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Mercados nervosos, investidores tensos. O que pensar?

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Academic year: 2021

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Mercados nervosos, investidores tensos. O que pensar?

Paulo Ângelo Carvalho de Souza Presidente

Bolsas em queda; juros em alta; rentabilidade em queda; inflação em alta; preço do petróleo fora de controle; crise subprime; economia americana à deriva; preço de commodities em elevação.

Tudo isso e muito mais pode criar percepção de desconforto. Todos esses eventos são realmente preocupantes? Ou estamos presenciando um alinhamento astral entre más notícias e fatos realmente preocupantes?

De olho no retrovisor, é possível analisar crises anteriores e constatar que muito se aprende com o passado, tendo os anos recentes sido pródigos de lições não totalmente absorvidas. Apesar de tudo, os erros do passado continuam a se repetir, mas muitos acertam quando avaliam os fatos e põem em prática o aprendizado anterior.

Infelizmente, poucos são aqueles que lêem os sinais de riscos emitidos pelos mercados e adotam estratégias adequadas de proteção (hedge).

O exemplo mais recente ocorreu em 2007. Em agosto de 2007, mais exatamente no dia 16, os mercados financeiros e de capitais tomaram conhecimento de que havia algo podre na economia americana, chamado subprime. Na referida data e nos dias seguintes, as bolsas sinalizaram claramente que o sinal amarelo estava aceso. Acabou prevalecendo a euforia de que tudo acabaria bem, tendo sido relegados a um segundo plano os sinais de alerta, que já eram nítidos.

Mas não são apenas os sinais negativos que, freqüentemente, deixam de ser percebidos. Consideremos, agora, os dados sobre algumas Bolsas de Valores da tabela a seguir, que focalizam os períodos 2007 e até 27 de junho de 2008. Note-se que o Ibovespa apresenta uma variação positiva de 11,4% em dólares e de 0,7% em reais; já as bolsas do México e da Argentina apresentam variações positivas em dólares com 5,1% e 1,2% respectivamente. Quanto às demais bolsas, estão todas fortemente negativas: Dow Jones com (14,5%), Nasdaq com (12,7%) e assim por diante.

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Tabela 1

Desempenho de Bolsas de Valores

Mercados Origem Em 27/06/2008 Em 31/12/2007 Variação 2008 Dow Jones EUA 11.347 13.265 (14,5%) Nasdaq EUA 2.316 2.652 (12,7%) S&P EUA 1.278 1.468 (12,9%) Ibovespa (US$) Brasil 40.072 35.986 11,4% Ibovespa (R$) Brasil 64.321 63.886 0,7% MexBol México 2.844 2.705 5,1% Merval Argentina 691,8 683,7 1,2% IPSA Chile 5,804 6,129 (5,3%) DAX Alemanha 10.118 11.868 (14,7%) CACAO França 6.928 8.187 (15,4%) FTSE100 Inglaterra 11.023 12.802 (13,9%) Nikkei 225 Japão 127,4 135,7 (6,1%) ROSPI Coréia do Sul 1,618 2,028 (20,2%)

Fonte: BloomBerg/Unibanco.

Como se sabe, a Bolsa de Valores de São Paulo - BOVESPA - conta com 35% de investidores não residentes no País (estrangeiros) e esses players, em momentos de crise em seus países de origem, são os primeiros a dar ordem de vendas no Brasil para cobrir posições.

Ainda assim, como se pode observar nos dados das principais bolsas, o Ibovespa tem uma posição diferenciada.

Alongando um pouco o horizonte para os últimos 12 meses, o Ibovespa apresenta, depois de toda essa oscilação, uma performance de 42,3% em dólares e de 18,8% em reais. Nesse mesmo período, o Dow Jones performou (15,5%), a Nasdaq (11,25%), a S&P (15,1%) e, nesse ritmo, as demais bolsas, todas com retorno negativo.

Adicionalmente, quem analisar o desempenho em diversos períodos das principais companhias brasileiras negociadas na BOVESPA, verificará que os ganhos são bem mais expressivos, tanto em 2008 quanto na visão de 12 meses.

Acreditamos que essas considerações iniciais possam servir de alerta no sentido de que o investidor mantenha a calma e aconselhe-se com profissionais de investimento de sua confiança. Ainda há tempo e espaço para operações de proteção (hedge), assim como existem oportunidades para operações de compra e venda, valendo-se das oscilações do mercado, via traders especializados.

Mas o que ocorre agora de diferente de crises anteriores que impactaram o Brasil? Por que ter calma? Buscaremos aqui tecer algumas considerações adicionais, que nos parecem pertinentes e respaldar esse tipo de postura.

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Não se pode atribuir apenas à grande liquidez internacional os bons resultados positivos que as empresas nacionais e o Brasil têm conquistado. Fatos e dados demonstram que o Brasil é outro país, muito mais forte para o enfrentamento de crises; o mesmo se pode afirmar das companhias listadas na BOVESPA, várias delas players internacionais.

O próprio mercado de ações nacional mudou para um mercado mais sólido e mais eficiente, e a confiança das pessoas é o reflexo dessa mudança. De acordo com as informações da BOVESPA, a participação da pessoa física sextuplicou de 2002 a 2008, passando de 85.249 investidores para 486.706, conforme distribuição a seguir:

8 5 .2 4 9 8 5 .4 7 8 1 1 6 .9 1 4 1 5 5 .1 8 3 2 1 9 .6 3 4 4 5 6 .5 5 7 4 8 6 .7 0 6 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Figura 1 – Pessoas físicas na BOVESPA

Fonte: BOVESPA (30/05/08).

Outro dado relevante vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES -, dando conta de que em 2007 o Banco fez operações de financiamento com desembolso de R$ 65 bilhões. No mesmo período, as companhias listadas na BOVESPA fizeram emissões e captaram R$ 70 bilhões, em um movimento crescente e consistente, como se observa a seguir:

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9 1 4 3 0 7 0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 2004 2005 2006 2007 Valores em R$ bilhões Figura 2 – Emissões na Bovespa.

Fonte: BOVESPA.

Em 2008, no dia 30 de abril, o Brasil teve sua classificação pela Standard & Poor’s elevada a investment grade, passando a integrar um grupo restrito das melhores expressões da economia mundial.

Confirmando esse desempenho e a saúde da economia brasileira, o Brasil passou a ser credor internacional, visto que suas reservas internacionais superaram o valor devido em moeda estrangeira. De acordo com o Banco Central do Brasil, as reservas internacionais atingiram US$ 200,2 bilhões no dia 20/06/2008. No rank de reservas internacionais o Brasil ocupa a 8ª posição, conforme se vê abaixo:

Tabela 2

Rank de Reservas Cambiais

Rank País Reservas (US$ bi) 1º China 1.682,18 2º Japão 970,01 3º Rússia 558,74 4º Índia 300,96 5º Taiwan 290,07 6º Coréia do Sul 258,2 7º Zona do Euro 222,92 8º Brasil 184,98 9º Cingapura 175,8 10º Hong Kong 159,00

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Reconhecemos que alguns aspectos sistêmicos terminam por contaminar todos os mercados e que várias questões têm infernizado a vida dos investidores, entre as quais: 1. Subprime - o problema e sua enorme gravidade são conhecidos, mas não são ainda

bem estimados o tamanho e sua exata extensão. Pode haver, ainda, muita surpresa advinda dos prejuízos do subprime;

2. Recessão nos EUA - a economia americana está em processo de desaceleração e há grandes incertezas sobre os rumos que poderão ser tomados naquele País. Quanto menor o ciclo de desaceleração, melhor, mas tudo ainda se encontra nebuloso, especialmente em período de eleições;

3. Inflação - existe um processo de recrudescimento inflacionário de forma global, atingindo muitas e diversas economias. Tal fato tem produzido uma ação dos Bancos Centrais, exceto no caso do Federal Reserve - FED -, no sentido de se elevar a taxa primária de juros. É preciso observar se o efeito dessa medida será suficiente e rápido;

4. Preços de commodities - podemos afirmar que os preços de todas as commodities têm subido de forma vigorosa, inclusive no caso das agrícolas, contribuindo para alimentar o processo inflacionário;

5. Petróleo - mais um choque de preços paira como ameaça ao equilíbrio das nações. Em menos de cinco anos, o preço do barril do petróleo passou de US$ 30 para US$ 140, com uma elevação absurda de 360%. E mais, de 2007 para 2008, o preço dobrou, passando de US$ 70 o barril para US$ 140. Deveria haver uma ação coordenada para que a oferta fosse elevada para um adequado equilíbrio de preço e, sobretudo para sinalizar um ponto de equilíbrio.

Agências de notícias destacaram que o começo do terceiro trimestre, 1º de julho de 2008, foi marcado pela volatilidade e pelo mau-humor nos mercados. O petróleo fechou em nova marca histórica, a US$ 140,97 o barril no contrato para agosto negociado em Nova York. Os preços dos metais subiram, ampliando as preocupações dos investidores com a escalada de inflação e seu impacto sobre a economia global. Quanto ao Ibovespa, recuou para 63.396 pontos.

Todas essas considerações nos levam a constatar um momento de grande alarme na economia internacional.

Ocorre que o Brasil nunca esteve tão bem e tão preparado para enfrentar uma crise de grandes proporções como várias que ocorreram no passado.

É certo que uma andorinha não faz verão, mas é muito razoável esperar que economias com melhores fundamentos possam emergir desse emaranhado global. Historicamente, é o que se acontece.

No início, manifestamos a preocupação de que o investidor procure profissionais de investimento confiáveis e capazes para seu assessoramento. É importante destacar, olhando mais uma vez pelo retrovisor, que em outras crises, perdeu aquele investidor impaciente, com visão de curto prazo e que acatou conselhos de sair de suas

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posições à custa de realizar prejuízos.

Um experiente profissional de investimento, ao ser questionado se já estaria efetuando compras para aproveitar a desvalorização de certos papéis, certamente responderia: o mercado está nervoso, mas o recomendável é muita calma nessa hora de incertezas.

Finalizando, é bom ter em conta que o Brasil tem um mercado interno forte e que em grande medida, nossas companhias têm fortes fundamentos econômicos. Das raras, boas e confiáveis oportunidades de investimento, com toda certeza comprar Brasil está entre as primeiras da lista.

Referências

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