• Nenhum resultado encontrado

Determinantes sociodemográficos da contribuição para previdência privada Anderson Rocha de Jesus Fernandes 1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Determinantes sociodemográficos da contribuição para previdência privada Anderson Rocha de Jesus Fernandes 1"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

1

Determinantes sociodemográficos da contribuição para previdência privada

Anderson Rocha de Jesus Fernandes1

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de investigar os determinantes e perfis demográficos pertinentes à caracterização da população brasileira em idade ativa (15-64 anos) contribuinte de planos de previdência privada. O envelhecimento populacional e os desafios provocados quanto à manutenção dos sistemas públicos de seguridade social fundamentam a necessidade de compreensão das caraterísticas sociodemográficas – sexo, cor ou raça, idade, estado civil, situação de domicílio, níveis de escolaridade e de renda – dos indivíduos contribuintes devido às mudanças sociais e nas relações de dependência acarretadas pelo aumento relativo do número de idosos. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) dos anos de 2005 e 2015 submetidos a modelo de regressão logística em que a contribuição à previdência privada foi tomada como variável dependente. Os resultados mostram que, tanto em 2005 como em 2015, a proporção de pessoas contribuintes é pequena em relação a de não contribuintes (menos de 3%). O perfil demográfico mais propenso a dispensar recursos extras para fins de aposentadoria é o de homens brancos residentes em regiões urbanas. Além disso, a variável se relaciona positivamente com a idade, com a escolaridade e com o nível de renda. Os resultados dos modelos logísticos corroboram essas análises, mostrando redução de diferenciais por sexo, mas aumento de disparidades raciais no que tange à contribuição à previdência privada em 2015 em relação a 2005.

Palavras-chave: previdência privada, características demográficas, envelhecimento.

(2)

2

1 Introdução

A transição demográfica se constitui como a mudança ocorrida na dinâmica populacional a partir de uma série de fatores que resultam em transformações sociais, econômicas e culturais. Ela é caracterizada pela queda nas taxas de mortalidade, seguida por declínios nos níveis de fecundidade de uma população (Lee, 2003).

Avanços no padrão de vida proporcionados pelo aumento ao acesso a recursos de saúde e saneamento e o desenvolvimento tecnológico na medicina possibilitaram a melhoria das condições de sobrevivência e propiciaram a queda da mortalidade (Lee, 2003). Tais condições levaram à queda nas taxas de fecundidade intensificada por transformações sociais, tais como, o maior acesso de jovens a instituições educacionais, maiores níveis de profissionalização, a entrada de mulheres no mercado de trabalho e a queda da importância do casamento (Lutz, 2007).

O resultado imediato é o crescimento populacional, visto que o decréscimo no número de nascimentos ocorre num ritmo mais lento que o decréscimo na quantidade de óbitos. Desse modo, um dos primeiros efeitos deste processo é o aumento relativo do número de indivíduos pertencentes às faixas de idade economicamente ativas (15 a 64 anos), fato que pode causar crescimento na demanda por trabalho e pressões migratórias (Reher, 2011).

A posteriori, os baixos níveis de fecundidade acarretam o envelhecimento populacional, uma vez que nasce um menor número de crianças em relação ao número de adultos vivos, ou seja, há declínio no nível de reposição populacional. Uma população mais velha implica pressões nas decisões político-governamentais no que se refere à manutenção da estabilidade no mercado de trabalho e nos sistemas de pensão e previdência (Lee, 2003).

Desse modo, tem-se que o aumento da esperança de vida, originado da transição demográfica, resulta em transformações econômicas e sociais que podem ser vistas como benéficas, tais como o maior acesso à educação e à informação, o desenvolvimento tecnológico e o acesso mais amplo aos cuidados à saúde. No entanto, pode-se elencar, também, os desafios que devem ser enfrentados: a desestruturação dos sistemas de financiamento previdenciário, devido ao

(3)

3 envelhecimento da população e a consequente necessidade de se tomar medidas que diminuam a pressão resultante do crescimento da taxa de dependência de idosos em relação à população em idade ativa (Bloom; Canning, 2006; Clements; Dybczak; Soto, 2016).

Beltrão et al (2004) argumentavam no início da década de 2000 que as perspectivas eram de uma tendência de crescimento da utilização de mecanismos privados de previdência. Os autores explicam tal fenômeno através do aumento da percepção da necessidade de autofinanciamento para fins de aposentadoria e do crescimento da indústria de fundos de pensão.

Assim, torna-se relevante compreender a forma como a população economicamente ativa utiliza mecanismos de previdência privada. Este estudo objetiva, portanto, destacar os determinantes demográficos pertinentes à caracterização da população contribuinte de planos privados de previdência.

A análise realizada concerne na descrição do perfil por sexo, raça, idade, renda do trabalho, escolaridade e situação de domicílio a partir de informações em dois pontos no tempo, coletadas nas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNADs) de 2005 e 2015. Além disso, também foram realizadas estimativas da forma como as variáveis descritas se relacionam com a detenção de conta de previdência privada.

Este artigo se estrutura em quatro seções, além desta Introdução. A seguir, uma revisão bibliográfica de temas ligados à transição demográfica e ao envelhecimento populacional e uma seção que descreve os procedimentos metodológicos adotados. Em seguida, a apresentação dos resultados e as discussões finais.

2 Revisão Bibliográfica

O termo transição demográfica determina as mudanças nas estruturas de uma população ao longo de determinado período de tempo em conjunto com transformações sociais, econômicas e tecnológicas (LEE, 2003). Este fenômeno é constituído a partir de modificações nas taxas vitais, mortalidade e fecundidade, que deixam de apresentar altos valores e declinam durante o processo.

A dinâmica populacional se relaciona às condições existentes: o acesso a recursos de saúde, instituições de educação, urbanização, dentre outros e exerce

(4)

4 influência direta ou indireta no crescimento de uma população, segundo Lee e Mason (2006). Em termos técnicos, a transição demográfica é definida como a queda nas taxas de mortalidade, seguidas por quedas nas taxas de fecundidade, algo que reduz a velocidade de crescimento de uma população ou, até mesmo, o faz tornar-se negativo, de acordo com Reher (2011).

Entretanto, não se trata de um processo imediato e homogêneo. As transformações em populações variam espacial e temporalmente, ou seja, depende de especificidades regionais e culturais, bem como não ocorrem ao mesmo tempo em todos os lugares, conforme demonstrado por Brito (2008) em estudo da transição demográfica no Brasil. Além disso, Omran (1971) discute a teoria da transição epidemiológica que se refere às transformações nos padrões de saúde e de doenças que acometem a humanidade ao longo dos períodos de transição demográfica. Trata-se, em termos gerais, da queda da incidência de doenças infectocontagiosas e do aumento no número de ocorrências de doenças crônico-degenerativas.

As mudanças ocorreram, a princípio, na Europa no início do século XX e se caracterizaram pelo intercâmbio de sociedades predominantemente rurais com altos níveis de natalidade e mortalidade para sociedades urbanas com taxas de natalidade e mortalidade menores (Lee, 2003). Os resultados imediatos são o aumento da expectativa de vida e o crescimento populacional, visto que as taxas de mortalidade caem em ritmos mais acelerados que os das taxas de fecundidade.

Tal crescimento populacional pode designar o que é denominado como “bônus demográfico”, caracterizado pelo maior número de pessoas em idade economicamente ativa (15-64 anos) relativamente àquelas em idade de dependência (0-14 e 65 anos ou mais). O maior número de indivíduos em idade de trabalhar constitui oportunidades para um país, pois proporciona o crescimento econômico devido ao maior número de pessoas em atividades de produção (Jimenez; Murthi, 2006). Trata-se, segundo Bloom, Canning e Sevilla (2003), da oportunidade que governos têm para aproveitar a maior disponibilidade proporcional de pessoas em idades produtivas a fim de promover o desenvolvimento econômico.

No entanto, o ritmo contínuo de decréscimo nas taxas de fecundidade limita a existência do bônus. O resultado é o envelhecimento da população, revertendo a

(5)

5 relação de dependência entre as pessoas ocupadas no mercado de trabalho e as desocupadas. Dessa forma, cria-se um maior número de idosos em relação às pessoas em idade ativa, fato que impacta as relações de trabalho e os sistemas de previdência (Clements; Dybczak; Soto, 2016). Martin e Ogawa (1988) discutem os impactos do envelhecimento da população japonesa no mercado de trabalho e nos salários. Weil (1997) argumenta que, dentre as transformações causadas pelo envelhecimento, estão a maior estrutura de gastos governamentais com transferências.

Segundo Brito (2008), o Brasil ainda passa por uma fase de crescimento populacional. O autor argumenta que a população brasileira em idade ativa deve crescer até os anos 2040-2050. Entretanto, o processo de transição demográfica no país difere de região para região, devido a circunstâncias sociais e culturais, produzindo diferentes níveis de bônus demográficos ou janelas de oportunidade nas diversas regiões.

Vasconcelos e Gomes (2012), por sua vez, evidenciam que a dinâmica populacional brasileira tem passado por transformações desde a década de 1950 e também argumentam que o processo de envelhecimento não é homogêneo quando as regiões são comparadas. Entretanto, aquele estudo corrobora o decurso do crescimento da população e salienta a necessidade da existência de políticas públicas voltadas ao atendimento das demandas de uma população cada vez mais idosa. Paiva e Wajnman (2005) destacam também ser necessário tirar proveito do bônus demográfico brasileiro para reequilibrar o sistema de previdência no Brasil.

Dentre essa gama de medidas socioeconômicas voltadas a uma situação de contínuo envelhecimento da população, há discussões sobre a reinserção de idosos no mercado de trabalho e mudanças nas regras de aposentadoria, provocando transformações na estrutura de dependência (Clements; Dybczak; Soto, 2016). Além disso, argumenta-se sobre possibilidade de indivíduos autofinanciarem, através de mecanismos de poupança de recursos para períodos futuros, constituindo alternativas aos sistemas públicos de previdência e pensão (Bloom; Canning, 2006).

(6)

6

3 Metodologia

3.1 Dados e variáveis

Os dados que serão utilizados referem-se àqueles provenientes dos microdados de pessoas da Pesquisas Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2005 e de 2015. Foram coletadas as seguintes variáveis: ser ou não contribuinte de entidade de previdência privada; sexo, cor ou raça, idade em anos, escolaridade (anos de estudo, de zero a quinze), situação de residência (área rural ou urbana); estado civil; e rendimento no trabalho principal.

Por se tratar de trabalho que visa compreender a forma como a previdência privada é utilizada para fins de poupança e acumulação de recursos durante os anos de trabalho para fins de aposentadoria, restringiu-se o escopo da análise às pessoas em idade ativa. Portanto, os grupos etários presentes na amostra são os de idade de 15 a 64 anos.

Por questões de proporcionalidade nas amostras, as variáveis de cor ou raça e estado civil foram recategorizadas. Para cor ou raça, os indivíduos foram classificados em “brancos” e “não brancos”, esta última contendo os autodeclarados como pretos, pardos, amarelos e indígenas. A variável Estado civil, por sua vez, recebeu as classificações de “casado” e “não casado”, que engloba solteiros, divorciados, separados judicialmente e viúvos.

3.2 Método

O método proposto é um modelo de escolha qualitativa em que a variável resposta foi averiguada para as variáveis demográficas elencadas acima. Assim, as razões de chance (odds ratio) foram estimadas, podendo-se compreender as relações probabilísticas entre o fato de ser contribuinte de previdência privada e as características individuais em dois momentos no tempo, 2005 e 2015.

Estimou-se modelos logísticos que relaciona a variável dependente às variáveis independentes de forma linear e os coeficientes estimados representam o logaritmo das razões de chance de sucesso e insucesso dos construtos analisados. Pode-se designar o modelo conforme a equação (1).

𝑦𝑖 = 𝛽0+ 𝛽1𝑠𝑒𝑥𝑜 + 𝛽2𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 + 𝛽3𝑟𝑎ç𝑎 + 𝛽4𝑒𝑠𝑐 + 𝛽5𝑠𝑖𝑡𝑑𝑜𝑚 + 𝛽6𝑟𝑒𝑛𝑑𝑡𝑟𝑎𝑏 (01) Em que:

(7)

7 𝑦𝑖: variável dependente categórica, concernente à contribuição ou não do respondente i à previdência privada;

𝛽0: intercepto;

𝑠𝑒𝑥𝑜: 0 – feminino e 1 masculino; 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒: idade em anos;

𝑟𝑎ç𝑎: variável cor ou raça 0 – não branca e 1 - branca; 𝑒𝑠𝑐: escolaridade em anos de estudo;

𝑠𝑖𝑡𝑑𝑜𝑚: situação de domicílio, 0 – rural e 1 - urbana; 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑡𝑟𝑎𝑏: renda mensal do trabalho principal do indivíduo; 𝛽𝑖: coeficientes estimados (i = 1,..., 7).

4 Resultados

A ocorrência de casos de contribuição à previdência privada pode ser avaliada por meio de sua proporção em relação ao total de pessoas com idades de 15 a 64 anos. Os dados da Tabela 1 reportam, em termos percentuais, que a distribuição de contribuintes privados é ínfima quando comparada ao número de não contribuintes, além de não ter apresentado aumento significativo entre 2005 e 2015.

A Tabela 1 também mostra as proporções das demais variáveis categóricas utilizadas neste estudo. Nota-se, nos dois anos, predominância de pessoas do sexo feminino, pessoas declaradas como pretas, pardas, amarelas e indígenas e de residentes de áreas urbanas. Em 2015, a proporção de solteiros, divorciados e viúvos apresenta um montante significativo quando comparado ao número de indivíduos casados.

Para fins comparativos, foram apresentados os percentuais de contribuintes de regimes públicos de previdência. O número de pessoas que participam de algum tipo de sistema público é cerca de 20 vezes maior que o de contribuintes privados. Além disso, o crescimento entre os anos de 2005-15 pode refletir um maior nível de formalidade nas relações de trabalho e de emprego experimentado no país durante a década.

(8)

8

Tabela 1: Distribuição percentual das variáveis categóricas, PNADs de 2005 e de 2015

Variável 2005 2015 Previdência privada Sim 2,33% 2,56% Não 97,67% 97,44% Sexo Masculino 48,37% 48,33% Feminino 51,63% 51,66% Raça Branca 46,16% 41,16% Não branca 53,83% 58,84% Situação de domicílio Rural 15,27% 13,82% Urbana 84,73% 86,18% Estado civil* Casado - 6,31% Não casado - 93,69% Previdência pública Sim 48,28% 62,32% Não 51,71% 37,68%

*Variável não disponível na PNAD 2005.

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), (IBGE, 2005; 2015).

A maior adesão aos planos públicos de previdência pode explicar a baixa adesão observada nos regimes privados. Por isso, cabe analisar o perfil deste contribuinte. A Tabela 2 explicita as proporções de indivíduos que contribuíam em 2005 e 2015, caracterizados em cada uma das variáveis. O perfil que se observa é de que homens brancos residentes em áreas urbanas e não casados (somente 2015) são mais propícios a deter contas de previdência privada.

Tabela 2: Perfil do contribuinte de previdência privada por características demográficas, PNADs 2005 e 2015

Previdência privada

2005 2015

Sexo Sim Não Sim Não

Masculino 1,36% 47,00% 1,34% 46,99%

Feminino 0,97% 50,67% 1,22% 50,45%

Raça Sim Não Sim Não

Branco 1,61% 44,55% 1,60% 39,56%

Não branco 0,72% 53,12% 0,95% 57,88%

Situação de domicílio Sim Não Sim Não

Rural 0,09% 15,18% 0,07% 13,76%

Urbana 2,24% 82,49% 2,49% 83,69%

Estado civil* Sim Não

Casado 0,15% 6,15%

Não casado 1,73% 91,97%

*Variável não disponível na PNAD 2005.

(9)

9 Pode-se identificar, ainda, a forma como características como idade, escolaridade e salário se relacionam com a detenção de conta privada de previdência. Observa-se, por meio da Figura 1, que este contribuinte apresenta, em 2015, idades adultas mais avançadas (acima dos 35 anos), níveis educacionais mais elevados (acima de 11 anos de estudo) e renda do trabalho também mais alta.

A análise realizada acima retrata um esforço em descrever a forma com que as características sociodemográficas se relacionam ao fato de um indivíduo ser ou não contribuinte de previdência privada. Cabe agora, verificar a extensão com que aquelas variáveis determinam estatisticamente as probabilidades de ser ou não detentor de conta de previdência privada. Analisa-se, portanto, os resultados do modelo logístico apresentados na Tabela 3.

A maior parte dos efeitos das variáveis independentes são significativos a 1% nos dois anos analisados. As exceções são de Estado civil, que só é estatisticamente significativa ao nível de 10% e Sexo, cujo coeficiente estimado não é diferente de zero para o ano de 2015.

Os resultados para 2005 mostram que, conforme mostrado na Tabela 2, homens tinham uma chance, aproximadamente, 34% superior à chance de mulheres de ser contribuinte de previdência privada, ceteris paribus. A ausência de significância estatística em 2015 implica menor disparidade nas probabilidades de

Figura 1: Perfil do contribuinte de previdência privada por idade, escolaridade e rendimento no trabalho, PNAD 2015.

(10)

10 pessoas de diferentes sexos de serem contribuintes, algo que pode ser consequência de maiores níveis de escolaridade e de profissionalização de mulheres.

Tabela 3: Razões de chance do modelo logístico da contribuição em previdência privada em características demográficas, PNADs 2005 e 2015

Variável 2005 2015

Sexo Masculino 1,3413 1,0195

P-valor 0,0000 0,6599

Idade 1,0278 1,0173

P-valor 0,0000 0,0000

Raça Não branca 0,7560 0,6799

P-valor 0,0000 0,0000

Escolaridade 1,2775 1,1957

P-valor 0,0000 0,0000

Situação domicílio Urbana 1,5509 3,3817

P-valor 0,0000 0,0000

Rendimento do trabalho 1,0002 1,0001

P-valor 0,0000 0,0000

Estado civil* Não casado 0,8775

P-valor 0,0988

AIC 37.840 19.750

LogLikelihood -18.913,52 -9.867,38

*Variável não disponível na PNAD 2005. Fonte: Elaboração própria.

Nos dois anos, nota-se que o aumento da idade e da escolaridade resulta em maiores chances de existência de conta de previdência. No entanto, em ambos as variáveis, há alguma suavização do efeito, indicando um possível aumento da escolaridade no período e uma maior adesão a esses tipos de plano em idades cada vez mais jovens.

O aumento da razão de chance de Situação de domicílio – de 1,55 em 2005 para 3,38 em 2015 – pode ser resultado de uma grande concentração de pessoas residentes em áreas urbanas e, consequentemente, resultado de um efeito de composição. Por outro lado, deve-se considerar que residir em grandes cidades facilita o acesso às instituições financeiras.

A contribuição à previdência privada, tal como visto na Figura 1, é positivamente relacionada ao rendimento do trabalho. Mesmo que num grau relativamente baixo, maiores salários acarretam maiores chances de que o trabalhador lance mão estratégias diversificadas de investimento, dentre elas, recursos para complementar a aposentadoria. Tem-se, ainda, que pessoas casadas eram mais propensas, em 2015, a deter contas de previdência privada – a chance

(11)

11 de uma pessoa solteira, separada ou viúva era apenas 88% da chance de uma pessoa casada, mantidas as demais variáveis em níveis constantes.

Por fim, os resultados da variável Raça denotam algum grau de desigualdade racial no que tange à utilização de previdência privada como meio de poupar recursos. Em 2005, a chance de pretos, pardos, indígenas e amarelos de ser contribuinte era, aproximadamente, 0,76 vezes a chance de uma pessoa autodeclarada branca, ceteris paribus. Diferença que aumentou em 2015, fazendo com que a chance caísse para 0,68, que pode ser consequência de diferenciais raciais em diversos outros quesitos, tais como, nível educacional, saúde, condições de trabalho, etc., em que pretos, pardos, indígenas e amarelos têm desvantagens em relação aos brancos.

5 Discussão

Este trabalho apresentou o objetivo de analisar os perfis e determinantes demográficos da contribuição de indivíduos a regimes privados de previdência. Para tanto, características como sexo, raça, idade, escolaridade, situação de domicílio, salário e estado civil foram relacionadas às probabilidades de uma pessoa ser contribuinte. Foram utilizadas as PNADs de 2005 e de 2015.

A importância de tal análise se encontra no fato de que as consequências do esgotamento do processo de transição demográfica implicam em inúmeros desafios que impactam a dinâmica político-econômica de países e governos, segundo Reher (2011). Dentre eles, o envelhecimento populacional, que provoca aumento da razão de dependência através do crescimento relativo do número de idosos (Weil, 1997).

Tais transformações têm impacto no mercado de trabalho, nos serviços de saúde e nos sistemas de previdência e pensão. Questiona-se, com um maior número de idosos, a sustentabilidade das estruturas de financiamento da seguridade social (Clements; Dybczak; Soto, 2016). Dentre as alternativas discutidas, fala-se em aumento da idade à aposentadoria e a adoção de regimes complementares e particulares de poupança e acumulação de recursos para as idades avançadas.

Nesse sentido, o presente estudo tomou como unidade de análise a caracterização como contribuinte ou não de previdência privada a fim de traçar um perfil atual e num passado recente de sua distribuição na população brasileira, considerando que esta experimenta um processo de envelhecimento. Os resultados

(12)

12 mostram ínfima ocorrência de indivíduos que detêm contas de previdência privada nos dois anos analisados, ao passo que o regime público apresenta grande adesão – devido à obrigatoriedade da participação.

Há, aparentemente, um perfil de pessoas que realizam este tipo de investimento: homens brancos e residentes de áreas urbanas. A relação é positiva para idade, nível de escolaridade e nível de renda, ou seja, pessoas mais velhas, com mais anos de estudo e salários maiores são as que mais destinam recursos extras para fins de aposentadoria.

O modelo de regressão logística corrobora esses achados, com a especificidade de que a variável Sexo perde relevância em 2015, podendo-se conjecturar que tal fato seja resultado de diminuições de desigualdades de gênero no acesso à escolaridade, maior profissionalização e acesso aos mercados financeiros por mulheres. Os efeitos de Idade e de Escolaridade diminuíram em 2015, algo que implica em maior dissolução da caracterização como contribuinte nos diferentes grupos etários e em maior nível educacional da população.

O perfil racial do contribuinte privado ainda carrega questões pautadas pela desigualdade. Pessoas autodeclaradas pretas, pardas, indígenas e amarelas apresentaram menores propensões a possuir conta de previdência privada, resultados que pioraram em 2015 quando comparadas às pessoas autodeclaradas brancas. Tal diferencial pode ser consequência de aspectos de desigualdade racial oriundos de outras searas sociais e históricas, tais como, pobreza e precariedade nas condições de saúde, de educação e de trabalho.

As evidências mostram que a preferência da população brasileira em idade ativa por mecanismos privados de previdência ainda é pequena, podendo-se dizer, contudo, que há uma caracterização demográfica que ajuda a explicar tal comportamento. Dentre elas, os perfis etário e de renda, além da existência de diferenciais raciais. Ressalta-se, contudo, que as características sociodemográficas e o recorte temporal utilizados neste trabalho não exaurem as possibilidades de descrição do perfil do contribuinte de previdência privada, constituindo apenas uma análise inicial do tema. Este pode ser retomado na tentativa de construção de abordagens futuras que permitam uma compreensão profunda do fenômeno analisado.

(13)

13

Referências Bibliográficas

BELTRÃO, K. I.; LEME, F. P.; MENDONÇA, J. L.; SUGAHARA, S. Análise da estrutura a previdência privada brasileira: evolução do aparato legal. Texto para discussão. IPEA, 2004.

BLOOM, D. E.; CANNING, D. Booms, busts and echoes. Finance and

Development, v. 43, n. 3, p. 8-15, 2006.

BLOOM, D.; CANNING, D.; SEVILLA, J. The demographic dividend: a new perspective on the economic consequences of population change. Santa Monica: Rand Corporation, 2003.

BRITO, F. Transição demográfica e desigualdades sociais no Brasil. Revista

Brasileira de Estudos Populacionais, v. 25, n. 1, p. 5-26, 2008.

CLEMENTS, B.; DYBCZAK, K.; SOTO, M. Older and smaller. Finance and

Development, v. 53, n. 1, p. 12-15, 2016.

HARPER, S. Economic and social implications of aging societies. Science, v. 346, n. 6209, p. 587-591, 2014.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2005. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 2018.

IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2015. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 2018.

JIMENEZ, E. Y.; MURTHI, M. Investing in the youth bulge. Finance and

Development, v. 43, n. 3, p. 9, 2006.

LEE, R. The demographic transition: three centuries of fundamental change. Journal

of Economic Perspectives, v. 17, n. 4, p. 167-190, 2003.

LEE, R.; MASON, A. What is the demographic dividend? Finance and

Development, v. 43, n. 3, p. 16, 2006.

LUTZ, W. The future of human reproduction: will birth rates recover or continue to fall? Ageing Horizons, v. 7, n. 1, p. 15-21, 2007.

MARTIN, L. G.; OGAWA, N. The effect of cohort size on relative wages in Japan. In: LEE, R.; ARTHUR, W.B.; RODGERS, G. (Ed.). Economics of changing age

distributions in developed countries. Oxford: Oxford University Press, 1988, p.

59-73.

OMRAN, A. R. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change. The Milbank Memorial Fund Quarterly, v. 49, n. 4, p. 509-538, 1971.

PAIVA; P. T. A.; WAJNMAN, S. Das causas às consequências econômicas da transição demográfica no Brasil. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, v. 22, n. 2, p. 303-322, 2005.

(14)

14 REHER, D. S. Economic and social implications of the demographic transition.

Population and Development Review, v. 37, n. 1, p. 11-33, 2011.

VASCONCELOS, A. M. N.; GOMES, M. M. F. Transição demográfica: a experiência brasileira. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 21, n. 4, p. 539-548, 2012.

WEIL, D. N. The economics of population aging. In: ROZENZWEIG, M.; STARK, O. (Org.). Handbook of population and Family economics. North-Holland, 1997, p. 968-1114.

Referências

Documentos relacionados

Martins e De Luca (1994) mencionam que o passivo ambiental é toda a agressão que se pratica ou praticou contra o meio ambiente. Uma empresa possui um passivo ambiental quando

Pode-se perceber que a COTRISOJA, como uma organização que está inserida em uma comunidade e dependente desta para a concretização de seus objetivos não foge de

São considerados custos e despesas ambientais, o valor dos insumos, mão- de-obra, amortização de equipamentos e instalações necessários ao processo de preservação, proteção

Para evitar danos ao equipamento, não gire a antena abaixo da linha imaginária de 180° em relação à base do equipamento.. TP400 WirelessHART TM - Manual de Instrução, Operação

Os maiores coeficientes da razão área/perímetro são das edificações Kanimbambo (12,75) e Barão do Rio Branco (10,22) ou seja possuem uma maior área por unidade de

A necessidade de mudanças radicais nos modelos de produção linear e tradicional, para produção em células e outras horizontalizadas, criaram também necessidades

Considerando a existência (bastante plausível, senão generalizada, como visto introdutoriamente) de uma sequência temporal ou lógica entre as decisões a serem

Estou ciente de que após a assinatura do termo de acordo a petição será protocolada no Fórum, e a baixa de restritivos junto ao SPC e SERASA, bem como baixa de protesto,