele pregou sobre um texto que provavelmente é o mais conhecido da Bíblia: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3:16)..

(28) 30. POR QUE JESUS É DIFERENTE. Sua atitude foi ainda mais poderosa do que as palavras, e ele falava com profunda intensidade. Havia suavidade e poder. Sem costume de participar de tais eventos, quando me dei conta, estava caminhando para a frente diante de todos, atendendo ao apelo para confiar em Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador. Embora eu tivesse sido criado numa igreja, tinha tão poucas esperanças de que aquela mensagem tivesse algo a ver com minha vida, que captei somente parte do que o pregador disse. Nada do que ele dizia significava algo para mim. Seu vocabulário era estranho. Eu só sabia que minha vida estava errada e que eu precisava de alguém que a endireitasse. Eu queria novos desafios, novos anseios, novas disciplinas e novos afetos. Sabia que tinha de me importar mais com Deus. Só não sabia como encontrá-lo. Voltei para casa naquela noite com uma pequena noção de que a mensagem estava certa, embora não a tivesse entendido totalmente. Apesar de continuar um tanto confuso, um contexto muito importante havia sido estabelecido. Nas semanas seguintes, continuei a participar de todas as festas hindus e assistindo às dramatizações da sua mitologia. Eu tinha um amigo que era hindu fervoroso, que se esforçava muito para que eu abraçasse a cosmovisão do hinduísmo. Então aconteceu um episódio muito significativo. Eu estava passando perto de um local de cremação; parei e perguntei a um sacerdote hindu onde aquela pessoa cremada estava naquele momento, depois que seu corpo fora transformado num monte de cinzas. Ele me disse: —Jovem, você fará esta pergunta durante toda a sua vida, sem jamais descobrir uma resposta razoável. Se isto é o melhor que um sacerdote pode responder, eu pensei, que esperança haverá para um leigo como eu? Com o passar do tempo, e sem encontrar as explicações que precisava, a contínua perda de significado me levou a um momento trágico. Se naquele estágio de minha vida eu tivesse ouvido o filósofo ateu Jean Paul Sartre, ele teria confirmado todo o senso de isolamento que eu sentia. Dois dos seus livros mais vendidos, A Náusea e Sem Saída, descreviam exatamente meu estado. Sartre chegara a ponto de dizer que a única questão a que podia responder era por que.

(29) ESCALANDO UM ALTO MURO. 31. não cometera suicídio. Não é engraçado que, quando a vida perde o significado, os poetas e artistas não têm medo de assumir a culpa, enquanto os racionalistas demonstram aquela eloquência vazia, tão destituída de razão? Minha decisão foi calma, porém firme. Uma saída silenciosa salvaria minha família e eu de novos fracassos. Coloquei minha ideia em prática. Como resultado, acabei numa cama de hospital, tendo sido levado para lá às pressas, nas dores de uma tentativa de suicídio. Naquele quarto de hospital, alguém me deu uma Bíblia, e, na situação desolada em que eu estava, leram para mim uma passagem. A mensagem do pregador naquela reunião de jovens continuava ecoando deniio de mim. Eu precisava de uma base sobre a qual consumi .II|MI. lie linha pregado sobre o amor de Deus, com base em Jo.i<> *>. Ali no hospital, leram para mim sobre o propósito de Deus, com lu.se em |oao 1 4. As palavras naquele capítulo foram dirigidas ao apóstolo Tomé, o qual, como eu disse, foi à Índia. Seu memorial existe até hoje, a poucos quilómetros de onde eu nasci. Lembre-se de que Jesus lhe disse: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". Minha atenção, porém, foi atraída por algumas palavras mais adiante, quando Jesus disse aos discípulos: "Porque eu vivo, vós também vivereis". Novamente, eu não entendia o significado dessas palavras. Sabia que significava mais do que a vida biológica. Juntando todas as peças, o amor de Deus em Cristo, a maneira que este amor foi demonstrado e a promessa de vida por seu intermédio - naquele leito de hospital eu decidi entregar minha vida e minha busca em suas mãos. Os conflitos dos meus relacionamentos, minhas origens e meu destino, tudo foi abordado naquela conversa que Jesus teve com seus discípulos dois mil anos atrás. Atualmente meu compromisso de entrega permanece como a decisão mais maravilhosa que já tomei. Entreguei minha vida totalmente a Cristo. No mesmo poema que citei acima, Oscar Wilde diz: Todas as dores que o levaram A dar aquele amargo clamor, Os lamentos e o suor de sangue,.

(30) 32. POR QUE JESUS É DIFERENTE. Ninguém conhecia melhor do que eu: Aquele que tem mais vidas, Também deve morrer mais vezes... E cada coração humano que se quebra Nas celas de prisão ou nos quintais, É aquele vaso quebrado que entregou Seu tesouro ao Senhor, E encheu a casa do leproso impuro Com o aroma do nardo precioso. O! Felizes daqueles cujos corações Se quebrantam e paz e perdão encontram! Como mais o homem pode endireitar Seus planos e limpar a alma do pecado? Como Cristo poderia entrar, exceto por meio de um coração quebrantado? Saí daquele quarto de hospital como um novo homem. O Senhor Jesus tinha entrado em minha vida. Eu jamais poderia ter imaginado a profundidade desta transformação. Não há outro meio de descrevê-la. Dali em diante meus anseios, esperanças, sonhos e todos os meus esforços têm sido viver para aquele que me resgatou, estudar para aquele que me deu inteligência, servir aquele que formou minha vontade e falar daquele que me deu voz. O desejo ardente de aprender, o reconhecimento do valor do estudo e a necessidade de entender os grandes pensadores e seus pensamentos — tudo isso gradualmente foi sendo colocado no devido lugar. Nosso intelecto não foi designado para ser um fim em si mesmo, mas somente um meio para alcançarmos a mente de Deus. Os livros, que antes eram uma maldição para mim, tornaram-se uma mina de ouro. Os israelitas tinham um jargão pelo qual eles simbolizavam o ideal de vida: "Cada homem debaixo de sua própria figueira". Se o Senhor me permitisse usar uma metáfora hoje, seria: "Cada homem dentro de sua própria biblioteca". A mesma busca que anteriormen-.

(31) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 33. te trazia tanta dor interior, agora é o deleite transcendente do meu coração. Eu não imaginava a longa jornada académica que tinha à minha frente. Se soubesse, teria adorado. Aconteceram tantas coisas desde aquele dia que, se fosse contar tudo, encheriam vários livros. Deus me concedeu o privilégio de falar dele em todos os continentes e em dúzias de cidades, apresentando a defesa da fé cristã em algumas das melhores instituições do mundo. Meu privilégio é enorme. Sinto-me tão em casa em Nova Delhi, como em Atlanta ou Toronto. Amo as pessoas dos lugares por onde passo, cada uma com seu linguajar e costumes peculiares e suas idiossincrasias. Realmente amei o desafio e o privilégio de ser um apologista cristão. Apologética cristã é a tarefa de apresentar uma defesa da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo. Com o passar dos anos, tornei-me mais convicto do que nunca de que ele é exatamente quem ele afirmou ser — Deus encarnado, que veio para nos dar vida em abundância e nos apontar a beleza e a liberdade da verdade. Não posso negar como é empolgante ver milhares de vidas transformadas. O PADRÃO SE REVELA Ao concluir este capítulo, quero compartilhar como um desígnio cheio de propósito emerge quando Deus tece um padrão daquilo que, para nós, muitas vezes pode parecer um disparate. Alguns anos atrás, visitei um local onde são fabricados alguns dos mais belos sáris — a roupa típica das mulheres indianas. Geralmente ele é bem longo. Os sáris usados nos casamentos são uma obra de arte; são tecidos com filamentos de ouro e prata, resplendentes numa profusão de cores. O local que eu visitei é conhecido por fabricar os melhores sáris de noiva do mundo. Eu esperava encontrar um sistema intrincado de máquinas e equipamentos. Nada disso! Cada sari era feito manualmente, por uma equipe de pai e filho. O pai se sentava numa plataforma a alguns centímetros acima de onde estava o filho, cercado por vários carretéis de linha, alguns escuros, outros brilhantes. O lilho fazia apenas uma coisa: a um sinal do pai, movia uma alavanca.

(32) 34. POR QUE JESUS É DIFERENTE. de um lado para o outro e voltava. O pai arrumava alguns fios de linha com os dedos e fazia outro sinal para o filho, o qual, por sua vez, movimentava novamente a alavanca. Este processo se repetia por horas a fio, até que começávamos a enxergar um magnífico padrão se formando no tecido. O filho tinha a tarefa fácil — apenas mover a alavanca, ao sinal do pai. Durante todo o tempo o pai já tinha em sua mente o desenho que desejava fazer no tecido e só precisava ir ordenando os fios de linha. Quanto mais eu reflito em minha própria vida e observo a vida de outras pessoas, fico fascinado ao ver o desígnio que Deus tem para cada um de nós individualmente, bastando que consintamos. Encontro pequenos lembretes pelo caminho, que me mostram os materiais que ele usou para tecer minha vida. A história a seguir é um pequeno exemplo. Cerca de trinta anos depois que entreguei minha vida a Cristo, minha esposa e eu retornamos à índia e decidimos visitar o túmulo de minha avó. Eu tinha uma vaga recordação do seu funeral, o primeiro do qual participei. Tive dificuldade para informar ao funcionário do cemitério o ano em que ela faleceu. Finalmente conseguimos nos lembrar do ano — eu tinha uns nove ou dez anos de idade. Depois de vasculhar os antigos livros de registro (maiores do que a mesa), finalmente encontramos o nome dela. Com a ajuda de um jardineiro, caminhamos através do mato e do entulho espalhado pelo cemitério, até que encontramos uma grande lápide de pedra, marcando o túmulo da vovó. Ninguém visitava aquele local há quase trinta anos. Com um pequeno balde de água e uma pequena vassoura, o jardineiro limpou a lápide, e, para nossa total surpresa, abaixo do nome, gradualmente foi surgindo um versículo bíblico. Minha esposa apertou minha mão e exclamou: —Olhe aquele versículo! Estava escrito: "Porque eu vivo, vós também vivereis". Como eu disse, Deus já estava no meu encalço muito antes que eu me desse conta disso. Com o passar dos anos, fizemos uma pesquisa sobre como o evangelho entrou em nossa família. Tanto do lado do meu pai como.

(33) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 35. de minha mãe, os primeiros cristãos surgiram dentre a casta mais alta dos sacerdotes hindus, cinco ou seis gerações atrás. O primeiro membro da família a encontrar o Senhor foi uma mulher. Ela ficou intrigada com a mensagem levada à sua aldeia por missionários e continuou buscando, a despeito do enorme desgosto da família. Um dia, quando ela se preparava para sair das dependências da missão e voltar para casa, antes que a família descobrisse onde estava, as portas da missão foram fechadas devido a uma epidemia de cólera. Ela teve de ficar com os missionários durante várias semanas até o final do período de quarentena. Naquele período, ela entregou sua vida a Cristo. As paredes lacradas da missão foram o meio que Deus usou para levá-la a ter um encontro íntimo com Jesus Cristo. Nem todas as paredes são obstáculos. Elas podem estar ali com um propósito. Quando olho para trás, sempre vem à minha mente uma imagem e dois poetas. O Novo Testamento conta sobre a conversão de Saulo de Tarso. Ele era o terror dos cristãos. Deus graciosamente o capturou com seu amor para torná-lo um dos apóstolos escolhidos. Aqueles que outrora eram seus amigos agora ameaçavam sua vida. Os discípulos o colocaram num cesto e o desceram pelo muro da cidade, para escapar dos seus perseguidores. Para mim, a perseguição era interior. Deus dirigiu algumas pessoas que me colocaram num cesto de amor e de persuasão e me desceram por cima dos muros que eu não podia escalar por meus próprios meios. Assim é a graça de Cristo — nos alcança onde estivermos. Os conhecedores da literatura inglesa se lembram da vida turbulenta de Francis Thompson. Seu pai desejava muito que ele estudasse em Oxford, mas ele se perdeu nas drogas e foi reprovado em mais de uma ocasião. Porém todos os que o conheciam percebiam sua genialidade latente, aguardando que sua vida fosse recuperada. Quando Francis Thompson finalmente sucumbiu à perseguição de Cristo, escreveu seu poema imortal "Perdigueiro do Céu", descrevendo os anos anteriores ao momento da transição: Ku fugia dele noite e dia, lui fugi durante o passar dos anos, Ku fugi dele nos labirintos dos caminhos.

(34) 36. POR QUE JESUS É DIFERENTE. De minha própria mente: no meio das lágrimas Eu me escondia dele e em meio aos risos fugazes Das esperanças passadas, eu acelerava. Sob a coberta enorme do medo Daqueles pés fortes que me seguiam, Embora eu conhecesse seu amor, Sentia o mais profundo terror. Tudo que recebi de ti Recebi, mas não das tuas feridas. Tudo o que foi perdido pelos erros de teu filho, Eu entesourei para você em casa: "Levante-se, agarre minha mão e venha". Interrompe minha queda: Esra é minha sina, afinal, A sombra da tua mão, estendida com amor. Todos os aflitos, cegos e fracos, Sou eu a quem vocês buscam! O teu grande amor dirigido a mim, Encaminhou-me para ti. Foi u m dia maravilhoso q u a n d o parei de fugir e, c o m a força de D e u s , permiti que seu a m o r m e envolvesse. As palavras d o famoso h i n o escrito p o r Charles Wesley refletem este triunfo e m i n h a história: Meu espírito há muito está aprisionado, Preso no pecado e na noite da natureza. Teus olhos irradiaram uma luz difusa, E eu despertei, o calabouço inundado de luz. Minhas cadeias caíram, meu coração estava livte, Eu levantei, saí e te segui.4 Q u e r o acrescentar só mais u m a coisa. Eu t i n h a vinte anos de idade q u a n d o m i n h a família mudou-se para o Canadá. Ali, m i n h a mãe e m e u pai t a m b é m entregaram suas vidas a Cristo. Foi u m novo dia para todos nós. M e u pai trabalhou duro para recuperar os anos perdidos. E m 1974, ainda na casa dos vinte anos e jovem n o ministério, fui ao C a m b o j a para pregar em circunstâncias b e m interes-.

(35) E S C A L A N D O UM A L T O M U R O. 37. santes. Meu pai entregou-me uma carta, recomendando que eu só a lesse depois que viajasse. Nela, ele refletia sobre os dias em que parecia que tudo estava perdido em nosso relacionamento. Era uma carta muito bonita. Eu a li deitado em minha cama em Phnom Penh. Uma linha resumia todo o seu conteúdo: "Agradeço a Deus porque ele considerou nossa família, chamando um dos nossos filhos para ser seu servo". Meu pai faleceu em 1979, aos 67 anos de idade. Sinto falta dele nestes anos maravilhosos de ministério. Ele teria me dado grande encorajamento. A graça de Deus está acima de qualquer descrição. Ele levantou todos nós acima dos muros da nossa prisão pessoal. Chega de história. Agora vamos aos argumentos..

(36) capítulo. dois. EM DIREÇÃO DO LAR CELESTIAL. U. ma das maiores oportunidades que já foram concedidas a um membro da nossa família ocorreu quando a rainha Elizabete e o príncipe Philip visitaram a índia no final da década de 50. Meu irmão mais novo, que na época tinha uns sete ou oito anos de idade e era o membro mais novo do coral da Catedral de Delhi, ia ser formalmente apresentado à rainha no final do culto dominical. Certamente não faltaram conselhos de como ele devia se preparar para aquele encontro extraordinário. Nós o orientávamos sem parar, lembrando-o repetidamente para dirigir-se à rainha como "Sua Majestade" e não como "Tia", uma forma de se demonstrar carinho pelas pessoas idosas na índia. Chegou o momento do encontro, e meu irmão foi aprovado com honras. Nós não sabíamos, mas o encontro de meu irmão com a rainha foi mostrado num noticiário na Inglaterra; muitas pessoas telefonaram para a emissora perguntando se aquele "garotinho esperto" estava disponível para ser adotado. Desde aquele dia, cada vez que ele se comportava mal, os outros irmãos não perdiam a oportunidade de insinuar que a família devia ter aceitado a oferta dos ingleses! Quarenta anos já se passaram desde aquele dia memorável em que ele se inclinou diante da rainha, mas ele também, por seu lado, não perde a oportunidade de nos lembrar do grande privilégio que teve..

(37) 40. '. :. POR QUE JESUS Ê DIFERENTE. O encontro com personagens históricos não é uma experiência banal. Os passos são recapitulados, as perguntas são debatidas e o protocolo é ensaiado muito antes do evento. Não tenho dúvida de que quanto mais elaborada a pompa e o espetáculo do evento, maior é o medo de se dizer ou fazer algo impróprio. Podemos imaginar a conversa na casa de André e de Simão Pedro, os primeiros seguidores de Jesus, quando André chegou com a notícia de que achava que tinha encontrado o Messias há muito aguardado. A figura do Redentor era a única esperança para uma nação que sofria sob o látego do domínio estrangeiro. Todo bom israelita orava pela vinda daquele que libertaria o povo. Os mais cínicos presentes na hora do jantar provavelmente engasgaram quando André anunciou que ele e Simão tinham voltado de um encontro com o libertador mencionado nas profecias. Muitas barbas foram coçadas enquanto os dois irmãos insistiam que não estavam malucos. Tinham conversado com ele, passaram horas em sua companhia, e André até teve a oportunidade de fazer-lhe algumas perguntas. Movido pela curiosidade, alguém na mesa deve ter murmurado, dirigindo-se a André: — E o que, afinal, você lhe perguntou? — Perguntei onde ele morava— foi a resposta confiante. Será que ouvimos direito? Silêncio total na mesa. — Foi o melhor que conseguiu pensar, André? Perguntar onde ele mora? Será que não haveria uma pergunta mais adequada para comprovar as afirmações de Jesus? Pelo menos é como nós, em nosso tempo, teríamos argumentado. Por que André, ao ficar face a face com aquele que alegava uma condição tão única, não apresentou um desafio maior do que apenas perguntar: "Onde assistes [moras]?" Malcolm Muggeridge, jornalista inglês, lembra em sua autobiografia as oportunidades que teve de entrevistar pessoas famosas ao redor do mundo. Sendo cínico e iconoclasta incurável, e apenas com o propósito de brincar com os leitores, ele fazia perguntas deliberadamente absurdas e constrangedoras; por exemplo, ele perguntava a um bispo no momento mais tocante da entrevista e diante de uma audiência altamente reverente: "Os bispos são realmente necessários?" Ele reco-.

(38) E M D I R E Ç Á O D O LAR C E L E S T I A L. *. 41. nhecia que fazia isso porque sobrevivia em sua profissão como jornalista à custa do choque, em detrimento do conteúdo. Será que a pergunta de André foi um tipo de "pergunta chocante", uma gozação, no sentido de que poderiam encontrar o "endereço" do Messias e então ridicularizar suas afirmações? Será que ele também estava brincando com a audiência? Quanto mais penso sobre isto, mais fico convencido de que o candidato a discípulo tinha boas razões para fazer a pergunta que fez. Tinha começado uma investigação séria sobre a pessoa de Jesus. Será que ele era o Cristo, o Ungido? Por quase dois mil anos os profetas tinham falado sobre sua vinda. Será que estava se cumprindo? Vamos olhar mais de perto o que ocasionou uma pergunta tão básica, diante de uma afirmação tão monumental. U M A I N T R O D U Ç Ã O PROVOCATIVA O contexto da pergunta de André nos é apresentado no primeiro capítulo do Evangelho de João. Quando começamos a ler, imediatamente somos tocados pela casualidade com que Jesus fez sua aparição. Não houve rufar de tambores, nem grandes tumultos e nem desfiles para anunciar a chegada daquele cujo nome estaria nos lábios da humanidade de uma forma que nenhum outro nome jamais estaria. Não houve tempo para ensaios. João Batista recebeu a honra de fazer o anúncio desprovido de adornos. Vestido de forma estranha e mantendo uma alimentação ainda mais estranha, o precursor estava ganhando muitos seguidores. Aos olhos dos devotos, ele era um profeta digno de toda honra. Na verdade, mesmo antes do seu nascimento, o anjo tinha falado sobre seu chamado privilegiado, dado por Deus e cheio de propósito. Seu lugar na história seria daquele que apresentou Jesus ao mundo. Dentre todos os métodos mirabolantes que poderia ter escolhido para este fim, João escolheu um simples pronunciamento. Foi tão desprovido de acompanhamento real que nenhum "fazedor de rei" conceberia tal modéstia para um anúncio que transformaria o mundo. Principalmente no Oriente..

(39) 42. POR QUE JESUS É DIFERENTE. Mesmo assim, num dia determinado e num momento divinamente escolhido, Jesus foi a João Batista para ser batizado. Pasmado pelo privilégio, João achou-se indigno de tal honra, declarando que não era digno nem de desatar as sandálias do Senhor. Como ousaria batizá-lo? A cena foi imortalizada pela pomba que desceu e pousou sobre Jesus. Depois desta confirmação celeste, João olhou para seus próprios discípulos e disse: "Eis o Cordeiro de Deus". E difícil ignorar imagens impressionantes por trás desta afirmação. A família judaica comum estava familiarizada com cordeiros e sacrifícios. Provavelmente o templo recendia a carneiro e a carne queimada, principalmente no Dia da Expiação. Apesar de sua grandeza e esplendor, no exterior do templo havia apenas um altar sem acabamento. Todos os cordeiros sacrificados ali pertenciam às pessoas que os ofereciam; assim, eram cordeiros de homens oferecidos a Deus. De fato, não eram nem mesmo representantes dos homens, ou iguais a eles. Eram cordeiros pertencentes aos homens, animais indefesos e ingénuos levados ao templo e de onde jamais retornavam. Agora, naquele momento escolhido da história, uma oferta veio do próprio Deus, dada^or ele em favor da humanidade. Era o Cordeiro de Deus. Entretanto, como podia ser? Como alguém podia nascer com o propósito específico de um dia ser sacrificado sobre um altar? Este fato não suscitaria outras questões entre aqueles que desejavam ser seus discípulos, em especial aos que ouviram a abrupta apresentação de João Batista? Alguém versado nas Escrituras provavelmente se lembraria de imediato da narrativa de Génesis 22; Abraão recebeu ordem de sacrificar seu filho Isaque, ao qual esperara tanto tempo para ter. Enquanto pai e filho caminhavam em direçao das montanhas, Isaque fez uma pergunta óbvia: "Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" No desenrolar da história, o próprio Isaque foi colocado sobre o altar e esteve a ponto de ser sacrificado. No último instante, quando a mão de Abraão brandia a faca sobre o corpo do filho, Deus exclamou: "Não estendas a mão sobre o rapaz!" Tendo planejado tudo aquilo para testar Abraão, o Senhor.

Referências

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