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Huysmans, o crítico e o escritor, consciente de uma abordagem intertextual

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Academic year: 2020

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HUYSMANSi O CRITICO E O ESCRITOR, CONSCIENTE DE UMA ABORDAGEM INTERTEXTUAL

L u i z Antonio AMARAL* O romance L à - B a s se i n i c i a com um d i á l o g o e n t r e duas personagens - D u r t a l e des Hermies - que, ao longo da n a r r a t i v a , mostrar-se-ao, uma como sendo o desdobramento da outras uma è a imagem da o u t r a . D u r t a l - a personagem c e n t r a l - tem em des Hermies o seu contraponto, o seu duplo, a sua c o n s c i ê n c i a o u t r a que v a i o r i e n t á - l o na "viagem" a s e r empreendida, n ã o num tempo e e s p a ç o f o r j a d o s no normativo mas, e sobretudo, no t r a n s g r e s s i v o . Nesse s e n t i d o , è o e s p a ç o -tempo c o n t e m p o r â n e o da personagem que será

f r e q ü e n t e m e n t e negado - s e j a a Tour E i f f e l , o Arco do T r i u n f o ou outro qualquer monumento -evento que r e f e r e n c i e o a t u a l / o r e a l s e j a , por exemplo, o desprezo p e l a s e l e i ç õ e s que d e c i d i r ã o a s o r t e do general Georges Boulanger.

A viagem que D u r t a l e m p r e e n d e r á n ã o exige nenhum deslocamento maior, e l a pode a c o n t e c e r no i n t e r i o r de alguns e s p a ç o s apenas: seu apartamento/o apartamento de des Hermies/a c a s a - i g r e j a dos C a r h a i x - a S a i n t S u l p i c e , p o i s e l a acontece no e s p i r i t o , na alma de D u r t a l e se m o s t r a r á na sua e s c r i t u r a . É no processo e s c r i t u r a i que se encontra o r o t e i r o da viagem de D u r t a l e ê a t r a v é s d e l e que a personagem r e a l i z a r á a sua desc i d a

"... aux e n f e r s de l a c u l t u r e . E x p é r i e n c e , non p l u s de l a langueur et de 1 ' en 1 isement , mais du v e r t i g e

•Departamento de Letras Hodernas Faculdade de Ciências e Letras UNESP -Caipus de Araraquara - SP.

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et du g o u f f r e . Epreuve, ( . . . ) , du p é c h é et de l a s o u i l l u r e , de l a t r a n s g r e s s i o n et du s a c r é : avec une audace i n g é n u e , Durtal part à l a r e c h e r c h e de S a t a n . " ( 2 , p. 10 - Yves Hersant ) . Para r e a l i z a r t a l façanha» è p r e c i s o que D u r t a l c o n s t r u a um p r o j e t o e s t é t i c o que u l t r a p a s s e os l i m i t e s propostos pelo Realismo-Naturalismo. Na c o n s t r u ç ã o desse p r o j e t o e l e t e r á o apoio e a o r i e n t a ç ã o de des Hermies. A l i á s , superar a e s t é t i c a r e a l i s t a / n a t u r a l i s t a e s t á já na e s s ê n c i a e x i s t e n c i a l de D u r t a l v i s t o a constante d e n e g a ç ã o de tudo que s i g n i f i q u e o aqui e agora d e l e . 0 aqui l h e causa imenso desgosto, há n e l e um h o r r o r v i s c e r a l p e l o s l u g a r e s q u o t i d i a n o s , p e l o s ambientes pequeno-burgueses da cidade de P a r i s : " D u r t a l se l a i s s a vagabonder, l o i n de l a v i l l e . I I se d i s a i t , regardant c e t t e p i è c e intime et c e s bonnes gens: s i 1 ' on p o u v a i t , en agençant c e t t e chambre, s ' i n s t a l l e r i c i , au-dessus de P a r i s , un s è j o u r balsamique et d o u i l l e t , un havre t i è d e . A l o r s , on p o u r r a i t mener, s e u l , dans l e s nuages, l à - h a u t , l a r é p a r a n t e v i e des s o l i t u d e s et p a r f a i r e , pendant des a n n é e s , son l i v r e . Et p u i s , quel fabuleux bonheur ce s e r a i t que d ' e x i s t e r e n f i n , à l'écart du temps, e t , a l o r s que l e r a z de l a s o t t i s e humaine v i e n d r a i t d é f e r l e r au bas des t o u r s , de f e u i l l e t e r de t r e s vieux bouquins, sous l e s l u e u r s r a b a t t u e s d'une ardente lampe!" ( 2 , p. 63)

E em " c e t t e p i è c e " - c a s a - t o r r e - i g r e j a dos Carhaix - que Durtal d e s c o b r i r á a v e r t i c a l i d a d e , as o p o s i ç õ e s "bas-haut" tão

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comuns ao e s p a ç o e c u l t o r e l i g i o s o s , i n c l u s i v e o do c r i s t i a n i s m o . £ n e l a que e l e terá a p e r c e p ç ã o c l a r a do encontro e n t r e os p ó l o s s u p e r i o r - i n f e r i o r que sempre se tocam. A escada da i g r e j a , t a n t a s vezes p e r c o r r i d a de a l t o a b a i x o , ou v i c e - v e r s a , é a m e t á f o r a do seu caminho para a i n i c i a ç ã o , para o seu mergulho no abismo, para o aprendizado do

i r r a c i o n a l , i s t o porque

" < · . . ) aucune d è c o u v e r t e n ' e s t , sans l ' a i d e de Satan, p o s s i b l e . " <2, p. 10?)

E s s a s e r á a lição p r i n c i p a l que D u r t a l e x t r a i r á do seu estudo minucioso sobre a v i d a de G i l l e s de R a i s - estranho paradoxo - e l e

que quer e n s i n a r sobre a verdade daquele " h e r ó i " medieval, termina por aprender a e s s ê n c i a do m i s t i c i s m o , a t r a v é s de caminhos os mais c o n t r a d i t ó r i o s : o da pureza e o da

impureza* o do profano e o do sagrado; o das t r e v a s e o das l u z e s , o do " T r è s - B a s " e o do " T r è s - H a u t " .

Desse ponto de v i s t a , L à - B a s n ã o se pode c i r c u n s c r e v e r à c a t e g o r i a dos romances-documento sobre s e m e l h a n ç a s e d i f e r e n ç a s e n t r e o o c u l t i s m o e o satanismo, nem è tampouco um romance c o n f e s s i o n a l sobre o p e r c u r s o n e c e s s á r i o para quem quer a t i n g i r o " T r è s - H a u t " . L à - B a s se a p r e s e n t a como um romance de s u p e r a ç ã o de um p r o j e t o e s t é t i c o v i g e n t e , de s u p e r a ç ã o de uma n a r r a t i v a que se esgotava no " b a s - v e n t r e " dos e p í g o n o s de Zola e suas propostas r a s t e i r a s de m a t e r i a l i s m o na l i t e r a t u r a , e x t r a í d a s de f a i t s - d i v e r s ou quaisquer o u t r a s n o t i c i a s de j o r n a l . Em L à - B a s de Huysmans e a Vida de G i l l e s de R a i s de D u r t a l h á um "mise-en-abime" da c o n s t r u ç ã o l i t e r á r i a , onde a u t o r / e s c r i t o r , r e a l / f i c c i o n a l se imbricam para r e s u l t a r numa obra para além das p o s s i b i l i d a d e s r e d u c i o n i s t a s que l e i t u r a s de r o t u l a ç ã o poderiam o f e r e c e r . É o que podemos

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perceber nesse c o m e n t á r i o arguto de Yves Hersant:

" ( . . . ) : l e s aventures de D u r t a l forment bien a u t r e chose qu'un d o s s i e r s u r l e s p r a t i q u e s d é m o n o l S t r e s j et bien mieux qu'un t è m o i g n a g e s u r l e s a f f r e s d'une ame i n q u i e t e . C L à - B a s D en tant que récit C e s t 3 l a b y r i n t h i q u e , immense d é d a l e n a r r a t i f oú l e l e c t e u r s'égare voluptueusement. Pas d ' i n t r i g u e l i n è a i r e : mais une m u l t i p l i c i t é s a i s i s s a n t e , un perpetuei j e u de renversements i un e n c h e v ê t r e m e n t des temps et des espaces oü cohabitent

l e s morts et l e s v i v a n t s . Avec s e s j e u K de m i r o i r s , s e s c o n s t a n t e s b i f u r c a t i a n s , s e s personnages d é d o u b l é s , l e t e x t e p r e s e n t e l e monde comme une enigme» et en e x a l t e p a r f o i s jusqu'au d e l i r e l a c o m p l è x i t è et l a r i c h e s s e . " ( 2 , p. 21/82)

E dessa p e r s p e c t i v a l a b i r í n t i c a , de espelhamento, de d e s c i d a s e s u b i d a s , de desdobramentos e de e s p i r a i s que o romance L à - B a s se c o l o c a , e n t r e a p r o d u ç ã o l i t e r á r i a de vanguarda, como romance da modernidade e como t a l , pode e deve se a t u a l i z a r . Para t a n t o , b a s t a pensarmos no i r r a c i o n a l que nos

impulsiona e nos c e r c a no quotidiano, abrangendo tanto as mais f i n a s descobertas das c i ê n c i a s - a voz num gravador, o d i s c o a

l a s e r , a imagem que se propaga e penetra nossa i n t i m i d a d e a t r a v é s da t e l e v i s ã o , e por mais que a c i ê n c i a explique o f e n ô m e n o , e l e em s i u l t r a p a s s a qualquer r a c i o n a l i z a ç ã o -como a i d a a uma s e s s ã o e s p i r i t a K a r d e c i s t a o u v i r dos e s p í r i t o s incorporados as suas mensagens, para entendermos e nos vermos espelhados no nosso duplo Durtal - uma personagem a n t e c i p a d o r a das nossas p r e s e n t e s p e r p l e x i d a d e s . E l e nos o r i e n t a para o

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s i n c r e t i s m o da a l q u i m i a / c i ê n c i a / m i s t i c i s m o , c u j o ponto u n i f i c a d o r è a d e m o n s t r a ç ã o da r e a l i d a d e i n v i s í v e l , s e j a para o Bem, ou para o Mal, pouco importa.

0 d i á l o g o que está na a b e r t u r a do romance tem por tema a c r i t i c a à personagem e s t è t i c o - 1 i t e r á r i a do r e a l i s m o - n a t u r a l i s m o . E des Hermies - um m é d i c a ! - quem demonstra as r e s t r i ç õ e s das propostas dos adeptos de Z o l a . T a i s r e s t r i ç õ e s nSo se colocam nem quanto aos assuntos do romance moderno - o a d u l t é r i o , o amor, a a m b i ç ã o - nem tampouco em r e l a ç ã o ao conjunto l e x i c a l , i s t o porque t a i s assuntos exigem que sejam desenvolvidos a p a r t i r de um v o c a b u l á r i o p r e c i s o . A c r i t i c a está na i d e o l o g i a v e i c u l a d a pelo programa e no reducionismo que e s t e i m p l i c a , ou s e j a , todos os dramas da alma humana se reduzem aos a p e t i t e s e i n s t i n t o s humanos. Para des Hermies, o n a t u r a l i s m o , ao denegar o sonho, ao r e j e i t a r o s u p r a - s e n s i v e l , acaba por se r e s t r i n g i r e se c o n f i n a r nas "buanderies de l a c h a i r " , o que r e s u l t a na m u t i l a ç ã o da p r ó p r i a e x p r e s s ã o a r t í s t i c a que, nesse caso, e s t a r á p r i v a d a das s u t i l e z a s que l h e seriam i n e r e n t e s :

"En somme, C i e n a t u r a l i s m e ! n'a f o u i l l é que des dessous de nombril et banalement divague d ê s q u ' i l s'approchait des a i n e s ; c ' e s t un h e r n i a i r e de sentiments, un bandagiste d'ame et voilà t o u t ! " (S, P. 28)

Durtal está de acordo com as c r i t i c a s f e i t a s por des Hermies c o n t r a o n a t u r a l i s m o . E l e também sente r e p u g n â n c i a pelo m a t e r i a l i s m o mas n ã o pode d e i x a r de reconhecer os a v a n ç o s que os n a t u r a l i s t a s p r o p i c i a r a m à a r t e , sobretudo, à l i b e r t a ç ã o da l i t e r a t u r a de um i d e a l i s m o "de ganache", propagado pelo romantismo. Além d i s s o , e l e s são r e s p o n s á v e i s p e l a c r i a ç ã o de s e r e s

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" v i s í v e i s e p a l p á v e i s " , de acordo com os seus " a l e n t o u r s " , bem como a a m p l i a ç ã o do campo de a b r a n g ê n c i a do c ó d i g o l i n g ü í s t i c o que já h a v i a s i d o desamarrado das r e g r a s r e s t r i t i v a s c l á s s i c a s p e l o s r o m â n t i c o s . Nesse s e n t i d o , D u r t a l se apoia em B a l z a c , S t e n d h a l , F l a u b e r t , os de Goncourt e Z o l a .

Des Hermies também está de acordo com o desenvolvimento e s t é t i c o de t a i s a u t o r i d a d e s :

"- Je t e 1'accordej i l s sont , ceux-là, de probes, et de s ê d i t i e u x et de h a u t a i n s a r t i s t e s , a u s s i j e l e s p l a c e tout à f a i t à p a r t . J'avoue m ê m e , et sans me f a i r e p r i e r , que Zola e s t un grand p a y s a g i s t e et un prodigieux manieur de masses et truchement de peuple. P u i s i l n'a, ( . . . ) , pas s u i v i jusqu'au bout dans s e s romans l e s t h é o r i e s de s e s a r t i c l e s qui adulent l ' i n t r u s i o n du p o s i t i v i s m e en l ' a r t . "

( 2 , P. 29)

0 problema s e l o c a l i z a no â m b i t o dos e p í g o n o s , ou s e j a , os e s c r i t o r e s p e r i f é r i c o s que seguem r e g r a s , produzindo obras de " l a b o r a t ó r i o , e x p e r i m e n t a i s " com o ú n i c o o b j e t i v o de comprovar a t e o r i a , de e x e r c i t a r apenas e mecanicamente o imposto p e l a " e s c o l a nat u r a l i s t a".

D u r t a l n ã o pretende s e r um e p í g o n o e e l e sabe que des Hermies está coberto de r a z ã o , p o i s , já h a v i a percebido h á algum tempo que as t e o r i a s alimentadas por um c e r t o n a t u r a l i s m o n ã o o estavam s a t i s f a z e n d o mais. Como e s c r i t o r s e n s í v e l e l e intuía a f a l ê n c i a daquelas t e o r i a s para a c o n s t r u ç ã o romancesca. A s i t u a ç ã o que se c o l o c a para Durtal é a de impasse, a de beco-sem-saida p o i s , como r e n u n c i a r à veracidade da d o c u m e n t a ç ã o , à p r e c i s ã o do d e t a l h e , à

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ao mesmo tempo, e v i t a r a s e x p l i c a ç õ e s s u p e r f i c i a i s o f e r e c i d a s p e l a s t e o r i a s c i e n t i f i c a s sobre os m i s t é r i o s da alma? Como c o n c i l i a r suas r e f l e x õ e s e s t é t i c o - 1 i t e r á r i a s com a t e o r i a proposta por Zola?

E n c o n t r a r a s o l u ç ã o para t a l impasse é o o b j e t i v o do seu p r o j e t o de c r i a ç ã o romanesca, a p a r t i r da r e c u p e r a ç ã o da b i o g r a f i a de G i l l e s de R a i s . Seu romance, embora n ã o renuncie à grande v i a a b e r t a por Z o l a , terá duas p a r t e s que, ao invés de estarem separadas, se c o n f u n d i r ã o

freqlientemente, t a l qual a v i d a que n ã o separa o corpo da alma, buscando sempre as r e a ç õ e s , os c o n f l i t o s e as c o n c o r d â n c i a s dos d o i s componentes v i t a i s : os do corpo e os da alma simultaneamente. Para e l e , t a l impasse só pode s e r r e s o l v i d o do s e g u i n t e modo: " I I f a u d r a i t , en un mot, s u i v r e l a grande v o i e s i p r o f o n d é m e n t c r e u s è e par Z o l a , mais i l s e r a i t n é c e s s a i r e a u s s i de t r a c e r en l ' a i r un chemin p a r a l l è l e , une a u t r e r o u t e , d ' a t t e i n d r e l e s en deçà et l e s a p r è s , de f a i r e , en un mot, un n a t u r a l i s m e s p i r i t u a l i s t e ; ( . . . ) . " (£, P . 31) (o g r i f o é nosso)

E assim que Durtal se d e f i n e : como um pesquisador do n a t u r a l i s m o e s p i r i t u a l i s t a no campo da a r t e l i t e r á r i a . Cabe e n t ã o e x p l i c i t a r sua metodologia bem como o c o n s t r u c t o da sua t e o r i a que se deixam c a p t a r ao longo da n a r r a t i v a de L à - B a s e que tentaremos s i n t e t i z a r n e s t a p a r t e do t r a b a l h o .

A chave t e ó r i c a que Durtal procura para desenvolver sua proposta de n a t u r a l i s m o e s p i r i t u a l i s t a , e l e , aparentemente, a toma de e m p r é s t i m o de uma outra linguagem a r t í s t i c a : a p i n t u r a . Sobretudo, a p i n t u r a r e a l i z a d a

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p e l o s chamados P r i m i t i v o s flamengos, que e l e conhecera, ao v i s i t a r um museu na Alemanha.

Abre-se, a q u i , uma d i s c u s s ã o sobre uma das q u e s t õ e s fundamentais da t e o r i a da c o n s t r u ç ã o romanesca, ou s e j a , a da r e l a ç ã o e n t r e d e s c r i ç ã o e p i n t u r a , i s t o é , e n t r e quadro e n a r r a ç ã o , em u l t i m a i n s t â n c i a , e n t r e a n o ç ã o de R e t á b u l o e sua r e p r e s e n t a ç ã o v i s u a l e/ou v e r b a l . Vale lembrar, a q u i , que D u r t a l tem por e n d e r e ç o a rue du Regard ( 2 ,

P . 53)

C da t r a d i ç ã o n a r r a t i v a a u t i l i z a ç ã o do que se convencionou chamar em r e t ó r i c a c l á s s i c a a d e s c r i ç ã o . 0 papel c o n f e r i d o , segundo suas o r i g e n s , f o i sempre o de ornamento ou s í m b o l o , opondo-se, nesse c a s o , à n a r r a ç ã o das a ç õ e s propriamente d i t a . Nessa p e r s p e c t i v a , a p i n t u r a e a d e s c r i ç ã o n a r r a t i v a estabeleceram e n t r e s i , quase sempre, uma r e l a ç ã o v i s t a como n a t u r a l , suportadas tecnicamente pelos p r i n c í p i o s da a n a l o g i a e da complementaridade, ou s e j a , onde se f i z e s s e n e c e s s á r i o , r e c o r r e r - s e - i a à d e s c r i ç ã o - p i n t u r a , a fim de que a linguagem v e r b a l se r e c o n c i l i a s s e com o campo do v i s í v e l , do p a l p á v e l . Ê dessa forma que a r e t ó r i c a tem c r i a d o os seus termos para d e s i g n a r ou nomear seus objetos de estudo, quer como unidades da linguagem, quer como i n d i c a ç ã o do processo do pensamento. Há uma p r e o c u p a ç ã o constante em se r e f e r i r ao v i s í v e l , ao p a l p á v e l . A t i t u l o de e s c l a r e c i m e n t o , b a s t a pensar no c o n c e i t o de f i g u r a , ou s e j a , "a forma e x t e r i o r de um corpo" <6,p. 5 ) * , c u j a propriedade imediatamente a l ç a d a é a da p e r c e p ç ã o v i s u a l a q u a l , curiosamente, remete, em ú l t i m a i n s t â n c i a , ao c o n c e i t o grego de i d é i a , como e s c l a r e c e - n o s P i e r r e F o n t a i n e , em seu l i v r o

«In, V0UILL0UX, 8. Le tableau: description et peinture in Foètique 65, Février, Í986.

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F i g u r e s du d i s c o u r s (6,p. 5 ) 2 :

"Le mot idée (du grec (...) v o i r ) s i g n i f i e , r e l a t i v e m e n t aux o b j e t s vus par 1 ' e s p r i t , l a même chose qu'image; et r e l a t i v e m e n t à 1 ' e s p r i t qui v o i t ,

l a m ê m e chose que vue ou p e r c e p t i o n . " ( g r i f o s do a u t o r ) . *

Desse ponto de v i s t a , o que a r e t ó r i c a c l á s s i c a f e z f o i submeter a

linguagem ao primado do pensamento, a r t i c u l a d a ou s u s t e n t a d a p e l a t e o r i a da mimesis, a ú n i c a que podia l e g i t i m a r a a n a l o g i a e n t r e quadro e d e s c r i ç ã o , a p a r t i r do s e g u i n t e c o n c e i t o :

" 1 * i m i t a t i o n du réel par 1'un et par l ' a u t r e comme 1 ' i m i t a t i o n de l'un par 1'autre." (6,p. 5 ) * *

E e l a que se encontra por d e t r á s dos i n v e n t á r i o s d e t a l h a d í s s i m o s ou dos i n ú m e r o s recenseamentos d e s c r i t o s à l u z do p o s i t i v i s m o l i t e r á r i o , defendido p e l a e s c o l a n a t u r a l i s t a do s é c u l o XIX. As d e s c r i ç õ e s d e t a l h a d a s , como se p i n t u r a s fossem, t ê m por e f e i t o i l u s t r a r , ornamentar, ou s e j a , t o r n a r v i s í v e i s as idéias a b s t r a t a s das t e o r i a s p r o f e s s a d a s . E l a s s ã o " ú t e i s " , "servem para" d e s c r e v e r / c o n c r e t i z a r as a ç õ e s humanas i d e a i s . Em suma, é o dogma da r e p r e s e n t a ç ã o , ou s e j a , da "imagem do o b j e t o " , que se p r e s e n t i f i c a no campo da d e s c r i ç ã o . 0 e s c r i t o r se assume como p i n t o r para r e p r e s e n t a r , ou s e j a , i m i t a r a imagem do objeto que e l e quer present i f i e a r . A d e s c r i ç ã o , nesse caso, f a z r e s s a l t a r sua

função p r a g m á t i c a , em detrimento de sua função m i t i c o - e s t é t i c a , t r a t a d a como ornament o.

**Idei Poètique 65, Février, Í986. ««Ideai ibidei.

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A fim de melhor e x p l i c i t a r nossa p e r s p e c t i v a f r e n t e ao r e c u r s o u t i l i z a d o por D u r t a l no que tange a r e c o r r ê n c i a aos p i n t o r e s flamengos P r i m i t i v o s e, em p a r t i c u l a r , Mathaeus G r ü n e w a l d , citaremos a q u i , a r e l a ç ã o e s t a b e l e c i d a por G. Genette -c i t a d o por V o u i l l o u x - e n t r e os -c o n -c e i t o s de r e p r e s e n t a ç ã o e de i m i t a ç ã o de que, acreditamos, a ú l t i m a p a r t e da c i t a ç ã o possa s e r v i r como argumento para nosso enfoque:

"Genette (...) en preuant appui (...) sur l e couple d i e g è s i s / m i m è s i s introduït par Platon au l i v r e X de l a Republique: " t a n d i s que 1 ' i m i t a t i o n p i c t u r a l e c o n s i s t e à r e p r e s e n t e r par

l e s mosens p i c t u r a u x une r é a l i t é non p i c t u r a l e , e t , exceptionnel1ement, p i c t u r a l e , à l ' i n v e r s e , l e seul mode que c o n n a i s s e l a l i t t é r a t u r e en tant que represent at ion e s t l e r é c i t , e q u i v a l e n t v e r b a l d ' é v é n e m e n t s non verbaux ( . . . ) " , sauf à s ' e f f a c e r dans ce d e r n i e r c a s devant une c i t a t i o n d i r e c t e ou s ' a b o l i t toute f o n c t i o n r e p r e s e n t a t i v e . " ( 6 , p . 7 ) * (o g r i f o é nosso)

Durtal n ã o a t r i b u i às d e s c r i ç õ e s

p i c t ó r i c a s apenas uma função r e p r e s e n t a t i v a / i l u s t r a t i v a de suas i d e i a s . E l a s s ã o c i t a ç õ e s , s ã o t e x t o s . 0 seu romance è um i n t e r t e x t o , onde as " p i n t u r a s " , que a i aparecem, fazem parte do t e c i d o de que todo t e x t o se c o m p õ e , da mesma forma que o u t r a s c i t a ç õ e s do c ó d i g o v e r b a l e s t ã o p r e s e n t e s n e l e . Outras p i n t u r a s e a p i n t u r a de G r ü n e w a l d têm a i o mesmo e s t a t u t o e s t é t i c o e c o m p õ e m com a s demais c i t a ç õ e s o conjunto c u l t u r a l da obra, s e j a como jogo de r e f e r ê n c i a s , s e j a como c i t a ç ã o propriamente d i t a , s e j a como a l u s ã o . E l a s e n t r e t é m com as

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demais uma r e l a ç ã o de i n t e r t e x t u a l i d a d e ,

Neste momento, f a z - s e n e c e s s á r i o , e n t ã o , e x p l i c i t a r como s e d ã o em L à - B a s a s r e l a ç õ e s i n t e r t e x t u a i s .

0 romance tem como personagem p r i n c i p a l D u r t a l - um e s c r i t o r - o que nos

faz pensar na p r o b l e m á t i c a que se abre face a o p o s i ç ã o F i c ç ã o v e r s u s H i s t ó r i a , uma c o n s t a n t e no e x e r c í c i o de t a l p r o f i s s ã o . Assim, o o b j e t o e s c o l h i d o - a r e c o n s t r u ç ã o da b i o g r a f i a de G i l l e s de R a i s - uma f i g u r a de contornos h i s t ó r i c o s , fará com que Durtal pendule e n t r e o processo m i m é t i c o , f r u t o de seu t r a b a l h o enquanto romancista e o processo d i e g é t i c o , a m a t é r i a - p r i m a h i s t ó r i c a do seu o b j e t o de estudo. E na p e r s p e c t i v a de Huysmans - o autor que está por t r á s desse jogo - temos a r e l a ç ã o i n v e r t i d a : o que é d i e g é t i c o para Durtal é o seu m i m é t i c o (a Idade M é d i a f i c c i o n a l ) e o seu d i e g é t i c o (o s é c u l o XIX) é o que è m i m é t i c o para D u r t a l . E dessa f o r m u l a ç ã o complexa que Huysmans se p r o j e t a , ao mesmo tempo, como f i c c i o n i s t a e como c r i t i c o .

Desse modo, quando Durtal se r e f e r e ao seu tempo e ao seu e s p a ç o , aos e s c r i t o r e s , à p r o d u ç ã o e s t é t i c a , e l e é c o n t i n e n t e de Huysmans como c r i t i c o . Quando r e - i n t e r p r e t a ou preenche a s l a c u n a s h i s t ó r i c a s de G i l l e s de R a i s , e l e é o c o n t e ú d o de Huysmans, enquanto f i c c i o n i s t a , defensor de uma v i s ã o de mundo p a r t i c u l a r , est e t i c i z a n t e , c u j a s o r i g e n s remontam ao s é c u l o XV.

Desse ponto de v i s t a , Huysmans se i n s e r e na l i n h a de romancistas de vanguarda, ou s e j a , aqueles romancistas que perceberam a p l u r a l i d a d e no s u j e i t o : tanto o s u j e i t o da e n u n c i a ç ã o como o s u j e i t o do enunciado s ã o plenos de f i c ç õ e s . No entender de Laurent Jenny

" ( . , . ) P a r t i l h a m um d e s t i n o comum, na medida em que a c o n s c i ê n c i a l i t e r á r i a

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-c o n t e m p o r â n e a os -con-cebe ambos -como r e p l e t o s de f i c ç õ e s . Já n ã o s e a c r e d i t a no s u j e i t o que se p r e t e n d i a m a t é r i a do livro» a p a r t i r de agora i n v e r t e - s e a q u e s t ã o : s ã o os l i v r o s a m a t é r i a do sujeito» s u j e i t o e s c r e v e n t e ou s u j e i t o e s c r i t o . ( . . . ) . A verdade literária» como a verdade h i s t ó r i c a , s ó pode c o n s t i t u i r - s e na m u l t i p l i c i d a d e dos t e n t o s e das e s c r i t a s - na i n t e r t e x t u a l i d a d e . "

<3,P. 47>*

Là-Bas» de Huysmans, p o s s i b i l i t a uma gama muito grande de l e i t u r a sob a ó p t i c a da i n t e r t e x t u a l i d a d e . Assim» arrolaremos apenas algumas das c i t a ç õ e s de autores» de f r a s e s ou t r e c h o s de obras d e l e s - ou seja» o que está e x p l i c i t o no nosso t e x t o - o b j e t o - a fim de» com t a i s presenças» a c u s a r a d i n a m i z a ç ã o desse t e x t o face ao c o n c e i t o de fontes» v i s t o que» ao serem a b s o r v i d a s ou a p r o p r i a d a s pelo d i s c u r s o de D u r t a l / H u y s m a n s » e s t a s passam a compor» com o t e x t o de chegada» um todo h o m o g ê n e o , colocando-se a s e r v i ç o da p r o d u ç ã o de s e n t i d o que o duplo pretende r e a l i z a r . Ao mesmo tempo, e x p l i c i t a r e m o s o modo como o a u t o r / e s c r i t o r operou com t a i s f o n t e s .

Em L à - B a s a s fontes podem s e r o r g a n i z a d a s do s e g u i n t e modo:

( a ) Huysmans como fonte de s i mesmo; (b) a p r o d u ç ã o l i t e r á r i a do s é c u l o XIX como fonte de r e f e r ê n c i a - c r i t i c a em L à - B a s ;

<c) temas h i s t ó r i c o s s ã o r e i n t e r p r e t a d o s segundo a necessidade f i c c i o n a l da obra de Durtal - a b i o g r a f i a de G i l l e s de R a i s , ou s e j a , a verdade l i t e r á r i a se impõe como verdade h i s t ó r i c a .

«JENNY, Laurent. "A Estratégia da Fona" in Poétique ( r e v i s t a de t e o r i a e análise literárias) no. £ 7 , t r a d . de Clara Crabbè Rocha, Coi»bra, L i v r a r i a A l i e d i n a , 197?.

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(d) algumas t e m á t i c a s da t r a d i são f i l o s ó f i c o - 1 i t e r a r i a s ã o d e s e n v o l v i d a s segundo a p r ó p r i a t r a d i ç ã o ;

(e> a p r o d u ç ã o r e i i g i o s o - 1 i t e r a r i a medieval como fonte documental da H i s t ó r i a ;

( f ) a pint ura do fim da Idade M é d i a como r e f e r ê n c i a h i s t ó r i c a ao n a t u r a l i s m o m i s t i c o e como fonte para o expressionismo na p i n t u r a .

Desse ponto de v i s t a , as r e l a ç õ e s i n t e r t e x t u a i s podem s e r assim d i r e c i o n a d a s :

(A) - de Huysmans para Huysmans: d i á l o g o int r a - t ext os;

<B) - de Huysmans para os e s c r i t o r e s de seu s é c u l o ou de s é c u l o s passados: d i á l o g o int e r - t e x t os;

<C) - de Huysmans para outros a r t i s t a s ( p i n t o r e s ) : d i á l o g o i n t e r - c ò d i g o s *

A - HUYSMANS AO ENCONTRO DE HUYSMANS

0 romance A Rebours é c o n s i d e r a d o » p e l a c r i t i c a l i t e r á r i a , como o romance-chave do movimento d e c a d e n t i s t a . A sua personagem c e n t r a l - des E s s e i n t e s - s i n t e t i z a / i l u s t r a em seus minimos d e t a l h e s , o estado de e s p i r i t o da época " f i n - d e - s i è c 1 e " , que dominou P a r i s . Nesse s e n t i d o , e s s a personagem è v i s t a como exemplar p e l a h i s t o r i o g r a f i a c r i t i c a . T i t u l o do l i v r o e personagem descendem diretamente da linhagem

*A guisa de esclarecimento, estamos assumindo aqui uma posição bastante ampla frente ao conceito 'intertextualidade' uma vez que, não estamos distinguindo as nuances entre "citação", "plágio", "reminiscência", "alusão", "paráfrase", etc. e a intertextualidade, s t r u t u sensu, ou seja, " . . . ) falar de intertextualidade tão só desde que se possa encontrar num texto elementos anteriormente estruturados, para além do lexema, naturalmente, mas seja qual

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b a u d e l a i r i a n a - p o e t i a n a pelo refinamento na busca das c o r r e s p o n d ê n c i a s e n t r e s e n s a ç õ e s , obras de a r t e , m i n e r a i s , f l o r a , odores segundo a lógica do c o n t r á r i o (à r e b o u r s ) ; da linhagem f l a u b e r t i a n a no que tange ao e s p e c i f i c o do seu programa quanto às m i n ú c i a s de e r u d i ç ã o e da linhagem z o l i s t a , de c e r t a forma, na i n c l i n a ç ã o p e l a baixa l a t i n i d a d e , pelo corrompido e pelo impuro e x i s t e n t e s nos homens, nas obras e nas c o i s a s .

Diante de c o n s t r u ç ã o romanesca t ã o abrangente, o p r ó p r i o Huysmans a f i r m a r á :

"Tous l e s romans que j ' a i é c r i t s depuis A Rebours sont contenus en germe dans ce l i v r e " (5,p. 2 6 6 ) *

£ com base nessa a f i r m a ç ã o que podemos apreender a r e l a ç ã o i n t e r t e x t u a l e n t r e A Rebours e L à - B a s : a e x p l o r a ç ã o das t e m á t i c a s " f i n - d e - s i è c 1 e " : sadismo / satanismo / t é d i o / spleen / m e l a n c o l i a / e t c . , c o n s t a n t e s na " o u t r a " v i d a de G i l l e s de R a i s em L à - B a s , c u j a r e f e r ê n c i a e x p l i c i t a à personagem de A Rebours - " i l était l e des E s s e i n t e s du q u i n z i è m e s i è c l e ! " ( 2 , p. 74) - s i n t e t i z a o p a r a l e l i s m o e n t r e as duas personagens e e s t á , de c e r t a forma, disseminado por todo o romance A Rebours, v i s t o que des E s s e i n t e s é o h e r d e i r o por e x c e l ê n c i a de todas as f i g u r a s " f i n - d e - s i è c 1 e " , sobretudo e s t e G i l l e s de R a i s concebido por Durta 1/Huysmans. A f r a s e "pronunciada" por Durtal soa como um achado d e f i n i d o r , mostra-se como uma b ú s s o l a o r i e n t a d o r a para a c o n s t r u ç ã o de sua personagem e, ao mesmo tempo, r e v e l a que Durtal é l e i t o r de Huysmans, que Huysmans é l e i t o r de Huysmans. Desse modo, Durtal é a ficção que se v o l t a para a H i s t ó r i a ( G i l l e s de R a i s ) , mediada p e l a ficção (des E s s e i n t e s ) . Huysmans è a H i s t ó r i a que se

*In PRAZ, Hario. La Chair, La Hort et Le Diable (le roiantis« noir)j trad. de Constance Thonpson Pasquali, Paris, Denoel, 1977.

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v o l t a para a f i c ç ã o (des E s s e i n t e s ) , mediada p e l a H i s t ó r i a ( G i l l e s de R a i s ) . Verdade

l i t e r á r i a e verdade h i s t ó r i c a se imbricam para d e i x a r emergir a e s p e c u l a r idade dos s u j e i t o s .

B - HUYSMANS E 0 DIALOGO CONTINUO COM OS QUE 0 ANTECEDERAM E OS QUE NãO 0 PRESCREVERAM

Ao se e n t r a r em contato com a obra L à - B a s a s e n s a ç ã o que se tem é a de que a p r o d u ç ã o l i t e r á r i a f r a n c e s a do s é c u l o XIX passa pelo f i l t r o do pensamento c r i t i c o : a t r a v é s de D u r t a l / d e s Hermies, Huysmans d i a l o g a com alguns expoentes da l i t e r a t u r a de seu p a i s - B a l z a c , Z o l a , S t e n d h a l , F l a u b e r t , Taine e H e l l o , bem como alguns da p r o d u ç ã o menor, r e p r e s e n t a d a por George Sand, F e u i l l e t , C h e r b u l i e z e T h e u r i e t , famosos à é p o c a , a t r a v é s de a l u s õ e s d i r e t a s a obras d e l e s , ou a t r a v é s de c o m e n t á r i o s c r i t i c o s sobre e l e s . A g u i s a de exemplos, temos, na p á g i n a 32 de L à - B a s , uma r e f e r ê n c i a e x p l i c i t a - uma a l u s ã o - a uma obra de B a l z a c - La Cousine B e t t e , c u j a f r a s e " P o u r r a i - j e emmener l a p e t i t e " , f o i e x t r a i d a do f i n a l do romance quando A d e l i n e , encontrando-se com o velho b a r ã o Hulot, seu marido, aconselha-o a v o l t a r para a v i d a burguesa e c r i s t ã . Como e l e está vivendo com a p r o s t i t u t a Á t a l a J u d i e i , num misto de ingenuidade e c i n i s m o , responde à sua esposa com aquela f r a s e que, reproduzida em L à - B a s , assume o s e n t i d o de c r i t i c a aos novos e s c r i t o r e s que não chegam a p e n e t r a r no u n i v e r s o desconhecido da alma humana, conseguindo apenas p r o d u z i r t e x t o s que

lembram mais os deveres da época de c o l é g i o , f e i t o s a p a r t i r de s i t u a ç õ e s modelares, e x t r a í d a s de a u t o r e s consagrados.

Huysmans, por p a r á f r a s e e por 2 « 5

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-a m p l i f i c -a ç ã o , -assume o objeto do estudo de Durtal - a v i d a de G i l l e s de R a i s , que Stendhal já h a v i a enunciado em M é m o i r e s d'un t o u r i s t e , como comprova o t e x t o s e g u i n t e :

"Queis furent l e s m o t i f s , q u e l l e s furent l e s nuances non seulement de s e s a c t i o n s a t r o c e s , mais de t o u t e s l e s a c t i o n s de s a v i e qui ne furent pas i n c r i m i n é e s ? Nous l ' i g n o r o n s . Nous sommes done bien l o i n d ' a v o i r un P o r t r a i t v e r i t a b l e de c e t i t r e e x t r a o r d i n a i r e .. . c ' e s t t o u j o u r s un l i b e r t inage ardent mais qui ne peut s ' a s s o u v i r q u ' a p r è s a v o i r brave tout ce que l e s hommes r e s p e c t e n t . . . Toujours on l e v o i t obeir à une

I m a g i n a t i o n b i z a r r e et s i n g u l i è r e m e n t p u i s s a n t e dans s e s é c a r t s . " ( 5 , P . 2 6 8 ) * e, ancorando-se na obra b i o g r á f i c a de G i l l e s de R a i s , e s c r i t a em 1886 por E u g è n e Bossard

(um abade) e R e n é de Maulde, è que e l e dará tratamento o r i g i n a l à personagem em q u e s t ã o . Mas o t e x t o de Stendhal r e s s o a p e l a obra de Durtal como um eco.

Mario Praz l e v a n t a a p o s s i b i l i d a d e de Huysmans t e r c r i a d o v á r i a s cenas no l a r de um tocador de s i n o s e m e l ò m a n o a p a r t i r do gosto musical de G i l l e s de R a i s - " l a p a s s i o n de ce monstre b i z a r r e p o u r l e c e r e m o n i á l

l i t u r g i q u e et pour l a musique s a c r é e " -, como já o b s e r v a r a Stendhal em sua c o r r e s p o n d ê n c i a de Nantes.

Mas è com Zola que D u r t a l / d e s Hermies/Huysmans desenvolvem, ao longo de todo o romance, uma e s p é c i e de c o n t r a -a r g u m e n t -a ç ã o à proposta e s t é t i c a do n a t u r a l i s m o . Nesse s e n t i d o , Huysmans t e r i a e s c r i t o a obra L à - B a s com o o b j e t i v o e x p l i c i t o de denunciar o d e s c r é d i t o que rondava o n a t u r a l i s m o , como a t e s t a o t r e c h o

«In PRAZ» Hario. idea, ibidea, p. 268.

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-do d i s c u r s o de Leon Bioy - " L e s F u n é r a i l l e s du n a t u r a l i s m e " , em 15 de maio de 1891:

" L ' a c c u s a t i o n c a p i t a l e vient d ' e t r e p o r t é e c o n t r e l e n a t u r a l i s m e par un è c r i - v a i n de ma g e n e r a t i o n , dans un roman des p l u s audacieux, qui passionne en ce moment l e monde l i t t é r a i r e . Cet é c r i v a i n se nomme Huysmans". ( 2 , P . 401)

De acordo com a s c r i t i c a s da é p o c a , Zola t e r i a pretendido no t e r r e n o literário» desenvolver um m é t o d o experimental de e x t r a ç ã o c i e n t i f i c i s t a , a p l i c a d o à o b s e r v a ç ã o

l i t e r á r i a , fundamentado exclusivamente nos s e n t i d o s , e x c l u i n d o a i m a g i n a ç ã o , a i n v e n ç ã o e a i n t u i ç ã o , ou s e j a , as faculdades do e s p i r i t o humano i m p r e s c i n d í v e i s à c r i a ç ã o a r t í s t i c a , como t r a n s p a r e c e n e s t a f a l a d o g m á t i c a de Z o l a :

"Ouvrez l e s yeux de v o t r e tête et

r a c o n t e z e n s u i t e exactement, s e r v i l e m e n t , ce que vos yeux auront vu, sans permettre à v o t r e ame d ' i n t e r v e n i r ( . . . ) . " ( 2 , P . 402/403) C a d o c u m e n t a ç ã o a ú n i c a a g a r a n t i r a v e r a c i d a d e da c r i a ç ã o e sem e l a a obra de a r t e c o r r e r i a o r i s c o de t e r sua vida a r t í s t i c a a b r e v i a d a devido a p o s s í v e i s enganas na r e p r o d u ç ã o e i n t e r p r e t a ç ã o do r e a l . Desse ponto de v i s t a , a f a l a de D u r t a l sobre os documentos parece e l u c i d a t i v a e tem e n d e r e ç o c e r t o :

"Quant aux documents qui l e s è t a y e n t , c ' e s t p i s encore! c a r aucun d'eux n'est i r r e d u c t i b l e et tous sont r é v i s a b l e s . S ' i l s ne sont pas a p o c r y p h e s » d ' a u t r e s , non moins c e r t a i n s , se déterrent p l u s t a r d qui

l e s controuvent, en attendant qu'eux-m ê qu'eux-m e s soient d è qu'eux-m o n é t i s é s par

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s ü r e s . "A l'heure a c t u e l l e , < . . . ) , l ' h i s t o i r e ne s e r t p l u s qu'à é t a n c h e r l e s s o i f s l i t t é r a i r e s des hobereaux qui p r é p a r e n t c e s r i l l e t t e s de t i r o i r s a u K q u e l l e s l ' I n s t i t u t d è c e r n e , en s a l i v a n t , s e s m é d a i l l e s d'honneur et s e s grands p r i x . ( . . . ) . La v é r i t é , c ' e s t que l ' e x a c t i t u d e e s t i m p o s s i b l e . " ( 2 , p. 44) Assim, p o d e r í a m o s d i z e r que Huysmans f a z uma r e v i s ã o c r i t i c a do Naturalismo, s e j a enquanto a n a l i s a a d o c u m e n t a ç ã o sobre G i l l e s de R a i s , s e j a sobre o c o t i d i a n o de L à - B a s , i s t o è , as i n v e s t i g a ç õ e s sobre o o c u l t i s m o , o satanismo e os nodoamentos n ã o c a r n a i s como q u e r i a a o r i e n t a ç ã o n a t u r a l i s t a mas e exclusivamente os da alma. Huysmans se m a n t é m f i e l quanto ao m é t o d o mas a v a n ç a - o s i g n i f i c a t i v a m e n t e ao t r a z e r para o seu i n t e r i o r a i n v e n t i v i d a d e , a i n t u i ç ã o e a c o m p e t ê n c i a i m a g i n a t i v a do e s c r i t o r , l i b e r t a n d o - o e 1ibertando-se da p r e t e n s ã o e s c r a v a g i s t a da H i s t ó r i a P o s i t i v i s t a como c i ê n c i a e x c l u s i v a da o b j e t i v i d a d e e portanto, a única "dona da verdade". Nesse s e n t i d o , Huysmans e s t a r á se s i n t o n i z a n d o com o nascimento das c i ê n c i a s da alma, recuperando o psiquismo para as m a n i f e s t a ç õ e s a r t í s t i c a s assim como o v e i o importante do " I r r a c i o n a l i s m o " que será explorado amplamente p e l a s a r t e s d e s e n v o l v i d a s no s é c u l o XX.

Um outro dado que nos parece i n t e r e s s a n t e na q u e s t ã o da i n t e r t e x t u a l i d a d e

no d i á l o g o de Huysmans com a p r o d u ç ã o i n t e l e c t u a l do seu tempo é o modo de p u b l i c a ç ã o ainda c o r r e n t e na sua é p o c a : o f o l h e t i m . L à - B a s , por exemplo, quando da c o n f e r ê n c i a de Leon Bioy - " L e s F u n ê r a i l l e s du n a t u r a l i s m e " - e s t a v a c o m e ç a n d o a aparecer no Echo de P a r i s : d o i s c a p í t u l o s apenas. Tal

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t i p o de p u b l i c a ç ã o apresenta-se-nos conveniente no s e n t i d o de que o a u t o r , nesse caso» exerce um c o n t r o l e passo-a-passo da sua obra, reduzindo ou ampliando» i n t r o d u z i n d o ou eliminando p a s s a g e n s » segundo as r e a ç õ e s r e c e p t i v a s da obra» o que n ã o quer d i z e r que n ã o exista» por p a r t e do autor» um p r o j e t o da obra e sua e x e c u ç ã o justamente por s e r o

f o l h e t i m um "work i n p r o c e s s " .

Além do d i á l o g o e s t a b e l e c i d o com algumas das obras l i t e r á r i a s mais importantes da cena a r t í s t i c a francesa» dado o assunto h i s t ó r i c o e l e i t o por Durtal-Huysmans - a v i d a de G i l l e s de R a i s - podemos observar» devido à o c o r r ê n c i a muito elevada de c i t a ç õ e s , o m a t e r i a l h i s t o r i o g r á f i c o de que se s e r v i u Huysmans na c o n f e c ç ã o de L à - B a s . A t i t u l o de exemplo apenas, citaremos N i c o l a s Flamel

(1330-1418), importante a l q u i m i s t a do s é c u l o XIV, c u j a obra f o i r e s t a b e l e c i d a e t r a d u z i d a por E l i p h a s L é v i , um dos mais importantes e s t u d i o s o s do o c u l t i s m o na F r a n ç a do s é c u l o XIX. Flamel è o descobridor dos manuscritos de Abrahan, l e J u i f , onde se encontram as r e c e i t a s da pedra f i l o s o f a l , do e l i x i r da q u i n t e s s ê n c i a e da t i n t u r a . 0 m a t e r i a l f o i todo l o c a l i z a d o na B i b l i o t h è q u e de 1'Arsenal por Huysmans e aparece transformado em manuscritos na é p o c a de G i l l e s ( 2 , p. 106) e o mesmo m a t e r i a l , agora pertencente a des Hermies, já t r a b a l h a d o por E l i p h a s L é v i , será o b j e t o de i n v e s t i g a ç ã o de Durtal ( 2 , p. 1 0 6 ) .

Outra p e r s o n a l i d a d e de destaque na q u e s t ã o h i s t o r i o g r á f i c a è M i c h e l e t , elogiado no i n t e r i o r de L à - B a s . E l e tem a i o seu aparecimento em v i r t u d e da d i s p u t a e n t r e

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h i s t o r i a d o r e s e l i t e r a t o s * que se d e s e n v o l v i a na é p o c a de Huysmans e é a t r a v é s d e l e que o autor de L à - B a s t o m a r á a sua p o s i ç ã o na querela» como nos e s c l a r e c e Yves Hersant:

"Michelet (1798-1874): en a d r e s s a n t à 1'auteur de 1 ' H i s t o i r e de France (1833-1844)(...) P l u s d ' é l o g e s que de r a i l l e r i e s » s i c r u e l l e s que s o i e n t c e s d e r n i è r e s * Huysmans prend c l a i r e m e n t p a r t i dans l a q u e r e i l e qui opposait , en son temps comme en d'autres» h i s t o r i e n s et Kommes de l e t t r e s . Sans l e s nominer, c ' e s t à Monod, à L a n g l o i s , à Seignobos q u ' i l s'en prend; l e r e l a t i f s a t i s f e c i t a c c o r d é à Michelet ne s ' e x p l i q u e que par une v i o l e n t e r é p u l s i o n pour l ' h i s t o i r e p o s i t i v i s t e triomphante, qui e n t r e 1875 et 1900 s ' e s t p o s é e comme s c i e n c e en s'opposant à l a l i t t é r a t u r e . " ( 2 , P . 3 9 1 ) .

E para f i n a l i z a r , é p r e c i s o lembrar que Huysmans e s c o l h e de p r e f e r ê n c i a para m a t e r i a l de suas c i t a ç õ e s geralmente e s c r i t o r e s desconhecidos do grande p ú b l i c o . E como se e l e e s t i v e s s e , com seu faro c r í t i c o , a r e c u p e r a r do anonimato p e r s o n a l i d a d e s importantes para o c e n á r i o c u l t u r a l da F r a n ç a , ao mesmo tempo que c o n s t r u í a a sua obra f i c c i o n a l mostrando ao l e i t o r o t r a b a l h o de p r o d u ç ã o do t e x t o , ou s e j a , a g é n e s e de sua obra. E l e n ã o esconde o e s c r i t o r

-«Esta querela não est4 esgotada, hoje. É a aesaa que opõe a historiografia сом género literário à ciência eapirica que recupera o docuaento. Resta leabrar que a "recuperação" do docuaento já pressupõe a ação de ua interpretante е o exercício parafrástico cabe seapre nuaa questão de e s t i l o , coao afiraa Durtal na página 44: " l ' h i s t o i r e ле seablait être qu'un p i s -a l l e r , c-ar i l ne croy-ait p-as à l-a rê-alitè de cette science; les événeients» se d i s a i t - i l , ne sent pour un hoaae de talent qu'un treaplin d'idées et de stüle, puisque tous se aitigent ou s'aggravent, suivant les beso ms d'une cause ou selon le teapéraaent de l'écuvain qui les aanie."

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p e s q u i s a d o r . P r e v a l e c e a imagem do avesso - A Rebours e L à - B a s s ã o d o i s exemplos b a s t a n t e e l u c i d a t i v o s nesse s e n t i d o .

Antes de passarmos para a t e r c e i r a p a r t e d e s t a a n á l i s e , v a l e d e s t a c a r , e n t r e as v á r i a s t e m á t i c a s que transpassam L à - B a s , a do mito de Fausto que, desse modo, i n s e r e e s t a obra na t r a d i ç ã o das que discutem o d e s e j o u n i v e r s a l do homem, ou s e j a , a da busca e t e r n a da " C i ê n c i a , Poder e Riqueza" mesmo que para i s s o tenha de a b r i r m ã o da p r ó p r i a alma. A d i f e r e n ç a e a c r i a t i v i d a d e de Huasmans, ao c o n t r á r i o de G o Ü t h e , que " f a l a " para um homem que ainda n ã o è mas quer s e r um b u r g u ê s a r i s t o c r a t i z a d o (uma c o i s a t ã o a l e m ã , que sempre o p ô s burguesia à a r i s t o c r a c i a ! ) , está em que, tanto G i l l e s de R a i s quanto D u r t a l já possuem p o s i ç õ e s s o c i a i s c o n s o l i d a d a s - um é o Marechal, o outro um e s c r i t o r - r e p r e s e n t a n t e s e m b l e m á t i c o s de suas é p o c a s , p o r é m c i e n t e s de que " C i ê n c i a -Poder-Riqueza" s ã o c o n d i ç õ e s n e c e s s á r i a s mas não s u f i c i e n t e s para o P r a z e r . E s t a é a d i f e r e n ç a e n t r e Goethe, e e s t a d i f e r e n ç a será d e s e n v o l v i d a por outros a u t o r e s que t r a b a l h a r ã o com o mito: M u s i l , Hesse e Mann, onde a d e m o n i z a ç ã o que v i s a ao p r a z e r , mais ao poder e ao p r e s t i g i o , busca a l ç a r o demonizado à i n t e r p r e t a ç ã o de um mundo desumanizado, à sua e s p i r i t u a l i z a ç ã o p e r d i d a . 0 endemoniado tem alma em um mundo sem alma, portanto v a i se c o n v e r t e r num o u t - s i d e r , num m a r g i n a l i z a d o p o i s possui uma i d e n t i d a d e e, p o r t a n t o , uma dignidade num mundo

i n d i f e r e n c i a d o e portanto, indigno.

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-C - A I M A G I N A Ç Ã O : 0 DRAMA DAS FIGURAS NO PENSAMENTO, NA IMAGEM E NO TEXTO

Para um autor t ã o c i e n t e da h i s t ó r i a , da c r i t i c a e da c u l t u r a , mais e s p e c i f i c a m e n t e da l i t e r a t u r a e das a r t e s p l á s t i c a s como Huysmans, e l e n ã o pôde escapar da r e c o r r ê n c i a aparentemente independente do e c o n ô m i c o , do p o l i t i c o e do s o c i a l , de c e r t o s f e n ô m e n o s e s t é t i c o s , para quem o f e n ô m e n o do s i m b ó l i c o e, porque n ã o d i z e r do s u r r e a l , m e t a e x p r e s s i v i d a d e s do I m a g i n á r i o , e s t ã o p r e s e n t e s em todos os g ê n e r o s , e s c o l a s e movimentos l i t e r á r i o s . Seu p r o j e t o de Modernidade t e n t a contemplar toda e s s a h e r a n ç a . N ã o f o i compreendido na sua época como o foram M a l l a r m é , Proust e Pound. T a l v e z devido a sua v i n c u l a ç ã o mais ou menos e x p l i c i t a aos n a t u r a l i s t a s e aos p ó s -r a f a e l i t a s , em e s p e c i a l Zola e Degas.

E nas e n t r e l i n h a s do t e x t o , à s vezes a t é muito c l a r o , que se percebe a Modernidade de Huysmans. A Modernidade que escapa ao e s t e t i c i s m o " f i n - d e - s i è c1e " . Ê n e s s a s e n t r e l i n h a s de sua c r i t i c a e de sua

ficção que se arma o jogo altamente complexo da Arte X I n c o n s c i e n t e , mais e s p e c i f i c a m e n t e , Arte X Loucura.

Huysmans é um autor p r é - F r e u d i a n o e podemos d i z e r mesmo p r é - B e r g s o n i a n o ( a d e s p e i t o de serem quase c o n t e m p o r â n e o s ) , embora n ã o pudesse t e r fugido ao h o r i z o n t e

i d e o l ó g i c o da é p o c a - como e x p l i c a r que o novo já t i n h a s i d o expresso pelo passado? Dai Huysmans achar que à a u t o r i a moderna devessem caber os p a p é i s de i n v e n t a r i a n t e e de a r q u e ó l o g o da t r a d i ç ã o . T a r e f a que, na verdade, n ã o l h e coube mas sim a E z r a Pound e T.S. E l i o t e, quem sabe, a Paul V a l é r y .

Nas e n t r e l i n h a s , Huysmans como autor, c r i t i c o e e s c r i t o r v a i passo-a-passo narrando-nos o seu processo e s t é t i c o da

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Modernidade. Sua a l u s ã o à s u p e r p o s i ç ã o e à i n t e r s e m i o t i c i d a d e de linguagens p r e s e n t e s nas e s c u l t u r a s de Degas, onde o p i c t ó r i c o se a l i a ao e s c u l t ó r i c o , à simbiose dos m a t e r i a i s , às r e f e r ê n c i a s , e às a l u s õ e s , lembram a p i n t u r a greco-romana, os r e t á b u l o s medievais e as o u t r a s e x p r e s s õ e s daquela é p o c a que denunciavam "ad i n f i n i t u m " a r e c o r r ê n c i a das linguagens, da permutabilidade i n t e r c ó d i g o s : ao s a i o t e de t e c i d o da e s c u l t u r a da b a i l a r i n a de Degas c o r r e s p o n d e r i a a peruca de c a b e l o s n a t u r a i s ou os p ê l o s pubianos do C r i s t o , como descreve D u r t a l ao p r e s e n c i a r na Missa Negra a s e g u i n t e f i g u r a do C r i s t o :

"On l u i a v a i t r e l e v e l a t ê t e , a l l o n g é l e c o l et des p l i s p e i n t s aux joues muaient s a face douloureuse en une gueule tordue par un r i r e í g n o b l e . I I ètait nu, et à l a p l a c e du 1inge qui c e i g n a i t s e s f l a n c s , l'immondice en èmoi de l'homme s u r g i s s a i t d'un paquet de c r i n " ( 2 , p. 290) (o g r i f o é n o s s o ) .

Nesse s e n t i d o a obra de G r ü n e w a l d , um autor r e l a t i v a m e n t e desconhecido ao f i n a l do s é c u l o XIX, e v a l o r i z a d o por Huysmans ê exemplar, em si-mesma e como f o i l i d a e t r a b a l h a d a por e l e . A p i n t u r a d i t a " P r i m i t i v a " , n ã o por s e r "na've", mas por s e r p r i m e i r a ou i n a u g u r a l , funciona para o p r o j e t o de modernidade de Huysmans, como um d ê i t i c o , um i n d i c a d o r , um s i n a l h e r m é t i c o -s i n a l de toda-s a-s t r a n -s a ç õ e -s . Ê a n a f ó r i c a , como d ê i t i c o , porque nos r e l a t a o fim da Idade M é d i a - o desespero de homens como de R a i s , ou daqueles semi-queimados que voltam para a f o g u e i r a para se queimarem a t é o f i n a l

( i s t o è narrado nos p r o c e s s o s da I n q u i s i ç ã o o desespero da morte, a morte a n t e c i p a d a ! )

-p o r t a n t o , e s s a P i n t u r a ( d e s c r i t a exaustivamente nas p á g i n a s de 33 a 37 em L à

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-Bas) é altamente a l e g ó r i c a . O r e t á b u l o da C r u c i f i c a ç ã o de Colmar, pintado por GrUnewald, .é de uma e v i d ê n c i a c a b a l : ao C r i s t a , do seu lado esquerdo cabe a mulher e do seu lado d i r e i t o , o homem, na tábua c e n t r a l . A t á b u a , à esquerda, cabe S ã o S e b a s t i ã o , r e i t e r a n d o a f i g u r a da mulher, a m ã e r e - c r u c i f i c a d a ; à d i r e i t a , Santo Antonio, a do homem, um Santo, à d e s p e i t o da simbologia ao f i n a l da Idade M é d i a , mas sempre l i g a d o à masculinidade, o que c a r r e g a para Maria, como p a i , o Cristo-menino, em

lugar de S ã o José (supõe-se morto!, porque não aparece nos r e l a t o s do M a r t i r i o e da C r u c i f i c a ç ã o ) .

A d e s p e i t o desse r e t á b u l o , ao c o n t r á r i o dos outros r e t á b u l o s de Grtínewald e de outros a r t i s t a s da é p o c a , n ã o a p r e s e n t a r de modo b a s t a n t e evidente p l a s t i c a m e n t e uma n a r r a t i v a p r é - c o n h e c i d a ( a da H i s t ó r i a Sagrada) porque j u s t a p õ e , no momento da c r u c i f i c a ç ã o - s é c u l o p r i m e i r o da nossa h i s t ó r i a -, S ã o S e b a s t i ã o (séc. IV ou V da nossa h i s t ó r i a ) e Santo Antonio (século X I I I ) , na verdade e s t a b e l e c e uma o u t r a n a r r a t i v a , na medida em que tece uma trama sexual da mãe e do p a i , da mulher e do homem: mãe Maria, mulher S ã o S e b a s t i ã o ; p a i -será São Pedro?, homem - Santo Antonio!*

0 C r i s t o é o momento de intercruzamento dos d e s e j o s , ou s e j a , o que e l e v a para o a l t o e o que denega para o baixo - L à - B a s / I c i - B a s . Portanto, a C r u c i f i c a ç ã o

»0 Retábulo* a despeito de ser uia narrativa) é descontinua, cc*o explicita de fona f e l i z , Sandra N i t r i n i in Poéticas ea confronto, página 71, " ( . . . ) u i conjunto de lòdulos equivalentes a seqüências narrativas, cujas dobradiças -elementos de ligaduras - deverão ser fornecidas pelo trabalho intelectual do l e i t o r . Trata-se de uia coiposicão narrativa, o que explica a ausência de u i enredo.(...)". Has neste caso, será que não t e i enredo sabendo-se que, de anteião, a història sacra è conhecida de todo e qualquer hoiei coiui, que se diz cristão?

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faz detonar um processo altamente d e n o t a t i v o , faz d e s p e r t a r nas personagens do romance e, em e s p e c i a l em Durta 1-Huysmans» podemos d i z e r no n a r r a d o r , a e x p e r i ê n c i a de um s i n c r e t i s m o

("ascese e p e r d i ç ã o " ) , mais do que i s s o , o I m a g i n á r i o se c o n f i g u r a como e s p a ç o da l i b e r d a d e p o é t i c a , c u j a e x p r e s s i v i d a d e só pode s e r l i t e r á r i a . N ã o é m i m è t i c a , já que não è n a t u r a l ; n ã o è d i e g é t i c a , porque n ã o é h i s t ó r i c a . Ê p o é t i c a !

Assim, além de a n a f ó r i c o , podemos d i z e r que Grtinewald na obra de Huysmans, é c a t a f ó r i c o , já que aponta para o f u t u r o , n ã o só p e l o s elementos que sua obra mostra mas por a q u i l o que e l e f a z remexer no i n c o n s c i e n t e . Nesse s e n t i d o , podemos s e g u i r a a d v e r t ê n c i a de D o s t o i e v s k i :

"Deux f o i s deux quatre, M e s s i e u r s , ce n' est dèjà p l u s l a v i e , c ' e s t l a mort",

o que s i g n i f i c a pura e simplesmente a v i o l ê n c i a c a n ò n i c a , presente em toda a a r t e que se pretende s i m b o l i s t a ou s u r r e a l - a a r t e que s e d e i x a despreender da forma e procura sua norma na ancoragem da e x p e r i ê n c i a i n t e r i o r , quiçá c o l e t i v a : o s é c u l o XV f o i um s é c u l o de l o u c u r a c o l e t i v a !

S e r á que e s s a e x p e r i ê n c i a é a p e r m a n ê n c i a do r o m â n t i c o , como querem Praz e C a s a i s ? Se n ã o s e i se é r o m â n t i c a , a a r t e da modernidade no s é c u l o XX ( h a j a r e d u n d â n c i a !> ê r e i t e r a t i v a dos procedimentos do passado? Parece-me que sim, n ã o me ancoro só em Huy smans, ancoro-me na idéia de que o homem i n v e n t a - s e a s i mesmo sempre, a d e s p e i t o e por causa do p o l i t i c o e s o c i a l . Desse ponto de v i s t a , o s u r r e a l i s m o é o desdobramento no p r e s e n t e , ao n i v e l da c u l t u r a de a l t o -r e p e -r t ó -r i o , d a q u i l o que nos lega-ram a t r a d i ç ã o e a c u l t u r a popular atemporal, da t r a d u ç ã o e s t é t i c a , dos p r o c e s s o s fundadores do homem que, v i a de r e g r a , manifestam-se

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coirio iricohscièritès, aihda qüé pbssüabí ü M a linguagem e s t r u t u r a d a .

0 problema e n t r e os c ó d i g o s das obras de Huysmans e de G r ü n e w a l d n ã o r e s i d e , como f o i demonstrado, num problema de n a r r a t i v a . Decodificamos a aparente n ã o -n a r r a t i v i d a d e do r e t á b u l o de Colmar que, ao c o n t r á r i o dos outros r e t á b u l o s de G r ü n e w a l d , t r a z em s i algo de h e r m é t i c o , para n ã o d i z e r de m e r c u r i a l , ou s e j a , n ã o se t r a t a de um problema de n a r r a t i v i d a d e mas e n t r e r e t ó r i c a e seus ornamentos. É um problema l i g a d o à t e o r i a das f i g u r a s , mais e s p e c i f i c a m e n t e dos meios de um e de outro na e x p r e s s ã o do s e n t i d o ; mais uma t e o r i a dos modos que uma t e o r i a dos f i n s , como afirma V a s s i l y Kand insk y:

"uma a r t e pode aprender da outra o modo como se s e r v e de seus meios para depois, por sua vez, u t i l i z a r os seus da mesma forma; i s t o è , segundo o p r i n c i p i o que l h e s e j a p r ó p r i o e x c l u s i v a m e n t e " . * ( i , p . E 7 )

ou s e j a , uma economia m e t a f ó r i c a : Huysmans toma de G r ü n e w a l d , como dos outros e s c r i t o r e s que o precederam, uma economia m e t a f ó r i c a , o que o aproxima de processos quase metonimicos, a l i a n d o a f i g u r a à p a l a v r a , "...os r a t o s roem as h ó s t i a s . . . " . A e s t a economia de s e n t i d o n ã o corresponde, como se poderia supor, um minimalismo, como a de Balzac ( c i t a d a n e s t e t r a b a l h o ) , mas uma busca da e s s e n c i a l i d a d e extremamente r e i t e r a t i v a e ornamental, que é bem e x p r e s s a p e l a metonimia que desencadeia a m e t á f o r a do "pot-au-feu", algo que é c a m p o n ê s , popular, que desencadeia a e x p e r i ê n c i a c o l e t i v a da a l d e i a mas é sublimado pelo r e c u r s o aos " f o i e s " , aos "pams" e aos " v i n s " , ou s e j a , por algo que

»In GONÇALVES, A. Transição & Perianência, (Hirò/João Cabral/Da tela ao texto), Sa* F.-'ulo, Iluminuras, 1989, p. 27.

(27)

-denega o primevo e r e i t e r a o mundo do a r t i f i c i a l - a r e i n v e n ç ã o do mundo ou» como quer Huysmans, a t r a v é s do d i á l o g o e s t a b e l e c i d o ent r e Durtal e Mme C a r h a i x a p r o p ó s i t o da l a r e i r a (deus L a r e s ! ) e a sua m o d e r n i z a ç ã o :

" ( . . . ) : vous voulez a v o i r chaud, vous aurez chaud - mais r i e n de plus» i l ne faut pas que quelque chose d ' a g r é a b l e pour l a vue s u b s i s t e . P l u s de b o i s qui c r e p i t e et chante» p l u s de c h a l e u r légère et douce! L ' u t i l e , sans l a f a n t a i s i e de c e s beaux g l a ' e u l s de flammes qui j a i l l i s s e n t dans l e b r a s i e r sonore des b ches s è c h e s .

"- Mais e s t - c e q u ' i l n'y a pas de c e s p o ê l e s - l à » oü l'on v o i t l e feu? demanda Mme C a r h a i x .

"- Oui et c ' est p i s ! du feu d e r r i è r e un guichet de mica» de l a flamme en prison» c ' e s t p l u s t r i s t e encore! Ah!

l e s b e l l e s b o u r r è e s à l a Campagne, l e s sarments qui sentent bon et dorent l e s p i è c e s ! La v i e moderne a mis ordre à c e l a . Ce luxe du p l u s pauvre des paysans e s t impossible à P a r i s , pour l e s gens qui n'ont pas de c o p i e u s e s r e n t e s ! " ( 2 , p. 83) (o g r i f o é n o s s o ) .

A e s s a economia "paysanne", a e s s a economia n a t u r a l , p e r d i d a , e na c r e n ç a da i m p o s s i b i l i d a d e do c o n t r a t o s o c i a l , Huysmans só p r o p õ e o deslocamento do l u g a r , ou s e j a , a procura do " l o g i s " - uma nova t o p o l o g i a do d e s e j o - como Sade, r e i n t e r p r e t a d a por B a r t h e s , um mundo n ã o - n a t u r a l onde "so-sobra" o a r t i f i c i o , menos e menos m e t a f ó r i c o e mais e mais metonimico. Os t r a ç o s m e t a f ó r i c o s que conseguem s o b r e v i v e r neste t i p o de d i s c u r s o , t r a ç a m uma grande a l e g o r i a do homem perdido, do d e c a i d o , do i n t e r p r e t a n t e e do c r i t i c o

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-aquele que a t i n g e o u n i v e r s o e x t r a - v e r b a l . A t e n s ã o d i a l é t i c a que Huysmans e s t a b e l e c e e n t r e a e s c r i t a dele e a dos outros e dele consigo mesmo e x p r e s s a e s s a e q u a ç ã o : a e x i s t ê n c i a do mundo m i m é t i c o e d i e g è t i c o , e l e a e x p r e s s a como e s c r i t o r . E l e è um l i t e r a t o . Será que e l e é um c r i t i c o ? Porque capta o mundo como um discurso» o d i s c u r s o do outro» o d i s c u r s o dos outros» e l e é preso a um u n i v e r s o verbal» ao a t o de c o m u n i c a r » ou seja» t r a d u z i r . . . » t r a d u z i r

...» t r a d u z i r ...» t r a d u z i r ...

0 p r o j e t o da modernidade em Huysmans f o i sombreado na F r a n ç a por M a l l a r m é e Proust» desconheceu também todo o r e s t o que se f a z i a no mundo e x t r a - c o n t i n e n t a l Whitman, Pound» James e E l i o t . Desconheceu o á p i c e da f i l o s o f i a f r a n c e s a e o â m a g o da alma a l e m ã . Nem por i s s o Huysmans merece o o s t r a c i s m o a que f o i relegado p e l a s nossas

l e t r a s . £ e v i d e n t e a sua i m p o r t â n c i a na obra dos modernistas b r a s i l e i r o s e» em especial» de Pedro Nava» para n ã o dizer» dos " a m é r i c a i n s maudits"» em especial» Guinsbourg, Bourroughs, Kerouack e "tous l e s nouveaux r o m a n c i s t e s f r a n ç a i s et a m é r i c a i n s " .

E s s a h e r a n ç a é devida» apesar da t e m á t i c a ainda comum» d i z a alma d e s s e s pobres machos s o l i t á r i o s da nossa critica» a uma t é c n i c a romanesca que está l i g a d a à r e i n v e n ç ã o do romance» à sua c i r c u l a r i d a d e e à sua esp i r a i idade» à sua i n d e p e n d ê n c i a ao mundo natural» ao seu aprisionamento à H i s t ó r i a e ao seu deslocamento - um mundo d i s c u r s i v o que cobre as p o s s i b i l i d a d e s do humano e do in-humano» uma p a l a v r a que consegue s e r como n ã o - p a l a v r a . . .

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-REFERENCIAS B I B L I O G R Á F I C A S

1. G O N Ç A L V E S , A. Transição & permanência". M i r o / J o ã o C a b r a l : da t e l a ao t e x t o . São Paulo: Iluminismo, 1989.

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3. JENNY, L a u r e n t . "A e s t r a t é g i a da forma". Poètique. n. £7. Trad. de C l a r a C r a b b è Rocha, Coimbra, 1979.

4. NITRINI, S. Poéticas em confronto", nove, novena e o novo romance. S ã o Paulo: H u c i t e c , 1987

5. PRAZ, M. La chair, la mart et le diable". l e romantisme n o i r . T r a d u i t de l ' i t a l i e n par Constance Thompson P a s q u a l i . P a r i s : E d i t i o n s D e n o Ü l , 1977. 6. VOUILLOUX, B. "Le t a b l e a u : d e s c r i p t i o n et p e i n t u r e " . Poet i que. n. 65, f e v . 1986. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AUERBACH, E. Mimesis'. a r e p r e s e n t a ç ã o da r e a l i d a d e na l i t e r a t u r a o c i d e n t a l . S ã o Paulo, P e r s p e c t i v a , 1976. (Coleção Estudos d i r i g i d a por J . Guinsburg).

BALAKIAN» A. O Simbolismo. Trad. de José B o n i f á c i o A. C a l d a s , S ã o Paulo, P e r s p e c t i v a , 1985.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e politica: e n s a i o s sobre l i t e r a t u r a e h i s t ó r i a da c u l t u r a . Trad. S é r g i o Paulo Rouanet . S ã o Paulo, B r a s i l i e n s e , 1985.

(Obras E s c o l h i d a s , volume 1 e 3 ) .

BINNI, W. La poética del decadentismo, F i r e n z e : Sansoni Ed., 1977.

BRADBURY, M. O mundo moderna", dez yr andes

Referências

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