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DIREITO PROCESSUAL CIVIL COLETIVO

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Academic year: 2021

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PROFª MS. ÉVELYN CINTRA ARAÚJO

2017

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COLETIVO

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CONTÉUDO PROGRAMÁTICO

UNIDADE 1 - Introdução ao Estudo do Processo Civil Coletivo: histórico, fundamentos e conceito.

UNIDADE 2 - Estudos sobre Direitos Coletivos: direitos difusos. Direitos coletivos. Direitos individuais homogêneos.

UNIDADE 3 - Princípios Aplicáveis à Tutela Processual Coletiva: Acesso à justiça. Universalidade da jurisdição. Participação. Contraditório. Economia processual. Instrumentalidade. Informação. Extensão da coisa julgada. Obrigatoriedade da execução. Adequada representatividade.

UNIDADE 4 - Processo e Procedimento: Competência. Legitimação. Aspectos Processuais Gerais da Tutela Coletiva. Sentença. Coisa Julgada. Execução.

UNIDADE 5 - Ações Coletivas: Ação civil pública. MS Coletivo. Ação Popular. Ações Coletivas no CDC. Notas sobre processo coletivo e controle de constitucionalidade.

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UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PROCESSO CIVIL COLETIVO: histórico, fundamentos e conceito.

1.1 Histórico

O Processo Coletivo é fruto da evolução histórica do próprio Processo Civil, a qual perpassou basicamente por 3 fases, senão lembremos:

1ª) IMANENTISTA (ou civilista/sincretista/privatista):

Originada no Direito Romano, a fase imanentista ou civilista teve como destaques Celso, Ulpiano e Savigny e durou até meados do ano de 1868.

Havia uma grande confusão metodológica entre direito material e direito processual, negando-se a existência autônoma deste último, o qual se encontrava imanente, ou seja, dependente do direito material. Para os imanentistas, só havia ação se houvesse direito material.

Obviamente que tal teoria não prosperou, pois não conseguiram explicar, por exemplo, a possibilidade de o autor lançar mão da ação e do processo para buscar justamente a declaração de inexistência de um direito (ação declaratória negativa). Esqueceram-se também de que, ainda que ação fosse declaratória positiva, o juiz poderia julgar improcedente o pedido, negando a existência do direito; ou, por fim, poderia o magistrado simplesmente decretar a prescrição (perda da pretensão) mesmo tendo havido o exercício da ação e a instauração do processo.

2ª) CIENTÍFICA (ou autonomismo):

Na fase científica ou autonomista, que durou de 1868 a 1950, e por forte influência principalmente das doutrinas alemãs (Von Bülow), desenvolveu-se a teoria do processo como ciência autônoma, uma vez que fora finalmente reconhecida a sua total independência em relação ao direito material.

Enquanto este sempre teve uma configuração linear (sujeitos ativo/passivo; objeto – bem da vida; e vínculo de direito material), o processo revela-se como uma relação jurídica triangular, com elementos próprios e distintos (sujeitos ativo/passivo e o Estado-juiz; objeto – pedido; e vínculo de direito processual).

Assim, haveria duas relações jurídicas autônomas: a material e a processual, as quais não se confundiam.

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Todavia, o processo passou a ser intensamente estudado como objeto autônomo, deixando de servir ao direito material, o que criou excessos formalistas. Dessa forma, tal processo era permeado por ideais iluministas e liberalistas, onde a propriedade individual, a autonomia da vontade e a titularidade do direito de agir exclusiva ao titular do direito privado eram “a pedra de toque”, não havendo espaço ainda para o direito da coletividade.

3ª) INSTRUMENTALISTA (ou do acesso à justiça):

A fase instrumentista, surgida em meados de 1950 (especialmente pelas obras de Garth/EUA e Cappelletti/ITA) e vivida por nós até os dias atuais, vai além dos autonomistas e vê o processo como instrumento não só de realização dos interesses particulares, como também de pacificação social e realização da lei, portanto, mais efetivo, realizador da justiça, em tempo hábil e com o menor dispêndio possível.

Em outras palavras, prega-se o processo como meio de acesso à justiça, reaproximando o direito material e processual, sem, contudo, perder a autonomia do processo.

De acordo com Garth e Cappelletti, para que o processo seja um instrumento de

acesso à justiça, os ordenamentos jurídicos teriam de observar 3 ondas renovatórias de

alterações legislativas:

a) Tutela dos necessitados/hipossuficientes: sendo criada, no Brasil, a Defensoria Pública, a Lei de Assistência Judiciária (de 1950 – instituiu a pobreza por presunção), os Juizados Especiais; a Justiça do Trabalho etc.;

b) Coletivização do processo: quando a norma constitucional garante o direito ao acesso à justiça, notadamente no inciso XXXV do art. 5º da CF/88, ela o garante não só para a tutela dos direitos individuais, como também dos direitos coletivos (como o próprio título do capítulo, onde tal dispositivo constitucional está inserido, sugere: “Dos direitos e deveres

individuais e coletivos”).

Assim, é necessário que haja um tratamento coletivo para o processo, pois somente assim haverá verdadeiramente acesso à justiça. Dessa forma, Garth e Cappelletti perceberam a necessidade de serem tutelados pelo processo:

• bens e direitos de titularidade indeterminada: direitos que pertencem a todos e não pertencem a ninguém, e que, por isso, ficavam normalmente sem tutela. Ex: o meio ambiente e

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o patrimônio público. Foram então criados os legitimados coletivos (ex: MP, defensorias, órgãos públicos);

• bens e direitos cuja tutela individual é inviável: basicamente por conta da hipossuficiência, seja cultural (falta de consciência da população sobre a existência e do direito e seu mecanismo de tutela), econômica (pouca recompensa na tutela do direito, seja em razão dos custos psicológicos, seja em razão dos custos financeiros; falta de recursos para custear a assistência jurídica), ou técnica (configuração do processo, que exige demasiado do autor, a exemplo da produção de provas difíceis).

Ex.: consumidor descobre que a caixa de leite que informa possuir 1 litro, na verdade possui 750 ml. Em situações como esta, é economicamente inviável para o consumidor processar individualmente a empresa para cobrar alguns litros de leite, mas coletivamente o dano é considerável.

• bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável: do ponto de vista da facilidade e utilidade do sistema (litígios repetitivos); nesse caso, a tutela do direito individual não é economicamente inviável, mas a tutela coletiva se releva recomendável em razão da

molecularização dos conflitos/reunião dos processos (Kazuo Watanabe). Não há, aqui,

uma preocupação direta com o jurisdicionado, mas sim com o sistema, que deve potencializar a solução dos conflitos. Ex: é possível citar as causas envolvendo expurgos inflacionários, bastante repetidas em todo o país.

Segundo aqueles autores, o direito processual civil clássico era, até então, incapaz de tutelar o direito coletivo porque institutos clássicos como a legitimidade ordinária, de perspectiva liberal individualista (cada um defende o que é seu individualmente) e a coisa julgada intra partes (a decisão beneficia só as partes - art. 506 do NCPC), entre outros, são incompatíveis com o processo coletivo.

Não que o processo coletivo nega a importância do processo individual para determinadas situações, mas reconhece o caráter egoístico deste, com o indivíduo pensando só em si. O caráter do processo coletivo, ao contrário, é altruístico, porque sempre tem em mente o bem comum; daí a necessidade real de reformular conceitos processuais civis tradicionais, adequando-os à tutela dos interesses metaindividuais.

A ordem jurídica reconhece a necessidade de que, em matéria de interesses transindividuais, “o acesso individual dos lesados à Justiça seja substituído por um

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deve conduzir a uma solução mais eficiente da lide, porque o processo coletivo é exercido de uma só vez, em proveito de todo o grupo lesado.”

c) Efetividade do processo: processo civil de resultados, vivida atualmente.

1.2 Evolução do processo coletivo no Brasil

Por influência lusitana, o Brasil já convive com a ação popular desde as Ordenações Manuelinas, não obstante era de forma extremamente precária e limitada (na origem só cabia contra atos do poder público).

As ações coletivas (re)surgiram mesmo pela influência direta da doutrina italiana na década de 70, quando emergiu uma doutrina processual coletiva brasileira representada por Barbosa Moreira, Kazuo Watanabe, Ada Pellegrini Grinover, Waldemar Mariz Oliveira Júnior, e, posteriormente, Antônio Gidi, Nelson Nery Júnior e Aluísio Mendes.

Apesar de já existir a ação popular desde antes (Lei 4.717/65), a doutrina costuma vincular o surgimento do processo coletivo no Brasil com a Lei 6.938/1981 (Lei Nacional da Política do Meio Ambiente), que, em seu art. 14, §1º, previa a legitimidade do MP para propor a ação civil pública em proteção ao meio ambiente.

Todavia, só em 1985, com a Lei de Ação Civil Pública (7.347/85), que houve a

consolidação do processo coletivo no Brasil. Essa lei resolveu o problema dos bens ou direitos

de titularidade indeterminada, mas não o problema dos bens e direitos cuja tutela individual é inviável e os bens e direitos cuja tutela coletiva é recomendável. Esses últimos dois problemas só foram efetivamente solucionados com a CF/88 e em especial com o Código de Defesa do Consumidor, em 1990, quando então houve a potencialização do processo coletivo, e a sua

complementação pelo Estatuto da Cidade (2001), do Idoso (2003) etc.

Por outro lado, não podemos ignorar os retrocessos. O Governo tem utilizado Medidas Provisórias para atacar a ação civil pública, tentando restringir sua eficácia, limitar o acesso à justiça, frustrar o momento associativo e reduzir o papel do Poder Judiciário. Ex: a Lei 9.494 é o resultado de uma MP, que incluiu o atual art. 16 da LACP. Este dispositivo traz uma norma que limita bastante o processo coletivo, já que determina que “a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da competência territorial do órgão prolator, exceto se o

pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.”

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Quanto ao futuro do processo coletivo brasileiro, destaca-se 2 tentativas frustradas de criação do Código de Processo Civil Coletivo:

- uma que partiu de três projetos (oriundo da USP - Ada Pellegrini Grinover; da UERJ/UNESA - Aloísio Castro Mendes; e de Antônio Gidi);

- e outra, em 2008, quando o Ministério da Justiça nomeou uma comissão de juristas para tanto. Porém, tal comissão entendeu que o ideal não é fazer um novo código (que demorará muito para sair do Congresso), mas sim uma Nova Lei de Ação Civil Pública.

Com efeito, esta nova Lei é o atual PL 5139/09.

1.3 Fundamentos, conceito e elementos

1.3.1 Fundamentos da ação coletiva

Segundo Didier Júnior, as ações coletivas possuem duas justificativas:

a) Fundamento sociológico: aumento das “demandas de massa”. Está ligado, portanto, ao princípio do acesso à justiça.

b) Fundamento político: permitem a solução de diversos conflitos por meio de um só processo, reduzindo os custos, uniformizando os julgamentos e trazendo previsibilidade e segurança jurídica. Está ligado principalmente ao princípio da economia processual.

1.3.2 Conceito de processo coletivo

Processo coletivo é “aquele instaurado por ou em face de um legitimado autônomo/, em que se postula um direito coletivo lato sensu ou se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva passiva/, com o fito de obter um provimento jurisdicional que atingirá uma coletividade, um grupo ou um determinado número de pessoas” (GIDI, Antônio apud DIDIER JR., 2008, p. 46).

Do conceito é possível extrair 3 elementos, quais sejam: a) a legitimação para agir

b) a afirmação de uma situação jurídica coletiva: o direito coletivo lato sensu no pólo ativo (ação coletiva ativa), ou dever ou estado de sujeição a este direito no pólo passivo (ação coletiva passiva);

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c) a extensão subjetiva da coisa julgada.

Assim, há procedimentos especiais (ações coletivas) previstos na legislação para servir às causas coletivas, tais como:

- Ação popular (art. 5º, LXXIII CF; Lei nº. 4.717/65); - Ação civil pública (art. 129, III CF; Lei nº. 7347/85); - MS coletivo (art. 5º, LXX CF);

- Ação coletiva para defesa dos direitos individuais homogêneos dos consumidores (arts. 91 a

100 do CDC);

- Ação de improbidade administrativa (Lei nº. 8429/92);

- Ações de Controle de Constitucionalidade (ADI e ADC - art. 102, I, “a” CF).

Vê-se, resumidamente, que a ação e o processo coletivos tem por objeto a realização do interesse público, ou seja, “servem às demandas judiciais que envolvam, para além dos interesses meramente individuais, aqueles referentes à preservação da harmonia e à realização dos objetivos constitucionais da sociedade e da comunidade” (DIDIER JR, 2008, p. 38), como, por exemplo, dos consumidores, do meio ambiente, do patrimônio artístico, histórico e cultural, bem como os interesses individuais dos necessitados e minoritários marginalizados, ou seja, os direitos coletivos lato sensu e individuais indisponíveis.

Trata-se, assim, de um processo de interesse público, não interessando a “estrutura subjetiva”, mas a “matéria litigiosa” discutida. Desta feita, não se confunde processo coletivo com litisconsórcio multitudinário.

Este está assentado no velho arquétipo de processo individual (de estrutura atômica), ainda que sejam muitos em um dos pólos, posto que defendem seus direitos subjetivos individuais (o juiz pode, inclusive, fragmentar tal litisconsórcio quando dificultar o andamento do processo ou a defesa).

Já o processo coletivo é de estrutura molecular, ou seja, mesmo que interesse a uma série de sujeitos distintos, identificáveis ou não, pode ser ajuizada e conduzida por uma única pessoa já que veicula matéria de natureza comum a todos, à coletividade.

Justamente por servir o processo coletivo ao interesse público é que tem se experimentado uma maior politização da Justiça e ativismo judicial, pois “ao Poder Judiciário foi conferida uma nova tarefa: a de órgão colocado à disposição da sociedade como instância organizada de solução de conflitos metaindividuais”.

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