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PROJETO DE WEB TV NO ÂMBITO DA ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

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Academic year: 2019

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PROJETO  DE  WEB  TV  NO  ÂMBITO    

DA  ASSESSORIA  DE  COMUNICAÇÃO  

DA  PRESIDÊNCIA  DA  REPÚBLICA  

 

 

Inigo  Arcanjo  da  Cunha  Fialho  e  Pereira  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Abril  2012  

 

(2)

Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessário à

(3)

Dedico este projeto à minha mãe e aos meus irmãos, que ao longo da minha

(4)

AGRADECIMENTOS

“Teamwork represents a set of values that encourage behaviors such as listening and constructively responding to points of view expressed by others, giving others the benefit of the doubt, providing support to those who need it, and recognizing the interests and achievements of others.

It is amazing what can be accomplished when nobody cares about who gets the credit.”

Robert Yates

Quero agradecer a todos que, com o seu empenho e dedicação contribuíram para o

(5)

PROJETO DE WEB TV NO ÂMBITO DA ASSESSORIA

DE COMUNICAÇÃO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

TRABALHO DE PROJECTO

INIGO PEREIRA

RESUMO

Atualmente, cerca de 35% da população mundial tem acesso à internet. O fenómeno das redes sociais e o constante crescimento do número de utilizadores, tem atribuído à internet uma importância cada vez maior na sociedade. Os políticos têm acompanhado essa tendência e, por isso, sentem a necessidade de estar presentes na internet de forma a poderem divulgar e promover as suas iniciativas. Ultimamente, a internet tem-se tornado um importante meio de comunicação política. Os políticos têm marcado presença online através de sites, blogues,

redes sociais, etc. Essa presença garante-lhes um maior grau de exposição e uma maior proximidade com os eleitores.

A potencialidade de expansão da internet, associada ao rápido avanço tecnológico de todas as suas ferramentas e funcionalidades da Web 2.0, estão a transformar os métodos de comunicação tradicionais. Para obtermos uma presença eficaz na internet é importante que, logo de início, se defina o objetivo e a estratégia de comunicação online. Hoje em dia encontramos disponíveis um conjunto variado de ferramentas e soluções tecnológicas que nos permitem um bom desempenho na internet. É importante conhecê-las de forma a escolher as mais adequadas ao que se pretende.

Desde o aparecimento do Youtube, que os meios audiovisuais têm ganho um significante relevo na internet. Alguns indicadores mostram que os vídeos online conseguem mesmo roubar audiências às televisões tradicionais. Os políticos portugueses têm recorrido ao uso de conteúdos audiovisuais na internet, difundindo-os em sites, blogues, redes sociais e Web TV’s. A Web TV é uma solução tecnológica que permite a transmissão de conteúdos audiovisuais de forma personalizada. Várias Web TV’s têm surgido na internet, ganhando confiança e fidelidade junto das suas audiências.

Será aqui realizada uma análise nacional e internacional aos conteúdos audiovisuais disponibilizados na internet por políticos, tendo em conta a forma como são concebidos e disponibilizados. A partir dessa análise e considerando a estrutura de comunicação da Presidência da República e o seu modo de funcionamento, será proposto um modelo televisivo

online para este órgão de soberania.

(6)

WEB TV PROJECT FOR THE COMMUNICATION

UNIT OF THE PRESIDENCY OF THE PORTUGUESE REPUBLIC

PROJECT WORK TITLE

INIGO PEREIRA

ABSTRACT

Currently, about 35% of the population has Internet access. Due to the social networks phenomenon and the grown in the number of users, the Internet has had an increasingly im- portant role in the society. The politicians have followed this trend and, therefore, have reali- zed the need of being present on the Internet to advertise and promote their initiatives. Lately, the Internet has become an important political communication media. The politicians have invested to promote themselves through websites, blogs, social networks, etc. This presence guarantees to them a higher degree of exposure and a greater proximity to the voters.

The potential expansion of the Internet, coupled with the rapid technological advance- ment of all it’s the tools and features of Web 2.0, are transforming the traditional methods of communication. In order to gain an effective presence on the Internet it is important to define, right from the start, the objective and the strategy of the online communication. Nowadays, there are a number of tools and technology solutions available that can allow us to perform well on the Internet. It is important to know them in order to choose the most appropriate tool to be used.

Since the advent of the YouTube, the audio-visual media has gained a significant em- phasis on the Internet. Some indicators have shown that online videos can even “steal” au- diences from traditional televisions. The Portuguese politicians have made use of audio-visual content on the Internet, spreading them on websites, blogs, social networks and Web TV’s. The Web TV is a technology solution that allows the transmission of audio-visual content in apersonalized way. A number of Web TV’s have appeared on the Internet, gaining trust and loyalty along their audiences.

This paper intends to analyse the current usage of national and international audio- -visual content on the Internet by politicians, taking into account how they are designed and made available to its audiences. Taking into consideration the present communication struc- ture of the Presidency, as well as its operation, this work aims to propose an online TV model for this sovereign body.

(7)

ÍNDICE

Introdução . . . .01

CAPÍTULO I – ESTUDO DE CASO I.1 - Formulação do problema . . . 04

I.2 - Taxa de abstenção em eleições portuguesas . . . 07

I.2.1 - Taxa de abstenção – Eleições Presidenciais 2011 . . . 07

I.2.2 - Taxa de abstenção – Eleições Legislativas 2011 . . . 08

I.3 - Os Jovens e a Política . . . 09

I.4 - Penetração da Internet. . . . . . 10

I.4.1 - Número de utilizadores de Internet no Mundo . . . 10

I.4.2 - Implementação de Banda Larga no Mundo . . . 11

I.4.3 - Número de utilizadores de Internet em Portugal . . . 11

I.4.4 - Implementação de Banda Larga em Portugal . . . 12

CAPÍTULO II - OS POLÍTICOS E O USO DA INTERNET II.1 - As campanhas políticas e o uso da Internet . . . 14

II.2 - Barack Obama eo uso da Internet . . . 15

II.3 - Campanhas Políticas em Portugal . . . 17

II.3.1 - Portugal - Legislativas 2009 . . . 18

II.3.2 - Campanha Presidencial Cavaco Silva 2011 . . . 19

II.3.3 - Campanha Legislativa PSD 2011 . . . 20

II.3.4 - Democracia Digital . . . .21

CAPÍTULO III - A WEB TV III.1 - O Fenómeno do Youtube . . . 24

III.2 - Vídeos on-line roubam audiência à TV tradicional . . . 26

III.3 - O surgimento da Web TV . . . 27

III.1.1 - Vantagem de um sistema próprio . . . 28

III.1.2 - Vantagem de criação de conteúdos audiovisuais próprios . . . 30

III.4 - A Web TV em Portugal . . . 32

(8)

III.5.1 - A Web TV em campanhas eleitorais portuguesas . . . . . . . 34

III.5.2 - A Web TV e os políticos portugueses . . . 35

III.5.3 - A Web TV e os políticos estrangeiros . . . 35

CAPÍTULO IV – COMUNICAÇÃO DIGITAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA IV.1 - Cavaco Silva e as Novas Tecnologias . . . 37

IV.2 - O Site da Presidência da República. . . 38

IV.3 - Redes Sociais . . . 39

IV.4 - Modo de funcionamento . . . 40

CAPÍTULO V – DESENVOLVIMENTO DA WEB TV V.1 - Desenvolvimento da plataforma Web TV . . . 41

V.1.1 - Concepção da Página Web TV . . . 41

V.1.2 - Estruturação da Informação . . . 41

V.1.3 - A Interface . . . 42

V.1.4 - Cor . . . 43

V.1.5 - Texto . . . .43

V.1.6 - Sistema de Navegação . . . 44

V.2 - Produção de Conteúdos . . . 44

V.2.1 - Programação. . . .44

V.2.2 - Grelha de Programação. . . 45

V.2.3 - Usabilidade/Interação . . . 47

V.3 - Etapas de Produção . . . 47

V.3.1 - Pré-Produção . . . 48

V.3.1 - Produção . . . 49

V.3.1 - Pós-Produção . . . 49

Conclusão . . . .51

Bibliografia . . . .53

Glossário . . . .56

Anexos I (Tabelas) . . . .59

Anexos II (Gráficos) . . . .63

Anexos III (Figuras) . . . .69

(9)

Lista de Abreviaturas:

PSD - Partido Social Democrata

PS - Partido Socialista

CDS-PP - Partido Popular

IOMAF - Isaltino Oeiras Mais à Frente

BE - Bloco de Esquerda

PCP - Partido Comunista Português

ITU - Internacional Telecommunication Union

(10)

INTRODUÇÃO

O presente projeto tem a sua génese nas experiências por mim adquiridas em diversas campanhas políticas em que tive oportunidade de participar nos últimos 3 anos. Entre Agosto e Outubro de 2009 assumi funções de Diretor/Produtor da Web TV de campanha do Dr. Isaltino Morais nas eleições autárquicas em Oeiras. Nessas eleições, Isaltino Morais foi reeleito presidente da Câmara Municipal de Oeiras com 41,52% dos votos. Entre Fevereiro e Março de 2010, assumi a função de coordenador da equipa de Audiovisuais e Multimédia da campanha de Pedro Passos Coelho nas eleições internas do PSD. O candidato, acabou por vencer essas eleições com maioria absoluta, tendo conquistado o voto de 61,06% dos militantes do partido. Pedro Passos Coelho é, hoje em dia, o Primeiro-Ministro de Portugal. Entre Novembro de 2010 e Janeiro de 2011, assumi funções de Diretor/Produtor da Web TV de campanha do professor Aníbal Cavaco Silva, nas eleições Presidenciais de 2011, tendo este sido reeleito Presidente da República com 52,94% dos votos.

A atual conjuntura económica, social e política nacional e internacional, é desfavorável aos políticos. As pessoas estão descontentes com a política e não acreditam nas promessas dos políticos. Como iremos verificar mais à frente, a taxa de abstenção em Portugal nas últimas eleições Presidenciais (Janeiro de 20111) e nas eleições Legislativas (Junho de 20112) são um bom exemplo disso. Mais do que nunca, os políticos precisam de se aproximar das pessoas. Por isso necessitam de cativar a atenção dos eleitores, comunicando de forma rigorosa, atrativa e eficaz, tirando o máximo proveito de todos os meios disponíveis.

A existência da internet, o fenómeno da Web2.03 e todas as outras tecnologias

associadas, torna essa comunicação possível. Como afirmou Pipa Norris (2001:113) “The Internet can serve multiple functions: disseminating information about the operation of government as well as public services, facilitating public feedback mechanisms like emails to government agencies, enabling more direct participation into the decision making process including consultation exercises at local level, and providing direct support for the democratic process, such as the efficient administration of electoral registration or online voting. There is widespread concern that the public has lost faith in the performance of the core institutions of

1 Cf. Anexo I - Tabela 1 2 Cf. Anexo I - Tabela 2

(11)

representative government, and it is hoped that more open and transparent government and more efficient service delivery could help restore public confidence.”

O número de utilizadores de internet não pára de crescer. Em Portugal, 59% da população tem acesso à internet a partir de casa4, onde cerca de 4.9 milhões de portugueses

acedem a páginas de redes sociais5 tais como o Facebook, Youtube, Twitter, etc. Este fenómeno

torna a sociedade de informação fortemente potenciada pela comunicação instantânea e participativa. Para complementar, a informação chega-nos em qualquer instante, onde quer que estejamos devido à internet móvel e aos dispositivos de recepção de conteúdos, que tanto podem ser os tradicionais computadores, ou então os dispositivos móveis tais como

computadores portáteis, smart-phones6, androids7, iPads, etc. A tendência parece ser a de

estes novos meios virem a assumir um papel cada vez mais preponderante sobre os meios tradicionais. Também a agitação do dia-a-dia e a grande variedade e quantidade de informação que nos chega a todo o momento, faz com que a maioria das pessoas já não tenha tempo para estar à espera durante uma ou duas horas à frente da sua da televisão para assistir o seu programa favorito.

Desta forma podemos afirmar que os políticos têm que estar atentos a estas novas tendências. É fundamental que os políticos estejam presentes na internet através de sites, blogues, redes sociais, etc., tirando o máximo proveito de cada uma dessas ferramentas de comunicação, de forma a comunicarem com a população.

As Web TV’s8 têm surgido entre as várias ferramentas de comunicação que encontramos no universo da internet, marcando presença de forma regular e conquistando a confiança de várias marcas, empresas e algumas instituições públicas. Este fenómeno leva-nos a questionar o seguinte:

• Será que esta ferramenta de comunicação poderá ser útil aos políticos?

• Poderá este meio ajudar a criar uma maior proximidade entre políticos e eleitores?

4 Cf. Anexo I - Tabela 3

5 Cf. Glossário

(12)

• Será que os políticos ganharão credibilidade promovendo as suas ações governativas

através deste meio?

• Valerá a pena aos políticos inovar ou devem apenas utilizar as plataformas de

armazenamento e difusão de vídeo mais comuns, tais como o Youtube, Vimeo ou Sapo Vídeos?

Estas são algumas questões a que pretendemos dar resposta.

(13)

CAPÍTULO I - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Este capítulo tem como objetivo demonstrar a importância do uso da internet nas estratégias de comunicação dos políticos portugueses, face ao progressivo aumento da taxa de abstenção em eleições no país. Iremos demonstrar que através da implementação de

banda larga9 em Portugal, torna-se possível um maior tráfego de informação, o que possibilita

a transmissão de conteúdos audiovisuais através da internet.

Começamos por fazer uma breve análise sobre o uso da internet por parte dos políticos em Portugal. Para isso analisaremos os sites dos principais partidos portugueses. Posteriormente iremos verificar o fenómeno do crescente desinteresse dos eleitores pela política nacional, através da análise dos resultados das eleições presidenciais e legislativas de 2011. Analisaremos também o crescimento do número de utilizadores de internet e evolução da implementação de banda larga fixa e móvel em Portugal e no estrangeiro.

I.1 - ESTUDO DE CASO

A rápida propagação da internet e o avanço tecnológico de todas as ferramentas e funcionalidades da Web 2.0, estão a transformar a sociedade de informação. Todos os meios de comunicação tradicional estão a caminhar rumo a um novo sentido. Os meios de comunicação tradicionais, tais como a rádio, televisão, jornais, revistas, etc... estão a adaptar-se à era digital.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, a maioria das estações televisivas têm-se adaptado a estas novas tecnologias, passando as suas emissões a estar disponíveis na internet, onde qualquer pessoa tem a possibilidade de assistir à programação em direto tendo também disponível a opção de escolha de conteúdos consoante a sua área de interesse. A maioria dos jornais e revistas têm igualmente sentido a necessidade de migrar do papel para plataformas digitais, disponibilizando os seus conteúdos em sites e aplicações móveis. As rádios, também têm seguido o mesmo caminho, transmitindo os seus programas em direto pela internet e disponibilizando conteúdos para pesquisa livre.

(14)

Os grandes grupos de comunicação existentes têm estado a restruturar as suas equipas contratando novos profissionais especializados, ou então subcontratando empresas (recém-formadas) especializadas na área, de forma a poderem competir no mercado dando uma resposta positiva às novas necessidades.

Roger Kemp (2002:418) acredita que as potencialidades interativas das novas tecnologias de informação, irão beneficiar a democracia: “The world is rapidly going digital. This new communications technology will not just affect democracy; it will transform it. Because democracy is an interactive form of government, the revolution in interactive communications will inevitably have its greatest effect on the most. “important “interactive institution” – government itself”

Os políticos em Portugal já começaram a adotar estratégias de comunicação digital no seu dia-a-dia através dos partidos e instituições públicas que representam e a nível pessoal. No entanto, nota-se que ainda existem políticos que não estão totalmente convencidos do poder da internet. Talvez porque não entendam bem a suas funcionalidades e consequentemente não conseguem ter noção de todas as vantagens que a internet tem para lhes oferecer. Um bom exemplo disso é quando visitamos a página do Twitter do PS10 e verificamos que o Partido Socialista (que hoje em dia é o maior partido da oposição ), tem apenas 96 seguidores. Outro exemplo é quando visitamos a página do CDS11 e verificamos que o Partido Popular além de utilizar o seu site oficial para armazenar e divulgar os seus vídeos, utiliza simultaneamente as plataformas Youtube, Vimeo e Sapo Vídeos. A plataforma Vimeo do Partido Popular tem um total de 556 vídeos. No entanto, nenhum deles tem sequer uma apreciação positiva (“Like this”12), por parte dos utilizadores. Quando visitamos o site do Partido Social Democrata13 e o site do Partido Popular encontramos respetivamente vídeos com a designação de “PSD@TV” e“CDS TV”, não estando nenhum deles a seguir um modelo televisivo.

Esta breve análise, leva-nos a afirmar que o PS não tem aproveitado bem as funcionalidades da rede social ”Twitter”, devendo estar mais empenhados em crescer o número de seguidores de forma a que as suas mensagens alcançem um maior número

10 Disponível em www.twitter.com/psocialista 11 Disponível em www.cds.pt

12 Cf. Glossário

(15)

de pessoas. Em vez do CDS utilizar simultaneamente as plataformas Youtube, Vimeo e Sapo Vídeos, provavelmente seria mais vantajoso utilizar apenas uma delas, dando-lhe mais atenção, crescendo o número de seguidores e “Likes this”. Coleman e Gotze (2001:9) defendem que: “Online engagement becomes relevant in this respect, not as a substitute for elected representatives, but as a way of opening channels connecting them to the many whose voices are not often heard in policy debates. By engaging citizens in the policy-making process representatives,as well as representative institutions, show their (Burkean) commitment to entering into unreserved communication with those who elect them.”

Em relação aos conteúdos audiovisuais divulgados na internet, comparativamente nota-se que o PSD tem produzido os seus conteúdos de forma mais rigorosa e coerente. No entanto, ao visualizar os vídeos disponibilizados pelo CDS, podemos afirmar que certos políticos ainda não estão a produzir nem a divulgar os seus conteúdos audiovisuais da forma mais adequada. E por isso questionamos o seguinte:

• Se os políticos designam os seus conteúdos audiovisuais como “TV” ou ”Televisão

Online”, porque não “ousam” ir mais longe no sentido de criar um conceito de TV online mais

próximo do conceito da TV tradicional?

• Porque não exploram melhor esta ferramenta de comunicação de forma a potenciar

o trabalho que desenvolvem?

Por outro lado, como veremos mais à frente, a Presidência da República demonstra ter um conhecimento profundo das ferramentas Web 2.0, e por isso tem feito um bom uso de todos os meios que utiliza. Por exemplo, os vídeos, não se enquadrando num conceito televisivo, encontram-se disponíveis no site oficial, no Youtube14 e Sapo Vídeos15 , mas sem a denominação de “TV”.

(16)

I.2 - TAXA DE ABSTENÇÃO EM ELEIÇÕES PORTUGUESAS

I.2.1 - Taxa de abstenção – Eleições Presidenciais 2011

As eleições presidenciais de 2011 que reelegeram Cavaco Silva, ficaram marcadas pela elevada abstenção que atingiu um novo recorde. Cerca de 53.37% dos eleitores inscritos não votaram nesse dia.16 Segundo o artigo “Abstenção, brancos e nulos batem todos os recordes”17, publicado pelo jornal “O Público” em Janeiro de 2011, logo a seguir às eleições, este foi: “um valor que ultrapassou a reeleição de Jorge Sampaio em 2001, em que cerca de 50.29% da população portuguesa absteve-se”. Os votos brancos e nulos também atingiram um número histórico.

Nos Açores apenas três em cada dez dos cerca de 222 mil eleitores inscritos votaram. Foi nessa região que registou-se a maior taxa de abstenção, onde 68.9% da população não votou, seguindo-se os distritos de Bragança (60.9%) e Vila Real (59.9%). No distrito de Braga foi onde registou-se a maior afluência às urnas (e onde registou-se uma taxa de abstenção de 47.5%), seguindo-se o distrito do Porto com 48.5%18.

Além da elevada abstenção, este dia ficou também marcado pelo elevado número de votos em brancos e nulos. Foram cerca de 191 mil votos brancos, ou seja 4.3% do total de votantes e mais de 86 mil votos nulos que equivalem a 1.9% do total de votantes. No ano de 2006, os votos nulos e brancos equivaleram a 1.84% e 2% respetivamente. O ano em que o registo foi mais elevado foi o de 1991 em que registou-se 2% de votos em branco e 1% de votos

nulos19.

Para além de problemas relativos à atualização dos cadernos eleitorais, confusão com a mudança de locais de voto, baixas temperaturas registadas nesse dia e também o facto de se tratar da eleição do Presidente da República, (que muitos portugueses pensam tratar-se apenas de uma função representativa), vários especialistas não tiveram dúvidas ao afirmar que o resultado deveu-se principalmente à: “...falta de credibilidade dos políticos...”. Devido

16 Cf. Anexo I - Tabela 1

17LOPES M. (2011)Abstenção, brancos e nulos batem todos os recordes” , disponível em http://static.publico.

pt/Presidenciais2011/Noticias/Presidenciais%202011/abstencao-brancos-e-nulos-batem-todos-os-recor-des_1476741

(17)

à situação social do país, as pessoas estão descontentes, levando assim a uma descrença e

falta de credibilidade relativamente aos políticos. Neste mesmo artigo18 Manuel Meirinho20, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, afirma que “a abstenção deve servir como aviso aos partidos e ao Estado de que o sistema está doente”. Carlos Jalali21 da Universidade de Aveiro, fala na aposta na educação e sensibilização, tendo como fundamento um estudo que compara duas turmas do 12ºano de Aveiro e que concluiu que os alunos da turma de Ciências Políticas absteve-se menos que a turma que não frequentou a disciplina nas eleições de 2009.

I.2.2 - Taxa de abstenção – Eleições Legislativas 2011

Assistimos mais uma vez, no mesmo ano de 2011, desta vez nas eleições legislativas a subida da taxa de abstenção, votos nulos e votos em branco. Em 35 anos, foi o valor mais elevado de sempre com cerca de 41.1%. De acordo com dados da Comissão Nacional de Eleições22, apenas 5.554.002 dos 9.429.024 inscritos é que se dirigiram às urnas. Este número tem vindo a aumentar em eleições legislativas. Em 2009 a taxa de abstenção já tinha batido um recorde de 40.32%, contrastando com os 8.34% no primeiro sufrágio à 36 anos atrás. Os votos em branco e votos nulos também atingiram valores recorde. Registaram-se 148.618 votos em branco ou seja, 2.66% dos votantes e 79.399 votos nulos equivalente a 1.42% de votantes. Neste mesmo ano decorreram as eleições legislativas em Espanha. O Partido Popular liderado por Mariano Rajoy venceu as eleições com 44.4% 23dos votos. Apesar da Espanha

estar a passar por um momento de crise semelhante a Portugal, a população espanhola não

deixou de exercer o seu voto, tendo desta vez a taxa de abstenção rondado os 28%.24

Mais uma vez os analistas apontaram a falta de representatividade política que os eleitores portugueses sentem como o fator principal deste fenómeno. Como afirmou o sociólogo João Teixeira Lopes25: “Se a seriedade e a credibilidade do sistema político fosse

20 Manuel Marinho, Professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas 21 Carlos Jalali, Professor da Universidade de Aveiro

22 Cf. Anexo I - Tabela 2

23 Eleições Legislativas (2011) Resultados oficiais, disponível em

http://pt.euronews.net/2011/11/20/eleices--espanholas-partido-popular-consegue-vitoria-historica/

24 Idem

(18)

a norma e se as promessas fossem cumpridas esta crise poderia ser evitada”26. O sociólogo também alerta o perigo da descrença nos políticos e o crescente desinteresse dos portugueses pela política nacional: “As pessoas não se podem sentir distantes do poder” porque é ”mortífero para a democracia”.

I.3 - OS JOVENS E A POLÍTICA

De acordo com o artigo “Os partidos dizem-lhes pouco, a política sim“27, publicado pelo

jornal “O Publico” em Março de 2011 relativamente a um estudo elaborado em 2009 pelo

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, logo a seguir às eleições legislativas sobre a temática “Comportamento eleitoral e atitudes políticas dos portugueses”, vieram a

público demonstrar que seis em cada dez jovens não se revêm em nenhum partido político, sendo que 30% não votaram nas legislativas desse ano. Mesmo assim, mais de metade dos mesmos (56%) dos eleitores com idades entre os 18 e os 34 anos demonstraram interesse por política.

Os jovens que mais demonstram interesse em política são os que mais se abstêm. Um dado também importante é que esta população tem um maior nível de escolaridade. Este estudo afirma que este comportamento deve-se ao facto de os jovens não se reverem nos partidos políticos, ou mesmo nos novos movimentos que foram surgindo em 2009. Como demostra este estudo, os jovens portugueses interessam-se pela política, mas não pelas opções políticas. Podemos desta forma afirmar que os atuais partidos políticos não conseguem cativar os jovens.

26 LOPES J. (2011) Legislativas 2011: “Portugueses não se sentem representados pelos políticos” disponível em

http://jpn.icicom.up.pt/2011/05/23/legislativas_2011_portugueses_nao_se_sentem_representados_pelos_po-liticos.html

27 O PÚBLICO (2011) “Os partidos dizem-lhes pouco, a política sim”,disponível em http://www.publico.pt/

(19)

I.4 - PENETRAÇÃO DA INTERNET

I.4.1 - Número de utilizadores de Internet no Mundo

De acordo com dados divulgados pela agência das Nações Unidas para a informação e tecnologias de comunicação, a ITU (Internacional Telecommunication Union)28, verificamos um rápido crescimento de utilização de internet, especialmente nos países em desenvolvimento. Recentemente, na conferência de Geneva “ITU Telecom World”29, foi apresentado um mini-relatório da ITU denominado “The World in 2011”30, que confirma o rápido crescimento das tecnologias de informação e comunicação. Conforme os dados apresentados neste relatório, no ano de 2006 a população mundial rondava os 6,5 mil milhões de habitantes sendo que 18% utilizava a internet31. Atualmente a população mundial ronda os 7 mil milhões de habitantes sendo que 35% são utilizadores de internet32. Podemos também verificar um significativo

aumento nos países em desenvolvimento33. É nos países em desenvolvimento junto da

população mais jovem, que se verifica uma taxa de crescimento mais rápida34, destacando também que atualmente, quase metade dos utilizadores de internet em todo o mundo são jovens com menos de 25 anos35. A tendência será o aumento gradual desse número de jovens,

devido à crescente introdução da internet nos estabelecimentos de ensino.

De acordo com o gráfico elaborado pela “Internet World Stats 2011”36, podemos compreender como estão distribuídos os utilizadores de internet pelas várias regiões mundiais, sendo que 40% estão localizados na Ásia, 27.7% na Europa, 13% América do Norte e os restantes em África, Oceânia/Austrália e América Latina37. Mais precisamente, existem cerca de 922.3 milhões de utilizadores na Ásia, 476.2 milhões na Europa, 272.1 milhões na América do Norte, 215.6 milhões na América Latina, 110.9 milhões em África e os restantes

28 ITU (2011), disponível em Ihttp://www.itu.int/en/Pages/default.aspx 29 Disponível em http:/http://world2011.itu.int/

30 Disponível em http://www.itu.int/ITU-D/ict/facts/2011/material/ICTFactsFigures2011.pdf 31 Cf. Anexo II, Gráfico 1

32 Idem, Anexo II, Gráfico 1

33 Idem, Anexo II, Gráfico 1

34 Cf. Anexo II, Gráfico 2

35 Idem, Anexo II Gráfico 2

(20)

no Médio Oriente e Oceânia/Austrália38. A taxa de penetração de Internet é mais elevada nos Estados Unidos, onde cerca de 78.3% dos seus habitantes têm acesso à internet, seguindo-se a Oceânia/Austrália com uma taxa de penetração de 60.1%, Europa com 58.3%, América Latina com 37%, Médio Oriente 31.7% e Ásia e África com apenas 23.8% e 11.4% respetivamente39.

I.4.2 - Implementação de Banda Larga no Mundo

Através do resultado do estudo “The World in 2011” também é possível ter uma visão

panorâmica do alcance e ritmo da implementação de banda larga40 pelo mundo. A média

internacional da largura de banda da Internet cresceu de 11.000 Gbps em 2006 para 80.000 Gbps em 2011.41 Verificamos que os europeus usufruem, em média, 90.000 bps de largura de banda por utilizador42, contrastando claramente com os utilizadores africanos que estão limitados a uma média de transferência que ronda os 2.000 bps43.

Na República da Coreia, o uso da banda larga móvel já ultrapassa os 90%44, sendo que a maioria das conexões de banda larga fixa atingirem velocidades iguais ou superiores a 10 Mbps, contrastando com países como Gana, Mongólia, Omã e Venezuela em que os utilizadores estão limitados a velocidades de banda larga inferiores a 2 Mbps.

I.4.3 - Número de utilizadores de Internet em Portugal

De acordo com os dados Barame Internet da Marktest, disponíveis no estudo “Os Portugueses e as Redes Sociais 2011”45. 0 número de utilizadores de Internet em Portugal aumentou 9 vezes em 15 anos46. A taxa de penetração de internet passou de 6.3% em 1997

38 Cf. Anexo II, Gráfico 9 39 Cf. Anexo II, Gráfico 10 40 Cf. Glossário

41 Cf. Anexo II, Gráfico 3 42 Cf. Anexo II, Gráfico 4 43 Idem, Anexo II, Gráfico 4 44 Cf. Anexo I, Tabela 4

45 MARKTEST (2011),“Os Portugueses e as Redes Sociais 2011”, disponível emhttp://www.marktest.com/

wap/a/n/id~1889.aspx

(21)

para 59% em 2011.47 Em 2009, o número de utilizadores de internet em Portugal já tinha ultrapassado o número de não utilizadores48, totalizando 4.9 milhões de indivíduos no Continente.

Verifica-se que existem grupos onde os contrastes relativos ao uso de internet é muito acentuado, como é o caso dos estudantes (95.9%) e donas de casa 7%49. Também podemos comprovar que existe uma grande diferença na utilização da internet consoante as classes

sociais50. A internet é utilizada por 96.2% de indivíduos da classe alta e 17% por indivíduos de

classe mais baixa51. A faixa etária é também um fator decisivo, pois 95% dos jovens com idade entre os 15 e os 24 anos acedem à internet, enquanto apenas 3.7% de idosos o fazem52. Entre as mulheres e homens a diferença é menor, como podemos verificar 46.5% mulheres e 56% homens. O uso da internet é mais acentuado nas regiões de Lisboa e Porto com um pouco mais de metade da população a ter acesso ao serviço. Nas restantes regiões do país o uso da internet é mais baixo.

Este estudo revela também que o uso de internet móvel em Portugal já ronda a casa dos 12%53, sendo que 57% dos utilizadores são jovens com idades compreendidas entre os 15

e 34 anos.54 Este serviço é mais utilizado por indivíduos de classe mais elevada, não havendo grandes diferenciações de uso entre as regiões.

I.4.4 - Implementação de Banda Larga em Portugal

De acordo com os dados disponibilizados pela ANACOM55, relativos ao final do terceiro

semestre de 2011, registavam-se 2.2 milhões de clientes com acessos à internet fixos e cerca de 2.7 milhões de utilizadores de internet em banda larga móvel56.

47 Cf. Anexo I, Tabela 6 48 Cf. Anexo II, Gráfico 7 49 Idem, Anexo I, Tabela 3 50 Idem, Anexo I, Tabela 3 51 Idem, Anexo I, Tabela 3 52 Idem, Anexo I, Tabela 3

53 Cf. Glossário

54 Idem, Anexo I, Tabela 5

55 Cf. Lista de Abreviaturas

(22)

A maioria dos clientes do serviço de acesso à Internet em local fixo utiliza banda larga; os clientes destes serviços representam cerca de 98.8% do total de clientes. O número de clientes dos serviços de banda larga fixo aumentou em cerca de 41 mil (1.9%), relativamente ao trimestre anterior e 7.0% face ao mesmo trimestre do ano anterior57. Estes números contrastam com o contínuo decréscimo do número de clientes de acesso “dial-up”58, que atingiu este trimestre cerca de 26 mil, menos 1.6% que no trimestre anterior59.

Neste mesmo período, o número de utilizadores de internet em banda larga móvel aumentou 4.4% face ao período anterior. Em comparação com o período homólogo do ano anterior, o número de utilizadores aumentou 9.5%60.

Com base em micro-dados recolhidos do Barómetro de Telecomunicações da Marktest referente ao 2º semestre de 2011, este relatório da ANACOM apresenta também alguns dados curiosos sobre o perfil dos utilizadores de banda larga móvel. De destacar que a população mais jovem é quem mais utiliza este serviço através de telemóveis, conjugado com outro tipo de equipamentos como placas/modem. Os utilizadores deste serviço tendem a pertencer a uma classe social mais elevada, não sendo no entanto este factor diferenciador em relação ao tipo de equipamento. Em geral a maioria destes utilizadores têm um maior nível de escolaridade e não existem diferenças regionais significativas.

. . .

Analisando os vários aspetos apresentados neste capítulo, podemos perspetivar que uma das formas de os políticos diminuírem a taxa de abstenção é sendo através do voto do eleitorado mais jovem. Para ganharem confiança por parte dos jovens, os políticos têm que aproximar-se desse eleitorado. Para tal, o uso da internet e das novas tecnologias de informação são sem dúvida um caminho a seguir. A Web TV pode ser um meio eficaz para atingir esse objetivo, pois o rápido crescimento de utilizadores de internet e a forma eficaz como está a ser implementada a banda larga em Portugal, têm criado as condições ideais para o uso de conteúdos audiovisuais através da internet.

57 Cf. Anexo I, Tabela 6 58 Cf. Glossário

(23)

CAPÍTULO II - OS POLÍTICOS E O USO DA INTERNET

Neste capítulo, iremos analisar de que forma tem evoluído a relação entre os políticos e a internet. Para tal iremos analisar a evolução das campanhas políticas online e de que forma

os governos têm utilizado a internet para estabelecer uma relação de proximidade com os cidadãos.

II.1 – AS CAMPANHAS POLÍTICAS E O USO DA INTERNET

Ao longo da história das campanhas políticas verificamos que, cada vez mais existe uma maior preocupação por parte dos políticos em aproximarem-se dos eleitores. Essa vontade passou a ser uma realidade devido à evolução tecnológica dos computadores e todos os dispositivos que integram a internet nos seus sistemas de funcionamento.

Os computadores surgiram no mercado sem internetem 1980. No final dessa década

surgiu a internet sem browser (navegador), que funcionava através de hipertexto permitindo

aos utilizadores trabalhar em conjunto, combinando o seu conhecimento numa rede de documentos. E por fim surgiu a internet com browser, em 1990. Atualmente, o acesso à

internet já não depende apenas dos computadores. Hoje em dia a internet está disponível em vários dispositivos tais como telemóveis, tablets, televisões, etc... No artigo ““Politics 2.0”: a campanha online de Barack Obama em 2008”61 os autores designam a evolução das campanhas políticas como “proto-web”, “Web” e “pós-web”.

Segundo o artigo, as campanhas “proto-web” verificaram-se em 1990 com a utilização

do email. A operação era realizada de modo off-line com os computadores ligados em rede,

sendo utilizados como máquinas de escrever para enviar e receber correspondência à distância. Na fase “Web”, os candidatos passaram a utilizar sites de campanha, onde encontravam-se disponibilizados discursos, imagens dos panfletos e outros materiais de campanha. No fundo,

o material online era em geral uma cópia do material de campanha utilizado offline. Nesta

fase, os sites serviam também para criar canais de “feedback” com os eleitores, comunicação

com a imprensa e arrecadação de fundos. Entre 2004 e 2006, as campanhas online pareciam

(24)

ter estagnado, sem capacidade de evoluir e proporcionar novidades. No entanto, em 2008, começaram a surgir pela primeira vez, nomes e termos como social networking sites, vídeo sharing sites, microblogging, feeds, Flickr, SMS, etc... que eram mais comuns entre os utilizadores de internet mais assíduos. É neste momento que os autores designam as

campanhas como “pós-web”. Neste fase, os conteúdos dos sites servem principalmente como

“centros distribuidores de tráfego” em que são remetidos para sites de partilha de vídeos, fotos e sites de relacionamento. Nesta fase os cidadãos passam a ter um papel ativo, podendo participar nas campanhas através do envio de fotografias, vídeos, comentários, etc...

II.2 - BARACK OBAMA E O USO DA INTERNET

Em 2008, durante as primárias do Partido Democrata nos Estados Unidos da América, Michael Cornfield publicou a seguinte afirmação no blog Media&Politics: “No internet, no Obama”62. Hoje em dia, muitos analistas políticos continuam a afirmar se não houvesse internet, Barack Obama não existiria. Obama e sua equipa perceberam desde o início o potencial e alcance que a internet estava a ter junto da população americana. Tal como afirmou Francisco Rui Cádima: “Na era dos novos media, a tentativa de re-legitimação pela televisão é também algo já em crise. Obama percebeu-o claramente. Entender as redes sociais e a sua «produção social», afinal, não é mais do que entender os cidadãos. E o exercício da política terá de ser o exercício da cidadania e da absoluta transparência…”63No início de 2007, Obama e a sua equipa contraram Chris Hughes, um dos fundadores da rede social online Facebook, para

coordenar a sua campanha online. A coordenação por um dos criadores da maior rede social

dos Estados Unidos e na altura, segunda maior do mundo, levou a um uso sem precedentes das redes sociais, tornando Barack Obama um caso de sucesso da internet.

No site de Barack Obama64 estavam incluídas as biografias dos candidatos e respetivas mulheres, suas posições políticas sobre variados temas e página de angariação de fundos para a campanha. Foi também criada a rede social My.Barack.Obama65, ou MyBO. Nesta rede os

62 CORNFIELD M. (2008), mensagem publicada por Michael Cornfield a 4 de junho de 2008 no blog Media &

Politics, durante as primárias do Partido Democrata nos Estados Unidos da América.

63 CÁDIMA, Francisco Rui (2010), “Política, Net e Cultura Participativa” Publicado: Media & Jornalismo. Lisboa: Mariposa Azual, 2010, V. 9, pp. 195-207.

(25)

perfis registados eram notificados com datas de eventos, ligações feitas, visitas, publicações no blog, valor das doações, montantes levantados e grupos inscritos. Através desta plataforma os utilizadores podiam também convidar amigos do Facebook para participar no MyBO e a

contagem de amigos convidados era exibida nos seus perfis. O principal objetivo desta rede social era de facilitar a comunicação e interação entre os vários apoiantes espalhados pelo país, de forma a organizarem-se melhor para cumprir os objetivos da campanha.

A equipa de Barack Obama quis colocar o candidato em todo o espaço da internet, e por isso Obama possuía uma lista de links66 denominados “Obama Everywhere”67, que fazia a ligação para outras 16 redes sociais tais como o Facebook, BlackPlanet, MySpace, Faithbase, YouTube, Eons, Flickr, Glee, Digg, MiGente, Twitter, MyBatanga, Eventful, AsianAve e LinkedIn.

No Facebook foi criada uma “página” em vez de “perfil” como faziam os utilizadores habituais. No final da campanha a página contava com cerca de 4.5 milhões de seguidores. Além dessa página no Facebook, foram criados por apoiantes mais de 500 grupos de apoio tendo o maior chegado a 1 milhão de membros. Além de Obama ter estado presente nas redes sociais mais mediáticas, tais como Facebook, MySpace, Twiter, YouTube, LinkedIn, Flickr e Digg, também esteve presente em outras menos conhecidas pela maioria dos cidadãos Americanos, como por exemplo o BlackPlanet, MiGente, AsianAve, Glee e Faithbase, que são redes sociais de nicho. As três primeiras especificas para “etnias” minoritárias. BlackPlanet para afro-americanos, MiGente voltada para hispânicos e AsianAve para asiáticos. Glee sendo sigla para Gay, Lesbian and Everyone Else. FaithBase voltada para norte-americanos católicos.

Nesta campanha destacou-se também a campanha feita através do Youtube, com vídeos produzidos pela equipa de Obama e por apoiantes. Estes vídeos espalhavam-se pela internet de forma “viral”68, como por exemplo o vídeo publicado pelo líder da banda Black Eyed Peas, Will.i.am, em que este faz um arranjo musical a partir de um discurso de Obama69. Este vídeo chegou a ganhar o Webby Award (Oscar da Internet), promovido anualmente pela International Academy of Digital Arts and Sciences. No canal oficial da candidatura este vídeo contou com mais de 16.003.152 visualizações.

66 Cf. Glossário 67 C.f Anexo III, Fig. 3 68 Cf. Glossário

(26)

Após vencer essas eleições, Barack Obama continuou a atualizar todas as plataformas digitais de campanha, mas com um ritmo reduzido. Com as novas eleições previstas para Novembro de 2012, a equipa de Obama já se prepara para a campanha. O site de Obama70 apresenta uma nova imagem, verificando-se também uma maior dinâmica e atividade à volta das redes sociais utilizadas em 2008. Também verificamos o uso de novas ferramentas tecnológicas. Em Janeiro de 2012, os americanos responderam a um desafio lançado pela Casa Branca onde poderiam colocar questões ao presidente dos Estados Unidos através do Youtube. Mais de 250.000 americanos participaram na iniciativa, enviando as suas questões para o Youtube da Casa Branca. Cinco americanos foram escolhidos, tendo tido a oportunidade de questionar Obama sobre economia, desemprego e o futuro do país. Através do “hangout”71 (ferramenta do Google +), foi possível pela primeira vez, juntar cinco americanos, o presidente Obama e mais um moderador, que através de vídeo conferência conversaram durante cerca de

uma hora72. Nesta iniciativa, destacou-se o facto de uma senhora afirmar que o seu marido

(engenheiro), não conseguia encontrar emprego na sua área. Obama ficou surpreendido, porque sempre afirmou a existência de falta de engenheiros nos Estados Unidos. E para verificar o que se passava, Obama pediu à senhora que lhe enviasse o CV do marido, para que

pudesse entregar a todas as empresas tecnológicas que procuram contratar engenheiros.

Obama continua a sua estratégia de proximidade junto dos eleitores. Para a campanha que se avizinha em Novembro de 2012, prevê-se a continuação de uma forte aposta nos novos media e muitas novidades.

II.3 - CAMPANHAS POLÍTICAS EM PORTUGAL

As campanhas políticas em Portugal até ao ano de 2006, eram realizadas perto da população votante, através da distribuição de panfletos, bandeiras, outdoors e outros objetos

que aludiam o nome dos candidatos. O tempo de antena e entrevistas nos media era outra forma de promoção dos políticos. A nível de internet a campanha era feita basicamente através de sites com todos os materiais de campanha tradicionais reproduzidos para a internet. A

70 Obama (2012), disponível em http://www.barackobama.com/ 71 Cf. Glossário

72 YOUTUBE (2012) “Your Interview with the President”, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=eeTj

(27)

partir de 2009 as campanhas na internet ganharam outra dimensão tendo sido fortemente influenciadas pela campanha online de Barack Obama em 2008.

II.3.1 - Portugal - Legislativas 2009

Em 2009, a equipa do ex-primeiro ministro José Sócrates, contratou serviços à empresa

Blue State Digital, que tinha sido responsável pela campanha digital de Barack Obama em 2008. A equipa de José Sócrates tinha como objetivo adotar para Portugal o conceito de campanha de proximidade utilizada por Obama nos Estados Unidos, através do uso de emails,

sms, fóruns online e redes sociais tais como o Facebook, Hi5, Twiter e Flickr. Houve um salto

significativo comparativamente às campanhas de anos anteriores, realçando o uso de redes sociais de partilha e de conteúdos.

Mas o efeito contagiante que se verificou nos Estados Unidos praticamente não se notou em Portugal. Praticamente não houve angariação de fundos, nem o fenómeno de grupos de voluntários organizados apoiando a candidatura do PS. No artigo “Estilo Obama à margem de Portugal”73, publicado pela revista Meios & Publicidade, Rui Calafete74 afirmou que: “Havia muita expectativa, mas praticamente não se notou. Enquanto observador não os vejo, não há nenhuma grande diferença ou mais-valia.” Esta reação deveu-se principalmente ao facto de em 2009, existirem apenas 53.9% de portugueses (4 milhões) com ligação à

internet75 comparado com os 72% de utilizadores (220 milhões) nos Estados Unidos76 durante

a campanha presidencial de 2008. Ao observar todas as campanhas digitais, Pedro Janela77 não hesitou em afirmar que: “tentaram ir na onda do que Obama tinha feito, mas em política o conteúdo é importante e não parece que a nível nacional haja alguém comparável a Obama”. O PS seguiu à risca toda a estrutura de comunicação digital levado a cabo por Obama. Como afirmou Pedro Janela, no mesmo artigo: “O site Sócrates2009 foi tirado a papel químico do que fez Obama. Até a ideia do MyMov (movimento de voluntários) ou a utilização do azul e

73 MARQUES R., Meios & Publicidade (2009) “Estilo Obama à margem de Portugal”, disponível em:http://www.

meiosepublicidade.pt/2009/10/02/estilo-obama-a-margem-de-portugal/

74 Rui Calafete, Director-Geral, Special One - Comunicação 75 Cf. Anexo I, Tabela 7

76 Cf. Anexo I, Tabela 5

(28)

encarnado são semelhantes”, declarou Pedro Janela, completando que: “Levaram demasiado longe a cópia. Podiam ao menos ter optado pelo encarnado e verde ou pelo encarnado e rosa” como cores dominantes do portal.

O PSD também fez uma grande aposta na internet e nas redes sociais, mas de uma forma mais simples. Não contrataram nenhuma empresa especializada em marketing digital. No entanto, um grupo de jovens pertencente à Juventude Social Democrata, geriu o site principal (que se encontrava no endereço: www.politicadeverdade.pt), e as redes sociais Facebook, Hi5, Twitter, Flickr, YouTube, SapoVídeos e The Star Traker - Global Portuguese Talent Network.

II.3.2 - Campanha Presidencial Cavaco Silva 2011

A campanha presidencial de Cavaco Silva em 2011, ficou marcada pela abolição dos

outdoors e de vários materiais de campanha tradicionais. Pela primeira vez em Portugal, um

candidato presidencial optou apenas pelo uso da internet e televisão como principais meios

de comunicação. Com o objetivo de aproximar-se mais da população mais jovem, Cavaco Silva quis estar presente onde estes passam grande parte do seu tempo, na internet.

No site oficial de candidatura78, a equipa de comunicação efetuava uma constante atualização dos acontecimentos. O site estava dividido por diversos itens importantes, tendo contado com mais de 126.748 visitas e 613.168 visualizações de página. Os utilizadores tinham acesso a notícias de campanha, ideias apresentadas pelo candidato, fotografias, e mensagens de apoiantes. Simultaneamente, destacavam-se as ligações para 9 sites de partilha de conteúdos tais como o Facebook, Twitter, Youtube, Sapo Vídeos, Vimeo, Flickr, Foursquare, Soundcloud e a Wikipédia. Através do site os utilizadores podiam também visualizar diretamente a programação da Web TV de campanha (Cavaco Silva TV) ou ligarem-se ao portal da televisão

online através de um link que fazia a ligação para o endereço: www.cavacosilva.tv.

A página do Facebook de Cavaco Silva79 contou com mais de 14.232.558 post views80, com uma média de 95.480 visualizações diárias. Registava-se um aumento do número de

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seguidores nos dias em que havia uma maior partilha de conteúdos. O Twitter81 do professor Cavaco Silva contou com mais de 1000 seguidores e com quase 300 “tweets”. O Youtube, contou com diversos vídeos publicados pela equipa de campanha e por apoiantes. Esses vídeos tiveram mais de 4000 visualizações. No Soundcloud82, a conta do Professor teve mais de 6000

“plays” em mais de 5 músicas publicadas. Os ouvintes estavam localizados em vários países, estando os principais localizados em Portugal e França. O hino oficial da campanha foi a música mais ouvida e a que mais utilizadores fizeram o download. Destacaram-se também os blogues

(não-oficiais), onde os apoiantes de Cavaco Silva puderam publicar textos e comentários, partilhando as suas opiniões com o mundo da blogosfera.

II.3.3 - Campanha Legislativa PSD 2011

A equipa de Pedro Passos Coelho estudou ao pormenor toda estratégia de marketing

de Barack Obama, adaptando toda essa estratégia para o seu candidato. Em 2010, antes do arranque da campanha para as eleições internas do PSD, Passos Coelho lançou o livro

“Mudar“, da mesma forma que Obama lançou (“Change We Can Believe In”), antes da

campanha presidencial nos Estados Unidos. Tal como Obama, neste livro, Passos Coelho faz uma análise sobre os problemas da sociedade portuguesa, apresentando algumas soluções. Posteriormente, para a campanha das diretas do partido, Passos Coelho utilizou o mesmo

slogan “Mudar”, tendo feito uma grande aposta no uso da internet para a promoção da

sua imagem. Além do site do lançamento do livro, foi simultaneamente criado um site de campanha estando o candidato presente também no Facebook, Twitter, Youtube e Flickr. Depois de vencer essas eleições, Passos Coelho manteve todas as redes sociais ativas, renovou a imagem do site do PSD, registando-o da mesma forma no Facebook, Youtube, Flirckr, Sapo Vídeos e Twitter.

Na campanha legislativa de 2011, com o slogan “Está na hora de Mudar”, Passos Coelho seguiu o exemplo de Cavaco Silva em abolir os outdoors. Além do contacto com a população nas

ações de rua, a televisão e a internet foram os principais meios de comunicação utilizados pela candidatura. Além do site oficial de campanha, Passos Coelho esteve presente no Facebook,

(30)

Youtube, Sapo Vídeos, Twitter e Flickr. À semelhança do MyBO de Barack Obama, a equipa

do candidato criou um movimento de apoio à candidatura na internet designado por “Passos

Coelho Conta Comigo”, neste espaço os utilizadores registavam-se tendo posteriormente acesso a calendário de eventos, biografia do candidato e possibilidade de participar na campanha através do envio de mensagens de apoio, fotos e vídeos. Sem conseguir obter a maioria absoluta, Pedro Passos Coelho acabou por vencer essas eleições.

II.3.4 - Democracia Digital

Atualmente, vivemos uma nova democracia. A evolução dos novos media tornou o conceito de Democracia Digital (ou E-democracia)83 uma realidade. A integração da internet na relação entre governo e sociedade, veio quebrar inúmeras barreiras, facilitando o acesso a serviços, informações sobre serviços e direitos dos cidadãos, garantindo uma comunicação eficaz de proximidade entre os políticos e cidadãos.

Pela primeira vez na história, os cidadãos podem comunicar livremente com as autoridades do governo. O conceito de Democracia Digital surge na sequência da utilização de um conjunto de formas e recursos digitais que estão a ser introduzidos na sociedade por vários governos, com o objetivo reforçar a transparência e proximidade entre decisores políticos e cidadãos. A utilização dessas tecnologias digitais permite aos governos demonstrar de forma eficiente e transparente todas as suas ações governativas, prestando contas dos gastos e explicando as suas decisões políticas. Tal como afirmou Chadwich (2003:447) “Government becomes a “learning organization,” able to respond to the needs of its citizens, who are in turn able to influence public bureaucracies by rapid, aggregative feedback mechanisms such as e-mail and interactive web sites. In contrast to the Fordist technologies, e-government requires a flexible, “build and learn” […]” Além dos cidadãos obterem essas informações, podem também usufruir de meios que facilitam a comunicação, devido à rapidez no envio de mensagens no pedido de explicações, reclamações, acesso a documentos, informação

83 TRECHSEL H. e MENDEZ F. (2005) p.5 “e-democracy consists of all electronic means of communication that enable/empower citizens in their efforts to hold rulers/politicians accountable for their actions in the public realm. Depending on the aspect of democracy being promoted, e-democracy can employ different techniques: (1) for increasing the transparency of the political process; (2) for enhancing the direct involvement and partici

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sobre serviços e direitos. Os cidadãos ganham também força para influenciar decisões políticas podendo por exemplo criar petições online demonstrando as suas preocupações e

necessidades. Os meios digitais tornam possível a política participativa dos cidadãos. Como defende Hindman (2008:6) “The big claim being made for the digital media with regards to democracy is that they ‘amplify the political voice of ordinary citizens’ in a multitude of ways”.84

Barack Obama foi o grande impulsionador desta nova forma de governar, ao ter denunciado na campanha de 2008, a falta de transparência da administração liderada por Bush, nas suas ações governativas. E por isso Obama comprometeu-se em governar de forma transparente: “We must use all available technologies and methods to open up the federal government, creating a new level of transparency to change the way business is conducted in Washington and giving Americans the chance to participate in government deliberations and decision-making in ways that were not possible only a few years ago”85. Nos Estados Unidos a Democracia Digital já está num estado bem avançado, onde o atual executivo liderado por Barack Obama decidiu implementar logo no primeiro ano de mandato uma política de

governo aberto “Open Government Initiative”86. No site do governo americano87, encontramos

informação detalhada sobre gastos, informações sobre serviços prestados, discussões sobre leis, introdução de novas leis, posição dos deputados sobre questões em discussão, acesso às atas parlamentares, etc. Neste site encontramos também informação sobre direitos dos cidadãos, acesso a fóruns de discussão para debater problemas e temas locais, nacionais e internacionais. São criadas também condições para os cidadãos criarem e remeterem petições ao Presidente. O Reino Unido88 e Brasil89 são outros bons exemplos de países que implementaram estas tecnologias ao serviço do cidadãos.

Em Portugal, já sentimos a Democracia Digital a ganhar cada vez mais relevância. Um bom exemplo disso é o caso do Presidente da República (como veremos mais à frente) que

85 OBAMA (2008), consultado em http://change.gov/agenda/technology/, 7 de Novembro de 2008

86 O Open Government Initiative é uma política da gestão do presidente norte-americano Barak Obama com

o objetivo de realizar várias ações e projetos voltados à transparência do governo, à participação e colabora-ção da sociedade com as atividades do Estado. Mais informações acessíveis no seguinte endereço eletrônico: http://www.whitehouse.gov/Open.

87 Disponível em http://www.data.gov/

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tem utilizado a internet e seus meios tecnológicos para disponibilizar informação aos cidadãos sobre a sua atuação governativa, estabelecendo uma relação de proximidade com os cidadãos. O atual governo liderado por Pedro Passos Coelho, continua a seguir o modelo de atuação de Barack Obama. Em Janeiro de 2012 o governo lançou um novo site90, que para além de divulgar notícias sobre a sua ação governativa, disponibiliza simultaneamente informação, sobre o destino do dinheiro dos impostos dos portugueses, lista das nomeações (com o valor dos ordenados descriminados), de ministros, secretários de estado, adjuntos, assessores, secretárias, motoristas, etc... O site possibilita também a criação e registo de movimentos cívicos.

(33)

CAPÍTULO III - A WEB TV

Tal como verificamos no primeiro capítulo, a proliferação do número de utilizadores de internet e a eficaz implementação de banda larga em Portugal e no resto do mundo, têm vindo a criar condições ideais para a difusão de conteúdos audiovisuais através da internet.

Este capítulo tem como objetivo demonstrar de que forma surgiram os vídeos na internet e o impacto que têm tido junto das audiências. Será também apresentado a forma como surgiu a Web TV no espaço da internet, destacando as suas vantagens em relação a outras plataformas de alojamento e dispersão de conteúdos audiovisuais.

III.1 - O FENÓMENO DO YOUTUBE

O Youtube revolucionou a forma de visualizarmos vídeos na internet. Antes do seu aparecimento o processo de visualização era mais complexo e por vezes muito moroso. Primeiro era necessário fazer o download do ficheiro e só depois de gravado no computador,

é que podíamos visualizá-lo. Só quem possuísse uma velocidade considerável de conexão é que conseguia assisti-los com alguma rapidez. O Youtube trouxe algo de novo, permitindo aos seus utilizadores carregar e partilhar vídeos em formato digital, sendo a sua visualização muito simples através do próprio navegador91.

O site do Youtube foi um dos pioneiros do género, tendo ganho logo de início uma grande empatia por parte dos utilizadores. A Google percebeu logo o seu potencial, e por isso em Outubro de 2006 (um ano após a sua criação), comprou a empresa pela quantia de 1.65 biliões de dólares. Atualmente o Youtube é o site do género mais popular em todo o mundo. De acordo com um artigo publicado pelo New York Times em Outubro de 2011, o site é visitado

por cerca de 800 milhões de utilizadores únicos por mês92. Aloja uma grande variedade de filmes, videoclipes e conteúdos amadores (com exceção de materiais protegidos por copyright). Todos os conteúdos alojados no Youtube podem ser disponibilizados em blogues, sites e redes sociais.

91 Cf. Anexo III, Fig. 9

92 New York Times (2011),“YouTube Makes the Case That It Helps Build Brands”, disponível em: http://www.

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De acordo com dados Netpanel - Marktest de Novembro de 201193, o Youtube situa-se na 3ª posição, na lista de domínios com mais utilizadores únicos em Portugal, com cerca de 2495 mil utilizadores, estando abaixo do domínio Google.pt que se encontra na 1ª posição com 3172 mil utilizadores e do Facebook.com, que se encontra na 2ª posição com cerca de 2796 mil utilizadores94.

O Youtube veio também abrir caminho à “Cultura Participativa”95. A vulgarização das câmaras fotográficas digitais, câmaras de vídeo digitais e telemóveis capazes de fotografar, gravar vídeos e envia-los através da internet móvel, tornou simples a tarefa de registo e divulgação de acontecimentos no momento em que estes acontecem. Hoje em dia a comunicação social utiliza vários conteúdos audiovisuais, mesmo não tendo qualquer equipa jornalística no local. O Tsunami registado no Japão em Março de 2011 foi um bom exemplo

disso. Seria muito difícil as equipas jornalísticas estarem no local para captarem imagens em tempo real. Devido ao aparecimento de vários vídeos gravados e colocados no Youtube por sobreviventes, foi possível produzir grande parte das peças jornalísticas transmitidas pelas várias televisões espalhadas pelo o mundo, dando dessa forma a perceber à audiência a verdadeira dimensão da catástrofe96. Outros exemplos tais como os atentados ao metro em Londres em 2005, atentado em Oslo 2011 ou o assassinato do Coronel Khadafi na Líbia em 2011, são também bons exemplos da desta nova tendência.

Em 2011 a CNN chegou à conclusão que com o uso destes conteúdos poderiam obter os

mesmo resultados, e por isso acabaram por despedir cerca de 50 fotojornalistas e editores97. Jack Womack, sénior vice presidente da CNN enviou o seguinte memorando interno:

93 MARKTEST (2011), disponível em http://www.marktest.com/wap/a/n/id~18c3.aspx 94 Cf. Anexo II, Gráfico 11

95 Cultura participativa é um termo geralmente usado para descrever a aparente ligação entre tecnologias

di-gitais mais acessíveis, conteúdo gerado por usuário e algum tipo de alteração nas relações de poder entre os segmentos de mercado da mídia e seus consumidores. (…) a definição de “cultura participativa” de Jenkins es-tabelece que os “fãs e outros consumidores são convidados a participar ativamente da criação e circulação do novo conteúdo” (Jenkins, 2006a) (…) as novas configurações econômicas e culturais que a “cultura participativa” representa são tão contestadora e incômoda quanto potencialmente libertárias. (pg. 28)

96 YOUTUBE (2011), Resultado de pesquisa no Youtube com as palavras chave: ”Tsunami Japan 2011”,

disponi-vel em http://www.youtube.com/results?search_query=tsunami+japan+2011&oq=tsunami&aq=1&aqi=g10&aq l=&gs_sm=e&gs_upl=1707l2140l0l5249l2l2l0l1l1l0l142l142l0.1l1l0

97 Lopes, Nuno (2011) “Conteúdo Gerado Pelo Consumidor Leva CNN a Despedir 50 Jornalistas”, disponível em

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“Technology investments in our newsrooms now allow more desk-top editing and publishing for broadcast and online. This evolution allows more people in more places to edit and publish than ever before. As a result of these technology and workflow changes, CNN is reducing the number of media editors in our work force in Atlanta.” (…)

“We looked at the impact of user-generated content and social media, CNN iReporters and of course our affiliate contributions in breaking news. Consumer and pro-sumer technologies are simpler and more accessible. Small cameras are now high broadcast quality. More of this technology is in the hands of more people. After completing this analysis, CNN determined that some photojournalists will be departing the company.”98

III.2 - VÍDEOS ON-LINE ROUBAM AUDIÊNCIA À TV TRADICIONAL

Um estudo recentemente divulgado pela Nielsen99, concluiu que os indivíduos que

assistem a mais vídeos online, passam menos tempo assistindo televisão. De acordo com o

estudo “The Cross Platform Report 2011”100, divulgado pela consultora Nielsen, esta tendência

verifica-se sobretudo entre utilizadores com idades compreendidas entre os 18 e os 34 anos. A consultora começou por identificar um grupo de indivíduos dessa faixa etária que estavam a

passar mais tempo online a visualizar vídeos em vez de estarem à frente da televisão.

Este estudo resultou da análise feita através de 2600 entrevistas a pessoas residentes nos Estados Unidos que afirmavam ter visualizado vídeos online durante os primeiros três

meses de 2011. Estas pessoas foram divididas em cinco grupos, consoante a quantidade de tempo passado na internet a assistir vídeos.

Concluiu-se que o grupo de indivíduos que passou mais tempo na internet a assistir vídeos (19 minutos por dia), foi também o grupo que passou menos tempo à frente da televisão (4horas e 32 minutos por dia). Por outro lado, quem viu menos vídeosonline (menos de um

décimo de minuto por dia), passou mais tempo em frente à televisão (4 horas e 50 minutos).

98 LOPES, Nuno (2011) “Conteúdo Gerado Pelo Consumidor Leva CNN a Despedir 50 Jornalistas”, disponível em

http://www.tudomudou.com/2011/11/25/conteudo-gerado-pelo-consumidor-leva-cnn-a-despedir-50-jornalistas/

99 NIELSEN (2011), “The Cross Platform Report 2011”, disponínel em http://pt.nielsen.com/company/history.shtml 100 NIELSEN (2011), “The Cross Platform Report 2011”, disponível emhttp://www.nielsen.com/content/dam/

(36)

Os especialistas afirmam que estes resultados não significam que as pessoas estejam a assistir menos televisão tradicional, até porque nos Estados Unidos tem-se verificado um crescimento de 0,2% de tempo despendido a assistir televisão, que passou em média a totalizar 158 horas e 47 minutos por mês (para cada indivíduo). As pessoas não prescindem dos serviços de TV por subscrição. Cerca de 91% dos lares nos Estados Unidos continuam a aderir a este tipo de serviços.

Ainda assim, este estudo revela-nos a importância que os vídeos online estão a ter

junto da audiência. O vídeo online está a passar por um período de grande crescimento. O

tempo dedicado a assisti-los aumentou cerca de 25% face ao ano anterior, para uma média de 4 horas e 33 minutos por mês. O acesso a estes conteúdos através de dispositivos móveis também cresceu 20%, para 4 horas e 20 minutos mensais.

III.3 - O SURGIMENTO DA WEB TV

O fenómeno da Web TV emergiu devido à falta de capacidade das televisões tradicionais em produzirem conteúdos capazes de satisfazer toda a sua audiência. Segundo Francisco Rui Cádima este fenómeno surgiu devido a: “Estando o modelo televisivo clássico em declínio, isto é, estando nós agora a atravessar uma fase de fechamento progressivo, ainda que eventualmente lento, do ciclo de cerca de 50 anos de televisão monológica, institucional, de reduzida proximidade face à experiência da cidadania e de acentuada tendência terceiro-mundista, cuja monocultura dominante tem sido em boa parte de tipo telenovelístico, há que dar atenção a alguns sinais de mudança, ainda que esses sinais não passem nalguns casos, paradoxalmente, da reprodução mimética dos velhos contextos num ambiente tecnológico claramente diferente.”101

A Web TV é a conjugação entre a internet e a televisão tradicional. O seu sucesso e rápido crescimento deve-se a vários factores. Um deles é a dificuldade que uma estação televisiva tem em produzir conteúdos que agradem a toda a sua audiência. A Web TV surgiu como forma de preencher um espaço vazio, que existia na programação da televisão tradicional. Outro

101 CÁDIMA F. (2008), ”Web TV local/regional em Portugal: que alternativa à TV?”, disponível em http://www.

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Tabela 1 - Resultados das Eleições Presidenciais 2011
Tabela 4 -  Top broadband economies, early 2011
Tabela 6 -  Evolução do número total de clientes de acesso fixo à Internet
Gráfico 2 - Percentagem de utilizadores de internet no mundo
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Referências

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