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VII Reunião Anual da Revista Portuguesa de Farmacoterapia «Controvérsias com Medicamentos»

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VII Reunião Anual

da

Revista Portuguesa de Farmacoterapia

«Controvérsias com Medicamentos»

VII Annual Meeting of the Revista Portuguesa de

Farmacoterapia

«Controvérsias com Medicamentos»

A Reunião Anual Controvérsias com Medicamentos teve lugar no dia 19 de maio no Lagoas Park Hotel. Deu início à sessão o Diretor da Revista Portuguesa de Far-macoterapia (RPF), o Dr. José Aranda da Silva, agra-decendo aos participantes e patrocinadores. Passou o testemunho a Sérgio Vilão, editor-chefe da RPF, que salientou a pertinência dos temas selecionados para de-bate e o relevante contributo que se espera das interven-ções, designadamente no esclarecimento de temas como a reavaliação de medicamentos no âmbito da atuação do SiNATS, entre outros.

No primeiro painel de debate, com o tema «Vinte anos de avaliação económica de medicamentos em Portugal, o Professor Carlos Gouveia Pinto mostrou uma visão global do que tem sido a avaliação económica em Por-tugal nos últimos 30 anos. Em termos oficiais, PorPor-tugal foi pioneiro na utilização da avaliação económica, tendo sido o terceiro país do mundo a usar a avaliação

econó-mica. Neste período de tempo houve avanços enormes e considera que seria positivo manter o pioneirismo e perspetiva inovadora na elaboração das metodologias. Relembrando os primórdios, recua até 1987 altura em que se iniciou o estudo da lovastatina. Constata-se que a maior parte dos problemas metodológicos iden-tificados na altura têm persistido até aos dias de hoje, nomeadamente a questão dos dados epidemiológicos utilizados, custos indiretos e importância da modeliza-ção em conjunto com dados de eficácia para obtenmodeliza-ção de dados de efetividade, os quais, ao longo do tempo, foram sucessivamente avaliados sob diferentes perspetivas e a abordagem aperfeiçoada. Relativamente às orienta-ções metodológicas, trabalho em que o Professor Carlos Gouveia Pinto esteve envolvido em 1998, refere que a premissa inicial consistiu em utilizar orientações de ou-tros países, nomeadamente do Canadá, e permitir uma maior latitude de abordagem. Hoje em dia dificilmente

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alguém domina todas as etapas das diferentes metodo-logias, e, dada a evolução de conhecimento e complexi-dade da avaliação económica, existem especialistas por área. Assim, reforçou a necessidade de revisão e atuali-zação das orientações metodológicas. Considera ainda que as orientações devem ser elaboradas segundo uma abordagem por secção, com um grupo de trabalho es-pecífico para cada entrada, e com um coordenador que designa os especialistas nas áreas para dar contributos. O Professor Miguel Gouveia, Presidente do capítulo da ISPOR Portugal, apresentou uma visão mais prospetiva. Na sua intervenção alegou que a avaliação económica do medicamento, num sentido mais lato de avaliação das tecnologias de saúde, tem como objetivo auxiliar os decisores responsáveis pelas políticas públicas a decidir melhor sobre a afetação de recursos e a gastar o dinheiro disponível de forma mais eficiente e equitativa. Afirmou que a avaliação das tecnologias de saúde é uma arte que colige e reúne informação proveniente de muitas áreas científicas, e por isso tem de fazer um compromisso en-tre os rigores da ciência pura e o facto de ter de tomar decisões práticas, tendo de haver consensos em

situa-ções em que a ciência não é perfeita. O orador salientou a necessidade de se incluir critérios mais formais para introduzir a equidade de forma consistente e sistemá-tica em revisões futuras de regras e procedimentos. Por outro lado, considera que a restrição ao acesso a infor-mação que se tem constatado consiste numa estratégia obscurantista e crê que terá havido um recuo com a legislação recentemente publicada. Salientou a neces-sidade de melhorar a informação e a transparência no processo de negociação. Também manifestou a opinião de que as guidelines de há 20 anos constituíram uma conquista extraordinária, apesar de tecer algumas críti-cas, nomeadamente sobre o facto de não permitirem o recurso a uma instância superior para dirimir conflitos em situação de grande discordância, dando o exemplo mais frequente da escolha de comparadores com utiliza-ção off-label. Passos de progresso muito substantivos no futuro assentam na área de mais informação, por exem-plo epidemiológica, e realçou a utilização de dados de vida real que permite ir além dos painéis de peritos, com informações mais realistas. Por último, expressou o de-sejo de um processo de melhoria incremental e que as al-terações sejam consensuais, reforçan-do a oportunidade para ter em conta a opinião de pessoas com experiência, inclusive dos stakeholders, disponi-bilizando-se para participar em qual-quer processo de auscultação pública que possivelmente seja realizado. Na sua intervenção, o Dr. Luís Rocha, diretor do departamento de Public Affairs & Market Access da Novartis, lembrou a questão do crescimento de gastos em saúde, tema de discussão atual, e a necessidade de encontrar equilíbrio entre gastos, efetividade e qualidade, sobretudo em épocas de repressão económica. Salientou que o tema economia da saúde surgiu logo muito cedo, aquando a fundação do SNS, e que já nessa altura se discutia a questão do custo-oportunidade e racionalidade das escolhas. Elencou uma lista de estudos de avaliação eco-nómica de medicamentos realizados, e referiu os trabalhos desenvolvidos nesta área, nomeadamente a publica-ção das guidelines e, recentemente, o SiNATS. Do lado das empresas, mos-trou como se têm vindo a ajustar do ponto de vista interno, e que cada vez mais se tem vindo a ganhar autonomia

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e a desenvolver competências de avaliação económica, nomeadamente na área de outcomes research e big data,

por virtude da introdução das exigências do SiNATS e para responder aos requisitos que o regulador coloca, permitindo também às empresas ajustar os seus proces-sos e ter previsibilidade. Por outro lado, reconhece que o SiNATS é enquadrado por um conjunto de eventos, nomeadamente o programa de ajustamento económico. Considera que na prática poderá ter-se sido ambicioso na tentativa de implementar este sistema em tempo útil, sabendo que não havia sistemas de base (ndr – de reco-lha de dados, por exemplo), e talvez não houvesse oferta intelectual suficiente no mercado. Defendeu a existência de um modelo progressivo para permitir às empresas o ajustamento, e também ao Estado ajustar e criar infraes-truturas. Levantou a questão sobre o valor do medica-mento, o que se pode definir como fair-value, e o que deve

ser incorporado na definição de valor. Por fim, referiu que, da mesma forma como Portugal é avaliado, o sec-tor também é avaliado, criando uma matriz com várias dimensões e índices de avaliação que condicionam a ca-pacidade de se posicionar no contexto europeu de uma forma positiva, e que coloquem a indústria farmacêutica nacional num plano em que possa atrair investimentos, projetos e internacionalização do sector.

O Dr. Julian Perelman, vice-presidente da Comissão de Avaliação de Tecnologias de Saúde (CATS), indicou que o trabalho que está a ser desenvolvido na área da ava-liação económica do medicamento é importante, e que

seria importante alargar a outras áreas além dos medi-camentos, como os dispositivos. Uma das ideias seria alargar a outros aspetos do SNS, como os investimentos, dando o exemplo de novos equipamentos em hospitais. No que concerne a história da avaliação económica, re-feriu que há 20 anos atrás tinha um caráter mais teórico e era uma subdisciplina relativamente marginal, e hoje em dia, mais empírica, ganhou grande reconhecimento e visibilidade. Apresentou o trabalho de avaliação eco-nómica realizado na CATS, de caráter técnico e que ter-mina com a avaliação da qualidade dos relatórios e na emissão de uma recomendação que poderá ser ou não seguida. Elucidou que a CATS não participa na negocia-ção dos preços, que ocorre ao nível do conselho diretivo do INFARMED, I.P.. Em relação à questão dos medica-mentos órfãos e repercussões em termos de equidade, considera que é uma decisão sobretudo política, e uma questão social e moral, que não compete à CATS deci-dir. Apresentou a equipa dos economistas que integram a CATS, cuja localização se situa sobretudo no Reino Unido, o que nem sempre facilita a comunicação e não agiliza os processos. Pondera-se neste momento alargar este painel de peritos, principalmente com pessoas que estão em Portugal e que podem vir a ganhar experiência ao longo dos anos. Entrando no tema das orientações, confirmou que estão em processo de revisão, e que está muito empenhado em que esta revisão acabe em 2018, para não ultrapassar os simbólicos 20 anos. Indicou que o resultado vai ser divulgado em canais próprios,

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havendo a oportunidade de se fazer comentários e, por fim, publicação do relatório final. Reforçou que têm de ser esclarecidos vários aspetos, e definidos adequada-mente critérios para as empresas que submetem terem conhecimento como é de facto considerada a avaliação, designadamente em questões como os custos, medica-mentos órfãos, taxa de atualização, análise de sensibili-dade e análise de impacto orçamental.

O segundo painel, subordinado ao tema «SiNATS a caminho de três anos. Que balanço?» teve início com a intervenção do Dr. José Vinhas, presidente da CATS, a qual incidiu sobre o papel da CATS nos seus dois anos de nomeação. Inicialmente, quando foram nomeados o problema principal foi estabelecer o modo de pôr a fun-cionar o grande conjunto de elementos, e de articular de uma forma previsível, consistente, transparente, que permita uma forma de interação com todos os interes-sados. Acharam por bem separar a avaliação em várias fases, fase inicial de scoping e definição dos critérios de avaliação, que vai determinar todo o processo de avalia-ção subsequente e em que são discutidos os compara-dores. Sobre as comparações off-label, na prática têm sido considerados quando a situação clínica é grave, é habitualmente tratada e não existem alternativas apro-vadas para essa indicação. O grupo propõe à comissão executiva, discute e consensualiza uma proposta que consideram provisória e é enviada às empresas para se pronunciarem. O estabelecimento de diálogo tem sido uma preocupação. Havendo acordo, ficam os critérios definitivos e o processo prossegue. O grupo recebe o dos-sier científico de valor terapêutico acrescentado

subme-tido pela empresa e elabora um primeiro relatório, que é

enviado à comissão executiva. Com base neste relatório, evidência submetida e auscultação de peritos da área, elabora-se um segundo relatório final que é enviado à empresa, que tem a oportunidade de se pronunciar com possibilidade de marcação de reuniões para esclareci-mento mútuo. Uma das dificuldades, já apontada, foi a existência de um número enorme de processos em atra-so alguns já com alguns anos, e descreve que o esforço empreendido para a avaliação destes processos tem sido grande. Apesar de tudo, considera que grande parte dos objetivos iniciais de transparência, interação, consistên-cia estarão pelo menos parconsistên-cialmente atingidos.

Na sua apresentação, o Dr. Nélson Pires, diretor-geral da Jaba Recordati, S.A., mostrou a perspetiva como utilizador dos serviços do INFARMED, I.P., do SiNATS, e de alguma forma cliente e cidadão. Apresentou um enquadramento do contexto anterior à introdução do SiNATS, expressando a opinião de que, na negociação com a indústria farmacêutica, havia uma gestão efetiva e eficiente dos recursos. Contudo, salientou que, antes da introdução do SINATS, também se verificavam atrasos significativos na entrada dos medicamentos no mercado, inexistência de dados epidemiológicos de áreas terapêuticas, uma necessidade de reforço de peritos para fazer as avaliações, e de melhorias ao nível da transparência. Surge o SiNATS, que veio estabelecer um modelo de governance da legislação

já existente, com maior ênfase à reavaliação, e que constituiu uma grande surpresa e alguma fonte de preocupação nas empresas, embora claramente um dos objetivos seria um maior envolvimento dos stakeholders.

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Defendeu que a própria instituição deveria ouvir os técnicos e fazer internamente uma avaliação de qual é o impacto que a ferramenta SiNATS está a ter e quais são os benefícios e mais-valias. Contudo, apesar de todos os objetivos propostos pelo modelo SiNATS, apresentou os resultados de um estudo que demonstram que apenas 40% dos medicamentos disponíveis em toda a Europa estão disponíveis em Portugal, fruto da negociação. Não obstante, este indicador demonstra evolução dado o contexto de contenção, sendo possível que seja fruto do trabalho recente da CATS. No que diz respeito aos medicamentos aprovados, considera que o quadro melhorou, e a indústria farmacêutica tem sido bastante rápida a apresentar inovações terapêuticas, muitos produtos breakthrough, com preços elevados,

portanto com mais dificuldades de avaliação. Por outro lado, frisou a importância da sistematização de dados epidemiológicos por forma a disponibilizar informação consistente e útil por patologia que possa ser utilizada nas avaliações e reavaliações. Por fim, indicou três grandes desafios para o SNS, que dizem respeito à continuação da elaboração de acordos, considera que dá estabilidade ao sistema e no limite financia o sistema, sugere a abolição de leis anuais de financiamento do Ministério da Saúde, e por fim, a criação de um mecanismo financeiro para desenvolver um fundo de apoio de acesso à inovação. Por último, congratulou a iniciativa do INFARMED, I.P., de Horizon Scanning, demonstrando que a instituição

pensa de forma estratégica.

O Dr. Rui Santos Ivo, vice-presidente do INFARMED, I.P., relevou que o processo de avaliação das tecnologias de saúde tem sido construído ao longo do tempo de for-ma coerente e sustentada. Em 2015 com o SiNATS, real-çou três aspetos: a extensão da avaliação a tecnologias, o reforço da capacidade avaliativa do INFARMED, I.P., com a CATS e os registos e monitorização de efetivida-de, mencionou ainda o ajuste dos prazos de avaliação e a alteração das regras aplicadas ao programa de acesso precoce, publicadas no final de 2017. Apresentou dados de evolução do acesso aos medicamentos, dizendo que é evidente a progressão para o prazo legislado, e, por ou-tro lado, a recuperação de alguns atrasos. Chamou ainda a atenção para outro aspeto que o SiNATS consagrou especificamente, que diz respeito ao balizamento da avaliação por um contrato de financiamento, que con-trata a utilização em ambiente hospitalar. Deu enfoque à monitorização sistemática dos contratos, que liga com a recolha de nova evidência, e a aplicação dos limites de encargos. Em relação ao envolvimento dos stakeholders

fez uma alusão Projeto Incluir em curso, que procura na fase de planeamento da avaliação terapêutica chamar os doentes a contribuir. Referiu outro projeto que entra

com aspetos de planeamento e de equidade, e que pre-tende antecipar a informação sobre medicamentos em desenvolvimento. Alertou ainda para a necessidade de estar consciente que quando falamos de avaliação das tecnologias de saúde não é possível dissociar de tudo o que tem a ver com questões de negociação, acesso e de sustentabilidade, sendo que estes aspetos estão na agen-da do dia em todos os países agen-da União Europeia (UE). Por outro lado, não considera aceitável falar de valor sem olhar para os custos, sendo fundamental que esta dis-cussão seja integrada, sob pena de não trazer nenhuma utilidade a não ser perder o foco do que é essencial. Na abertura da sessão da tarde, com o tema «Publicida-de e informação na saú«Publicida-de», o Dr. José Aranda da Silva, di-retor da Revista Portuguesa de Farmacoterapia, afirmou que a publicidade é uma forma de regulação dos medi-camentos, devendo haver uma visão abrangente já que tudo o que intervém no mercado e condiciona esse mer-cado é regulação. Expressou também que a regulação da publicidade tem uma importante função, incluindo na defesa da segurança dos doentes.

O primeiro palestrante, Dr. Paulo Duarte, presidente da ANF, expressou a necessidade de se adaptar todos os princípios e mecanismos de regulação à nova realidade, às novas ferramentas que existem e de proactivamente informar os doentes, destinatários, cidadãos em geral sobre os temas. Mencionou também que uma das áreas onde se deve investir mais tempo é na separação do que é informação de publicidade. Referiu que considera a regulação positiva, embora considere que não encara as dificuldades e não resolve os problemas, e, por isso, não cumpre a sua missão, não tendo o efeito de proteger a qualidade da informação. No âmbito dos medicamen-tos, dispositivos médicos e suplementos alimentares, defende uma maior regulação com principal enfoque na ausência de mecanismos de indução do consumo. Apontou igualmente que só em Portugal é possível promover o consumo nas farmácias de forma isolada, dando o exemplo dos descontos em medicamentos sujeitos a receita médica, e salientou que este cons-titui um problema e uma dificuldade que devem ser resolvidos. Afirmou ainda que existe um conjunto de contradições no sistema e no regime, contudo consi-dera que existem bons princípios e uma boa base de trabalho, e que, como agentes, é necessário colocar a informação sobre saúde e a questão da regulamenta-ção da sua publicidade como uma prioridade, não só no trabalho que se realiza junto das entidades regula-doras, mas também naquilo que é a prática corrente, seguindo os códigos de ética e deontológicos.

O Dr. Luís Castelo-Branco, membro do Conselho Nacional para a Política do Medicamento da Ordem

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dos Médicos, expôs que, ao longo do tempo, evoluiu-se progressivamente de um modelo clássico, em que a pes-soa acedia passivamente à informação, para um modelo designado por decisão partilhada ou decisão esclare-cida. Explicou que a decisão partilhada é uma decisão em conjunto, contudo o profissional mantém discreta-mente a sua posição de superioridade no processo, ao passo que a decisão esclarecida permite efetivamente capacitar a pessoa para que possa decidir mediante as diversas opções terapêuticas o que é melhor para o seu caso, perceber o seu contexto pessoal e a maneira como quer gerir a sua situação de saúde. Afirmou que é neces-sário uma sociedade mais literata e capacitada para este processo, e indicou que o fator que condiciona o aces-so à informação e a capacitação do cidadão é a internet, sendo a informação disponibilizada online muitas vezes ‘tóxica’. Assim, apontou como principal desafio o modo como se pode gerir e, conjuntamente com o doente, tra-balhar esta informação. Adicionalmente, manifestou a opinião de que a forma como a publicidade é exposta à população condiciona a maneira como a informação é percecionada, e a validação da publicidade é um aspeto desafiante, não só a nível nacional como internacional. Terminou a sua intervenção expressando que, para ca-pacitar o cidadão para decidir o que é melhor para ele, é necessário validar a informação e perceber como é que esta é transmitida, afirmando ainda que são responsabi-lidades de todos os profissionais de saúde.

Na intervenção seguinte, a Dra. Ema Paulino, em repre-sentação da Ordem dos Farmacêuticos (OF), realçou o problema da publicidade enganosa, das fraudes e da indução ao consumo, expressando que é neste âmbito que entra efetivamente o papel da regulação. Expôs que o facto de o cidadão querer estar mais envolvido no seu

processo de cuidados de saúde tem um impacto signifi-cativo na forma como os profissionais de saúde se devem organizar e eles próprios se capacitar no sentido de dar resposta. Por outro lado, referiu a problemática da área das vacinas, o modo como a prestação da informação tem afetado a cobertura vacinal e a imunidade de grupo, mencionando, relativamente ao surto de sarampo, que a maioria dos afetados eram profissionais de saúde e que a questão da informação, da capacitação, do esclareci-mento e da adoção dos comportaesclareci-mentos é tão impor-tante para a população em geral como para os próprios setores e profissionais de saúde. No que respeita à pu-blicidade, mencionou que a OF tem chamado a atenção para algumas matérias, como por exemplo a questão da separação de competências. Além disso, aquando o processo de descentralização do INFARMED, I.P., a OF aproveitou para reiterar junto da tutela a pertinência de se reavaliar e de trazer novamente para o âmbito da esfe-ra de competência do INFARMED, I.P., os medicamen-tos veterinários e os suplemenmedicamen-tos alimentares. Por fim, a Dra. Ema Paulino expressou a opinião de que existe efetivamente um desencontro e desequilíbrio que aca-bam por ter influência na confiança que o cidadão tem no sistema e na informação que lhe é transmitida. A Dra. Conceição Calhau, presidente do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Nutricionistas (ON) expôs algumas diferenças entre medicamentos ou dispositi-vos médicos, que constituem entidades muito concre-tas, mais regulamentadas, e suplementos alimentares, para os quais é sempre necessária a referenciação do dossier científico associado. Por outro lado, alertou ainda para a importância de vigiar situações em que não são nutricionistas a prestar serviços, devido ao facto de a ON ser uma ordem mais recente na área da saúde, e

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também de que formas é que são publicitados os servi-ços, mencionando que seguem um código deontológico com indicações muito rigorosas. Como presidente do Conselho Jurisdicional, uma das suas maiores preocu-pações é a passagem de informação que tenha associada desinformação ou falsas promessas, e alertou que não se pode prometer resultados, apenas intervenções basea-das na evidência científica. Assim, considera que o maior desafio das ordens é a questão do acesso à informação que não é verdadeira, exemplificando com a designação

detox, advertindo que não é permitida por lei. No que

diz respeito às designações de nutracêutico e alimento funcional, referiu que existem fronteiras que não são muito claras e do ponto de vista da regulamentação são matérias extremamente pertinentes. Por fim, expressou que existem muitas bases científicas para consultar so-bre matéria de alimentação, contudo atualmente é um grande desafio fazer ensaios clínicos na área alimentar, tornando muitas vezes difícil a própria credibilização destes temas.

O último palestrante do painel, o Dr. Pedro Freitas, di-retor jurídico da Apifarma, começou por salientar que a publicidade é um ato de regulação, uma vez que nos en-contramos num estado social que apoia a aquisição do medicamento. Constatou que estamos perante um esta-do que comparticipa e adquire o medicamento, logo que determina as regras da publicidade, não fazendo contu-do de forma homogénea com a restante UE. Destacou que é essencial distinguir informação de publicidade, porém esta distinção é difícil de fazer quando o próprio legislador a delimitou. Por outro lado, considera que é o grande desafio da indústria farmacêutica, manifestando a opinião de que as empresas da área do medicamento não conseguem prestar efetivamente ao público em ge-ral a informação necessária sobre os produtos que têm. Expressou ainda que o desafio de fazer a distinção entre publicidade e informação deve partir não apenas dos operadores de mercado ou das ordens, mas também do próprio legislador em termos de opção política relativa-mente ao medicamento e à forma como olha para o me-dicamento enquanto um encargo, e por isso no sentido de limitar a sua promoção.

Dr. Sérgio Vilão, editor-chefe da Revista Portuguesa de Farmacoterapia, moderou o último painel sobre a partici-pação dos cidadãos na decisão em saúde. Realçou a atua-lidade desta temática, expressando que um dos desígnios do SNS quando foi constituído foi o facto de ser participa-do, recebendo contributos de toda a sociedade, mas nem sempre tem sido uma realidade, particularmente na área do medicamento. Contudo, mais recentemente têm sido dados passos nesse sentido, sendo esta mudança de para-digma o centro da discussão para finalização da reunião.

Humberto Martins, diretor da área profissional da ANF, expressou que as farmácias têm sido um contributo para a aproximação dos cidadãos aos cuidados de saúde, de-clarando ainda que, para que haja participação, deve haver um compromisso dos intervenientes da área da saúde com os cidadãos. Adicionalmente, mencionou os novos recursos que ajudam a cumprir a missão no apoio ao reforço do conhecimento dos cidadãos, exemplifican-do com a aplicação e o portal das Farmácias Portugue-sas, que possuem um guião muito extenso de temas de saúde todos validados na vertente técnico-científica. Por outro lado, referiu também o impacto das redes sociais, as quais permitem que cerca de um milhão de pessoas mensalmente acompanhem esta informação. No âmbito da liberdade de escolha, deu, entre outros, o exemplo da vacinação e como as farmácias podem reforçar a capaci-dade para atingir coberturas vacinais superiores. O ora-dor salientou que as farmácias neste momento são res-ponsáveis pela dispensa e administração de um terço das vacinas contra a gripe anualmente, e que neste momento o boletim eletrónico de vacinação também é preenchido pelas farmácias. Por fim, defendeu ainda que reforçar a centralidade no utente é também promover uma maior articulação entre os vários níveis de cuidados, e terminou mencionando o projeto inovador que interliga as farmá-cias e as unidades de saúde familiar (USF).

Na intervenção seguinte, o Dr. Heitor Costa, dire-tor executivo da Apifarma, comentou que os cida-dãos elegem a saúde como uma das suas primeiras preocupações, no entanto existe um desfasamento cla-ro entre aquilo que são as aspirações dos cidadãos e a prioridade política que os sucessivos governos têm vindo a dedicar à saúde, designadamente em termos de investimento público. Mencionou que o papel do ci-dadão nos processos de planeamento e decisão em saúde é reconhecido a nível mundial, sendo ampla-mente reconhecida a importância da implementação de sistemas de saúde que sejam centrados no doente. O Dr. Heitor Costa expressou que a evolução contí-nua para um sistema de saúde centrado nos cidadãos abre diversas oportunidades uma vez que permite, entre outros, capacitar os doentes e envolvê-los na gestão da sua saúde, incrementar a adesão às tecno-logias de saúde e desenvolver novos modelos de fi-nanciamento. Além disso, comentou também que é fundamental o investimento em programas de educa-ção e promoeduca-ção da saúde, cujo relevo orçamental em Portugal é particularmente baixo. Terminou a sua in-tervenção mencionando o programa Tratar de mim que permite dotar o cidadão de ferramentas que pos-sibilitem a tomada decisões racionais sobre a sua saú-de e o seu estilo saú-de vida. Trata-se saú-de um programa

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nacional em parceria com a ANF, Direção--Geral de Saúde, INFARMED, I.P., Ordem dos Farmacêuticos, Ordem dos Médicos e Valormed, de consciencialização que alerta a população para a adoção de estilos de vida saudáveis e para a uti-lização racional de medicamentos não sujeitos a receita médica.

Sofia Crisóstomo, representando o projeto MAIS PARTICIPAÇÃO, melhor saúde, começou por notar que todos falam de um SNS centrado no cidadão, cui-dados de saúde centrados na pessoa mas contudo ainda poucos praticam de facto estes princípios, e considera que está nas mãos das pessoas tornar esta uma realida-de. De seguida, partilhou aquilo que tem sido a reflexão interna do projeto que coordena, mencionando três exemplos sobre espaços participativos. Começou pelo Conselho Nacional da Saúde, valorizando a forma como têm decorrido os trabalhos, e apontou como exemplo de boa prática a seguir. Adicionalmente, explicou que os utentes possuem uma representação significativa, com um quinto dos membros a participar em igualda-de igualda-de circunstâncias. Contudo, pelo caráter consultivo e representativo deste órgão, defendeu que as reuniões deveriam ser públicas. Relativamente ao projeto SNS + Proximidade, comentou que este envolvimento tem sido feito de forma consistente e reiterada. Neste âm-bito, explicou que poderiam ser melhorados alguns as-petos, como a necessidade de envolver os cidadãos logo numa fase inicial e a importância de haver feedback sobre

os processos de consulta, não só por questões de trans-parência mas sobretudo pela manutenção do potencial de mobilização dos cidadãos. Por último, mencionou

o trabalho em conjunto com o INFARMED, I.P., na realização de reuniões em que se apresentou o Projeto Incluir, criticando o facto de ainda não haver um docu-mento final com o resultado do processo de consulta. A última palestrante do painel, a Professora Dra. Maria do Céu Machado, presidente do INFARMED, I.P., afirmou que a literacia em saúde con-siste num dos problemas em Portugal, considerando como obrigação de todos, indústria farmacêutica, far-mácia, profissionais e associações de doentes fazer for-mação e aumentar a literacia. Por outro lado, referiu que o INFARMED, I.P. tinha um protocolo com a Escola Nacional de Saúde Pública para desenvolver projetos de literacia e de formação ao cidadão que acabou por não ser implementado, mas encontra-se a ser revisto de forma a poder avançar. Relativamente ao Projeto Incluir, com 143 associações registadas, informou que durante o ano de 2017 ocorreram reuniões com o grupo alocado para discutir os critérios obrigatórios a propor para o envolvimento das associações. Explicou que o

feedback não foi considerado significativo em termos de

número de respostas, logo, foi efetuado um novo convite às associações a dar os seus contributos com um prazo apertado, para depois ser integrado e comprometeu-se até ao final de maio 2018 ter o documento preparado. Expressou que gostaria de ver para além das associa-ções de doentes, também doentes que, isoladamente, se representem a si próprios, sendo essencial que todos tenham empowerment, ou seja, capacitação para a decisão.

Nota

As fotografias foram cedidas pela Newsfarma.

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