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O sujeito do discurso: um diálogo possível e necessário

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Academic year: 2020

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Ato de Criação Na mesa escura e feia riscos e sulcos confirmam outras passagens Sobre ela debruço meus sonhos garatujo imagens rabisco idéias que se poemizam se polemizam Nesta mesa (a do trabalho) acontece o confronto (Otávio Cabral)

O SUJEITO DO DISCURSO: UM DIÁLOGO POSSÍVEL E

NECESSÁRIO

Belmira Magalhães*

Resumo: Pretende-se discutir o lugar da autoria no discurso, partindo da compreensão de que a realidade apresenta-se ao homem na sua forma particular, isto é, as coisas têm sempre ontologicamente uma característica que as torna, ao mesmo tempo, universais e singulares – por isso, particulares. Para que haja apreensão do real pela subjetividade, há necessidade de, a partir da particularidade, captar a singularidade e a universalidade. O mundo real e o sujeito cognoscente não podem ser confundidos. A materialidade expressa em um discurso traz a marca da subjetividade que a produziu, pois representa, concomitantemente, a relação entre uma individualidade posta em um tempo e espaço definidos historicamente e uma realidade que está sendo representada por essa individualidade, com consciência do que está fazendo, mas sem o domínio de todas as alternativas postas por essa mesma realidade. Sintetizando, tem-se que a discussão sobre a posição de sujeito e da autoria no discurso passa necessariamente pela compreensão de que o sujeito é constituído nas e pelas contradições sociais. Para enfrentar essa questão, partimos das noções de ser social de Lukács, de esquecimento 2, desenvolvida por Pêcheux, e do conceito de intuito discursivo como definido por Bakhtin.

Palavras-chave: ser social; objetividade; subjetividade; sujeito; autor.

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1 INTRODUÇÃO

A poesia da epígrafe exprime primorosamente o debate que este artigo pretende iniciar sobre a questão da subjetividade em AD. O poeta percebe, através de uma realidade posta – a mesa de trabalho –, as marcas da história que deixaram sulcos na madeira, isto é, que outros homens, além de fazerem a mesa, utilizaram-na em atividades diversas. O peso da história está metaforicamente dado pela massa corpórea que abriga o fazer humano. A objetividade, da qual o poeta faz parte, fornece os limites do fazer estético. Nova realidade está sendo construída, um novo poema aparece para realizar o confronto entre uma objetividade que determina e uma subjetividade que escolhe, subjugada às determinações, cada palavra, para fazer sentido na poesia.

Esta é a temática do nosso artigo: as determinações sociais e os condicionamentos do inconsciente não impedem a criação do novo, que necessariamente terá as marcas desses dois condicionantes, mas trará, também necessariamente, o peso da mão que elabora o poema, sua intencionalidade e suas escolhas que marcarão a autoria.

Trabalhar com a perspectiva do materialismo dialético em lingüística tem sido efetivamente uma dificuldade, devido ao pressuposto estruturalista que hegemonicamente domina esta área do saber. A análise do discurso de orientação francesa, que tem Pêcheux como um dos teóricos fundadores, tem tentado, a partir de Althusser, estabelecer uma relação efetiva com o marxismo. No entanto, ao estabelecer um diálogo através da corrente teórico-metodológica althusseriana, mantém o vínculo com o estruturalismo que domina toda a estruturação marxista desse autor.

Interessa-nos particularmente neste artigo avançar na discussão sobre as possibilidades do sujeito do discurso A vinculação com a perspectiva althusseriana cria problemas, a nosso ver insolúveis, na medida em que dentro da concepção deste autor há um assujeitado definitivo do sujeito que impede o estabelecimento do sujeito/autor, isto é, o sujeito capaz de criar o novo. Pretendemos, a partir da discussão que Lukács e Bakhtin fazem sobre a subjetividade e Pêcheux sobre o esquecimento 2, contribuir para o desenvolvimento desta questão: a noção de sujeito.

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2 A CONCEPÇÃO MARXIANA DE SUBJETIVIDADE

A subjetividade pretende prender o mundo, através da língua, tornando-o apenas possível a partir de seu discurso. No entanto, o discurso não é uma construção independente das relações sociais, mas, ao contrário, o fazer discursivo é uma práxis humana que só pode ser compreendida a partir do entendimento das contradições sociais que possibilitaram sua objetivação.

Posto o problema, passaremos a seu desenvolvimento. Na abordagem que se pretende realizar, a primeira afirmação, não por ser mais importante do que as que se seguirão, mas pela precedência que impõe, é a de que toda práxis humana pressupõe a existência de duas categorias ontológicas – subjetividade e objetividade1 que possuem autonomia, mas que não podem ser pensadas

separadamente. O mundo real e o sujeito cognoscente não podem ser confundidos.

Na verdade, discute-se o processo de apreensão do mundo e dos diversos níveis em que isso pode efetuar-se. A apreensão cognitiva desse real só é possível através de categorias intelectivas que tornem possível a captação dessa relação de singularidade e universalidade.

Temos, portanto, duas ordens de fenômenos: uma, que diz respeito à

coisa em si, e outra, que se refere à possibilidade de apreensão efetiva dalógica das coisas.2 A primeira faz parte do objeto; a segunda, do sujeito cognoscente. O

processo do conhecimento, apreensão do real, se dá pelo sujeito que, ao mesmo tempo, busca retratar fielmente o movimento do objeto e cria estruturas lógicas (conceitos).

Entretanto, essa capacidade de conhecer, própria do Sujeito, é, necessariamente, atravessado pela Ideologia. Para Lukács não há uma ideologia

a priori, pois “toda ideologia tem seu ser-precisamente-assim social: ela nasce direta e necessariamente do hic et nunc social dos homens que agem socialmente na sociedade” (VAISMAN, 1989, p. 446), significando que a ideologia só tem existência social e que ela se refere a um real específico que é por ela pensado e sobre o qual atua.

1 Para melhor desenvolver esse tema, veja Marx, 1978.

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Recorremos mais uma vez a Lukács, estudioso da obra de Marx, que baseia suas análises numa leitura ontológica de Marx, isto é, ressalta o caráter ontológico da obra marxiana. Para esse autor, a ideologia secundária é definida “como o momento ideal que antecede o desencadeamento da ação” (VAISMAN, 1989, p. 416), isto é, nas palavras do autor:

A ideologia é, acima de tudo, aquela forma de elaboração ideal da realidade que serve para tornar a práxis social dos homens consciente e operativa (LUKÁCS,apud VAISMANN, p. 446)

Ou ainda,

As atividades espirituais do homem não são, por assim dizer, entidades da alma, como imagina a filosofia acadêmica, porém formas diversas sobre a base das quais os homens organizam cada uma de suas ações e reações ao mundo externo. Os homens dependem sempre, de algum modo, destas formas para a defesa e construção de sua existência (LUKÁCS, 1994, p. 40).

É importante que ressaltemos, junto com esse autor sempre haverá “conflitos entre a comunidade e os indivíduos, porque seria um preconceito metafísico pensar que a consciência social fosse totalmente idêntica em cada homem” (VAISMANN, 1989, p. 456).

Sendo, neste sentido, que a materialidade expressa em um discurso traz a marca da subjetividade que a produziu, mas não no sentido de ser apenas expressão da individualidade do autor, pois o que está ali expresso é a relação entre uma individualidade, posta em um tempo e espaço definidos historicamente, e uma realidade que está sendo representada por essa individualidade, com consciência do que está fazendo, mas sem o domínio de todas as alternativas postas por essa mesma realidade.

A capacidade de realizar ações planejadas pela consciência, constitui a marca que diferencia os seres sociais das outras espécies animais. A teleologia que cada sujeito imprime à realidade só é possível porque essa individualidade foi capaz de antever o movimento da realidade que permitirá a realização de uma ação previamente pensada/planejada. No entanto, após esse ato, não há condições de prever a forma como ele será absorvido socialmente, nem o limite dessa absorção.

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Esse processo tem início a partir de um salto ontológico,3 que cria a

possibilidade de um ser vivo desligar-se do condicionamento único das leis da esfera da vida que o prendia à condição de repetir sempre os mesmos atos, posto que subsumidos à lógica biológica. Após esse deslocamento não há retorno ao lugar anterior, iniciando-se o processo de humanização do gênero humano. O ser social surgido dessa mudança ontológica possui a capacidade de pensar com objetivo prático.

Dizendo de outra forma, o ser social surge com a associação do pensamento à ação, através da capacidade da prévia-ideação que realiza o planejamento da ação antes de sua execução. Para que isso fosse possível, foi necessária a constituição de uma linguagem qualitativamente nova, condição intrínseca para a leitura do mundo realizada pelo pensamento:

A linguagem é tão antiga quanto a consciência – a linguagem é a consciência real, prática, que existe também para os homens, e, portanto, que existe igualmente para mim mesmo pela primeira vez; pois a linguagem, como a consciência, só nasce da necessidade, da exigência de intercâmbio com outros homens (MARX, 1965, p. 26).

Na verdade, a percepção da generidade, condição primeira de possibilidade de ser do gênero humano, só é possível através da linguagem que, desde o início, possui as duas finalidades que constituem essa capacidade do ser social:

a) fazer a comunicação entre os seres, sem a qual não há generidade, sendo o sujeito o mediador do discurso;

b) possibilitar o pensar por objetivo – teleologia, sem a qual não há individualidade, sendo o sujeito aqui, criador do novo – objetos e, inclusive, discurso.

Marx sintetiza a relação entre subjetividade e objetividade:

A produção de idéias, de representações, da consciência está, desde o início, diretamente entrelaçada com a atividade material dos homens, como a

3 Um salto ontológico é promovido por diversos fatores pré-existentes que, reunidos, criam um novo ser, com uma lógica inteiramente diferente, que o faz ontologicamente diverso dos seres anteriores. Ver Lukács, 1979.

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linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens, aparecem aqui como emanação direta do seu comportamento material (MARX, 1965, p. 21).

A novidade do aparecimento do novo ser é sua condição intrínseca e ontológica de ser sujeito, imprimindo de forma consciente4 sua marca na

objetividade como meio de suprir antigas e novas necessidades. Para que a criação do novo aconteça, é preciso que as mudanças cheguem até a consciência para conservá-las e promover a reprodução, através da generalização social. É nesse processo que a linguagem cumpre a sua função: fixar na consciência as aquisições, conservando-as e superando-as a partir do desenvolvimento de novas perguntas e novas respostas.

Desde o início pesa sobre o espírito a maldição de estar contaminado

pelamatéria, que se apresenta sob a forma de camadas de ar em movimento de sons, em suma, de linguagem (MARX, 1965, p. 43).

Descobrindo o que até então era ignorado, aparecem novos conteúdos, com múltiplas formas, que exigem uma negociação comunicativa entre os sujeitos.5 Esse novo ser, aparentemente dotado de poder absoluto para transformar

o real, se depara com um limite intransponível, pois, colocado fora de si – pertencente ao locus da objetividade –, detém o limite da ação da subjetividade. A subjetividade que percebe carências precisa conhecer a legalidade da objetividade para nela interferir, mas apenas dentro das possibilidades permitidas por essa mesma objetividade e, efetivamente, com o nível de conhecimento que essa subjetividade, que é individual e histórica, possui.

Nos atos singulares de criação ou de recepção, de aprovação ou de recusa, os indivíduos podem ter desde uma participação mínima até uma interferência decisiva no processo geral, sendo nesse sentido que a linguagem é entendida como

medium que possibilita, ao mesmo tempo, a fixação e a transformação da língua.

4 Consciente, aqui, não significa o domínio racional de todo o processo, mas apenas a intencionalidade do sujeito de pensar uma ação. Para desenvolvimento do tema, ver Lukács (1966-67), principalmente o capítulo sobre o trabalho e Bakhtin (1990).

5 Para Lukács (1990:68-88), esse aspecto está diretamente ligado à necessidade de intercâmbio entre os sujeitos na produção e reprodução social de suas existências, fazendo parte do caráter social do gênero humano.

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Quanto mais a subjetividade tender para o descobrimento e revelação do novo, tomando uma posição a favor das novas possibilidades que surgem, tanto mais terá condições de promover o movimento dialético necessário a uma interferência efetiva no real.

A razão decisiva graças à qual uma obra conserva uma eficácia permanente, enquanto outra envelhece, reside em que uma capta as orientações e as proporções essenciais do desenvolvimento histórico, ao passo que a outra não conseguiu (LUKÁCS, 1978, p. 240).

Sem a interferência da subjetividade, é impossível qualquer escolha entre as alternativas existentes na objetividade, que funcionaria apenas com sua lógica interna ou ao sabor do acaso.6 Na verdade, é o surgimento da subjetividade que

instaura o ser social; e a história do gênero humano é a história da intervenção da subjetividade na objetividade. É nessa relação que se consubstancia a força do sujeito/autor.

O limite da subjetividade é dado pela objetividade que não permite qualquer tipo de intervenção, mas apenas aquelas que condizem com sua legalidade. Nesse sentido é que uma subjetividade precisa do conhecimento mais apurado possível, da lógica do objeto a sofrer sua interferência, para que as práticas possuam possibilidade de eficácia.

O escopo teórico marxiano dá um passo decisivo para estabelecer o papel da subjetividade na construção do ir-sendo do ser social, ou seja, é a subjetividade que instaura a possibilidade de um mundo humano/social, mas não uma subjetividade autônoma que se impõe idealmente à realidade. Na verdade, tem-se uma subjetividade objetivada, isto é, um sujeito que possui história, por isso, limites na construção ideal e efetiva de suas realizações.

No entanto, o fato de não absolutizar a capacidade do sujeito de criar o que quiser, a partir única e exclusivamente de sua vontade, não retira da subjetividade a capacidade criadora, nem a importância crucial de sua ação para a reprodução do ser social. Assim é que não há uma individualidade, nem produção individual, que não seja essencialmente social e histórica.

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Ainda quando realizo trabalho científico, artístico etc., uma atividade que raramente posso conduzir em associação direta com outros homens, efetuo um ato social, por ser humano. Não é só o material de minha atividade – como a própria língua, que o pensador utiliza – que me é dado como um produto social. Minha própria existência é uma atividade social. Por essa razão, o que eu próprio produzo o faço para a sociedade, e com a consciência de agir como um ser social (MARX, 1964, p. 125).

Como parte do ser social, a subjetividade pode ter diversos graus de conscientização sobre o seu estar no mundo e, em conseqüência, ter maior ou menor possibilidade de compreendê-lo, mas a explicação para sua atividade no mundo não será dada por nenhuma condição que não possua explicação na própria sociabilidade, e não por um a priori de constituição do sujeito.

Entende-se, pois, a afirmação da concepção marxiana de que a vida individual e a genérica não constituem entidades autônomas que se relacionam, mas, ao contrário, são partes de um todo impossível de ser dissociado.

Na verdade, não há individualidade sem gênero humano, como não há generidade sem indivíduos capazes de se reconhecerem como tais e, por isso, conscientes de seu estar-no-mundo7. Nas palavras de Marx,

A vida individual e a vida-espécie não são coisas diferentes, conquanto o modo de existência da vida individual seja um modo mais específico ou mais geral da vida-espécie, ou o da vida-espécie seja um modo mais

específico ou mais geral da vida individual (MARX, 1964, p. 125).

Depreende-se dessas afirmações que não há uma oposição ontológica8

entre indivíduo e sociedade; há um nexo entre subjetividade, sociedade e produção das idéias, de modo que a subjetividade elucidará (ou não) os problemas advindos das relações sociais: a intervenção da subjetividade é o espaço fundador da liberdade humana, na medida em que o processo de autoconstrução do ser social implica sempre possibilidade de escolha.9

7 Este tema será desenvolvido mais adiante. No entanto, é importante destacar desde já que esse contínuo é que marca a diferença entre uma individualidade que não conseguirá se deslocar do cotidiano, de outra que será capaz, por exemplo, de produzir Vidas secas. 8 A oposição entre indivíduo e sociedade pode se dar quando a sociabilidade é inibidora da individuação, mas sempre tendo-se como ponto de partida que a escolha de uma sociabilidade opressora é produzida pela relação entre os seres sociais.

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3 A INTENCIONALIDADE EM BAKHTIN

Bakhtin (2000) afirma que há, por parte do sujeito, um querer dizer do sujeito que tem ampla influência na formação do enunciado:

Em qualquer enunciado, desde a réplica cotidiana monoleximática até as grandes obras complexas científicas ou literárias, captamos, compreendemos, sentimos o intuito discursivo ou querer dizer do locutor que determina o todo do enunciado: sua amplitude, suas fronteiras. [...] O intuito, o elemento subjetivo do enunciado entra em combinação com o objeto do sentido – objetivo – para formar uma unidade indissolúvel, que ele limita, vincula à situação concreta (única) da comunicação verbal, marcada pelas circunstâncias individuais, pelos parceiros individualizados e suas intervenções anteriores: seus enunciado (p. 300).

A relação conteúdo e forma está sempre indissociada: a intenção do autor é objetivada no discurso sob determinada forma que não poderia ser outra e que constitui o momento do reflexo, isto é, a marca da individualidade no real. Nessa atividade humana, como em todas as outras, o momento pessoal tem importância constitutiva de toda objetividade. Na verdade, há um duplo aspecto a ser considerado: todo processo de objetivação do fazer humano é orientado pelo momento subjetivo que pressupõe leitura do mundo, intencionalidade, conhecimento técnico e, ao mesmo tempo, todo resultado obtido possui pretensão de validez objetiva.

É necessário o esforço do reflexo para captar todo objeto, em conexão com a subjetividade humana em geral (universal) e, ao mesmo tempo, perceber como esse todo se apresenta, se manifesta, na imediaticidade histórica (singular), isto é, um reflexo da realidade que seja capaz de impor as impressões e vivências da cotidianidade e, simultaneamente, estar impregnado de subjetividade como elemento insuperável de seu ser-assim. A realidade apresenta-se ao homem na sua forma particular; as coisas têm sempre ontologicamente uma característica que as torna, ao mesmo tempo, universais e singulares e por isso, particulares. Para que haja apreensão do real pela subjetividade há necessidade de, a partir da particularidade, captar a singularidade e a universalidade.

Seguindo esta abordagem, afirma-se que nenhum discurso pode ser estudado sem o auxílio da História. Não é história porque o sujeito resolveu contar o seu tempo, mas porque ele reflete no e sobre o seu tempo.

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Em consonância com essa forma de perceber o sujeito do discurso, pode-se também afirmar que toda a objetivação discursiva possui um ponto de vista autoral. Na verdade, estamos nos referindo ao posicionamento do sujeito sobre a realidade refletida no discurso, a marca de sua intencionalidade, ao escolher aquele conjunto de códigos e não outro para refletir sua fala.

Reforçando essa argumentação, Bakhtin (1990), no estudo que faz da relação entre subjetividade e objetividade, afirma:

Um signo não existe apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico, etc. Todo signo está sujeito aos critérios de avaliação ideológica (p. 32).

É com essa concepção que estamos tratando das marcas de autoria, o que não requer, sob essa perspectiva, nenhuma incursão sobre as características psicológicas do autor como forma explicativa de sua composição autoral. Bakhtin, ao discutir a relação entre objetividade e consciência, sintetiza a questão da seguinte forma:

Tudo que dissemos acima conduz ao seguinte princípio metodológico: o estudo das ideologias não depende em nada da psicologia e não tem nenhuma necessidade dela. Como veremos, é antes o contrário que é verdadeiro: a psicologia objetiva deve se apoiar no estudo das ideologias (BAKHTIN, 1990, p. 36).

É importante ressaltar que essa intencionalidade pode não ser conseguida satisfatoriamente, e que o fato de ter uma intencionalidade não liberta o autor de contradições que estarão refletidas no seu discurso, sem necessariamente empobrecê-lo. O ponto de vista terá a ver com a posição do sujeito frente à realidade e às suas possibilidades de conseguir a particularidade do real refletido. Nas palavras de Lukács (1997):

Na sociedade, cada homem existe numa determinada situação de classe, à qual naturalmente pertence a inteira cultura do seu tempo; não pode assim haver nenhum conteúdo de consciência que não seja determinado pelo hic et nunc da situação atual [...] uma consciência pretensamente livre de liames sociais, que trabalha por si mesma, puramente a partir do interior, não existe e ninguém jamais conseguiu demonstrar sua existência (p. 67).

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Na realidade, está-se afirmando que existe sempre um projeto consciente do sujeito, que traz implícita uma visão sobre a realidade refletida e que pode ser expresso de formas as mais diversificadas.

O tema e a forma do signo ideológico estão indissoluvelmente ligados, e não podem, por certo, diferenciar-se a não ser abstratamente. Tanto é verdade que, em última análise, são as mesmas forças e as mesmas condições que dão vida a ambos (BAKHTIN, 1990, p. 45).

Captar a tomada de posição do sujeito frente à particularidade refletida no discurso apresenta dificuldades, só sendo possível quando se penetra em todos os momentos de elaboração do objeto, pois, quanto mais imanente, mais trabalhoso é o percebê-la.

Se o conteúdo do psiquismo é tão social quanto a ideologia, por outro lado, as manifestações ideológicas são tão individuais (no sentido ideológico deste termo), como psíquicas. Todo produto da ideologia leva consigo o selo da individualidade do seu ou dos seus criadores, mas esse próprio selo é tão social quanto todas as outras particularidades e signos distintos das manifestações ideológicas. Assim, todo signo, inclusive o da individualidade, é social (idem, 1990, p. 59).

Uma análise do discurso necessita, por isso, ultrapassar a materialidade discursiva, para chegar à intencionalidade valorativa do discurso, isto é, a intencionalidade de um sujeito que vive o mundo, reflete sobre ele e se posiciona.

4 O “ESQUECIMENTO” DE PÊCHEUX

Pêcheux, através do conceito de esquecimento 2, trabalha o desejo/ possibilidade de a subjetividade controlar o sentido do discurso.

Desse modo se acha, pois, desenhado num espaço vazio o campo de “tudo o que teria sido possível ao sujeito dizer (mas que não diz) ou o campo de “tudo a que se opõe o que o sujeito disse”. Essa zona do rejeitado pode estar mais ou menos próxima da consciência e há questões do interlocutor – visado a fazer, por exemplo, com que o sujeito indique com precisão “o que queria dizer “ – que o fazem reformular as fronteiras e re-investigar essa

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zona. Propomos chamar este efeito de ocultação parcial esquecimento 2 e de identificar aí a fonte de impressão de realidade do pensamento para o sujeito (“eu sei o que digo” “eu sei do que falo”) (GADET e HAK, 1993, p. 176)

Para Pêcheux, com o esquecimento 2, o sujeito exerce as potencialidades da consciência para fazer as escolhas necessárias ao projeto de tornar seu discurso o mais claro possível. Nesse sentido, a consciência que, para esse autor não pode estar dissociada do inconsciente, pressupõe o sujeito que decide, que faz escolhas, que agita seu lugar no mundo.

Todo discurso é o índice potencial de uma agitação nas filiações sóciohistóricas de identificação, na medida em que ele constitui ao mesmo tempo um efeito dessas filiações e um trabalho (mais ou menos consciente, deliberado, construído ou não, mas, de todo modo, atravessado pela determinações inconscientes) de deslocamento no seu espaço (idem, 1990, p. 56).

Nesse sentido, o sujeito busca o controle de seu dizer, sendo aí instalada a possibilidade de criação do novo, de não-aprisionamento total do sujeito à ideologia e ao inconsciente. O trabalho do sujeito, para Pêcheux, se dá em todos os lugares discursivos e não, como se referem Bourdieu e Althusser, a determinados lugares privilegiados pré-estabelecidos.

De passagem, os estruturalistas acreditavam assim na idéia de que o processo de transformação interior aos espaços simbólicos é um processo EXCEPCIONAL: o momento do herói solitário e do poético (Marx/Marllamé), como trabalho extraordinário do significante (idem, 1990, p. 52)

Para esse autor, ao contrário, toda identificação carrega a possibilidade de crítica, de negação do estabilizado.

Não há identificação plenamente bem sucedida, isto é, ligação sóciohistórica que não seja afetada, de uma maneira ou de outra, por uma “infelicidade” no sentido performativo do termo, isto é, no caso, por um erro de pessoa, isto é, sobre o outro, objeto da identificação (PÊCHEUX, 1990, p. 57)

Aqui esse autor pode ser interpretado, mantidas todas as outras diferenças, no mesmo lugar de Lukács, quando se refere à capacidade ontológica do ser social de criação do novo. Haverá sempre a possibilidade do desvio, do equívoco,

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isto é, da possibilidade de superação da identificação. Nesse sentido, o sujeito, determinado social e condicionado pelo inconsciente, tem sempre um lugar de não-filiação, dado também pelas possibilidades da própria objetividade, seja ela tomada no nível macro, ou referido, como faz Pêcheux, à língua quando esta incorpora a poesia.

Nada da poesia é estranho à língua

Nenhuma língua pode ser pensada completamente, se aí não se integra a possibilidade da poesia (idem, 1990, p. 51).

Seguindo seu pensamento, Pêcheux afirma, em Estrutura e acontecimento, que há, por parte do sujeito, tomadas de posição que têm a ver tanto com as escolhas a que Lukács se refere, como com o intuito discursivo que Bakhtin assegura ao sujeito. Ao terminar seu livro, Pêcheux, a nosso ver, sem negar nenhuma das determinações já amplamente discutidas neste artigo, alerta para a importância do acontecimento e, nele, o lugar do sujeito.

A posição de trabalho [...] supõe somente que, através das descrições regulares de montagens discursivas se possam detectar os momentos de interpretações enquanto atos que surgem como tomadas de posição, reconhecidas como tais, isto é, como efeitos de identificação assumidos e não negados (idem, 1990, p. 57)

No entanto, essa compreensão só é possível na perspectiva dialética e não estruturalista que concebe o sujeito determinado pelas condições histórico-sociais e condicionado pelo inconsciente que, embora tenha uma base física, também é histórico. Embora Pêcheux critique duramente o “verdadeiro marxismo” como ciência régia, em momento algum de sua obra há um deslocamento definitivo das concepções de Marx sobre a história, principalmente no tocante às contradições básicas da sociedade subsumidas às relações de classe. No entanto, sua crítica ao estruturalismo atinge essa teoria em sua base, isto é, a não incorporação do cotidiano às suas investigações. A negação do cotidiano e, nele, do linguageiro, constitui o fundamento das críticas aos estruturalistas, que transformam a crítica, isto é, a possibilidade de autoria como obra específica de grandes heróis.

É nesse ponto que se encontra a questão de disciplinas de interpretação: é porque há o outro nas sociedades e na história, correspondente a esse outro próprio ao linguageiro discursivo, que aí pode haver ligação, identificação

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ou transferência, isto é, existência de uma relação abrindo possibilidade de interpretar. E é porque há ligações que as filiações históricas podem-se organizar em memórias, e as relações sociais em redes de significantes (idem, 1990, p. 54)

Sintetizando, vimos como Pêcheux desde seus primeiros escritos, através do conceito de esquecimento 2, permite buscar a possibilidade do sujeito-autor na perspectiva da AD de linha francesa. Esta questão foi aprofundada por ele no livroEstrutura e acontecimento, texto em que o autor enfatiza a necessidade de verificação da força do acontecimento, que necessariamente tem um sujeito10 que

o realiza, para as análises discursivas.

5 CONCLUSÃO

Ficar com as concepções althusseriana de ideologia e lacaniana de inconsciente é tirar do sujeito qualquer possibilidade de criação do novo; é, na verdade, substituir os grilhões que a lógica da natureza mantém sob seus seres, por grilhões ideológicos e inconscientes que não permitem ao homem/mulher fazer história, mas apenas ser conduzido por ela, ou então, ser a expressão de um inconsciente que controla todos os atos do ser, primordialmente os atos de linguagem, forma de estruturação do inconsciente lacaniano.

Em épocas em que se acentua o individualismo levando o indivíduo ao isolamento completo, à competição desenfreada ou à inércia, a vinculação da AD ao estruturalismo pode significar uma aceitação do mundo como ele está, sem nenhuma perspectiva para o sujeito de superar suas próprias escolhas, não como sujeito pleno de poderes, mas como sujeito que é capaz de fazer escolhas conscientes sobre a objetividade, imprimindo sua marca nela. Este fato não garante evidentemente que as escolhas serão em prol da própria humanidade, mas trazem a possibilidade de o serem, diferentemente de um sujeito que não consegue ter nenhum domínio sobre seus atos, pois que está interpelado incondicionalmente pela ideologia ou subsumido ao inconsciente.

Tanto na afirmativa bakhtiniana como na conceituação de Pêcheux, aparecem os pressupostos da possibilidade de autoria, no sentido de uma

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singularidade social. No entanto, continuar a trabalhar com o conceito de ideologia althusseriano, que é eminentemente estruturalista, e, no que se refere, ao sujeito, impeditivo de uma autonomia, faz o caráter de assujeitamento do sujeito permanecer.11

Finalmente, como vimos, o conceito de esquecimento 2 pode ser a porta de entrada para que a palavra esquecimento possa ser entendida como possibilidade de marcas de autoria.

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Recebido em 30/10/03. Aprovado em 05/12/03.

Title: The subject of discourse: a possible and necessary dialogue Author: Belmira Magalhães

Abstract: The goal here is to discuss the place of authorship in discourse considering that reality presents itself to the individual in its particular form, that is, things have always, ontologically, some characteristic that makes them at once universal and singular – and thus, particular. For one to apprehend the real by means of subjectivity it is necessary to perceive the singularity and universality from particularity. The real world and the knowing subject cannot be taken one for the other. The materiality expressed in a discourse brings the mark of that subjectivity that has produced it, for it represents, simultaneously, the relation between an individuality situated in a historically defined time and space and a reality that is being represented by that same individuality, conscious of what it is doing, but without having control over all alternatives presented by that same reality. In sum, the debate about the position of the subject and of authorship in discourse asks for the understanding that the subject is constituted by and according to social contradictions.

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To face such an issue, we employ Lukács’ notions of social being, of forgetting 2, developed by Pêcheux, and the concept of discursive intent as defined by Bakhtin.

Keywords: social being; objectivity; subjectivity; subject; author. Tìtre: Le sujet du discours: un dialogue possible et nécessaire Auteur: Belmira Magalhães

Résumé:On a l’intention de discuter la place de la création de l’auteur dans le discours, partant de la compréhension concernat la façon dont la réalité se présente à l’homme dans sa forme particulière, c’est-à-dire, les choses ont toujours ontologiquement une caractéristique qui les fait devenir en même temps universelles et singulières – et ainsi, particulières. Pour qu’il y ait l’appréhension du réel par la subjectivité, il faut capter la singularité et l’universalité, à partir de la particularité. Le monde réel et le sujet cognoscent ne peuvent pas être confondus. La matéarialité exprimée dans un discours apporte la marque de la subjectivité qui l’a produite, car elle représente, en même temps, la relation entre une individualité posée dans un temps et l’espace définis historiquement et une réalité qui est en train d’être représentée par cette individualité, avec la conscience de ce qui est en train d’être fait, mais sans la domination de toutes les alternatives posées par cette même réalité. En somme, c’est établi que la la discussion sur la position du sujet et de la création de l’auteur dans le discours passe nécessairement par la compréhension dont le sujet est constitué dans et par les conditions sociales. Pour envisager cette question, nous sommes partis des notions de l’être social de Lukács, de l’oubli numéro 2, développé par Pêcheux, et du concept de l’intuition discusive selon la définition de Bakhtin.

Mots-clés: être social, objectivité, subjectivité, sujet, auteur. Título:El sujeto del discurso: un diálogo posible y necesario Autor: Belmira Magalhães

Resumen:Se pretiende discutir el lugar de la autoría en el discurso, partiendo de la comprensión de que la realidad se presenta al hombre en su forma particular, esto es, las cosas tienen siempre ontologicamente una característica que las torna, al mismo tiempo, universales y singulares – por eso, particulares. Para que haya aprensión del real por la subjetividad, hay necesidad de , a partir de la particularidad, captar la singularidad y la universalidad. El mundo real y el sujeto cognoscente no pueden ser confundidos. La materialidad expresa en un discurso trae la marca de la subjetividad que la produjó, pues representa, concomitantemente, la relación entre una individualidad puesta en un tiempo y espacio definidos historicamente, y una realidad que está siendo representada por esa individualidad, con consciencia de lo que está haciendo , mas sin el dominio de todas las alternativas puestas por esa misma realidad. Sintetizando, se tiene que la discusión sobre la posición de sujeto y de la autoría en el discurso pasa necesariamente por la comprensión de que el sujeto es constituido en las y por las contradicciones sociales. Para enfrentar esa cuestión , partimos de las nociones de ser social de Lukács, de esquecimiento 2, desarrollo por Pêcheux, y del concepto de intuito discursivo como definido por Bakhtin.

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