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AS OBRAS DE ARTE EM PAPEL DE FRANKLIN JOAQUIM CASCAES

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Academic year: 2019

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ALINE CARMES KRÜGER

FRAGMENTOS DE UMA COLEÇÃO:

AS OBRAS DE ARTE EM PAPEL DE

FRANKLIN JOAQUIM CASCAES

(2)

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC

CENTRO DE ARTES – CEART

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS

ALINE CARMES KRÜGER

FRAGMENTOS DE UMA COLEÇÃO:

AS OBRAS DE ARTE EM PAPEL DE

FRANKLIN JOAQUIM CASCAES

Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do CEART/UDESC, para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais

Orientadora:Profa. Dra. Sandra Makowiecky

FLORIANÓPOLIS, SC

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Ficha elaborada pela Biblioteca Central da UDESC

K94f Krüger, Aline Carmes

Fragmentos de uma coleção: as obras de arte em papel de Franklin Joaquim Cascaes / Aline Carmes Krüger, 2011.

280 p. : il. ; 30 cm Bibliografia: p. 141-152

Orientadora: Dra. Sandra Makowiecky

Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Mestrado em Artes Visuais, Florianópolis, 2011.

1. Arte - papel. 2. Desenhos. 3. Cascaes, Franklin Joaquim. I. Makowiecky, Sandra. II. Universidade do Estado de Santa Catarina.

Mestrado em Artes Visuais. – III Título.

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ALINE CARMES KRÜGER

FRAGMENTOS DE UMA COLEÇÃO:

AS OBRAS DE ARTE EM PAPEL DE

FRANKLIN JOAQUIM CASCAES

Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do CEART/ UDESC, para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais, na linha de pesquisa Teoria e História da Arte.

Banca examinadora:

Orientador: ___________________________________________________ Profa. Dra. Sandra Makowiecky (CEART/UDESC)

Membro: ____________________________________________________ Profa. Dra. Rosângela Miranda Cherem (CEART/UDESC)

Membro: _____________________________________________________ Profa. Dra. Vera Beatriz Siqueira (CEH-ART/ UERJ)

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AGRADECIMENTOS

Muitos são os que de alguma maneira, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste mestrado e para minha formação, tanto acadêmica quanto pessoal.

Quero agradecer à minha orientadora, professora Dra. Sandra Makowiecky, pelo apoio mesmo antes de me conhecer, por acreditar na minha pesquisa, por sua dedicação, paciência e amparos constantes. Ao Programa de Pós Graduação em Artes Visuais PPGAV-UDESC, em especial à Márcia Porto e Doroti Ragassi que me assessoraram em tantas dúvidas e questionamentos. Aos professores deste programa pelos ensinamentos, em particular à professora Dra. Rosângela Cherem por seu olhar iluminado ao nos falar de arte e por me fazer compreender que a obra de arte é capaz de produzir uma avaria, um delírio. À professora Maria Teresa Santos Cunha do Programa de Pós Graduação em História da UDESC, pelo refinamento dos sentidos.

As amizades edificadas durante esses dois anos de mestrado, em especial aos meus companheiros de viagem Marcelo Pereira Seixas (ANPAP-2010) e Wagner da Costa Lima (CBHA-2010), pelo prazer de suas companhias. E a doce Juliana Crispe, minha artista preferida, pelo valor dado a amizade, por seu carinho e por me deixar fazer parte do seu relicário.

Agradeço ao Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral e equipe, em especial Teresa Fossari, Cristina Castellano, Hermes Graipel e Euclides Vargas, pelo apoio durante todos estes anos e por confiarem a mim a Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, possibilitando-me acesso ilimitado à pesquisa no acervo. No Museu, agradeço também a bolsista Isonete Vilvert pela ajuda primorosa na listagem da biblioteca e índice de desenhos do Cascaes.

Gostaria de fazer um reconhecimento carinhoso e de gratidão a amiga Vanilde Rohling Ghizoni, por compartilhar artista, sonhos e angustias.

Quero agradecer aqui a todos os meus familiares. Aos meus pais Paulo e Terezinha, que mesmo sem compreender o caminho que escolhi traçar me apoiaram em todos os momentos. Aos meus irmãos, Fernando por me fazer sorrir sempre, e a Thaís, pela paciência e por toda ajuda nos vocabulários! Vocês são fundamentais na minha vida. Obrigada por compreenderem minha ausência.

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo analisar os desenhos a bico de pena e grafite do artista Franklin Joaquim Cascaes, obra em papel presente na Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes. Objetiva apontar outros aspectos na obra do artista até então pouco explorados. A pesquisa está centrada em possibilidades de leituras que levam ao hibridismo apresentado plasticamente e na criação de novos seres, as representações de cenas do cotidiano e da cidade de Florianópolis, uma articulação entre o dizer e o ver presente em seus desenhos, a imaginação e fabulação, onde é possível reencontrar o elo entre a vida e a ficção, que se daria nas narrativas simulantes. Identificamos e analisamos na obra de Franklin Joaquim Cascaes as interfaces com o campo da museologia e a partir daí verificamos a intenção do artista em manter seu acervo em um museu. Pretende-se compreender o que esta coleção nos informa acerca do contexto histórico cultural e do crescimento urbano da cidade de Florianópolis e a crítica que o artista fez da modernidade em curso na Ilha de Santa Catarina. A narrativa está presente em todos os tempos e é fator determinante na poética de Cascaes. Sua obra adquiriu, com o passar dos tempos, um tom histórico e crítico na medida em que ele percebia que o cotidiano dessas populações, e o conhecimento popular via-se ameaçado pelas intensas transformações que se seguiam, correndo risco de não serem lembradas pelas futuras gerações. Utilizou-se a imagem, os manuscritos e entrevistas do artista como fonte de pesquisa. As fontes principais desta pesquisa se encontram no Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina.

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ABSTRACT

This dissertation aims to analyze Franklin Joaquim Cascaes’ drawings made with ink and pen, and graphite, work on paper present at the Collection Professor Elizabeth Pavan Cascaes. It aims to point out aspects in the artist’s work until then little explored. The research is centered in possibilities of readings that lead to the hybridism plastically presented and the creation of new creatures, the representations of everyday scenes and the city of Florianópolis, an articulation between the saying and the seeing, present in his drawings, the imagination and confabulation, where it is possible to find the bond between life and fiction, which would happen in the simulating narratives. We identified and analyzed in Franklin Joaquim Cascaes’ oeuvre the interfaces with the field of museology and from that we verified the artist’s intention in keeping his acquis in a museum. We intend to understand what this collection informs us about the cultural and historical context and the urban growing of the city of Florianópolis and the critics that the artist made about modernity in course at the Island of Santa Catarina. The narrative is present in all times and is a determining factor at Cascaes’ poetics. His oeuvre acquired, through time, a historical and critical tone while he perceived that the everyday of these people, and popular knowledge was threatened by the intense transformations that followed, endangered of not being remembered by future generations. We used image, manuscripts and interviews of the artist as a source for the research. This research’s main sources are at the University Museum Professor Oswaldo Rodrigues Cabral at the Federal University of de Santa Catarina.

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LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 – Fotografia de Franklin Joaquim Cascaes - Sem data 17

Figura 2 – Fotografia de Franklin Joaquim Cascaes - Sem data 22

Figura 3 - Fotografia de Franklin Joaquim Cascaes - Sem data 22

Figura 4 – Fotografia de Franklin Joaquim Cascaes e Elizabeth Pavan Cascaes –

1944 25

Figura 5 –Elizabeth Pavan Cascaes – 1968 – argila policromada – 31,0 x 15,0 x

12,0 cm 25

Figura 6: A Zorra Vasia – 1970 - Nanquim sobre papel - 54,5 x 72,8 cm 26

Figura 7: Bruxas Atacam um Pescador – 1973 – Nanquim sobre papel – 49,1 x

68,0 cm 27

Figura 8: Sem Título – 1972 – Grafite sobre papel – 50,4 x 66,1 cm 27

Figura 9: Montagem Exposição do conjunto escultórico “Viagem Bruxólica à

Índia – Sem data 30

Figura 10: As Bruxas Roubam a Lancha Baleeira de um Pescador da Ilha de

Santa Catarina – Sem data – Nanquim sobre papel – 52,5 x 71,0 cm 31

Figura 11: Caderno 112 – Sem data 39

Figura 12: Caderno 112 – Sem data 39

Figura 13: Boitatá e sua Vitima – 1970 – Nanquim sobre papel – 72,6 x 54,9 cm 43

Figura 14: Abeva – 1960- Grafite sobre papel - 33,2 x 48,2cm 45

Figura 15: Vaca Tatá Enréia - 1964 - Grafite sobre papel - 50,3 X 33,0cm 45

Figura 16: Boitata Enamorado – 1962 - nanquim sobre papel - 25,4 x 32,7cm 47

Figura 17: Boitatá (tatá fogo boi animal) – 1962 – Nanquim sobre papel –

35,3 26,3 cm 47

Figura 18: Mboy-tatá – 1961 – Grafite sobre papel – 23,4 x 32,8 cm 48

Figura 19: Mboy-tatá tupi.Boitatá-Bitatá-baitatá, português – 1961 – Grafite

sobre papel – 32,8 x 23,4 cm 48

Figura 20 Meia noite boitatá passou e a carreta parou – 1969 – Nanquim sobre

papel – 52,9 x 71,3 cm 49

Figura 21: Cartaz - Sem Título – Sem data - Lápis de cor e giz de cera sobre

papel – 33,9 x 24,0 cm 54

Figura 22: Cartaz - IIªEsposição no Interior de S. Catarina – 1961 - Lápis de cêra

sobre cartão – 32,8 x 23,9 cm 54

Figura 23: Fotografia - Franklin Joaquim Cascaes em sua residência – Sem data 55

Figura 24: Procissão da Mudança – argila policromada - Exposição Franklin

Cascaes Desenhos e Esculturas – 2010 60

Figura 25: Tecelagem Manual (mulheres descaroçando algodão) – gesso

policromado - Sem data 60

Figura 26: Vendedor de gaiolas - Sem data - Gesso policromado - 34,3 x 15,0 x

15,0 cm 61

Figura 27: Homem preparando mortalha para colocar fumo de corda - Sem data

(9)

Figura 28: Manuscrito em folha avulsa e caderno de Franklin Joaquim Cascaes –

Sem data 62

Figura 29: Manuscrito em folha avulsa e caderno de Franklin Joaquim Cascaes –

Sem data 62

Figura 30: Primeira Capelinha de Madeira de Nossa Senhora dos Navegantes e Santa Cruz de Itaguassú, no Antigo Município de São José, nas Pedras da Bernarda – 1970 – Nanquim sobre papel – 66,2 x 84,5 cm

69

Figura 31: Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes, hi de Itaguaçú, Hoje

Boate – 1974 – Nanquim sobre papel – 65,2 x 95,9 cm 69

Figura 32: Eis o Cetro Bruxólico Utilizado por Vós, 1961 - Grafite sobre papel e

colagem - 43,8 x 66,0cm 70

Figura 33: Sem título – Grafite sobre papel – 1980 – 57,7 x 65,6cm 72

Figura 34: As Laranjas Virgens – Grafite sobre papel – 1980 – 66,3 x 67,1cm 74

Figura 35: Quadro da Saudade – 1970 - Nanquim sobre papel - 49,8 x 66,0 cm 76

Figura 36: Sem título – 1960 – grafite sobre papel – 32,8 x 33,2cm 77

Figura 37: Sem título – 1961 – Nanquim sobre papel – 51,3 x 35,5 cm 77

Figura 38: Peixe Canhonheiro – 1960 – Grafite sobre papel e colagem – 45,5 x

86,6 cm 80

Figura 39: Peixe Canhoeiro para a Mitologia Catarinense – 1960 – Grafite sobre

papel – 42,5 x 96,1cm 80

Figura 40: Leão Estilizado - 1961 – Grafite sobre papel – 23,8 x 32,8 cm 81

Figura 41: Leão Estilizado – 1969 – Nanquim sobre papel e colagem 81

Figura 42: Saudosa Procissão das Tainhas na Barra da Lagoa da Conceição da

Ilha de Stª Catarina 8-7-1975 - 1980 - Grafite sobre papel - 60,1 x 65,9 cm 84

Figura 43: Saudosa Procissão do Nosso Café Sombreado do Ratones da Ilha de

Sta Catarina - 1980 - Grafite sobre papel - 49,9 x 65,2 cm 84

Figura 44: Saudosa Procissão Mandioca no Campeche da Ilha de Santa

Catarina – 1980 – Grafite sobre papel – 50,0 x 66,1 cm 85

Figura 45: As Laranjas Virgens – 1980 – Grafite sobre papel – 66,3x 67,1cm 85

Figura 46: Boitatá – 1960 – nanquim sobre papel e colagem – 38,5 x 44,6cm 88

Figura 47: O Boitatá – 1968 – Nanquim sobre papel – 47,8 x 64,0 cm 89

Figura 48: Boitatá – 1961 – Nanquim sobre papel – 28,1 x 22,8cm 91

Figura 49: Boitatá – 1961 – Nanquim sobre papel – 27,3 x 22,4cm 92

Figura 50: Boitatá Ilhéu – 1973 – Nanquim sobre papel – 48,9 x 51,1 cm 93

Figura 51: Raspando Mandioca – 1960 – nanquim sobre papel – 25,5 x 34,8 cm 98

Figura 52: Pilando Café – 1961 – Nanquim sobre papel – 50,5 x 37,9 cm 98

Figura 53: Mulher com Mão de Pilão – Sem data – Gesso policromado – 35,5 x

13,5 x 20,5 cm 98

Figura 54: Mulher raspando mandioca – Conjunto Engenho Rodete – Sem data -

Gesso – 24,0 x 20,0 x 22,0cm 99

Figura 55: Forneiro e forno – Conjunto Engenho Chamarrita ou Pouca Pressa ––

Sem data – Argila crua – 32,5 x 18,0 x 17,0 cm e 14,0 x 25,0 x 26,0 cm 99

(10)

Figura 57: Carro de bois -Engenho Cangalha – Sem data – Argila crua e madeira

– 24,0 x 14,0 x 33,0cm 99

Figura 58: Rendeira B – Conjunto A Rendeira - 1955 – Gesso – 29,5 x 13,0 x

20,5 cm 100

Figura 59: Carregando Lenha – 1967 – Grafite sobre papel – 32,7 x 22,1cm 101

Figura 60: Vão a Maré Escamar Peixes – 1961 – Grafite sobre papel – 21,8 x

32,8 cm 101

Figura 61: Pescador remendando a rede – Conjunto Pescaria – 1950 – Gesso

Policromado – 35,0 x 36,0 x 24 cm 102

Figura 62: Pescador que movimenta a fieira do carrinho de carretéis – Conjunto

Pescaria – Sem data – Gesso Policromado – 37,0 x 14,5 x 25,0cm 102

Figura 63: Detalhe conjunto pescaria montado – Sem data – Exposição no

Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC. 102

Figura 64: O Leiteiro – 1973 – Nanquim sobre papel – 67,9 x 50,0 cm 103

Figura 65: Pombeiro Vendedor de Galinhas Amarradas numa Manguara

Vendidas por Unidade – 1974 – Grafite sobre papel – 63,3 x 47,5 cm 103

Figura 66 - Vendedor de Capim de Colchão – 1970 – Grafite sobre papel – 47,0

x 64,6 cm 105

Figura 67 - Pombeiro Vendedor de Verduras, Legumes, Frutas, Ovos e Aves –

Sem data – Grafite sobre papel – 51,7 x 66,4 cm 105

Figura 68: Vendedor de Camarões – Conjunto Vendedores Ambulantes – 1978 –

Argila crua - 34,0 x 19,0 x 13,0 cm 105

Figura 69: Vendedor de galinhas e ovos – Conjunto Vendedores Ambulantes –

Sem data – Argila crua – 32,5 x 19,5 x 11,3 cm 105

Figura 70: Praia de Pescadores – 1960 – Nanquim sobre papel – 52,5 x 71,0 cm 106

Figura 71: Sem Título – 1966 – Nanquim sobre papel e colagem –

70,2 x 94,8 cm 106

Figura 72 - Pombeiro de Camarão – 1974 – Nanquim sobre papel –

66,9 x 46,2 cm 108

Figura 73 - Pombeiro Vendedor de Peixes – 1980 – Grafite sobre papel –

62,8 x 50,0 cm 108

Figura 74: Sem Título – 1969 - Nanquim sobre papel - 52,5 x 36,7cm 111

Figura 75: Peixe Gato para a Mitologia Catarinense – 1980 – Grafite sobre papel

– 47,7 x 77,8 cm 113

Figura 76: Peixe Marreco – 1980 – Grafite sobre papel – 37,1 x 63,4 cm 114

Figura 77: Porco Marinho - Nanquim sobre papel - 1960 - 24,9 x 31,2 cm 115

Figura 78: Cavalo Marinho – 1962 – Nanquim sobre papel – 25,5 x 33,9cm 115

Figura 79: Peixe-Bucica – 1974 – Grafite sobre papel – 30,0 x 40,4 cm 116

Figura 80: Peixe Bocica - 1974 - Grafite sobre papel - 44,9 x 63,0 cm 116

Figura 81: Walmor Corrêa - Metamorfoses e Heterogonias - lápis de cor e

grafite sobre impressão, 34x48cm 117

Figura 82: Diorama Cartesiano - acrílica e grafite sobre tela, 150x150cm. 117

Figura 83: Ondina - acrílica e grafite sobre tela, 195x130cm 118

(11)

Figura 85: Bitatá (Bita-Cabra Tatá-Fogo) – 1970 – Nanquim sobre papel –

49,5 x 35,8 cm 121

Figura 86: Disco-tatá Catarinense – 1971 – Grafite sobre papel – 66,5 x 80,6 cm 121

Figura 87: Sem Título – 1971 – Grafite sobre papel – 47,8 x 65,9 cm 121

Figura 88: Sem título – 1970 – Nanquim sobre papel – 51,5 x 69,2 cm 124

Figura 89: Sem Título – 1967 – Nanquim sobre papel – 52,0 x 71,1 cm 125

Figura 90: Sem Título – 1975 – nanquim sobre papel – 75,4 x 61,6 cm 127

Figura 91: Sem titulo – 1974 – Grafite sobre papel – 36,7 x 43,0 cm 128

Figura 92: Dante conversa com o papa Nicolau III que o confunde com o papa Bonifácio VIII, aguardado para substituí-lo (Canto XIX). Ilustração de Gustave Doré (século XIX).

129

Figura 93: Peixes Simoníacos – 1979 – Grafite sobre papel – 45,0 x 62,7cm 129

Figura 94: Hobárcu – 1971 – Grafite sobre papel – 21,9 x 32,8 cm 132

Figura 95: Sem Título – 1962 – Grafite sobre papel – 32,6 x 47,5 cm 134

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1 – FRAGMENTOS DE UMA COLEÇÃO ATRAVÉS DE UMA NARRATIVA DE SI MESMO ... 17 1.1-Lampejos de memória e biografia de Franklin Joaquim Cascaes ... 17

1.2 – A presença da mito-magia em Franklin Joaquim Cascaes ... 29

1.3 – Uma trajetória em narrativas ... 34

1.4– Diálogo entre a condição de sujeito e a experiência artística: alma e melancolia em Franklin Joaquim Cascaes ... 41 1.5 - A coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes no Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC ... 51 2 – A AMPLITUDE DE UM ARSENAL IMAGÉTICO ... 68

2.1 - Uma articulação entre o dizer e o ver em Franklin Joaquim Cascaes ... 68

2.2 - Um retrato da cidade de Florianópolis nos desenhos de Franklin Joaquim Cascaes ... 79

2.3 – Cenas do cotidiano em Cascaes ... 95

3 – FICÇÃO, IMAGINAÇÃO E FABULAÇÃO EM FRANKLIN JOAQUIM CASCAES ... 110

3.1 – O hibridismo ou a mistura das coisas improváveis ... 110

3.2 “Era uma vez...” a fabulação visual em Franklin Joaquim Cascaes ... 123

4 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 137

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 141

6 - APÊNDICES ... 153

I - Relação dos desenhos de Franklin Joaquim Cascaes ... 154

II - Relação das esculturas de Franklin Joaquim Cascaes ... 243

III - Relação dos manuscritos de Franklin Joaquim Cascaes ... 245

IV - Biblioteca de Franklin Joaquim Cascaes ... 246

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INTRODUÇÃO

Foi em meio aos trabalhos de preservação do acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, realizados desde o ano de 2002 – principalmente a catalogação, higienização e digitalização das obras – que se descobriu todo um conjunto de documentos, imagens e manuscritos do artista Franklin Joaquim Cascaes. Durante este trabalho, foram-se desvendando um pouco da sua história, alguns de seus relatos, as características de suas esculturas e de seus desenhos. Neste sentido, surgiu a necessidade de um conhecimento mais aprofundado em relação à obra e ao artista. Uma curiosidade, até.

Estudar a obra de um artista de pouca visibilidade no circuito hegemônico das artes significa adentrar num território pouco explorado através de cruzamentos teóricos imprevistos.

Comecei este projeto com a proposta de escrever sobre a cidade de Florianópolis e a figura mitológica do Boitatá, representados nos desenhos de Franklin Cascaes. Pareço ter terminado um pouco longe disso. Mas este aspecto inicialmente escolhido ainda se faz presente nesta dissertação.

Gostaríamos de enfatizar que as fontes principais desta pesquisa são os desenhos e os manuscritos do artista Franklin Joaquim Cascaes, bem como entrevistas por ele concedidas a Gelci José Coelho, conhecido como Peninha. Peninha foi diretor do Museu Universitário de 1996 a 2008, e anteriormente a isto conviveu intensivamente com o artista Franklin Joaquim Cascaes. Ainda hoje Peninha é considerado o grande difusor da obra do artista.

Ao ampliar a sua atenção para os mais variados aspectos da experiência humana, a produção histórica passou a buscar informações em diferentes tipos de documentos, como por exemplo: jornais, depoimentos orais, fotografias, folders, filmes, pinturas, desenhos, obras

literárias, correspondências pessoais, patrimônios arquitetônicos. Para a realização desse trabalho, foram levantadas informações de uma série de fontes oficiais, visuais e manuscritas do artista Franklin Joaquim Cascaes.

(14)

Quanto às fontes principais, mantivemos, em relação à transcrição dos manuscritos, a forma gramatical e ortográfica utilizada pelo artista. Portanto, se em muitas vezes encontrarmos erros nas citações, elas se dão pela reprodução precisa dos escritos do artista. Quanto à entrevista, transcrevemos a partir dos áudios em CD que são acervo do Museu Universitário. Estes CDs são resultado de uma digitalização de fitas K7 que o museu ainda não teve oportunidade de catalogar. Aqui elas aparecem com a numeração que já existia nas fitas. Estas são informações que irão auxiliar o leitor na leitura da dissertação.

Franklin Joaquim Cascaes acompanhou o processo de modernização que ocorria nas comunidades, e isto está apontado e registrado em sua obra. O tempo, o espaço e as circunstancias são transformadas, modificando o cotidiano da população local. Sua obra é um universo que permite um vasto campo de pesquisa. Testemunhando a história, com a imaginação produtiva e criadora, Franklin Cascaes buscou retratar os sentimentos que um povo tem pela vida.

Em entrevista a Raimundo Caruso, ao ser perguntado sobre a importância da sua obra, Cascaes nos diz: “A importância do meu trabalho para os catarinenses hoje? Acho esse trabalho muito importante porque é preciso conhecer para amar. E uma nação que não conhece a raiz da sua história, está muito aquém daquilo que ela devia ter como sua cultura” (CASCAES, 1981, p.28 e 29).

A preservação do patrimônio histórico1 cultural tem cada vez maior relevância na atualidade, dado a importância da transmissão da nossa herança cultural para as futuras gerações. O acervo que compõe a Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes2é uma ampla

fonte de informação para a pesquisa histórica e artística. Este patrimônio histórico e artístico

(15)

pode ser utilizado como documento historiográfico, bem como análise da produção e processo de criação artística.

Franklin Joaquim Cascaes se coloca como ponto de partida desta investigação, seu talento e representatividade são argumentos importantes, no entanto, é preciso ir além disto. A obra de Cascaes constitui, por um lado, uma memória individual singular, e, por outro lado, em meio a uma certa rede de sociabilidades, participa de um processo de memória coletiva da cidade de Florianópolis. A formação desta memória e deste processo perpassa um processo histórico significativo que deve, portanto, ser analisado.

Esta pesquisa tem como objetivo analisar as obras de arte em papel do artista Franklin Joaquim Cascaes composta por desenhos a bico de pena e grafite. A coleção escultórica será apresentada de forma a contribuir com o desenvolvimento da dissertação, mas não será neste momento explorada. As obras, objetos deste trabalho, são os desenhos a bico de pena e grafite sobre papel da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, mesmo que em algum momento

façamos um cruzamento com a produção escultórica do artista, nosso objeto de estudo principal são os desenhos. A pesquisa está centrada nos desenhos e em possibilidades de leituras que levam ao hibridismo, aos seus escritos, representações do cotidiano e da cidade através dos desenhos do boitatá e a fabulação em Franklin Cascaes. Pretende-se compreender o que esta coleção nos informa acerca do contexto histórico cultural e do crescimento urbano da cidade de Florianópolis e a crítica que o artista fez à modernidade em curso na Ilha de Santa Catarina. A construção do conhecimento a partir da sua obra contribui para o melhor entendimento do processo de criação do artista, suas pesquisas e conclusões acerca do universo por ele trabalhado.

Franklin Joaquim Cascaes é aqui apresentado além de uma esfera reduzida do mito da ilha da magia e folclore, característica predominantemente conhecida e explorada na obra do artista.

(16)

colecionador, que nesta pesquisa tratei como sendo o próprio artista, construtor de uma coleção.

Em “A Historia da Arte”, Gombrich considera que “olhar um quadro com olhos de novidade e aventurar-se numa viagem de descoberta é uma tarefa muito mais difícil, mas também muito mais compensadora” (GOMBRICH, 1988, p.18). Esta observação é extremamente importante no que concerne a luta pela preservação histórica, cultural e artística contida na obras de Franklin Joaquim Cascaes.

Outra leitura de fundamental importância para o andamento da pesquisa foi a tese de Adalice Araújo, “Mito e magia na arte catarinense”. A autora apresenta uma construção da

mito magia na imagem do artista Franklin Joaquim Cascaes.

Para a representação da cidade de Florianópolis a partir da obra do artista nos detemos aos seus desenhos e utilizamos a tese de Sandra Makowiecky, “A representação da cidade de Florianópolis na visão dos artistas plásticos”.

No livro “Na Cauda do Boitatá”, Heloísa Espada afirma que na tradição popular, o boitatá é uma assombração que persegue e mata quem tem o azar de cruzar com ele pelo caminho. Mas observaremos que nos desenhos de Franklin Joaquim Cascaes nem sempre este mito é representado como um ser assustador. Há trabalhos em que os boitatás são, antes de tudo, seres pensantes que representam as preocupações do artista.

O hibridismo é percebido na obra do artista através do entrecruzamento que ele faz entre seres imaginários e personagens de manifestações populares. Para este tema nos debruçamos em Sandra Rey, onde as proposições que recorrem à hibridação e induzem os artistas a inventar procedimentos, realizar cruzamentos e combinações diversas com implicações poéticas, lúdicas, sociológicas, filosóficas, conceituais, ecológicas e/ou políticas. Nos exemplos de ficção, imaginação e fabulação em Franklin Cascaes, percebemos que a própria invenção ficcional produzida por Cascaes vale-se também de ficções já existentes. Para Argan, “a atividade artística é essencialmente atividade da imaginação” (ARGAN, 1994, p.21), mas na imaginação incluem-se também as imagens sedimentadas na memória. Aqui buscamos autores com referenciais teóricos que contribuíram para uma crítica e discussão a respeito dos temas que são tratados, como Deleuze e Bergson, ao definirem a função fabuladora.

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considerar que existe relativa produção. Ressalta-se também que a Fundação Municipal de Cultura de Florianópolis chama-se Fundação Franklin Cascaes.

Inicialmente, no primeiro capítulo traçamos uma biografia do artista através de seus textos, suas narrativas e suas entrevistas. São apresentados os temas de interesse e as pesquisas desenvolvidas por Cascaes, até então entendido como folclorista, mal amparado teoricamente. Através desta pesquisa apresentamos o Cascaes narrador de histórias, manuscritas em seus cadernos e representadas em seus desenhos. Também abordamos neste capítulo a construção da imagem da ilha de Santa Catarina como ilha da magia, através do livro “Mito e magia na arte catarinense” de Adalice Araújo. Os anseios, desejos e sentimentos saudosistas do artista serão esboçados neste capítulo, bem como sua ida para o Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, com a doação e consolidação do seu acervo nesta instituição. A solidão é tema bastante recorrente aos artistas e vimos no Boitatá de Cascaes, um duplo, um outro, uma dobra de si. Nas imbricações entre as linguagens escritas e desenhadas desta figura, Cascaes busca elementos para justificar uma narrativa do “eu”.

Após vermos a poética do colecionismo nos detemos na análise dos desenhos de Cascaes, onde podemos voltar nosso olhar para sua coleção e verificar a inclusão da obra entre as obras de arte via conexão dela com outros artistas, evitando o olhar antropológico, como vem sido vista por tantos anos pelos historiadores. Afinal, ainda hoje, reconhece-se na obra de Cascaes um caráter eminentemente etnográfico.

O foco pretendido no segundo capítulo é a obra de Franklin Joaquim Cascaes, ou seja, trata-se da análise de sua produção em desenho a bico de pena ou grafite e os diferentes temas abordados pelo artista. Para o segundo capítulo nos utilizamos de minha própria e frágil habilidade para ler imagens, numa tentativa de descobrir as histórias explícitas ou abrigadas nos desenhos do Cascaes.

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nossas vivências, demonstrando assim a preocupação do artista com as modificações urbanas e culturais que estavam acontecendo em Florianópolis. Apresentamos também uma articulação entre o dizer e ver presente na obra do artista, onde buscamos verificar no desenho do Cascaes a intenção de explicar a obra. Os desenhos são considerados neste trabalho um produto cultural carregado de significados de um tempo e um lugar, de um modo de viver, de agir e de pensar.

Já no terceiro e último capítulo, vemos representado em seus desenhos, as formas híbridas e a construção de um mundo fabuloso por Franklin Cascaes. O artista apropria-se de uma única figura e sua linguagem híbrida está ligada a pesquisa memorialista da população local, criando uma quantidade imensa de obras a partir dos testemunhos imagéticos. O hibridismo em Franklin Cascaes não é apenas plástico, nem se dá no limite do uso dos materiais, por meio das colagens, vai além, funde-se com criação de novos seres e objetos. Apresentamos neste momento uma articulação com trabalhos do artista contemporâneo Walmor Corrêa, onde observamos as pinturas dedicadas à fauna na construção de mitos. Híbridos de mamíferos e insetos, pássaros e peixes, mamíferos e aves, mamíferos e peixes, esses seres inventados por Walmor Corrêa falam de um mundo fantástico, assim como os seres criados por Franklin Cascaes. Percebemos no trabalho de Franklin Joaquim Cascaes uma oscilação entre documentar, presente nas esculturas e ficcionar as práticas do imaginário, muito enfatizado nos desenhos. Neste momento veremos a fabulação visual em Cascaes. Aproximaremos Cascaes de Chagal, onde é possível encontrar semelhanças narrativas plásticas que ilustram preciosidades literárias por meio de transcrições pictóricas livres em simbólicas alegorias.

O trabalho cotidiano com o acervo de Franklin Joaquim Cascaes não nos tirou o fascínio pela sua obra, o fato de nos familiarizarmos cada vez mais com ela, cria uma nova relação e diferentes possibilidades analíticas desta coleção. São nestes momentos que descobrimos a diversidade de aspectos que podem estar relacionados com sua obra, as genialidades do autor, a beleza de suas formas escultóricas, o detalhamento em seus desenhos a grafite e nanquim, o preciosismo na criação, as minúcias nos detalhes, os desejos na sua intimidade, sua solidão de artista e a vontade de preservar. Durante este trabalho vamos gradativamente conhecendo um pouco da sua história.

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1 – FRAGMENTOS DE UMA COLEÇÃO ATRAVÉS DE UMA NARRATIVA DE SI MESMO

1.1 - Lampejos de memória e biografia de Franklin Joaquim Cascaes

a arte é um caminho inato colocado na vida de alguns indivíduos pelo creador do universo e o verdadeiro artista é solitário, mas de dentro dos caminhos da sua solidão ele arranca os frutos dos acontecimentos regionais do seu tempo e o entrega as massas para que elas a conduzam de geração em geração como um dos mais verdadeiros testemunhos da verdade dos vestígios da humanidade através da passagem dos tempos.

(CASCAES, Sem data a)

O objetivo deste capítulo é trazer à luz a obra de Franklin Joaquim Cascaes enfatizando o aspecto biográfico do artista e apresentar a “Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes”, pertencente ao acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, da Universidade Federal de Santa Catarina. Cascaes nasceu na cidade de São José, no bairro de Itaguaçu, hoje pertencente ao município de Florianópolis - para ele “Nossa Senhora de Desterro” como assina na maioria de seus trabalhos – Santa Catarina, em outubro de 1908 e faleceu em março de 1983, aos 74 anos de idade.

Figura 1: Franklin Joaquim Cascaes – Sem data

Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC

Aprofundar-se na produção de Franklin Joaquim Cascaes nos permite ir além do conhecimento quantitativo até então adquirido, realizamos considerações sobre as subjetividades deste artista que ficaram resguardadas em sua obra como expressões do mundo por ele compreendidas, incluindo suas angustias, sonhos, medos, desejos.

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pesquisador, professor e um homem do povo, como todos. De formas distintas, em desenhos, esculturas e narrativas, Cascaes procurou deixar registros da cultura que se transformava.

Esta pequena biografia iniciada neste capítulo se dá a partir da fala do artista, de seus textos, suas narrativas e de entrevistas concedidas a Gelci José Coelho, pesquisador e museólogo que acompanhou o trabalho do artista. São vários os métodos utilizados para se fazer uma biografia, sendo nossa fonte autoral extensa, optou-se em utilizar a voz do autor. Ao fazermos uso de um material inédito até então desconhecido do público geral, acreditamos que iremos legitimar sua memória, assumindo os possíveis desvios que esta opção possa acarretar.

São precárias as publicações a respeito de Franklin Cascaes, mas em se tratando de Santa Catarina é um artista que possui um número significativo de publicações a respeito de sua obra, além de documentários e vídeos. Entretanto, as produções se igualam em conteúdo, pois se referem a uma temática bruxólica e restrita a produção de desenhos3. A crítica se encarregou de “canonizar” a obra de Franklin Cascaes como registro de uma cultura predominantemente açoriana e eminentemente bruxólica. Pode ser observado na pesquisa de Kellyn Batistela4 o artista mal amparado teoricamente. A autora faz uma análise das publicações O Fantástico na Ilha de Santa Catarina, vol.1 e vol.2, com contos e desenhos de

Franklin Cascaes, e também da sua fortuna crítica. Batistela ressalta que a crítica até então construída o colocava como representante da cultura açoriana. Sua análise foi delimitada aos livros e trabalhos acadêmicos5, onde podemos observar o tratamento ao aspecto mítico, a particularidade da presença dos negros na obra de Cascaes, a preponderância do discurso açoriano no seu trabalho, bem como a categorização de um trabalho etnográfico. A originalidade será encontrada no livro de Heloísa Espada, que estuda o processo de criação do artista.

Em virtude deste rico trabalho construído e analisado por Batistela, a crítica feita aos trabalhos sobre o artista Franklin Joaquim Cascaes não será aqui aprofundada. Faremos uso

3 Uma exceção é o livro de FREITAS, Patrícia de. A presença do negro nas esculturas de Franklin Cascaes. Florianópolis:

Fundação Franklin Cascaes; MINC/IPHAN/SC, 1996. Trabalho de conclusão do curso de História publicado, pouquíssimo conhecido do público geral, onde a autora aborda as esculturas de representações de negros na obra do Cascaes.

4 BATISTELA, Kellyn. Franklin Cascaes: alegorias da modernidade na Florianópolis de 1960 e 1970. Florianópolis, SC,

2007. 261f. Dissertação (mestrado em Literatura). Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC.

5 Mito e magina na arte catarinense (1978), de Adalice Maria de Araújo. A presença do negro nas esculturas de

Franklin Cascaes(1996), de Patricia Freitas. Açores e açorianos na obra de Franklin Cascaes(1992), texto do professor João Lupi sobre a ascendência açoriana apresentado no I Simpósio Franklin Cascaes de 1989. A Fabricação da Memória na obra de Franklin Cascaes (1998), projeto de doutorado de Hermes Graipel. Franklin Cascaes: uma cultura em transe

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da fala de Cascaes, mas gostaríamos de sublinhar que uma vez instalado na Universidade Federal de Santa Catarina, Cascaes talvez reafirme um discurso que o sustentou durante sua produção, e que ele utilizou, não apenas no âmbito cultural, mas também político.

Os primeiros registros sobre a atividade artística de Franklin Joaquim Cascaes são de 1946, “Comecei a fazer este trabalho em 1946, quando tinha 38 anos [...] Comecei com dificuldade, porque era professor” (CASCAES, 1981, p.22). Nesta época Cascaes era professor de desenho, escultura, modelagem e trabalhos manuais na Escola Industrial (atualmente Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC). Até meados dos anos 1980 Cascaes desenvolveu inúmeros trabalhos de coleta de dados, utilizando diferentes técnicas (argila, gesso, grafite e nanquim) e diversificando a temática. No trabalho de pesquisa nas colônias pesqueiras Cascaes conversava, anotava, pintava e modelava:

Esse acervo sempre eu pensei em guardar a memória dos antepassados, eu já falei varias vezes. E escrever, eu escrevia muito. Pena que se botou tudo fora né. Escrever as coisas do passado. Depois eu passei a pensar em fazer escultura. Por exemplo, me lembrava, a Procissão do Senhor dos Passos, fazer esses conjuntos, coisa linda não seria. Ou outro, ou outro. Daí nasceu essa idéia de fazer conjuntos e esculturas de todas essas manifestações religiosas e profanas do povo. E fui para o seio do povo fazer estudos. Primeiro tratei de levar cadernos, lápis e conversar com as pessoas e anotar aquilo que eles me contavam através de historias, de fatos acontecidos, essa coisa toda assim. A vida do homem, da pesca, do lavrador. E fui recolhendo e em seguida veio uma certa manifestação artística que está na gente para que eu pudesse então criar em cima daquilo que eu havia estudado aquilo que nos temos hoje aí no museu, este acervo, foi criado assim. É como se fosse um namoro, depois veio a criança. (CASCAES, 1982a)

Este acervo ao qual Cascaes se refere, composto de esculturas em argila crua e gesso, desenhos a bico de pena e grafite e manuscritos, chama-se “Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes”, nome dado em homenagem a sua esposa. Percebemos em seu trabalho um pêndulo entre documentar, presente nas esculturas e ficcionar as práticas do imaginário, muito enfatizado nos desenhos. Esta coleção construída e organizada por Cascaes é uma documentação da memória oral e visual de um artista profundamente ligado às fontes populares que em seu trabalho registra o jeito de ser, de agir e de pensar dos moradores da Ilha de Santa Catarina e arredores, construindo nos desenhos um mundo fabuloso, onírico e lúdico.

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fantasioso a partir da tradição. Procurava valorizar e conservar o que estava sendo esquecido

com a modernização da cidade de Florianópolis. Munido de um diário, denominava os objetos e descrevia as atividades observadas, explorava invenções fantásticas extraídas ou de suas fantasias, ou de histórias de um povo por ele ouvidas e registradas. Franklin Joaquim Cascaes tentou expressar da melhor forma possível o que viu e o que sentiu enquanto trabalhava. Percebeu as transformações ameaçando o cotidiano e o conhecimento popular dos habitantes da ilha, que corriam o risco de não serem lembradas em futuro próximo.

Observamos que em seu trabalho escultórico, há uma recusa a ficção. Nas esculturas o artista procura dar a ver a realidade das situações reais, há um procedimento narrativo ou “modelo de verdade”. As representações destas imagens construídas por Cascaes são hoje, na sua maioria, cotidianos ausentes na nossa história local: as festas populares e religiosas, as atividades produtivas, os jogos e brincadeiras infantis.

Filho de Joaquim Serafim Cascaes e Maria Catarina Cascaes, Franklin Joaquim Cascaes é o mais velho entre doze irmãos, “educado para exercer toda e qualquer atividade necessária ao desempenho da subsistência, entre elas, a confecção de balaios, cordas de cipó, cercas de bambu e tarrafas” (SILVEIRA, 1996, p.28). Na casa em que foi criado havia engenho de farinha, de cana-de-açúcar e charqueada. Em entrevista concedida a Gelci José Coelho, Cascaes nos conta da sua infância, do seu trabalho, do seu desejo em ser artista, das dificuldades, das alegrias, batalhas e conquistas:

Isto tudo rapaz na minha infância eu ajudei a fazer, ajudar a fazer cordas de cipó cabeçadas para o gado, cordas para amarrar o gado, corda para amarrar as cebes de carros de bois de bambu, lascar o bambú direitinho fazer as taliscas tudo isso a gente era obrigado a fazer junto com os pais e isto tudo eu me lembro que fiz, por isto é que eu tive essa grande facilidade para fazer estes trabalhos que muita gente quis fazer e não conseguiu porque não tinham ensinamento prático não tinham e eu aprendi dentro da casa junto com os pais, junto com os empregados, tudo isso eu aprendi cevar a mandioca, eu seivei muita mandioca, fornear, torrar a farinha de mandioca isto eu fiz milhares de vezes. Houve uma ocasião que o meu pai ficou muito doente ele pegou pneumonia e eu assumi a direção quando criança e fui trabalhar junto com os empregados. (CASCAES, 1980a)

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1980b). Seduzindo-nos por seus relatos memorialísticos, o artista nos conta sobre sua formação e o que o influenciou:

Desde guri com cinco anos, eu estava sempre nestas atividades nos barreiros tirando barro e pegando canivete e faca fazendo carrinhos, esculturas os bonecos aquela coisa toda, coisa que eu ouvia falar que me contavam, tive muita influência também da Igreja Católica, das imagens das igrejas que a gente via e eu gostava de fazer imagens de barro que era mais fácil na argila e eu fazia sem conhecer nenhuma técnica mesma que fosse rudimentar sobre a argila era ao natural. (CASCAES, 1980a)

Ao lembrar, Cascaes traz de volta antigos modos de vida e experiências sociais, pois “os acontecimentos biográficos se definem como colocações e deslocamentos no espaço social” (BORDIEU, 2006, p.190). Em Cascaes, tanto no seu trabalho plástico como em seus escritos podemos vislumbrar um tempo na cidade de Florianópolis, além de apreciar características estéticas em sua obra que lhe são peculiares.

Cascaes era bastante religioso e católico praticante. Conta-nos que tinha muita vontade de progredir, estudar, quis tornar-se padre, pois na época era o único meio para se estudar. Ele nos fala do seu processo de criação e de seu aprendizado inicial em artes: “A única coisa que se conhecia era as artes plásticas da igreja católica. Eu via presépio e ia pra casa fazer” (CASCAES, 1982b). No ano de 1935 Cascaes foi trabalhar como servente na Escola Profissional Feminina e estudava com professores particulares, “era como uma bolsa de estudos, eu dava 3 horas de trabalho por dia para nas outras horas estudar, ficou combinado assim” (CASCAES, 1980c). Selecionando estes fatos, que nos parecem significativos, vamos construindo esta narrativa biográfica. O nascimento, a origem familiar e social são fatos importantes, mas o artista é o fato relevante. E as incertezas, a intuição e as possibilidades perdidas também são muito respeitáveis, pois nos dão clareza de sua formação artística e profissional, e de sua consciência no aprendizado até então sendo adquirido:

Antes de conhecer a famosa Escola Industrial de Florianópolis, eu trabalhei em artes plásticas, porém, era um artista inato. Desenhava, modelava, mas desconhecia realmente, proporções anatômicas, instrumentos, tecnologia, etc. Como vê V.S. os trabalhos que confeccionei antes de conhecer o meu saudoso mestre, foram trabalhos sem bases técnicas. (CASCAES, Sem data a)

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Aí eu fui na praia esculpir, era semana santa, esculpir o Cristo na cruz bem grande, Maria Madalena, Nosso Senhor Evangelista, assim fui fazendo aquelas figuras bíblicas, pela praia assim, tudo tamanho grande, o Cid Rocha Amaral diretor da Escola Industrial andava passeando por lá. Na hora que eu ia sair ele chegou, mas eu não conhecia, eu não conhecia, nem sabia que ele existia, nem ele a mim, aí ele olhou, foi lá na praia viu aquilo tudo se apavorou, perguntou lá não sei pra quem, pros rapazes que estavam pela praia, não sei, quem foi que havia feito aquele trabalho, quem era tal e eles disseram quem era, e ele queria falar comigo e foi com os rapazes. (CASCAES, 1980c)

Neste relato de acontecimentos seqüenciais, o artista nos conta que no dia seguinte foi até a Escola, conheceu os ambientes, as oficinas, as salas de aula e foi apresentado ao professor Manoel Marim Portela de São Paulo, que se tornou seu professor: “aquele foi o dia de mais alegria da minha vida”, revela Cascaes (CASCAES, 1980c). Cascaes matriculou-se no curso noturno, estudava no período matutino escultura e no noturno as outras disciplinas, durante a tarde trabalhava no Colégio Profissional: “Trabalhava ali até as cinco horas, depois fechava e aí ia embora pra lá estudar até as dez horas com o professor de português, matemática, geografia, física, trigonometria, tudo isso eu estudei, álgebra, trigonometria descritiva.” (CASCAES, 1980c). Em 1941 Cascaes é admitido como professor da Escola Industrial de Florianópolis: “eu lecionei trabalhos manuais, eu lecionei Cerâmica, e modelagem, tudo isso, eu era professor de desenho, tudo isso eu lecionei” (CASCAES, 1980 d).

Figura 2 e 3: Franklin Joaquim Cascaes – Sem data

Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC

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como nos conta: “Em 48 quando eu estive no Rio de Janeiro fazendo curso de desenho, eu visitei o Museu de Petrópolis. Curso de férias, desenho geral. Visitei o museu de Petrópolis e fiquei radiante. Isso em 1948, daí então a idéia cresceu de uma vez”. (CASCAES, 1980 e). A partir daí, Cascaes desenvolveu uma série de exposições, montadas em diferentes lugares e com distintas peças, como observado no apêndice V. Inicialmente, como podemos constatar no referido apêndice, as exposições de Cascaes eram na sua maioria composta por esculturas, já no inicio da década de 1930 Cascaes montava presépios e após a década de 1960 passou a expor também desenhos, sua produção mais tardia. Em 1951 montou seu primeiro museu, em Laguna, Museu de Pescaria Brava Pio X. Este Museu foi construído com o apoio do padre Itamar Luiz da Costa em uma casa que pertencia à igreja de Laguna e localizava-se em frente a ela. Juntamente com a coleção do Cascaes, havia uma coleção de louças antigas e jóias que foram doados pela comunidade. Somente após a remoção do padre Itamar para o município de Imbituba, no ano de 1957, Cascaes soube que o Museu havia sido vendido. Os primeiros trabalhos esculpidos por Cascaes foram esses que se encontravam no Museu Pio X: “Os primeiros trabalhos que eu esculpi eram estes que estavam em pescaria brava. Depois eu fiz outra, visando uma montagem de exposição sozinha, individual: fiando tucum, fazendo renda, engenho de farinha, 1955” (CASCAES, 1980f). Alguns anos depois Cascaes encontrou algumas peças que estavam em Laguna na vizinhança de Florianópolis, mas estas não pertencem ao Museu da UFSC. Sabemos também que há outros trabalhos não pertencentes ao acervo do Museu, uma vez que os trabalhos produzidos durante suas aulas na Escola Industrial de Santa Catarina eram dados pelo diretor da instituição de presente aos visitantes, ou vendidos numa feira anual.

Uma característica importante no processo expositivo de Cascaes é o retorno as comunidades na qual ele ouviu as histórias e buscou os métodos inventivos e criativos para desenvolver os seus trabalhos. Cascaes levava as esculturas até o Ribeirão da Ilha, Santo Antonio de Lisboa, Pântano do Sul, Rio Vermelho e outros locais para agradecer e para que as pessoas pudessem se reconhecer, se identificar e rememorar momentos vividos: “(...) o povo ficou radiante, porque eles reconheciam nas fisionomias das figuras cada pescador. Um chamava o outro e iam até em casa, chama o fulano pra ver tua cara que ta ali naquele boneco” (CASCAES, 1980f).

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nas igrejas, Cascaes almejava a constituição do seu museu e batalhou muito para que este sonho se concretizasse:

O que espero é montar um Museu de Motivos Folclóricos6 da Ilha de Santa Catarina em Florianópolis que funcione sob a minha direção. Até os meus últimos dias aqui na terra, e mesmo para que eu possa continuar a enriquecê-lo com novos motivos. Si já não o fiz é porque não dispõe de recursos financeiros que alcance tão alta e útil finalidade educativa.

Mas como o artista transforma lagrimas em flores, suores em orvalhos, cansaço físico em vitória e desespero em bálsamo divino, espero que um dia Santa Catarina, envie para esta ilha privilegiada, um homem, como autoridade, cheio de boa vontade e bagagem cultural elevada, e que apóie o meu ideal.

Alguém disse: museu é como um dicionário de coisas. Eu afirmo: museu é passado vivendo dentro do presente.

Sim neles vivem as imagens do passado explicando melhor o presente. Vive o passado no presente porque ambos viverão o futuro.

Formar um museu é erguer um monumento a Cultura e a Arte.

Mas já que cumpro um destino esperarei que um dia, se Deus quizer meu sonho se torno realidade caro repórter DiSoares. (CASCAES, Sem data a)

Como já citado anteriormente, Cascaes teve seu aprendizado inicial de artes através dos santos das igrejas. Segundo Cascaes, foi através da arte que o homem foi levado a igreja católica, e assim, por meio da sua arte desejava levar o homem ao seu Museu, pois, para ele “a arte representa na terra aquele paraíso que o homem perdeu nos céus por desobediência do seu criador” (CASCAES, 1980g). Cascaes vê na arte uma ligação muito forte com um dom divino, com um dom dado a poucos para que estes registrem a passagem do homem sobre a terra. Assim, percebemos em muitos dos seus desenhos a invenção de seres que irão se comunicar nos céus, seres terráqueos e seres celestiais, viagens espaciais, e na grande maioria, a ausência do registro celeste, dando a entender o respeito pelos mistérios entre o céu e a terra. A arte é para Cascaes o paraíso divino vivido na terra, através da arte Cascaes pode viajar por lugares só por ele habitados.

Viúvo desde o ano de 19717, Cascaes tinha em Elizabete, sua esposa, uma grande companheira, apoiadora e parceira. Também professora, contribuiu na construção do grandioso acervo de Cascaes:

Chegavam os sábados, de manhã cedo, de madrugada, a gente saía. Eu sempre com ela, trabalhando. Ela também me ajudava nas pesquisas. Chamava-se Elisabeth Pavan Cascaes. Ela me ajudou muito, porque também sabia fazer economia. Ela guardava um pouco para isso, um pouco para aquilo e depois dizia: olha, temos tanto de economia, já da para viajar e fazer pesquisas. (CASCAES, 1981, p.26)

6 A prática na pesquisa folclórica era registrada em Santa Catarina através do Boletim da Comissão Catarinense de Folclore , assim, Cascaes desejava montar um “Museu de Motivos Folclóricos”.

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Franklin Joaquim Cascaes e Elisabete Pavan Cascaes casaram-se em Florianópolis, na Paróquia Nossa Senhora do Desterro em 02 de fevereiro de 1944. Embora tenham se casado tardiamente para época, ele aos 35 anos e ela aos 42 anos de idade, é evidente a importância desta companheira para a formação da coleção que leva o seu nome. Pois como já citado anteriormente, Cascaes começa sua pesquisa e produção após estar casado, aos 38 anos de idade. Deste modo, é certa a participação de Elisabete enquanto esposa, conivente com os projetos de seu esposo e cúmplice na vida de casal e professores que eram. A ela Cascaes presta uma homenagem, dando-lhe o nome de sua coleção e esculpindo-a, como podemos observar na figura 5:

É percebido na produção artística de Franklin Joaquim Cascaes um grande vazio após a morte de sua esposa. Seus sentimentos de tristeza, sofrimento, dor pela morte de alguém que sempre o incentivou pode ser observado no verso da figura 6: “Quando estava trabalhando este quadro minha querida Bete faleceu. Quanta tortura, quanta angústia e quanta desilusão ganhou este boneco de argila humana crua, que sou eu. FCascaes. Terminei este trabalho no dia 27 – 1 – 972” (CASCAES, 1970 a).

Figura 4: Franklin Joaquim Cascaes e Elizabeth Pavan Cascaes – 1944 - Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC

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Figura 6: A Zorra Vasia – 1970 - Nanquim sobre papel - 54,5 x 72,8 cm Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC

Na figura 7 ressalvamos a ênfase dada por Cascaes ao fato de não concluir os trabalhos pictóricos após a morte de Elisabeth, e isto pode ser constatado nos desenhos produzidos e datados do ano de 1971 e 1972. Todos, com exceção do desenho “Bruxas atacam um pescador” são produzidos a grafite, sem uma versão final a nanquim ou mesmo a grafite, sendo apenas estudos ou esboços para futuros trabalhos. A mesma ausência pode ser observada no trabalho escultórico, não observamos na sua coleção nenhuma escultura datada do ano de 1971, 1972 e 19738. No verso do desenho abaixo, Cascaes relata sobre esta pequena produção: “Esta tela foi rascunhada no 1972 e passada a nanquim no 1973, dia 20 de agosto. Gastei dois dias para confeccioná-la. Depois da morte de minha querida esposa a dois anos passados este é o primeiro trabalho iniciado e terminado. FCascaes” (CASCAES, 1973a).

Portanto, deduzimos que para Cascaes, o trabalho a nanquim sobre papel da figura 7 é o trabalho concluído, já o desenho a grafite da figura 8 é o inacabado.

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Assim percebemos que em sua obra o artista pôde preencher lacunas de vazio e de solidão, como veremos mais detalhadamente no sub-capítulo 1.4, ao falar do diálogo entre o sujeito Cascaes e a sua experiência artística.

Há muitos questionamentos em torno de Cascaes ser considerado ou não artista. Durante muitos anos, foi tratado como folclorista apenas. Na tese intitulada “A representação da cidade de Florianópolis na visão dos artistas plásticos”9, a professora Sandra Makowiecky inclui Cascaes em um capítulo chamado “O salão dos recusados”, pois viu na obra do artista e sua relação com a cidade apenas a questão mito mágica, que por sinal contesta alegando haver na ilha uma “mitomania obsessiva”. Hoje, revendo a prática do artista, é orientadora desta pesquisa colaborando para um conhecimento diferenciado sobre Cascaes. Portanto, através de investigação aprofundada em seus escritos e bibliografia produzida, podemos afirmar que Cascaes sempre se sentiu e se afirmou artista, mesmo sendo este um aspecto em que existiam controvérsias, uma vez que Cascaes desejava ter um “Museu de Motivos Folclóricos”. Apesar disso, relatou as dificuldades encontradas no exercício da arte e como se dava seu processo de produção artística:

Há artistas que produzem sua obra de uma maneira, outros de outras. Cada um pinta, escreve ou desenha de acordo com suas experiências, sua vivência pessoal e particular. Mas, quanto mais cresce a obra do artista, mais ele empobrece, mais pobre ele fica. Isso porque, no meu caso, por exemplo, quanto mais cresce a obra, mais dinheiro eu preciso ter para empregar material, essa coisa toda. (CASCAES, 1981, p.26)

9 VER: MAKOWIECKY, Sandra. A representação da cidade de Florianópolis na visão dos artistas Figura 7: Bruxas Atacam um Pescador –

1973 - – Nanquim sobre papel – 49,1 x 68,0 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral - UFSC

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Para o crítico de arte João Evangelista de Andrade Filho, Cascaes, de intérprete que desejava ser, impõe-se a nossa consideração como criador de formas. De acordo com o crítico, em relação a Cascaes, é necessário desfazer um equívoco interpretativo que, no correr do tempo, iria desfigurar a verdadeira intenção e o resultado adquirido de seu trabalho de arte:

No caso de Franklin Cascaes, o fantástico representado constituía um dado alheio à sua arqueologia interior. Sua intenção, que satisfazia a interesses antropológicos, não ultrapassava o modesto objetivo de se tornar documentarista, ou, no máximo, o intérprete das fantasias do folclore açoriano. Acontece que a história da arte se escreve com valores dissociados das intenções dos produtores. Cascaes, de intérprete que desejava ser, impõe-se à nossa consideração como criador, criador muito especial de formas. Fabulador que foi capaz da alçar sua linguagem ao nível das mais sofisticadas entre as dos conterrâneos. Devemos nos render ao fascínio gráfico dos desenhos do antropólogo, mestre dos rendilhados e dos vazios; à segurança do seu traço, da cursiva e veloz caligrafia que trai um mundo concebido em completa integridade, e inteiramente dominado antes de ser vertido ao papel. Além do desenhista percuciente e refinado, Cascaes é um escultor que se impõe pelo nível expressivo de suas terracotas. Estas representam, como sua arte gráfica, o mundo fantasioso da imaginação popular. Suas peças são flagrantes da humanidade que habita um mundo paralelo, mas se apresenta em epifanias da mais rigorosa verossimilhança, carregada com as deformações (!) que o expressionismo faculta. (ANDRADE FILHO, s/d, p.111)

Assim, entende-se que o trabalho deste artista, criador e original, teve como conseqüência a formação de uma estética que seria tipificada mediante o codinome de “mito e magia”. Esta fabulação de que trata Andrade Filho veremos mais detalhadamente no terceiro capítulo.

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1.2 A presença da mito-magia em Franklin Joaquim Cascaes

“era preciso fazer uma obra para crianças, moças e velhos, sábios e iletrados. Foi a minha finalidade, a finalidade do trabalho, que alcance todas as culturas para que no dia de amanhã nós possamos saber que aqui na Ilha de Santa Catarina existiu a pesca rudimentar, que nós tivemos a beleza de assistir”. (CASCAES, 1996)

Neste momento da pesquisa iremos nos dedicar a discorrer sobre a presença da mito magia em torno da obra e do artista Franklin Joaquim Cascaes, bem como da construção de um discurso de magia na arte catarinense10.

Em Florianópolis, a mito magia é material das manifestações locais, sendo utilizado em alguns momentos como marketing da cidade para atrair turistas, e na obra de Cascaes tornou-se sinônimo do artista. Com o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis - GAPF, constituído no final da década de 1950, a influência da mito magia também foi marcada pela temática local, onde o universo mítico trazido pelos açorianos aglutinados com os mitos indígenas locais desenvolveram esta vertente estética. Na obra de Cascaes, ainda hoje, a referência obrigatória e exclusivamente conhecida por muitos está na fantasmagoria ilhoa.

A construção de ingrediente mito-magico nas manifestações artísticas locais resistiu, e ainda resiste, ao tempo. O mercado de arte de Florianópolis firmou-se por intermédio dos artistas que cristalizavam na sua produção a tendência à captação de temáticas eminentemente locais, envolvendo a exuberante natureza, o cenário antigo da Ilha e o folclore de origem açoriana. (LINS, 2008, p.33 N.R.)

Apesar de a maioria das pessoas associarem o nome de Franklin Cascaes a uma produção apenas bruxólica, mágica e lúdica, grande parte do seu trabalho não está ligado a estes temas. Sua obra exige demorada reflexão crítica por retratar o processo de modernização que ocorreu nas comunidades, por retratar o papel da mulher e o antagonismo existente nela (mãe, santa, bruxa), as atividades de produção, a presença do negro na ilha de Santa Catarina, os descendentes de açorianos, mitologia, política, aspectos de sua vida e seu íntimo, enfim, sua arte traduz a diversidade da herança oral e cultural de uma cidade, e porque não dizer, da essência de atividades e vivências dos homens. Há em Cascaes um despedaçamento interno, incômodo no mundo, busca religiosa da arte, comprometimento radical com o registro das transformações que ele percebia ameaçando o cotidiano e o conhecimento popular dos habitantes da ilha.

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As representações das histórias narradas por Franklin Joaquim Cascaes são elaboradas a partir de imagens, crenças e também mitos. Assim, podemos observar que durante a produção artística de Cascaes, o mito manteve-se vivo, o mito foi registrado e recriado pelo artista, algumas vezes em três suportes distintos. Podemos aqui exemplificar a “Viagem Bruxólica à Índia” registrada no conjunto escultórico em argila crua e gesso e que também foi produzida à nanquim sobre papel no desenho “As Bruxas Roubam a Lancha Baleeira de um Pescador da Ilha de Santa Catarina” e sua história escrita nos manuscritos, sendo localizado nos arquivos do Museu Universitário como manuscrito 268. Outro exemplo de registro de mito é o do lobisomem, onde Cascaes nos revela o que criou este universo produzido por ele: “a pessoa se assustou, está perdida. Não deve correr. Calmar, ficar calma e tal, e então ela recobra os sentidos. É justamente isso que criou tudo o que eu tenho aqui. O susto. Quem criou o lobisomem? O medo” (CASCAES, 1981, p.54). A presença do mito está na concepção de arte de Cascaes. Sobre a recriação de mitos, veremos mais a frente demonstrada no mito sobre o Boitatá.

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Figura 10: As Bruxas Roubam a Lancha Baleeira de um Pescador da Ilha de Santa Catarina – Sem data – Nanquim sobre papel – 52,5 x 71,0 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues

Cabral - UFSC

Os mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana, daquilo que somos capazes de conhecer e experimentar interiormente. O mito é o relato da experiência da vida. Assim sendo, os mitos têm como tema principal e fundamental, a busca da espiritualidade interior de cada um de nós. Compreendemos que o que nós, seres humanos, temos em comum está revelado nos mitos. São histórias de buscas, de origens, de sentidos, de significação. Os mitos revelam que o mundo, o homem e a vida têm uma origem e uma história sobrenaturais.

A tese de Araujo, publicado no ano de 1978 intitula-se “Mito e Magia na Arte Catarinense”. Em “Franklin Cascaes, O Mito Vivo da Ilha”, capítulo da referenciada tese, Adalice Maria de Araujo apresenta uma visão global da obra (temática, processo criativo, técnica e crítica) e analisa diversos aspectos presentes no artista, como o mundo mítico ilhéu (bruxas, lobisomens, assombrações), a nova mitologia catarinense, os aspectos lúdicos, as festas e as tradições que o influenciaram. O livro também traz transcrições de entrevistas feitas pela pesquisadora com o artista, em 1977. O nome dado a este trabalho vem reforçar a presença do mito no discurso da crítica no reconhecimento artístico. Além de apontá-lo como maior mitólogo do sul do Brasil, Araújo apresenta Cascaes como propositor de um universo fantástico e define: “Elo entre hoje e ontem, Franklin Cascaes é o mito vivo da Ilha” (ARAUJO, 2008, p.28).

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conservar e transmitir a cultura popular”. (ARAUJO, 2008, p.33 e 34). Cascaes não era mesmo um erudito, mas a busca pelo conhecimento foi constante na sua formação. Podemos observar na sua biblioteca (ver apêndice IV) que se encontra no Centro de Documentação do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, um testemunho de pesquisa de um homem sôfrego por cultura e sabedoria:

Cada época tem um modo peculiar de se exprimir. Esta arte pertence a outra geração. É o pesadelo da vida moderna. Quem escreve, pinta ou compõe sem verdadeira vocação é melhor abster-se afastar-se disso pois nunca passará de um medíocre. [...] Nada evidencia tão bem esta falta. Construir uma ponte viva entre o presente e o passado, ou entre o antigo e o moderno. A arte não é privilégio de alguns mas sim resultado de muitos anos de intensa observação e constancia e culturação. Vamos estudar as técnicas de todas as artes desde o desenho a pintura e a escultura [...]. Se não conhecerdes bem o vosso passado não alimenteis a esperança de construir solidamente para o futuro. (CASCAES, Sem data b)

Percebemos na biblioteca do artista uma grandiosidade bibliográfica referente ao ensino de artes e práticas artísticas, como modelagem, desenho, geometria, harmonia, sombra e perspectiva. Encontramos também três dicionários de língua vernácula, demonstrando no artista uma preocupação com sua formação artística e com seu conhecimento gramatical. Há um livro de história da arte de 1958 de Van Loon11, onde percebemos nos escritos do artista fortes indícios de influência desta literatura no que se refere à natureza geral do artista, como por exemplo, os depoimentos de Cascaes quando diz que o verdadeiro artista é quase sempre solitário, e as dificuldades quando tenta definir o que é arte. Há ainda periódicos de conhecimentos gerais e a revista Naturama12, da década de 1960 demonstrando no artista um interesse pela biodiversidade.

Pode-se dizer que há dois momentos na identificação artística de Franklin Cascaes, antes de sua vinda para o Museu Universitário, e depois de estar ali estabelecido no ano de 197713. Foi na Universidade Federal de Santa Catarina que realizou sua viagem para os Açores no ano de 1979, procurando lá relações com o homem que habitava Florianópolis, que até então sempre tratou por “ilhéu”. Num momento de luta pela hegemonia cultural em Santa Catarina, observam-se referências ao açoriano na obra de Franklin Cascaes. No momento da presença de Franklin Cascaes na Instituição – Museu Universitário/UFSC há a publicação da

11 LOON, Van. As Artes. Tradução de Marina Guaspari. RJ; POA; SP: Editora Globo, 1958. 629p.

12 No ano de 1965 ela é publicada no Brasil por Editora Mundo Brasileiro Ltda, e a partir de 1966 publicada no Brasil por Editora Codex Ltda.

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tese de Adalice Araujo, “Mito e magia na arte catarinense” em 1978, e a entrevista com Raimundo Caruso que deu origem a “Franklin Cascaes: vida e arte e a colonização açoriana” publicada em 1981. Em ambos os autores podemos encontrar a presença da mito magia em seus textos na análise da obra e do artista Franklin Joaquim Cascaes. Hoje reconhecido por artista, pode-se considerar por fim, a proeminência que sua obra tem no cenário de Santa Catarina. Percebemos aqui como o artista Franklin Joaquim Cascaes construiu-se enquanto imagem e como os outros o vêem: “É verdade que, mais do que ingenuinamente, ele representa pureza plástica. É como um puro que Cascaes dá uma sólida vida à imaginação” (ARAUJO, 2008, p.32).

A tradição cultural legada pelos açorianos é permeada pela relação com o mar (pesca), pela religiosidade (com o cristianismo), e nas antigas freguesias, morando afastados uns dos outros e longe da cidade, deram origem a histórias de seres fantásticos, povoados por santos, demônios, onde a magia e a bruxaria passaram a ser realidades palpáveis. Estas características aproximaram Cascaes do universo açoriano, pois durante anos foram destacados em seus desenhos exclusivamente aqueles de “clima bruxólico, com seus boitatás, bruxas e lobisomens” (MAKOWIECKY, 2003, p.495).

Em se tratando de artistas que tratam desta temática mito mágica podemos citar, a título de ilustração, outros artistas como Semy Braga, Tércio da Gama, César Campos Junior, Neri Andrade, Idésio Leal, João Otávio Neves Filho, Vera Sabino (uma parte de sua obra), Valdir Agostinho, Dircéia Binder, Jone César de Araújo, Meyer Filho entre outros, mas sem dúvida o que mais se destaca é Franklin Cascaes. Este artista, segundo Makowiecky foi como um dos “ídolos da cidade”, principalmente porque “se dedicou a algo que está realmente no imaginário ilhéu e daí se entender o termo ‘Ilha da Magia’ como o preferido do público, para o slogan da ilha” (MAKOWIECKY, 2003, p.492). A importância disto está no fato de que as imagens criadas pelos artistas passaram a indicar a própria personalidade do litoral catarinense, e esta estética foi muito bem aceita pelo público.

Imagem

Figura 1: Franklin Joaquim Cascaes – Sem data
Figura 2 e 3: Franklin Joaquim Cascaes – Sem data
Figura  5:  Peças  Isoladas  -  Elizabeth  Pavan  Cascaes –  1968  –  argila  policromada  –  31,0  x  15,0  x  12,0  cm   -Acervo  do  Museu  Universitário  Professor  Oswaldo  Rodrigues  Cabral   -UFSC
Figura 6: A Zorra Vasia – 1970 - Nanquim sobre papel - 54,5 x 72,8 cm  Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC
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