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Academic year: 2021

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IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS TEMPLOS Um dispositivo constitucional ainda violado

Autora: Aline Laranjeira Mota

Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do Título de Pós-Graduada pelo Curso em Direito Tributário da Universidade da Amazônia – UNAMA, através do Curso Residência Jurídica em Maceió/AL.

Orientador: Prof.: Graça Penelva

RESUMO

Apesar de o tributo ser o instrumento que movimenta a maquina estatal, a desoneração de certos produtos, em face das imunidades tributarias, surgiu com o objetivo de proteger aqueles valores maiores contidos em princípios constitucionais, como a propagação da religião, a liberdade e igualdade de todos os homens.

Através da indução, dedução e da compilação de dados, foi traçado neste artigo um conteúdo essencialmente cientifico, focando a imunidade tributária contida no artigo 15, inciso IV, letra b da Carta Magna. Tal instituto deve ser aplicado aos templos de qualquer culto, inclusive, portanto, aos terreiros de candomblé e aos cemitérios, apesar de expressa violação existente no País, como será observado no decorrer do trabalho.

Palavras-chave: imunidade tributaria; dispositivo constitucional; templos de qualquer culto.

INTRODUÇÃO

Este artigo pretendeu analisar, de uma forma abrangente e completa, o instituto jurídico da imunidade tributaria prevista no artigo 150, inciso VI, letra b da Constituição Federal, incidente sobre os templos de qualquer culto.

A pesquisa contida neste trabalho colocou alguns aspectos gerais sobre as imunidades tributárias, atribuindo primeiramente uma visão ampla ao assunto. Posteriormente, foi explanado o estudo aprofundado da imunidade em questão, ou seja, dos templos.

Pelo trabalho apresentado, tentou-se demonstrar a essência da imunidade tributaria prevista no artigo 150, inciso IV, letra b da Carta Magna. Tal matéria baseia-se em princípios tais como a liberdade de crença, de culto, de liberdade, a propagação da religião e a igualdade entre todos os homens.

Foi identificado que apesar de o instituto da imunidade tributária encontrar-se amparado

constitucionalmente, na pratica ocorre uma nítida violação, demonstrando desrespeito a princípios constitucionais, tais como o da igualdade e da liberdade, evidenciando a existência escancarada do racismo no Brasil.

Como objetivo geral, foi conceituada a imunidade tributaria como um todo, a fim de um maior conhecimento sobre o tema, demonstrando um breve histórico sobre o momento de seu surgimento, partindo-se, logo após, para o objetivo especifico: o estudo da imunidade tributaria dos templos de qualquer culto.

A pesquisa foi embasada em obras doutrinarias, jurisprudências do STF e internet, utilizando-se os métodos compilativos, indutivos, dedutivos e bibliográficos científicos para a elaboração deste artigo, que está disposto da seguinte forma: primeiramente será demonstrado um breve histórico da imunidade tributária, em seguida seu conceito, alcance da imunidade dos templos, a imunidade e terreiro de candomblé, imunidade e a propriedade rural, imunidade e cemitério e por último será

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colocado um texto conclusivo obtido ao final do trabalho. 1. BREVE HISTÓRICO

Com a Proclamação da República Federativa do Brasil e com a instauração do Regime Federativo do Brasil se fixaram as regras e princípios jurídicos do Estado de Direito que passariam a estruturar a ordem tributária, incluindo as hipóteses da imunidade. Foi através da primeira Constituição Republicana de 1891 que foram instituídas as primeiras imunidade tributárias no Brasil. Mas foi a Constituição de 1946 que tomou imunes os templos de qualquer culto permanecendo até os dias de hoje no texto da atual Carta Magna.

2. CONCEITO

De acordo com o dicionário Aurélio , imunidade significa, dentre outros conceitos, “condição de não ser sujeito a algum ônus ou encargo, resistência natural ou adquirida de um organismo vivo a um agente infeccioso ou tóxico; (...) na linha tributária, seria a proibição da incidência de impostos, em casos determinados pela Constituição federal”.

Aqui, não há que se falar em relação jurídico-tributária, uma vez que a regra imunizadora não está no campo de incidência do tributo. Segundo José Manoel da Silva , “Imunidade é limitação ao poder de tributar, também denominada vedação ao poder de instituir impostos naqueles casos enunciados pelo texto constitucional”.

Segundo a letra constitucional (art. 150, VI, b, CF/88), a imunidade atingirá os templos de qualquer culto:

"Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

VI – instituir impostos sobre: (...)

b) templos de qualquer culto; (...)

§4º. As vedações expressas no inciso VI, alíneas b e c, compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas relacionadas."

É, portanto, a imunidade dos templos de qualquer culto, instituto de sede constitucional, uma dispensa constitucional de pagamento de tributo, alcançando apenas os impostos, possibilitando a cobrança de taxas ou contribuições dos templos no País.

Assim, as imunidades tributárias são causas de limitação da competência tributária; por meio dela há uma vedação da instituição de tributos, em prol de um bem maior, no caso a expansão da

religião, a facilitação no alcance de livros religiosos, imagens, enfim sua propagação diante de fieis existentes e em potencial. Visam a garantir a eficácia da diretriz constitucional do art. 52, VI, que assegura a liberdade de crença e o livre exercício de cultos religiosos.

3. ALCANCE DA IMUNIDADE

É considerado templo não apenas o edifício destinado à celebração pública dos ritos religiosos, mas também seus anexos (locais que tornam possível ou viabilizam o culto), como é o caso, na Igreja Católica, da casa paroquial, do seminário e do convento.

Para Roque Carraza e Ricardo Lobo Torres , a imunidade atinge a entidade mantenedora do templo, ou seja, aquela que promove a prática de culto ou mantém atividades religiosas. Ressaltando que quem possui patrimônio, renda e serviços, onde os impostos não irão incidir, é a pessoa jurídica, o ente mantenedor dos templos, a Igreja.

De acordo com o parágrafo 4º do artigo 150 da CF/88, esta imunidade alcança somente o

patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais dos templos, aquelas inerentes à natureza da entidade.

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O STF vem dando uma interpretação mais extensiva ao instituto da imunidade. Ele vem defendendo uma teoria ampliativa quanto a extensão dos efeitos imunitórios a atividades não essenciais da Igreja. É necessário analisar a destinação dos recursos obtidos pelo templo, ou seja, havendo relação entre a renda e as finalidades essenciais, deve-se aplicar o dispositivo

constitucional.

Além do exposto acima, é imprescindível não haver ofensa à livre concorrência. Dessa forma, por exemplo, estende-se a imunidade ao bem locado de propriedade da Igreja, desde que se prove tratar de apenas uma unidade locada, não várias, pois configuraria um tipo de imobiliária mascarada, e que seja a renda revertida para consecução das finalidades essenciais da Igreja.

A imunidade poderia alcançar o Padre?

O Padre não é imune a impostos. Bem como sua casa, uma vez que é moradia, não templo, de um cidadão comum, apesar de sacerdote. No entanto, já foi decidido – Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulo, que quando as casas, salões paroquiais e centros sociais forem pertenças do templo, passam para o campo da imunidade.

3.1 Imunidade e Terreiro de Candomblé

A Constituição de 1988 determina ao Estado um caráter rigorosamente laico, proibindo alianças ou relação de dependência com qualquer religião ou culto e o embaraço do funcionamento de culto de qualquer natureza. Em seu artigo 5° é consagrado o principio da liberdade de crença, culto, liturgias e organização religiosa. E por tais preceitos assegurados, que se fez necessário a instituição da imunidade tributaria de templos de qualquer culto, como visto anteriormente.

No entanto, dentre outras falhas encontradas na prática, ainda existem templos da religião de matriz africana que não têm assegurado a imunidade tributária, sendo obrigados a pagar o IPTU.

Na teoria, a igualdade, afinal a carta Magna é bastante clara quando afirma a imunidade para templos de qualquer natureza, na prática, a existência de um real preconceito.

Contudo, foi notícia na Folha de Pernambuco Digital , de 07 de julho de 2007, que “o terrreiro de candomblé Ile Alaketu, em São Bernardo do Campo, não pagará mais o IPTU”. Este fato vem abrir precedente para que terreiros de candomblé do País inteiro passem a pleitear a mesma imunidade, um direito já existente e consagrado, mas constantemente violado, caminhando assim para a correta aplicação do dispositivo constitucional.

3.2 Imunidade e Propriedade Rural

Segundo o Professor Sabbag , “a propriedade rural adquirida pela Igreja e utilizada para retiros espirituais estará protegida pelo manto da regra imunizante. Por outro lado, se tal gleba rural for destinada à criação de animais ou plantações, será devido o ITR”. Importante deixar claro, que é admitida a produção de alimentos, mas tão-somente para consumo próprio dos internos, ou seja, sem destinação comercial.

Assim, o imóvel rural de templo de qualquer culto somente será imune se vinculado às finalidades ou funções essenciais da Igreja. Desvinculando-se de tal fim, pendendo para o campo comercial, perde a proteção da imunidade tributária.

3.3 Imunidade e Cemitério

De acordo com o Professor Roberto Wagner Lima Nogueira , “É imune o patrimônio das

instituições religiosas que compreendem o prédio onde se realiza o culto (IPTU), o lugar da liturgia, o convento, a casa do padre ou do ministro, o cemitério, os veículos utilizados como templos

móveis (IPVA).”.

Tanto no templo como no cemitério, realizam-se cultos religiosos, razão que se equipara este

àquele, quando pertence a uma instituição religiosa. Tais instituições, como regra, costumam manter no mesmo terreno do cemitério áreas específicas para cultos.

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letra b CF/88), além do que, sendo integrantes do patrimônio de entidades assistenciais, também são beneficiados pela imunidade de que trata o mesmo artigo e inciso, em sua letra c.

A entidade protegida pelo instituto da imunidade, que explora atividade econômica e destina seu produto para suas atividades essenciais, não poderia estar desprotegida do dispositivo imunizante. Exigir tributos da Entidade seria como tributar o patrimônio da entidade, algo expressamente vedado pela Carta Magna em seu art. 150, VI, c.

A Jurisprudência encontra-se no sentido de que as entidades sem fins lucrativos, que prestam serviços assistenciais, gozam de imunidade tributária em relação ao seu patrimônio. Observe a sumula 724 do STF:

“Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo artigo 150, VI, c, da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.”

No entanto, alguns municípios estão cobrando impostos, especificamente o IPTU, dos cemitérios administrados por entidades sem fins lucrativos, na maioria de caráter religioso.

O STF ainda não decidiu especificamente em relação a tal fato. Há controvérsia na interpretação que alguns municípios dão no sentido de que Templos apenas gozam de imunidade em relação à área onde são realizados os cultos. Contudo, através da supra súmula, sendo o cemitério em geral parte do patrimônio da Entidade religiosa, conclui-se não fazer sentido a cobrança de tributo, já que patrimônio enquadra-se no âmbito da imunidade. Além do que, mesmo que a posse e o uso das áreas destinadas a sepultamento possam ser cedidos ou comercializados, claro está que sua

utilização não pode ser alterada. É uma propriedade do tipo sui generis. Assim, não tem fundamento a cobrança de IPTU sobre cemitérios ou túmulos que dele façam parte, uma vez que não há que se falar em valor venal de algo que não está a venda.

CONCLUSÃO

A imunidade tributária que se encontra no artigo 150, IV, letra b da Constituição, abrange apenas os impostos, não alcançando as taxas, contribuições de melhoria e contribuições sociais ou para-fiscais e aos empréstimos compulsórios. Estando o beneficio fiscal adstrito ao patrimônio, renda e serviços ligados à atividade fim das entidades, perdendo a imunidade sempre que houver desvirtuamento da atividade fim. É importante ressaltar que O STF vem dando uma interpretação mais ampla ao instituto da imunidade. Ele vem defendendo uma teoria ampliativa quanto a extensão dos efeitos imunitorios a atividades não essenciais da Igreja.

Tal instituto surgiu com o fito de proteger valores maiores contidos em princípios constitucionais, como o da livre divulgação de idéias, de conhecimentos, da proteção da cultura e da propagação da religião. Devido a isso que os templos de qualquer culto são imunes a toda e qualquer espécie de imposto. Logo, as imunidades tributárias, por serem protetoras de bens maiores, devem ser

interpretadas extensivamente. É nesse sentido que vem entendendo o STF, como se observa em seus julgados.

A imunidade é uma limitação constitucional ao poder de tributar, vez que está contida de forma expressa pela Constituição Federal. Logo, a pessoa ou bem descrito na Magna carta não podem sofrer tributação. No entanto, como foi estudado no decorrer do trabalho, a discriminação no Brasil ainda é grande quanto a certas religiões, evidenciada através da tributação de certo templos. Esta inconstitucionalidade escancarada aos poucos vem sendo combatida, lentamente e com

dificuldades, mas com resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Disponível em: http://artigos.com. Acesso em 15 de outubro de 2007.

COELHO. Werner Nabiça. A imunidade tributaria dos templos – breves considerações. Disponível em: http://www.uj.com.br. Acesso em 22 de outubro de 2007.

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FERREIRA. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário Aurélio Eletrônico- Século XXI. Versão 3.0. Lexikon Informática Ltda, 1999

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SILVA. José Manoel da. Imunidade dos templos de qualquer culto. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n°14, 1996.

Referências

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