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MARIA ALCINETE GOMES DE MENEZES

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

CURSO DE LICENCIATURA INTERDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO DO CAMPO

MARIA ALCINETE GOMES DE MENEZES

OS CONCEITOS DE LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO COMO NORTEADORES DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM

EDUCAÇÃO DO CAMPO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR

MOSSORÓ/RN 2018

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MARIA ALCINETE GOMES DE MENEZES

OS CONCEITOS DE LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO COMO NORTEADORES DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM

EDUCAÇÃO DO CAMPO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR

Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Licenciada em Educação do Campo com Habilitação em Ciências Humanas e Sociais.

Orientador: Prof. Dr. José Erimar dos Santos

MOSSORÓ/RN 2018

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© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n° 9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.

M541c Menezes, Maria Alcinete Gomes de.

OS CONCEITOS DE LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO COMO NORTEADORES DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM EDUCAÇÃO DO CAMPO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR / Maria Alcinete Gomes de Menezes. - 2018.

61 f. : il.

Orientador: José Erimar dos Santos.

Monografia (graduação) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Curso de Educação do Campo, 2018.

1. Ensino de Geografia. 2. Educação do Campo. 3. Lugar. 4. Paisagem. 5. Território. I. Santos , José Erimar dos , orient. II. Título.

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MARIA ALCINETE GOMES DE MENEZES

OS CONCEITOS DE LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO COMO NORTEADORES DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM

EDUCAÇÃO DO CAMPO NO SEMIÁRIDO POTIGUAR

Monografia apresentada à Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Licenciada em Educação do Campo com Habilitação em Ciências Humanas e Sociais.

Defendida em: _____ / _____ / 2 __________.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Orientador, Prof. Dr. José Erimar dos Santos (UFERSA)

Presidente

_________________________________________ Profª. Ma. Maria José Costa Fernandes (UERN)

Membro Examinadora Externa

_________________________________________ Prof. Me. Emerson Augusto de Medeiros (UFERSA)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por se fazer presente em todos os momentos de minha vida, por me ter dotado de saúde, sabedoria e disposição para alcançar, iniciar e finalizar este trabalho de conclusão de curso.

À minha mãe e ao meu pai, Antônia Gomes e Lavosier Filgueira, que com toda humildade e simplicidade, ensinou-me a ser uma pessoa decente, a respeitar e a buscar meus sonhos de forma honesta, ainda que seja com muito esforço e trabalho, mas sem nunca passar por cima de nenhum semelhante, respeitando sempre o próximo como a eu mesma.

Aos meus dois filhos Linaeus Euller e Irineu Junior por entenderem as minhas ausências.

Aos meus/minhas irmãos/irmãs Leornado Menezes, Leandro Menezes, Alciene Menezes e Alcilene Menezes por me incentivar a permanecer na universidade mesmo diante das dificuldades.

A todos/as os/as professores/as do Curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo (LEDOC), em especial ao meu orientador Prof. Dr. José Erimar dos Santos, pelo compromisso no desenvolvimento desta pesquisa colaborando para que eu fizesse um bom trabalho e não desanimasse no meio do caminho. Obrigada pela generosidade e afeto que contribuíram para o meu trabalho.

A todos/as meus/minhas amigos/as de luta que fizeram parte de toda trajetória acadêmica.

À Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), por me proporcionar um ensino de qualidade.

Ao professor/a da banca examinador/a Prof. Me. Emerson Augusto de Medeiros e a Profª. Ma. Maria José Costa Fernandes pelas contribuições que complementarão este trabalho nessa fase importante de minha vida acadêmica.

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“Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”

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RESUMO

O presente trabalho instiga uma discussão acerca do ensino e aprendizagem de Geografia na Educação do Campo. O objetivo é analisar as categorias geográficas: Lugar, Paisagem e Território enquanto possibilidades teórico-metodológicas tomando por base empírica o município de Apodi/RN. Para o desenvolvimento desta pesquisa foram necessárias algumas etapas metodológicas: a) pesquisa bibliográfica, na qual permitiu uma fundamentação teórica a partir de diversas experiências e estudos, realizada em artigos e livros, cujos autores principais foram: Callai (2000); Santos (2006); Calvalcanti (2013); Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009); Santos e Silveira (2006); Fernandes e Molina (2004); Santos (2015), dentre outros; b) pesquisa documental realizada junto aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), (BRASIL, 1997, 1998, 2000); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), (BRASIL, 1996); c) investigação empírica no município de Apodi com a utilização e análises das imagens de satélites do Google Earth Pro. Como resultados, podemos destacar a relevância das categorias geográficas (Lugar, Paisagem e Território) para construção de novos conhecimentos, podendo vir, através de algumas metodologias e práticas pedagógicas, facilitar o entendimento dos/as estudantes sobre os conteúdos de Geografia, tornando o Ensino de Geografia contextualizado e significativo para os/as estudantes situados nas escolas do campo. Com isso, percebemos a importância da prática pedagógica em que sejam levados em consideração os conhecimentos prévios trazidos pelos/as estudantes para o âmbito escolar, e que tome o município como escala de partida para compreender os processos espaciais. Palavras-chave: Ensino de Geografia. Educação do Campo. Lugar. Paisagem. Território

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Igreja Matriz de Apodi (1918) …...42

Figura 2 – Igreja Matriz de Apodi (2013) ...42

Figura 3 – Paisagem da Vegetação do Semiárido no Período Chuvoso……...43

Figura 4 – Paisagem da Vegetação do Semiárido no Período de Estiagem ………...43

Figura 5 – Barragem de Santa Cruz (Uso do Território pelo Turismo) ……...44

Figura 6 _ Paisagem da Comunidade de Melancias, Situada na Região das Pedras em Apodi/RN...45

Figura 7 _ Paisagem da Região das Pedras...45

Figura 8 _ Aspectos do Lugar Constitutivos da Paisagem da Comunidade de Melancias, Zona Rural do Município de Apodi/RN...47

Figura 9 _ Elemento (Objeto Técnico – Torre de Telefonia Celular) da Globalização Presente no Campo...48

Figura 10 _ Usos Agrícolas do Território na Chapada do Apodi, Município de Apodi/RN...49

Figura 11 _ Uso do Território na Chapada do Apodi, Município de Apodi/RN: Destaque para a Extração de Petróleo...50

Figura 12 _ Uso do Território na Chapada do Apodi, Município de Apodi/RN: Destaque para a Extração de Calcário...50

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ARCAFAR Associação Regional das Casas Familiares Rurais CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

ENERA Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma Agrária GPS Sistema de Posicionamento Global

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LEDOC Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

RN Rio Grande do Norte

STTR Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi UFERSA Universidade Federal Rural do Semi-Árido

UnB Universidade de Brasília

UNEFAB União Nacional das Escolas Famílias Agrícola no Brasil UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...09

2 AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO: IMPORTÂNCIA PARA A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO...12

2.1 O Ensino de Geografia e a Educação do Campo...13

2.2 O Conceito de Lugar...20

2.3 O Conceito de Paisagem...23

2.4 O Conceito de Território...26

3 DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO...29

3.1 Possibilidades metodológicas para o ensino e aprendizagem dos conceitos Lugar, Paisagem e Território: o Município de Apodi/RN como exemplo empírico...32

3.1.1 O Estudo do Meio...33

3.1.2 O Estudo do município...37

3.1.3 O Trabalho de Campo...38

3.1.4 Usos de Novas Tecnologias...39

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...55

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico versa sobre os conceitos de Lugar, Paisagem e Território enquanto norteadores dos processos de ensino e aprendizagem em Geografia ligados à Educação do Campo, no contexto do semiárido potiguar. O objetivo central é analisar as categorias geográficas: Lugar, Paisagem e Território enquanto possibilidades teórico-metodológicas de promoção da Educação do Campo. Como objetivos específicos visa: (i) Refletir sobre os desafios, no processo de ensino e aprendizagem, dessas categorias geográficas na promoção da Educação do Campo; (ii) Discutir possibilidades de se trabalhar os conceitos-chave da Geografia, tomando por base a escala geográfica do município.

Buscamos compreender possibilidade do Ensino de Geografia no contexto da Educação do Campo, de forma que seja significativa e contextualizada com a realidade local dos/as estudante, na qual o/a professor/a possa trabalhar com os conteúdos que perpassam as vivências, as singularidades e as relações de pertencimento com o Lugar, considerando as transformações que ocorrem nas Paisagens, expressas no arranjo de materialidades naturais e pelas ações sociais e culturais. Em meio a que foi dito destacamos, também, como as relações de poder acontecem no espaço geográfico, destacando a importância disso na compreensão do Território de inserção dos/das educandos/as frisando sobremaneira aspectos ligados aos usos do território do Município de Apodi.

O ensino de Geografia na Educação do Campo é de fundamental importância para entendermos as inter-relações que acontecem no espaço geográfico. A Geografia tem papel essencial, no que diz respeito aos seus conceitos-chave (Lugar, Paisagem, Território) por tratar das questões do espaço vivido dos sujeitos, das produções agrícolas no território, as quais causam modificações nas paisagens rurais do semiárido potiguar, lembrando que os conceitos-chave da Geografia também são compostos por (Região e Espaço). É relevante abordamos sobre os conceitos (Lugar, Paisagem e Território) para entendermos os conteúdos geográficos, de forma que o/a professor/a possa adequar suas práticas pedagógicas nas escolas no campo, com a finalidade de contribuir para formação do sujeito crítico e reflexível diante da dinâmica que acontece na sua espacialidade.

Neste trabalho, expomos os principais desafios no Ensino de Geografia e o porquê de isso gerar dificuldades na Educação do Campo, em particular. A partir das experiências vivenciadas com as práticas pedagógicas desenvolvidas no projeto de extensão:1

1

O referido projeto de extensão foi realizado no curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo (LEDOC), no ano de 2016-2017.

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Aproximações entre a Geografia e crianças e jovens do ensino fundamental residentes em assentamentos rurais do oeste potiguar, pontuamos três desafios pertinentes, a saber: a)

os/as estudantes rurais têm uma vaga leitura sobre os conceitos-chave da Geografia (Lugar, Paisagem e Território), pois os conteúdos programáticos sobre estes são, geralmente, trabalhados de modo superficial uma vez que, os/as professores/as ficam presos aos livros didáticos e, consequentemente, não contextualizam os conteúdos com a realidade local dos/as estudantes; b) os/as professores/as que ministram aulas de Geografia nas escolas campesinas geralmente são oriundos da cidade, trazendo para sala de aula outras realidades, e, por sua vez, não são formados na área específica (Geografia e/ou Educação do Campo) e não fazem/têm formação continuada; c) há falta de políticas públicas de apoio ao ensino na Educação no Campo, visto que muitas escolas do campo são fechadas e os/as estudantes têm que percorrer longas distâncias até chegar na escola da cidade, trazendo inúmeros fatores que influenciam na aprendizagem desse público.

Almejamos que este trabalho sirva como suporte pedagógico e contribua no processo de ensino e aprendizagem de Geografia nas escolas do campo, a partir da utilização de possibilidades didático-pedagógicas que tenha o município como ponto inicial de estudos e abordagem de conteúdos geográficos à luz dos conceitos Paisagem, Lugar e Território.

Outra razão, que nos motivou a desenvolver esta pesquisa é o fato de saber que os conceitos-chave (Lugar, Paisagem e Território) são categorias fundamentais no Ensino de Geografia para promover uma Educação do Campo, já que por meio deles é mais fácil dar sentido e significado aos conteúdos teóricos vistos em sala de aula sendo, pois importantes nas práticas pedagógicas nas escolas do campo, em que por meio dos conteúdos possa desenvolver as habilidades e o interesse dos/as estudantes pela disciplina de Geografia, tomando como base a realidade vivida dos/das mesmos/as, as materialidades, as ações do entorno e as relações de poder do contexto.

Há necessidades de serem apresentadas possibilidades metodológicas com base na realidade local, paisagística e territorial do Município de Apodi, trazendo assuntos empíricos para trabalhar os conceitos de Lugar, Paisagem e Território, no sentido, que possam acontecer reflexões para que o ensino e a aprendizagem ocorram de forma significativa e contextualizada.

O presente estudo realizado por meio de periódicos, revistas, artigos e livros para o embasamento teórico do tema proposto com as análises das concepções dos autores: Callai (2000); Santos (2006); Calvalcanti (2010); Pontuschka, Paganelli e Cacete (2009); Santos e Silveira (2006); Fernandes e Molina (2004); Santos (2015). A pesquisa documental

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realizada junto aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), (BRASIL, 1997, 1998, 2000); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), (BRASIL, 1996) e com a investigação empírica no município de Apodi fazendo análise das imagens de satélite do Google Earth Pro, enquanto possibilidade ligada às novas tecnologias relativas ao ensino e à aprendizagem.

De acordo com Gil (1987, p. 71), “à pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos”. A pesquisa bibliográfica permitiu uma fundamentação teórica ampla a partir de diversas experiências e estudos que versam sobre os conceitos-chave (Lugar, Paisagem e Território), Ensino de Geografia na Educação do Campo. Com isso, o instrumento metodológico dessa pesquisa permitiu uma fundamentação a partir das experiências e estudos correlacionados à referida temática.

O trabalho está dividido em três capítulos. No capítulo 1, discorremos a parte introdutória, iniciamos com a apresentação e discussões da temática, objetivos, justificativa e a metodologia.

No capítulo 2, abordamos os conceitos-chave da Geografia (Lugar, Paisagem e Território). No subcapítulo 2.1, desse primeiro capítulo, discorremos sobre o Ensino de Geografia e a Educação do Campo. Em seguida, no subcapítulo 2.2, abordamos sobre o conceito de Lugar. Após isso, no subcapítulo 2.3, expusemos sobre o conceito Paisagem. Depois, no subcapítulo 2.4, discorremos sobre o conceito de Território.

No capítulo 3, destacamos os desafios para o Ensino de Geografia na Educação do Campo. No subcapítulo 3.1, apresentamos possibilidades metodológicas para trabalhar os conceitos-chave (Lugar, Paisagem e Território), tomando o Município de Apodi como exemplo empírico.

Em seguida, apresentamos as considerações finais. Nessa parte, retomamos o objetivo geral do trabalho, abordando o que foi constatado no desenvolvimento dos capítulos e subcapítulos.

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2 AS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS LUGAR, PAISAGEM E TERRITÓRIO: IMPORTÂNCIA PARA A PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO

O ensino e aprendizagem de Geografia na Educação do Campo necessita considerarmos as singularidades dos sujeitos campesinos/as. Isso implica ser de grande relevância as categorias geográficas (Lugar, Paisagem e Território) para formação crítica e reflexiva a partir de procedimentos metodológicos que devam partir das realidades e das particularidades do espaço vivido dos/das estudantes do campo.

Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) (BRASIL, 1998, p. 22), o ensino de Geografia nos currículos escolares, “[...] trouxe uma nova forma de interpretar as categorias de espaço, território e paisagem e influenciou, a partir dos anos 80, uma série de propostas curriculares”. Com isso, visando a melhoria no ensino de Geografia, na qual, precisamos buscar novas possibilidades metodológicas para que aconteça o ensino e aprendizagem de forma significativa na formação dos cidadãos, é que buscamos trabalhar com os conceitos-chave da Geografia (Lugar, Paisagem e Território), como categorias essenciais na promoção da Educação do Campo.

Sobre a importância do papel do/a professor/a, ainda Brasil (1998, p. 40) aborda que “seu papel deve ser o de um educador que está colocando o seu saber, como especialista, para criar condições para os alunos construírem um conhecimento crítico sobre o mundo”. Carece de metodologias que venham desempenhar um ensino contextualizado que desperte nos/as estudantes um novo olhar a respeito dos fatos que ocorrem na comunidade local para promover uma aprendizagem significativa.

Brasil (2000, p. 16) salienta que “Aprender a ser supõe a preparação do indivíduo para elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente às diferentes circunstâncias da vida”.

Com base na literatura estudada, vale salientarmos que vivemos no mundo composto por conflitos e tensões sociais, no qual devemos trabalhar com temáticas que reconstruam o valor das identidades2 campesinas, à valorização de determinada cultura3, as relações de pertencimento, as experiências de vida, o cuidado com o meio ambiente, trabalhando o saber Geográfico e a sua relevância para a formação do sujeito.

2

O conjunto de características que formam a feição de um determinado espaço se constituem a sua identidade. Os costumes, os valores, as tradições são elementos que, no seu conjunto, estruturam a identidade de um lugar (CALLAI, 2000, p. 119).

3

Cultura, portanto, é um conceito que abrange não apenas saberes, ideias, valores, mas igualmente práticas e construções do ser humano (VESENTINI, 2015, p. 14).

(15)

Brasil (1997, p. 76) aborda que “o estudo de Geografia possibilita, aos alunos, a compreensão de sua posição no conjunto das relações da sociedade com a natureza; como e porque suas ações, individuais ou coletivas”. Nessa abrangência, é deixado que os/as estudantes possam compreender as relações sociais, históricas, econômicas, políticas e culturais em seu entorno, para construção dos conhecimentos geográficos, sendo de fundamental importância que essa construção se dê a parti das categorias geográficas (Lugar, Paisagem e Território).

O ensino de Geografia nas escolas no campo, no exercício de práticas pedagógicas de forma interdisciplinar para uma Educação do Campo, deve mostrar ao alunado que as transformações geográficas acontecem a partir das relações entre a sociedade e a natureza. Brasil (1997, p. 77) aborda que “no ensino, professores e alunos deverão procurar entender que ambas — sociedade e natureza — constituem a base material ou física sobre a qual o espaço geográfico é construído”. Desse modo, precisamos planejar e criar possibilidades metodológicas fazendo com que os/as estudantes possam conhecer e refletir sobre a formação do espaço geográfico.

Considerando o exposto, observamos nos subcapítulos seguintes a relevância dos conceitos-chave (Lugar, Paisagem e Território), como elementos fundamentais no ensino-aprendizagem de Geografia, para promoção de uma Educação do Campo.

2.1 O Ensino de Geografia e a Educação do Campo

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) - Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996 - estabelece no Artigo 28 que “na oferta de Educação Básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região”. Nesse sentido, é necessário que os conteúdos curriculares e os procedimentos metodológicos sejam adequados às realidades e às particularidades dos/das estudantes da zona rural.

Os projetos educacionais voltados para a população do campo iniciaram em decorrência das lutas dos movimentos sociais e das organizações campesinas. Assim, foi criada a Educação do Campo. De acordo com Fernandes e Molina (2004, p. 11):

A idéia de Educação do Campo nasceu em julho de 1997, quando da realização do Encontro Nacional de Educadoras e Educadores da Reforma

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Agrária – ENERA, no campus da Universidade de Brasília - UnB, promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, em parceria com a própria UnB, o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.

Fernandes e Molina (2004, p. 12) destacam que esse processo da Educação do Campo começou com a I Conferência Nacional Por Uma Educação Básica do Campo, realizada em 1998 e posteriormente com a realização da II Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo, em 2004. Na qual, se organizaram em busca de um novo projeto educacional para a população do campo a partir dos movimentos sociais camponeses e organizações, tais como:

[...] a participação do MST, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG, da União Nacional das Escolas Famílias agrícola no Brasil – UNEFAB e da Associação Regional das Casas Familiares Rurais - ARCAFAR, como protagonistas do desenvolvimento de projetos de educação em todos os níveis. (FERNANDES, MOLINA, 2004, p. 12).

De acordo com Fernandes e Molina (2004, p. 01), “o campo da Educação do Campo é analisado a partir do conceito de território, aqui definido como espaço político por excelência, campo de ação e de poder, onde se realizam determinadas relações sociais”. Nesta perspectiva, Educação do Campo surge a partir de muitas lutas dos povos campesinos em busca de melhores condições de vida a partir de uma educação que os possibilitam autonomia aprimorando e moldando os conhecimentos existentes formando, assim, cidadãos mais críticos e reflexivos diante das conjunturas impostas pela sociedade perpassando por toda estrutura econômica, cultural, política e social.

Para fundamentar o que foi dito, ainda Fernandes e Molina (2004, p. 09) abordam que “um princípio da Educação do Campo é que sujeitos da educação do campo são sujeitos do campo: pequenos agricultores, quilombolas, indígenas, pescadores, camponeses, assentados e reassentados, ribeirinhos”. Podemos refletir sobre a importância de uma Educação contextualizada com as vivências da população do campo, tendo em vista que todos/as são sujeitos que têm suas histórias, culturas e identidades. Então, devemos pensar em Educação que contemple as especificidades desse público, tendo em vista que a Educação do Campo “protagonizada pelos trabalhadores do campo e suas organizações, visa

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incidir sobre a política de educação desde os interesses sociais das comunidades camponesas” (CALDART, 2012, p. 259).

Fernandes e Molina (2004, p. 10), ressaltam que, “a Educação do Campo pensa o campo e sua gente, seu modo de vida, de organização do trabalho e do espaço geográfico, de sua organização política e de suas identidades culturais, suas festas e seus conflitos”. Assim, a Educação do campo pretende aprimorar os conhecimentos existentes dos sujeitos campesinos e suas potencialidades para valorização da realidade vivida, considerando que “o campo não é somente o território do negócio. É, sobretudo o espaço da cultura, da produção para a vida” (FERNANDES; MOLINA, 2004, p. 29).

Na perspectiva da Educação do Campo é indispensável o/a professor/a elaborar seus próprios conceitos/temáticas a serem trabalhados em sala de aula, partindo do contexto em que os/as estudantes estão situados. “O paradigma da Educação do campo tem cor, cheiro e saber. Tem mais tem o seu território. É à Educação do campo que compete elaborar os seus próprios conceitos” (FERNANDES; MOLINA, 2004, p. 31).

Seguindo as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo percebemos no parágrafo único que:

A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no país (BRASIL, 2002, p. 01).

De acordo com o que está escrito, no parágrafo único das Diretrizes, podemos perceber a sua relação com a Geografia, na qual está atrelado ao conceito de Lugar, abordando a importância dos conteúdos programados estarem ligados ao contexto vivido do/a estudante, no qual a escola necessita se adequar à realidade do/a estudante do campo de forma que leve em consideração as particularidades, as questões não só das produções agrícolas no campo, mas também, os modos e a qualidade de vida, tendo em vista que o campo não é espaço somente do trabalho é também Lugar de construção de conhecimentos, das relações de afetividades das memórias do sujeito.

Segundo Oliveira (1993, p. 137), “a grande maioria dos professores da rede de ensino sabe muito bem que o ensino atual da geografia não satisfaz nem ao aluno e nem mesmo ao professor que o ministra”. Por se tratar de um ensino descontextualizado, no qual seguem rigorosamente as propostas curriculares que são voltadas para as questões de poder

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do Estado. “Assim, deixando de lado questões peculiares tais como: as lutas por melhores qualidades de vida no campo, as formas de trabalho, a expropriação e exploração dos recursos naturais nos territórios brasileiros, entre outras questões (OLIVEIRA, 1993, p. 135).

Em conformidade o que foi dito, ainda Oliveira (1993, 137) problematiza: “e os professores de geografia, o que ensinam sobre esta realidade dialeticamente contraditória, viva e agitante? A resposta poderá ser encontrada na geografia que se ensina”. Tendo como base o autor que nos instiga a pensar sobre “o que ensinar em geografia”, é pertinente pensarmos em outras propostas de ensino para além do livro didático, mesmo sabendo que este é por muitas vezes o único recurso didático que é disponível nas escolas do campo, então, devemos nos propor sairmos deste processo de conformidade de ensino, tendo em vista que o mesmo (livro didático) não contextualiza com a realidade vivida dos/as estudantes e não expõe as transformações que acontecem no espaço geográfico atualmente, deixando o ensino de Geografia fragilizado (OLIVEIRA, 1993).

Ainda conforme esse autor, “Geógrafos ilustres como Yves Lacoste chegaram a afirmar que hoje nós temos uma geografia sendo produzida nas universidades e ‘outra geografia’ sendo ensinada nas escolas, a denominada por eles a ‘geografia dos professores’ (OLIVEIRA, 1993, p. 137). Assim, o que é ensinado nas escolas sobre Geografia deixa muito a desejar. O/a professor/a precisa se envolver com o contexto dos/as estudantes e também com os conteúdos que serão lecionados de forma que sejam construtores/as de novos saberes. Em sua maioria acabam sendo dependentes do livro didático reproduzindo apenas os conteúdos que lhes apresentam. Nesse sentido, “o professor foi perdendo ou, nem teve a oportunidade de formar a sua condição de produtor de conhecimentos. Ele se tornou ou foi transformado em um mero repetidor dos conteúdos dos livros didáticos” (OLIVEIRA, 1993, p. 138).

Concordando com o exposto, percebemos que o/a professor/a e o/a estudante são padecentes desse processo que deixa o ensino e aprendizagem com muitas lacunas, no qual é transmitido de forma fragmentada o contexto vivido dos povos e as dinâmicas que ocorrem em suas espacialidades. Com isso tudo, podemos refletir sobre o porquê dos/as estudantes não compreenderem a real preocupação da geografia, na qual, “A geografia foi perdendo aquilo que de especial ela sempre teve-discutir a realidade presente dos povos, particularmente no que se refere a seu contexto espacial” (OLIVEIRA, 1993, p. 138).

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O que se concluir é que a geografia escolar pode até desaparecer, mas necessariamente terá que haver uma(s) disciplina(s) que supra(m) essa visível necessidade de se estudar no ensino elementar e médio temas tão essenciais ao mundo de hoje como o sistema financeiro e o comercio internacional, os problemas ambientais globais, a interdependência e as disparidades socioeconômicas, o turismo (sim!), os problemas urbanos, os interesses ou peculiaridades globais, nacionais e regionais etc. (VESENTINI, 2015, p. 22).

Esta colocação do autor vem ao encontro da necessidade do ensino e aprendizagem da disciplina de Geografia nas escolas do campo, no que diz respeito a todas essas temáticas, para que desenvolva nos/as estudantes a criticidade diante das situações problemas que se apresentam na atualidade. O ensino de Geografia de forma contextualizada pode contribuir muito nesse papel de construção do senso crítico dos sujeitos em meio às circunstâncias causadas pelo processo de globalização.

Com base na literatura estudada, isso nos leva a ressaltar sobre a necessidade de incluirmos o espaço geográfico em que o/a estudante está inserido para que sejam considerados, em sala de aula, os conceitos de vida a partir de suas práticas de produção do trabalho no campo, as histórias e as transformações que ocorrem no contexto local.

Nesta perspectiva, Resende (1989, p. 84) evidencia que, “se o espaço não é encarado como algo em que o homem (o aluno) está inserido, natureza que ele próprio ajuda a moldar, a verdade geográfica do indivíduo se perde, e a geografia torna-se alheia a ele”. Se assim segue o ensino, ele provavelmente não será significativo para os/as estudantes do campo por se tornar conteúdos e conceitos teóricos, nos quais os/as mesmos/as não terão razões para aprendê-los.

Ainda Resende (1989, p. 84) fundamenta que:

Se nós, professores, passássemos a considerar devidamente o saber do aluno (o espaço real), integrando-o ao o saber espacial que a escola deve transmitir-lhe o que, segundo me parecia, supõe repensar o objeto de estudo mesmo da geografia que ensinamos, tal atitude poderia trazer profundas e benéficas consequências a nossa prática de ensino.

Nesta perspectiva, no Ensino de Geografia carece considerarmos todo um contexto campesino, tendo em vista que o Ensino de Geografia na Educação do Campo necessita compreendermos os valores locais do campo a partir do espaço vivido dos/as estudantes para que esses valores sejam internalizados, em que os conteúdos sejam apreendidos de forma significativa. Em Brasil (2013, p. 39), afirma-se que “necessita no ensino e aprendizagem na

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Educação Básica adequar as práticas pedagógicas com métodos que instigue os/as estudantes de pensar e compreender os conteúdos relacionados à sua vivência”.

Para Calvalcanti (2006, p. 27), “o que se busca hoje, na didática da Geografia, é compreender essa dinâmica do ensino, seus elementos constitutivos, suas condições de realização, seus contextos e sujeitos envolvidos, seus limites e desafios”. Assim, ao entender a relevância de práticas pedagógicas em que envolva a espacialidade do sujeito trazendo questões pertinentes para instigar o/a estudante a novas descobertas, a boa didática dará suporte a esse intento.

Ainda conforme Calvalcanti (2013, p. 88), ao argumentar sobre o Ensino de Geografia no âmbito escolar, ressalta que “o ensino visa à aprendizagem dos alunos, atribuindo-se grande importância a saberes, experiências, significados que os alunos já trazem para sala de aula incluindo, obviamente, os conceitos cotidianos”. Percebemos a importância no exercício das práticas pedagógicas, levarmos em consideração o cotidiano, na qual aproxime os conteúdos com o local vivido dos/as estudantes fazendo com que ocorra o ensino e aprendizagem de forma contextualizada e significativa, onde os/as mesmos/as possam ter interesses pela disciplina de Geografia, tendo em vista que a Geografia é um componente curricular importante para a formação dos/as sujeitos/as dentro da sociedade, lembrando que a mesma está totalmente ligada com as demais disciplinas a partir das relações homem/natureza e sociedade.

Na Educação do Campo devemos contextualizar os conteúdos de Geografia, com o intuito de estabelecer entre os conteúdos e as realidades vividas dos/as estudantes do campo. Porém, sabemos que é algo desafiador para o/a professor/a trabalhar os conteúdos sugeridos no currículo escolar dando significados à convivência local dos/as estudantes. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica do Ministério da Educação (BRASIL, 2013, p. 16), “a Educação consiste, portanto, no processo de socialização da cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se transformam saberes, conhecimentos e valores”. O campo é um espaço geográfico composto por ações e objetos que caracterizam o espaço como um todo, sendo necessárias práticas de uma Educação do Campo para a construção do conhecimento que partam dessa condição real.

Para Fernandes e Molina (2004, p. 09), “produzir seu espaço significa construir o seu próprio pensamento. E isso só é possível com uma educação voltada para os seus interesses, suas necessidades”. A Educação do Campo tem um papel essencial nesse processo de construção de conhecimento e na formação dos/as sujeitos/as do campo, no que diz respeito às particularidades da vida no campo a partir de uma educação que promova a

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identidade campesina, com projetos políticos que proporcionem um desenvolvimento cultural, histórico, socioeconômico e ambiental, visto que, a educação é fundamental nesse processo de ensino e aprendizagem, na mediação e construção dos conhecimentos, formando sujeitos participativos e atuantes no meio social. Dessa forma,

A sociedade moderna tem uma necessidade inelutável de processos educacionais intencionais, implicando objetivos sociopolíticos explícitos, conteúdos, métodos, lugares e condições específicas de educação, precisamente para possibilitar aos indivíduos a participação consciente, ativa, crítica na vida social global (LIBÂNEO, 2007, p. 87).

No ensino de Geografia nas escolas do campo, precisamos planejar e estudar o contexto dos/as estudantes, no qual envolva práticas pedagógicas intencionais, com metodologias, em que o conteúdo a ser trabalhado deverá ser bem planejado e elaborado para a formação de cidadãos críticos e atuantes na sociedade, sendo indispensável a busca de informações para além dos livros didáticos, fazendo o estudo do lugar de origem do alunado, a partir dos conhecimentos prévios e, das dificuldades, trabalhar a disciplina de Geografia dando ênfase aos conceitos-chaves da Geografia (Lugar, Paisagem e Território) e das situações que acontecem no espaço geográfico, em que circunda a vivência dos/as alunos/as. Cavalcanti (2013, p. 11) evidencia que “o conhecimento geográfico é, pois, indispensável à formação de indivíduos participantes da vida social à medida que propicia o entendimento do espaço nas práticas sociais”. A aprendizagem é influenciada pelo estudo das coisas, através dos conteúdos, das técnicas, métodos e materiais didáticos, trabalhados para que venha abordar e envolver todo o contexto, onde os/as estudantes estão situados.

Com base em Santos (2006, p. 226) “sendo o espaço geográfico um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações, sua definição varia com as épocas, isto é, com a natureza dos objetos e a natureza das ações presentes em cada momento histórico”. A partir da compreensão de Santos (2006) acerca de espaço geográfico, é perceptível que estudar o lugar e o território como sendo um conjunto de sistemas de objetos e sistemas de ação que formam o espaço geográfico, no qual estão interligados e não podem ser entendidos separadamente, por estarem concomitantemente ligados um ao outro, em constante interação e transformações.

Por esse motivo, se faz necessário a presença da Geografia como componente importante no currículo escolar. Baseando-nos nessa afirmação, precisamos aprimorar os conhecimentos dos/as estudantes, lembrando que o espaço geográfico é formado, por um

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“conjunto de sistemas de objetos e ações” que está presente no território campesino relacionando com lugar vivido pelo sujeito, pelas transformações que modifica a paisagem do lugar.

O conhecimento geográfico colabora para a formação do/a estudante no espaço onde está inserido/a, desde o local ao mundial. É necessário apresentarmos em sala de aula o contexto do estudante, tais como, as particularidades da região de suas realidades campesinas, trazendo assim, elementos e os fenômenos para a construção de conhecimentos geográficos, para assim, conhecerem o mundo em que vivem.

2.2 O Conceito de Lugar

A discussão do conceito de Lugar é fundamental na Educação do Campo, tendo em vista, que podemos compreender os movimentos, as ações e as materialidades em seu transcurso histórico, isto é, os processos, que acontecem empiricamente no Lugar e, posteriormente, entendermos o mundo.

Calvalcanti (2013, p. 89) traz uma discussão sobre o conceito de Lugar na Geografia, superando o conceito de Lugar visto apenas como localização, destacando três perspectivas tais como: o conceito de Lugar na “Geografia Humanista, na concepção histórico-dialética, e na ótica do pensamento pós-moderno”.

Em conformidade com a autora, na Geografia humanista, “o Lugar é um espaço que se torna familiar ao indivíduo, é um espaço do vivido, experienciado” (CALVALCANTI, 2013, p. 89). Podemos perceber a importância de estudar Geografia a partir da realidade vivida dos/as estudantes, tendo em vista uma aprendizagem contextualizada e significativa, em que traga questões relacionadas no sentido de pertencimento e afetividades com Lugar onde estão situados.

Já na concepção histórico-dialética, Calvalcanti (2013, p. 90), diz que “o Lugar pode ser considerado no contexto do processo de globalização”. Lembrando que os sujeitos que têm em si arraigados uma identidade, culturas e tradições podem/ou não sofrerem consequências devido ao mundo globalizado e as dinâmicas que acontecem no espaço geográfico. Nesse sentido, é necessário “estudar o local (lugar) para entender o global (mundo)” (CALLAI, 2000, p. 83).

O conceito de Lugar na perspectiva pós-moderna, ainda Calvalcanti (2013, p. 90) destaca que, “a compreensão do Lugar só pode ser entendido como expressão da totalidade,

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inacabada, aberta e em movimento, leva a necessidade de ampliar o entendimento do vivido para o concebido”, no qual o/a professor/a não se detém somente ao cotidiano do/a estudante, mas, em toda a dinâmica que os/as rodeiam, as transformações e acontecimentos que ocorrem no lugar, lembrando que cada Lugar está em constante movimento.

Santos (2015, p. 71), aborda as três correntes filosóficas que influenciam o ensino e a pesquisa em Geografia na contemporaneidade, sendo elas: “a corrente filosófica neopositivismo ou positivismo lógico4, a corrente marxista5, e a corrente filosófica fenomenológica6”. O autor traz uma discussão sobre a importância da abordagem humanista contemporânea no ensino da Geografia apresentando para esse processo, “a partir da fenomenologia e do existencialismo, interpretações de aspectos do mundo vivido dos alunos ao introduzir os conceitos de lugar e paisagem” (SANTOS, 2015, p. 76). Nesse sentido, podemos perceber a importância do ensino de Geografia na Educação do Campo a partir do Lugar como aporte para o ensino e aprendizagem de Geografia, no que diz respeito às relações do/a estudante com o Lugar e com o mundo.

Conforme Callai, (2000, p. 84), “na literatura geográfica, o Lugar está presente de diversas formas. Estudá-lo é fundamental, pois ao mesmo tempo em que o mundo é global, as coisas da vida, as relações sociais se concretizam nos lugares específicos”. O estudo do lugar se torna relevante quando o sujeito se reconhece no espaço em que está situado percebendo toda a dinâmica que os/as circundam. Cabe-nos ressaltar que precisamos discutir sobre o conceito de Lugar no Ensino de Geografia e a sua importância, tendo em vista a necessidade do estudo desse conceito na Educação do Campo.

Ainda Callai (2000, p. 84), destaca que “para compreender o mundo precisamos conhecer o local, ou seja, entendermos o Lugar e, consequentemente, compreendemos o regional e o mundial, visto que, as coisas acontecem e se concretizam em um determinado Lugar específico”. O conteúdo de Geografia passa a ser significativo para os/as estudantes quando a reflexão inicia a partir do Lugar em que eles/elas vivem de suas experiências e vivências. Cada Lugar tem suas características específicas, ou seja, suas particularidades que estão arraigadas pelos laços de afetividade entre os sujeitos.

4

A corrente filosófica neopositivismo, também chamada positivismo lógico, considera as temáticas espaciais na apreensão da realidade a partir da dedução, da abstração e na elaboração de modelos explicativo (SANTOS, 2015, p. 71).

5

A corrente marxista baseada no materialismo histórico como doutrina e na dialética como método pauta-se numa busca pelas contradições dos processos inerentes ao temário geográfico (SANTOS, 2015, p. 71).

6

A corrente filosófica fenomenológica assenta-se na subjetividade, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo, privilegiando o singular e não o particular ou o universal na compreensão dos fenômenos geográficos (SANTOS, 2015, p. 71).

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Conforme Lisboa (2002, p. 24), “O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriado para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens”. Dessa forma, significa dizer que o Lugar é composto por várias experiências de vida sendo relacionado com o sentido de pertencimento de cada sujeito com o seu Lugar. A partir do Lugar, podemos observar o sentido de pertencimento das pessoas com o Lugar que residem, sendo uma marca nas memórias do sujeito do campo, considerando que Lugar tem suas formas particulares, as culturas, as tradições e os costumes que são elementos importantes para o estudo da Educação do Campo.

O ensino de Geografia a partir do conceito de Lugar nos dá várias possibilidades de pensar o mundo, a partir de seu objeto de estudo, sendo ele o espaço geográfico, mostrando-nos novas maneiras de construção do conhecimento, com possibilidades de argumentar as novas descobertas a partir da realidade em que vivemos.

O estudo da Geografia a partir do Lugar do/a estudante amplia os conhecimentos com relação ao contexto que está situado/a. Segundo Brasil (1998, p. 39), possibilita uma “[...] maior consciência dos limites e responsabilidades da ação individual e coletiva com relação ao seu lugar e a contextos mais amplos, da escala nacional a mundial”. As temáticas de relevância social devem ser compreendidas para a formação do sujeito atuante na sociedade.

Giometti, Pitton e Ortigoza, (2012, p. 35) discorrem “o lugar como experiência caracteriza-se principalmente pela valorização das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao ambiente”. Podemos perceber que o lugar é marcado pelas relações afetuosas que são adquiridas no decorrer da vivência, como ressalta as autoras conceituando o Lugar na perspectiva do geógrafo Milton Santos: “na perspectiva de lugar e singularidade, o lugar é resultante, de um lado, de características históricas e culturais inerentes ao processo de formação, e de outro, da expressão da globalidade” (GIOMETTI, PITTON, ORTIGOZA, p. 2012).

Nesse sentido, o lugar vai se construindo a partir das relações que acontecem do local envolvendo o global. Assim sendo, no ensino de Geografia, o/a professor/a pode exercer práticas pedagógicas a partir das histórias de vidas dos/as estudantes na qual envolvem as culturas, as tradições, os costumes e os valores que estão arraigados no sujeito por meio das relações de afetividade e de pertencimento com o Lugar, ou seja, o espaço vivido (cotidiano) do/a estudante.

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Santos (2006, p. 231) destaca que, “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”. O autor trata das várias possibilidades do conhecimento do Lugar, levando em consideração os fatores externos que influenciam diretamente nos fatores internos do espaço vivido no cotidiano do sujeito.

De acordo com o autor, podemos destacar os meios tecnológicos presentes no campo. À medida que esse processo de globalização acontece, as ações e objetos interagem de forma dialética, no sentido que, o Lugar está relacionado com as dinâmicas que acontecem entre o/a sujeito/a (local) e mundo (global). Assim, há necessidade de levar em conta as peculiaridades do Lugar, para que venha acontecer o ensino e aprendizagem de forma significativa e contextualizada. Dessa forma é importante o professor trabalhar as concepções na Geografia humanista (espaço vivido) e da Geografia Crítica dialética (contradição) e não ver o Lugar apenas como localização.

2.3 O Conceito de Paisagem

A Paisagem, segundo Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 75), “é definida como sendo uma unidade visível, que possui uma identidade visual, caracterizada por fatores de ordem social, cultural e natural, contendo espaços e tempos distintos; o passado e o presente”. A Paisagem está em constante mudança, em processos dinâmicos, a partir da visão e da percepção, com uma combinação de processos que são modificados pelo tempo e pela ação do homem no meio natural e social. A Paisagem pode ser caracterizada pela observação. Na dimensão visível do mundo e por meio da percepção das coisas, vemos e sentimos os movimentos e interações no espaço geográfico, tanto pela ação humana, como pelas transformações da Natureza.

A Paisagem arquiva em si, os tempos passados, em que pode explicar sobre os movimentos e transformações do espaço geográfico, sendo de grande relevância na Educação do Campo. Assim, Brasil (1998, p. 40) salienta que “é a partir daí que se procurará resgatar sua temporalidade, tentar compreendê-la. Nesse sentido, é que se diz que a Geografia é a história do presente”. A Geografia por meio do estudo das Paisagens procura resgatar essas transformações do passado no tempo presente, onde pode ser feito a comparação da Paisagem de antes e como se apresenta na atualidade.

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Ainda com relação à Paisagem, Callai (2000, p. 111) discorre que “é preciso entender que a Paisagem não se cria por acaso, mas que é resultado da vida dos homens, dos processos de produção, dos movimentos da natureza”. Dessa forma, a Paisagem é resultado das dinâmicas que acontecem no espaço geográfico, por conta da ação do homem e da natureza, que está em constante interação, que modifica e cria outras paisagens.

Para Santos (1988, p. 21) “tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc.”. Evidenciamos que conseguimos ver e perceber a Paisagem tanto pelas formas das coisas (naturais e sociais), quanto pelas ações humanas que transformam as Paisagens, bem como ainda pelos demais órgãos dos sentidos (audição, olfato, tato).

Com base nas contribuições do referido autor sobre o conceito de Paisagem, entendemos que a realidade pode ser a mesma para os sujeitos, mas, cada um tem uma forma de ver e interpretar essa realidade por meio da Paisagem. O conhecimento depende de sua interpretação não podemos tomar por verdadeiro o que é visto somente pela aparência. Precisamos buscar significados das Paisagens. Há importância da Paisagem, pela visão ou pelos sentidos, de forma que seja levada em conta a realidade em que o/a sujeito/a se insere, ou seja, a sua localização (SANTOS, 1988).

Santos (1988, p. 23) explica que “a paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto grosseiramente podemos dizer que a Paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo esforço humano”. De acordo com autor, o mundo está em constante mudança, no período globalizado. A Paisagem natural é modificada pela intervenção humana, de forma direta ou indireta, passando a ser artificial. A exemplo, podemos citar as grandes construções nas cidades e também no campo por meio das grandes produções agrícolas, dos objetos tecnológicos, esse conjunto de fatores e elementos modifica a Paisagem Natural, tornando-a artificial (SANTOS, 1988).

As organizações globais podem modificar a Paisagem a partir da intervenção humana que pode ser coletiva e individual, exemplo: quando observamos a Paisagem do Campo ao compararmos com a Paisagem da Cidade, percebemos a globalização por meio dos edifícios, das fábricas, entre outros fatores.

Para Lisboa (2002, p. 27), “o conceito de Paisagem está relacionado a tudo que os sentidos humanos podem perceber e apreender da realidade de determinado espaço geográfico ou parte dele, está diretamente relacionado à sensibilidade humana”. Dessa forma, a Paisagem é entendida por meio da realidade em que o sujeito está situado. “O

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percurso mais dinâmico do entendimento da paisagem reside na forma de interpretá-la, pois antes se fundamentava apenas na descrição empírica dos seus elementos, e hoje, é acrescida de relações e conjunções de elementos naturais e tecnificados, socioeconômicos e culturais” (GIOMETTI, PITTON, ORTIGOZA, 2012, p. 36).

Mediante ao exposto, percebemos que a Paisagem pode ser observada a partir da exposição dos elementos presente em um determinado Lugar, sendo consequência ou resultado das transformações no meio ambiente pela ação humana, onde os objetos tecnológicos mudam a sua configuração.

Em conformidade com o que foi dito, ainda Giometti, Pitton e Ortigoza (2012, p. 37), “a Paisagem é, portanto, visível e material, mas o processo de sua transformação nos revela grandes conflitos socioambientais. Portanto, ela não é estática, está em constante transformação”. A partir do exposto, percebemos como a Paisagem pode ser identificada por meio da visão ou da percepção dos elementos transformados ou naturais.

Podemos ressaltar que a Paisagem muda de acordo com o tempo e espaço através da ação humana sobre o meio natural, em que pode ser vista e percebida por meio da visão ou dos sentidos (olfato, audição e tato), à exemplo podemos destacar quando há um grande campo com agrupamentos de árvores, na qual é desmatada e substituída por casas, vilas, pontes, armazéns, açudes, entre outros.

Diante do exposto, é importante salientar que a Paisagem também pode ser vista pelas fotografias, áreas observadas pelas imagens via satélite, onde podemos observar e descrever o município de Apodi.

Bertrand (2004, p. 141) afirma que:

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, em uma determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução (BERTRAND, 2004, p. 141).

A Paisagem não é transformada somente pela ação humana, mas também pela ação da natureza, assim esses fatores interagem entre si em uma dinâmica em que acontece a mudança na Paisagem, na qual reagem dialeticamente. “É preciso frisar bem que não se trata somente da paisagem ‘natural’, mas da paisagem total integrando todas as implicações da ação antrópica” (BERTRAND, 2004, p. 141).

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Por fim, ainda Bertrand (2004, p. 146) explica que, “A unidade da paisagem é, portanto, incontestável. Ela resulta da combinação local e única de todos esses fatores (sistema de declive, clima, rocha, manto de decomposição, [...].” De tal modo, percebemos que todos os fatores influenciam na mudança da Paisagem local, a partir das transformações causadas pela ação humana ou da natureza, e essas alterações dinâmicas influenciam e modificam o Geossistema7.

2.3 O Conceito de Território

No ensino e aprendizagem desta categoria podemos relacionar as situações econômicas, políticas e social, sendo relevante lecionarmos a disciplina de Geografia nas escolas do campo enfatizando esse conceito como conteúdo importante nas aulas de Geografia por tratarmos de questões que envolvem relações de poder.

O conceito de Território compreendido a partir dos seus usos, onde acontecem apropriação e desapropriação das terras e assim, transformação do espaço geográfico, é de fundamental importância na Geografia e no seu ensino. Segundo as autoras Giometti, Pitton e Ortigoza (2012, p. 37), “os estudos do território têm como base central as relações entre os agentes sociais, políticos e econômicos interferindo na gestão do espaço. Isto porque a delimitação do território está assentada nas relações de poder, domínio e apropriação nele contidas”. Dessa forma, “o conceito de território é fundamental para compreender os enfrentamentos entre a agricultura camponesa e o agronegócio, já que ambos projetam distintos territórios” (FERNANDES; MOLINA, 2004, p. 01), a partir dos distintos usos que lhes são configurados.

“No decorrer da história do pensamento geográfico, o território ganha diferentes tipos de abordagens, desde a representação de uma parcela do espaço, identificada pela posse e definida pela apropriação, até o importante papel dado à dominação” (GIOMETTI, PITTON, ORTIGOZA, 2012, p. 38). Com base nas autoras, podemos destacar que “o território é dominado por uma comunidade ou por um Estado”.

Nesse contexto, o Território pode ser entendido como a organização do espaço geográfico a partir dos diversos usos. Ainda conforme Giometti, Pitton e Ortigoza (2012, p.

7

O geosistema corresponde a dados ecológicos relativamente estáveis. Ele resulta da combinação de fatores geomorfológicos (natureza das rochas e dos mantos superficiais, valor do declive, dinâmica das vertentes...), climáticos (precipitações, temperatura...) e hidrológicos (lençóis freáticos epidérmicos e nascentes, pH das águas, tempos de ressecamento do solo...). É o “potencial ecológico” do geosistema (BERTRAND, 2004, p. 145).

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38), “o conceito de território se alarga permitindo explicar muitos fenômenos geográficos relacionados à organização da sociedade e suas interações com as Paisagens”.

Santos e Silveira (2006, p. 21) afirmam que “o uso do território pode ser definido pela implantação de infraestruturas, para as quais estamos igualmente utilizando a denominação sistemas de engenharias, mas também pelo dinamismo da economia e da sociedade”. Dessa maneira, podemos dizer que uso do território é construído a partir das ações e apropriações dos espaços geográficos, que por sua vez podem causar conflitos e desigualdades sociais devido às relações de poder entre ambas as partes, o agronegócio e a agricultura camponesa, por exemplo.

Santos (2005, p. 252), propõe que “o espaço geográfico seja assumido como uma categoria de análise social, sinônimo de território usado, território abrigo de todos os homens, de todas as instituições e de todas as organizações”.

Ainda Santos (2005, p. 255) discorre que “é o uso do território, e não o território em si mesmo, que faz dele objeto da análise social”. O território é objeto de análise por meio das inter-relações que acontecem no espaço geográfico, que por sua vez é marcado pelas relações de poder, sendo arraigado pelas desigualdades socioespaciais.

Sobre isso, esclarecemos: “O território são formas, mas o território usado são objetos e ações, sinônimo de espaço humano, espaço habitado” (SANTOS, 2005, p. 255). Percebemos que o Território se constitui quando há apropriação e usos do espaço. Pode ser pela produção da agricultura familiar, como também pela produção do agronegócio acontecem as relações de poder e apropriação do espaço geográfico, “todo espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder é um território” (GIOMETTI, PITTON, ORTIGOZA, 2012, p. 38).

O ensino e aprendizagem de Geografia relacionados à Educação do Campo devem ser baseados numa abordagem geográfica da realidade a partir do conceito-chave Território, nos fazendo compreender as dinâmicas que acontecem na sociedade e na natureza como um todo e no espaço geográfico. Em conformidade com o que foi dito, Oliveira (1993, p. 142), afirma que:

Cabe a Geografia levar a compreender o espaço produzido pela sociedade em que vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza.

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O território pode ser estudado a partir da dialética8, ou seja, das contradições que ocorrem no espaço campesino decorrentes das relações de poder, das técnicas que estão presentes no campo, e do espaço ocupado e reproduzido pela ação humana.

Segundo Fernandes (2012, p. 746),

Tratar do Território não é uma tarefa fácil, pois a noção de território ensinada nas escolas e universidades refere-se, predominantemente, ao espaço de governança, ou seja, ao território como espaço de gestão do Estado em diferentes escalas e instâncias: Federal, Estadual e Municipal. Em conformidade com o autor, sabemos que é importante discutir estas questões de Território como espaço de gestão do Estado, sendo que, existem diferentes tipos de território, no caso o território camponês9. Portanto, trabalhar esse conceito-chave da Geografia é de grande relevância por se tratar de um espaço geográfico em que acontece inúmeras situações, quais sejam: as relações sociais, as organizações comunitárias, enfrentamentos e resistência do camponês com suas práticas da agricultura familiar10 versos ao modelo capitalista do agronegócio (monocultura)11 etc.

Dessa forma, podemos ressaltar que os conceitos geográficos (Lugar, Paisagem e Território) são relevantes no Ensino de Geografia, tendo em vista que são indispensáveis para promover uma Educação do Campo. Assim, neste capítulo trouxemos uma abordagem sobre o Ensino de Geografia e Educação do Campo e em seguida fizemos um diálogo com os/as autores/as da literatura consultada, no qual, conceituamos cada categoria geográfica ((Lugar, Paisagem e Território) como elementos fundamentais no ensino e aprendizagem de Geografia.

8

O método no marxismo busca explicitar as contradições dos fenômenos, considerando a realidade, isto é, o homem, o sujeito, o objeto, a ciência e a construção lógica, numa perspectiva dinâmica e conflitiva, processual. A corrente filosófica marxista busca desvendar conflitos de interesses, elegendo categorias de análise, questionando sempre a visão estática que o positivismo e o neopositivismo e também o historicismo são acusados de terem sobre a sociedade, dando ênfase à dinâmica, aos processos históricos decorrentes da organização social (SANTOS, 2015, p. 73).

9

O território camponês é o espaço de vida do camponês. É o lugar ou os lugares onde uma enorme diversidade de culturas camponesas constrói sua existência. O território camponês é uma unidade de produção familiar e local de residência da família, que muitas vezes pode ser constituída de mais de uma família. Esse território é predominantemente agropecuário, e contribui com a maior parte da produção de alimentos saudáveis, consumidos principalmente pelas populações urbanas (FERNANDES, 2012, p.746).

10

Conforme a Lei nº 11.326/2006, é considerado agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, possui área de até quatro módulos fiscais, mão de obra da própria família, renda familiar vinculada ao próprio estabelecimento e gerenciamento do estabelecimento ou empreendimento pela própria família (BRASIL, 2006).

11

Sistema de exploração do solo com especialização em um só produto. Disponível em: https://www.dicio.com.br/monocultur. Acesso em 25 de març. de 2018.

(31)

No capítulo seguinte, discorremos sobre os desafios do Ensino de Geografia na Educação do campo, tendo em vista que são pertinentes nas escolas do campo, onde o ensino passa por dificuldades em decorrência da falta de materiais didático-pedagógicos, no qual o/a professor/a que leciona as aulas de Geografia nas escolas campesinas geralmente são oriundos da cidade, trazendo para sala de aula outro contexto, se detendo somente ao livro didático e por sua vez não contextualiza os conteúdos (Geografia) com a realidade dos/as estudantes. Por fim, sugerimos possibilidades metodológicas para o ensino e aprendizagem de Geografia e de suas categorias geográficas (Lugar, Paisagem e Território) a partir da realidade empírica do semiárido potiguar, fundamentada na literatura que versa sobre a temática.

3 DESAFIOS E POSSIBILIDADES DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO DO CAMPO

Sabemos que além da disciplina de Geografia, os componentes curriculares também não estimulam o interesse e permanência dos/as estudantes nas escolas do campo, devido às metodologias usadas não serem contextualizadas com o espaço vivido dos/as mesmos/as, uma vez que são avaliados, em sua grande maioria, ainda lamentavelmente, apenas por atividades de memorização, em que não é incluído o conhecimento de vida dos/as estudantes. Segundo Brasil (1997, p. 77), para esse ensino ser eficaz são necessárias práticas que envolvam “procedimentos de problematização, observação, registro, descrição, documentação, representação e pesquisa dos fenômenos sociais, culturais ou naturais que compõem a paisagem e o espaço geográfico”.

Partindo dos desafios do Ensino de Geografia na Educação do Campo, é importante destacar a precisão de procedimentos metodológicos que despertem nos/as estudantes a criticidade da espacialidade em que estão inseridos, envolvendo todo o contexto, para que possam entender as mudanças que acontecem no campo.

Auxiliado/a (professor) na aplicabilidade de metodologias bem elaboradas a partir de recursos didáticos que aperfeiçoe o ensino pode desenvolver o senso crítico e reflexivo das situações que rodeiam o espaço vivido dos/das estudantes, essa forma, acontecerá uma aprendizagem significativa para o alunado localizado no espaço campesino.

Brasil (1998, p. 40) salienta que “[...] o professor deverá ter clareza de método e objeto na escolha e no modo de trabalhar seus temas e conteúdo. É essencial que não perca de vista que seu objeto de estudo e de ensino é o espaço geográfico: seu território, paisagens

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e lugares”. O/a professor precisa estar estudando e pesquisando para exercer o ensino de forma que aconteça a aprendizagem, sendo fundamental o/a mesmo/a ser um pesquisador/a para que os objetivos propostos sejam alcançados.

As escolas do campo passam por muitas fragilidades devido ao ensino precário, em decorrência da falta de materiais didático-pedagógicos para auxiliar no desenvolvimento das aulas de Geografia, na qual, os/as professores/as que ministram as aulas deste componente curricular nas escolas campesinas geralmente são oriundos da cidade, trazendo para sala de aula outras realidades e muitos desses/as professores/as não são formados na área específica (Geografia ou Educação do Campo) e não fazem/têm formação continuada.

Calvalcanti (2006, p. 27) aborda que “[...] no conjunto da produção teórica na área, observa-se uma acentuada preocupação quanto a projetos de formação de professores, inseridos na política educacional vigente e a suas possibilidades de fundamentar essa atuação docente”. Nesse seguimento, enfatizamos que há a necessidade dos/as professores/as que lecionam a disciplina de Geografia nas escolas do campo, conhecer a realidade vivida dos/as estudantes e que tenham uma formação na área, a fim de que, no exercício docente relacione a teoria e a prática de modo que não se desvincule dos modos de vida da comunidade local introduzindo os conhecimentos locais nas aulas de Geografia.

Sabemos que é um desafio nas escolas do campo a prática da contextualização, pois os professores seguem rigorosamente os livros didáticos. Callai (2013, p. 136) enfatiza que “o desafio aos professores se refere a como aprender e ensinar a ler o mundo, a realidade em que vivemos, para que o aluno o faça também”. Muitas vezes, não há compreensão dos/as estudantes com relação ao conteúdo estudado, a preocupação maior é com os conteúdos conceituais do que com os conteúdos procedimentais, a memorização ainda tem sido exercício praticado no ensino de Geografia, mesmo nas abordagens mais avançadas (BRASIL, 1998, p. 73).

Diante do exposto, Callai (2000, p. 85) ressalta que “estudar o lugar, portanto, passa a ser um desafio constante para as nossas aulas de geografia”, pois não é necessário apenas conhecer este conceito, mas saber de modo que os alunos venham apreender sobre o mesmo. Em conformidade com a autora, é importante destacar ainda que os demais conceitos geográficos são um desafio para se trabalhar nas aulas de Geografia.

Precisamos salientar que, não é somente a prática pedagógica do/a professor/a que deve ser levada em conta, mas, os conteúdos a serem ministrados e todo o contexto escolar que influencia para que não aconteça um ensino e aprendizagem contextualizada e significativa, causando desafios tanto para o/a professor/a quanto para o/a estudante.

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