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Divisão sexual do trabalho no Senado de Brasil e Argentina : projetos de lei em análise

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (ICS)

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS SOBRE AS AMÉRICAS

MARIA LUIZA WALTER COSTA

DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO SENADO DE BRASIL E ARGENTINA:

projetos de lei em análise

BRASÍLIA – DF 2018

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2 MARIA LUIZA WALTER COSTA

DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO SENADO DE BRASIL E ARGENTINA:

projetos de lei em análise

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas no Departamento de Estudos Latino-americanos como requisito à obtenção do título de Mestra em Ciências Sociais

Orientadora: Prof.ª. Dra. Delia Dutra

BRASÍLIA – DF 2018

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3 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS (ICS)

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS SOBRE AS AMÉRICAS

Apresentado em 23 de novembro de 2018:

Banca examinadora:

________________________________________________________________ Prof.ª. Dra. Délia Dutra (Orientadora)

ELA – Universidade de Brasília

_________________________________________________________________ Prof.ª. Dra. Danusa Marques

IPOL – Universidade de Brasília

_________________________________________________________________ Prof. Dr. Camilo Negri

ELA – Universidade de Brasília

_________________________________________________________________ Prof.ª Dra. Elizabeth Ruano (Suplente)

ELA – Universidade de Brasília

Brasília 2018

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço à minha família. Sempre tive consciência de estar em um ambiente que me proporcionou as melhores oportunidades de estudo, com pais e irmãos sempre focados em dar o seu melhor na área em que atuam. O convívio familiar sempre me incentivou a crescer profissionalmente e a nunca parar de estudar. Além disso, o trabalho comprometido em melhorar a realidade brasileira sempre foi uma direção que aprendi desde pequena, e que pretendo levar comigo em tudo o que faço. Dessa forma, agradeço aos meus pais, Maria Emília e João Luiz, e aos meus irmãos, Bia e Kiko.

Agradeço ao meu namorado, Victor, que tem caminhado junto comigo há quase sete anos. Agradeço pelas conversas políticas e existenciais, pelas sugestões no trabalho, pelo carinho e pelo suporte. Sem você, todo esse processo teria sido infinitamente mais penoso. Agradeço também ao Antônio, à Ana Lúcia, à Ana Maria, ao Matheus, ao Gabriel e ao Leo, por sempre terem me acolhido tão bem e serem hoje minha segunda família.

Agradeço também às minhas tias queridas. Um abraço especial para as minhas tias Inez, que me ajudou na parte estatística do trabalho, Tereza, fundamental na parte da formatação e referência, e Marisa, que sempre despertou minha curiosidade para questões políticas.

De modo geral, agradeço aos meus queridos tios e tias, avôs e avós, primos e primas, pelo carinho a mim dispensado. Em especial, sou grata ao tio Gil e ao tio Luiz Henrique, por sempre vibrarem com as minhas conquistas.

Um abraço especial, também, para minhas avós, Beatriz e Maria de Lourdes, por terem se doado tanto pela família. As duas viveram em um contexto muito mais desfavorável em termos de direitos das mulheres, o que sempre me inspirou a olhar para trás e reconhecer as grandes conquistas que essas mulheres fortes garantiram para a minha geração.

Tenho enorme gratidão à minha orientadora, Professora Delia Dutra, que sempre esteve disponível e disposta a construir um trabalho com enorme dedicação e esforço. Uma das principais contribuições da Professora Delia nesse processo, além da parte técnica, foi mostrar que a Universidade pode ser um ambiente leve e prazeroso.

Agradeço aos meus amigos queridos, que sempre me colocaram para cima, fazendo-me acreditar no fazendo-meu pleno potencial de conquistar o que eu quisesse. Em especial, agradeço às GNO pela parceria de anos e aos agregadores pela convivência iniciada na graduação em Ciência Política.

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5 Agradeço aos colegas, professores e funcionários do ELA. Em especial, sou grata à Débora, que partilhou muitas angústias e, ao mesmo tempo, trouxe mais paz à minha caminhada pelo departamento. Agradeço também à Cecília, sempre disposta a ajudar.

Agradeço à Professora Danusa Marques e ao Professor Camilo Negri por, desde a graduação, me inspirarem a seguir nas ciências sociais e a continuar meus estudos na área. Em especial, sou grata pela disponibilidade e interesse da Professora Danusa em contribuir com a minha dissertação, desde a qualificação, sempre com sugestões construtivas e interessantes.

Por fim, agradeço à bolsa de mestrado fornecida pela CAPES, tão importante para os estudantes de pós-graduação no Brasil. Sem dúvida é um suporte fundamental para o avanço da ciência no país, e devemos lutar sempre pela sua manutenção.

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Dedico este trabalho às mulheres fortes da minha família, que tiveram um papel fundamental na minha vivência enquanto mulher feminista. Com elas aprendi a importância de estarmos representadas nos mais diversos espaços: na ciência, na economia, na política, em qualquer lugar. Desde que estejamos lá.

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RESUMO

A sub-representação feminina é uma característica presente nos mais diversos parlamentos ao redor do mundo e, desde o final do século XX, constitui importante pauta para muitos governos, movimentos sociais e instituições internacionais. De 2011 a 2015, a Argentina ficou entre os 20 primeiros países no ranking sobre representação de mulheres no parlamento nacional feito pela União Inter-Parlamentar. Já o Brasil ficou posicionado após a 100º colocação. A partir desse panorama é possível questionar se as parlamentares da Argentina, já que caminham para a paridade na representação legislativa em relação aos homens, têm comportamento diverso das parlamentares brasileiras no que tange à divisão sexual de trabalho no legislativo. Tendo em vista a escassez de estudos que investigam as câmaras altas, a presente pesquisa foi feita com base em um estudo comparado sincrônico e por contrastes entre os Senados de Argentina e Brasil. O objetivo geral do trabalho foi, portanto, compreender a divisão sexual do trabalho no Senado argentino e no Senado brasileiro, de 2011 a 2015. Foram selecionados dois temas: “tributação”, considerado como hard politics, e “família, crianças, adolescentes, mulheres e idosos”, dentro das soft politics. Foram analisados 618 projetos de lei, a partir dos seguintes indicadores escolhidos para medir a divisão sexual de trabalho: taxa de autoria, taxa de aprovação, taxa de arquivamento e taxa de relatoria de projetos de lei do senado. A partir desses indicadores, pôde-se concluir que as senadoras de ambos os países participaram mais que os homens da área soft. Em contrapartida, na Argentina os homens dominaram o tema hard, enquanto no Brasil homens e mulheres participaram da área hard em níveis semelhantes. Dessa forma, a hipótese inicial da pesquisa de que “quanto mais consolidada a presença de mulheres no parlamento, menos há que se falar em divisão sexual do trabalho nesse espaço” não foi confirmada. A partir dos dados relativos ao Senado brasileiro, pensou-se no conceito de “jornada dupla no legislativo”, para caracterizar o fato de que as senadoras, além de participarem em níveis semelhantes aos homens na área hard, participaram mais que eles, relativamente, na área soft. Ademais, quando se observa a iniciativa dos projetos de lei que contém a palavra-chave “mulher/mulheres” em sua ementa, verifica-se que o sexo do parlamentar tem muito peso no Senado argentino. O mesmo, porém, não se observa no Senado brasileiro. Por fim, concluiu-se que não é possível generalizar para todo o legislativo os achados de investigações sobre as câmaras baixas, tendo as pesquisas sobre câmaras altas grande importância. Os estudos sobre as câmaras altas representam um desafio, mas, ao mesmo tempo, um potencial a ser explorado.

PALAVRAS-CHAVE: Divisão sexual do trabalho; Hard politics; Soft politics; Senado;

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ABSTRACT

Underrepresentation of women occurs in many parliaments around the world. Since the end of the twentieth century, it has been an important agenda in many governments, social movements, and international institutions. From 2011 to 2015, Argentina was placed among the top 20 countries in the ranking made by the Inter-Parliamentary Union on representation of women in national parliaments. Brazil, on the other hand, was ranked below the 100th place. Since Argentinian female parliamentarians are moving towards parity in legislative representation in relation to men, one could question whether they behave differently than Brazilian female parliamentarians regarding sexual division of labor in legislature. Only a few studies focused on the upper chambers, which motivated the present research, in which a synchronic comparative study was done, contrasting the Senates of Argentina and Brazil. The general objective of the study was to understand the sexual division of labor in the Argentinian and Brazilian Senates, from 2011 to 2015. The focus was on two themes: "taxation", considered as hard politics, and "family, children, adolescents, women and the elderly", considered as soft politics. 618 law projects were analyzed, with the following indicators chosen to measure the sexual division of labor: authorship rate, approval rate, archiving rate, and report rate of senate law projects. From these indicators, it was possible to conclude that the female senators of both countries participated more than the male senators in soft politics. On the other hand, in Argentina men dominated subjects of hard politics, while in Brazil men and women participated equally on hard politics. Thus, the initial hypothesis of the research that "the more consolidated the presence of women in parliament, the less it is necessary to talk about the sexual division of labor in this space" was not confirmed. Based on data from the Brazilian Senate, the concept of "double legislative burden" was thought to characterize the fact that female senators, in addition to participating in similar patterns to men in the hard area, participated, relatively, more than male senators in the soft area. In addition, when one observes the initiative of law projects that contain the keyword "woman/women", it is possible to notice that the gender of the parliamentarian has a major importance in the Argentinian Senate. The same, however, was not observed in the Brazilian Senate. Finally, it was concluded that it is not possible to generalize the findings of lower chambers to all the legislative branches. For that, studies on the higher chambers are required, which represent a challenge and, at the same time, a potential to be explored.

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RESUMEN

La subrepresentación femenina es una característica presente en los más diversos parlamentos alrededor del mundo y desde el final del siglo XX constituye una importante pauta para muchos gobiernos, movimientos sociales e instituciones internacionales. De 2011 a 2015, Argentina quedó entre los 20 primeros países en el ranking de la Unión Interparlamentaria sobre representación de mujeres en el parlamento nacional. Brasil se posicionó después de la 100ª colocación. A partir de ese panorama es posible cuestionar si las parlamentarias de Argentina, ya que caminan hacia la paridad en la representación legislativa en relación con los hombres, tienen comportamiento diverso de las parlamentarias brasileñas en lo que se refiere a la división sexual de trabajo en el legislativo. En vista de la escasez de estudios que investigan las cámaras altas, la presente investigación fue hecha con base en un estudio comparado sincrónico y por contrastes entre los Senados de Argentina y Brasil. El objetivo general del trabajo fue, por lo tanto, comprender la división sexual del trabajo en el Senado argentino y en el Senado brasileño, de 2011 a 2015. Se seleccionaron dos temas: "tributación", considerado como hard politics, y "familia, niños, adolescentes, mujeres y adultos mayores", dentro de las soft politics. Fueron analizados 618 proyectos de ley a partir de los siguientes indicadores elegidos para medir la división sexual de trabajo: tasa de autoría, tasa de aprobación, tasa de archivo y tasa de relatoría de proyectos de ley del senado. A partir de esos indicadores, se pudo concluir que las senadoras de ambos países participaron más que los hombres del área soft. En contrapartida, en Argentina los hombres dominaron las hard politics, mientras que en Brasil hombres y mujeres participaron del área hard en niveles semejantes. De esta forma, la hipótesis inicial de la investigación de que "cuanto más consolidada la presencia de mujeres en el parlamento, menos hay que hablar de división sexual del trabajo en ese espacio" no ha sido confirmada. A partir de los datos relativos al Senado brasileño, se pensó en el concepto de "jornada doble en el legislativo", para caracterizar el hecho de que las senadoras, además de participar en niveles semejantes a los hombres en el área hard, participan más que ellos, relativamente, del área soft. Además, cuando se observa la iniciativa de los proyectos de ley que contiene las palabras claves "mujer/mujeres", se verifica que el sexo del parlamentario tiene mucho peso en el Senado argentino. Lo mismo, sin embargo, no se observa en el Senado brasileño. Por último, se concluyó que no es posible generalizar para todo el legislativo los hallazgos de investigaciones sobre las cámaras bajas, teniendo los estudios sobre las cámaras altas gran importancia. Los estudios sobre las cámaras altas, por lo tanto, representan un desafío, pero al mismo tiempo un potencial a ser explotado.

PALABRAS CLAVE: División sexual de trabajo; Hard politics; Soft politics; Senado; Brasil;

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10 LISTA DE SIGLAS AC – Acre AL – Alagoas AM – Amazonas AP – Amapá BA – Bahia CE – Ceará

CPMI – Comissão Parlamentar Mista de Inquérito DEM – Democratas

DF – Distrito Federal

DIAP – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar ES – Espírito Santo

GO – Goiás

LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros MA – Maranhão

MG – Minas Gerais MS – Mato Grosso do Sul MT – Mato Grosso PA – Pará

PB – Paraíba

PCdoB – Partido Comunista do Brasil PDT – Partido Democrático Trabalhista PE – Pernambuco

PI – Piauí

PIB – Produto Interno Bruto PLS – Projeto de Lei do Senado

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PP – Partido Progressista

PPL – Partido Pátria Livre PPS – Partido Popular Socialista PR – Paraná

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PRB – Partido Republicano Brasileiro PSB – Partido Socialista Brasileiro PSC – Partido Social Cristão PSD – Partido Social Democrático

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PSOL – Partido Socialismo e Liberdade

PT – Partido dos Trabalhadores PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PV – Partido Verde

RJ – Rio de Janeiro

RN – Rio Grande do Norte RO – Rondônia

RR – Roraima

RS – Rio Grande do Sul SC – Santa Catarina SE – Sergipe

SP – São Paulo TO – Tocantins

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Porcentagem (%) de mulheres e homens que já ocuparam vaga no Senado brasileiro

pós-1988 ... 28

Gráfico 2 – Autoria de projetos de lei da área social – família, proteção a crianças, adolescentes,

mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 67

Gráfico 3 – Autoria de projetos de lei da área econômica – tributação, Brasil, 2011 a 2014 . 68 Gráfico 4 – Autoria de projetos de lei da área social – família, crianças, adolescentes, mulheres

e idosos, Argentina, 2011 a 2015 ... 70

Gráfico 5 – Autoria de projetos de lei da área econômica – tributação, Argentina, 2011 a

2015 ... 71

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Características dos Senados do Brasil e da Argentina ... 30 Quadro 2 – Classificação dos projetos de lei do Senado brasileiro ... 58 Quadro 3 – Comparação de Argentina e Brasil na área social: família, crianças, adolescentes,

mulheres e idosos, 2011 a 2014/15 ... 89

Quadro 4 – Comparação de Argentina e Brasil na área econômica: tributação, 2011 a

2014/2015 ... 90

Quadro 5 – Comparação de Argentina e Brasil de projetos de lei que contenham as

palavras-chave “mulher/mulheres/mujer/mujeres”, 2011 a 2014/15 ... 95

Quadro 6 – Projetos de lei do Senado sobre "Tributação" na Argentina, 10 de dezembro de

2011 a 10 de dezembro 2015 ... 113

Quadro 7 – Projetos de lei do Senado sobre "Família, crianças, adolescentes, mulheres e

idosos" na Argentina, 10 de dezembro de 2011 a 10 de dezembro 2015 ... 116

Quadro 8 – Projetos de lei do Senado sobre “Tributação” no Brasil, 2011 a 2014 ... 119 Quadro 9 – Projetos de lei do Senado sobre "Família, proteção a crianças, adolescentes,

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Brasil e Argentina no ranking da Inter-Parliamentary Union... 18 Tabela 2 – Quantidade de projetos de lei analisados na Argentina e no Brasil, 2011 a

2014/2015 ... 60

Tabela 3 – Projetos de lei apresentados de 10/12/2011 a 10/12/2015 no Senado argentino ... 60 Tabela 4 – Projetos de lei apresentados de 01/01/2011 a 31/12/2014 no Senado brasileiro ... 60 Tabela 5 – Projetos de lei apresentados na área econômica: tributação, Argentina, 2011 a

2015 ... 62

Tabela 6 – Projetos de lei apresentados na área econômica: tributação, Brasil, 2011 a 2014 . 62 Tabela 7 – Projetos de lei apresentados na área social: família, crianças, adolescentes, mulheres

e idosos, Argentina, 2011 a 2015 ... 63

Tabela 8 – Projetos de lei apresentados na área social: família, proteção a crianças,

adolescentes, mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 63

Tabela 9 – Taxa de autoria de projetos de lei na área social: família, proteção a crianças,

adolescentes, mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 69

Tabela 10 – Taxa de autoria de projetos de lei na área econômica: tributação, Brasil, 2011 a

2014 ... 69

Tabela 11 – Taxa de autoria de projetos de lei na área social: família, crianças, adolescentes,

mulheres e idosos, Argentina, 2011 a 2015 ... 72

Tabela 12 – Taxa de autoria de projetos de lei na área econômica: tributação, Argentina, 2011

a 2015 ... 72

Tabela 13 – Taxa de aprovação de projetos de lei na área social: família, proteção a crianças,

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Tabela 14 – Taxa de aprovação de projetos de lei na área econômica: tributação, Brasil, 2011

a 2014 ... 74

Tabela 15 – Aprovação de projetos de lei na área econômica: tributação, Argentina, 2011 a

2015 ... 74

Tabela 16 – Aprovação de projetos de lei na área social: família, crianças, adolescentes,

mulheres e idosos, Argentina, 2011 a 2015 ... 75

Tabela 17 – Taxa de arquivamento de projetos de lei na área social: família, proteção a crianças,

adolescentes, mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 75

Tabela 18 – Taxa de arquivamento de projetos de lei na área econômica: tributação, Brasil,

2011 a 2014 ... 76

Tabela 19 – Taxa de arquivamento de projetos de lei na área social: família, crianças,

adolescentes, mulheres e idosos, Argentina, 2011 a 2015... 76

Tabela 20 – Taxa de arquivamento de projetos de lei na área econômica: tributação, Argentina,

2011 a 2015 ... 77

Tabela 21 – Relatores finais por sexo da área social: família, proteção a crianças, adolescentes,

mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 78

Tabela 22 – Relatores finais por sexo da área econômica: tributação, Brasil, 2011 a 2014 .... 79 Tabela 23 – Projetos de lei com as palavras-chaves "mulher/mulheres" na área social: família,

proteção a crianças, adolescentes, mulheres e idosos, Brasil, 2011 a 2014 ... 81

Tabela 24 – Projetos de lei com as palavras-chaves "mujer/mujeres" na área social: família,

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 17

CAPÍTULO 1. MULHERES NA POLÍTICA DE BRASIL E ARGENTINA ... 22

1.1 Histórico da luta das mulheres argentinas e brasileiras por direitos políticos ... 22

1.2 Mulheres na política recente de Argentina e Brasil ... 24

1.3 Senado na Argentina e no Brasil ... 29

1.4 Reflexões finais do capítulo ... 33

CAPÍTULO 2. DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO PARLAMENTO ... 34

2.1 Inserção do trabalho dentro do campo de estudos latino-americanos ... 34

2.2 Ausências ... 35

2.3 Estudos feministas nas instituições liberais ... 38

2.4 Representação de mulheres no parlamento ... 41

2.5 Divisão sexual do trabalho ... 45

2.6 Reflexões finais do capítulo ... 52

CAPÍTULO 3. METODOLOGIA DE PESQUISA ... 54

3.1 Estudo comparado: a seleção dos casos de Argentina e Brasil ... 54

3.2 Coleta de dados ... 55

3.3 Recorte da pesquisa e análise dos dados ... 57

3.4 Resumo do capítulo ... 65

CAPÍTULO 4. ANÁLISE DOS DADOS ... 67

4.1 Autoria de projetos de lei... 67

4.2 Aprovação de projetos de lei ... 73

4.3 Arquivamento de projetos de lei ... 75

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17

4.5 Projetos de lei relativos à mulher ... 79

4.6 Reflexões finais do capítulo ... 82

CAPÍTULO 5. OS CASOS DE BRASIL E ARGENTINA: ESTUDO COMPARATIVO ... 84

5.1 Soft politics na Argentina e Brasil ... 85

5.2 Hard politics na Argentina e no Brasil ... 90

5.3 Projetos de lei sobre mulheres na Argentina e no Brasil ... 94

5.4 Reflexões finais do capítulo ... 96

CONCLUSÕES ... 98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 103

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INTRODUÇÃO1

A representação de mulheres nas esferas políticas é um tema que vem sendo cada vez mais discutido mundialmente, sobretudo após a adoção de políticas de cotas para mulheres no parlamento a partir da década de 1990. Na América Latina, a média de mulheres nos legislativos nacionais foi de 29,3% em 2017, acima da média mundial de 23,7% (BANCO MUNDIAL, 2018).

Em relação à América do Sul, Bolívia e Argentina lideram, em 2018, o ranking de mulheres no Legislativo nacional, situando-se entre os 20 melhores países do mundo nesse quesito. Já Paraguai e Brasil estão após a 130ª posição – em uma lista de 193 países – no que diz respeito à presença de mulheres no parlamento (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018).

A partir desses dois grupos acima citados, tem-se que Argentina e Brasil são países muito díspares no que diz respeito à representação de mulheres no Legislativo nacional. Enquanto a Argentina, em 2018, apresenta 38,9% de mulheres na câmara baixa e 41,7% na câmara alta, o Brasil tem na composição de sua câmara baixa 10,7% de mulheres e na câmara alta 14,8%. A Argentina está posicionada no 17º lugar no que diz respeito à proporção de mulheres no Legislativo, como se pode observar na Tabela 1. Em contrapartida, o Brasil encontra-se na 152ª posição, atrás de cerca de 80% dos países ranqueados (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018).

Tabela 1 – Brasil e Argentina no ranking da Inter-Parliamentary Union2

Câmara baixa Câmara alta

Posição no ranking País Data da última eleição em nível nacional Porcentagem de mulheres na câmara baixa Data da última eleição em nível nacional Porcentagem de mulheres na câmara alta 17ª Argentina 22.10.2017 38,90% 22.10.2017 41,70% 152ª Brasil 05.10.2014 10,70% 05.10.2014 14,80% Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da Inter-Parliamentary Union (2018).

1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

2 O ranking elaborado pela Inter-Parliamentary Union leva em consideração as cadeiras ocupadas no momento da coleta de dados. Nesse sentido, inclui-se os suplentes que estavam substituindo titulares, por exemplo. Dessa forma, a porcentagem mostrada na tabela não corresponde, necessariamente, à porcentagem de mulheres eleitas na última eleição em nível nacional.

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19 Nas eleições legislativas de outubro de 2018, o Brasil teve sua representação de mulheres na Câmara dos Deputados aumentada de 10% para 15%, com 77 deputadas federais eleitas (HAJE, 2018). Já em relação ao Senado Federal, a presença de mulheres se manteve praticamente constante, com sete senadoras eleitas (ao lado de uma suplente e outras quatro que seguem para mais quatro anos de mandato) (BRASIL, 2018d). Mesmo com uma sutil melhora na média de mulheres no legislativo nacional, o Brasil permanece com representação menor que a média latino-americana de mulheres no parlamento.

A partir desse panorama, um questionamento que pode ser feito é: as parlamentares da Argentina, já que caminham para a paridade na representação legislativa em relação aos homens, têm comportamento diverso das parlamentares brasileiras, que possuem cerca de 15% de representação no legislativo?

Uma das principais constatações de estudos que analisam o comportamento de homens e mulheres no legislativo é a de que a atuação legislativa varia conforme o sexo. Afinal, as construções sociais em torno do gênero parecem influenciar na maneira de agir do parlamentar. Enquanto os homens tenderiam a abordar temas ligados a negócios, defesa do Estado e relações exteriores, as mulheres tratariam de temas afetos ao cuidado, como família e crianças (TAYLOR-ROBINSON; HEATH, 2003).

Baseado nessa ideia, o ponto de partida do presente estudo é o de que existe uma divisão sexual de trabalho no parlamento, que pode se manifestar de várias maneiras (presidência da Casa e de comissões, temática de projetos de lei, aprovação de projetos de lei, discursos parlamentares, entre outros).

No Brasil, a maior parte das pesquisas que tomam essa ideia como base estudam a Câmara dos Deputados (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016; MARQUES; TEIXEIRA, 2015; MIGUEL; FEITOSA, 2009).

Em 2008, Bohn escreve que as mulheres, de maneira geral, tinham maior representação nas câmaras baixas que nas câmaras altas. Porém, essa configuração já não se mantém em 2018: mais da metade dos países que compõem o ranking da Inter-Parliamentary Union possuem mais mulheres nas câmaras altas que nas baixas (considerando apenas os países que são bicamerais) (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018). Nesse sentido, observa-se que as mulheres vêm ganhando espaço nas câmaras altas, fator que não se verificava uma década atrás. Esse fenômeno ainda não adquiriu tanta visibilidade na literatura, tendo em vista que a maior parte dos estudos sobre a atuação generificada dos e das parlamentares se concentra nas câmaras baixas.

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20 Nesse sentido, tendo em vista a escassez dos estudos que focam no Senado (MENDONÇA, 2009; SILVA et al, 2017), julgou-se importante estudar o comportamento de senadores e senadoras.

O parlamento moderno, que teve sua estruturação no século XVIII na Inglaterra (DAHL apud GASPARDO, 2010) é a forma hegemônica de representação política atualmente. Essa instituição foi transposta para as áreas de dominação europeia, como consequência do colonialismo. Ainda assim, é uma importante esfera institucional tanto no Brasil quanto na Argentina, já que o processo legislativo dá origem a normas às quais toda a sociedade deverá se sujeitar. Portanto, ainda que a pesquisa tenha como foco a elite política do país, ela contribui na compreensão do processo de (re)configuração de parte importante das normais sociais considerando uma perspectiva de gênero.

A justificativa principal para realizar uma análise comparada entre os senados brasileiro e argentino é a comprovada eficácia do sistema argentino em garantir uma representação mínima de mulheres no parlamento. Em 2018, apenas oito países estavam à frente da Argentina no que diz respeito à porcentagem de mulheres na câmara alta (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018). Nesse sentido, a Argentina tem tido sucesso em superar a baixa representação de mulheres no Legislativo, através de legislações de cotas tanto para o Senado quanto para a Câmara. Em contrapartida, a situação do Brasil pouco se modificou desde o final da década de 1990 (AQUINO, 2016).

Mesmo reconhecendo o avanço da Argentina em garantir a presença de mulheres no parlamento, questiona-se se essas mulheres têm sua atividade legislativa restrita aos papeis de gênero que delas se esperam, ou se elas estão produzindo em diversas as áreas, inclusive naquelas historicamente destinadas aos homens.

Nesse contexto, o problema da pesquisa é o seguinte: compreender a divisão sexual

do trabalho no Senado argentino e no Senado brasileiro. Para respondê-lo, será analisado o

período da última legislatura completa brasileira, de 2011 a 2014, e de quatro anos de trabalhos legislativos no Senado argentino, entre 2011 e 2015. Tais períodos correspondem, respectivamente, ao primeiro mandato presidencial de Dilma Rousseff, no Brasil, e ao segundo mandato de Cristina Kirchner, na Argentina. A hipótese de pesquisa é que quanto mais

consolidada a presença de mulheres no parlamento, menos há que se falar em divisão sexual do trabalho nesse espaço.

O objetivo geral do trabalho é, portanto, compreender como se configurou a divisão

(21)

21 Já os objetivos específicos são analisar a autoria e a tramitação dos projetos de lei apresentados por senadores e senadoras argentinos e brasileiros, de 2011 a 20153, no que diz respeito a um tema considerado como hard politics e um tema considerado como soft politics; e comparar os casos de Brasil e Argentina, no que tange à divisão sexual do trabalho.

A dissertação foi organizada em cinco capítulos. Em primeiro lugar, o Capítulo 1 trata do histórico de luta das mulheres argentinas e brasileiras na política de seus respectivos países. Ainda, evidencia o histórico de cada país no que se refere a institucionalização da política de cotas para mulheres, além de trazer as diferenças e similitudes das Câmaras Altas.

Já o Capítulo 2 descreve e discute como a divisão sexual do trabalho se manifesta no Poder Legislativo. Além disso, trata das ausências no parlamento, devido ao fato de que a representação nesse espaço é majoritariamente de um grupo específico de mulheres: brancas e ricas.

O Capítulo 3 traz a metodologia do trabalho, buscando explicar a seleção dos casos e a forma de mensurar a divisão sexual de trabalho no Senado.

Já no Capítulo 4 são analisados 618 projetos de lei elaborados por senadores e senadoras, nas áreas de “tributação” e “família, crianças, adolescentes, mulheres e idosos”, a partir dos conceitos relacionados à divisão sexual do trabalho. Os indicadores formulados para compreender a divisão sexual de trabalho nesses espaços são: taxa de autoria, taxa de aprovação, taxa de arquivamento e taxa de relatoria de projetos de lei do Senado.

Por fim, o Capítulo 5 traz o estudo comparativo de Brasil e Argentina. É importante ressaltar que o estudo comparativo entre os dois casos citados foi sincrônico e por contrastes.

(22)

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CAPÍTULO 1. MULHERES NA POLÍTICA DE BRASIL E ARGENTINA

O Capítulo 1 teve o intuito de contextualizar o presente estudo, apresentando as principais diferenças institucionais e históricas entre Brasil e Argentina. Dessa maneira, foi feito um breve histórico da luta por direitos políticos das mulheres no Brasil e na Argentina; tratou-se da institucionalização de mecanismos que permitem a inserção das mulheres na política dos dois países; e foram feitas comparações entre os Senados argentino e brasileiro.

1.1 Histórico da luta das mulheres argentinas e brasileiras por direitos políticos

O direito ao voto das mulheres, em geral, foi conquistado nas primeiras décadas do século XX. Conquistada a igualdade política formal e o acesso à educação, as feministas do século XX passaram a discutir outras questões, como a sexualidade e os direitos reprodutivos, além da igualdade material na política, família, escola e trabalho (MIGUEL; BIROLI, 2014).

É importante notar que as demandas do movimento feminista foram sendo modificadas conforme a conquista de direitos avançava. Miguel e Biroli (2014) citam, por exemplo, a luta pelo voto das sufragistas norte-americanas no século XIX. Angela Davis (apud MIGUEL; BIROLI, 2014) dizia que essa luta seria “o Milênio para elas”, em um tom sarcástico. Afinal, a conquista do voto não garantiu uma participação efetiva das mulheres, que continuaram a ser excluídas dos espaços decisórios. Era preciso uma mudança mais significativa na ordem social para que isso de fato ocorresse.

Em se tratando de América Latina, o país pioneiro na legalização do voto feminino foi o Equador, em 1929. Em 1932, no governo provisório de Getúlio Vargas, o Brasil fez o mesmo, assim como o Uruguai (SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016). A Argentina, com influência de Eva Perón, implementou o sufrágio feminino em 1947 (PALERMO, 1997/1998). Alguns países só o fizeram na década de 1960, como é o caso do Paraguai e de El Salvador, em 1961 (SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016).

Nas décadas de 1960 e 1970, as discussões de gênero promovidas por movimentos feministas ficaram reprimidas em meio a um contexto autoritário na região. Em 1980, mulheres trabalhadoras, negras e indígenas passaram a compor grande parte desses movimentos (ALVAREZ et al apud SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016). Já na década de 1990, com a redemocratização, os movimentos de mulheres passaram a atuar mais no âmbito estatal, na

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23 tentativa de produzir políticas públicas, o que fez diminuir os questionamentos em relação às instituições (BITTENCOURT apud SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016).

Em relação ao contexto brasileiro, as mulheres conquistaram o direito ao voto de maneira restrita, sendo que a primeira deputada federal da América Latina, Carlota de Queirós, foi eleita para a Assembleia Constituinte de 1933 (FERREIRA apud SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016). Até a década de 1970, porém, poucas mulheres conquistaram o acesso ao espaço decisório, em alguns casos esporádicos (de 1932 a 1963, apenas 4 mulheres tiveram assento na Câmara dos Deputados). Só a partir do final da década de 1980 o cenário começou a ser modificado, devido, entre outros fatores, ao acesso maior a educação superior e a entrada substancial das mulheres no mercado de trabalho (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016).

A criação dos conselhos estaduais dos direitos das mulheres, nos anos 1980, das delegacias especializadas no atendimento de mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, no início do governo civil, e da Secretaria de Política para as Mulheres, em 2003, representaram conquistas no seio do Estado para o feminismo (MIGUEL; BIROLI, 2014).

Além disso, as discussões que antecederam a Constituição de 1988 foram importantes para o movimento de mulheres, que teve parte das suas demandas incorporadas na nova Carta. Esse momento, porém, não culminou em um aumento substancial de mulheres no Legislativo. Na própria Constituinte, havia representação de apenas 5,34% de deputadas (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016).

A primeira Senadora da República foi eleita apenas em 19904; a primeira governadora em 1994; e em 2010 a primeira Presidente da República (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016).

No que diz respeito à Argentina, apesar do movimento de mulheres reivindicar o sufrágio feminino desde o século XIX (BARRANCOS apud RANGEL, 2012), o direito ao voto feminino só foi conquistado na década de 1940. Dois anos após a conquista, foi criado o Partido Peronista Feminino, em 1949, organização que reservava um terço das candidaturas políticas às mulheres.

Mas foi apenas em 1951 que as mulheres argentinas puderem efetivamente exercer o seu direito ao voto, sendo que, na ocasião, o comparecimento feminino às urnas superou o masculino – respectivamente 90% e 86%. Entre as décadas de 1950 e 1970 a participação política das mulheres foi freada com os regimes autoritários instaurados no país. Com a

4 Em 1979, Eunice Michellis (PSD/AM) ocupou vaga no Senado como suplente do senador João Bosco, após seu falecimento. No entanto, apenas na década de 1990 o Brasil contará com senadoras diretamente eleitas pelo povo (POYASTRO, 2006).

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24 transição democrática e a eleição de Raúl Afonsín pela União Cívica Radical, as mulheres puderam voltar a se organizar com mais força, celebrando em 1985 o primeiro Encontro Nacional de Mulheres (RANGEL, 2012).

Após esse período, conforme explica Rangel (2012):

O movimento de reflexão sobre desigualdades entre os sexos seguiu na década de 90, quando a aplicação de ajustes macroeconômicos afetou negativamente as mulheres e levou à tona a feminização da pobreza, em especial no governo Menem (RAGEL, 2012, p. 142).

Mesmo com a feminização da pobreza na Argentina da década de 1990, é interessante observar a consolidação da legislação de cotas para as mulheres nas candidaturas a cargos eletivos. A luta pela participação das mulheres nas instituições políticas culminou, além das cotas para a Cámara de Diputados em 1991, nas cotas para o Senado de la Nación em 2001 e na lei da paridade no legislativo nacional, em 2017.

1.2 Mulheres na política recente de Argentina e Brasil

A sub-representação feminina é uma característica presente nos mais diversos parlamentos ao redor do mundo e, sobretudo a partir das décadas de 1980 e 1990, constitui importante pauta para muitos governos, movimentos sociais e instituições internacionais. Do ponto de vista da política institucional, é válido abordar a política de cotas para mulheres no parlamento, que representa um dos marcos na luta por mais representatividade das mulheres nas esferas decisórias.

Em 2013, 36 países apresentavam algum tipo de incentivo no sistema eleitoral para que as mulheres ocupassem cadeiras no parlamento (DAHLERUP apud SALGADO, GUIMARÃES, MONTE ALTO, 2015), com vistas a diminuir a desproporcionalidade entre homens e mulheres na política. Parte da literatura divide as cotas para mulheres no Legislativo em dois tipos principais: a de representação e a de legislatura. Enquanto as cotas de legislatura dizem respeito a cadeiras efetivamente ocupadas no parlamento, as cotas de representação se baseiam na reserva de vagas para que as mulheres concorram às eleições, o que não significa necessariamente sua entrada no Legislativo. No Brasil, vigora esse segundo tipo (SALGADO, GUIMARÃES, MONTE ALTO, 2015) – assim como na Argentina (ARAÚJO, 2001).

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25 Apesar da inspiração em países escandinavos, a política de cotas para as mulheres disseminou-se mais vigorosamente na América Latina a partir da década de 1990. Porém, diferentemente desses países, que no início adotaram as cotas internamente aos partidos políticos, alguns países latino americanos inovaram ao estabelecer as cotas previstas na própria legislação (SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016).

Um dos primeiros países do mundo a adotar uma lei com a finalidade de assegurar maior representação de mulheres no parlamento foi a Argentina, em 1991. Na América Latina, outros países seguiram o exemplo argentino anos mais tarde – sobretudo após a IV Conferência sobre a Mulher, em 1995, na China (AQUINO, 2016)

Recomendou-se, na época, promover ações afirmativas a fim de reduzir o déficit democrático, por meio da meta de 30% de mulheres em cargos decisórios (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016). Assim, a adoção de cotas parlamentares para mulheres na América Latina ocorreu na década de 1990 com o intuito de mostrar ao mundo uma imagem moderna da região, que havia há pouco se redemocratizado (ARAÚJO; GARCIA apud AQUINO, 2016).

No que tange à Argentina, é importante notar seu pioneirismo em dois aspectos. O primeiro diz respeito à adoção de cotas para mulheres em 1945, ainda que internas ao Partido Peronista e informais; e o segundo se refere à institucionalização das cotas a partir de sua adoção na legislação nacional em 1991 (SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016).

Na Argentina, a Lei nº 24012, Ley de Cupo Femenino, foi aprovada com maioria esmagadora de votos em novembro de 1991. Nos anos seguintes, a legislação foi alterada diversas vezes e contou com efetiva participação do Poder Judiciário, que passou a impugnar listas que não cumprissem a determinação legal. Inclusive, o número de ações judiciais em razão do descumprimento das cotas aumentou a partir das eleições de 1993 (AQUINO, 2016). Em resumo, a legislação argentina prevê 30% de participação de mulheres nas listas dos partidos nas eleições proporcionais, além da previsão de mandato de posição, que determina que as mulheres figurem nas listas alternadamente na proporção de dois para um com os homens.

De 6% de representação de mulheres na Câmara dos Deputados em 1991, a Argentina passou a ter 27,6% em 1997 (LLANOS apud SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016). Anteriormente à sua lei de cotas, a Argentina possuía percentual de mulheres no parlamento semelhante ao brasileiro (AQUINO, 2016). Esse percentual triplicou nas eleições seguintes à aprovação da lei.

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26 Em 1994, as cotas foram aprovadas como Emenda Constitucional na Argentina (MATOS et al apud SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016). Tal fato demonstra a relevância do tema no país, tendo em vista que, além de constar na legislação infraconstitucional, mais facilmente mutável, as cotas passaram a ter status constitucional. Esse fato representa um avanço tanto do ponto de vista jurídico quanto do ponto de vista simbólico.

Além das cotas para a câmara baixa, a partir das eleições de 2001 a Argentina passou a adotar cotas para mulheres para o Senado. As cotas se estenderam à Câmara Alta porque nesse ano as eleições para a Casa passaram a ser diretas (MARX; BORNER; CAMINOTTI, 2006). De 2,8% de representação na Casa nas eleições de 1998, passou-se para 38,9% nas eleições de 2013 (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018).

Outro debate relevante diz respeito à paridade, isto é, 50% de mulheres no legislativo. No ano de 2000, tal debate aprofundou-se na França, a partir da reforma da Constituição (MILLARD; ARCHENTI; TULA apud SILVA; DUTRA; HARVEY, 2016). Até 2014, sete países adotaram paridade para o legislativo na América Latina: Equador (2009), Costa Rica (2009), Bolívia (2010), Nicarágua (2012), Honduras (2012), Panamá (2012) e México (2014) (COGLIANO; DEGIUSTTI, 2018). Em 2017, nessa mesma direção, a Argentina oficializou a paridade de gênero nas listas eleitorais: introduziu-se no Art. 60 do Código Nacional Eleitoral a obrigatoriedade de alternar candidatos de ambos os sexos nas listas de candidaturas. Assim, a Câmara dos Deputados alcançará a paridade em 2021 e o Senado em 2023 (DIRECTORIO LEGISLATIVO, 2017).

Já no Brasil, a primeira legislação que tratava das cotas para mulheres foi a Lei nº 9100/95, destinada às eleições municipais. Ela previa uma reserva de 20% para candidaturas femininas nas Câmaras Municipais. No entanto, ampliou-se também em 20% o número de candidatos por partidos nas eleições, que antes era o mesmo número de vagas disponíveis no pleito (AQUINO, 2016). Apenas em 1997 a legislação em nível nacional foi aprovada.

A Lei eleitoral n. 9.504/97, que estabeleceu diversas normas para as eleições, foi aprovada em 30 de setembro de 1997 e, no concernente às cotas, previu a reserva de um mínimo de 30% e um máximo de 70% para as candidaturas de cada sexo nas eleições para os membros da Câmara dos Deputados, Câmara Legislativa, Assembleia Legislativa e Câmaras Municipais; ou seja, para as eleições que obedecem ao sistema proporcional, motivo pelo qual se exclui o Senado (AQUINO, p. 259, 2016).

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27 No entanto, conforme as últimas eleições de 2014, o país ainda tem porcentagem de mulheres na Câmara dos Deputados (10,7%) menor que a média da América Latina e Caribe (29,3%). Ainda que conte com uma legislação específica para tratar do tema, o Brasil permanece aquém da média mundial (23,7%) no que diz respeito à representatividade de mulheres na câmara baixa (BANCO MUNDIAL, 2018)5.

Considerando a tendência de crescimento de deputadas federais eleitas no Brasil de 1982 a 2014 (5 deputadas por eleição), a paridade de assentos entre sexos no parlamento seria atingida em 176 anos; e considerado a tendência de 1988 a 2014 (crescimento de 3 deputadas por eleição), a paridade seria concretizada em 288 anos (SCHLOTTFELDT; COSTA, 2016).

Há várias diferenças entre o processo de implementação de cotas eleitorais de gênero no Brasil e na Argentina. A primeira delas diz respeito à mobilização da sociedade civil acerca da temática, que na Argentina ocorreu de forma mais acentuada que no Brasil (AQUINO, 2016).

Ainda que as cotas para mulheres no Legislativo de Brasil e Argentina estejam relacionadas às candidaturas e não às cadeiras, neste é obrigatório que a cada dois candidatos homens haja uma candidata mulher. Já no Brasil, ainda que o partido cumpra a reserva de ao menos 30% de mulheres em suas listas de candidaturas, não há ordem pré-definida e nenhuma garantia que a mulher será eleita de fato.

Ainda, na Argentina há punições mais severas para os partidos que descumpram a normativa, diferentemente do Brasil. No caso argentino, os partidos que descumprirem as cotas não terão suas listas oficializadas. Já na legislação brasileira, as punições para o descumprimento da reserva de vagas não são claramente definidas. Mesmo com a Lei n. 12.034/09, que modificou a redação da Lei anterior, não houve mudança substancial nesse aspecto (AQUINO, 2016).

Outro ponto relevante diz respeito ao financiamento de campanha. No Brasil, a maior parte dos candidatos homens recebem doações de pessoas jurídicas, enquanto as mulheres, em sua maioria, recebem doações de pessoas físicas. Logo, as mulheres têm maior dificuldade em conseguir recursos para financiar suas campanhas, já que empresas e partidos priorizam o financiamento de candidatos homens (SALGADO; GUIMARÃES; MONTE-ALTO, 2015). Tendo em vista que no Brasil as eleições dependem do volume de recursos empregados na campanha, isso pode constituir um dos principais gargalos quando se analisa o baixo percentual

5As porcentagens descritas pelo Banco Mundial, atualizadas em 2018 e correspondentes às últimas eleições, dizem respeito às câmaras baixas ou câmaras únicas, quando for o caso.

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28 de mulheres no Legislativo de maneira geral. De forma análoga, o Instituto de Estudos Socioeconômicos afirma que o financiamento privado de campanha reforça as desigualdades na representatividade do parlamento brasileiro, como se pode observar a partir do relatório desse instituto referente às eleições de 2014 (INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS, 2014).

Em 2018, porém o Brasil teve as primeiras eleições em que 30% do fundo partidário foi destinado a candidatas mulheres, em razão de decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal. O percentual de 30% foi definido para complementar a legislação que prevê o mínimo de 30% de mulheres nas listas de candidaturas (BRASIL, 2018e). Essa inovação pode modificar o panorama de mulheres eleitas a partir dos próximos anos6.

É interessante notar que as cotas implementadas no país são direcionadas às candidaturas aos cargos proporcionais (vereadores, deputados estaduais e distritais e deputados federais). Ainda assim, em 2014, mais senadoras entraram na Casa por eleição majoritária do que deputadas federais por eleição proporcional, em números percentuais – 14,8% de senadoras e 10,7% de deputadas (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018). Em 2018, há treze senadoras em exercício, o que significa dizer que mais da metade das Unidades da Federação brasileiras não tem representação das mulheres no Senado (BRASIL, [2018?a]).

No Gráfico 1 é possível observar o gradual crescimento no número de representantes mulheres no Senado Federal brasileiro:

Gráfico 1 – Porcentagem (%) de mulheres e homens que já ocuparam vaga no Senado brasileiro pós-1988

Fonte: SILVA, Noëlle da et al, 2017.

6 Nas eleições para a Câmara dos Deputados de 2018 isso já ocorreu: de 10% de mulheres, a Casa passou a ter 15% de deputadas federais.

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29 Verifica-se que, de 1991 a 2019, a representação das mulheres passou de 5% a 17%. Ainda, apesar de 52% do eleitorado brasileiro ser formado por mulheres, elas foram apenas 31,89% dos candidatos às eleições municipais de 2016. Esse montante de candidatas representa pouco mais que o necessário de acordo com a Lei nº 9.504/1997: a lei de cotas. Ainda nesse contexto, 16 mil candidatos “laranjas” – que não receberam nenhum voto – estiveram nas eleições de 2016, e quase 90% deles foram mulheres (BRASIL, 2018b). Em relação às prefeituras, mais de 90% foram conquistadas por candidatos homens (LEAL, 2016).

Quanto ao Congresso Nacional de forma geral, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) divulgou, em 2017, lista com os cem parlamentares mais influentes, de acordo com os seguintes critérios:

capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações, seja pelo saber, senso de oportunidade, eficiência na leitura da realidade, que é dinâmica, e, principalmente, facilidade para conceber ideias, constituir posições, elaborar propostas e projetá-las para o centro do debate, liderando sua repercussão e tomada de decisão (DEPARTAMENTO..., 2017, p. 3).

Nessa lista, figuraram 12 mulheres, frente a 88 homens, entre deputados e senadores. Isso corresponde à proporção semelhante de mulheres nas Casas entre 2014 e 2018, respectivamente 10,70% na Câmara dos Deputados e 14,80% no Senado Federal (DEPARTAMENTO..., 2017) (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018).

Enfim, ao analisar as modificações na legislação Argentina, vê-se uma constante busca pelo aumento da representação de mulheres no parlamento. Em contrapartida, o Brasil permanece com uma baixa porcentagem de mulheres nas duas Casas legislativas, ainda que tenha adotado as cotas para candidaturas em nível nacional em 1997, permanecendo muito defasado no que diz respeito ao acesso de mulheres no legislativo.

1.3 Senado na Argentina e no Brasil

Por serem sistema federativos, Brasil e Argentina possuem uma Casa legislativa que representa os interesses de seus estados/províncias. Apesar de várias semelhanças, as duas Casas possuem algumas distinções em suas regras, como pode ser observado no Quadro 1.

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Quadro 1 – Características dos Senados do Brasil e da Argentina

Senado argentino Senado brasileiro Número de representantes

72 81

Quantidade de senadores por

província/estado 3 3

Idade mínima para se eleger

30 anos 35 anos

Renda mínima Sim Não

Duração do mandato

6 anos 8 anos

Periodicidade das eleições

Bienal: há renovação de 1/3 dos senadores a cada dois

anos

Quadrienal: há renovação parcial a cada quatro anos de

1/3 e 2/3 da Casa, alternadamente Possibilidade de reeleição

Sim Sim

Método de escolha dos

senadores Sistema majoritário Sistema majoritário Cotas para mulheres

Sim, desde 2001. Não

Presidência

O vice-presidente da nação será presidente do Senado

Os senadores irão eleger o presidente do Senado entre

seus pares Fonte: Elaboração própria, a partir de Argentina (201?a), Brasil (2017?) e Cogliano e Degiustti (2018).

A Argentina possui 23 províncias e a Cidade Autônoma de Buenos Aires, o que totaliza 24 circunscrições para as eleições do Senado. Sendo assim, o Senado possui 72 senadores, já que são eleitos 3 senadores por circunscrição (OBSERVATÓRIO..., s.d.). No Brasil ocorre um processo semelhante: são eleitos 3 senadores por unidade da federação. Já que são 26 estados no país, mais o Distrito Federal, o Senado é composto por 81 representantes (BRASIL, 2017?).

Como visto no Quadro 1, tanto o Brasil quanto a Argentina adotam sistema majoritário para o Senado Federal.

Apesar das variedades que o sistema eleitoral majoritário possui, o que as torna comum é o princípio de que são eleitos os candidatos com o maior número de votos, sem levar em conta a votação do partido. Já o sistema proporcional assegura uma participação percentual de

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31 diferentes partidos na totalidade do parlamento. O sistema proporcional busca assegurar uma participação governamental de forças antagônicas e por vezes minoritárias. Para isso, foi instaurado o mecanismo de listas partidárias, que seria coerente com a ideia proposta no sistema (TAVARES, 1994).

No caso da Argentina, o sistema de eleições para o Senado possui características híbridas do sistema majoritário com o proporcional. Apesar das eleições para o Senado de la nación serem majoritárias, há o mecanismo das listas partidárias, garantindo alguma proporcionalidade às eleições (INTERNATIONAL..., 2018). Elegem-se três senadores por província, sendo que dois são do partido mais votado e um do segundo partido mais votado, representando a minoria (ARGENTINA, 2008). No entanto, mesmo com o mecanismo de listas, elegem-se as forças majoritárias em disputa.

Além disso, na Argentina, os senadores são renovados por terços a cada dois anos. Seus mandatos são de seis anos (ARGENTINA, 2008).

Já no Brasil, um terço do Senado é renovado a cada quatro anos, e dois terços quatro anos depois, alternadamente, sendo que o mandato dura oito anos e são eleitos os candidatos com maior número de votos (BRASIL, [2017?]).

Cabe ressaltar que, a partir das eleições de 2001, a Argentina passou a adotar cotas para mulheres para o Senado (MARX; BORNER; CAMINOTTI, 2006). Já o Brasil não adota nenhum tipo de cota para o Senado, ainda que haja proporcionalmente mais senadoras que deputadas federais no país. O Código Eleitoral argentino, em seu artigo 60, que trata da organização das listas dos candidatos às eleições, dispõe que, nas eleições para o Senado, as listas deverão apresentar dois candidatos de sexos diferentes, tanto para os cargos de titulares quanto para os de suplentes (INTERNATIONAL..., 2018).

Outra diferença importante entre as duas Casas é relativa ao seu presidente. Enquanto na Argentina o presidente do Senado é o vice-presidente da nação, no Brasil o presidente do Senado é eleito entre seus pares (ARGENTINA, [201?a]). Essa diferença é relevante sobretudo em relação ao controle da agenda legislativa. Uma vez que o presidente da Casa, no caso da Argentina, advém do Poder Executivo, há uma interferência direta da agenda legislativa pela coalização governista. No caso do Brasil, uma vez que o presidente é eleito entre os próprios senadores, existe, em tese, uma maior autonomia da agenda legislativa do Senado Federal.

Além disso, o Senado de ambos os países tem algumas particularidades em relação à Câmara dos Deputados. Em primeiro lugar, os eleitos para a Casa em geral já exerceram cargos anteriores de prestígio, como ministros, governadores e até mesmo presidentes. Ainda, a idade

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32 mínima para se candidatar para o cargo no Brasil é de 35 anos (enquanto para os deputados federais essa idade é de 21 anos) (SILVA et al, 2017). Na Argentina, a idade mínima para se candidatar para o Senado é de 30 anos, além de ser necessário haver uma renda mínima de dois mil pesos (para se eleger deputado federal a idade mínima é de 25 anos, sem renda mínima) (ARGENTINA, [201?a]).

Em relação as particularidades dos Senados dos dois países em relação a outros cargos no legislativo, é importante mencionar estudos anteriores sobre o tema, como o de Bohn (2008) e SILVA et al (2017).

Conquistar uma vaga para o Senado é mais difícil do ponto de vista da competitividade, tendo em vista alguns fatores como: a magnitude do distrito e consequentemente a necessidade de mais recursos de campanha; a posição de prestígio no campo político que ocupa um senador; e a experiência em cargos eletivos anteriores, entendida na literatura como “qualidade” dos candidatos (ABRAMOWITZ; FRANCIS; WESTLYE apud BOHN, 2008).

Em relação à magnitude do distrito, basta ver que tanto na Argentina quanto no Brasil há três vagas no Senado por província/unidade da federação, enquanto a representação na Câmara dos Deputados é proporcional à população dos Estados. Em Buenos Aires e São Paulo (maiores circunscrições eleitorais de Argentina e Brasil, respectivamente), por exemplo, há 70 deputados e três senadores, o que revela a maior competitividade entre candidatos para o Senado (ARGENTINA, [201?a]; BRASIL, 2017?)

Ademais, em estudo elaborado por Silva et al (2017), os autores apresentam que, de 2003 a 2016, 76% das senadoras já havia ocupado cargo eletivo anterior ao Senado (a maior parte com mandatos anteriores no legislativo). Algumas senadoras já haviam sido prefeitas, vice-prefeitas, ministras, diretoras de entes da administração indireta, secretárias de estado e inclusive governadora (no caso de Roseana Sarney, do PMDB-MA). Esses dados demonstram que as senadoras eleitas tinham relevante experiência prévia à ocupação do cargo, inclusive em cargos do Poder Executivo. Tal panorama indica que a carreira política das senadoras eleitas no Brasil é relevante para entender sua posição na Casa.

Em conclusão, a posição de senador/senadora no Brasil e na Argentina indica uma carreira política mais extensa e consolidada, em comparação às câmaras baixas, o que merece destaque tendo em vista que a maior parte dos estudos sobre gênero e legislativo investigam as câmaras de deputados.

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1.4 Reflexões finais do capítulo

Apesar do voto feminino no Brasil ter sido implementado em 1932, 15 anos antes do que na Argentina, o país tem tido menos avanços do ponto de vista institucional nas últimas décadas, quando se analisa o acesso das mulheres na esfera política.

A Argentina foi pioneira na América Latina sobretudo em dois aspectos: foi o primeiro país no mundo a adotar cotas partidárias, em 1945, e, em 1991, adotou as cotas para a Câmara dos Deputados em sua legislação nacional.

Ademais, prosseguindo com avanços na legislação, em 2001, a Argentina implementou as cotas para o Senado, e, em 2017, aprovou a lei de paridade de gênero para o legislativo nacional. Tais políticas representam diferenças marcantes em relação ao Brasil, do ponto de vista da institucionalização de regras de acesso mais igualitárias para homens e mulheres.

Em 2021, na Cámara de Diputados de la Nación, e em 2023, no Senado de la Nación, a Argentina terá 50% de mulheres e 50% dos homens. É importante ressaltar que uma situação de equilíbrio do ponto de vista da presença das mulheres vem acompanhada de quase três décadas de avanços institucionais no país.

Já o Brasil, de 1997 até 2018, com duas décadas desde a implementação das cotas nas eleições proporcionais, pouco alterou a composição do legislativo em relação ao sexo dos parlamentares. Algumas alterações pontuais foram feitas na legislação, como a partir da Lei n. 12.034/09. Ainda, em 2018 uma mudança conduzida pelo Supremo Tribunal Federal foi realizada, e 30% dos recursos do fundo partidário foram destinados a candidatas mulheres.

Além disso, algumas semelhanças entre o Senado de la Nación e o Senado Federal podem ser observadas. O número de senadores por província/estado, a possibilidade de reeleição dos senadores, a adoção do sistema eleitoral majoritário, e a grande competitividade nas eleições para a Casa são algumas delas. Ademais, destaca-se que a carreira política de um senador ou uma senadora, em geral, é mais extensa e consolidada que outras posições, justamente por este ser um cargo de alto prestígio na arena política.

Porém, há que se ressaltar algumas distinções entre as duas Casas. Em primeiro lugar, a adoção das cotas na Argentina desde 2001 fez com que o número de mulheres nesse espaço ficasse em torno de 40%, diferentemente do caso brasileiro. Ainda, há que se ressaltar que o vice-presidente da Argentina é também o presidente do Senado, fazendo com que o legislativo tenha grande influência da agenda da coalização governista.

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CAPÍTULO 2. DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO NO PARLAMENTO

O foco do trabalho está em entender como se processa a divisão sexual do trabalho no parlamento, e se ela pode ser atenuada nas Casas em que a presença das mulheres é maior proporcionalmente. Nesse sentido, o capítulo conterá a discussão sobre a inserção do trabalho dentro do campo de estudos latino-americanos (NOVION; COSTILLA; AYALA, 2014); as ausências de certos grupos no parlamento (COLLIN, 2009; DUTRA; BANDEIRA, 2015; LUGONES, 2011; MIGUEL; BIROLI, 2014), alguns conceitos importantes para entender a representação das mulheres no parlamento (PHILLIPS, 2001; PITKIN, 1979; YOUNG, 2006) e elementos para entender como se processa a divisão sexual do trabalho no legislativo (HIRATA; KERGOAT, 2007; BIROLI, 2016; KERGOAT, 2009).

2.1 Inserção do trabalho dentro do campo de estudos latino-americanos

Os estudos latino-americanos começaram a ser produzidos com maior intensidade a partir tanto dos processos de autonomia política das colônias frente às metrópoles quanto de suas estruturações internas. Um dos momentos marcantes do campo foi o período das ditaduras no final do século XX, período em que intelectuais exilados de diversos países trocaram ideias e conhecimentos (NOVION; COSTILLA; AYALA, 2014).

Segundo Novion, Castillo e Ayala (2014), nas últimas seis décadas, o campo ganhou relevância no contexto das ciências sociais, como forma de pensar alternativas para os reveses internos dos países da região.

O campo dos estudos latino-americanos é composto de uma variedade de temas que dialogam de forma a produzir um conhecimento crítico a partir de perspectivas latino-americanas. Uma das características mais importantes do campo é sua interdisciplinaridade.

A proposta metodológica dos estudos latino-americanos envolve quatro eixos temáticos. O primeiro diz respeito à construção do conhecimento a partir da perspectiva latino-americana, e não a partir da mera reprodução do conhecimento dos países centrais. O segundo eixo refere-se à interdisciplinaridade que o tema deve abarcar. Já o terceiro é a produção de conhecimento através da comparação. Por último, destaca-se a produção de conhecimento que tenha como objetivo a transformação da realidade social (NOVION; COSTILLA; AYALA, 2014).

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35 Considerando esses preceitos, o presente estudo pretende incorporar a maior parte dos eixos citados. Como será explicado a seguir, buscou-se trabalhar a interdisciplinaridade, a perspectiva comparada e a reflexão crítica sobre a divisão sexual de trabalho.

Buscando a interdisciplinaridade, esta dissertação procura integrar conceitos e conhecimentos da ciência política e da sociologia. A literatura da divisão sexual de trabalho está muito presente no âmbito da sociologia (BIROLI, 2016). Já no que diz respeito a estudos sobre o legislativo no campo da ciência política, o debate sobre divisão sexual do trabalho é reduzido. São ainda poucos os estudos que relacionam a dicotomia entre esfera pública e privada ao trabalho legislativo. Nesse sentido, a principal contribuição da pesquisa será integrar os conceitos sobre divisão sexual de trabalho com as atividades de homens e mulheres em uma das instituições mais importantes do Estado moderno: o parlamento.

O eixo referente à comparação também consta no trabalho, com a análise de casos dos Senados brasileiro e argentino. Apesar de muitas similaridades entre os dois países (governo republicano, sistema presidencialista, bicameralismo e forma federativa de Estado), a composição do legislativo de cada um deles, em relação ao sexo, é muito diversa. Enquanto a Argentina, de 2011 a 2015, tinha cerca de 39% de mulheres no Senado, o Brasil contava com 16%, menos que a metade (INTER-PARLIAMENTARY UNION, 2018). Dessa forma, julgou-se interessante verificar julgou-se havia alguma diferença entre a divisão julgou-sexual de trabalho conforme a maior ou menor presença de mulheres em cada Casa.

Por fim, o presente trabalho tem a intenção de refletir criticamente sobre a divisão sexual do trabalho e como ela se desenvolve inclusive nas instituições políticas formais. Esse propósito baseia-se justamente na criticidade inerente aos estudos latino-americanos.

A principal ideia utilizada no estudo é a de que o avanço nos direitos das minorias políticas passa pelo peso que elas têm nas decisões do país, para quaisquer temas. Nesse sentido, buscou-se estudar se uma maior presença de mulheres no legislativo pode indicar maior liberdade para falar de temas que não se espera que as mulheres discutam, tendo em vista a construção social em torno do gênero.

2.2 Ausências

Uma contribuição importante dentro dos estudos-latino americanos é referente ao feminismo descolonial. A corrente questiona os pressupostos do feminismo tradicional

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36 hegemônico, que cria uma representação única da mulher, desconsiderando as múltiplas particularidades entre as mulheres.

As mulheres, desde a origem da filosofia ocidental, eram consideradas como o “outro” em relação aos homens (COLLIN, 2009). Os argumentos que advogavam essa ideia envolviam a noção de que a mulher é emocional enquanto o homem é racional; a mulher está atrelada ao obscurantismo e ao mistério enquanto o homem traz objetividade.

A mesma construção do pensamento voltada para o sujeito universal burguês europeu que considera o latino-americano como outro, atinge as mulheres. “‘Homem’ significa ser humano sem restrições” (COLLIN, 2009, p. 63). O feminismo veio para desconstruir essa lógica, ao valorizar a mulher enquanto sujeito. Porém, as teorias feministas advindas da Europa não atenderam plenamente às problemáticas da América Latina, já que foram elaboradas para questionar o universalismo centrado no homem europeu.

Ademais, uma das heranças da modernidade foi a lógica categorial dicotômica e hierárquica do sistema colonial moderno. Dessa maneira, tem-se uma pirâmide, em que o homem branco burguês está no topo; a mulher branca burguesa vem em seguida; o homem negro/indígena depois; e a mulher negra/indígena vem em último lugar (LUGONES, 2011). Ao analisar o ponto comum entre o feminismo descolonial e o feminismo comunitário indígena, por exemplo, Dutra e Bandeira (2015) concluem que ele está nas “pensadoras que buscam sair do discurso que ‘nega as diferenças entre ‘as mulheres’ ” e produz “por um lado, lugares de enunciação privilegiados, e por outro, marginais” (ESPINOZA et al apud DUTRA; BANDEIRA, 2015).

Na visão de Maria Lugones (2011), o feminismo descolonial vem como proposta alternativa para contrapor o universalismo do feminismo tradicional, que enxerga a mulher como um sujeito de características únicas e demandas comuns. O essencialismo inerente ao feminismo tradicional considera a mulher europeia/americana como sujeito a ser emancipado das amarras do patriarcado, desconsiderando aspectos importantes como raça, etnia, classe social e nacionalidade. Assim, Lugones destaca a importância do conceito de interseccionalidade. Afinal, a intersecção entre raça, classe, sexualidade e gênero são fundamentais para dar visibilidade a todos os sujeitos.

Uma das grandes contribuições dos estudos de gênero e de feminismos que saem do tradicional/hegemônico é justamente quebrar essa lógica classificatória estática dos sujeitos, e considerar que as categorias devem ter mais fluidez, de forma a poder captar melhor realidades com singularidades próprias à região e aos grupos humanos estudados.

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Tabela 1 – Brasil e Argentina no ranking da Inter-Parliamentary Union 2
Gráfico 1 – Porcentagem (%) de mulheres e homens que já ocuparam vaga no Senado  brasileiro pós-1988
Tabela 4 – Projetos de lei apresentados de 01/01/2011 a 31/12/2014 no Senado brasileiro
Tabela 6 – Projetos de lei apresentados na área econômica: tributação, Brasil, 2011 a  2014
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Referências

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