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Dissertação de Mestrado em Antropologia Uma Porta para o Pas

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Academic year: 2019

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Índice

Índice... I Índice de Tabelas ... III Índice de Gráficos ... IV Índice de Figuras ... V Agradecimentos ... VII Resumo ... IX Abstract ... XI

Capítulo 1: Introdução ... 2

1.1. O tema da pesquisa ... 4

1.2. Breve enquadramento teórico ... 5

1.3. Objectivos ... 9

1.4. Estrutura da dissertação ... 11

Capítulo 2: Amostra e a sua contextualização geral ... 13

2.1. Contexto histórico ... 15

2.1.1. O Convento e a sua Construção ... 16

2.1.1.1. Nuno Álvares Pereira ... 16

2.1.1.2. O Convento e a sua Construção ... 18

2.1.2. Cronologia da série ... 19

2.1.3. Lisboa (na sua época)... 21

2.1.4. Ambiente urbano ... 22

2.1.5. Higiene e saúde ... 24

2.1.6. Economia ... 25

2.1.7. Dieta e práticas de alimentação infantis ... 26

2.1.8. Não-adultos em Lisboa ... 27

2.2.Contexto arqueológico ... 30

2.2.1. A amostra ... 31

2.2.2. Dados funerários ... 31

Capítulo 3: Estado de Conservação dos esqueletos da amostra ... 34

3.1. Estado de Conservação (método)... 36

3.1.1. Resultados ... 38

3.1.1.1. Estado de Conservação Geral ... 38

3.1.1.2. Estado de Conservação das Extremidades – IRO ... 39

3.1.1.3. Estado de conservação até aos 5 anos de idade e dos 6 anos de idade aos 17 anos de idade ... 40

3.2. Tafonomia ... 41

3.3. Importância da limpeza e do restauro do material osteológico ... 42

Capítulo 4: Parâmetros Paleodemográficos ... 44

4.1. Diagnose sexual ... 46

4.1.1. Método ... 47

4.1.1.1. Resultados ... 48

4.2. Estimativa da idade à morte ... 50

4.2.1. Método ... 51

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Capítulo 5: Análise Morfológica ... 55

5.1. Análise métrica ... 57

5.1. Análise não-métrica ... 58

5.1.1. Método ... 59

5.1.1.1. Resultados ... 59

5.1.1.1.1. Caracteres discretos cranianos ... 59

5.1.1.1.1.1.Resultados ... 60

5.1.1.1.2. Caracteres discretos pós-cranianos ... 60

5.1.1.1.2.1. Resultados ... 61

Capítulo 6: Crescimento e condicionamentos ao Crescimento... 63

6.1. Criba orbitalia ... 65

6.1.1. Método ... 70

6.1.1.1. Resultados ... 70

6.2. Hiperostose porótica ... 71

6.2.1. Método ... 71

6.2.1.1. Hiperostose porótica frontal ... 72

6.2.1.1.1. Resultados ... 72

6.2.2. Hiperostose porótica parietal ... 72

6.2.2.1. Resultados ... 72

6.2.3. Hiperostose porótica occipital... 73

6.2.3.1. Resultados ... 73

6.3. Hipoplasias lineares do esmalte dentário ... 74

6.3.1. Método ... 79

6.3.1.1. Resultados ... 79

6.4. Comparação entre a idade dentária e a idade óssea ... 82

Capítulo 7: Análise da Patologia oral ... 85

7.1. Patologia oral ... 87

7.1.1. Cáries ... 87

7.1.1.1. Método ... 87

7.1.1.1.1. Resultados ... 87

7.1.2. Calculus dentário ... 91

7.1.2.1. Método ... 91

7.1.2.1.1. Resultados ... 92

7.1.3. Desgaste Dentário ... 93

7.1.3.1. Método ... 93

7.1.3.1.1. Resultados ... 94

Capítulo 8: Discussão ... 97

8.1. Estado de Conservação dos Esqueletos da Amostra da série do Largo do Convento do Carmo ... 99

8.2. Parâmetros Paleodemográficos ... 100

8.3. Condicionamentos do crescimento e indicadores de stresse... 102

8.4. Patologia oral ... 104

Capítulo 9: Conclusões ... 106

Referências bibliográficas ... 113

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Partes anatómicas consideradas na avaliação do estado de conservação dos

esqueletos (Dutour, 1989) ... 37

Tabela 2. Códigos para o registo do Índice de Conservação (adaptado de Dutour, 1989) 37 Tabela 3. Resultados da estimativa sexual de acordo com os métodos usados. ... 49

Tabela 4. Número de Indivíduos por Classes de Idades ... 53

Tabela 5. Caracteres Discretos Cranianos ... 60

Tabela 6. Caracteres Discretos Pós-cranianos ... 61

Tabela 7. Prevalência HLED por esqueleto, idade e sexo...69

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Índice de Gráficos

Gráfico 1. Dados funerários. ... 32

Gráfico 2. Índice de Conservação Anatómica Geral ... 38

Gráfico 3. Índice de Conservação Anatómica – Extremidades Superiores ... 39

Gráfico 4. Índice de Conservação Anatómica – Extremidades Inferiores ... 39

Gráfico 5. Índice de Conservação Anatómica – Indivíduos até aos 5 anos de idade ... 40

Gráfico 6. Índice de Conservação Anatómica – Indivíduos dos 6 anos de idade aos 17 anos de idade ... 40

Gráfico 7. Percentagem de Indivíduos por Classe de idade... 53

Gráfico 8. Prevalência de Criba orbitalia na amostra. ... 70

Gráfico 9. Prevalência de Hiperostose Porótica Frontal na amostra ... 72

Gráfico 10. Prevalência de Hiperostose Porótica Parietal na amostra ... 73

Gráfico 11. Prevalência de Hiperostose porótica occipital na amostra ... 73

Gráfico 12. HLED – Dentição Decidual ... 79

Gráfico 13. HLED – Dentição Permanente ... 80

Gráfico 14. . Prevalência HLED por esqueleto e sexo ... 81

Gráfico 15. Dentição Decidual – Número de dentes observados ... 87

Gráfico 16. Dentição Decidual – Cáries não cavitadas por dente... 88

Gráfico 17. Dentição Decidual – Cáries cavitadas por dente ... 88

Gráfico 18. Dentição Permanente – Número de dentes observados ... 89

Gráfico 19. Dentição Permanente – Cáries não cavitadas por dente ... 89

Gráfico 20. Dentição Permanente – Cáries cavitadas por dente ... 90

Gráfico 21. Resumo gráfico dos resultados ... 91

Gráfico 22. Dentição Decidual – Tártaro ... 92

Gráfico 23. Dentição Permanente - Tártaro ... 92

Gráfico 24. Desgaste Dentário na dentição decidual. ... 95

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Índice de Figuras

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Agradecimentos

Agradeço sinceramente:

À Prof. Doutora Susana Garcia por ter aceite ser minha orientadora, pela disponibilidade, pelo esclarecimento de dúvidas, pelos “extras”, pela paciência, pela ajuda na correcção

do trabalho, pelas conversas e, sobretudo, pela amizade.

Ao Museu da Cidade, na pessoa do Arqueólogo António Marques, por ter cedido o espólio exumado do Largo do Convento do Carmo para estudo. E à equipa de escavação, nomeadamente à Doutora Sónia Codinha pela cedência científica da série.

Quero agradecer à equipa de docentes de antropologia do ISCSP por todo o apoio, por todo o conhecimento que me transmitiram ao longo destes anos e pela formação académica de excelência.

Aos meus pais, Maria de Lurdes e José Eduino, pela paciência, pelo amor, por todas as experiências que me proporcionaram e pela maneira como me educaram e me moldaram na pessoa que, hoje, sou. Obrigado, só, não chega!

À minha avó, Filomena, que é uma “força da natureza”, e que é uma das muitas alegrias da minha vida. Obrigada pelas conversas “malucas”! E pela saudade que me deixa por já

não estar entre nós!

À Lara Faria uma “verdadeira salva vidas”! Obrigada!

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Resumo

O objectivo desta dissertação prende-se com a descrição e estudo da amostra de 50 esqueletos não-adultos dos vestígios antropológicos exumados do Largo do Convento do Carmo, em Lisboa, que datam do período entre o século XVI a meados do século XVIII. O que implicou a quantificação de número de peças ósseas por indivíduo através do registo do Índice de Conservação Anatómica (ICA) e do estado geral da amostra (ICAG). O valor calculado de 27,77% apresentou-se bastante baixo. Foi realizado o estudo dos parâmetros paleodemográficos, na estimativa da idade à morte estimou-se a idade à morte em 40 dos indivíduos da amostra e, na determinação sexual aplicou-se o método a 14 indivíduos. Na observação morfológica (não-métrica) foram observados os caracteres discretos cranianos e pós-cranianos mas sem grande expressão. Nos indicadores de stresse ou condicionamentos de crescimento observou-se a criba orbitalia, a hiperostose porótica mas, foi nas hipoplasias lineares do esmalte dentário que se verificou uma prevalência maior de 36%. Por fim, na patologia oral observaram-se as cáries, o desgaste dentário e o tártaro. A prevalência de cáries foi de 6,73% e de 681 dentes observados tinham cáries cavitadas 11 dentes.

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Abstract

The purpose of this dissertation was to make a description and study of a sample of 50 non-adult skeletons excavated from the Largo do Convento do Carmo, in Lisbon (16th to mid 18th century). It implied the quantification of bone pieces per individual in order to attain the anatomical conservational index, which was quite low 27,77%. It was also carried out a study of paleodemographic parameters, such as age at death which was obtained in 40 individuals, in the determination of sex the method could only be used on 14 individuals. On the non-metrical morphological approach was registered the epigenetic traits of the skull and of the axial skeleton but they did not show much expression. Regarding non-specific stress indicators, criba orbitalia and porotic hiperostoses was registered, but it was the linear enamel dental defects that with 36% prevalence stood out. Last but not least, on oral paleopathology was registered dental wear and dental calculus, but the prevalence went to 6,73% on carious lesions. Dental wear and dental calculus prevalence was very low and non-expressive.

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1.1. O tema da pesquisa

O tema deste trabalho insere-se na área da Antropologia Biológica, mais concretamente numa das suas subdivisões denominada por bioarqueologia ou biologia do esqueleto. Este estudo tratará da análise antropológica de uma amostra de 50 esqueletos não-adultos selecionados dos vestígios antropológicos exumados do Largo do Convento do Carmo, em Lisboa, que datam do período entre o século XVI a meados do século XVIII.

Após o estudo de uma amostra da mesma série no Seminário de Investigação da Licenciatura de Antropologia e o material de estudo ainda se encontrar disponível, planeou-se revisitar a série mas agora para estudar os indivíduos não-adultos. Visto que o estudo das exumações de fetos, crianças e juvenis são muitas vezes negligenciadas ou omitidas das investigações (Baker et al., 2005). A sua exclusão provém da percepção de que o material osteológico não-adulto se encontrará pobremente preservado quando comparado com o material osteológico adulto, muitas vezes, devido à falta de conhecimento e à inadequação das técnicas de escavação (Baker et al., 2005; Mays, 1998; Guy et al., 1997).

Mas na realidade a constante fuga ao material osteológico não-adulto prende-se, maioritariamente, com o pressuposto de que será mais moroso em termos de estudo e análise e de que o proveito proveniente do número de dados recolhidos será pouco (Baker et al., 2005). Quando na verdade este é um grupo que privilegia indubitavelmente quem o estuda, visto que a estimativa da idade à morte se torna significativamente mais aproximada e menos sujeita ao erro (embora nunca totalmente livre dele), em que se podem aceder aos padrões de crescimento, ter uma noção das diferenças genéticas, dos stresses ambientais e nutricionais possivelmente relacionados com factores socioeconómicos ou não, e em que se pode constatar a prevalência de certas doenças infantis (Baker et al., 2005).

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estado sujeitos a bastantes stresses e tido uma vida difícil. Pelo que seria de todo o interesse verificar de que modo as crianças teriam sido ou não sujeitas às mesmas pressões através do registo das hipoplasias lineares do esmalte dentário na sua dentição decidual, embora estes casos sejam dotados de alguma raridade, e na dentição permanente, sendo que existem estudos que relacionam a prevalência das hipoplasias com a idade à morte dos indivíduos (Boldsen, 2007). Quando falamos de não-adultos temos que ter em consideração que representam os indivíduos não-sobreviventes das populações

E a segunda razão prende-se com o recente desenvolvimento metodológico que poderá esclarecer uma das temáticas paleodemográficas mais controversas possibilitando a atribuição de sexo a indivíduos não-adultos com algum grau de fiabilidade (Cardoso, 2008). Sendo a aplicação deste método feita através da medição da dentição permanente, após as quais se encontrará um ponto médio acima do qual se encontrarão todos os indivíduos do sexo masculino e abaixo do qual todos os indivíduos do sexo feminino (Cardoso, 2008) tornando o método aplicado específico para a amostra em questão, embora ainda com um grau de incerteza algo elevado. Esta atribuição permite de certo modo fazer inferências à possibilidade de favorecimento dos indivíduos relativamente ao género, assim como de inferir a fragilidade, com base no género, a factores extrínsecos, algo que antes apenas poderia ser feito com não-adultos durante os primeiros anos de vida (Scheuer, 2002; Loth e Henneberg, 2001).

1.2. Breve enquadramento teórico

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O estudo de material osteológico humano é extremamente importante, seja ele num contexto médico-legal (cujo principal objectivo é a identificação positiva de restos ósseos desconhecidos) ou estudo de populações passadas, que nos permite ter um vislumbre sobre as condições de vida dessas populações (Mays, 1998).

O estudo de indivíduos não-adultos embora negligenciado durante algum tempo começa agora a ganhar uma certa importância mas com motivações diferentes das anteriores (Lewis, 2009). O estudo dos não-adultos na antropologia biológica é anterior à sua aparição nos primórdios da arqueologia social mas, não está desprovida de enfoque (Lewis, 2009). A maioria dos estudos efectuados tinha como motivação os níveis de fertilidade ou a informação de que a sobrevivência dos não-adultos poderia dizer acerca do grau de adaptação dos adultos ao meio envolvente (Lewis, 2009). Estes esforços estavam constantemente a ser minados pela ideia pré-concebida de que os esqueletos das crianças não conseguiam sobreviver ao enterro (Lewis, 2009). Só nos anos 90 é que o estudo dos esqueletos dos não-adultos começou a concentrar-se na informação que estes poderiam fornecer em termos de crescimento e índices de saúde das próprias crianças, dando também informação acerca das suas actividades e sobre o risco de infecções e traumas nos mais diversos ambientes (Lewis, 2009). A análise dos vestígios físicos das crianças dá-nos uma ideia mais pormenorizada e directa das suas vidas no passado (Lewis, 2009).

Antes da década de 80, os estudos de esqueletos de não-adultos concentravam-se apenas na criação de métodos para a estimativa de idade à morte e para a diagnose sexual baseados em estudos médicos (Schour e Massler, 1941; Hunt e Gleiser, 1955 citados por Lewis, 2009). Nos anos 60 começaram a emergir estudos sobre o crescimento físico das populações passadas e estas dominariam a pesquisa feita em não-adultos nos 40 anos seguintes (Lewis, 2009).

Com o crescente interesse na paleodemografia, os investigadores começaram a

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vida” (Moore et al., 1975 citado por Lewis, 2009) mas apenas alguns poucos se mostraram interessados no que estes dados podiam contribuir para a nossa compreensão da mortalidade perinatal e infantil (Brothwell, 1971, Hennenberg, 1977 e Mulinski, 1976 citados por Lewis, 2009).

Na paleopatologia, a anemia relacionada com a falta de ferro como causa apontada para as lesões poróticas do crânio (hiperostose porótica) encontrava-se sob grande discussão (Lewis, 2009).

Em 1980, Buikstra e Cook, resumiram os estudos dos não-adultos como tendo tendencialmente sido prejudicados pela má preservação do material, pela falta de recolha desse material e pelo facto das amostras serem diminutas. Mas apesar de todas estas contrariedades apontadas, eles acharam que cada vez mais os investigadores se estavam a aperceber da verdadeira importância do estudo de material não-adulto para a determinação do quadro geral de uma população (Buikstra e Cook, 1980 citados por Lewis, 2009).

Começando pela descrição dos parâmetros demográficos como a idade e o sexo, que quando recolhido um grande número de dados de um também extenso número de esqueletos, é possível ter uma visão geral dos padrões de mortalidade, assim como, da composição demográfica da população. A estimativa da idade à morte dos não-adultos permite analisar os padrões de crescimento das crianças, sendo que estes são os não sobreviventes, através da comparação dos dados obtidos com outras populações (Mays, 1998).

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tendências seculares. Na vertente não métrica é nos permitida a análise de características epigenéticas ou caracteres discretos cuja observação dá-nos acesso à variação dentro de uma população, no tempo e no espaço, como resultado de semelhanças ou dissemelhanças genéticas presentes (Hauser e De Steffano, 1989) podendo estas ser observadas ao nível do crânio ou do esqueleto apendicular (Finnegan, 1978; Saunders, 1989).

A observação e estudo dos defeitos de crescimento ou de paragens no crescimento é extremamente necessária para que se tenha uma visão das dificuldades experienciadas pelo indivíduo no singular ou no plural quando se olha para a população, tendo ainda mais relevância quando se tratam de não-adultos. A maioria das desordens é multifactorial (originárias de factores intrínsecos e extrínsecos) e ocorrem quando um certo patamar de desenvolvimento genético básico é atingido durante a morfogénese (Barnes, 1994). Isto ocorre num tempo de mudança rápido, normalmente quando células novas estão a proliferar, a migrar, a diferenciar-se, ou a regredir (Barnes, 1994). O distúrbio mais comum é o atraso no tempo de atingir o tal patamar de desenvolvimento levando a vários graus de subdesenvolvimento, de paragens no crescimento (hipoplasias), à ausência do elemento ou da estrutura (aplasia) (Barnes, 1994). Sendo que só, raramente, é o tempo de desenvolvimento acelerado dando origem à hiperplasia (Barnes, 1994). As desordens multifactoriais são o resultado da interacção entre factores genéticos (intrínsecos) e factores ambientais (extrínsecos). A combinação entre factores genéticos e ambientais é conhecida como interacção epigenética (Barnes, 1994). Os factores podem ser mecânicos, químicos, nutricionais, desequilíbrios hormonais maternais, variações na pressão do oxigénio, radiação ou infecção (Barnes, 1994).

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A patologia oral na qual se excluem os casos de anadontia, em que os indivíduos não desenvolvem qualquer dentição, todos os humanos em qualquer lugar e em todos os tempos tiveram, tem ou terão dentes (Scoot e Turner II, 2000). Permitindo deste modo, o estudo de patologias dentárias como as cáries, a osteotite periapical, os padrões da perda de dentes e a doença periodontal, fornecendo inúmeras possibilidades de pesquisa (Scoot e Turner II, 2000). De modo a que se possam inferir hábitos de utilização dos dentes, hábitos de higiene e, até, o tipo de alimentação das populações. Sendo que no caso dos não-adultos a simples mudança da alimentação proveniente do leite materno para a comida sólida pode deixar marca de desgaste nos dentes deciduais (Lewis, 2009).

Ao juntar todos estes indicadores e dados é possível descrever, ainda que de uma forma conjecturável, a vida de uma população fazendo referência à sua composição demográfica, à sua composição morfológica métrica e não métrica, aos seus períodos de stresse, aos seus possíveis hábitos diários, aos seus hábitos de higiene, às suas possíveis, ocupações profissionais, à existência de cuidados com a saúde ou à falta deles e ao seu tipo de alimentação. Porque, em certo sentido, os recursos osteológicos são como livros numa biblioteca (White, 2000). Os ossos e os dentes, têm o potencial, se lidos correctamente, de nos informar acerca das pessoas às quais estes pertenciam quando se encontravam vivas (White, 2000).

1.3. Objectivos

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Deste modo, em primeiro lugar pretende-se quantificar Oo estado de preservação/conservação dos esqueletos uma vez que a maior ou menor quantidade de ossos presentes vai condicionar as análises demográficas e paleopatológicas seguintes. Nesta dissertação o objetivo é quantificar o material ósseo presente e não avaliar a qualidade do periósteo. Se os esqueletos estão mais ou menos completos está dependente de vários fatores, entre eles, da acidezo tipo doe terrenosolo em que os esqueletos foram inumados, a existência ou não de sepultura, do cuidado tido na sua exumação, no seu transporte e, o cuidado na sua limpezacuradoria. e do seu estado final depois de todas estas fases.

Tendo em vista as caracterização ísticas paleodemográficas da amostra irão ser aplicadosr a metologia alguns métodos recentemente desenvolvidos pela osteologia humana para a diagnosedeterminação sexual e para a estimativa da idade à morte.

O estudo morfológico será composto por duas abordagens, a métrica e a não- métrica. Na abordagem métrica pretende-se aplicar os parâmetrosprocedimentos métricos de medição dos ossos longos. Nos caracteres discretos ou não -métricos pretende-se observar os indicadores, registando a sua presença ou ausência e a sua prevalência.

No estudo dos indicadores de stresse ou condicionamentos de crescimento pretende-se obpretende-servar e registar as hipoplasias lineares do esmalte dentário, a criba orbitalia e a hiperostose porótica.

O reconhecimento do osso como anormal levanta questões ao nível da causa e do evento que resultam na remodelação do osso (Mann e Murphy, 1990). Na patologia oral registar as cáries cavitadas e não cavitadas, a incidência de tártaro e o desgaste dentário.

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1.4. Estrutura da dissertação

A introdução (capítulo 1) é composta pela apresentação do tema de pesquisa, por um breve enquadramento teórico e pela explanação dos objectivos relativos a esta dissertação.

No capítulo 2 faz-se uma contextualização demográfica, social, política, económica e ecológica, sendo que ao contextualizarmos é fundamental interpretar e entender o que nos mostram os ossos.

No capítulo 3 apresenta-se o estado de conservação do material osteológico que são a parte fulcral deste trabalho.

O capítulo 4 é dedicado aos parâmetros paleodemográficos: a diagnose sexual e a estimativa da idade à morte.

No capítulo 5 apresenta-se a análise morfológica composta pela análise métrica e não métrica.

O capítulo 6 é constituido pela análise dos condicionamentos de crescimento e da expressão dos vários marcadores de stresse registados.

O capítulo 7 é composto pela análise paleopatológica que engloba a patologia oral.

No capítulo 8 apresenta-se a discussão dos resultados obtidos nos capítulos anteriores.

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2.1. Contexto histórico

Porque estamos nós humanos tão interessados no nosso passado? O nosso investimento é substancial na reconstrução do passado, na demanda da reconstrução da constituição dos nossos antepassados, como eram e como viviam (Ortner, 2006). Do mesmo modo também investimos para deixar algo de nós para os que nos seguirão (Ortner, 2006).

Uma das razões para este interesse é o facto de o que somos hoje deriva da acumulação dos conhecimentos e inovações que foram transmitidas pelos nossos antepassados e nos permitiram evoluir e tornarmo-nos no que somos hoje (Ortner, 2006).

Os documentos históricos podem se revestir de várias formas não só a escrita (Ortner, 2006). Porque normalmente as fontes escritas têm a tendência de enfatizar a elite política e social da época por isso há que recorrer a outras vertentes para que se obtenha um quadro mais completo de uma possível realidade (Ortner, 2006).

Os dados arqueológicos e antropológicos tendem a ser mais representativos destas populações no seu total, sendo também que estes dados muitas vezes dão acesso à história de populações que não possuem qualquer tipo de documentação ou fonte de informação escrita, permitindo estimar uma possível construção da realidade (Ortner, 2006). No caso da arqueologia esta foca-se na escavação de estruturas arquitectónicas nas quais surgem na maioria das ocasiões artefactos culturais associados (Ortner, 2006). No caso da antropologia ênfase centra-se na escavação e exumação de cemitérios onde artefactos funerários e vestígios esqueletizados providenciam um grande número de dados sobre os indivíduos em si e a população em geral de uma dada sociedade numa determinada época (Ortner, 2006).

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do dia-a-dia, a economia, o tipo de sociedade e tantas outras actividades características da época. Seria possível apenas saber o sexo, estimar a idade, apontar possíveis patologias mas não relaciona-las ou tentar tirar possíveis elações relacionadas com eventos específicos do período em questão. A contextualização histórica permite ao antropólogo, ao arqueólogo e ao historiador ter uma visão mais abrangente da realidade de uma época, por vezes permitindo a confirmação, a refutação ou estimativa de acontecimentos. Ter uma ideia das taxas de mortalidade, natalidade, mortandade, padrões demográficos que se podem usar como referência, comportamentos, criminalidade, religião, comércio, padrões migratórios, sociedade e as suas classes, tipo de alimentação e a que classes estão estas associadas, educação, profissões e períodos de carência alimentar (Smith, 2003).

A contextualização histórica é um processo de personificação dos dados, os

vestígios osteológicos humanos, exumados e analisados, ganham “vida” ao serem

inseridos num contexto histórico, cultural, social e económico. Fazem-se possíveis ligações a stresses no crescimento e patologias com possíveis acontecimentos ou tipos de alimentação. O indivíduo é visto como tal mas, também, como parte de um conjunto com características semelhantes ou, por vezes, dissemelhantes. Sendo que a característica mais importante da contextualização histórica é tornar possível uma espécie de visualização da vida passada.

2.1.1. O Convento e a sua Construção

2.1.1.1. Nuno Álvares Pereira

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dotado de santidade (Martins, 2009). Quando tinha pouco mais de um ano foi legitimado por acto do rei D. Pedro e em casa do seu pai recebeu a mais cuidada educação (Torres, 2005). Aos 13 anos foi armado cavaleiro e admitido na Corte como pajem da Rainha e a sua educação ficou concluída junto do rei D. Fernando aos 17 anos de idade (Torres, 2005). Casou aos 16 anos com o aval do rei com D. Leonor de Alvim, jovem viúva de quem teve uma filha de nome Beatriz (Torres, 2005).

Do carácter de Nuno Álvares Pereira constatava-se a sua constante, incessante e crescente aspiração da máxima perfeição moral (Torres, 2005). Desde muito cedo era possível constatar o seu ardente culto pela Pátria à qual destinou dedicar todo o seu esforço e, embora chefe, considerava os seus companheiros de armas como irmãos dedicados ao mesmo destino, firmando o seu comando na franqueza, na lealdade e na autoridade do exemplo (Torres, 2005).

Em termos militares fez valer a sua presença em muitas das demandas do reino, aos 24 anos de idade (1384) foi nomeado pelo Mestre de Aviz fronteiro-mor do Alentejo, mas com maior relevo nas batalhas dos Atoleiros, Aljubarrota (a mais importante das três porque fez com que Portugal conservasse a sua nacionalidade e assegurou a vitória do Mestre de Aviz que era a causa da Pátria) e Valverde (Torres, 2005). Após a coroação do Mestre de Aviz pela vontade do povo em Lisboa e consagrado pelas cortes de Coimbra no dia 6 de Abril, também, aniversário da batalha dos Atoleiros, Nuno Álvares recebe do soberano as funções de Condestável, comandante supremo do exército português (Torres, 2005).

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enterrado na maior das simplicidades, sendo depois trasladado em 1836 para São Vicente de Fora (Duarte, 2001).

Os milagres realizados por intercessão de D. Nuno eram de tal forma numerosos que no seu túmulo foram efectuadas aberturas para permitir que os doentes tocassem no seu interior e obtivessem terra do sepulcro como relíquia (in Chronicas dos Carmelitas I, pág. 486-559 citado por Torres, 2005). A Igreja registou por sua intercessão, 24 curas de paralíticos, 21 curas de cegos, 21 curas de surdez, 18 doenças internas, 16 fatais, e 6 aparições do grande cavaleiro com graças espirituais (in Chronicas dos Carmelitas I, pág. 486-559 citado por Torres, 2005).

2.1.1.2. O Convento e a sua Construção

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Portugal, promulgados e confirmados por D. João I, já referem o Convento de Santa Maria do Carmo de Lisboa como sede da Província. Em 1551, a sua renda rondava os dois mil cruzados e a comunidade era constituída por cerca de 70 frades. No Convento tinham sede seis confrarias, dedicadas a Nossa Senhora do Carmo, a Nossa Senhora da Piedade, à Vera Cruz, a Santa Luzia, a Santa Ana e a São Roque. Em 1755, o terramoto de 1 de Novembro danificou gravemente o convento. Em 1834, no âmbito da "Reforma geral eclesiástica" empreendida pelo Ministro e Secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 30 de Maio, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo. Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.

2.1.2. Cronologia da série

Em termos cronológicos a estimativa dos enterramentos, foi feita com base na história conhecida do Convento do Carmo e nos dados arqueológicos provenientes da escavação. Sabendo-se que, após o terramoto de 1755, e com a destruição a ele associada a reconstrução da Igreja nunca chegou a ser concluída e o seu espaço exterior cessou as suas funções como cemitério. Constituindo, assim, esta data (1755) um marco temporal superior para a utilização da necrópole (Benisse, 2005).

As primeiras inumações realizadas no exterior da Igreja deverão remontar ao início do século XVI, tendo em vista que, primeiramente, se teriam realizado no seu interior. Esta ideia aparece reforçada pelo facto de não se terem encontrado moedas associadas as estes enterramentos, prática que era muito comum até ao século XV e que se observou nos indivíduos que foram ao longo desse século inumados dentro da Igreja (Marques, 2004 citado por Benisse, 2005).

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Batalha de Aljubarrota. Este ficou situado na colina Oeste do Castelo de São Jorge, a sua construção teve início em Julho de 1389 e prolongou-se por mais de três décadas. Devido às condições instáveis do solo tendo ocorrido dois desabamentos ao longo da obra. Esta só viria a ficar concluída em 1423, sendo por conseguinte doado à ordem dos Carmelitas (Barbosa, 1886 citado por Benisse, 2005).

A igreja, edificada em estilo gótico, era a maior de Lisboa, com 72m de comprimento e 24,64m de altura na nave central. A componente conventual, que primeiramente era bastante singela, foi crescendo em complexidade ao longo dos séculos XVI e XVII. Com o terramoto de 1755, uma parte substancial do Convento foi destruída, sendo que a abobada da igreja desabou, assim como, grande parte da parede sul e da parte superior da parede da frontaria. E embora se tenham iniciado pouco tempo depois, obras de restauro estas nunca chegaram a ser findas (Pereira, 1994 citado por Benisse, 2005).

Com o findar das ordens religiosas, em 1834, e após um período em que permaneceu em ruínas, a Guarda Nacional Republicana estabeleceu-se aí, até à sua limpeza e ocupação, em 1864, pela Real Associação dos Arquitectos Civis e dos Arqueólogos Portugueses, abrigando, actualmente, o espólio da Associação dos Arqueólogos Portugueses.

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Assim a área localizada a maior distância da capela-mor, ou seja, o adro da Igreja estava destinado aos de menor condição social, que, naturalmente, eram a maioria da população (Benisse, 2005). Com estas evidências em mente, pode-se considerar que o adro da Igreja foi utilizado como cemitério por um período de aproximadamente 250 anos, entre o início do século XVI e meados do século XVIII e excluem-se à partida o acesso a indivíduos de estatuto social elevado.

2.1.3. Lisboa (na sua época)

Início do nascimento de Lisboa como capital do reino, D. Afonso Henriques procura restabelecer o comércio local de Lisboa e 10 anos após a sua reconquista é criada uma feira à entrada da cerca muçulmana (Couto, 2003). Até ao século XV a colina do castelo de São Jorge funcionou como o centro da cidade deslocando-se progressivamente ao longo dos anos para a zona oeste de Lisboa (Couto, 2003).

Um costume que perdurou até ao sec. XVI foi o carácter itinerante da corte, embora, D. Afonso III apreciasse mais estar presente em Lisboa (Couto, 2003). D. Afonso III durante o seu reinado no ano de 1256 oficializa Lisboa como capital do reino mas, só no sec. XVI a corte estabelece residência em Lisboa e a chancelaria real instala-se numa das quatro torres do Castelo de São Jorge, local onde, também, começou a funcionar o Tesouro e os Arquivos do Reino (Couto, 2003).

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tempos os habitantes desta cidade se dediquem a toda e qualquer espécie de cultos, superstições e devoções, uma cidade de míticos e de hereges, que recebe de braços abertos adivinhos e charlatães desde que estes tragam respostas às suas perguntas (Couto, 2003). O numero exacerbado de capelas, igrejas e oratórios que foram erigidos ao longo dos séculos não mais do que exorcismos, e ex-votos contra os vários sismos, incêndios, devastações e pestes que assolaram a cidade ao longo desse tempo (Marques, 2006).

2.1.4. Ambiente urbano

Do século XII para o século XIII Lisboa é povoada por cerca de 20 000 habitantes e a cidade desenvolve-se desordenadamente através das colinas situadas atrás do Rossio indo em direcção à Pedreira (zona que albergaria os futuros bairros do Chiado e do Carmo), do monte Fragoso (São Francisco), ocupando também a planície da Ribeira Velha e estendendo-se em direcção a poente a São Vicente e à Paróquia de Santa Clara (Couto, 2003). No reinado de D. Sancho II o Rossio passa a ser um centro de comércio onde se instalam as feiras e os mercados e a zona à beira do Tejo vai pouco a pouco sendo ocupada por construções todas elas dedicadas à construção naval (Couto, 2003). Sendo que nos terrenos com o nome de Terecenas de D. Sancho II, procede-se à construção dos edifícios que serão os antecessores de os da Ribeira das Naus, os grandes estaleiros navais do século XVI (Couto, 2003).

Pelo que podemos constatar Lisboa, era uma urbe muito diferente da de hoje mas já uma urbe de grandes dimensões no seu tempo e em crescimento constante. Um local fervilhante de gente e de comércio (Castelo-Branco, 1969). Pela sua localização e

natureza favorável, Lisboa, estava repleta de “bens de natureza e fortuna”, sendo que foi

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Os traços específicos da arquitetura urbana, assim como, meio ambiente habitacional, são-nos apresentados pela observação das residências que poderemos classificar como de classe média, formada maioritariamente por homens de negócios, alguns comerciantes abastados e ainda fidalgos de segundo plano (Castelo-Branco, 1969).

Os edifícios eram quase sempre de três andares, embora existissem em Lisboa edifícios com seis (Castelo-Branco, 1969). A Lisboa seiscentista era possuidora de inúmeros conventos e recolhimentos religiosos e onde naturalmente viveriam os muitos religiosos e religiosas que existiam na capital (Castelo-Branco, 1969). Em 1620, existiam vinte e quatro conventos masculinos, o que correspondia a cerca de 1365 frades, ao passo que o número de conventos femininos, era apenas de dezoito, mas albergava 1832 freiras, perfazendo um total de 3197 monásticos (Castelo-Branco, 1969). O número de conventos e mosteiros, que era indubitavelmente vasto, pelo que foi na própria época considerado excessivo (Castelo-Branco, 1969). Uma carta régia de 1618 afirma-se que o número de conventos e recolhimentos, era demasiado não sendo já possível sustentá-los todos à custa de esmolas (Castelo-Branco,1969).

Além disso, Lisboa, como cidade, crescia, o trânsito aumentava e a atmosfera citadina tornava-se, sem exagero, pestilenta, devido à falta de higiene (Castelo-Branco, 1969) e condições sanitárias adequadas. A isso, muitas vezes, também, estava associada a constante crise nos abastecimentos de alimentos à própria cidade, como é o caso da constante falta de trigo, como refere o autor. As crises alimentares deviam ser principalmente crises de trigo. São pelo menos aquelas de que se possuem maior número de registos. Sabendo, no entanto, que em 1618 havia falta de carne devido aos

“atravessadores” e que em 1660 a Câmara se queixava de falta de milho e de bacalhau

(Castelo-Branco, 1969). Não será portanto de estranhar que em tempo de escassez houvesse alta de preços o que deixava a população mais empobrecida numa situação mais débil.

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trágicas. O abastecimento era de facto irregular e deficiente tornando-se num pesadelo que afligiu, a capital, por muito tempo sem solução à vista, reflectindo-se nos mais variados domínios da sua vida quotidiana (Castelo-Branco, 1969).

Devido à precariedade da situação adivinha, naturalmente, uma grande dificuldade na aquisição de água e na alta do seu preço, sendo que para agravar a situação, os chafarizes eram muito raros e, por isso, muito concorridos, tornando-se frequentemente focos de constantes desordens em que “sucediam-se brigas, mortes e ferimentos”

(Castelo-Branco, 1969). Em consequência desta situação grave – poucas fontes, pouca água e esta na maioria dos casos imprópria para o consumo, “péssima para o fígado”

(Castelo-Branco, 1969).

No que diz respeito à alimentação com excepção do conhecimento de ementas e alguns outros dados sobre banquetes que se efectuaram no século XVII, são poucos o elementos que de que se tem registo acerca da alimentação quer das classes populares quer da pequena e alta burguesia ou da nobreza (Castelo-Branco, 1969).

Assim, a título de exemplo, a Relação em verso relata-nos que um dos principais elementos da alimentação (além do trigo - pão) era a sardinha (Castelo-Branco, 1969). Outro peixe consumido em grande quantidade era o bacalhau (Castelo-Branco, 1969), sendo que as carnes eram maioritariamente consumidas pelos de condição mais abastada.

Em termos de segurança pública, não existe um grande número de dados. Se haveriam ou não muitos roubos ou assassinatos não se sabe ao certo, mas as brigas e os assaltos eram frequentes então (Castelo-Branco, 1969).

2.1.5. Higiene e saúde

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Lisboa era uma cidade particularmente exposta à peste devido ao seu fluxo de entrada e saída de gentes e navios dos seus portos (Couto, 2003).

Como em toda a parte a propagação das doenças, epidemias e pestes estavam intimamente ligadas à falta de cuidados de higiene e à inexistência de condições de salubridade nas classes menos favorecidas (Couto, 2003).

O mesmo já não se passava nas classes abastadas que conservavam ainda o hábito de lavar as mãos antes e depois das refeições ou mesmo até tomar banho (Couto, 2003). Segundo Couto (2003) os banhos públicos não desapareceram das grandes cidades portuguesas sendo que até alguns deles foram posteriormente confundidos com termas medicinais. Estes banhos eram utilizados por homens e mulheres, em dias alternados da semana, à semelhança dos nossos “banhos turcos” (Couto, 2003). Os lisboetas de

condição social abastada tinham por costume frequentar estes banhos públicos deslocando-se acompanhados por um escravo ou por um criado que lhes transportava a roupa lavada (Couto, 2003).

2.1.6. Economia

Lisboa, uma cidade virada para o mar e para o comércio. E como a seguir a tradição de outras grandes cidades portuguesas os diversos grupos profissionais ou de ofícios agregavam-se em ruas específicas de acordo com a actividade que exerciam (Couto, 2003). Ofícios da cidade (Couto, 2003):

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escrivães, juízes, magistrados, carcereiros, pregoeiros públicos, puxadores de cortinas, alcaides de castelos, comandantes dos corpos dos exércitos, soldados, chefes de coudelarias, monteiros-mor, camareiros, vedores de fazenda, criados de quarto, cozinheiros, falcoeiros, armeiros, mercadores, marinheiros, etc...

2.1.7. Dieta e práticas de alimentação infantis

Na Europa a maioria dos bebés eram alimentados através do peito e quando as mães não podiam, eram contratadas amas de leite, respeitante às classes mais abastadas (Kiple e Ornelas, 2000).

A alimentação neonatal focava-se na utilização de purgantes para ajudar a remover o mecónio fetal dos intestinos do recém-nascido (Kiple e Ornelas, 2000). Acreditava-se que o consumo de leite antes do expelir da totalidade do mecónio podia originar a coagulação dos intestinos (Kiple e Ornelas, 2000). Algumas das substâncias utilizadas para estas purgas eram óleo de amêndoa, manteiga, mel, vinho, óleo de castor, sal e sabão, estes dois últimos muito populares no sec. XVII (Kiple e Ornelas, 2000). Estes purgantes eram administrados em intervalos regulares durante os primeiros dias de vida da criança, período durante o qual as mães eram aconselhadas a não amamentar as crianças (Kiple e Ornelas, 2000).

Na verdade o período de retenção do leite materno poderia ir de alguns dias a um mês, devido à crença de que a mãe necessitava de tempo para recuperar do parto e ficar pura depois da sua descarga vaginal cessar (Kiple e Ornelas, 2000). Além desta preocupação com a mãe acreditava-se que a criança estaria em perigo do colostrum impuro da mãe (Kiple e Ornelas, 2000). Este efeito de atraso na amamentação privava os bebés das propriedades imunológicas do colostrum e causava perda de peso e desidratação em muitos dos casos (Kiple e Ornelas, 2000).

(38)

O período de amamentação poderia ir dos 18 aos 24 meses, após o qual iniciariam a transição para a alimentação normal (Kiple e Ornelas, 2000).

Após este período a introdução das papas de arroz e pão com água ou leite a criança progressivamente adaptava-se à alimentação adulta sendo a sua comida triturada ou mastigada pela mãe antes desta lhe ser dada Quando a mãe não tinha capacidade de produzir o leite materno, as crianças eram alimentadas com papas de arroz ou pão ensopado em água ou leite de vaca ou cabra (Kiple e Ornelas, 2000). Isto até que a sua dentição permitisse a sua mastigação e deglutição Quando a mãe não tinha capacidade de produzir o leite materno, as crianças eram alimentadas com papas de arroz ou pão ensopado em água ou leite de vaca ou cabra (Kiple e Ornelas, 2000).

2.1.8. Não-adultos em Lisboa

Segundo a maioria das constituições sinodiais, o baptismo devia realizar-se até 8 dias após o nascimento da criança (Mattoso, 2011). Com sete anos as crianças eram consideradas capazes de mentir por isso tinham de se confessar (Mattoso, 2011). Aos catorzes os rapazes já podiam casar e as raparigas aos doze anos de idade, o que implicava a consumação carnal (Mattoso, 2011).

A alta mortalidade infantil e juvenil impunha que os progenitores tivessem consciência de que nem todos os seus filhos chegariam à idade adulta, sendo que a expectativa normal seria que um ou vários morreriam (Mattoso, 2011). Facto pelo qual os casais da época tinham famílias numerosas com muitos filhos. À medida que o tempo passava e as crianças iam crescendo o perigo de morte ia-se desvanecendo (Mattoso, 2011).

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anos de idade o rapaz era designado de menino, dos catorze ou quinze anos de idade aos 25 anos, adolescente, era designado de moço (Mattoso, 2011).

Em Portugal como noutros países da Europa antes do desenvolvimento da obstetrícia, os partos eram assistidos por parteiras ou vizinhas experientes, que necessitavam de obter uma licença das autoridades para que pudessem exercer o seu ofício (Mattoso, 2011). A maioria das crianças nascia em casa, sendo que nas cidades os partos das mães solteiras acontecia nos hospitais, pelo facto de estas não possuírem apoio familiar (Mattoso, 2011). Uma etapa muito importante seguia-se ao nascimento, etapa sem a qual a criança não existia para a comunidade, o baptismo (Mattoso, 2011).

Após o nascimento era comum, nas camadas mais abastadas da sociedade, a contratação de amas de leite, algo se encontrava inacessível ao patamar mais baixo da sociedade (Mattoso, 2011). Pelo que só as crianças das mães (camadas populares) com poucas ou nenhumas condições monetárias eram alimentadas pelas próprias mães biológicas (Mattoso, 2011).

E assim começava o processo de circulação das crianças, primeiro para a ama de leite, seguindo-se depois os mestres de um oficio, ir para longe servir como criados domésticos ou numa lavoura, emigrar, frequentar um colégio ou serem confiadas a um nobre para que este fique encarregue da sua educação (Mattoso, 2011). É claro que esta estrutura apenas se aplica às camadas mais abastadas da sociedade, sendo que as crianças pobres que eram a maioria não se incluem neste modelo, embora houvesse uma grande circulação entre famílias de acolhimento (Mattoso, 2011).

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“No entanto, para a maioria das crianças, a verdadeira educação era a dos meios profissionais onde

cresciam. As exigências das autoridades passavam, quanto muito, pela aprendizagem da doutrina católica,

que dispensava a literacia.” (Mattoso, 2011).

Mas nem só de pão vive o homem e sendo assim, as crianças também se dedicavam a brincadeiras e jogos visto que nas cidades o seu lugar era nas ruas (Mattoso, 2011). Sabe-se que os seus espaços lúdicos, entre rapazes e raparigas, eram distintos (Mattoso, 2011). As raparigas, se de bom nascimento, estavam confinadas ao espaço doméstico e ao perímetro das suas casas e, os rapazes à vida ao ar livre em espaços abertos (Mattoso, 2011).

“Para os rapazes havia uma gradação entre jogos: os honestos eram o aro, pela, o pião, mas as

danças abriam-lhes os olhos para a malícia. E havia os nocivos, como jogar pedradas, esgrimir, correr a cavalo. Pior ainda eram os jogos de azar, como as cartas e os dados, que auguravam um futuro na

marginalidade.” (Mattoso, 2011)

Relativamente ao afecto, o facto das taxas de mortalidade serem muito altas, das famílias serem muito numerosas e da circulação das crianças ser uma constante continua a criar polémica (Mattoso, 2011). Segundo Philippe Ariés, as crianças não eram objecto de grandes afectos e carinhos por parte dos pais e familiares, pelo menos antes de terem ultrapassado os, considerados, perigos da primeira infância (Mattoso, 2011). Considerava que estas viviam num mundo à parte do dos adultos e que a sua perda não era chorada como uma perda irreparável (Mattoso, 2011). Já segundo Alexandre Gusmão, falou sobre o amor que os pais deviam nutrir pelos filhos mas referiu que em primeiro lugar devia estar o amor a Deus e pela lei divina (Mattoso, 2011). Outra fontes, constatam a existência de uma cultura em que as crianças eram valorizadas e amadas, havendo registos de canções de embalar, provérbios, rimas infantis e objectos devocionais que eram colocados nos pescoços das crianças com o objectivo de as proteger do mal (Mattoso, 2011).

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nascença ou deixadas em sítios ermos para que falecessem posteriormente ou eram atiradas a rios ou ribeiros (Mattoso, 2011). O aborto eram referia-se às crianças que eram mortas ainda no ventre da mãe ou às práticas que impediam que a mulher engravidasse (Mattoso, 2011). As crianças de descendência ilegítima eram tão comuns em algumas áreas que as famílias conviviam bem com essa realidade sendo estas bem toleradas (Mattoso, 2011). As razões apontadas para estes comportamentos prendem-se com relações ilícitas, o manter da honra de uma mulher, as mulheres solteiras que engravidavam e não tinham protecção familiar, a falta de condições monetárias e a fome (Mattoso, 2011).

2.2.Contexto arqueológico

Durante uma intervenção de carácter urbanístico com vista ao arranjo do Largo do Carmo e à construção de uma nova escadaria de acesso à Igreja do Convento do Carmo, foram descobertas ossadas humanas. Posteriormente, foi organizada uma escavação arqueológica de emergência, para que se procedesse à exumação dos vestígios em causa. A intervenção arqueológica foi organizada e dirigida pelo arqueólogo António Marques, da Divisão de Museus e Palácios da Cidade de Lisboa, tendo a escavação e exumação das ossadas humanas ficado sobre a alçada da antropóloga física Sónia Codinha, colaboradora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.

A intervenção decorreu entre os dias 2 de Agosto e 28 de Dezembro desse ano (Marques, 2004 citado por Benisse, 2005). Embora haja incidido apenas na área de construção da nova escadaria (Codinha, 2002 citada por Benisse, 2005), durante a intervenção foram postos a descoberto e exumados vestígios osteológicos correspondentes a 150 inumações primárias e a 19 ossários.

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Presentemente, o material osteológico, que foi cedido pelo Museu da Cidade encontra-se no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, com o aval do Conselho Científico, para estudo desde 2006.

O adro da Igreja era, até esta altura, o único espaço sepulcral do Convento do Carmo que não tinha sido alvo de nenhuma intervenção arqueológica, pois todos os restantes locais de enterramento, localizados no interior da Igreja (as naves central e laterais, o transepto e as diversas capelas), haviam sido, pelo menos, investigados (Ferreira, 1999 citado por Benisse, 2005; Lopes e Cardoso, 2000).

2.2.1. A amostra

A amostra é parte integrante da série exumada no Largo do Convento do Carmo aquando das obras de requalificação do mesmo. A amostra seleccionada é composta por 50 indivíduos não-adultos cujas idades se encontram entre as 36 semanas e os 17 anos de idade. É uma amostra na qual se encontram indivíduos de classes não privilegiadas o que era o costume de enterramentos deste tipo.

2.2.2. Dados funerários

(43)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Deposição Dorsal

orientação W-E

orientação E-W

orientação N-S

sem informação

Dados funerários

(44)
(45)
(46)
(47)

A correcta identificação das componentes do esqueleto juvenil é fundamental para a sua subsequente análise e interpretação (Scheuer e Black, 2004). A falta de familiaridade com os vestígios imaturos pode levar a uma incorrecta classificação dos vestígios como não-humanos ou de origem incerta (Scheuer e Black, 2004). Sendo assim, teria um impacto negativo na validade e nos resultados de qualquer investigação, pondo em causa o resultado do seu desfecho até numa coisa tão simples e básica como a seu adequado reconhecimento (Scheuer e Black, 2004). Sem essa confirmação inicial e essencial é virtualmente impossível dar seguimento à análise e estabelecer o número de indivíduos representados, assim como, estabelecer a sua identidade (Scheuer e Black, 2004).

Pelo que a importância da realização de um inventário mesmo antes do início da análise permite tanto identificar se são de origem animal ou humana, identificar as componentes dos esqueletos presentes, assim como, também, a presença ou não de todos os elementos do esqueleto e do seu estado de conservação, como primeiro passo antes da análise de outros elementos como a diagnose sexual, a estimativa de idade à morte e/ou qualquer outro tipo de análise que permita a obtenção de dados com o objectivo de tentativa de construção da vida dos indivíduos estudados.

3.1. Estado de Conservação (método)

(48)

Tabela 1. Partes anatómicas consideradas na avaliação do estado de conservação dos esqueletos (Dutour, 1989)

Crânio (n = 10)

Esqueleto axial (n = 9)

Esqueleto apendicular (n = 18)

Extremidades (n = 8)

1 - Frontal 2- Parietal d 3- Parietal e 4- Temporal d 5- Temporal e 6- Occipital 7- Base 8- Face 9- Mandíbula 10- Dentes

11- Ráquis cervical 12- Ráquis dorsal 13- Ráquis lombar 14- Coxal d 15- Coxal 16- Sacro 17- Esterno 18- Costelas d* 19- Costelas e*

20- Clavícula d 21- Clavícula e 22- Escápula d 23- Escápula e 24- Úmero d 25- Úmero e 26- Rádio d 27- Rádio e 28- Ulna d 29- Ulna e

30- Fémur d 31- Fémur e 32- Tíbia d 33- Tíbia e 34- Fíbula d 35- Fíbula e 36- Patela d 37- Patela e

38- Mão d 39- Mão e 40- Talus d 41- Talus e 42- Calcâneo d 43- Calcâneo e 44- Pé d 45- Pé e

Legenda: d. direito; e. esquerdo; *no qual se fez uma ligeira alteração por não se querer ver as costelas como um todo mas sim diferenciadas por lado.

Tabela 2. Códigos para o registo do Índice de Conservação (adaptado de Dutour, 1989)

Códigos para ossos únicos

0 Osso ausente

0,25 Um quarto ou fragmento do osso

0,5 Metade do osso

0,75 Três quartos do osso

1 Osso completo

Tendo por base esta classificação calculou-se o Índice de Conservação Anatómica (I.C.A.) para cada esqueleto da amostra usando a seguinte formula:

ICA = 100 x Σ (valor atribuído a cada parte anatómica / pelo número de partes anatómicas)

Para as extremidades e costelas de ambos os lados calculou-se o Índice de Representatividade Óssea (I.R.O.) de acordo com Garcia (2007), com o objectivo de se obterem valores mais exactos e que mostrassem a sua real representatividade.

Este índice foi definido também entre 0 e 1, aplicando-se a seguinte fórmula:

(49)

3.1.1. Resultados

3.1.1.1. Estado de Conservação Geral

Quanto ao ICA a conservação entre os vários esqueletos é bastante díspar como se pode verificar no gráfico1 (tabela 4 em anexo). O E.11 apresenta o ICA mínimo com apenas 0,31% e o E.5 o ICA máximo de todos os indivíduos com 74,52%. Verificando-se, assim, no total da amostra, ou seja, um ICA Geral de 27,77%, o que não é invulgar quando referimos amostras osteológicas de não-adultos provenientes de contextos arqueológicos.

Índice de Conservação Anatómica

0 20 40 60 80 100 120 140 160

-20 0 20 40 60 80

ICA

E

s

q

Gráfico 2. Índice de Conservação Anatómica Geral

(50)

3.1.1.2. Estado de Conservação das Extremidades

IRO

Índice de Conservação Anatómica - Extremidades Superiores 0 20 40 60 80 100 120 140 160

-20 0 20 40 60 80 100

ICA

E

sq

Gráfico 3. Índice de Conservação Anatómica – Extremidades Superiores

Legenda: Esq – Esqueleto; ICA – Índice de Conservação Anatómica em percentagem.

Como se pode verificar nos gráficos 2 e 3 (tabelas 5 e 6 em anexo) os resultados para o índice de conservação anatómica para as extremidades são díspares. Sendo que no ICA das mãos os números são um pouco mais significativos do que no ICA dos pés.

Índice de Conservação Anatómica - Extremidades Inferiores 0 20 40 60 80 100 120 140 160

-10 0 10 20 30 40 50 60 70

ICA

E

sq

Gráfico 4. Índice de Conservação Anatómica – Extremidades Inferiores

(51)

3.1.1.3. Estado de conservação até aos 5 anos de idade e dos 6 anos de

idade aos 17 anos de idade

Índice de Conservação Anatómica - Indivíduos até aos 5 anos de idade

0 20 40 60 80 100 120 140 160

0 10 20 30 40 50 60 70 80

ICA

E

sq

Gráfico 5. Índice de Conservação Anatómica – Indivíduos até aos 5 anos de idade

Legenda: Esq – Esqueleto; ICA – Índice de Conservação Anatómica em percentagem.

Quanto ao ICA para indivíduos até aos 5 anos de idade a conservação entre os vários esqueletos é bastante díspar como se pode verificar no gráfico 4. O E.109 apresenta o ICA mínimo com apenas 3,36% e o E.5 o ICA de 74,52%. Já no gráfico 5 para indivíduos dos 6 anos de idade aos 17 anos de idade, o E.26 apresenta um ICA de 2,93% e o E.7 um ICA de 71,13%.

Índice de Conservação Anatómica - Indivíduos dos 6 anos de idade aos 17 anos de idade

0 20 40 60 80 100 120 140 160

0 10 20 30 40 50 60 70 80

ICA

ESq

Gráfico 6. Índice de Conservação Anatómica – Indivíduos dos 6 anos de idade aos 17 anos de idade

(52)

3.2. Tafonomia

O termo tafonomia foi introduzido em 1940 pelo paleontólogo russo Efremov, a partir dos vocábulos gregos taphos, que significa enterramento, e de nomos, que significa lei, para dar novo nome a um novo ramo da paleontologia dedicado ao estudo dos vários processos geológicos e biológicos, que após a morte geram depósitos esqueléticos arqueológicos (White, 2000; Codinha, 2001).

A tafonomia humana, como campo de estudo especializado, que vem colmatar a falta de continuidade entre alguém que inumou o material osteológico e quem o vai estudar, (como é o caso da presente amostra) o que perfaz que muita da informação tafonómica importante se perca, não permitindo em certa medida a tentativa de dar explicações alternativas para os fenómenos observados (Nawarocki, 1995 citado por Codinha, 2001).

Com o passar do tempo e à medida que o corpo se vai decompondo (em muitos contextos ao ar livre), o corpo e o contexto tendem a fundir. As fronteiras do corpo começam a divergir à medida que os materiais decompostos começam a infiltrar o solo, sendo levados por água corrente, digeridos por insectos, mamíferos. Do mesmo modo que o corpo penetra o ambiente assim, o ambiente, também, penetra nele através do depósito de minerais da água que se encontra no solo, de sedimentos que se infiltram no osso, as raízes das plantas e micróbios do solo que penetram os tecidos moles e o osso, e os sedimentos acumulam-se rodeando o corpo e potencialmente enterrando-o (Haglund e Sorg, 2002). Não sendo o caso de necrópoles como a donde origina a amostra, na qual os corpos foram inumados.

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Figura 1 – E.127 – Possível marca de contacto com metal

3.3. Importância da limpeza e do restauro do material

osteológico

A limpeza do material osteológico é essencial. Se o osso se encontrar empoeirado ou coberto de agentes tafonómicos será praticamente impossível ver o osso em si e fazer uma análise adequada. Assim, como refere Bass (1995) devemos proceder à limpeza de uma forma meticulosa e de forma cuidada para que o material que já foi sujeito a outros agentes (escavação, levantamento e transporte para o local de análise) não sofra mais danos.

Quanto ao restauro este, também, é essencial. Pelo que na maioria das vezes, sem esta acção seria muito menor a quantidade de dados recolhidos, visto que em material osteológico proveniente de contextos arqueológicos a sua fragmentação é quase um facto inerente.

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4.1. Diagnose sexual

A reconstrução dos padrões de mortalidade nas populações passadas é necessário para a análise paleodemográfica (Wittwer-Backofen et al., 2004). A fiabilidade da reconstrução da taxa de mortalidade depende da identificação do sexo e da estimativa da idade à morte de indivíduos esqueletizados como uma fonte biológica de informação (Wittwer-Backofen et al., 2004).

Os antropólogos biológicos sempre se interessaram pelas taxas demográficas pelas mais variadas razões (Wiley e Pike, 1998). Algumas taxas, como é o caso da taxa de fertilidade e da taxa de mortalidade, são fundamentais pois revelam a estrutura e os ratios de crescimento tanto de populações presentes como de populações passadas e por isso são muito úteis no estudo da variabilidade e evolução humanas (Wiley e Pike, 1998).

As estimativas de parâmetros demográficos nas populações passadas são feitas baseadas nos pressupostos de que o processo biológico relacionado com a mortalidade e a fertilidade nos humanos é a mesma no passado como é agora no presente (Howell, 1976, Weiss, 1973 e 1975, e Paine, 1997 citados por Hoppa, 2000). Contudo, não os parâmetros mais amplos da estrutura demográfica se devem adaptar a esta presunção (Hoppa, 2000). A estimativa de idade individual de esqueletos deve também assumir uma forma uniformizada em termos de critérios para a atribuição de idade de tal modo que as alterações observadas em termos de mudanças progressivas na idade nas populações modernas de referência não sejam significativamente diferentes dos padrões observados em populações passadas (Hoppa, 2000).

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principal fonte de erro para os critérios presentemente usados para a estimativa da idade à morte dos indivíduos (Bocquet-Appel e Masset, 1982, e Lovejoy et al., 1997 citados por Hoppa, 2000).

4.1.1. Método

Para a diagnose sexual dos indivíduos estudados utilizaram-se vários métodos tendo em conta as idades visto que a diagnose sexual em não-adultos está associada a uma grande margem de erro. Exceptuando os primeiros anos de vida e a entrada na puberdade.

Para a mandíbula utilizaram-se três métodos: o de Ferembach et al. (1980) no qual se classifica a mandíbula quanto ao seu aspecto total, o mento, o ângulo mandibular e o margo inferior, sendo que o hiper-feminino tem uma classificação de -2, o intermédio de 0 e o hiper-masculino de +2; e o método de Loth e Henneberg (1996) no qual se classifica a flexão do ramus mandibular, sendo que feminino tem uma classificação -1, quando a forma não era discernível de 0 e quando era masculino de +1. E diagnose sexual da mandíbula nos primeiros anos de vida (dos 0 anos aos 4 anos) utilizou-se o método recomendado por Loth e Henneberg (2001) que consiste na observação de uma característica da mandíbula, a zona sinfiseal (base sinfiseal) da mandíbula, sendo esta característica classificada de f (feminino), m (masculino) e i (indefinido) quando à forma.

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ponto médio e consoante este ponto médio foram classificados como femininos os que se encontravam abaixo deste intervalo de valores, como indefinidos os que se encontram no intervalo de valores intermédio e como masculinos os que se encontram no intervalo de valores acima do intervalo intermédio (Cardoso, 2008).

Na observação do crânio utilizou-se o método de Walrath et al. (2004) que classifica características cranianas como a glabela, o processo mastóide, o plano nucal, o processo zigomático do temporal, as arcadas supraciliares, as eminências frontal e parietal, a protuberância occipital externa, os zigomáticos, o perfil frontal e a forma da órbita, sendo que o hiper-feminino tem uma classificação de -2, o intermédio de 0 e o hiper-masculino de +2. Este método foi desenvolvido para adultos pelo que foi aplicado apenas aos indivíduos mais velhos da amostra (dos 14 aos 17 anos), mas mesmo assim os dados têm que ser interpretados com muito cuidado, porque o método baseia-se na robustez física que se vai acentuando com a idade dos indivíduos.

4.1.1.1. Resultados

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Tabela 3. Resultados da estimativa sexual de acordo com os métodos usados. Esq Crânio - Walrath, 2004 - Juvenis após a Puberdade Mandíbula - Ferembach, 1980 - Juvenis após a Puberdade Mandíbula para juvenis com idade estimada dos 14 aos 17 anos de idade - Loth e Henneberg, 1996

Mandíbula nos Primeiros Anos de Vida - Loth e Henneberg, 2001

Dentes Permanentes - Cardoso, 2008b - dos 6 aos 12 anos

Diagnose Sexual

5 M M

6 M M

7 I I

13 M M M

29 F F

45 F F

53 M M

69 F F

82 M M

104 M M

125 M M

127 F F

134 M M

137 M M

Legenda: Esq.: Esqueleto; M: Masculino; F: Feminino; I; Indefinido

Diagnose Sexual M 64% F 29% I 7% M F I

Gráfico 6 – Diagnose sexual por percentagem

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4.2. Estimativa da idade à morte

A seguir à diagnose sexual, a idade é o outro parâmetro biológico básico que pode facultar a identificação de um indivíduo num contexto forense ou paleodemográfico (Falys et al., 2006). Inúmeras técnicas tanto macroscópicas como microscópicas foram criadas nas últimas décadas para o acesso aos padrões de crescimento e envelhecimento do esqueleto (Falys, et al., 2006). Ainda assim, a estimativa da idade à morte no esqueleto adulto encontra-se barrada por muitas dificuldades, devido a inconsistências na não uniformidade das mudanças relacionadas com a idade no processo de envelhecimento no esqueleto (Flays et al., 2006). Mudanças no esqueleto relacionadas com a idade ocorrem à medida que o indivíduo passa pelo processo de crescimento, desenvolvimento e maturação (Falys et al., 2006). A aparência dos marcadores de idade no esqueleto individual podem variar devido a factores como o tipo de vida que o individuo levava, o seu status de saúde, dieta, ambiente envolvente, práticas culturais e a presença de doenças ou de trauma durante a vida do mesmo (Mascie-Taylor e Bogin, 1995, e Bogin, 2001 citados por Flays et al., 2006).

As mudanças morfológicas relacionadas com a idade nos não-adultos são consideradas mais fiáveis do que as que se observam nos adultos, porque eventos como a erupção dentária e a fusão de epífises nos juvenis são bastante consistentes entre indivíduos e em termos temporais bastante regulares (Falys et al., 2006).

Imagem

Gráfico 1. Dados funerários.
Tabela 1. Partes anatómicas consideradas na avaliação do estado de conservação dos esqueletos (Dutour,  1989)  Crânio   (n = 10)  Esqueleto axial  (n = 9)  Esqueleto apendicular  (n = 18)  Extremidades  (n = 8)  1 - Frontal   2- Parietal d   3- Parietal e
Gráfico 2. Índice de Conservação Anatómica Geral
Gráfico 4. Índice de Conservação Anatómica – Extremidades Inferiores  Legenda: Esq – Esqueleto; ICA – Índice de Conservação Anatómica em percentagem
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Referências

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