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O plano nacional de educação em direitos humanos: institucionalização na rede municipal de ensino do Recife-PE / The national plan for education in human rights: instituitonalization in the municipal education network of Recife-PE

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761

O plano nacional de educação em direitos humanos: institucionalização na rede

municipal de ensino do Recife-PE

The national plan for education in human rights: instituitonalization in the

municipal education network of Recife-PE

DOI:10.34117/bjdv6n7-518

Recebimento dos originais: 03/06/2020 Aceitação para publicação: 21/07/2020

Edelson de Albuquerque Silva Junior Doutor em Educação

Universidade Federal da Paraíba-UFPB, Brasil E-mail: edelsonjrpe@gmail.com

Carmem Dolores Alves Doutora em Educação

Universidade Federal da Paraíba-UFPB, Brasil E-mail: carmem.doloresa@gmail.com

RESUMO

O presente artigo discute a institucionalização do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos - PNEDH, cujo objetivo foi problematizar a materialidade dessa política na agenda da Rede Municipal de Ensino do Recife. Buscou-se ainda, explicitar as concepções desse cenário através da Teoria da (re)invenção dos Direitos Humanos, formulada por Joaquín Herrera Flores (2009). Nessa perspectiva, nossa análise foi sedimentada através da adoção da Metodologia Qualitativa, com pesquisa documental e estudo a partir do modelo de análise de conteúdo. As reflexões finais revelaram os impasses do processo de implementação do PNEDH na referida rede de ensino, principalmente, no que concerne à ordem conceitual e institucional.

Palavras-chave: Políticas Públicas, Direitos Humanos, PNEDH. ABSTRACT

The present Article discusses institutionalization of the National Plan for Education in Human Rights – HRENP, punctuating the materiality of this Policy on the agenda of the Municipal Education Network of Recife; and the conceptions of this context, through the Theory of Reinvention of Human Rights, formulated by Joaquín Herrera Flores(2009).Under this perspective, we adopted the Qualitative Methodology, with documentary research and study based on the content analysis model. The final reflections adress the deadlocks of the process of implementing the HRENP in this Education Network underlining the conceptual and institutional orders.

Keywords: Public Policies, Human Rights, HRENP. 1 INTRODUÇÃO

A temática proposta nesse estudo perpassa pelo campo conceitual dos Direitos Humanos, e configura-se em objeto de interesse em múltiplos estudos e pesquisas nesse contexto. Historicamente, os Direitos Humanos foram conceituados como meras normas e procedimentos institucionais e

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 sociais, resultantes do sistema de valores hegemônicos predominantemente neoliberais, que não priorizam as políticas públicas de igualdade socioeconômica e cultural, entre outras. Em decorrência desse processo, os preceitos inseridos na Constituição de 1988, ou em diferentes formações jurídicas, são aplicados para subtrair o acesso igualitário aos bens.

Para efeito de nossa análise, consideramos como referencial a Teoria Crítica dos Direitos Humanos, de Joaquín Herrera Flores (2009), cujo cerne apresenta os Direitos Humanos como elemento cultural sob ascendências históricas, resultantes em processos de reações dos seres humanos, ao longo do tempo, diante de outros seres humanos, com exigência da assunção plena de compromissos em relação aos outros, a nós mesmos e à natureza. Essas ideias perpassam ainda por uma nova cultura que apresente os modos de existência humana relacional e dialógica, que possibilitam o empoderamento humano para a transformação da realidade. (Flores, 2009, p. 186).

Isso implica em uma contraposição da definição etnocêntrica. Portanto, é importante não perder de vista quais os motivos que levam o autor a buscar refutar a ideia de universalidade dos Direitos Humanos. Para Flores (2009), as culturas hegemônicas arriscaram fechar-se sobre si, expondo o outro como o incivilizado.

Ao contrapor-se a essas ideias, pretendemos através do presente artigo, contribuir com referências analíticas acerca dos Direitos Humanos, tendo como objetivo analisar a institucionalização do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, na Rede Municipal de Ensino do Recife, através de uma breve análise das diretrizes do caderno da Política, uma opção de instrumento que orienta esse campo.

Debater tais questões demanda a construção de um conjunto de saberes, que considere a problemática da ausência de discussões acerca dos Direitos Humanos na Educação Básica, bem como sua invisibilidade nas práticas e nos currículos escolares.

Nesse contexto, a relevância dessa adversidade configura-se, de imediato, como urgência diante da crise de valores públicos e privados e da nossa atual sociedade, cujas temáticas da igualdade e da dignidade humana não estejam inscritas apenas em textos legais, mas que antes, sejam incorporadas como políticas públicas que devem ser garantidas para toda sociedade; em seguida, tentaremos sublinhar o debate sobre a produção acadêmica que consolida um lugar no campo político de apoio à luta pelos Direitos Humanos. Mais adiante, tentaremos evidenciar o debate teórico e de análise acerca do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) como uma Política Pública1, estabelecendo a relação entre esse Plano e a necessidade premente de debater essa temática

junto aos estudantes da referida rede pública de ensino.

1 Por meio da compreensão de HOWLETT, M.; RAMESH, M.; PERL, A. Políticas públicas: seus ciclos e subsistemas:

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 A problemática dos Direitos Humanos apresenta uma intrínseca relação com as garantias universais, que sublinham a possibilidade de lutar, plural e diferencialmente, pela dignidade humana, cujo impedimento a sujeitos, grupos, culturas de atuarem conforme seus objetivos; configura-se uma violação aos Direitos Humanos. Portanto, é uma maneira de enxergar o diferente, o outro, de maneira diversa, ou seja, não mais como o bárbaro, como o incivilizado e, consequentemente, passível de colonizar, mas, sim, simplesmente como o diferente ou, ainda, como aquele que, no decorrer da própria história, procurou caminhos diferentes e essenciais para atingir as próprias concepções de dignidade humana. (Herrera Flores, p. 119-120).

2 METODOLOGIA

A adoção pela Metodologia Qualitativa fundamentou-se a partir da assertiva de Richardson (2015) que sublinha a relevância desse procedimento ao assinalar seu principal objetivo “em compreender os fenômenos sociais, grupos de indivíduos ou situações sociais” (Richardson, 2015, p.212-215).

Nosso campo de análise enfatizou a Política de Ensino da Rede Municipal do Recife, e reiteramos sua delimitação em nosso frequente trânsito nesse labirinto analítico, em decorrência do perfil do seu público, marcado por uma complexidade de referências culturais no tocante a fatores passíveis de remeter diretamente a questões denotativas dos Direitos Humanos.

Nesse contexto, sublinhamos uma análise sob o marco legal do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – PNEDH (2007); e sua concepção adotada no caderno de “Política de Ensino da Rede Municipal do Recife: Fundamentos Teórico-Metodológicos", formulado entre 2013 e 2014. Tal obra ressalta o objetivo de subsidiar o trabalho vivenciado nas unidades educacionais, bem como construir consonantes concepções trabalhadas e não dissociadas da preservação do sentido de garantir os direitos de aprendizagem dos estudantes dessa rede municipal.

Conforme May (2004, p.219), a pesquisa documental “reflete um espectro muito amplo tanto de perspectivas como de fontes de pesquisa”. Nesse sentido, concordamos com o referido autor na medida em que advoga que esses “documentos bem podem ser parte das contingências práticas da vida organizacional, mas são vistos como parte de um contexto mais amplo” (2004, p.219), ou seja, fruto de uma rede de conexões que se cruzam mediante aspectos políticos, históricos, sociais, econômicos, culturais, entre outros. Desse modo, o próprio caderno ora analisado serve como exemplo, com a cautela de não o perceber como um item isolado.

Nessa perspectiva, essa proposta de estudo foi centrada em analisar os impasses e os caminhos das possibilidades na efetivação do PNEDH, a partir da problematização das violações de Direitos Humanos, na perspectiva de contribuir com uma reflexão acerca da sua promoção no espaço escolar.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 3 A POLÍTICA DE ENSINO DA REDE MUNICIPAL DO RECIFE - SUBSÍDIOS PARA UMA ATUALIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR: BREVE ANÁLISE

O caderno “Política de Ensino da Rede Municipal do Recife: subsídios para atualização da organização curricular” teve sua 2ª edição publicizada no ano de 2014, com 230 páginas e com a organização das autoras: Élia de Fátima Lopes Maçaira, Katia Marcelina de Souza e Marcia Maria Del Guerra, sua apresentação foi assinada pelo Prefeito da cidade do Recife, Geraldo Julio, além do Secretário municipal de Educação, Jorge Vieira, sua edição ocorreu por meio da própria Prefeitura. A estrutura do sumário do texto está organizada em oito tópicos, porém adentraremos no tópico 2: “Eixos e princípios da política de ensino: escola democrática, diversidade, meio ambiente e tecnologia”, conforme objetivo defendido em nosso trabalho, porém trazendo aspectos de uma leitura mais ampla do referido texto no intuito de fundamentar nossas discussões.

Ao introduzir uma discussão mais concreta a respeito de direitos, o referido caderno faz menção a referências importantes no que concerne a marcos legais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (2010, p. 61), quando em seu artigo 1º, declara

o direito de toda pessoa ao seu pleno desenvolvimento, à preparação para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho, na vivência e convivência em ambiente educativo e tendo como fundamento a responsabilidade que o Estado brasileiro, a família e a sociedade têm de garantir a democratização do acesso, a inclusão, a permanência e a conclusão com sucesso das crianças, dos jovens e adultos na instituição educacional. (CADERNO DE FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE ENSINO DO RECIFE, 2014, p.36)

Nesse sentido, conforme o texto em análise, ao serem extraídas expressões de docentes a respeito de uma educação com uma qualidade social, percebe-se algumas citações que vão ao encontro ao que as Diretrizes Nacionais (2010) defendem ao afirmarem a educação como um

processo que identifica as (os) estudantes enquanto indivíduos que têm identidades e identificações diante da diversidade, como sujeitos plenos que fazem parte de uma comunidade de cultura e têm o direito a ampliar seus conhecimentos construindo novas e significativas aprendizagens(...) (CADERNO DE FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE ENSINO DO RECIFE, 2014, p.40)

Está notória a compreensão docente a respeito do compromisso da educação com a sua capacidade de interferência social, no entanto, faz-se importante destacar até que ponto esse entendimento da dimensão transformadora da educação, sobretudo no que diz respeito aos Direitos Humanos, insere-se na agende da rede municipal de ensino em estudo, ou ainda, configura-se como uma política pública, ou, por outro lado, surge como práticas isoladas em determinada unidade de ensino, sem um processo oficial de articulação, como uma política defendida pelo próprio município, dos textos para uma ação concreta em rede.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Questões como estas tornaram-se necessárias à medida em que se percebeu uma significativa quantidade de discursos voltados para a defesa de uma educação que compactue, por exemplo, com a defesa, a garantia dos Direitos Humanos, mas que, devido a alguns obstáculos ficam impedidas ou de serem implementadas, ou estendidas em caráter de rede de ensino, incluindo a própria lógica funcional estabelecida em rede, dificultando o desenvolvimento de compreensões curriculares que ultrapassem a rigidez e que possibilite novos sentidos e significados.

Ao adentramos no quesito “Princípios Norteadores da Educação no Recife”, que compõe o tópico 2 do caderno em análise, percebe-se um destaque em relação às Diretrizes curriculares, ao tratarem das referências conceituais elaboradas pelo Ministério da Educação (2010), a partir dos seguintes princípios:

I. igualdade de condições para o acesso, inclusão, permanência, e sucesso na escola; II. liberdade de aprender, ensinar, pesquisar, e divulgar cultura, o pensamento, a arte e o saber; III. pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV. respeito à liberdade e aos direitos: V. coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI. gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII. valorização do profissional da educação escolar; VIII. gestão democrática do ensino público, na forma da legislação e das normas dos respectivos sistemas de ensino; IX. garantia de padrão de qualidade; X. valorização da experiência extra-escolar; XI. Vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. (CADERNO DE FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE ENSINO DO RECIFE, 2014, p.44)

O texto segue com referências à importância da construção de espaços de discussão, organização de coletivos que possam favorecer a (re)construção de projetos político-pedagógicos em cada unidade de ensino, citando os Conselhos Escolares, assim como outras maneiras de organização coletiva, a Conferência Municipal de Educação (COMUDE) como instâncias fundantes para que

dessa maneira, algumas escolas começam a se organizar segundo uma nova lógica, compreendendo que ações e projetos que abram possibilidades para o falar, planejar, assumir responsabilidades, reivindicar direitos, representar idéias e sujeitos são vivências que possibilitam a formação para a democracia. (CADERNO DE FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE ENSINO DO RECIFE, 2014, p.46)

No entanto, o universo do discurso e da formulação de textos que defendem a promoção, o estímulo, a garantia de direitos parece não estar sintonizado com o universo da prática política que predomina por meio da própria instância responsável pela elaboração desses materiais de referência, quando no ano de 2015, não considerou a realização da COMUDE, e impôs um Plano Municipal de Educação (PME), votado em caráter de urgência da Câmara Municipal do Recife, isto é, os mesmos

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 espaços defendidos nos textos oficiais e de referência como fundamentais para a promoção, a defesa de direitos no campo da educação, sendo desrespeitados frente à gestão municipal2.

Nota-se que diante dessa concisa leitura de tópicos específicos do livro de referência destinado à Rede de Ensino do Recife, prevalecem usos de termos como democracia, participação, identidade, justiça social, entre outros, os quais poderíamos inserir no universo temático dos Direitos Humanos, contudo, o uso puro e simples pode esvaziar os sentidos desses termos, tornando-os desconexos, ausentes de significados, deturpando seus conceitos e vulgarizando-os, haja vista que elementos que constam no Plano Nacional de Educação e Direitos Humanos ainda carecem de efetivação diante, por exemplo, da rigidez e conservadorismo curricular, além da própria concepção sobre a Educação.

4 O PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS (PNEDH) E A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE: NOTAS PARA ALGUMAS REFLEXÕES

O PNEDH, um importante marco legal no campo da educação no país, foi estruturado a partir dos seguintes objetivos gerais:

a) destacar o papel estratégico da educação em direitos humanos para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito; b) enfatizar o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade justa, eqüitativa e democrática; c) encorajar o desenvolvimento de ações de educação em direitos humanos pelo poder público e a sociedade civil por meio de ações conjuntas; d) contribuir para a efetivação dos compromissos internacionais e nacionais com a educação em direitos humanos; e) estimular a cooperação nacional e internacional na implementação de ações de educação em direitos humanos; f) propor a transversalidade da educação em direitos humanos nas políticas públicas, estimulando o desenvolvimento institucional e interinstitucional das ações previstas no PNEDH nos mais diversos setores (educação, saúde, comunicação, cultura, segurança e justiça, esporte e lazer, dentre outros); g) avançar nas ações e propostas do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) no que se refere às questões da educação em direitos humanos; h) orientar políticas educacionais direcionadas para a constituição de uma cultura de direitos humanos; i) estabelecer objetivos, diretrizes e linhas de ações para a elaboração de programas e projetos na área da educação em direitos humanos; j) estimular a reflexão, o estudo e a pesquisa voltados para a educação em direitos humanos; k) incentivar a criação e o fortalecimento de instituições e organizações nacionais, estaduais e municipais na perspectiva da educação em direitos humanos; l) balizar a elaboração, implementação, monitoramento, avaliação e atualização dos Planos de Educação em Direitos Humanos dos estados e municípios; m) incentivar formas de acesso às ações de educação em direitos humanos a pessoas com deficiência.

Em nosso caso, abordamos os aspectos do PNEDH (2007) a partir do campo da Educação básica, cujos conceitos e princípios giram em torno da defesa de que

2 Conferir: Plano Municipal de Educação de Recife/PE: análise de um modelo de política pública, de autoria de

SILVA JUNIOR, Edelson de Albuquerque. CASTRO, Ana Emília Gonçalves de. BARBOSA NETO, Antônio Elba. SILVA, Carla Cristina de Albuquerque, SILVA, Daniel. Anais do II Congresso Nacional de Educação – Campina Grande – PB, 2016.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 o processo formativo pressupõe o reconhecimento da pluralidade e da alteridade, condições básicas da liberdade para o exercício da crítica, da criatividade, do debate de idéias e para o reconhecimento, respeito, promoção e valorização da diversidade3.

Nesse sentido, o segmento da Educação básica no PNEDH (2007, p. 31) apresenta como princípios norteadores:

a) a educação deve ter a função de desenvolver uma cultura de direitos humanos em todos os espaços sociais; b) a escola, como espaço privilegiado para a construção e consolidação da cultura de direitos humanos, deve assegurar que os objetivos e as práticas a serem adotados sejam coerentes com os valores e princípios da educação em direitos humanos; c) a educação em direitos humanos, por seu caráter coletivo, democrático e participativo, deve ocorrer em espaços marcados pelo entendimento mútuo, respeito e responsabilidade; d) a educação em direitos humanos deve estruturar-se na diversidade cultural e ambiental, garantindo a cidadania, o acesso ao ensino, permanência e conclusão, a eqüidade (étnico-racial, religiosa, cultural, territorial, físico-individual, geracional, de gênero, de orientação sexual, de opção política, de nacionalidade, dentre outras) e a qualidade da educação; e) a educação em direitos humanos deve ser um dos eixos fundamentais da educação básica e permear o currículo, a formação inicial e continuada dos profissionais da educação, o projeto político-pedagógico da escola, os materiais didático-pedagógicos, o modelo de gestão e a avaliação; f) a prática escolar deve ser orientada para a educação em direitos humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação dialógica entre os diversos atores sociais4.

Portanto, procuramos realizar um enfoque sobre esse Plano em cruzamento com os textos-referência que conduzem a política da Rede Municipal de Ensino do Recife, considerando suas complexidades, distinções, assim como possíveis limitações. Essa preocupação evidencia-se a partir da cautela em perceber o Plano, assim como os referidos textos-referência como materiais oriundos de arenas políticas e resultantes de uma conjuntura sociohistórica.

Não pretendemos supor o esgotamento da leitura do texto de referência da rede de ensino ora citado, uma vez que optamos por aprofundar uma interpretação a partir de pontos específicos que se aproximam mais diretamente de nossa proposta de estudo, além disso, não exigimos que uma obra possa atender todo o complexo de conceitos, de campos de atuação que integram o universo dos Direitos Humanos, porém torna-se possível perceber suas limitações à medida em que seguimos a sua leitura, sobretudo no que diz respeito ao não desenvolvimento de uma sistematização ou associação do que está sendo proposto como diretrizes educacionais no próprio caderno com as diretrizes que integram o PNEDH, dificultando, inclusive uma compreensão que fuja de uma lógica assistencialista, colonizadora, conforme Flores (2009).

Com isso, torna-se relevante considerar os marcos legais, como o próprio PNEDH (2007), inserindo-os nos territórios de discussão, de formulação e de decisão das políticas, assim como nos

3 PNEDH (2007) 4 PNEDH (2007, p.31)

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 materiais que circulam nos diversos ambientes que compõem a estrutura organizacional da referida rede municipal de ensino, proporcionando-os sentidos que vão de encontro ao modelo já estabelecido e que dificilmente se propõe a oferecer um entendimento do processo colonizador que ainda predomina ao se compreender o fenômeno educativo.

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A resultante das discussões realizadas indica que é fundamental destacar como aporte teórico: que os Direitos Humanos, são resultados das lutas sociais pela dignidade, pelo elemento ético universal e são também resultados das lutas sociais. Ao oferecer uma plataforma didática para o entendimento de sua obra, Flores (2009), expressa um viés pedagógico tanto na medida em que nos permite associar sua relevância para o campo da ação educativa, quanto no momento em que esquematiza e estrutura conceitualmente a Teoria Crítica dos Direitos Humanos, assumindo leituras na defesa da necessidade de se construir novas perspectivas no estudo dos Direitos Humanos.

É possível compreender que embora o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, tenha sido concebido enquanto uma Política Pública, de fato, mediante sua complexidade e a atual conjunta, faz emergente uma atuação dos movimentos sociais, na perspectiva de mobilizar a sociedade por ações que orientem Estados e Municípios, na disseminação do Plano Nacional em suas Diretrizes Educacionais.

O estudo do documento “Política de Ensino da Rede Municipal do Recife, Fundamentos Teórico-Metodológicos”, nos revelou uma ausência de sistematização acerca do Plano ou dos Direitos Humanos, o que desfavoreceu uma integração concreta do tema no currículo da Rede Municipal de Ensino do Recife, bem como, não favoreceu a construção de práticas que possibilitassem o respeito aos Direitos Humanos em especial na Educação Básica.

Desse modo, a reprodução dos padrões eurocêntricos e a falta de formação dos (as) educadores (as) e responsáveis pelas bibliotecas dificultaram o acesso à literatura relacionada, por exemplo, à história de África, cultura afro-brasileira e da temática étnico-racial, embora a escola, enquanto instituição social deve proporcionar a construção de conhecimentos, reconhecendo a contribuição dos diferentes povos, suas origens, suas culturas.

6 REFLEXÕES PARA ESTUDOS FUTUROS

Nesse artigo apresentamos uma análise acerca da institucionalização de uma Política Pública, as problematizações realizadas sinalizaram alguns aportes teóricos e de análise, que podem contribuir para um debate inicial acerca da temática estudada, reconhecendo que o conhecimento é mutável e

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 48982-48991, jul. 2020. ISSN 2525-8761 sujeito a críticas e revisões. A contribuição reflexiva contribuiu na apreensão dos Direitos Humanos como instrumento de colonização, ou de descolonização.

Foi fundamental conceber o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos como uma Politica, um produto cultural, que pode estar vulnerável a reações políticas, econômicas, sociais e jurídicas, e que, de acordo com a conjuntura e formação social pode-se ou não construir o respeito à dignidade humana.

Tal cenário reflete, sobremaneira, o avanço de um projeto neoliberal e a necessidade de novas reconfigurações na busca por respeito aos Direitos Humanos, que devem ser percebidos como um fenômeno metafísico e transcendente em relação à existência humana.

Percebemos o desafio de inserção dessas reflexões no ambiente escolar, tanto no aspecto documental quanto na prática política, em curto prazo, mas, sobretudo, acreditamos na importância de trazer à tona questões tão profundas e que envolvem o processo educativo, as relações socioculturais, concepções de sujeito, de sociedade, em busca de uma ruptura aos “instrumentos que prescrevem comportamentos, impõem deveres e compromissos individuais e coletivos, sempre impetrados a partir de um sistema axiológico e econômico dominante”. (Flores, 2009, p. 46)

REFERÊNCIAS

BRASÍLIA. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos / Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, 2007.

HERRERA FLORES, Joaquín. A Reinvenção dos Direitos Humanos; tradução de Carlos Roberto Diogo Garcia; Antônio Henrique Graciano Suxberger; Jeferson Aparecido Dias. Florianópolis, SC: Fundação Boiteux, 2009.

MAY, Tim. Pesquisa Social: questões, métodos e processos. Tradução Carlos Alberto Silveira Netto Soares. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

RECIFE. Plano Municipal de Educação. Lei 18.147/2015. Diário Oficial do Recife, Edição de 22 de junho de 2015.

RECIFE. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Política de Ensino da Rede Municipal do Recife: subsídios para atualização da organização curricular. / Élia de Fátima Lopes Maçaira (Org.), Katia Marcelina de Souza (Org.), Marcia Maria Del Guerra (Org.). – 2 ed. - Recife: Secretaria de Educação, 2014. (v. 1)

SILVA JUNIOR, Edelson de Albuquerque. CASTRO, Ana Emília Gonçalves de. BARBOSA NETO, Antônio Elba. SILVA, Carla Cristina de Albuquerque, SILVA, Daniel. Plano Municipal de

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TAVARES, Manuel; RICHARDSON, Roberto Jarry. Metodologias Qualitativas: Teoria e Prática. Curitiba, PR: CRV, 2015.

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