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Movimentos Sociais na Construção da Democracia e da Cidadania

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Academic year: 2020

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MOVIMENTOS SOCIAIS

NA CONSTRUÇÃO

DA DEMOCRACIA

E DA CIDADANIA*

ADILSON ALVES DA SILVA**

A

educação popular é uma premissa no trabalho de extensão do Programa de Edu-cação e Cidadania (PEC), desde seu nascimento no ano de 1982, afinado com segmentos sociais e educacionais dentro de um processo de educação mais amplo, consciente, crítico, comprometido e alicerçado pelas concepções de Paulo Freire. Este possibilitou e ainda possibilita a libertação de indivíduos e sujeitos coletivos da situação de exclusão por meio da educação. A fórmula, acesso à educação e ao conhecimento, parece ser simples mas só isso não basta, é preciso que a educação esteja contextualizada e que o excluído possa exercer a cidadania com o conhecimento adquirido para fazer a mudança da realidade, “se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda” (FREIRE, 1992, p. 17).

Essas ideias deram suporte na criação do PEC e traduziu-se num programa de for-mação continuada de professores da rede pública, inicialmente em municípios assessorados na região da Diocese de Goiás, tanto em espaços urbanos, quanto rurais. O tempo passou e,

Resumo: trata-se de um estudo de extensão que tem como objetivo analisar, no campo da educação, a construção da democracia e da cidadania, a partir da participação de movimentos sociais no I Colóquio, realizado em 2013, pelo Programa de Educação e Cidadania (PEC), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil (PROEX) e Coordenação de Extensão (CDEX) da PUC Goiás.

Palavras-chave: Educação. Extensão. Movimentos Sociais. Democracia. Cidadania.

* Recebido em: 05.11.2014. Aprovado em: 25.11.2014.

** Mestre em Educação da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Coordenador do Programa de Educação e Cidadania (PEC), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil (PROEX) e Coordenação de Extensão (CDEX) da PUC Goiás. Professor. E-mail: adilson.cptgo@gmail.com - Goiânia - Goiás, junho de 2014..

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ao longo dos seus 30 anos, procura manter os fundamentos freireanos no desenvolvimento de suas ações de extensão. Na atualidade, o PEC está orientando suas atividades para a Região Metropolitana de Goiânia com ações voltadas para a educação, diversidade e cidadania. Para isso tem como objetivo, segundo seu Projeto Político e Pedagógico (PPP).

Desenvolver um conjunto articulado de projetos e ações de extensão, em caráter mul-tidisciplinar, integrando atividades de pesquisa e ensino, voltadas para a formação de professores da educação básica e representantes de movimentos sociais no intuito de promover a formação para a cidadania e a garantia de direitos em sua diversidade (PPP, 2013, p. 7).

O PPP (2013, p. 10-11) nos indica questões da atualidade que precisam ser dis-cutidas na formação de professores, tanto aqueles que já são habilitados e atuam nas redes públicas da educação básica, quanto os que estão em processo de formação, graduandos dos cursos de licenciaturas da PUC Goiás. Essa formação segue um planejamento semanal e se-mestral envolvendo uma equipe de professores e monitores e as ações acontecem dentro e fora do espaço físico da Universidade. Dentro da universidade são ofertados colóquios, seminários e oficinas com temas de relevância pedagógica que contribuem na formação do futuro profes-sor para o exercício da docência. Quanto às ações fora da Universidade ocorre com professo-res habilitados em exercício da profissão na educação básica e educadoprofesso-res sociais, lideranças e membros de movimentos sociais e sindicais, dentre outros, que realizam a educação popular. São firmadas parcerias com Prefeituras Municipais para a oferta de cursos de formação conti-nuada com duração mínima de um ano com temas de relevância pedagógica que contribuem na melhoria da prática em sala de aula e no exercício da cidadania. Para isso justifica-se o envolvimento de outros agentes que fazem a educação fora da escola com um objetivo único que é desenvolver uma educação que promova sujeitos de transformação social.

A equipe de professores e monitores do PEC se esforça para demarcar o trabalho de extensão e visa ser uma referência no trabalho de formação de professores discutindo a re-alidade social numa perspectiva da educação popular. Sendo assim, as reflexões apresentadas são os resultados do I Colóquio, realizado no dia 19/10/2013, intitulado Movimentos Sociais

na Construção da Democracia e da Cidadania, como uma ação de formação vinculada

dire-tamente à PROEX e à CDEX da PUC Goiás para graduandos dos cursos de licenciaturas. O estudo desenvolvido e aqui apresentado a partir do Colóquio nos aponta desafios enquanto academia de investigar cientificamente a realidade dos movimentos sociais para, com eles, poder avançar na construção da democracia e da cidadania.

CONTEXTO SÓCIO-POLÍTICO DA REALIZAÇÃO DO I COLÓQUIO DO PEC O ano de 2013 foi marcado por manifestações populares por todo o país na reivin-dicação para a melhoria na educação, saúde, transporte coletivo, segurança pública e outros. Isso impactou a opinião pública nacional e internacional. Partimos do pressuposto de que a sociedade, sobretudo a massa trabalhadora, está insatisfeita com a realidade vivenciada coti-dianamente e que algo precisa mudar. A mudança proposta é o avanço da democracia e da cidadania conforme Constituição Federal de 1988. Para refletir sobre essas questões foi pen-sada pela equipe de professores e monitores do PEC uma ação de formação com acadêmicos

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dos cursos de Licenciaturas da PUC Goiás com representantes de movimentos sociais numa mesa redonda para trazer os diversos olhares sobre as mobilizações.

Outro fato importante da conjuntura política de realização do Colóquio é que em 2013 a Constituição Federal que completou 25 anos. É considerada a mais avançada da his-tória do país porque traz em seu escopo garantias de liberdade individual e de direitos sociais. Por isso afirmamos, hipoteticamente, que no ano de aniversário da Constituição ocorreram tantos protestos para fazer valer os direitos à cidadania nela garantidos. Não significa que na história do país o povo esteve satisfeito com o processo administrativo do Estado e não houve manifestações públicas para mudanças do quadro social. Na história sempre houve manifes-tos, tanto na cidade quanto no meio rural, sendo uns de maior repercussão e outros menos impactantes, mas todos com a importância política local e nacional. O que devemos atentar é que a história oficial, aquela registrada nos livros didáticos, relata quase sempre a vitória na personificação de um herói ou heróis. Dessa forma,

usualmente todo estudante da história do Brasil aprende, desde os primeiros anos esco-lares, sobre uma série de lutas e movimentos desenvolvidos a partir da população civil, normalmente entre as camadas mais pobres ou sem pode na sociedade. Essas lutas são apresentadas como rebeliões contra a ordem estabelecida, e na maioria das vezes o relato se detém na história de seus algozes, ou seja, dos militares, tiranos ou qualquer outro tipo social, apresentados como heróis. Se atentarmos para a natureza daqueles conflitos no período do Brasil-colônia e Império, e para as problemáticas que envolviam, observamos que, a despeito da extensão territorial do país e da falta de comunicação existente entre as então províncias da época, existe uma grande unidade de aglutinação das reivindicações (GOHN, 2013, p. 17-18).

A autora é enfática em dizer que na história do Brasil há uma tentativa de ignorar as lutas sociais ocorridas e conquistadas pelo povo e, para isso, eleva-se oficialmente a figura mítica de um herói. É como se esse herói estivesse salvando a nação dos perigos que a ameaça. Desconsidera-se que por traz desse herói estão também na luta pessoas comuns, homens e mulheres, reivindicando condições de vida digna e contra a opressão do poder constituído. Essa mitificação do herói é tão forte na cultura brasileira que até mesmo na modernidade ainda procura-se atribuir a uma figura exclusiva o poder da conquista e da mudança social, seja ela de qualquer natureza. Mas, na verdade, a luta pela democracia e pela cidadania ocorre diariamente por cidadãos comuns, individual ou coletivamente, que tomam consciência da situação social de vulnerabilidade em que se encontram e buscam no Estado uma resposta concreta para a resolução dos problemas vivenciados. Sendo assim, cabe-nos indagar:

– Qual democracia e qual cidadania a sociedade está experimentando atualmente no Brasil? – Quais os avanços que tivemos em todos os setores, sobretudo na educação e saúde?

Isto porque o país está em franca expansão do desenvolvimento da economia e que, segundo o Governo atual, já superou a pobreza e a miséria. Mas se analisarmos o cenário social com cautela veremos que a pobreza ainda não está superada. No campo da educação em 2012, havia no país, 13,2 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais de idade (IBGE, 2012). Essa porcentagem de pessoas analfabetas fere diretamente os princípios constitucionais e emperra o desenvolvimento da nação. O termo desenvolvimento aqui deve ser conceituado na contramão do capital para que o Estado seja fortalecido e que cumpra o seu papel, ou seja,

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um Estado de direitos e do bem-estar social. A educação pode contribuir nesse processo, mas vale lembrar que não é dela a responsabilidade de fazer sozinha a mudança de paradigmas porque cabe também à sociedade.

Nas palavras de Mészáros (2008, p. 53) nunca é demais salientar a importância es-tratégica da concepção mais ampla de educação, expressa na frase: “a aprendizagem é a nossa própria vida”. Pois muito do nosso processo contínuo de aprendizagem se situa, felizmente, fora das instituições educacionais formais.

A citação reforça a importância da sociedade civil organizada que participa da cons-trução de outra educação fora das instituições formais e que necessariamente precisa dialogar com a educação formal em todos os níveis de ensino. Esse diálogo pode provocar ações de embate e mudanças na sociedade hegemônica. Caso contrário, o modo de produção capitalis-ta impede o exercício da cidadania pelo povo fazendo com que a cada dia uma massa humana fique marginalizada das condições dignas de sobrevivência.

A reflexão acerca do cenário das lutas históricas dos movimentos sociais e de suas visões, recentemente no ano de 2013, é que deu sustentação para o PEC convidar os movimentos sociais para discutir numa mesa redonda o trabalho e os pontos de vistas de cada um sobre a realidade social vigente. Dessa forma, o PEC entende que a educação desenvolvida pelos movimentos sociais pode contribuir no conhecimento científico da academia para a construção e avanço da democracia e da cidadania. Para isso o objetivo aqui é trazer a fundamentação teórica como ponto de partida acerca da construção da democracia e da cidadania pelos movimentos sociais e como a educação formal pode contribuir nesse processo. Portanto, cabe-nos indagar sobre de qual democracia e de qual cidadania estamos tratando.

CONCEITUAÇÃO DE DEMOCRACIA E CIDADANIA

O termo democracia, resumidamente, significa poder do povo. A palavra tem ori-gem no grego demokratía, é composta por demos, quer dizer povo e krato significa poder. Traduzindo para a realidade brasileira cabe ao povo o poder de exercer a democracia em vários aspectos, sendo um deles o mais conhecido que é a eleição direta de representantes políticos para cargos de executivos e legislativos nas esferas municipais, estaduais e federais. Mas no sentido stricto sensu da palavra democracia, o povo brasileiro não a exerce nas eleições. Isso porque a escolha dos representantes do poder é obrigatória. Sendo assim o Brasil, segundo Marques (2012, p. 6). Está longe de ser uma democracia, pois o povo não pode escolher livremente seus candidatos. Os cargos eletivos são restritos apenas para alguns que: a) detém influência dentro desses partidos; e b) possuem condições (i) morais favoráveis para obter grandes somas de dinheiro e financiar as eleições milionárias.

A estrutura de funcionamento das eleições no Brasil, na opinião do autor, com-promete o exercício da democracia. A situação se agrava mais ainda porque, uma vez eleitos, os representes do povo pouco se colocam à serviço do Estado para exercerem ações que vão ao encontro das necessidades demandadas. Acontece que, ao eleger diretamente os repre-sentantes do povo, a governabilidade se volta na maioria das vezes para interesses próprios. O povo pouco participa das decisões. As conseqüências dessa prática resultam em corrupções de diversas ordens e o povo paga um preço muito por não usufruir de bens e serviços que deveriam ser construídos pelo Estado com recursos de impostos.

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Ao tratarmos do conceito de cidadania, estamos nos referindo à liberdade de parti-cipação do indivíduo nas decisões tomadas no governo. Logo,

a cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998. p. 14).

A visão do autor sobre cidadania é a negação da privação do indivíduo em poder contribuir na construção coletiva dos interesses políticos de um povo e podemos expandir dizendo que começa na rua de um bairro e vai até a última instância de poder federal. Isso nos remete a um tempo de repressão no Brasil, onde não havia democracia e muito menos cidadania. Esse período, a Ditadura Militar (1964-1985), cerceou e violou os direitos da pessoa humana em todas as dimensões. Milhares de pessoas foram torturadas, mortas e muitas estão desaparecidas. Há mais de 20 anos, em março de 1985, o povo voltou a exer-cer o poder no Brasil, depois de uma longa repressão militar. O retorno do governo civil é um dos marcos da redemocratização do país, seguido pela promulgação de uma nova Cons-tituição em 1988. Em seguida veio a eleição direta para a presidência da República, no ano de 1989, sendo que o povo se mobilizou e o movimento ficou conhecido como Diretas Já. A partir daí até os dias atuais a nação vive numa democracia. Para as Ciências Sociais, assim como para a mídia e o próprio senso comum, o país vive hoje a plena democracia. Mas a realidade mostra o contrário e recorremos novamente ao mês de junho de 2013 para mos-trar a insatisfação da população brasileira nas ruas das cidades em manifestações clamando por mudanças na sociedade. A respeito das manifestações deve-se a um sistema partidário na política brasileira que de fato não representa o povo. Os interesses dos partidos políticos são outros e a gestão pública durante e no pós-eleições gira em torno da manutenção de acordos para fortalecimento deste ou daquele partido. Concordamos com Chauí (2010, p. 7), numa entrevista que diz o seguinte:

Por causa do sistema da representação, você tem super-representação, você tem a sub-repre-sentação. Você tem a proliferação de siglas de aluguel, você tem a desigualdade regional. E uma série de outros pequenos mecanismos no interior do sistema partidário. Eu não me conformo, porque foi um sistema deixado pelo Golbery [do Couto e Silva], quando percebeu que a ARENA corria o risco de perder para o PMDB. Ele deixou um sistema que, primeiro, fazia algum sentido ao bipartidarismo, mas que não faz nenhum sen-tido no pluripartidarismo. E que, além disso, tem uma série de traços deixados pela ditadura que tornam inviável você operar, efetivamente, com a representação que tem um alicerce no seu respectivo partido. Isso pegou todos os presidentes da República: Tancredo, Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula. Eu diria que é um elemento de distorção institucional e de freio na democracia, sem falar nas práticas republicanas que são postas em jogo. Porque, o núcleo da democracia que o Executivo e o Legisla-tivo negociem: eu faço x e você faz y. É constituLegisla-tivo de uma democracia que haja essa negociação contínua. Mas, no nosso caso, você vai da negociação para a negociata, porque o sistema é tal que há um hiato entre o Executivo e o Legislativo. Tem que fazer a reforma política. [...]

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A autora faz um retrospecto do sistema político brasileiro mostrando que os parti-dos políticos são fraudulentos e que precisa haver uma reforma para avançar na democracia. Então, voltamos a perguntar. Qual democracia e qual cidadania experimentamos, hoje no Brasil? As tramóias estão postas no cenário político e como o povo pode se desvencilhar delas? Temos muito a avançar na construção da democracia e da cidadania. Por isso, o povo precisa se organizar em movimentos de lutas constantes de transformação social e cabe, à educação, um importante papel na participação junto aos movimentos.

O PAPEL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O AVANÇO DA DEMOCRACIA E DA CIDADANIA

O papel dos movimentos sociais do campo e cidade é muito importante na atu-al conjuntura brasileira. Se há a presença dos movimentos sociais nas ruas é porque o quadro social apresenta uma realidade que gera insatisfação. Até porque a definição de movimento social é clara sobre o que defende e quais horizontes quer atingir. O geógrafo Bernardo Mançano Fernandes apresenta uma definição de movimento social a partir do es-paço territorial no atual contexto político e econômico brasileiro. Ele diz que: “o eses-paço social é a materialização da existência humana”. Esta definição extremamente ampla de espaço foi elaborada por Henry Lefebvre (LEFEBVRE, 1991: 102). O espaço assim compreendido é uma dimensão da realidade (FERNANDES, 2005, p. 273).

O autor defende a idéia do espaço territorial na definição de movimento social porque, se analisarmos o que ocorre na sociedade hegemônica, há uma disputa constante de interesses de naturezas diversas num determinado espaço geográfico, o que gera conflitos e tensões. Logo, Fernandes (2005, p. 278) explica que:

as primeiras reflexões a respeito do conceito de movimentos socioterritoriais datam da segunda metade da década de 1990 e resultaram na publicação do artigo “Movimento Social como Categoria Geográfica” (FERNANDES, 2000b). Essas reflexões continuaram no debate com o geógrafo francês Jean Yves Martin (2001) e resultaram na publicação do texto “Movimento socioterritorial e globalização: algumas reflexões a partir do caso do MST” (FERNANDES; MARTIN, 2004).

A definição do autor mostra que o conceito de movimento socioterritorial é re-cente e tem como objeto de estudo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A definição vai ao encontro dos propósitos dos movimentos sociais da cidade e do campo que realizaram palestras no I Colóquio do PEC porque ficou como pano de fundo a defesa de um território para a garantia da democracia e da cidadania. Esse território, não profícuo para os interesses dos movimentos populares, precisa ser disputado cotidianamente para conquistas dos direitos do povo. Se analisarmos o que é cada um dos movimentos sociais presentes no Colóquio, tendo como fonte de informações as palestras dos representantes e identificação em seus Sites na internet, veremos que realizam o trabalho a partir de um terri-tório em disputa pelos interesses de uma sociedade de classes. O discurso dos representantes dos movimentos sociais expressou diversas opiniões sobre a realidade social e as mobilizações ocorridas para fazer avançar a democracia e a cidadania no país. Todos foram unânimes em dizer que a educação popular é importante e possibilita mudanças profundas na estrutura

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social. Afirmaram que a educação formal em todos os níveis pode e deve contribuir nas cau-sas sociais. Sendo assim, as caucau-sas sociais que nos referimos estão sistematizadas nos Sites dos movimentos sociais que participaram do Colóquio. São eles:

• Central Única dos Trabalhadores (CUT Goiás, 2013): “é uma organização sindical bra-sileira de massas, em nível máximo, de caráter classista, autônomo e democrático, cujo compromisso é a defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Base-ada em princípios de igualdade e solidariedade, seus objetivos são organizar, representar sindicalmente e dirigir a luta dos trabalhadores e trabalhadoras da cidade e do campo, do setor público e privado, ativos e inativos, por melhores condições de vida e de trabalho e por uma sociedade justa e democrática”.

• Via Campesina (2013)1: “a Via Campesina é um movimento internacional que reúne

milhões de camponeses, pequenos e médios produtores, sem-terra, indígenas, migrantes e trabalhadores agrícolas em todo o mundo. Defende a agricultura sustentável em pequena escala, como forma de promover a justiça social e a dignidade. Opõe-se contra o modelo energético e às multinacionais ligadas ao agronegócio que estão destruindo as pessoas e a natureza. Para isso reúne cerca de 164 organizações locais e nacionais em 73 países na África, Ásia, Europa e América. No total representa cerca de 200 milhões de camponeses. É um movimento autônomo, pluralista e multicultural, sem qualquer interferência políti-ca, econômipolíti-ca, ou de outra forma”.

• Central de Movimentos Populares (CMP Goiás, 2013): “Fruto de um processo histórico de resistência e dos movimentos sociais populares, em especial das lutas sociais dos anos 1980. [...] Seu eixo central de atuação é as Políticas Públicas com Participação Popular, um instrumento de articulação dos movimentos populares. O modo de articulação dos diversos movimentos populares e de unificação de lutas deve ser definido a partir da ela-boração de uma estratégia global que possibilite o avanço concreto de suas lutas específicas e imediatas rumo à transformação das estruturas do capitalismo, a fim de superá-lo, com-pondo, portanto, a realização dos objetivos conjunturais com o acúmulo de forças para a realização dos objetivos históricos. As propostas que afirmam ser necessário organizar os movimentos populares por local de moradia ou por eixos de luta advém da compreensão diferenciada do papel dos movimentos populares no enfrentamento do capitalismo. • Rede de Educação Cidadã Goiás (RECID, 2013): “É uma articulação de diversos atores

sociais, entidades e movimentos populares do Brasil que assumem solidariamente a missão de realizar um processo sistemático de sensibilização, mobilização e educação popular da população brasileira e principalmente de grupos vulneráveis econômica e socialmente (indí-genas, negros, jovens, LGBT, mulheres, etc), promovendo o diálogo e a participação ativa na superação da miséria, afirmando um projeto popular, democrático e soberano de nação”.

Partindo dos princípios e da clareza das causas sociais e do território que cada um dos movimentos demarca e defende em seus meios de divulgação e do trabalho cotidiano, podemos observar que num espaço territorial, seja no campo ou na cidade onde o modo de produção capitalista prevalece, faz-se necessário uma organização com objetivos centrados no conven-cimento das pessoas e sociedade como um todo para a tomada de consciência da situação de opressão na qual estão submetidas e se colocarem em movimento para a libertação. Sendo assim,

os movimentos socioterritoriais têm o território não só como trunfo, mas este é essencial para sua existência. Os movimentos camponeses, os indígenas, as empresas, os sindicatos

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e os estados podem se constituir em movimentos socioterritoriais e socioespaciais. Porque criam relações sociais para tratarem diretamente de seus interesses e assim produzem seus próprios espaços e seus territórios (FERNANDES, 2005, p. 280).

Os movimentos sociais, segundo o autor, lutam por interesses comuns e tem a capacidade de produzirem seus próprios territórios dentro da sociedade de classes. Isso por-que os problemas pelos quais lutam para superá-los precisam ser analisados e enfrentados de forma organizada. Esses problemas sociais também devem ser analisados na educação como proposta de construção e reflexão do conhecimento para mudanças da realidade e com a con-tribuição dos movimentos sociais.

CONTRIBUIÇÕES DOS MOVIMENTOS SOCIAIS PARA A EDUCAÇÃO

O I Colóquio do PEC possibilita uma série de indagações acerca da realidade social brasileira e o trabalho realizado pelos movimentos sociais cumpre uma função importante que é discutir os problemas inerentes e cobrar do Estado um posicionamento para que as mudanças ocorram. Há uma tensão presente porque a sociedade é hegemônica e precisa de uma nova relação da estrutura com a superestrutura para a criação da consciência crítica. Esta ocorre quando a estrutura provoca a mudança sem cair na contradição da concepção de mundo exercitada até então pela superestrutura. Por isso quando os movimentos sociais se colocam como sujeitos e se manifestam para cobrar do Estado uma postura conivente com as necessidades reais, estão cumprindo um papel educativo relevante porque estão presentes vários elementos do campo dos direitos. Para Sader (2005,p. 100),

a concepção do direito deve ser liberada de qualquer resíduo de transcendência e de abso-luto: praticamente de qualquer fanatismo moralista. Todavia não pode partir do ponto de vista de que o Estado não “pune” (se esse termo for reduzido a seu significado humano), mas somente luta contra a periculosidade social. Na verdade o Estado deve ser concebido como “educador”, pois tende exatamente a criar um novo tipo ou nível de civilização.

A concepção de direito e o papel do Estado descritos pelo autor diante da sociedade nos mostra que o Estado é educador e, ao mesmo tempo, punidor. Está presente aí, subjeti-vamente, que as mudanças sociais são tensionadas pelos movimentos sociais e o Estado cria regras para manter uma ordem estabelecida. Logo, quando há mobilização do povo nas ruas o Estado prepara todo o seu aparato de repressão, sendo o mais conhecido pela força policial para manter a ordem. Quando tratamos de outras formas de expressão de insatisfação acerca da realidade social, como é o caso da escrita de opiniões em livros, revistas, jornais, artigos, cinema e na internet, bem como na oralidade em mídias de TV, rádio, internet e outros, em muitos casos acontece o que chamamos de censura à liberdade de expressão. Esses dois níveis de repressão são aplicados diariamente, mesmo que de forma velada, aos movimentos sociais e outros segmentos da sociedade que manifestam opiniões ditas contrárias à ordem do Estado. Os movimentos sociais, como sujeitos que disputam um território com clareza dos objetivos a serem alcançados, podem ser considerados parceiros da educação. Mas antes pre-cisa ter clareza de que o papel da educação não é intervir diretamente nas ações dos movi-mentos e ou se transformar num deles para mudar os rumos da sociedade. Cabe à educação

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refletir teoricamente sobre a realidade vigente no campo do empirismo a partir das lutas dos movimentos sociais e, junto com eles, propor melhorias. No caso específico da PUC Goiás, o conhecimento elaborado na graduação pelos futuros professores em suas pesquisas precisa levar em conta o que ocorre na sociedade e na luta dos movimentos sociais para entenderem qual é o papel da educação no século XXI. Ou seja, os futuros professores precisam ter clareza no processo formativo de que pertencem à classe trabalhadora e, portanto, o conhecimento construído na escola em que exercerão o magistério servirá de base para a mudança social.

Se estiver em questão o lugar que a escola deve assumir em um projeto mais amplo de transformação da sociedade, cabe buscar entender o lugar da educação nesse projeto e, necessariamente, a formação de um educador, cujo compromisso político e ético se faça compartilhado com as classes populares (SANTOS, 2010, p. 144).

Segundo a autora é preciso ter clareza do lugar da escola na sociedade e, para que isso ocorra, deve-se pensar a formação do educador com compromisso político e ético para ser agente de transformação social. Sendo assim, as reflexões sociais na construção do conhe-cimento dentro da Universidade pelo futuro professor, o levará a um maior compromisso de mudanças ao atuar como profissional numa instituição educacional. Esse professor entende que o conhecimento produzido na escola deve ir ao encontro das necessidades das classes populares com reflexões na busca da superação das necessidades imperantes. Aqui recorremos ao pensador da educação Paulo Freire que deixou um legado inestimável de produção do co-nhecimento para a transformação da sociedade brasileira e de todo o mundo. Alicerçado na sua Pedagogia do Oprimido foi capaz de proporcionar democracia e cidadania para milhões de pessoas por meio do conhecimento na alfabetização, organização e quebra do poder hegemô-nico. Seu legado ainda se faz necessário ser trabalhado na educação na modernidade porque a realidade do país ainda clama por dias melhores. Até porque no capitalismo brasileiro e mundial é preciso romper com as barreiras das desigualdades. Há uma frase de Paulo Freire (1987) que diz o seguinte: “não basta saber ler que Eva viu a uva, é preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Logo, o conhecimento com compromisso social politiza o povo e o torna soberano e livre das armadilhas de um poder absoluto.

O I Colóquio do PEC proporcionou um debate com os movimentos sociais que apontam luzes para a educação enquanto partícipe e construtora do seu lugar na sociedade. Fica claro que, para os estudantes da graduação da PUC Goiás, o conhecimento construído na academia deve refletir sobre as mazelas postas na sociedade para provocar uma ruptura. Enquanto futuro professores a atuação nas instituições educativas deve ser de aproximação, reflexão e construção do conhecimento numa parceria com os movimentos sociais para con-tribuir na construção da democracia e da cidadania.

As reflexões e o conhecimento construído no Colóquio reforçam a importância do PEC dentro da PUC Goiás como programa de extensão porque busca um diálogo e apro-ximação com a educação desenvolvida fora dos espaços físicos da academia, ou seja, com a educação popular. Esse processo é importante por promover ações de formação com os acadêmicos de graduação nos cursos de licenciatura dentro de uma proposta emancipadora que permite refletir sobre o papel da educação e do professor na sociedade. Ao mesmo tempo, desperta nos acadêmicos o desejo de estudar cientificamente os movimentos sociais na

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pro-dução de monografias. Mais do que isso, que o conhecimento possa ser desenvolvido numa perspectiva de suporte para as lutas populares.

SOCIAL MOVEMENTS IN CONSTRUCTION OF DEMOCRACY AND CITIZENSHIP

Abstract: this is an extension study that aims to analyze the field of education building democracy

and citizenship from the participation of social movements in the I Colloquium in 2013 by the Program on Education and Citizenship (PEC), linked to the Pro Dean of Extension (PROEX) Coordination and Extension (CDEX) PUC Goiás.

Keywords: Education. Extension. Social Movements. Democracy. Citizenship. Nota

1 Texto conceitual traduzido da página do Site da Via Campesina da Língua Espanhola para a Língua Portuguesa.

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Referências

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