Fórum Saúde mental e direitos humanos
Crack: acesso a tratamento, novas demandas
Renata C. S. de Azevedo
Usuários de crack, comportamento sexual e
risco de infecção pelo HIV (1996-2000)
risco de infecção pelo HIV (1996 2000)
• Estudo com 241 usuários de cocaína, dos quais 109 usuários de coca injetável e 132 usuários de crack.j
• Embora os usuários de crack utilizassem há 1/3 do tempo dos usuários de
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cocaína EV (3 anos X 9 anos), maiores taxas de problemas com a justiça e de atividade sexual de risco.
• A soroprevalência do HIV entre os usuários de crack, embora inferior aos usuários de cocaína injetável (7% X 33%), mostrou-se muito superior à população geral nesta faixa etária
Relevância do tema
• Crescimento nas taxas de uso
• Uso em idades mais precoces
• Potencial dependogênico
• Policonsumo
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• Comorbidades físicas e psiquiátricas
• Conseqüências clínicas sociais e legais
• Conseqüências clínicas, sociais e legais
Breve histórico do uso de cocaína
• Civilizações pré colombianas • Civilizações pré colombianas
– Hábito de mascar folhas de coca
• Século XVIII
– Uso clínico
• 1914
Classificada como narcótico – Classificada como narcótico
• Dos anos 20 aos 50 arrefecimento do consumo • Ressurgimento com era Hippieg pp
• Década de 80
– Cocaína como droga Yuppie
Dé d d 80 • Década de 80
– AIDS e foco sobre drogas de uso injetável
• Século XXI:
• A partir da década de 1980, uma forma “fumável” de cocaína surge nos EUA, com expansão para outros países
• Redução do consumo injetável aumento do consumo de crack • Redução do consumo injetável, aumento do consumo de crack
O que é crack?
O que é crack?
o pó é dissolvido em água quente
adiciona-se bicarbonato de sódio à mistura
a solução é fervida para separar a parte sólida
resfriamento da mistura separada
filt d i t f i i l
filtragem da mistura fria para isolar os sólidos
A capacidade de uma SPA gerar dependência está relacionada a: - Prontidão dos efeitos esperados pelo usuário
- Intensidade do efeito
C d ã d f i
- Curta duração do efeito
Fase Duração Efeitos
Rush ou De alguns segundos Alegria, euforia, aumento da auto estima,
High até 20 minutos percepção de melhor desempenho, ansiedade, paranóia
Crash Minutos a 1 semana Fissura intensa no início, disforia, irritabilidade, inquietação, sintomas depressivos.
Em seguida craving em redução, exaustão, sono, hiperfagia e normalização do humor
Fase 3 1 a 10 semanas Melhora do sono e humor, redução da ansiedade. Retorno do craving intermitente disforia anedonia Retorno do craving intermitente, disforia, anedonia, ansiedade.
Extinção Semanas a meses Redução do craving, fissura episódica a partir de gatilhos
Alguns indicadores do impacto
d i ili i i (2001 200 ) d
• Levantamentos domiciliares nacionais (2001 e 2005), demonstraram
que o consumo de crack dobrou e que a região Sul foi a mais atingida, aumentando o uso na vida de 0,5% para 1,1%, seguida pela região Sudeste, com 0,8%.
• Tem havido aproximação das taxas de uso entre os gêneros.
•Serviçosç ambulatoriais especializadosp parap tratamento de dependência começaram a sentir o impacto do crescimento do consumo a partir do início dos anos 90, quando a proporção de co su o a pa t do c o dos a os 90, qua do a p opo ção de usuários de crack foi de 17% (1990) para 64% (2000)
S i d ê i tê t d i t d d d
• Serviços de emergência têm apontado crescimento na demanda de atendimento decorrente do uso de crack, o que não correponde a maior qualificação deste atendimento.
CONSUMO ABUSO
DEPENDÊNCIA PROBLEMAS RISCO
(NIDA, NIAAA, WHO, ASAM, 2002) (NIDA, NIAAA, WHO, ASAM, 2002)
Particularidades dos usuários de crack
• Elevado potencial dependogênico • Maior associação com criminalidade • Maior associação com criminalidade
• Comorbidades psiquiátricas são comuns e pioram o prognóstico • Mais dificuldade de adesão e permanência em tratamento
• Maiores taxas de mortalidade
Coorte de 131 usuários de crack por 12 anos
• Abstinentes: 32.8% • Presos: 10%
• Uso contínuo: 16.8%
• Óbitos: 21% (maioria com menos de 30 anos de idade; 7,6 X ( ; , maior que a população)
Efeitos psicoativos crônicos
Efeitos psicoativos crônicos
• Tolerância
• Persecutoriedade
• Sintomas depressivos
• Irritabilidade
• Irritabilidade
• Fissura intermitente
• Prejuízos cognitivos
Riscos clínicos do uso
P i iát i i d â i it ã i t i t
• Psiquiátricos: crises de pânico, agitação psicomotora, sintomas
depressivos e psicóticos
• Cardiovasculares: crises hipertensivas, angina, infarto agudo do miocárdio
• Neurológicas: crises convulsivas, sintomas neurológicos focais, cefaléias, acidente vascular cerebral
• Respiratórias: dor torácica, dispnéia, tosse seca ou com eliminação de sangue e/ou material escuro (resíduos da combustão). “Pulmão de g ( ) crack”: febre, hemoptise, falência respiratória
• Gastrointestinais: isquemia aguda colite • Gastrointestinais: isquemia aguda, colite
• Renais: rabdomiólise, isuficiência renal aguda •Queimaduras em dedos e lábios
Dados do atendimento psiquiátrico na
UER HC/UNICAMP
UER-HC/UNICAMP
• Período: maio de 2010 a maio de 2011
1465
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• 1465 pessoas atendidas pela psiquiatria
• 350 (23%) por uso de drogas
• 40.6% já haviam tentado suicídio
• 123 (35%) usuários de crack
123 (35%) usuários de crack
Dados do atendimento psiquiátrico na
UER-HC/UNICAMP
UER HC/UNICAMP
Uso de crack Uso de álcool
Q ei a
Queixa
Desejo de se tratar/internar 36 (36,7%)* 32 (16,3%) Sintomas psiquiátricos 23 (23,5%) 39 (19,9%) Intoxicação 8 (8,2%) 30 (15,3%) Abstinência 6 (6,1%) 22 (11,2%)Seguimento
Uso de crack foi a variável
Uso de crack foi a variável
associada a não buscar
tratamento e não reduzir o uso
tratamento e não reduzir o uso
em 30 e 90 dias
Considerar na avaliação e planejamento
• História do uso de SPA
• “Organização” do consumo
• Fatores reforçadores e atenuadores do uso • Manifestação de sintomas de abstinência • Comorbidades psiquiátricas e clínicas • Conseqüências relacionadas ao uso • Rede de apoio
• História de tratamento
• Expectativas a respeito do tratamento
• Apresentar as alternativas terapêuticas para decisão conjunta • Estabelecimento de planejamento terapêutico psicoterápico,
Dificuldades no tratamento de usuários de
crack
• Têm maior dificuldade de chegar
• Chegam mais deteriorados (física, social, financeira)
• As perdas são muito mais severas e rápidas
Por outro lado...
• As perdas são tão rápidas e severas que reduzem a
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negação
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• Ambivalência entre memória de prazer e medo das
vivências negativas e perdas
vivências negativas e perdas
• Pedem ajuda
Pedem ajuda...
• Importância de disponibilidade e agilidade do
Importância de disponibilidade e agilidade do
cuidado
Melhores práticas
E i b ã d t lí i i i
• Equipe com boa compreensão dos aspectos clínicos e sociais • Serviços onde o acesso é facilitado, ágil e mais informal
• Capacidade de detectar e abordar os gatilhos que levam à recaída • Oferecimento de apoio para familiares e rede social
• Oferecer trabalho de campo nas ruas, visitas domiciliares e acesso a serviços que fiquem abertos até mais tardeç q q
• Bom mapeamento e relacionamento com os serviços da rede de tratamento disponívelp
• Oferecimento de opções de pós-tratamento apropriadas às necessidades de cada paciente
necessidades de cada paciente
• Atenção aos subgrupos: adolescentes, indivíduos com comorbidades e gestantes
Uso de crack e gestação
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•Sub-notificação por parte das pacientes
•Baixa e frequentemente inadequada detecção e abordagem por parte dos profissionais da saúde
profissionais da saúde •Principais riscos:Principais riscos:
- Retardo do crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer - Aumenta o risco de parto prematurop p
- Síndrome de abstinência de cocaína neonatal com irritabilidade, hipertonicidade, tremores
Abordagem farmacológica
Abordagem farmacológica
•
Ausência de medicação aprovada especificamente para
•
Ausência de medicação aprovada especificamente para
o tratamento da dependência de cocaína/crack
•
Detecção e tratamento das comorbidades
•
Maneja da fissura
• Benzodiazepínicos
Indicações de internação
• Síndrome de abstinência severa
• Fissura incontrolável
• Falha ambulatorial
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• Risco de suicídio, risco de hetero/autoagressão
• Comorbidades com indicação de tratamento em ambiente
Comorbidades com indicação de tratamento em ambiente
hospitalar
Componentes do tratamento
• Facilitação do acesso a cuidado à saúde • Rede de atenção capilarizada
• Multiplicidade de abordagens
- Abordagens psicoterápicas e motivacionais Grupos de mútua ajuda
– Grupos de mútua ajuda – Atendimento familiar – Atenção a comorbidadesç – Tratamento farmacológico
• Clínica ampliada com expansão de settings • Intersetorialidade – Saúde Educação – Educação – Justiça – Assistência social
• Utilização de rede formal e não formal • Seguimento a longo prazo